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Oficinas Terapeuticas

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INTRODUÇÃO
	A atuação junto a clinica da psicose remete a questões muito peculiares, pois a escuta da loucura sob o viés psicanalítico coloca em cheque o possível e o impossível do tratamento, convidando aqueles que trabalham no campo da saúde mental a inventar novos espaços que possibilitem a circulação e a produção de outras maneiras de relações, de algo que permita o enlaçamento social pela singularidade de cada sujeito, pois a psicose, em toda sua complexidade, traz consigo construções que são realizadas de forma muito particular. Pode-se dizer que a sutileza da atuação junto à clínica psicose está no fato de que há um trabalho próprio do sujeito psicótico, que não deve ser apagado pelo trabalho institucional, portanto é preciso se atentar para uma fundamentação teórica consistente que corrobore para um trabalho ético que se articule com os princípios da Reforma Psiquiátrica a fim de não repetir, em espaços abertos, a lógica manicomial.
	A Reforma Psiquiátrica, assim como o Movimento de Luta Antimanicomial permitiram a criação de serviços substitutivos (Centros de Atenção Psicossocial - CAPS, Centros de Convivência, Residências Terapêuticas e outros), por onde circulam sujeitos psicóticos dentro e fora da crise. Atualmente estes serviços possibilitam uma assistência à saúde mental fora do modelo hospitalocêntrico, e contam com o trabalho de uma equipe de profissionais que possuem formações acadêmicas distintas, tais como psicólogo, terapeuta ocupacional, assistente social, enfermeiro, psiquiatra e até mesmo aqueles que podem não ter cursado uma faculdade, como os artistas e oficineiros, que possuem o conhecimento prático da arte ou do fazer artesanal. 
	Nestes espaços abertos muitos profissionais trabalham com o conceito de Clínica Ampliada, ou seja, de uma clínica feita por muitos, o que possibilita a circulação de vários saberes, inclusive (e principalmente) aquele produzido pelo psicótico. No contexto da Reforma Psiquiátrica este conceito propõe uma interface entre as políticas publicas de saúde mental e a prática clinica, a saber: 
[...] a clinica vem nos dizer que existe um sujeito no individuo que está no mundo. A saúde mental vem nos lembrar das determinações sociais, políticas e ideológicas que o envolvem nesse mesmo mundo. Ambas devem ser consideradas no âmbito do tratamento de nossos usuários, sem antagonismo nem sobreposições (FURTADO e CAMPOS, 2005 p 116).
	Essas reformulações conquistadas pela Luta Antimanicomial, permitiram a criação de dispositivos como as oficinas terapêuticas, que trazem dentre outras a possibilidade da circulação dos psicóticos por vários espaços, ao invés de limitá-la ao campo psiquiátrico e psicológico, pois neste ambiente eles encontram-se uns com os outros, deparam-se com algumas oportunidades e criam outras tantas, que podem fazer algum sentido subjetivo.
	Com base nos aspectos apontados e tendo em vista um melhor entendimento teórico de quais os possíveis efeitos da “inserção” dos sujeitos psicóticos no ambiente produtivo de uma Oficina Terapêutica, será objeto de investigação neste artigo o percurso e construções realizadas por um sujeito psicótico “criativo” 1	Grifo meu: Termo utilizado pelo paciente quando solicitou sua inserção na Oficina Terapêutica. Ele faz toda uma construção em torno desta palavra.
 nesse espaço. Concomitante a isto será elaborado um trabalho com vista à exponenciar o saber adquirido com os ensinamentos promovidos pelo encontro da prática clinica psicanalítica aplicada nos espaços das Oficinas Terapêuticas, pois no contexto atual esse dispositivo poderá ser utilizado como estratégia de um trabalho possível da psicose, como aponta Lima et.al : 
[...] As oficinas apostam em outra possibilidade de laço ao social que não seja pela via do isolamento. A construção de tal laço se daria através do ato criativo – ação que cria o sujeito- através do qual o psicótico encontre uma forma de compartilhar uma experiência singular que possa ser testemunhada por outros, passando a existência. Através da abertura de uma espaço de socialização do delírio e do compartilhamento de produções subjetivas, ele pode montar uma outra via de circulação possível no social ( LIMA ET. Al, 2008 p 34).
			De acordo com o autor, neste espaço os objetos concretos ocupam um lugar de destaque, o sujeito psicótico encontra a possibilidade de fazer com o delírio, ali eles não são convidados a falar sobre o delírio, entretanto ele se faz presente nas produções que surgem e nas relações que se estabelecem. Para Lima Et.al (2008 p.35) , “o espaço das oficinas se caracteriza por ser potencialmente produtor de um outro tipo de relação ao Outro”. A aposta é de que o psicótico se deslocaria do lugar de objeto de gozo mortífero e absoluto, ao produzir um objeto com consistência simbólica.
	 Para abordar tal assunto serão utilizados aqui, alguns conceitos psicanalíticos em Freud e Lacan relacionados à clínica das psicoses e apresentados fragmentos de um caso clínico que apresenta uma intensa produção criativa no espaço das oficinas terapêuticas de um CAPS II do interior de Minas Gerais. Naquilo que se refere mais especificamente às Oficinas Terapêuticas pretende-se abordar quais elementos seriam essenciais para a facilitação ou abertura do trabalho possível da psicose nesses espaços, pois o percurso realizado por cada sujeito é bastante singular.
As Oficinas Terapêuticas no Contexto da Reforma Psiquiátrica:
	Um aspecto relevante a ser considerado em relação ao campo da saúde mental é o percusso politico e cultural realizado pela sociedade que permitiu transformações no modo de se pensar e de tratar o sofrimento psíquico, pode-se ressaltar aqui o Movimento de Luta Antimanicomial iniciado no Brasil na década de 1980, organizado pelos trabalhadores de saúde mental que “ressignificaram” a atuação junto a loucura dentro de uma outra “lógica” uma lógica Antimanicomial. De acordo com Carvalho (2004), a história da loucura está entrelaçada a evolução social e econômica da humanidade. A forma de abordagem abrupta e primitiva de castigos físicos e exclusão do convívio social transformou-se em terapêuticas que levam em consideração os direitos fundamentais da pessoa humana.
	Tal perspectiva de trabalho remete a um modo de fazer que articula aspectos políticos-sociais, com a dimensão subjetiva na medida em que se propõe uma atuação de modo ampliado, considerando as peculiaridades deste determinado grupo de sujeitos, que durante anos foram submetidos a procedimentos excludentes e alienadores. De acordo com Furtado e Campos (2005) a integração da clínica e a saúde mental, ocorre quando se permite diferenciar e operar simultaneamente sobre a exclusão resultada de processos subjetivos e também de práticas que tendem a excluir o paciente de seu contexto, família, escola, comunidade, dentre outros locais de possível circulação, De acordo com Quinet (2006) :
[...]A realidade do sujeito na psicose é povoada por suas criações inconscientes projetadas nos parentes, vizinhos e colegas, ou seja, em casa, na rua e no trabalho. A interferência do inconsciente a céu aberto desse sujeito se dá na pólis, ao desarranjar os costumes desacomodar os hábitos da ordem social. ( Quinet, 2006 p. 47)
	
	Em se tratando dos processos subjetivos que na psicose tomam uma dimensão segregadora, Quinet (2006) lança mão do conceito da foraclusão do Nome- do -Pai, mecanismo essencial da psicose, para abordar a questão dos laços sociais . Pode-se dizer que a psicose rejeita a operação de compartilhamento que possibilita laço social, 
	
	
	 Sendo assim as oficinas como também a atuação junto à saúde mental no contexto da reforma psiquiátrica se constitui como desafio de invenção de complexas redes de negociação e de oportunidades, de novas formas de sociabilidade, de acesso e exercício de direitos: lugares de diálogos e de produção de valores que confrontem os preconceitos de incapacidade, de invalidação e de anulação da experiência da loucura. Em outraspalavras, não devemos usar as oficinas como uma resposta pré-formada, e sim produzi-las como recurso nos processos de singularização, de produção de emancipação e de construção de cidadania na vida social dos portadores de sofrimento mental (MINAS GERAIS, 2006).
	É importante salientar aqui, que o percurso realizado por cada sujeito é singular, ou seja, o fato de que a “inserção” de um psicótico na oficina terapêutica trouxe contribuições para a condução do tratamento deste, não quer dizer que o ambiente será favorável a todos, ou melhor, que haverá ali um enlaçamento de todos aqueles que forem convidados a estar neste espaço. Ao ponto que como discorre Carvalho (2006) o trabalho da psicose está entrelaçado de forma distinta ao trabalho da instituição e este entrelace pode acontecer de diversas maneiras, tais como:
	o trabalho da instituição se opõe ou resiste ao trabalho da psicose;
	o trabalho espontâneo da psicose dispensa o trabalho da instituição ou acontece a sua revelia;
	o trabalho da psicose impõe seu estilo ao trabalho institucional ou, então, a instituição acompanha as soluções e as escolhas de gozo do sujeito;
	levado à cronificação, o trabalho da psicose se apaga, ficando apenas o trabalho institucional ( CARVALHO, 2006:55).
	De acordo com o autor, os serviços de saúde mental parecem cumprir uma função dupla: Negativizar aquilo que o significante Nome-do-Pai não foi capaz de metaforizar, se apresentando como uma extensão segregadora cujo principal trabalho é uma subtração do gozo excedente na psicose e, secundariamente, trabalhar com o gozo excedente na psicose, proveniente da não-operação da Metáfora Paterna, dando-lhe um destino e acompanhando as escolhas do sujeito, conjugando as soluções encontradas pela psicose com o laço social.
	Nesse sentido a elaboração que Quinet (2006) realiza se faz pertinente ao pontuar que a arte é o recurso que alguns sujeitos utilizam para lidar com a dispersão do gozo e do significante. Como tentativa de cura, ela corresponde ao conceito de sintoma que de forma distinta ao delírio também se localiza na ordem da criação, uma forma do sujeito lidar com o gozo mortífero e absoluto, como é o caso de Bispo, que com sua arte faz um “inventário do mundo”, povoando-o de objetos que nomeiam a dispersão do gozo.

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