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LITERATURA BRASILEIRA I
Aula 6- Gregório de Matos: irreverência e contradição
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LITERATURA BRASILEIRA I
Conteúdo Programático desta aula
a variada obra do poeta Gregório de Matos Guerra;
críticas à sociedade da época nos poemas satíricos;
a tensão existencial na lírica religiosa;
aspectos barrocos na lírica amorosa gregoriana.
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LITERATURA BRASILEIRA I
GREGÓRIO DE MATOS
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LITERATURA BRASILEIRA I
Gregório de Matos e Guerra, nascido em 1633, na Bahia, foi, inegavelmente, o primeiro poeta brasileiro. A sua biografia revela um personagem extremamente controvertido; tão paradoxal e surpreendente quanto a sua poesia. 
Estudou em Portugal e formou-se pela Universidade de Coimbra, vindo para o Brasil quando contava perto de cinquenta anos. Atuou como juiz. Voltou ao Brasil em 1681, ocupando o cargo de vigário-geral. No entanto, foi desligado do cargo. 
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LITERATURA BRASILEIRA I
 Composta por sátiras, poemas religiosos, líricos e amorosos, a obra de Gregório revela sua mestria técnica e agilidade verbal, inclusive empregando palavras da língua tupi, como podemos observar no poema a seguir:
 
 
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LITERATURA BRASILEIRA I
AOS CARAMURUS DA BAHIA
 Um calção de pindoba, a meia zorra,
Camisa de urucu, mantéu de arara,
Em lugar de cotó arco e taquara
Penacho de guarás em vez de gorra.
 
Furado o beiço, e sem temor que morra
O pai, que lho envasou cuma titara
Porém a Mãe a pedra lhe aplicara
Por reprimir-lhe o sangue que não corra.
 
Alarve sem razão, bruto sem fé,
Sem mais leis que a do gosto, quando erra
De Paiaiá tornou-se em abaité.
 
Não sei onde acabou, ou em que guerra:
Só sei que deste Adão de Massapé
Procedem os fidalgos desta terra
 
 
 
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LITERATURA BRASILEIRA I
As sátiras
 “A sátira é um estilo fortemente regrado por convenções de produção e recepção. Trabalho regido principalmente pela agudeza, caricaturização, uso de metáforas, ridicularização do sexo e julgamento de valores. A sátira barroca obedece tais regras sendo produzida em conformidade com o lugar em que é trabalhada. Situando-se a sátira de Gregório de Mattos no cenário da Bahia do séc. XVII ela expressa-se em todos os seus aspectos, condicionada socialmente dentro da discrição cortesã, do gosto vulgar, da fantasia poética.” Laeticia Jensen Eble.A Sátira a Serviço de Gregório.
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LITERATURA BRASILEIRA I
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LITERATURA BRASILEIRA I
“Não há realmente uma consciência nacionalista ou baiana, mas sim um claro enfrentamento entre os diferentes estratos sociais em conflito na época, uma resistência em admitir o declínio da nobreza a qual pertence e ascensão da mercancia e a disputa pelo poder. Como resultado de sua insatisfação, o Boca-do-Inferno revela exaustivamente um acentuado preconceito de cor e raça, atacando viperinamente aqueles que julgava concorrentes com os homens-bons na luta pelo dinheiro e prestígio: judeus, negros, índios (caramurus), maganos, ingleses (brichotes), comerciantes, representantes políticos e do clero, a mulher negra e a mestiça, mulatos, mamelucos, etc:” (Laeticia Jensen Eble.A Sátira a Serviço de Gregório.)
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LITERATURA BRASILEIRA I
À BAHIA
Triste Bahia! ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
 
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando e tem trocado
Tanto negócio e tanto negociante.
 
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
 
Oh! Se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!
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LITERATURA BRASILEIRA I
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LITERATURA BRASILEIRA I
De que pode servir calar quem cala?
Nunca se há de falar o que se sente
Sempre se há de sentir o que se fala.
A ignorância dos homens destas eras
Sisudos faz ser uns, outros prudentes,
Que a mudez canoniza bestas feras.
Há bons, por não poder ser insolentes,
Outros há comedidos de medrosos,
Não mordem outros não --por não ter dentes.
Quantos há que os telhados têm vidrosos,
E deixam de atirar sua pedrada,
De sua mesma telha receosos?
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LITERATURA BRASILEIRA I
LÍRICA RELIGIOSA
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LITERATURA BRASILEIRA I
A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR
 Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
 
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
 
Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirma na sacra história,
  
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
 
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LITERATURA BRASILEIRA I
O eu-lírico vai buscar nas sagradas escrituras o exemplo que servirá de precedente: o episódio da ovelha desgarrada. Por analogia, a salvação de sua alma pecadora seria motivo de glória para Deus; e se pecava tanto, era por acreditar que seria perdoado, já que a condenação poderia significar a perda da glória divina. 
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LITERATURA BRASILEIRA I
LÍRICA AMOROSA
 A contradição entre amor e desejo
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LITERATURA BRASILEIRA I
AOS AFETOS, E LÁGRIMAS DERRAMADAS NA AUSÊNCIA DA DAMA A QUEM QUERIA BEM
Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:
Tu, que em um peito abrasas escondido;
Tu, que em um rosto corres desatado;
Quando fogo, em cristais aprisionado;
Quando cristal em chamas derretido.
Se és fogo como passas brandamente,
Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!
Pois para temperar a tirania,
Como quis que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu parecesse a chama fria.
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LITERATURA BRASILEIRA I
A MESMA D. ÂNGELA
Anjo no nome, Angélica na cara!
Isso é
ser flor, e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós, se uniformara:
Quem vira uma tal flor, que a não cortara,
De verde pé, de rama florescente;
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus o não idolatrara?
Se pois como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu Custódio, e a minha guarda.
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que por bela, e por galharda
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo que me tenta, e não me guarda
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LITERATURA BRASILEIRA I
O tema do poema é o caráter contraditório dos sentimentos do poeta pela mulher, pois essa é simultaneamente “flor” (metáfora da beleza) e objeto do desejo, e “anjo” (metáfora da pureza) e símbolo da elevação espiritual.
O paradoxo dos versos finais sintetiza a contradição entre o “amar” e o “querer” :
“Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.”
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LITERATURA BRASILEIRA I
DESENGANOS DA VIDA HUMANA, METAFORICAMENTE
É a vaidade, Fábio, nesta vida,
Rosa, que da manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada,
Airosa rompe, arrasta presumida.
É planta, que de abril favorecida,
Por mares de soberba desatada,
Florida galeota empavesada,
Sulca ufana, navega destemida.
É nau enfim, que em breve ligeireza,
Com presunção de Fênix generosa,
Galhardias aprestas, alentos preza:
Mas ser planta, ser rosa, nau vistosa
De que importa, se aguarda sem defesa
Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa?
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LITERATURA BRASILEIRA I
Disseminação e Recolha
Note-se como, no verso final, temos a recolha dos termos antes disseminados, confrontados com seus contrários (“ferro” é a lâmina que corta a planta; “penha”, o penhasco que destrói a “nau”, e “tarde”, o momento em que morre a “rosa”).
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LITERATURA BRASILEIRA I
A sátira levada aos extremos:
“Tudo é bebedice,
ou tudo uma borracheira
que se acaba co’o dormir,
e co’o dormir se começa.
O Amor é finalmente
Um embaraço de pernas,
Uma união de barrigas,
Um breve tremor de artérias.
Uma confusão de bocas,
Uma batalha de veias,
Um reboliço de ancas,
Quem diz outra coisa, é besta.”
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LITERATURA BRASILEIRA I
Para finalizar:
Nessa aula conhecemos a obra de Gregório de Matos, poeta do Barroco brasileiro. Analisamos poemas que compõem a lírica religiosa, filosófica e amorosa, bem como as poesias satíricas.
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