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São Cristóvão/SE 2009 Psicologia Geral Laruse Andrade Souza Projeto Gráfico Hermeson Alves de Menezes Capa Nycolas Menezes Melo Diagramação Neverton Correia da Silva Revisor: Kleilza Alex Oliveira Machado Elaboração de Conteúdo Laruse Andrade Souza Souza, Laruse Andrade S729p Psicologia geral / Laruse Andrade Souza -- São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2009. 1. Psicologia. I. Título. CDU 159.9 Copyright © 2009, Universidade Federal de Sergipe / CESAD. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e grava- da por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização por escrito da UFS. FICHA CATALOGRÁFICA PRODUZIDA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Psicologia Geral UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Cidade Universitária Prof. “José Aloísio de Campos” Av. Marechal Rondon, s/n - Jardim Rosa Elze CEP 49100-000 - São Cristóvão - SE Fone(79) 2105 - 6600 - Fax(79) 2105- 6474 Chefe de Gabinete Ednalva Freire Caetano Coordenador Geral da UAB/UFS Diretor do CESAD Itamar Freitas Vice-coordenador da UAB/UFS Vice-diretor do CESAD Fábio Alves dos Santos Coordenador do Curso de Licenciatura em Administração Eduardo Alberto da Silva Farias Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Reitor Josué Modesto dos Passos Subrinho Vice-Reitor Angelo Roberto Antoniolli NÚCLEO DE MATERIAL DIDÁTICO Hermeson Menezes (Coordenador) Jean Fábio B. Cerqueira (Coordenador) Baruch Blumberg Carvalho de Matos Christianne de Menezes Gally Edvar Freire Caetano Isabela Pinheiro Ewerton Jéssica Gonçalves de Andrade Lucílio do Nascimento Freitas Luzileide Silva Santos Neverton Correia da Silva Nycolas Menezes Melo Péricles Morais de Andrade Júnior Diretoria Pedagógica Clotildes Farias (Diretora) Rosemeire Marcedo Costa Amanda Maíra Steinbach Diretoria Administrativa e Financeira Edélzio Alves Costa Júnior (Diretor) Sylvia Helena de Almeida Soares Valter Siqueira Alves Núcleo de Tutoria Janaina Couvo (Coordenadora de Tutores do curso de Administração) Núcleo de Avaliação Cléber de Oliveira Santana Alisson de Oliveira Silva Núcleo de Serviços Gráficos e Audiovisuais Giselda Barros Núcleo de Tecnologia da Informação Fábio Alves (Coordenador) João Eduardo Batista de Deus Anselmo Marcel da Conceição Souza Michele Magalhães de Menezes Assessoria de Comunicação Guilherme Borba Gouy Pedro Ivo Pinto Nabuco Faro Sumário AULA 1 Conceito de Psicologia: a psicologia ou as psicologias? .........................7 AULA 2 História da Psicologia ...................................................................19 AULA 3 Abordagens da Psicologia – Behaviorismo e Gestalt..........................35 AULA 4 Abordagens da Psicologia – Psicanálise............................................51 AULA 5 Vida afetiva....................................................................................65 AULA 6 Sensopercepção .............................................................................. 77 AULA 7 Memória......... .................................................................................. 97 AULA 8 Aprendizagem........................... .................................................... 115 AULA 9 Motivação......................... ............................................................ 125 AULA 10 A Psicologia aplicada...................................................................139 META Definir o que é Psicologia e seu (s) objeto (s) de estudo. OBJETIVOS Ao final desta aula, o aluno deverá: perceber a diferença entre ciência e senso comum; compreender o objeto de estudo da Psicologia; entender o que é subjetividade. PRÉ-REQUISITOS O conhecimento anterior do aluno sobre o que é Psicologia. Aula 1CONCEITO DE PSICOLOGIA:A PSICOLOGIA OU AS PSICOLOGIAS? (Fonte: http://procensus.ning.com/group/futurospsicologos) 8 Psicologia Geral INTRODUÇÃO Seja bem-vindo, prezado aluno, ao nosso curso de Psicologia Geral. Estamos aqui para trilhar com você um caminho novo. Antes de partirmos, de fato, para o conteúdo da disciplina, precisa- mos caracterizar a Psicologia como ciência. Dessa forma, caro aluno, nas aulas iniciais, iremos conceituar a psicologia, trazer sua história e seu objeto de estudo. Em seguida, iremos estudar suas principais teorias, os processos básicos da Psicologia e, assim, abordaremos a Psicologia Apli- cada e ainda, alguns temas contemporâneos da área. Após essas aulas, teremos uma visão geral da Psicologia. Essa é nossa primeira aula e queremos convidar você para uma via- gem para a “terra” da discussão. É isso mesmo, caro aluno! Nesta “terra”, teremos a oportunidade de discutir alguns temas como, por exemplo: o que é senso comum, o que é ciência. Dentro dessa discussão, iremos abor- dar a Psicologia científica e seu objeto de estudo. A proposta é que seja uma aula discursiva e que você encontre nesse texto a base para essa discussão. Mãos à obra! 9 Aula 1 Conceito de Psicologia: a psicologia ou as psicologias DESENVOLVIMENTO Olá, caro aluno, iniciaremos, então, a nossa primeira aula com alguns questionamentos: quantas vezes você já ouviu o termo Psicologia? Quantas vezes você se referiu a um amigo que lhe escuta como psicólo- go? Quantas vezes vamos ao salão de cabeleireiro ou pegamos um táxi e desabafamos? falamos coisas íntimas nossas? Muitas vezes, não é? Mas será essa a Psicologia utilizada pelos psicólogos? Seguramente, não. Essa é a Psicologia do senso comum, que utilizamos diariamente. Nós temos conhecimento de alguns termos utilizados na Psicologia cien- tífica. Por exemplo, é comum ouvirmos os termos “só Freud explica”; “menina histérica”; “rapaz complexado”. O que queremos dizer é que, ainda que de modo superficial, todos temos algum conhecimento da Psi- cologia científica. É essa Psicologia científica que pretendemos apresentar a você, caro aluno. Antes, vamos fazer uma exposição breve da relação Ciência/Sen- so comum, para que você possa demarcar o campo de atuação de cada uma, sem confundi-las. Algumas coisas que, hoje, fazemos de forma espontânea, intuitiva, sem raciocinar sobre o que estamos fazendo, foram, um dia, temas discutidos pelos cientistas. Imagine, caro aluno, termos de descobrir diariamente que as coisas tendem a cair, graças ao efeito da gravidade; que um carro em veloci- dade se aproxima rapidamente de nós; termos de descobrir, diariamente, que um objeto atirado pela janela tende a cair e não a subir; e que, para fazer um aparelho eletrodoméstico funcionar, precisamos de eletricidade. Assim, entendemos que o senso comum percorre um caminho que vai do hábito à tradição que, quando estabelecida, passa de geração para geração. Desse modo, aprendemos com nossos pais a atravessar uma rua sem precisar medir com fita métrica; a fazer o liquidificador funcionar sem precisarmos, antes, estudar sobre eletricidade; a plantar alimentos na época e de maneira correta, sem um estudo prévio. Sem esse conhecimento intuitivo, espontâneo, de tentativas e erros, nosso dia a dia seria muito complicado. Então, na tentativa de facilitar o dia a dia, o senso comum produz suas próprias “teorias”, ou seja, mistura e recicla saberes, muito mais especializados, e os reduz a um tipo de teo- ria simplificada, produzindo uma determinada visão de mundo. Caro aluno, o que queremos mostrar é que o senso comum integra de um modo precário (mas é esse o seu modo) o conhecimento humano. Isto não ocorre rapidamente, leva certo tempo para que o conhecimento mais sofisticado e especializadoseja absorvido pelo senso comum, e nunca é absorvido totalmente. Como foi dito acima, é comum utilizarmos termos como “rapaz complexado”, “menina histérica”, e, assim, estamos usando termos defini- Sigmund Freud O grande represen- tante da Psicanáli- se, foi o responsá- vel pela revolução no estudo da men- te humana. A partir dele, iniciaram-se os estudos sobre o inconsciente. 10 Psicologia Geral dos pela Psicologia científica sem nos preocuparmos em definir as palavras usadas e, ainda assim, somos compreendidos pelo outro. Podemos até estar próximos do conceito científico, mas, na maioria das vezes, nem sabemos. Esses são exemplos da apropriação que o senso comum faz da ciência. Caro aluno, acreditamos que o termo senso comum ficou claro, agora vamos tentar compreender o que é ciência. Você já parou para se questi- onar o que é que caracteriza uma coisa como científica ou não? Pois bem, durante muito tempo o homem buscou conhecimento para tentar responder a certas questões referentes a problemas do seu dia a dia e, algumas destas respostas, eram explicadas de forma mística, pois utili- zavam a mitologia para explicá-las. Em seguida, o homem passou a ques- tionar essas respostas e a buscar explicações mais plausíveis, por meio da razão, excluindo suas emoções e suas crenças religiosas, Passou, dessa forma, caro aluno, a obter respostas mais realistas, que se aproximavam mais da realidade das pessoas e, por isto, talvez, passaram a ser bem acei- tas pela sociedade. Podemos dizer que esta nova forma de pensar do ho- mem foi que criou a possibilidade do surgimento da idéia de ciência e que, sua tentativa de explicar os fenômenos, por meio da razão, foi o primeiro passo para se fazer ciência. Segundo Rubem Alves (1981, p. 14), “senso comum é aquilo que não é ciência [...] a ciência é uma metamorfose do senso comum. Sem ele, a ciência não pode existir”. Caro aluno, o que estou querendo mostrar é que existe uma continuidade entre senso comum e pensamento científico. Então, caro aluno, já sabe a resposta do questionamento anterior? Para uma coisa ser considerada ciência exige uma característica funda- mental: a objetividade, em outras palavras, suas conclusões devem ser passíveis de verificação e isentas de emoção, para, dessa forma, torna- rem-se válidas para todos. Para o conhecimento ser considerado ciência deve ter: objeto especí- fico, linguagem rigorosa, métodos e técnicas específicas, processo cumu- lativo do conhecimento e, conforme explicado, objetividade. Então, caro aluno, esse conjunto de características permite que denominemos cientí- fico a um conjunto de conhecimentos. É também, por essas característi- cas, que a ciência é uma forma de conhecimento que supera o conheci- mento espontâneo do senso comum. ATIVIDADE 1. Caro aluno, após essa explanação, explique e exemplifique o que é sen- so comum. 2. Observe, no seu dia a dia, quais termos ou conhecimentos da Psicolo- gia, apropriados pelo senso comum, que você ou alguém próximo utiliza. 3. Quais as características atribuídas ao conhecimento científico? 11 Aula 1 Conceito de Psicologia: a psicologia ou as psicologias 4. Caro aluno, para amarrar as ideias, qual a diferença entre senso comum e conhecimento científico? COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES 1. Como você observou, caro aluno, senso comum pode ser compreendido como o conhecimento que acumulamos no nosso cotidiano. Sem esse conhecimento intuitivo, espontâneo, a nossa vida diária seria muito complicada. Por exemplo: quando sentimos dor de barriga, tomamos chá de boldo, que é uma planta já usada pelos nossos avós, sem que eles tenham conhecido o princípio ativo dessa planta nas doenças, ou seja, sem nenhum estudo farmacológico. 2. O que deve ser observado é se você, caro aluno, ou alguém próximo utiliza termos da Psicologia para se referir a alguma situação que não tenha fundamento científico. Como você observou, caro aluno, durante a aula citamos alguns exemplos. Outro exemplo é quando utilizamos o termo “neurótico” para se referir a alguém que está com excesso de preocupação por alguma coisa. Usamos esse termo sem saber que estamos nos referindo a uma perturbação mental, a qual não compromete as funções essenciais da personalidade e do individuo, mesmo reconhecendo que mantém a penosa consciência de seu estado. 3. Então, caro aluno, como você observou, durante a aula, existem alguns critérios para que o conhecimento possa ser considerado científico. Inicialmente, temos que ter um objeto específico, em seguida, uma linguagem criteriosa; devem ser utilizados também métodos e técnicas específicas. Outra característica é o processo cumulativo, ou seja, que acumula conhecimento com o tempo. 4. Você observou, caro aluno, que o que diferencia senso comum, do conhecimento científico é que o senso comum é formado por sentimentos, desejos e misticismo, sem critério algum; já o conhecimento científico é formado através da razão e de forma metodologicamente rigorosa procurando excluir, do seu contexto, as emoções, as crenças religiosas e os desejos do homem. PSICOLOGIA CIENTÍFICA Caro aluno, após entendermos o que é senso comum e o que é ciência, começaremos a pensar sobre Psicologia científica. Dentro do que vimos sobre ciência, como se encaixa a Psicologia científica? Para responder a esse questionamento, vamos tentar delimitar o objeto de estudo da Psicolo- gia, já que esse é um dos critérios para se caracterizar uma ciência. Então, caro aluno, já se questionou sobre isso? Afinal de contas, qual o objeto de estudo da Psicologia? Vamos tentar seguir uma linha de raciocínio: objeto 12 Psicologia Geral de estudo da Biologia são os seres vivos, da Astrologia são os astros. Nes- sas duas ciências, caro aluno, é possível manter um distanciamento entre cientista e objeto de estudo. Esse cientista (pesquisador) não corre o míni- mo risco de confundir-se com o fenômeno que está estudando. Caro aluno, isso acontece com as ditas Ciências Humanas? Ou seja, com a ciência que estuda o homem, como Antropologia, Sociologia, Eco- nomia e também a Psicologia? Certamente, não. Conseguimos, até aqui, caro aluno, deixar claro que a Psicologia faz parte das Ciências Humanas, mas ainda não está claro qual o objeto de estudo da Psicologia. Entramos, caro aluno, em outra discussão: a diversidade de objetos da Psicologia. Se questionarmos a um comportamentalista (assunto que vere- mos na aula três), qual objeto da Psicologia, certamente ele responderia “o comportamento humano”. Da mesma forma, se perguntarmos a um psica- nalista (que também veremos na aula três), ele responderia “o inconsciente humano”. Outros diriam que é a alma, a consciência, a personalidade. Essa diversidade ocorre em função da Psicologia ter sido reconheci- da como área do conhecimento científico há pouco tempo – final do sé- culo XIX. Antes, (como veremos na aula dois), a área que se ocupava de temas que hoje são discutidos na Psicologia era a Filosofia. Caros alunos, vimos que ciência se caracteriza pela exatidão de sua construção teórica. Dessa forma, quando uma ciência é muito nova, ela não teve tempo ain- da de apresentar teorias acabadas e definitivas, permitindo, assim, deter- minar com maior precisão seu objeto de estudo (BOCK, 2002). Como dissemos, caro aluno, em outras ciências, o objeto de estudo e o cientista se diferenciam. Na Psicologia temos um impasse, já que, o cientis- ta (pesquisador) se confunde com o objeto a ser pesquisado. Tentando aqui ser mais clara, querido aluno, podemos compreender, de forma abrangente, que o objeto de estudo da Psicologia é o homem. Assim, o pesquisador, enquanto ser humano, também faz parte da categoria a ser estudada. Podemos compreender com isso, caro aluno, que a pesquisa certamente sofrerá influências ( se “contaminará”) do pesquisador, já que este traz consi- go uma concepção de homem. Isso acontece,caro aluno, por conta das dife- rentes concepções de homem entre os cientistas. Os estudos filosóficos e teológicos e mesmo as doutrinas políticas acabam definindo o homem à sua maneira, e o cientista (homem) acaba se vinculando a uma destas crenças. Vamos ao exemplo, para ficar mais claro: o filósofo francês Rousseau postula a concepção de homem natural. Para ele, o homem era puro e foi corrompido pela sociedade, e que cabe então, ao filósofo, reencontrar essa pureza perdida. Outros veem o homem como ser abstrato, com ca- racterísticas definidas e que não mudam, em função das condições soci- ais a que esteja submetido. Sobre essa diversidade, caros alunos, Bock (2002) justifica que estamos em um momento no qual há uma riqueza de valores sociais que J e a n - J a c q u e s Rousseau Foi considerado um dos principais filóso- fos do Iluminismo. Suas obras versavam sobre vários temas, que abrangiam desde investigações políti- cas, romances, até análises na área da educação, religião e literatura. http://www.suapes- quisa.com/biografias/ rousseau.htm 13 Aula 1 Conceito de Psicologia: a psicologia ou as psicologias permitem várias concepções de homem. No caso da Psicologia, podemos dizer que é a ciência que estuda os “diversos homens” concebidos pelo conjunto social. Assim, a Psicologia, hoje, caracteriza-se por uma diversi- dade de objetos de estudo. Caros alunos, ao falar em diversidade em Psicologia, não podemos deixar de falar em fenômenos psicológicos. Mas, o que será isso? Pesquise na internet, faça essa experiência. Você irá compreender, caro aluno, o quão diverso e de difícil conceituação é esse termo. Faça esse exercício antes de prosseguir a leitura. Tentando sintetizar esse entendimento, podemos compreender tais fenômenos como sendo tudo que envolve o ser humano, ou seja, o ser humano em relação, o ser humano em seu contexto sócio-histórico e tudo que possuímos ao nascer e que deve ser estimulado de forma adequada, com afeto e boas condições de vida. Bock (1999) relata que encontrou em questionário aplicados a 44 psicólogos, muitas definições para o fenômeno psicológico: “acontecimento organísmicos, manifestações do aparelho psíquico, individualidade, algo que ocorre na relação e é o que somos, conflitos pulsionais, confusão mental, manifestação do homem, pensar e sentir o mundo, o homem e relação com o meio, consciência, saber-se indivíduo, o que se mostra, subjetividade, funções egóicas, existência intersubjetiva, experiências, vivências, loucura, distúrbio, o próprio homem, evento estruturantes do homem, comportamento, engrenagem de emoção, motivação, habilidades e potencialidades, experiências emocionais, psique, pensamento, sensação, emoção e expressão, entendimento de si e do mundo, manifestação da vida mental, tudo que é percebido pelos sentidos, é consciente e é inconsciente” (BOCK, 1999, p. 173). Desse modo, caro aluno, o objeto da Psicologia deveria ser aquele que reunisse condições de fundir uma ampla variedade de fenômenos psicoló- gicos. Ao estabelecer o padrão de descrição, medida, controle e interpreta- ção, o psicólogo está também estabelecendo um determinado critério de seleção dos fenômenos psicológicos e, assim, definindo um objeto. SUBJETIVIDADE COMO OBJETO DA PSICOLOGIA Caro aluno, você já ouviu esse termo antes? O que você compreende por subjetividade? Tente achar uma resposta antes de prosseguir a leitura. Pois bem, iremos aqui refletir sobre o que é subjetividade e tentar compreendê-la como objeto da Psicologia. 14 Psicologia Geral Quando lecionei, no curso de Medicina, a disciplina Psicologia Médi- ca, esse tema foi discutido e alguns alunos foram muito diretos ao respon- derem: “ora, subjetividade é tudo que é subjetivo, tudo que se refere ao ser humano: suas vontades, interesses, suas particularidades, sua indivi- dualidade...” De fato, caro aluno, essa afirmativa não está errada. Mas, no decorrer da aula, iremos tentar complementar essa definição. A partir do dicionário Larousse Cultural (1999), temos uma defini- ção: subjetividade é o caráter do que é subjetivo, que, por sua vez, diz respeito ao sujeito definido como ser pensante, como consciência, por oposição a objetivo. De fato, caro aluno, a subjetividade engloba todas as peculiaridades inerentes à condição de ser sujeito, envolvendo as capacidades sensori- ais, afetivas, imaginativas e racionais de uma determinada pessoa. Cada um de nós, somos uma complexa unidade natural e cultural. Caro aluno, o que estamos querendo dizer é que somos mais que um corpo com fun- ções biológicas e psicológicas, com capacidades de transformar o meio através da linguagem, do trabalho. Somos únicos. Pare para pensar, caro aluno, você é igual a alguém? Perguntando de outra forma, você age, sente ou pensa de forma idêntica a alguém? Certamente, a resposta é não, pois o ser humano é uma unidade de necessidades, desejos, sentimentos, angústias, temores, imaginários, racionalidades e paixões. Compreendendo esse aspecto único do ser humano, não podemos pen- sar apenas em termos cognitivos, vamos tentar ampliar. Pense nas pessoas com esses aspectos únicos... Agora responda: essas pessoas terão a mesma compreensão das situações? Novamente, a resposta é não. Se pensamos, sentimos, percebemos de modo único, então teremos uma compreensão única dos fatos sociais, culturais, históricos e de tudo que nos circula. A subjetividade pode ser compreendida como a síntese singular e indi- vidual que cada um de nós formamos conforme vamos nos desenvolvendo, vivenciando as experiências da vida social e cultural. Caro aluno, pense em você... Quem você é? Pense na forma como age; na sua conduta, nos seus princípios morais... Como você adquiriu? Certamente você respondeu que foi através de seus pais. E não está errado, mas será que é só em função da educação de seus pais que faz de você, você? Se assim fosse, os filhos não seriam diferentes e todos seríamos iguais. Então, o que será? “O mundo social e cultural, conforme vai sendo experienciado por nós, possibilita-nos a construção de um mundo interior. São diversos fatores que se combinam e nos levam a uma vivência muito particular. Nós atribuímos sentido a essas experiências e vamos nos const i tuindo a cada dia . A subjetividade é a maneira de sentir, pensar, fantasiar, sonhar, amar e fazer de cada um” (BOCK, 2002, p. 28). 15 Aula 1 Conceito de Psicologia: a psicologia ou as psicologias É o que constitui o nosso modo de ser: sou baiana, gosto de carna- val, Timbalada, detesto Matemática, faço atividade física, eventualmente, sou casada. Tenho muitos amigos, vou ser tia, adoro comer sushi e falar com meus familiares pela Internet. Ou seja, cada qual é o que é: sua singularidade. Tentando ser mais clara, caro aluno, o que faz o diferencial, como dito acima, é o fato de cada um de nós recebermos e percebermos o contexto em que vivemos de forma diferente e única. Uma situação que pode me causar medo, pode fazer meu esposo rir. Por exemplo, assistir a um filme de terror. Enquanto tenho medo, ele acha graça e ri. Então, caro aluno, queremos mostrar a você que subjetividade pode ser compreendida como uma síntese que nos identifica, de um lado, por ser única, e nos iguala, de outro lado, na medida em que os elementos que a constituem são experienciados no campo comum da objetividade social. Em síntese — “a subjetividade — é o mundo de ideias, significados e emoções, construído internamente pelo sujeito, a partir de suas relações sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica; é, também, fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais” (BOCK, 2002, p. 22). Após essa compreensão de subjetividade, você acha que ela é estáti- ca ou está em constante movimento? Tentando ser mais clara com esse questionamento, a subjetividade é cristalizada, ou seja, concreta, imutá- vel?O que você acha, caro aluno? Você já pode ter observado que o ser humano está em constante relação e em diversos contextos. Dessa forma, podemos dizer que a subjetividade se modifica também com essas rela- ções. É produto e produtor ao mesmo tempo. Tentando dizer de outra forma, podemos compreender, caro aluno, que a subjetividade é automoldável, ou seja, o homem pode gerar novas formas de subjetivida- de, recusando-se certas situações. E que a subjetividade não é inata ao indivíduo, ou seja, ela é construída aos poucos, apropriando-se do mate- rial do mundo social e cultural; isso acontece ao mesmo tempo em que o homem atua sobre este mundo, pois ele é ativo na sua construção. Bem, caro aluno, esperamos que você já tenha uma noção do que seja subjetividade e possamos, então, voltar a nossa discussão sobre o objeto da Psicologia. Como dissemos, a Psicologia é um ramo diferenciado das Ciências Humanas e pode ser interpretada considerando-se que cada um desses ramos enfoca, de modo particular, o objeto homem, construindo conhe- cimentos distintos e específicos a respeito dele. Assim, caro aluno, com o estudo da subjetividade, a Psicologia contribui para a compreensão da totalidade da vida humana. Você pode estar se questionando: “- Ora, há uma forma única de conceber a subjetividade?”. Essa resposta, caro aluno, foi respondida no início da aula, quando colocamos que, dentro da Psicologia, existe um 16 Psicologia Geral campo vasto de abordagens. Sendo assim, fica claro que a forma de se abordar a subjetividade, e mesmo, a forma de concebê-la, dependerá da concepção de homem adotada pelas diferentes escolas psicológicas (que veremos na aula três). Podemos entender, caro aluno, que o papel de uma ciência crítica é a compreensão, comunicação e o encontro do homem com o mundo em que vive, já que o homem que compreende a História (o mundo externo) também compreende a si mesmo (sua subjetividade), e o homem que compreende a si mesmo, pode compreender o funcionamento do mundo e criar novas rotas e utopias. Assim, caro aluno, a subjetividade pode ser compreendida como ob- jeto da Psicologia, na medida em que se refere ao ser humano como um todo, ou seja, com suas individualidades, suas relações sociais e com seu contexto sócio-histórico. ATIVIDADES 1. Quais são os possíveis objetos de estudo da Psicologia? 2. O que é subjetividade? COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES 1. Caro aluno, dentro do que foi discutido na aula, você observou a dificuldade de reconhecer um único objeto de estudo para a Psicologia. E isso ocorre em função de ter sido ela reconhecida como ciência há pouco tempo e também pela sua grande diversidade. Você observou, caro aluno, que o objeto de estudo da Psicologia é o homem em sua amplitude, ou seja, o homem em suas relações, em seu contexto sócio-histórico. 2. Caro aluno, após essa exaustiva tentativa de definir subjetividade, você pode observar que é um tema complexo e que demanda muita leitura e muita discussão. Assim, sua definição é bastante abrangente. Você deve ter notado que subjetividade é a singularidade ou individualidade de cada um. Pôde ver também que ela é formada a partir das experiências internas, das relações sociais e do contexto em que se vive. CONCLUSÃO Esperamos que essa aula tenha dado suporte para a discussão do que é senso comum, ciência e, dentro desse contexto, o que é a Psicologia científica e qual seu objeto de estudo. 17 Aula 1 Conceito de Psicologia: a psicologia ou as psicologias Concluímos, então, que utilizamos, em nosso cotidiano, alguns con- ceitos da ciência, no caso aqui, da Psicologia, que foram apropriados pelo senso comum. No entanto, durante a aula, fizemos uma discussão sobre a Psicologia científica, com sua diversidade de objetos de estudo. Concluímos também que essa dificuldade existe por seu reconheci- mento como ciência ter acontecido recentemente, bem como, pelo fato de que o objeto de estudo confunde-se com o cientista, ou seja, o objeto de estudo da Psicologia é o homem em toda sua diversidade. Em outros termos, podemos compreender que o homem, tendo em vista a sua subje- tividade, pode ser entendido como objeto da Psicologia. Quando nos re- ferimos aqui em subjetividade, estamos querendo dizer: o homem em relação ao seu contexto sócio-histórico. RESUMO Nesta aula, foi abordada a Psicologia científica com seu respectivo objeto de estudo. Para alcançar esse objetivo, apresentamos a diferença entre senso comum e conhecimento científico e, a partir daí, discutimos sobre a dificuldade em delimitar um objeto único de estudo da Psicologia. Assim, caro aluno, vimos que senso comum é o conhecimento que utilizamos em nosso cotidiano e, sem ele, nosso dia a dia seria complica- do, por necessitarmos aprender tudo na tentativa e erro. Vimos que nos apropriamos de termos da Psicologia para nos referir às pessoas sem sa- bermos, de fato, o que eles significam. Isso por utilizarmos o conheci- mento do senso comum. Aprendemos, durante a aula, que esse conhecimento se diferencia da ciência por não ter características científicas, como por exemplo, objeti- vidade, linguagem criteriosa, métodos e técnicas específicas, um objeto específico. Dentro desse contexto de ciência, discutimos sobre o caráter científico da Psicologia, tendo em vista que objeto de estudo e cientista (pesquisador) se confundem e isso pode ter caráter influenciador na pes- quisa, pois cada um de nós temos uma visão diferenciada de homem. Dentro dessa diversidade de objeto de estudo, deixamos claro que o ho- mem é, de fato, o objeto da Psicologia e que, nesse sentido, não há como compreendê-lo de uma forma única. Desse modo, caro aluno, compreendemos que o objeto de estudo da Psicologia é o homem em suas relações, em seu contexto sócio-histórico, ou seja, é o homem em toda sua subjetividade. CURIOSIDADE: http://mailist.pesquisapsi.com/0904/msg00083.html Caro aluno, neste site, você poderá aprofundar mais as discussões realiza- das nessa aula, já que ele aborda a diferença entre Psicologia e práticas místicas. AUTO-AVALIAÇÃO Seguem agora, caro aluno, algumas reflexões sobre o texto. A partir do que foi discutido, consigo diferenciar senso comum de ciência? Se questionado sobre as características necessárias para um conhecimen- to ser reconhecido como ciência, saberei responder? Caso seja questionado, saberei responder sobre as diferenças da Psicolo- gia do senso comum e da Psicologia científica? Consegui acompanhar todas as discussões sobre a diversidade de objeto de estudo da Psicologia? Consigo compreender a subjetividade como objeto de estudo da Psicologia? Busquei o Tutor ou a internet para aprofundar o conhecimento ou tirar dúvidas? PRÓXIMA AULA Para o próximo encontro, caro aluno, você deve levar a compreensão de toda discussão realizada nesta aula no que se refere à compreensão de senso comum, ciência, Psicologia enquanto ciência e sua diversidade de objeto de estudo. O entendimento dessa aula será importante para as aulas seguintes. Posteriormente, iremos fazer uma viagem ao passado e, dessa forma, compreenderemos a influência de outras áreas como, por exemplo, da Filosofia, da Medicina na construção da Psicologia enquanto ciência. Pas- saremos pela Grécia, pelo Império Romano. Teremos a oportunidade de recordar a época do Renascimento e veremos que cada um desses mo- mentos teve importância fundamental no desenvolvimento da Psicologia científica, ou seja, Psicologia dos dias de hoje. REFERÊNCIAS ALVES, R. Filosofia e ciência. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1981. BOCK, A. M. B. Aventuras do Barão de Munchhausen na Psicolo- gia. Ed.Cortez/EDUC, São Paulo, 1999. BOCK, A. M. B. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicolo- gia. 13ª ed. reform. e ampl.São Paulo: Saraiva, 2002. CIVITA. V. Grande Dicionário: Larousse cultural da língua portu- guesa. Nova cultura, 1999. PsicologiaGeral META Apresentar o contexto histórico da Psicologia. OBJETIVOS Ao final da aula, o aluno deverá: indicar os mais importantes marcos do desenvolvimento histórico da Psicologia. PRÉ-REQUISITO Aula 1. Aula 2HISTÓRIA DA PSICOLOGIA Wilhelm Maximilian Wundt (1832-1920) (sentado) foi um psicólogo alemão. Por ter criado o primeiro laboratório de pesquisa em Psicologia, na Universidade de Leipzig, Alema- nha, e buscado estabelecer uma identidade independente para essa ciência, ficou conhecido como o pai da Psicologia moder- na ou científica. (Fonte: www.lib.fit.edu/pubs/grw/Researchguides/Wundt- research-group.jpg) Capa de edição brasileira do tratado De anima, de Aristóteles. (Fonte: www.editora34.com.br) 20 Psicologia Geral INTRODUÇÃO Mosaico representando a luta de Hércules contra o Leão de Neméia. A personagem mitológica de Hércules simboliza o homem em luta contra as forças da natureza. O combate corpo-a- corpo entre Hércules e o Leão pode ser considerado uma metáfora da luta contra as pulsões mais baixas do homem. A luta hercúlea contra o Leão de Neméia foi bastante representada na cerâmica do Período Arcaico, da segunda metade do século -VII em diante. (Fonte: http://terapiabiografica.com.br/2009/05/21/a-luta-contra-o-leao-interno/) Olá, caro aluno, na aula anterior, fizemos uma viagem à “terra” da discussão e, como prometido, nesta aula faremos uma viagem ao passado, desde os tempos da Grécia antiga. Assim que veremos a influência de outras áreas na Psicologia, como também passaremos pelo Império Ro- mano, pelo Renascimento e chegaremos até os dias de hoje, carregados de informações sobre as influências que cada um desses momentos tive- ram no desenvolvimento da Psicologia científica, mais especificamente, da Psicologia na atualidade. Vocês recordam que na aula passada discutimos sobre a diversidade da Psicologia? Pois é, caro aluno, isso acontece até os dias de hoje e, para tentarmos compreendê-la, é indispensável recuperar sua história, seus marcos e suas influências. Faremos isso nessa nossa segunda aula. Então, prezado aluno, vamos nessa? Mãos à obra! 21 História da Psicologia Aula 2 (Fontes: http://marfaber.vilabol.uol.com.br/antiga/grecia/polis.htm) Oi, caro aluno, iniciaremos nossa aula, hoje, com alguns questionamentos para que possamos refletir. Pare para pensar um pouco, caro aluno, quantas vezes você se questionou ou viu alguém se questio- nar: quem sou eu? Quais as minhas necessidades? Em que sou diferente de outros animais? Como aprendo? Por que tenho mais facilidade em al- gumas matérias que em outras? Em que me assemelho a outras pessoas? como me relaciono com as pessoas? Por que, às vezes, sinto-me triste? Certamente, em algum momento da sua vida, você fez perguntas des- se tipo ou presenciou alguém fazendo. O que estamos querendo dizer com isso, caro aluno, é que desde sempre o ser humano tem essa necessi- dade de conhecer (compreender) a si mesmo. Cada tentativa dessa vem acarretada de valores, conhecimentos, experiências de acordo com o con- texto histórico, social, econômico e cultural de cada época. Seguiremos em nossa viagem e a primeira parada é na Grécia. Recorde, caro aluno, de como era a Grécia no período de 700 a.c.. Lembre-se qual era o contexto social, econômico, político e cultural dessa época. Va- mos lá, vejamos que estamos nos re- ferindo à Grécia antiga que era con- siderada a civilização mais evoluída da época. Nesse contexto de glamour, caro aluno, surgiram as pri- meiras cidades-estados – polis – e sua manutenção exigia mais riquezas, as quais alimentavam também o po- derio dos cidadãos (membros da clas- se dominante na Grécia Antiga). Dessa necessidade de acúmulo de riquezas, iniciaram a conquista de novos territórios (Mediterrâneo, Ásia Menor, chegando quase até a China), que geraram riquezas na forma de escravos para trabalhar nessas cidades e na forma de impostos pagos pelas terras conquistadas. Esse contexto de muita riqueza, caro aluno, gerou mais crescimento, e isso exigia soluções práticas para tudo, por exemplo, para a arquitetura, para a agricultura e para a organização social. Você consegue compreender agora, caro aluno, de que forma o contexto pode influenciar na evolução das ciências? Pois bem, em função desse crescimento rápido, tivemos os avanços na Física, na Geometria, na Teoria Política (inclusive com a criação do conceito de democracia). E esses avanços possibilitaram que o cidadão se preocupasse com as coisas do espírito, como a Filosofia e a Arte. Ao estudarmos a Grécia antiga, utili- zamos o termo Polis para nos referir a Cidade. Os morado- res das Polis eram os “politikos” (ci- dadãos), aqueles que exercem a civi- lidade. DESENVOLVIMENTO 22 Psicologia Geral Sócrates Um dos principais pensadores da Grécia Antiga, fun- dou o que conhece- mos, hoje, por filoso- fia ocidental e se destacou por sua preocupação sobre a essência da nature- za da alma humana. ( F o n t e : h t t p : / / w w w . u b e r a - b a . m g . g o v . b r / w e b s e m e c / webmenu/pedago- g i a / p e d _ s o c r a - tes.htm) ( F o n t e : h t t p : / / www.uberaba.mg.gov.br/ w e b s e m e c / webmenu/pedago- gia/ped_platao.htm) Platão Discípulo de Sócra- tes, ocupou-se em definir um lugar para a razão. Nesse momento, caro aluno, a Filosofia começou a indagar sobre o homem e sua interioridade, mais particularmente, desse povo empreen- dedor e conquistador que foram os gregos. Destacaram-se, nesse mo- mento, Platão e Aristóteles. É nesse momento histórico e a partir dos filósofos gregos que surge a primeira tentativa de sistematizar uma Psicologia. O próprio termo Psi- cologia vem do grego. Observe, caro aluno, no box abaixo, mais informa- ções sobre o significado etimológico do termo Psicologia. O próprio termo psicologia vem do grego psyché, que significa alma, e de logos, que significa razão, estudo. Portanto, etimologicamente, psicologia significa “estudo da alma”. A alma ou espírito era concebida como a parte imaterial do ser humano e abarcaria o pensamento, os sentimentos de amor e ódio, a irracionalidade, o desejo, a sensação e a percepção. Assim, caro aluno, os filósofos pré-socráticos (que antecederam Sócrates, filósofo grego) se ocupavam em definir a relação do homem com o mundo através da percepção. A discussão do momento era: “o mundo existe porque o homem o vê ou o homem vê um mundo que já existe”. Se você parar para observar, caro aluno, havia uma oposição de ideias: os que defendiam que a ideia forma o mundo, chamados de idea- listas; e os que defendiam que a matéria, que forma o mundo, já é dada para a percepção, ou seja, materialistas. Mas é com Sócrates (469-399 a.C.), caros alunos, que a Psicologia, nessa época, ganha consistência. Sua preocupação principal era o limite que separa o homem dos animais. Com isso, ele postulava que a principal característica do homem era a razão. É, caro aluno, a razão que permitia ao homem superar os instintos, que seriam a base da irracionalidade. O que estamos querendo dizer, caro aluno, é que esse filósofo definiu a razão como peculiaridade do homem ou como essência humana. Fazen- do isso, Sócrates abre um caminho que seria muito explorado pela Psico- logia. E, segundo BOCK (2002), as teorias da consciência são de algum modo frutos dessa primeira sistematização na Filosofia. Tendo esse conhecimento de Sócrates, seu discípulo, Platão (427- 347 a.C.), também teve destaque. Observe, caro aluno, que enquanto Sócrates postulou a razão como sendo característica essencial do ser hu- mano, Platão ocupou-se em definir um “lugar” para a razão. Uma carac- terística importante desse filósofo é que ele acreditava que a alma era separada do corpo. Essa noção serviu de base para sua compreensão de local para a razão. Para ele, o local da razão é em nosso próprio corpo, maisespecificamente, em nossa cabeça. Entendendo aqui, caro aluno, que é na cabeça que se encontra a alma do homem e a medula seria o elemento de ligação da alma com o corpo. Esse elemento de ligação era necessário por conta da concepção que ele tinha de que a alma era do 23 História da Psicologia Aula 2 Aristóteles Filósofo que se destacou por ser considerado cria- dor do pensamen- to lógico. Seus pensamentos e ideias sobre a hu- manidade têm influ- ências significati- vas na educação e no pensamento ocidental contem- porâneo. ( F o n t e : h t t p : / / www.mundodos- filosofos.com.br/ aristoteles.htm) corpo. Assim, caro aluno, para Platão, quando alguém morria, o corpo desaparecia, mas a alma ficava livre para ocupar outro corpo. Há ainda, caro aluno, outro pensador que teve grande destaque na história da Filosofia - Aristóteles (384-322 a.c.), foi discípulo de Platão, mas, apesar de discípulo, discordou de suas ideias e inovou com seu pos- tulado - alma e corpo não podem ser dissociados. Segundo Aristóteles, psyché seria o princípio ativo da vida. Ele está dizendo com isso, caro aluno, que tudo que cresce, se reproduz e se ali- menta possui a sua psyché ou alma. Assim, tanto os vegetais, os animais como o ser humano teriam alma. Observe, caro aluno, que ele postula diferentes tipos de alma para esses seres: “Os vegetais teriam a alma vegetativa, que se define pela função de alimentação e reprodução. Os animais teriam essa alma e a alma sensitiva, que tem a função de percepção e movimento. E o homem teria os dois níveis anteriores e a alma racional, que tem a função pensante” (BOCK, 2002, p. 33). Caro aluno, esse filósofo foi tão ousado em suas ideias que chegou a estudar as diferenças entre a razão, a percepção e as sensações. Foi esse pensador quem escreveu o que pode ser considerado como o primeiro tratado em Psicologia - De anima, que é a sistematização de suas ideias (BARROS, 2004; BOCK, 2004). Observe, então, caro aluno, que 2300 anos antes do advento da Psi- cologia científica, os gregos já haviam formulado suas “teorias” - a platô- nica, que postulava a imortalidade da alma e a concebia separada do cor- po, e a aristotélica, que postulava o contrário, ou seja, afirmava a morta- lidade da alma e a sua relação de pertencimento ao corpo. ATIVIDADES 1. Responda agora, caro aluno, quais as condições sócio-econômicas da Grécia Antiga que proporcionaram o início da reflexão sobre o homem? 2. Mostre, caro aluno, que acompanhou nossa viagem de forma atenta e diga quais foram as principais contribuições, para a Psicologia, deixadas por Sócrates, Platão e Aristóteles? COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES 1. Como você observou, caro aluno, a Grécia Antiga era considerada a civilização mais evoluída, empreendedora e conquistadora da época. Foi um momento de muita riqueza e crescimento das civilizações. Esse fato exigiu soluções práticas para tudo, assim, caro aluno, você 24 Psicologia Geral Santo Agostinho de Hipona Foi um importante bispo cristão e teólogo. Todo o seu interesse cen- tral está, portanto, circunscrito aos problemas de Deus e da alma, visto serem os mais importantes e os mais imediatos para a solução integral do problema da vida. (Fonte:htpp://www.mundodos- filosofos.com.br/Agostinho.html) observou que tivemos avanços na Física, na Geometria, na Teoria Política, sobrando tempo para que as pessoas se questionassem sobre si mesmas e sobre questões do espírito. Você viu, caro aluno, que nesse momento, a Filosofia começou a indagar sobre o homem e sua interioridade. Nessa discussão, destacaram-se Sócrates, Platão e Aristóteles. 2. Aqui, você deve mostrar quais foram as contribuições dos Filósofos Gregos para a história da Psicologia. Você notou, caro aluno, que Sócrates foi o precursor na discussão sobre o ser humano. Ele postulou que a principal característica do ser humano é a razão e isso abre caminho para muitas teorias exploradas pela Psicologia, hoje; você viu também, caro aluno, que seu discípulo, Platão, procurou encontrar um “lugar” para a razão e, com a ideia de que a alma era separada do corpo, ele postulou que a razão está em nosso próprio corpo, na cabeça. Aristóteles destacou-se por suas ideias ousadas. Afirmou que alma e corpo não podem ser dissociados e começou a estudar as diferenças entre a razão, a percepção e as sensações. Agora, caro aluno, que já passamos pela Grécia e vimos a contri- buição de alguns filósofos para o conhecimento da Psicologia, na medida que eles já estavam pensando sobre o ser humano, iremos seguir viagem rumo a Idade Média. Recorde, caro aluno, de como era o contexto social na Idade Média? Lembre-se qual era o contexto social, econômico, político e cultural dessa época. Quando você pensa sobre Idade Média, o que lhe vem primeiro a mente? Pense um pouco! Certamente você deve lembrar que uma das características desse período é o poder do Cristianismo sobre to- das as formas de conhecimento, que transpõe até a força política dominante. Então, caro aluno, perceba que o poder do Cristianismo influenciará nas idéias filosóficas desta época. Um momento histórico que teve grande repercussão nesse perío- do foram as invasões bárbaras (400 d.c.), pois causaram uma grande desorganização econômica e o esfacelamento dos territórios. Nesse contexto, caro aluno, o Cristianismo sobreviveu, se fortale- ceu e tornou-se, não só a principal religião da Idade Média, como também dominou o poder econômico, político, mo- nopolizou o saber e, consequentemente, os estudos sobre o psiquismo. Esse poder foi tão intenso, caro aluno, que os pensado- res de destaque foram filósofos envolvidos com a Igreja Católica. Você sabe quais foram esses filósofos, caro aluno? Primeiro surgiu Santo Agostinho (354-430), que concorda- va com Platão, ou seja, fazia uma cisão entre alma e corpo, 25 História da Psicologia Aula 2 Destacou-se pela fidelidade ao Cris- tianismo. ( F o n t e : h t t p : / / www.mundodos- filosofos.com.br/ aquino.htm) Mercantilismo É o nome dado a um conjunto de práti- cas econômicas de- senvolvido na Euro- pa na Idade Moder- na, entre o século XV e os finais do século XVIII. mas, para ele, a alma era a sede da razão e também a grande prova de uma manifestação divina no homem. Dessa forma, caro aluno, Santo Agosti- nho postulava a imortalidade da alma por acreditar que ela era o elemen- to que ligava o homem a Deus. Postulava também que a alma era a sede do pensamento. Perceba aqui, caro aluno, que se a alma era compreendi- da como sede do pensamento, a Igreja passa a se preocupar também com sua compreensão. Tempos depois, surge outro pensador de destaque: São Tomás de Aquino (1225-1274). Ele viveu no período que a Igreja Católica estava perdendo seu poder e o Protestantismo estava aparecendo. Assim, caro aluno, São Tomás de Aquino teve papel importante, pois ele precisava encontrar novas justificativas para a relação entre Deus e o homem. Bus- cou, em Aristóteles, a distinção entre essência e existência. Recorda, caro aluno, quais foram os pressupostos desse filósofo? Ele considera que o homem, na sua essência, busca a perfeição através de sua existência. São Tomás introduziu o ponto de vista religioso nesse pensamento e afirmou que somente Deus seria capaz de reunir a essência e a existência, em termos de igualdade. Desse modo, caro aluno, ele postula que a busca da perfeição pelo homem seria a busca de Deus, tentando, com isso, justificar os dogmas da Igreja e garantir, para ela, o monopólio do estudo do psiquismo. Observe, caro aluno, que do nosso roteiro de viagem, já passamos por dois momentos importantes para a História e que influenciaram no desenvolvimento da Psicologia – a Grécia Antiga, a Idade Média. Agora, caro aluno iremos saltar 200 anos e passaremos para o Renascimento. Tente recordar quais foram os fatos mais importantesdessa época. Recorde, caro aluno, que é nesse momento que tem início uma série de transformações radicais no mundo europeu. Nessa época, caro aluno, o mercantilismo estava em ascensão e levou à descoberta de novas terras - a América, o caminho para as Índias, a rota do Pacífico – e esse crescimen- to todo proporcionou um acúmulo de riquezas por algumas nações como a França, a Itália, a Espanha e a Inglaterra, que estavam em formação. Está recordando, caro aluno, dos acontecimentos desta época? Pois é, caro aluno, e os acontecimentos marcantes desse momento não para- ram por aí. Foi nesse momento, com a transição para o capitalismo, que tem início o grande “bum” sócio-econômico, ou seja, surge uma nova forma de organização econômica e social e, isso, vai influenciar, caro aluno, na valorização do homem. Ocorreram transformações em todos os setores da produção humana - na literatura, nas artes, na política e nas ciências. Recorde, caro aluno, dos nomes que foram grandes marcos dessa época. Você lembra de al- gum? Copérnico (1473-1543), que mostrou que nosso planeta não é o centro do universo e causa, com isso, uma revolução no conhecimento humano; Galileu (1564-1642), que realizou as primeiras experiências da 26 Psicologia Geral ( F o n t e : h t t p : / / educacao.uol.com.br/ b i o g r a f i a s / ult1789u702.jhtm) René Descartes Um dos filósofos que mais contribuiu para o avanço da ci- ência: “Cogito ergo sun” Física e estudou a queda dos corpos. Tais avanços, caros alunos, deram espaço para a sistematização do conhecimento científico — estabelecer métodos e regras básicas para a construção de um saber científico. Neste contexto de avanço e crescimento, inclusive das ciências, caro aluno, um filosofo destacou-se - René Descartes (1596-1659), dando continuidade aos estudos dos filósofos mencionados anteriormente. Ele postulou a separação entre mente (alma, espírito) e corpo. Para Descar- tes, caro aluno, o homem possui uma substância material e uma substân- cia pensante. E o corpo, desprovido do espírito, é apenas uma máquina. Essas suas idéias, de certo modo, caro aluno, contribuíram para o avanço da Anatomia e da Fisiologia e, assim, para o progresso da própria Psicolo- gia. Ora, você deve estar se questionando como ocorreu essa contribui- ção. Mas pare para pensar, caro aluno, a afirmação de Descartes – o corpo sem espírito é uma máquina – abri as portas para investigar a estrutura física do homem (anatomia), bem como deu espaço para estudar como funciona, fisiologicamente, o corpo humano. Dessa forma, caro aluno, deu início aos estudos de aspectos que, hoje, também são estudados pela Psicologia, por exemplo, os processos básicos da Psicologia: memória, percepção, sensação, atenção. Com Descartes, caro aluno, a Filosofia passa a se ocupar da razão e não mais da alma, ou seja, com a Teoria Racionalista – Cogito ergo sum – a preocupação do filósofo não é mais o ser ou as causas primeiras das coi- sas (Deus), mas diz respeito ao homem e a sua capacidade de conhecer e transformar o mundo. Novamente, caro aluno, essa posição mais racional irá influenciar a Psicologia, pois a Filosofia estava se ocupando da mente e, neste momento, a Psicologia começou a desenvolver seus estudos so- bre os processos mentais. Caro aluno, esse foi um momento importante da História, pois foi a época da Revolução Francesa e da Revolução Industrial na Inglaterra. Foi um momento de transição para o capitalismo. Toda essa crise econômica e social, pôs em xeque a Igreja e todos os conhecimentos produzidos por ela. Cansado, caro aluno? Pois nossa viagem ainda não acabou, mas está próxima do fim. Já chegamos ao século XIX. Vamos tentar contextualizá- lo? O que você recorda, caro aluno? Foi um momento de transição da sociedade feudal para a sociedade capitalista. Lembra-se do feudalismo, caro aluno? Para recordar as característi- cas desse período, leia o Box abaixo. A sociedade feudal era composta por três classes básicas: Clero, Nobres e Servos. A estrutura social praticamente não permitia mobilidade, sendo, portanto, que a condição de um indivíduo era determinada pelo nascimento. A relação do senhor e do servo era típica de uma economia fechada, na qual uma hierarquia rígida estava 27 História da Psicologia Aula 2estabelecida, não havendo mobilidade social. As terras eram divididas em feudos, onde havia um senhor, o senhor feudal que mandava em tudo no local. O senhor era o proprietário dos meios de produção, enquanto os servos representavam a grande massa de camponeses que produziam a riqueza social. Cada feudo tinha sua moeda, leis, tecnologia e, às vezes, a própria língua (o tamanho dos feudos eram tão grandes que não havia comunicação entre eles, a não ser, em caso de guerra, fazendo com que cada um tivesse um desenvolvimento diferente. O clero possuía grande importância no mundo feudal, cumprindo um papel específico em termos de religião, de formação social, moral e ideológica. No entanto, esse papel do clero é definido pela hierarquia da Igreja, quer dizer, pelo Alto Clero, que por sua vez é formado por membros da nobreza feudal. A principal fonte de produção era a terra. A razão ainda estava submetida à fé como garantia de centralização do poder. A autoridade era o critério de verdade. Esse mundo fechado e esse universo finito refletiam e justificavam a hierarquia social inquestionável do feudo (BOCK, 2002; http://www.suapesquisa.com/feudalismo). Após a leitura do Box, para recordar o funcionamento sócio-econô- mico da época do feudalismo, estamos preparados para continuar nossa viagem até o final da Idade Média. O que recorda dessa época? Lembra, caro aluno, que é nesse período que acontece uma nova ordem econômi- ca? Pois é, o capitalismo surge com força total e, com isso, inicia todo o processo de industrialização. Nesse contexto, caro aluno, a ciência é cada vez mais fortalecida, pois é ela que dará respostas e soluções práticas no campo da técnica. A ciência dará suporte a essa nova ordem econômica e social. Para compreensão de como o capitalismo modificou o modelo sócio-econômico vigente, leia o Box abaixo: O capitalismo pôs o mundo em movimento. Enquanto no feudalismo tudo demorava para acontecer, aqui, as coisas aconteciam mais rápido. Por conta da necessidade de abastecer mercados e produzir cada vez mais, buscou novas matérias-primas na Natureza; criou necessidades; contratou o trabalho de muitos que, por sua vez, tornavam-se consumidores das mercadorias produzidas; questionou as hierarquias para derrubar a nobreza e o clero de seus lugares há tantos séculos estabilizados. O homem deixou de ser o centro do universo (antropocentrismo) e passou a ser visto como um ser livre e capaz de construir seu futuro. As características do feudalismo começam deixar de existir: o servo foi libertado e pôde escolher seu trabalho e seu lugar social. Isso fez com que essas pessoas se tornassem consumidores em potencial das mercadorias produzidas. O conhecimento tornou-se independente da fé. Os dogmas 28 Psicologia Geral da Igreja foram questionados. O mundo se moveu. A racionalidade do homem apareceu, então, como a grande possibilidade de construção do conhecimento. Outra característica importante, desse momento, é o advento da máquina. Todo o universo passou a ser pensado como uma máquina, isto é, podemos conhecer o seu funcionamento, a sua regularidade, o que nos possibilita o conhecimento de suas leis. Esta forma de pensar atingiu também as ciências do homem. http://www.suapesquisa.com/capitalismo Nesse contexto sócio-cultural, caro aluno, a ciência se desenvolveu e as ideias dominantes fermentaram esse desenvolvimento: o conhecimento como fruto da razão; a possibilidade de desvendar a Natureza e suas leis pela observação rigorosa e objetiva. A busca de um método rigoroso, que possibilitasse a observação para a descoberta dessas leis,apontava a neces- sidade de os homens construírem novas formas de produzir conhecimento, ou seja, não era mais estabelecido pela Igreja ou pela autoridade eclesial. Alguns pensadores destacaram-se nesse período. Você sabe quais, caro aluno? Hegel (1770–1831) demonstrou a importância da História para a com- preensão do homem; Darwin (1809–1882), que negou o antropocentrismo com sua tese evolucionista. Observe, caro aluno, que a ciência avança de tal modo, que se tornou um referencial para a visão de mundo. Assim, para ser verdade, tinha que obedecer aos critérios da ciência. Até a Filosofia, caro aluno, passa a se adaptar à ciência. Você recorda qual foi o pensador que trouxe a ciência para a Filosofia? Lembra do Positivismo? Pois é, caro aluno, Augusto Comte postulou a necessidade de maior rigor científico na construção dos conhecimentos nas ciências humanas. Assim, ele propôs o método da ciência natural, a Física, como modelo de construção de conhecimento. Tendo a ciência como referencial para tudo, alguns temas da Psicolo- gia, que antes foram estudados pela Filosofia, passaram a ser investiga- dos por outras áreas como, por exemplo, da Fisiologia, da Neurofisiologia. Esses estudos levaram à formulação de teorias sobre o sistema nervoso central, demonstrando que o pensamento, as percepções e os sentimen- tos humanos eram produtos desse sistema. Caro aluno, você deve estar pensando o que isso tem haver com a Psicologia. Pois bem, você deve estar compreendendo que toda essa mu- dança, no mundo, afetou o homem e sua forma de ser, pensar e existir. E para conhecer o psiquismo humano, torna-se necessário compreender os mecanismos e o funcionamento do cérebro. Dessa forma, caro aluno, a Psicologia passa a caminhar junto a Fisiologia, Neuroanatomia e Neurofisiologia. 29 História da Psicologia Aula 2Houve algumas descobertas importantes para a Psicologia nessa épo- ca, veja o Box abaixo: * Neurologia – doença mental é fruto da ação direta ou indireta de diversos fatores sobre as células cerebrais. * Neuroanatomia – a atividade motora nem sempre está ligada à cons- ciência, pois não estão necessariamente na dependência dos centros ce- rebrais superiores. * Fisiologia – Psicofísica: estudava a fisiologia do olho e a percep- ção das cores. Lei Fechner-Weber: estabelece relação entre estímulo e sensação, permi- tindo a mensuração Þ possibilidade de medida do fenômeno psicológico. - Wilhelm Wundt (1832-1926) – paralelismo psicofísico – fenômenos mentais correspondem fenômenos orgânicos. Introspeccionismo – método para explorar a mente ou a consciência. Essas descobertas foram importantes na história da Psicologia por- que iniciaram o estudo de fenômenos mentais como elas também surgiu a possibilidade de medida do fenômeno psicológico, coisa que, até então, era considerada impossível. Observe, caro aluno, que assim os fenôme- nos psicológicos adquiriram o status de científicos, pois, como vimos, para ser compreendido como ciência, nesta época, era necessário que fosse mensurável. Outra contribuição importante, como você já deve ter visto no Box, foi a de Wilhelm Wundt que desenvolveu a concepção do paralelismo psicofísico, no qual afirma que aos fenômenos mentais correspondem os fenômenos orgânicos. Essa contribuição e a criação do primeiro laboratório na Universidade de Leipzig, na Alemanha, para rea- lizar experimentos na área de Psicofisiologia, fizeram com que ele fosse considerado o pai da Psicologia moderna ou científica. Caro aluno, veja que estamos fazendo o trajeto nessa viagem para chegar até a Psicologia científica. E com Wundt, e outros companheiros que, ao final do século XIX, surgiu a Psicologia moderna, trabalharam juntos na Universidade de Leipzig, Alemanha. É nesse contexto, caro aluno, que a Psicologia se distancia da Filoso- fia e ganha status de ciência. “A psicologia se “desliga” da filosofia e se configura enquanto ciência independente quando deixa de buscar a essência humana e passa a adotar métodos para não só conhecer, mas também intervir nesse ser humano” (CAMBAÚVA, SILVA e FERREIRA,1998, p. 222) Recorde, caro aluno, que para um conhecimento ser compreendido como ciência são necessários alguns critérios e, para isso, os estudiosos e 30 Psicologia Geral pesquisadores, sob os novos padrões de produção de conhecimento, pas- sam a discutir sobre seu objeto de estudo (o comportamento, a vida psí- quica, a consciência); a questionar sobre a delimitação de seu campo de estudo (tentando aqui se diferenciar de outras áreas); a pensar sobre mé- todos de estudo desse objeto e a formular teorias enquanto um corpo consistente de conhecimentos na área. Então, caro aluno, todas as teorias devem obedecer a tais critérios cien- tíficos. Embora, tenha sido, a Alemanha, o berço da Psicologia científica, é nos EUA que ela cresce rapidamente, resultado do grande avanço econô- mico que os EUA estavam passando em função do sistema capitalista. Surgem, assim, caro aluno, as primeiras escolas em Psicologia que deram origem às inúmeras teorias que existem atualmente. Essas aborda- gens são: o Funcionalismo, de William James (1842-1910), o Estrutu- ralismo, de Edward Titchner (1867-1927) e o Associacionismo, de Edward L. Thorndike (1874-1949). Encerraremos, aqui, nossa viagem, caro aluno, com a indicação de alguns sites para aprofundar esse assunto. Na aula seguinte, continuare- mos com as teorias que sugiram em seguida: Psicanálise, Behaviorismo e a Gestalt. CURIOSIDADE A partir do site abaixo, caro aluno, você poderá aprofundar as discus- sões dessa aula: http://www.scielo.br/pdf/epsic/v3n2/a03v03n2.pdf ATIVIDADES 1. Como você viu, caro aluno, na Idade Média a Igreja influenciou nas Artes, na Economia, na Vida Social e, na Filosofia, não podia ser diferen- te. Dessa forma, quais foram os grandes pensadores dessa época e quais foram suas contribuições para o conhecimento em Psicologia? 2. Mostre, caro aluno, que você acompanhou a aula e fale como aconte- ceu o desligamento entre Filosofia e Psicologia. COMENTÁRIOS SOBRE AS ATIVIDADES 1. Você observou, prezado aluno, que a Igreja tinha monopólio total na época da Idade Média, por essa razão, os pensadores que se destacaram estavam ligados à Igreja. O primeiro deles, você viu, foi Santo Agostinho, que concordava com as ideias de Platão (fazia cisão entre alma e corpo) e acrescentava que a sede da razão era a alma, ou 31 História da Psicologia Aula 2seja, que a sede do pensamento era a alma, com isso, ele trouxe para a Igreja a responsabilidade de compreensão do ser humano, da sua alma e, assim, do pensamento. Você notou, caro aluno, que tempos depois, outro pensador se destacou: São Tomás de Aquino, que veio com a responsabilidade de resgatar o poder para a Igreja. Ele buscou inspiração em Aristóteles e afirmou que somente Deus era capaz de reunir a essência e a existência em termos de igualdade, ou seja, ele postulou que a busca da perfeição, pelo homem, só seria possível através de Deus. Você compreendeu, caro aluno, que ele destacou- se por essa afirmação, pois, assim, conseguiu encontrar novas justificativas para a relação entre Deus e o homem e manter o monopólio da Igreja. 2. Você viu, no decorrer da aula, caro aluno, toda evolução histórica da Psicologia. Notou que, no Renascimento, houve uma tentativa de sistematização do conhecimento científico, ou seja, era necessário pensar em métodos e regras para a construção da ciência, destacando, aqui, o filósofo René Descartes, que postulou a separação entre mente e corpo. Com isso, caro aluno, você percebeu que ele abre possibilidades de estudos de áreas como Anatomia e Fisiologia que têm relação com os processos mentais, hoje, estudados também pela Psicologia. Tais temas passaram a ser estudados também por outras áreas – Fisiologia, Neurofisiologia e Neuroanatomia, estudando as teorias do sistema nervoso central:pensamento, percepções e sentimentos. Com a afirmação desse filósofo, o conhecimento tornou- se independente da fé e tornou-se fruto da razão. Mas, você observou, na aula, prezado aluno, que todos os acontecimentos históricos culminaram para a Psicologia ser compreendida como ciência, um exemplo disso, foi a construção do primeiro laboratório de psicofisiologia por Wundt. Isso não teria acontecido se não fosse pelo processo de reconhecimento do homem enquanto ser pensante e separado da alma por outros filósofos, bem como, não teria ocorrido, se não houvesse uma exigência por uma metodologia científica. CONCLUSÃO A partir do que estudamos, vimos que para a Psicologia ser compre- endida como ciência, foi uma grande caminhada. Conhecemos, nessa aula, caro aluno, os momentos mais importantes da história da Psicologia. Observamos que cada momento revelou um contexto sócio-econô- mico e cultural diferente como, por exemplo, na Idade Média, com a in- fluência da Igreja em todos os aspectos da vida humana. Os pensadores que se destacaram pertenciam à Igreja, com a intenção de monopolizar até o conhecimento produzido da época. 32 Psicologia Geral Vimos que, estudando a história da Psicologia, é possível entender a sua constituição como ciência e entender sua diversidade de objeto de estudo. Caro aluno, em toda nossa aula, fizemos destaques a muitos filó- sofos, isso aconteceu porque a Psicologia, por muito tempo, foi tema da Filosofia. Os teóricos consideram que a Psicologia emancipou-se da Filo- sofia em meados do século XIX. Assim, não podemos resgatar a história da Psicologia sem entendermos a Filosofia como primeira forma de de- senvolvimento do pensamento humano racional, quando das primeiras indagações do homem sobre o mundo. Entendemos, caro aluno, que foi com Wundt e a criação do primeiro laboratório em Psicofisiologia, que a Psicologia foi reconhecida como ci- ência e, assim, surgiram as primeiras abordagens ou escolas em Psicologia que deram origem às inúmeras teorias que existem atualmente. RESUMO Esperamos que essa viagem a momentos históricos, destacando mar- cos importante para o desenvolvimento da Psicologia, tenha sido provei- tosa para você, caro aluno. Vimos, então, que os seres humanos buscam entender a si mesmos desde sempre e para compreensão da diversidade com que a Psicologia se apresenta, hoje, é indispensável recuperar sua história, pois a partir do momento histórico conhecemos as exigências do conhecimento da hu- manidade, às demais áreas de conhecimento e aos novos desafios coloca- dos pela realidade econômica, social, política etc. Aprendemos, caro aluno, que foi com os filósofos da Grécia Antiga que se iniciou o interesse pelo ser humano e seu interior. Os pensadores que tiveram destaque foram: Sócrates, Platão e Aristóteles, sendo que, com este último, aconteceu a primeira tentativa de sistematizar a Psicologia. Vimos também, caro aluno, que na Idade Média, com o monopólio da Igreja, tudo passou ter sua influência. Não foi diferente com a filosofia. Os pensadores que se destacaram foram Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. Com suas idéias, eles argumentaram, de modo racional, todo estu- do do ser humano para, assim, ter o monopólio do estudo do psiquismo. Após esse período, vimos que o Renascimento foi um momento de grande destaque para a Psicologia, pois houve, nessa época, uma tentati- va de sistematização do conhecimento científico, ou seja, métodos e re- gras para a construção da ciência. Grande destaque para René Descartes, que postulou a separação entre mente e corpo. Abrindo as portas, dessa forma, caro aluno, para o início dos estudos da Anatomia e da Fisiologia. 33 História da Psicologia Aula 2Finalizamos a aula, caro aluno, com a origem da Psicologia Científi- ca, já no século XIX, onde o conhecimento tornou-se independente da fé e tornou-se fruto da razão. Os nomes importantes foram: Hegel, Darwin e Augusto Comte. Com destaque para esse último que, com o Positivismo, mostrava a necessidade de um maior rigor científico na produção dos conhecimentos das ciências humanas. Nessa época também, caro aluno, observamos que os temas da Psi- cologia passaram a ser estudados por outras áreas - Fisiologia e Neurofisiologia, estudando as teorias do sistema nervoso central: pensa- mento, percepções e sentimentos. E, é com Wilhelm Wundt, criador do primeiro laboratório para estu- dos em Psicofisiologia, que a Psicologia se separa totalmente da Filosofia e tem reconhecimento de ciência. AUTO-AVALIAÇÃO Seguem agora, caro aluno, algumas reflexões sobre o texto. - Consegui acompanhar o conteúdo dado? - Surgiram dúvidas que pude solucionar com os tutores? - Sou capaz de indicar os marcos mais importantes do desenvolvimento histórico da Psicologia? PRÓXIMA AULA Para a próxima aula, caro aluno, você deve considerar os marcos históri- cos que contribuíram para o desenvolvimento da Psicologia como ciência, destacando os contextos sócio-econômicos e cultural de cada momento. No próximo encontro, prezado aluno, teremos contato com algumas das principais teorias da Psicologia que nasceram com o reconhecimento da Psicologia enquanto ciência. REFERÊNCIAS BOCK, A. M. B. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicolo- gia. 13ª ed. reform. e ampl.São Paulo: Saraiva, 2002. CAMBAÚVA, L. G.; SILVA, L. C.; FERREIRA, W. Reflexões sobre o estudo da história da psicologia. (1998). Estudos de Psicologia, 3 (2), 207-227. BARROS, C. S. G. Pontos de psicologia geral. Ática, São Paulo: 2004. LIMA, S. R. Psicologia Geral. Aracaju: Editora J. Andrade, 2002. META Apresentar as abordagens iniciais da Psicologia – Behaviorismo e Gestalt. OBJETIVOS Ao final desta aula, o aluno deverá: abordar o Behaviorismo, apresentando os principais conceitos; abordar a Gestalt, apresentando os principais conceitos. PRÉ-REQUISITOS Aulas 1 e 2. Aula 3ABORDAGENS DA PSICOLOGIA – BEHAVIORISMO E GESTALT Charge publicada no final do século XIX ironizando um possível futuro automatizado para a educação. No final do século XIX surgiu o behaviorismo. Skinner foi um dos papas em Psicologia Experimental e desenvolveu intensa atividade no estudo da Psicologia da Aprendizagem. Convicto na influência do condicionamento para a educação, postulou que o comportamento dos alunos poderia ser modelado pelas escolas. A “aprendizagem programada” e as “máquinas de ensinar” seriam os meios mais apropri- ados para realizar aprendizagem escolar. (Fonte: http://farm3.static.flickr.com/2091/2217351520_ce18c8c725.jpg) 36 Psicologia Geral INTRODUÇÂO Olá, prezado aluno, na aula anterior fizemos uma viagem ao passado. Passamos pela Grécia Antiga, pelo Império Romano, pelo Renascimento, até chegarmos, aos dias de hoje, compreendendo as influências que cada um desses momentos tiveram no desenvolvimento da Psicologia Científi- ca, mais especificamente, da Psicologia, na atualidade. Para a aula de hoje, é importante que você tenha compreendido toda a história da Psicologia, pois veremos duas das principais posições teóri- cas da Psicologia. Mostrando as características mais importantes de cada uma delas. Então, caro aluno, vamos nessa. Foto 1 - Max Wertheimer, foto 2 - Kurt Koffka e foto 3 - Wolfgang Köhler, criadores da Gestalt. (Fontes: 1 e 2 - http://organizations.uncfsu.edu; 3 - www.princeton.edu/~freshman/gestalt/kohler/ kohler.gif). 31 2 37 Abordagens da Psicologia – Behaviorismo e Gestalt Aula 3DESENVOLVIMENTO Como abordado na aula passada, caro aluno, foi nos EUA que a Psi- cologia se desenvolveu de fato como ciência. Então, a Psicologia Cientí- fica nasce quando rompe com a Filosofia e se estrutura de acordo com os padrões de ciência do século XIX. Assim, o conhecimento científico é aquele produzido em laboratórios, com o uso de instrumentos de obser- vação e medição. Retome à aula anterior, caro aluno.Finalizamos apresentando as pri- meiras escolas em Psicologia - o Funcionalismo, de William James (1842- 1910), o Estruturalismo, de Edward Titchner (1867-1927) e o Associacionismo, de Edward L. Thorndike (1874-1949). Dessas escolas, surgiram as inúmeras teorias que existem atualmente. Iremos abordar as três mais importantes e mais conhecidas tendênci- as teóricas da Psicologia: o Behaviorismo, a Gestalt e a Psicanálise. Na aula de hoje, começaremos com o Behaviorismo e a Gestalt. Já na quarta aula, abordaremos a Psicanálise. Faremos isso de forma didática, ou seja, separaremos a aula em tópicos. BEHAVIORISMO Você sabe o que significa esse nome, caro aluno? Pois bem, inicial- mente vamos tentar compreender o que ele significa. Behaviorismo vem do termo inglês behavior e significa “comportamento”. Pela nomenclatu- ra, você pode observar que essa abordagem vai estudar sobre o compor- tamento humano. É isso mesmo, caro aluno! Esse termo foi utilizado pelo americano John B. Watson (1878-1958, EUA), em uma publicação que apresentava o título Psicologia: como os behavioristas a veem. Veja, caro aluno, que em função da tradução, algumas pessoas se re- ferem a essa Teoria com outras nomenclaturas, por exemplo, Comportamentalismo, Teoria Comportamental, Análise Experimental do Comportamento, Análise do Comportamento. Recorda, caro aluno, quais eram os critérios para uma ciência ser com- preendida como ciência? Preocupado com isso, Watson postula que o com- portamento é o objeto da Psicologia, pois respaldava as exigências da ciência que os psicólogos buscavam. Observe, caro aluno, que o comportamento supre todos os critérios, pois, é um objeto observável, mensurável. Os expe- rimentos podem ser reproduzidos em diferentes condições e sujeitos. Essas características foram fundamentais para a Psicologia alcançar o status de ciência, rompendo, definitivamente, com a sua tradição filosófica. Existem alguns nomes importantes que contribuíram para o desen- volvimento dessa abordagem. Note, caro aluno, que essa abordagem se destacou bastante nos EUA, mas, no mesmo momento histórico, outros 38 Psicologia Geral cientistas desenvolviam estudos que, posteriormente, subsidiaram a Teo- ria Comportamental. Alguns desses nomes foram: - Ivan Pavlov (1874-1949, Rússia) – desenvolveu experiências com ca- chorros e, a partir dessas experiências, postulou o condicionamento clássico. Termo utilizado, atualmente, por essa abordagem. Ele acredita que o con- dicionamento clássico explica o porquê de uma resposta emocional ou fisio- lógica incontrolável diante de um estímulo particular. - Eduard Thorndike (1874-1949, EUA) – desenvolveu experiências com gatos e, através dessas experiências, compreendeu que o comportamento é governado por gratificações ou punições – condicionamento operante. Ter- mos também utilizados por essa abordagem e que iremos definir posteri- ormente. - John B. Watson (1878-1958, EUA), com quem, de fato, desenvolveu- se o Behaviorismo, pois, até então, os estudos eram realizados com ani- mais. Watson aplicou esses estudos aos seres humanos e sugeriu que os medos são decorrentes de condicionamentos clássicos e que, comportamentos como a raiva, derivam de condicionamento operante. - B. F. Skinner (1904-1990, EUA) – através de experimentos realizados com ratos, estudou a influência do comportamento aprendido através do comportamento operante. Observe, caro aluno, que até aqui, falamos dos nomes mais impor- tantes para essa abordagem; iremos, agora, definir e explicar cada termo utilizado por essa teoria. Antes, contudo, caro aluno, é importante você compreender que o behaviorismo defendia que o comportamento devia ser estudado como função de certas variáveis do meio, ou seja, certos estímulos levam o organismo a dar determinadas respostas, isso ocorre porque os organis- mos se ajustam aos seus ambientes por meio da hereditariedade e pela formação de hábitos. Os teóricos, dessa abordagem, buscavam uma Psi- cologia sem alma e sem mente, ou seja, que tivesse a capacidade de pre- ver e controlar. Com o passar do tempo, caro aluno, para os Behavioristas, o objeto da Psicologia foi se modificando e, atualmente, essa abordagem se dedica ao estudo das interações entre o indivíduo e o ambiente, entre as ações do indivíduo (suas respostas) e o ambiente (os estímulos). Veja, caro alu- no, eles evoluíram e perceberam que apenas o comportamento como ob- jeto é muito amplo e compreenderam como objeto a interação indivíduo- ambiente, ou seja, o homem é produto e produtor dessas interações. Após Watson, quem teve maior destaque nessa abordagem foi Skinner, que, como dito, aprofundou nos estudos sobre comportamento operante. Para termos compreensão sobre esse condicionamento, caro aluno, iremos abor- dar primeiro o que hoje é chamado de comportamento reflexo. Edward Lee Thorndike Psicólogo americano. (Fonte: http:// psych .wisc .edu / h e n r i q u e s / r e s o u r c e s / thorndike.jpg) Ivan Petrovich Pavlov Cientista russo que contribui para o de- senvolvimento da Psicologia. (Fonte: http:// s a s i c o . c o m . b r / psico/wp-content/ images/2009/04/ pavlov.jpg) 39 Abordagens da Psicologia – Behaviorismo e Gestalt Aula 3Conceitos Importantes Condicionamento clássico ou Respondente – ocorre quando um estí- mulo que induz uma resposta particular é consistentemente emparelhado com um estímulo neutro (E) que não induz a resposta (R). Vamos tentar compreender melhor, caro aluno, observe o gráfico abaixo: R E O Condicionamento clássico, caro aluno, é quando fazemos associa- ções, ou seja, quando ouvimos barulho de fogos tomamos susto e, esse susto, faz com que nosso corpo tenha uma reação - coração acelera. As- sociamos, dessa forma, os fogos ao comportamento de susto. Entendeu, caro aluno? Observe que, se essa situação ocorrer com frequência, ire- mos apresentar essa resposta de susto ao escutarmos barulho de fogos, mesmo que seja esperado. Veja o gráfico: Fogos ’! Susto (aceleração do coração) Como vimos, caro aluno, quem estudou esse comportamento foi Pavlov através de experiências realizadas com cachorros. Ele associou barulho da sineta com a salivação do animal. Veja como: Sineta-Carne — Cachorro — salivação Toda vez que Pavlov mostrava a carne ao cachorro, ele associava ao barulho da sineta, por conta da carne, o animal salivava. Observe que interessante, caro aluno: certo dia, após inúmeras repetições, Pavlov ob- servou que apenas com o barulho da sineta o cachorro estava salivando. Ficou mais claro? Veja que ele associou a carne (estímulo que dava a resposta de salivação) ao estímulo neutro (sineta) para ter uma resposta. Para melhor compreensão, assista ao vídeo no link abaixo que se refere ao caso do Pequeno Albert – experimento realizado por Watson para mos- trar que os temores surgem quando a criança deixa o ambiente protegido: http://www.youtube.com/watch?v=g4gmwQ0vw0A Baseado nesse exemplo, caro aluno, você consegue perceber que o condicionamento do respondente tem algumas características? Veja só, a primeira característica é que parecem ser involuntários – o medo que o Pequeno Albert desenvolveu; a segunda característica é que são contro- lados pelo Sistema Nervoso Autônomo – a sensação orgânica; outra ca- racterística é que parecem ser controlados pelos eventos que precedem – o barulho que foi associado ao ratinho de pelúcia; outra característica importante é que são comportamentos não aprendidos inicialmente, ou seja, são aparentemente programados pelo organismo com fins de prote- ção e sobrevivência e, por último, podem ser generalizados – um novo estímulo adquire a capacidade de evocar o comportamento respondente, ou seja, casacos de pele que faça Albert recordar do rato. No condicionamento respondente, caro aluno, não é necessário ter experiências assustadoras com estímulos neutros para que se adquira
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