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Psicologia Geral - Souza

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Prévia do material em texto

São Cristóvão/SE
2009
Psicologia Geral
Laruse Andrade Souza
Projeto Gráfico
Hermeson Alves de Menezes
Capa
Nycolas Menezes Melo
Diagramação
Neverton Correia da Silva
Revisor:
Kleilza Alex Oliveira Machado
Elaboração de Conteúdo
Laruse Andrade Souza
 Souza, Laruse Andrade
S729p Psicologia geral / Laruse Andrade Souza -- São
 Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2009.
 1. Psicologia. I. Título.
 CDU 159.9
Copyright © 2009, Universidade Federal de Sergipe / CESAD.
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e grava-
da por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a
prévia autorização por escrito da UFS.
FICHA CATALOGRÁFICA PRODUZIDA PELA BIBLIOTECA CENTRAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
Psicologia Geral
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
Cidade Universitária Prof. “José Aloísio de Campos”
Av. Marechal Rondon, s/n - Jardim Rosa Elze
CEP 49100-000 - São Cristóvão - SE
Fone(79) 2105 - 6600 - Fax(79) 2105- 6474
Chefe de Gabinete
Ednalva Freire Caetano
Coordenador Geral da UAB/UFS
Diretor do CESAD
Itamar Freitas
Vice-coordenador da UAB/UFS
Vice-diretor do CESAD
Fábio Alves dos Santos
Coordenador do Curso de Licenciatura
em Administração
Eduardo Alberto da Silva Farias
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Secretário de Educação a Distância
Carlos Eduardo Bielschowsky
Reitor
Josué Modesto dos Passos Subrinho
Vice-Reitor
Angelo Roberto Antoniolli
NÚCLEO DE MATERIAL DIDÁTICO
Hermeson Menezes (Coordenador)
Jean Fábio B. Cerqueira (Coordenador)
Baruch Blumberg Carvalho de Matos
Christianne de Menezes Gally
Edvar Freire Caetano
Isabela Pinheiro Ewerton
Jéssica Gonçalves de Andrade
Lucílio do Nascimento Freitas
Luzileide Silva Santos
Neverton Correia da Silva
Nycolas Menezes Melo
Péricles Morais de Andrade Júnior
Diretoria Pedagógica
Clotildes Farias (Diretora)
Rosemeire Marcedo Costa
Amanda Maíra Steinbach
Diretoria Administrativa e Financeira
Edélzio Alves Costa Júnior (Diretor)
Sylvia Helena de Almeida Soares
Valter Siqueira Alves
Núcleo de Tutoria
Janaina Couvo
(Coordenadora de Tutores do curso de
Administração)
Núcleo de Avaliação
Cléber de Oliveira Santana
Alisson de Oliveira Silva
Núcleo de Serviços Gráficos e
Audiovisuais
Giselda Barros
Núcleo de Tecnologia da
Informação
Fábio Alves (Coordenador)
João Eduardo Batista de Deus Anselmo
Marcel da Conceição Souza
Michele Magalhães de Menezes
Assessoria de Comunicação
Guilherme Borba Gouy
Pedro Ivo Pinto Nabuco Faro
Sumário
AULA 1
Conceito de Psicologia: a psicologia ou as psicologias? .........................7
AULA 2
História da Psicologia ...................................................................19
AULA 3
Abordagens da Psicologia – Behaviorismo e Gestalt..........................35
AULA 4
Abordagens da Psicologia – Psicanálise............................................51
AULA 5
Vida afetiva....................................................................................65
AULA 6
Sensopercepção .............................................................................. 77
AULA 7
Memória......... .................................................................................. 97
AULA 8
Aprendizagem........................... .................................................... 115
AULA 9
Motivação......................... ............................................................ 125
AULA 10
A Psicologia aplicada...................................................................139
META
Definir o que é Psicologia e seu (s) objeto (s) de estudo.
OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno deverá:
perceber a diferença entre ciência e senso comum;
compreender o objeto de estudo da Psicologia;
entender o que é subjetividade.
PRÉ-REQUISITOS
O conhecimento anterior do aluno sobre o que é Psicologia.
Aula
1CONCEITO DE PSICOLOGIA:A PSICOLOGIA OU AS PSICOLOGIAS? 
(Fonte: http://procensus.ning.com/group/futurospsicologos)
8
Psicologia Geral
INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo, prezado aluno, ao nosso curso de Psicologia Geral.
Estamos aqui para trilhar com você um caminho novo.
Antes de partirmos, de fato, para o conteúdo da disciplina, precisa-
mos caracterizar a Psicologia como ciência. Dessa forma, caro aluno, nas
aulas iniciais, iremos conceituar a psicologia, trazer sua história e seu
objeto de estudo. Em seguida, iremos estudar suas principais teorias, os
processos básicos da Psicologia e, assim, abordaremos a Psicologia Apli-
cada e ainda, alguns temas contemporâneos da área. Após essas aulas,
teremos uma visão geral da Psicologia.
Essa é nossa primeira aula e queremos convidar você para uma via-
gem para a “terra” da discussão. É isso mesmo, caro aluno! Nesta “terra”,
teremos a oportunidade de discutir alguns temas como, por exemplo: o
que é senso comum, o que é ciência. Dentro dessa discussão, iremos abor-
dar a Psicologia científica e seu objeto de estudo. A proposta é que seja
uma aula discursiva e que você encontre nesse texto a base para essa
discussão.
Mãos à obra!
9
Aula
1
Conceito de Psicologia: a psicologia ou as psicologias
DESENVOLVIMENTO
Olá, caro aluno, iniciaremos, então, a nossa primeira aula com alguns
questionamentos: quantas vezes você já ouviu o termo Psicologia?
Quantas vezes você se referiu a um amigo que lhe escuta como psicólo-
go? Quantas vezes vamos ao salão de cabeleireiro ou pegamos um táxi e
desabafamos? falamos coisas íntimas nossas? Muitas vezes, não é?
Mas será essa a Psicologia utilizada pelos psicólogos? Seguramente,
não. Essa é a Psicologia do senso comum, que utilizamos diariamente.
Nós temos conhecimento de alguns termos utilizados na Psicologia cien-
tífica. Por exemplo, é comum ouvirmos os termos “só Freud explica”;
“menina histérica”; “rapaz complexado”. O que queremos dizer é que,
ainda que de modo superficial, todos temos algum conhecimento da Psi-
cologia científica.
É essa Psicologia científica que pretendemos apresentar a você, caro
aluno. Antes, vamos fazer uma exposição breve da relação Ciência/Sen-
so comum, para que você possa demarcar o campo de atuação de cada
uma, sem confundi-las.
Algumas coisas que, hoje, fazemos de forma espontânea, intuitiva, sem
raciocinar sobre o que estamos fazendo, foram, um dia, temas discutidos
pelos cientistas. Imagine, caro aluno, termos de descobrir diariamente que as
coisas tendem a cair, graças ao efeito da gravidade; que um carro em veloci-
dade se aproxima rapidamente de nós; termos de descobrir, diariamente, que
um objeto atirado pela janela tende a cair e não a subir; e que, para fazer um
aparelho eletrodoméstico funcionar, precisamos de eletricidade.
Assim, entendemos que o senso comum percorre um caminho que
vai do hábito à tradição que, quando estabelecida, passa de geração para
geração. Desse modo, aprendemos com nossos pais a atravessar uma rua
sem precisar medir com fita métrica; a fazer o liquidificador funcionar
sem precisarmos, antes, estudar sobre eletricidade; a plantar alimentos na
época e de maneira correta, sem um estudo prévio.
Sem esse conhecimento intuitivo, espontâneo, de tentativas e erros,
nosso dia a dia seria muito complicado. Então, na tentativa de facilitar o
dia a dia, o senso comum produz suas próprias “teorias”, ou seja, mistura
e recicla saberes, muito mais especializados, e os reduz a um tipo de teo-
ria simplificada, produzindo uma determinada visão de mundo.
Caro aluno, o que queremos mostrar é que o senso comum integra de
um modo precário (mas é esse o seu modo) o conhecimento humano. Isto
não ocorre rapidamente, leva certo tempo para que o conhecimento mais
sofisticado e especializadoseja absorvido pelo senso comum, e nunca é
absorvido totalmente.
Como foi dito acima, é comum utilizarmos termos como “rapaz
complexado”, “menina histérica”, e, assim, estamos usando termos defini-
Sigmund Freud
O grande represen-
tante da Psicanáli-
se, foi o responsá-
vel pela revolução
no estudo da men-
te humana. A partir
dele, iniciaram-se
os estudos sobre o
inconsciente.
10
Psicologia Geral
dos pela Psicologia científica sem nos preocuparmos em definir as palavras
usadas e, ainda assim, somos compreendidos pelo outro. Podemos até estar
próximos do conceito científico, mas, na maioria das vezes, nem sabemos.
Esses são exemplos da apropriação que o senso comum faz da ciência.
Caro aluno, acreditamos que o termo senso comum ficou claro, agora
vamos tentar compreender o que é ciência. Você já parou para se questi-
onar o que é que caracteriza uma coisa como científica ou não?
Pois bem, durante muito tempo o homem buscou conhecimento para
tentar responder a certas questões referentes a problemas do seu dia a dia
e, algumas destas respostas, eram explicadas de forma mística, pois utili-
zavam a mitologia para explicá-las. Em seguida, o homem passou a ques-
tionar essas respostas e a buscar explicações mais plausíveis, por meio da
razão, excluindo suas emoções e suas crenças religiosas, Passou, dessa
forma, caro aluno, a obter respostas mais realistas, que se aproximavam
mais da realidade das pessoas e, por isto, talvez, passaram a ser bem acei-
tas pela sociedade. Podemos dizer que esta nova forma de pensar do ho-
mem foi que criou a possibilidade do surgimento da idéia de ciência e
que, sua tentativa de explicar os fenômenos, por meio da razão, foi o
primeiro passo para se fazer ciência.
Segundo Rubem Alves (1981, p. 14), “senso comum é aquilo que não
é ciência [...] a ciência é uma metamorfose do senso comum. Sem ele, a
ciência não pode existir”. Caro aluno, o que estou querendo mostrar é que
existe uma continuidade entre senso comum e pensamento científico.
Então, caro aluno, já sabe a resposta do questionamento anterior?
Para uma coisa ser considerada ciência exige uma característica funda-
mental: a objetividade, em outras palavras, suas conclusões devem ser
passíveis de verificação e isentas de emoção, para, dessa forma, torna-
rem-se válidas para todos.
Para o conhecimento ser considerado ciência deve ter: objeto especí-
fico, linguagem rigorosa, métodos e técnicas específicas, processo cumu-
lativo do conhecimento e, conforme explicado, objetividade. Então, caro
aluno, esse conjunto de características permite que denominemos cientí-
fico a um conjunto de conhecimentos. É também, por essas característi-
cas, que a ciência é uma forma de conhecimento que supera o conheci-
mento espontâneo do senso comum.
ATIVIDADE
1. Caro aluno, após essa explanação, explique e exemplifique o que é sen-
so comum.
2. Observe, no seu dia a dia, quais termos ou conhecimentos da Psicolo-
gia, apropriados pelo senso comum, que você ou alguém próximo utiliza.
3. Quais as características atribuídas ao conhecimento científico?
11
Aula
1
Conceito de Psicologia: a psicologia ou as psicologias
4. Caro aluno, para amarrar as ideias, qual a diferença entre senso comum
e conhecimento científico?
COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES
1. Como você observou, caro aluno, senso comum pode ser
compreendido como o conhecimento que acumulamos no nosso
cotidiano. Sem esse conhecimento intuitivo, espontâneo, a nossa vida
diária seria muito complicada. Por exemplo: quando sentimos dor de
barriga, tomamos chá de boldo, que é uma planta já usada pelos nossos
avós, sem que eles tenham conhecido o princípio ativo dessa planta
nas doenças, ou seja, sem nenhum estudo farmacológico.
2. O que deve ser observado é se você, caro aluno, ou alguém próximo
utiliza termos da Psicologia para se referir a alguma situação que não
tenha fundamento científico. Como você observou, caro aluno, durante
a aula citamos alguns exemplos. Outro exemplo é quando utilizamos o
termo “neurótico” para se referir a alguém que está com excesso de
preocupação por alguma coisa. Usamos esse termo sem saber que
estamos nos referindo a uma perturbação mental, a qual não
compromete as funções essenciais da personalidade e do individuo,
mesmo reconhecendo que mantém a penosa consciência de seu estado.
3. Então, caro aluno, como você observou, durante a aula, existem
alguns critérios para que o conhecimento possa ser considerado
científico. Inicialmente, temos que ter um objeto específico, em
seguida, uma linguagem criteriosa; devem ser utilizados também
métodos e técnicas específicas. Outra característica é o processo
cumulativo, ou seja, que acumula conhecimento com o tempo.
4. Você observou, caro aluno, que o que diferencia senso comum, do
conhecimento científico é que o senso comum é formado por
sentimentos, desejos e misticismo, sem critério algum; já o
conhecimento científico é formado através da razão e de forma
metodologicamente rigorosa procurando excluir, do seu contexto, as
emoções, as crenças religiosas e os desejos do homem.
PSICOLOGIA CIENTÍFICA
Caro aluno, após entendermos o que é senso comum e o que é ciência,
começaremos a pensar sobre Psicologia científica. Dentro do que vimos
sobre ciência, como se encaixa a Psicologia científica? Para responder a
esse questionamento, vamos tentar delimitar o objeto de estudo da Psicolo-
gia, já que esse é um dos critérios para se caracterizar uma ciência. Então,
caro aluno, já se questionou sobre isso? Afinal de contas, qual o objeto de
estudo da Psicologia? Vamos tentar seguir uma linha de raciocínio: objeto
12
Psicologia Geral
de estudo da Biologia são os seres vivos, da Astrologia são os astros. Nes-
sas duas ciências, caro aluno, é possível manter um distanciamento entre
cientista e objeto de estudo. Esse cientista (pesquisador) não corre o míni-
mo risco de confundir-se com o fenômeno que está estudando.
Caro aluno, isso acontece com as ditas Ciências Humanas? Ou seja,
com a ciência que estuda o homem, como Antropologia, Sociologia, Eco-
nomia e também a Psicologia? Certamente, não. Conseguimos, até aqui,
caro aluno, deixar claro que a Psicologia faz parte das Ciências Humanas,
mas ainda não está claro qual o objeto de estudo da Psicologia.
Entramos, caro aluno, em outra discussão: a diversidade de objetos da
Psicologia. Se questionarmos a um comportamentalista (assunto que vere-
mos na aula três), qual objeto da Psicologia, certamente ele responderia “o
comportamento humano”. Da mesma forma, se perguntarmos a um psica-
nalista (que também veremos na aula três), ele responderia “o inconsciente
humano”. Outros diriam que é a alma, a consciência, a personalidade.
Essa diversidade ocorre em função da Psicologia ter sido reconheci-
da como área do conhecimento científico há pouco tempo – final do sé-
culo XIX. Antes, (como veremos na aula dois), a área que se ocupava de
temas que hoje são discutidos na Psicologia era a Filosofia. Caros alunos,
vimos que ciência se caracteriza pela exatidão de sua construção teórica.
Dessa forma, quando uma ciência é muito nova, ela não teve tempo ain-
da de apresentar teorias acabadas e definitivas, permitindo, assim, deter-
minar com maior precisão seu objeto de estudo (BOCK, 2002).
Como dissemos, caro aluno, em outras ciências, o objeto de estudo e o
cientista se diferenciam. Na Psicologia temos um impasse, já que, o cientis-
ta (pesquisador) se confunde com o objeto a ser pesquisado. Tentando aqui
ser mais clara, querido aluno, podemos compreender, de forma abrangente,
que o objeto de estudo da Psicologia é o homem. Assim, o pesquisador,
enquanto ser humano, também faz parte da categoria a ser estudada.
Podemos compreender com isso, caro aluno, que a pesquisa certamente
sofrerá influências ( se “contaminará”) do pesquisador, já que este traz consi-
go uma concepção de homem. Isso acontece,caro aluno, por conta das dife-
rentes concepções de homem entre os cientistas. Os estudos filosóficos e
teológicos e mesmo as doutrinas políticas acabam definindo o homem à sua
maneira, e o cientista (homem) acaba se vinculando a uma destas crenças.
Vamos ao exemplo, para ficar mais claro: o filósofo francês Rousseau
postula a concepção de homem natural. Para ele, o homem era puro e foi
corrompido pela sociedade, e que cabe então, ao filósofo, reencontrar
essa pureza perdida. Outros veem o homem como ser abstrato, com ca-
racterísticas definidas e que não mudam, em função das condições soci-
ais a que esteja submetido.
Sobre essa diversidade, caros alunos, Bock (2002) justifica que
estamos em um momento no qual há uma riqueza de valores sociais que
J e a n - J a c q u e s
Rousseau
Foi considerado um
dos principais filóso-
fos do Iluminismo.
Suas obras versavam
sobre vários temas,
que abrangiam desde
investigações políti-
cas, romances, até
análises na área da
educação, religião e
literatura.
http://www.suapes-
quisa.com/biografias/
rousseau.htm
13
Aula
1
Conceito de Psicologia: a psicologia ou as psicologias
permitem várias concepções de homem. No caso da Psicologia, podemos
dizer que é a ciência que estuda os “diversos homens” concebidos pelo
conjunto social. Assim, a Psicologia, hoje, caracteriza-se por uma diversi-
dade de objetos de estudo.
Caros alunos, ao falar em diversidade em Psicologia, não podemos
deixar de falar em fenômenos psicológicos. Mas, o que será isso? Pesquise
na internet, faça essa experiência. Você irá compreender, caro aluno, o
quão diverso e de difícil conceituação é esse termo. Faça esse exercício
antes de prosseguir a leitura.
Tentando sintetizar esse entendimento, podemos compreender tais
fenômenos como sendo tudo que envolve o ser humano, ou seja, o ser
humano em relação, o ser humano em seu contexto sócio-histórico e tudo
que possuímos ao nascer e que deve ser estimulado de forma adequada,
com afeto e boas condições de vida.
Bock (1999) relata que encontrou em questionário aplicados a 44
psicólogos, muitas definições para o fenômeno psicológico:
“acontecimento organísmicos, manifestações do aparelho psíquico,
individualidade, algo que ocorre na relação e é o que somos, conflitos
pulsionais, confusão mental, manifestação do homem, pensar e sentir
o mundo, o homem e relação com o meio, consciência, saber-se
indivíduo, o que se mostra, subjetividade, funções egóicas, existência
intersubjetiva, experiências, vivências, loucura, distúrbio, o próprio
homem, evento estruturantes do homem, comportamento,
engrenagem de emoção, motivação, habilidades e potencialidades,
experiências emocionais, psique, pensamento, sensação, emoção e
expressão, entendimento de si e do mundo, manifestação da vida
mental, tudo que é percebido pelos sentidos, é consciente e é
inconsciente” (BOCK, 1999, p. 173).
Desse modo, caro aluno, o objeto da Psicologia deveria ser aquele que
reunisse condições de fundir uma ampla variedade de fenômenos psicoló-
gicos. Ao estabelecer o padrão de descrição, medida, controle e interpreta-
ção, o psicólogo está também estabelecendo um determinado critério de
seleção dos fenômenos psicológicos e, assim, definindo um objeto.
SUBJETIVIDADE COMO OBJETO DA
PSICOLOGIA
Caro aluno, você já ouviu esse termo antes? O que você compreende
por subjetividade? Tente achar uma resposta antes de prosseguir a leitura.
Pois bem, iremos aqui refletir sobre o que é subjetividade e tentar
compreendê-la como objeto da Psicologia.
14
Psicologia Geral
Quando lecionei, no curso de Medicina, a disciplina Psicologia Médi-
ca, esse tema foi discutido e alguns alunos foram muito diretos ao respon-
derem: “ora, subjetividade é tudo que é subjetivo, tudo que se refere ao
ser humano: suas vontades, interesses, suas particularidades, sua indivi-
dualidade...” De fato, caro aluno, essa afirmativa não está errada. Mas, no
decorrer da aula, iremos tentar complementar essa definição.
A partir do dicionário Larousse Cultural (1999), temos uma defini-
ção: subjetividade é o caráter do que é subjetivo, que, por sua vez, diz
respeito ao sujeito definido como ser pensante, como consciência, por
oposição a objetivo.
De fato, caro aluno, a subjetividade engloba todas as peculiaridades
inerentes à condição de ser sujeito, envolvendo as capacidades sensori-
ais, afetivas, imaginativas e racionais de uma determinada pessoa. Cada
um de nós, somos uma complexa unidade natural e cultural. Caro aluno, o
que estamos querendo dizer é que somos mais que um corpo com fun-
ções biológicas e psicológicas, com capacidades de transformar o meio
através da linguagem, do trabalho. Somos únicos.
Pare para pensar, caro aluno, você é igual a alguém? Perguntando de outra
forma, você age, sente ou pensa de forma idêntica a alguém? Certamente, a
resposta é não, pois o ser humano é uma unidade de necessidades, desejos,
sentimentos, angústias, temores, imaginários, racionalidades e paixões.
Compreendendo esse aspecto único do ser humano, não podemos pen-
sar apenas em termos cognitivos, vamos tentar ampliar. Pense nas pessoas
com esses aspectos únicos... Agora responda: essas pessoas terão a mesma
compreensão das situações? Novamente, a resposta é não. Se pensamos,
sentimos, percebemos de modo único, então teremos uma compreensão
única dos fatos sociais, culturais, históricos e de tudo que nos circula.
A subjetividade pode ser compreendida como a síntese singular e indi-
vidual que cada um de nós formamos conforme vamos nos desenvolvendo,
vivenciando as experiências da vida social e cultural. Caro aluno, pense em
você... Quem você é? Pense na forma como age; na sua conduta, nos seus
princípios morais... Como você adquiriu? Certamente você respondeu que
foi através de seus pais. E não está errado, mas será que é só em função da
educação de seus pais que faz de você, você? Se assim fosse, os filhos não
seriam diferentes e todos seríamos iguais. Então, o que será?
“O mundo social e cultural, conforme vai sendo experienciado
por nós, possibilita-nos a construção de um mundo interior.
São diversos fatores que se combinam e nos levam a uma
vivência muito particular. Nós atribuímos sentido a essas
experiências e vamos nos const i tuindo a cada dia . A
subjetividade é a maneira de sentir, pensar, fantasiar, sonhar,
amar e fazer de cada um” (BOCK, 2002, p. 28).
15
Aula
1
Conceito de Psicologia: a psicologia ou as psicologias
É o que constitui o nosso modo de ser: sou baiana, gosto de carna-
val, Timbalada, detesto Matemática, faço atividade física, eventualmente,
sou casada. Tenho muitos amigos, vou ser tia, adoro comer sushi e falar
com meus familiares pela Internet. Ou seja, cada qual é o que é: sua
singularidade.
Tentando ser mais clara, caro aluno, o que faz o diferencial, como
dito acima, é o fato de cada um de nós recebermos e percebermos o
contexto em que vivemos de forma diferente e única. Uma situação que
pode me causar medo, pode fazer meu esposo rir. Por exemplo, assistir a
um filme de terror. Enquanto tenho medo, ele acha graça e ri.
Então, caro aluno, queremos mostrar a você que subjetividade pode
ser compreendida como uma síntese que nos identifica, de um lado, por ser
única, e nos iguala, de outro lado, na medida em que os elementos que a
constituem são experienciados no campo comum da objetividade social.
Em síntese — “a subjetividade — é o mundo de ideias, significados e
emoções, construído internamente pelo sujeito, a partir de suas relações
sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica; é, também, fonte
de suas manifestações afetivas e comportamentais” (BOCK, 2002, p. 22).
Após essa compreensão de subjetividade, você acha que ela é estáti-
ca ou está em constante movimento? Tentando ser mais clara com esse
questionamento, a subjetividade é cristalizada, ou seja, concreta, imutá-
vel?O que você acha, caro aluno? Você já pode ter observado que o ser
humano está em constante relação e em diversos contextos. Dessa forma,
podemos dizer que a subjetividade se modifica também com essas rela-
ções. É produto e produtor ao mesmo tempo. Tentando dizer de outra
forma, podemos compreender, caro aluno, que a subjetividade é
automoldável, ou seja, o homem pode gerar novas formas de subjetivida-
de, recusando-se certas situações. E que a subjetividade não é inata ao
indivíduo, ou seja, ela é construída aos poucos, apropriando-se do mate-
rial do mundo social e cultural; isso acontece ao mesmo tempo em que o
homem atua sobre este mundo, pois ele é ativo na sua construção.
Bem, caro aluno, esperamos que você já tenha uma noção do que
seja subjetividade e possamos, então, voltar a nossa discussão sobre o
objeto da Psicologia.
Como dissemos, a Psicologia é um ramo diferenciado das Ciências
Humanas e pode ser interpretada considerando-se que cada um desses
ramos enfoca, de modo particular, o objeto homem, construindo conhe-
cimentos distintos e específicos a respeito dele. Assim, caro aluno, com o
estudo da subjetividade, a Psicologia contribui para a compreensão da
totalidade da vida humana.
Você pode estar se questionando: “- Ora, há uma forma única de
conceber a subjetividade?”. Essa resposta, caro aluno, foi respondida no
início da aula, quando colocamos que, dentro da Psicologia, existe um
16
Psicologia Geral
campo vasto de abordagens. Sendo assim, fica claro que a forma de se
abordar a subjetividade, e mesmo, a forma de concebê-la, dependerá da
concepção de homem adotada pelas diferentes escolas psicológicas (que
veremos na aula três).
Podemos entender, caro aluno, que o papel de uma ciência crítica é a
compreensão, comunicação e o encontro do homem com o mundo em
que vive, já que o homem que compreende a História (o mundo externo)
também compreende a si mesmo (sua subjetividade), e o homem que
compreende a si mesmo, pode compreender o funcionamento do mundo
e criar novas rotas e utopias.
Assim, caro aluno, a subjetividade pode ser compreendida como ob-
jeto da Psicologia, na medida em que se refere ao ser humano como um
todo, ou seja, com suas individualidades, suas relações sociais e com seu
contexto sócio-histórico.
ATIVIDADES
1. Quais são os possíveis objetos de estudo da Psicologia?
2. O que é subjetividade?
COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES
1. Caro aluno, dentro do que foi discutido na aula, você observou a
dificuldade de reconhecer um único objeto de estudo para a Psicologia. E
isso ocorre em função de ter sido ela reconhecida como ciência há pouco
tempo e também pela sua grande diversidade. Você observou, caro aluno,
que o objeto de estudo da Psicologia é o homem em sua amplitude, ou
seja, o homem em suas relações, em seu contexto sócio-histórico.
2. Caro aluno, após essa exaustiva tentativa de definir subjetividade,
você pode observar que é um tema complexo e que demanda muita
leitura e muita discussão. Assim, sua definição é bastante abrangente.
Você deve ter notado que subjetividade é a singularidade ou
individualidade de cada um. Pôde ver também que ela é formada a
partir das experiências internas, das relações sociais e do contexto
em que se vive.
CONCLUSÃO
Esperamos que essa aula tenha dado suporte para a discussão do que
é senso comum, ciência e, dentro desse contexto, o que é a Psicologia
científica e qual seu objeto de estudo.
17
Aula
1
Conceito de Psicologia: a psicologia ou as psicologias
Concluímos, então, que utilizamos, em nosso cotidiano, alguns con-
ceitos da ciência, no caso aqui, da Psicologia, que foram apropriados pelo
senso comum. No entanto, durante a aula, fizemos uma discussão sobre a
Psicologia científica, com sua diversidade de objetos de estudo.
Concluímos também que essa dificuldade existe por seu reconheci-
mento como ciência ter acontecido recentemente, bem como, pelo fato
de que o objeto de estudo confunde-se com o cientista, ou seja, o objeto
de estudo da Psicologia é o homem em toda sua diversidade. Em outros
termos, podemos compreender que o homem, tendo em vista a sua subje-
tividade, pode ser entendido como objeto da Psicologia. Quando nos re-
ferimos aqui em subjetividade, estamos querendo dizer: o homem em
relação ao seu contexto sócio-histórico.
RESUMO
Nesta aula, foi abordada a Psicologia científica com seu respectivo
objeto de estudo. Para alcançar esse objetivo, apresentamos a diferença
entre senso comum e conhecimento científico e, a partir daí, discutimos
sobre a dificuldade em delimitar um objeto único de estudo da Psicologia.
Assim, caro aluno, vimos que senso comum é o conhecimento que
utilizamos em nosso cotidiano e, sem ele, nosso dia a dia seria complica-
do, por necessitarmos aprender tudo na tentativa e erro. Vimos que nos
apropriamos de termos da Psicologia para nos referir às pessoas sem sa-
bermos, de fato, o que eles significam. Isso por utilizarmos o conheci-
mento do senso comum.
Aprendemos, durante a aula, que esse conhecimento se diferencia da
ciência por não ter características científicas, como por exemplo, objeti-
vidade, linguagem criteriosa, métodos e técnicas específicas, um objeto
específico. Dentro desse contexto de ciência, discutimos sobre o caráter
científico da Psicologia, tendo em vista que objeto de estudo e cientista
(pesquisador) se confundem e isso pode ter caráter influenciador na pes-
quisa, pois cada um de nós temos uma visão diferenciada de homem.
Dentro dessa diversidade de objeto de estudo, deixamos claro que o ho-
mem é, de fato, o objeto da Psicologia e que, nesse sentido, não há como
compreendê-lo de uma forma única.
Desse modo, caro aluno, compreendemos que o objeto de estudo da
Psicologia é o homem em suas relações, em seu contexto sócio-histórico,
ou seja, é o homem em toda sua subjetividade.
CURIOSIDADE:
http://mailist.pesquisapsi.com/0904/msg00083.html
Caro aluno, neste site, você poderá aprofundar mais as discussões realiza-
das nessa aula, já que ele aborda a diferença entre Psicologia e práticas místicas.
AUTO-AVALIAÇÃO
Seguem agora, caro aluno, algumas reflexões sobre o texto.
A partir do que foi discutido, consigo diferenciar senso comum de ciência?
Se questionado sobre as características necessárias para um conhecimen-
to ser reconhecido como ciência, saberei responder?
Caso seja questionado, saberei responder sobre as diferenças da Psicolo-
gia do senso comum e da Psicologia científica?
Consegui acompanhar todas as discussões sobre a diversidade de objeto
de estudo da Psicologia?
Consigo compreender a subjetividade como objeto de estudo da Psicologia?
Busquei o Tutor ou a internet para aprofundar o conhecimento ou
tirar dúvidas?
PRÓXIMA AULA
Para o próximo encontro, caro aluno, você deve levar a compreensão de
toda discussão realizada nesta aula no que se refere à compreensão de senso
comum, ciência, Psicologia enquanto ciência e sua diversidade de objeto de
estudo. O entendimento dessa aula será importante para as aulas seguintes.
Posteriormente, iremos fazer uma viagem ao passado e, dessa forma,
compreenderemos a influência de outras áreas como, por exemplo, da
Filosofia, da Medicina na construção da Psicologia enquanto ciência. Pas-
saremos pela Grécia, pelo Império Romano. Teremos a oportunidade de
recordar a época do Renascimento e veremos que cada um desses mo-
mentos teve importância fundamental no desenvolvimento da Psicologia
científica, ou seja, Psicologia dos dias de hoje.
REFERÊNCIAS
ALVES, R. Filosofia e ciência. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1981.
BOCK, A. M. B. Aventuras do Barão de Munchhausen na Psicolo-
gia. Ed.Cortez/EDUC, São Paulo, 1999.
BOCK, A. M. B. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicolo-
gia. 13ª ed. reform. e ampl.São Paulo: Saraiva, 2002.
CIVITA. V. Grande Dicionário: Larousse cultural da língua portu-
guesa. Nova cultura, 1999.
PsicologiaGeral
META
Apresentar o contexto histórico da Psicologia.
OBJETIVOS
Ao final da aula, o aluno deverá:
indicar os mais importantes marcos do desenvolvimento histórico da Psicologia.
PRÉ-REQUISITO
Aula 1.
Aula
2HISTÓRIA DA PSICOLOGIA 
Wilhelm Maximilian Wundt (1832-1920) (sentado) foi um
psicólogo alemão. Por ter criado o primeiro laboratório de
pesquisa em Psicologia, na Universidade de Leipzig, Alema-
nha, e buscado estabelecer uma identidade independente para
essa ciência, ficou conhecido como o pai da Psicologia moder-
na ou científica.
(Fonte: www.lib.fit.edu/pubs/grw/Researchguides/Wundt-
research-group.jpg)
Capa de edição brasileira do tratado De anima, de
Aristóteles.
(Fonte: www.editora34.com.br)
20
Psicologia Geral
INTRODUÇÃO
Mosaico representando a luta de Hércules contra o Leão de Neméia. A personagem mitológica
de Hércules simboliza o homem em luta contra as forças da natureza. O combate corpo-a-
corpo entre Hércules e o Leão pode ser considerado uma metáfora da luta contra as pulsões
mais baixas do homem. A luta hercúlea contra o Leão de Neméia foi bastante representada na
cerâmica do Período Arcaico, da segunda metade do século -VII em diante.
(Fonte: http://terapiabiografica.com.br/2009/05/21/a-luta-contra-o-leao-interno/)
Olá, caro aluno, na aula anterior, fizemos uma viagem à “terra” da
discussão e, como prometido, nesta aula faremos uma viagem ao passado,
desde os tempos da Grécia antiga. Assim que veremos a influência de
outras áreas na Psicologia, como também passaremos pelo Império Ro-
mano, pelo Renascimento e chegaremos até os dias de hoje, carregados
de informações sobre as influências que cada um desses momentos tive-
ram no desenvolvimento da Psicologia científica, mais especificamente,
da Psicologia na atualidade.
Vocês recordam que na aula passada discutimos sobre a diversidade
da Psicologia? Pois é, caro aluno, isso acontece até os dias de hoje e, para
tentarmos compreendê-la, é indispensável recuperar sua história, seus
marcos e suas influências. Faremos isso nessa nossa segunda aula.
Então, prezado aluno, vamos nessa?
Mãos à obra!
21
História da Psicologia Aula
2
(Fontes: http://marfaber.vilabol.uol.com.br/antiga/grecia/polis.htm)
Oi, caro aluno, iniciaremos nossa aula, hoje, com alguns
questionamentos para que possamos refletir. Pare para pensar um pouco,
caro aluno, quantas vezes você se questionou ou viu alguém se questio-
nar: quem sou eu? Quais as minhas necessidades? Em que sou diferente
de outros animais? Como aprendo? Por que tenho mais facilidade em al-
gumas matérias que em outras? Em que me assemelho a outras pessoas?
como me relaciono com as pessoas? Por que, às vezes, sinto-me triste?
Certamente, em algum momento da sua vida, você fez perguntas des-
se tipo ou presenciou alguém fazendo. O que estamos querendo dizer
com isso, caro aluno, é que desde sempre o ser humano tem essa necessi-
dade de conhecer (compreender) a si mesmo. Cada tentativa dessa vem
acarretada de valores, conhecimentos, experiências de acordo com o con-
texto histórico, social, econômico e cultural de cada época.
Seguiremos em nossa viagem e a primeira parada é na Grécia. Recorde,
caro aluno, de como era a Grécia no período de 700 a.c.. Lembre-se qual
era o contexto social, econômico,
político e cultural dessa época. Va-
mos lá, vejamos que estamos nos re-
ferindo à Grécia antiga que era con-
siderada a civilização mais evoluída
da época. Nesse contexto de
glamour, caro aluno, surgiram as pri-
meiras cidades-estados – polis – e
sua manutenção exigia mais riquezas,
as quais alimentavam também o po-
derio dos cidadãos (membros da clas-
se dominante na Grécia Antiga).
Dessa necessidade de acúmulo de
riquezas, iniciaram a conquista de
novos territórios (Mediterrâneo, Ásia
Menor, chegando quase até a China),
que geraram riquezas na forma de escravos para trabalhar nessas cidades e
na forma de impostos pagos pelas terras conquistadas. Esse contexto de
muita riqueza, caro aluno, gerou mais crescimento, e isso exigia soluções
práticas para tudo, por exemplo, para a arquitetura, para a agricultura e para
a organização social. Você consegue compreender agora, caro aluno, de que
forma o contexto pode influenciar na evolução das ciências?
Pois bem, em função desse crescimento rápido, tivemos os avanços
na Física, na Geometria, na Teoria Política (inclusive com a criação do
conceito de democracia). E esses avanços possibilitaram que o cidadão
se preocupasse com as coisas do espírito, como a Filosofia e a Arte.
Ao estudarmos a
Grécia antiga, utili-
zamos o termo Polis
para nos referir a
Cidade. Os morado-
res das Polis eram
os “politikos” (ci-
dadãos), aqueles
que exercem a civi-
lidade.
DESENVOLVIMENTO
22
Psicologia Geral
Sócrates
Um dos principais
pensadores da
Grécia Antiga, fun-
dou o que conhece-
mos, hoje, por filoso-
fia ocidental e se
destacou por sua
preocupação sobre a
essência da nature-
za da alma humana.
( F o n t e : h t t p : / /
w w w . u b e r a -
b a . m g . g o v . b r /
w e b s e m e c /
webmenu/pedago-
g i a / p e d _ s o c r a -
tes.htm)
( F o n t e : h t t p : / /
www.uberaba.mg.gov.br/
w e b s e m e c /
webmenu/pedago-
gia/ped_platao.htm)
Platão
Discípulo de Sócra-
tes, ocupou-se em
definir um lugar para
a razão.
Nesse momento, caro aluno, a Filosofia começou a indagar sobre o
homem e sua interioridade, mais particularmente, desse povo empreen-
dedor e conquistador que foram os gregos. Destacaram-se, nesse mo-
mento, Platão e Aristóteles.
É nesse momento histórico e a partir dos filósofos gregos que surge a
primeira tentativa de sistematizar uma Psicologia. O próprio termo Psi-
cologia vem do grego. Observe, caro aluno, no box abaixo, mais informa-
ções sobre o significado etimológico do termo Psicologia.
O próprio termo psicologia vem do grego psyché, que significa alma, e de
logos, que significa razão, estudo. Portanto, etimologicamente, psicologia
significa “estudo da alma”. A alma ou espírito era concebida como a
parte imaterial do ser humano e abarcaria o pensamento, os sentimentos
de amor e ódio, a irracionalidade, o desejo, a sensação e a percepção.
Assim, caro aluno, os filósofos pré-socráticos (que antecederam
Sócrates, filósofo grego) se ocupavam em definir a relação do homem
com o mundo através da percepção. A discussão do momento era: “o
mundo existe porque o homem o vê ou o homem vê um mundo que já
existe”. Se você parar para observar, caro aluno, havia uma oposição de
ideias: os que defendiam que a ideia forma o mundo, chamados de idea-
listas; e os que defendiam que a matéria, que forma o mundo, já é dada
para a percepção, ou seja, materialistas.
Mas é com Sócrates (469-399 a.C.), caros alunos, que a Psicologia,
nessa época, ganha consistência. Sua preocupação principal era o limite
que separa o homem dos animais. Com isso, ele postulava que a principal
característica do homem era a razão. É, caro aluno, a razão que permitia
ao homem superar os instintos, que seriam a base da irracionalidade. O
que estamos querendo dizer, caro aluno, é que esse filósofo definiu a
razão como peculiaridade do homem ou como essência humana. Fazen-
do isso, Sócrates abre um caminho que seria muito explorado pela Psico-
logia. E, segundo BOCK (2002), as teorias da consciência são de algum
modo frutos dessa primeira sistematização na Filosofia.
Tendo esse conhecimento de Sócrates, seu discípulo, Platão (427-
347 a.C.), também teve destaque. Observe, caro aluno, que enquanto
Sócrates postulou a razão como sendo característica essencial do ser hu-
mano, Platão ocupou-se em definir um “lugar” para a razão. Uma carac-
terística importante desse filósofo é que ele acreditava que a alma era
separada do corpo. Essa noção serviu de base para sua compreensão de
local para a razão. Para ele, o local da razão é em nosso próprio corpo,
maisespecificamente, em nossa cabeça. Entendendo aqui, caro aluno,
que é na cabeça que se encontra a alma do homem e a medula seria o
elemento de ligação da alma com o corpo. Esse elemento de ligação era
necessário por conta da concepção que ele tinha de que a alma era do
23
História da Psicologia Aula
2
Aristóteles
Filósofo que se
destacou por ser
considerado cria-
dor do pensamen-
to lógico. Seus
pensamentos e
ideias sobre a hu-
manidade têm influ-
ências significati-
vas na educação e
no pensamento
ocidental contem-
porâneo.
( F o n t e : h t t p : / /
www.mundodos-
filosofos.com.br/
aristoteles.htm)
corpo. Assim, caro aluno, para Platão, quando alguém morria, o corpo
desaparecia, mas a alma ficava livre para ocupar outro corpo.
Há ainda, caro aluno, outro pensador que teve grande destaque na
história da Filosofia - Aristóteles (384-322 a.c.), foi discípulo de Platão,
mas, apesar de discípulo, discordou de suas ideias e inovou com seu pos-
tulado - alma e corpo não podem ser dissociados.
Segundo Aristóteles, psyché seria o princípio ativo da vida. Ele está
dizendo com isso, caro aluno, que tudo que cresce, se reproduz e se ali-
menta possui a sua psyché ou alma. Assim, tanto os vegetais, os animais
como o ser humano teriam alma. Observe, caro aluno, que ele postula
diferentes tipos de alma para esses seres:
 “Os vegetais teriam a alma vegetativa, que se define pela função
de alimentação e reprodução. Os animais teriam essa alma e a alma
sensitiva, que tem a função de percepção e movimento. E o homem
teria os dois níveis anteriores e a alma racional, que tem a função
pensante” (BOCK, 2002, p. 33).
Caro aluno, esse filósofo foi tão ousado em suas ideias que chegou a
estudar as diferenças entre a razão, a percepção e as sensações. Foi esse
pensador quem escreveu o que pode ser considerado como o primeiro
tratado em Psicologia - De anima, que é a sistematização de suas ideias
(BARROS, 2004; BOCK, 2004).
Observe, então, caro aluno, que 2300 anos antes do advento da Psi-
cologia científica, os gregos já haviam formulado suas “teorias” - a platô-
nica, que postulava a imortalidade da alma e a concebia separada do cor-
po, e a aristotélica, que postulava o contrário, ou seja, afirmava a morta-
lidade da alma e a sua relação de pertencimento ao corpo.
ATIVIDADES
1. Responda agora, caro aluno, quais as condições sócio-econômicas da
Grécia Antiga que proporcionaram o início da reflexão sobre o homem?
2. Mostre, caro aluno, que acompanhou nossa viagem de forma atenta e
diga quais foram as principais contribuições, para a Psicologia, deixadas
por Sócrates, Platão e Aristóteles?
COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES
1. Como você observou, caro aluno, a Grécia Antiga era considerada
a civilização mais evoluída, empreendedora e conquistadora da época.
Foi um momento de muita riqueza e crescimento das civilizações.
Esse fato exigiu soluções práticas para tudo, assim, caro aluno, você
24
Psicologia Geral
Santo Agostinho de Hipona
Foi um importante bispo cristão e
teólogo. Todo o seu interesse cen-
tral está, portanto, circunscrito aos
problemas de Deus e da alma, visto
serem os mais importantes e os mais
imediatos para a solução integral do
problema da vida.
(Fonte:htpp://www.mundodos-
filosofos.com.br/Agostinho.html)
observou que tivemos avanços na Física, na Geometria, na Teoria
Política, sobrando tempo para que as pessoas se questionassem sobre
si mesmas e sobre questões do espírito. Você viu, caro aluno, que
nesse momento, a Filosofia começou a indagar sobre o homem e sua
interioridade. Nessa discussão, destacaram-se Sócrates, Platão e
Aristóteles.
2. Aqui, você deve mostrar quais foram as contribuições dos Filósofos
Gregos para a história da Psicologia. Você notou, caro aluno, que
Sócrates foi o precursor na discussão sobre o ser humano. Ele
postulou que a principal característica do ser humano é a razão e isso
abre caminho para muitas teorias exploradas pela Psicologia, hoje;
você viu também, caro aluno, que seu discípulo, Platão, procurou
encontrar um “lugar” para a razão e, com a ideia de que a alma era
separada do corpo, ele postulou que a razão está em nosso próprio
corpo, na cabeça. Aristóteles destacou-se por suas ideias ousadas.
Afirmou que alma e corpo não podem ser dissociados e começou a
estudar as diferenças entre a razão, a percepção e as sensações.
Agora, caro aluno, que já passamos pela Grécia e vimos a contri-
buição de alguns filósofos para o conhecimento da Psicologia, na
medida que eles já estavam pensando sobre o ser humano, iremos
seguir viagem rumo a Idade Média. Recorde, caro aluno, de como era
o contexto social na Idade Média? Lembre-se qual era o contexto
social, econômico, político e cultural dessa época.
Quando você pensa sobre Idade Média, o que lhe vem primeiro a
mente? Pense um pouco! Certamente você deve lembrar que uma
das características desse período é o poder do Cristianismo sobre to-
das as formas de conhecimento, que transpõe até a força política
dominante. Então, caro aluno, perceba que o poder do Cristianismo
influenciará nas idéias filosóficas desta época.
Um momento histórico que teve grande repercussão nesse perío-
do foram as invasões bárbaras (400 d.c.), pois causaram uma grande
desorganização econômica e o esfacelamento dos territórios. Nesse
contexto, caro aluno, o Cristianismo sobreviveu, se fortale-
ceu e tornou-se, não só a principal religião da Idade Média,
como também dominou o poder econômico, político, mo-
nopolizou o saber e, consequentemente, os estudos sobre o
psiquismo.
Esse poder foi tão intenso, caro aluno, que os pensado-
res de destaque foram filósofos envolvidos com a Igreja
Católica. Você sabe quais foram esses filósofos, caro aluno?
Primeiro surgiu Santo Agostinho (354-430), que concorda-
va com Platão, ou seja, fazia uma cisão entre alma e corpo,
25
História da Psicologia Aula
2
Destacou-se pela
fidelidade ao Cris-
tianismo.
( F o n t e : h t t p : / /
www.mundodos-
filosofos.com.br/
aquino.htm)
Mercantilismo
É o nome dado a um
conjunto de práti-
cas econômicas de-
senvolvido na Euro-
pa na Idade Moder-
na, entre o século
XV e os finais do
século XVIII.
mas, para ele, a alma era a sede da razão e também a grande prova de uma
manifestação divina no homem. Dessa forma, caro aluno, Santo Agosti-
nho postulava a imortalidade da alma por acreditar que ela era o elemen-
to que ligava o homem a Deus. Postulava também que a alma era a sede
do pensamento. Perceba aqui, caro aluno, que se a alma era compreendi-
da como sede do pensamento, a Igreja passa a se preocupar também com
sua compreensão.
Tempos depois, surge outro pensador de destaque: São Tomás de
Aquino (1225-1274). Ele viveu no período que a Igreja Católica estava
perdendo seu poder e o Protestantismo estava aparecendo. Assim, caro
aluno, São Tomás de Aquino teve papel importante, pois ele precisava
encontrar novas justificativas para a relação entre Deus e o homem. Bus-
cou, em Aristóteles, a distinção entre essência e existência. Recorda, caro
aluno, quais foram os pressupostos desse filósofo? Ele considera que o
homem, na sua essência, busca a perfeição através de sua existência. São
Tomás introduziu o ponto de vista religioso nesse pensamento e afirmou
que somente Deus seria capaz de reunir a essência e a existência, em termos de
igualdade. Desse modo, caro aluno, ele postula que a busca da perfeição
pelo homem seria a busca de Deus, tentando, com isso, justificar os dogmas
da Igreja e garantir, para ela, o monopólio do estudo do psiquismo.
Observe, caro aluno, que do nosso roteiro de viagem, já passamos
por dois momentos importantes para a História e que influenciaram no
desenvolvimento da Psicologia – a Grécia Antiga, a Idade Média. Agora,
caro aluno iremos saltar 200 anos e passaremos para o Renascimento.
Tente recordar quais foram os fatos mais importantesdessa época.
Recorde, caro aluno, que é nesse momento que tem início uma série de
transformações radicais no mundo europeu. Nessa época, caro aluno, o
mercantilismo estava em ascensão e levou à descoberta de novas terras -
a América, o caminho para as Índias, a rota do Pacífico – e esse crescimen-
to todo proporcionou um acúmulo de riquezas por algumas nações como a
França, a Itália, a Espanha e a Inglaterra, que estavam em formação.
Está recordando, caro aluno, dos acontecimentos desta época? Pois
é, caro aluno, e os acontecimentos marcantes desse momento não para-
ram por aí. Foi nesse momento, com a transição para o capitalismo, que
tem início o grande “bum” sócio-econômico, ou seja, surge uma nova
forma de organização econômica e social e, isso, vai influenciar, caro
aluno, na valorização do homem.
Ocorreram transformações em todos os setores da produção humana
- na literatura, nas artes, na política e nas ciências. Recorde, caro aluno,
dos nomes que foram grandes marcos dessa época. Você lembra de al-
gum? Copérnico (1473-1543), que mostrou que nosso planeta não é o
centro do universo e causa, com isso, uma revolução no conhecimento
humano; Galileu (1564-1642), que realizou as primeiras experiências da
26
Psicologia Geral
( F o n t e : h t t p : / /
educacao.uol.com.br/
b i o g r a f i a s /
ult1789u702.jhtm)
René Descartes
Um dos filósofos
que mais contribuiu
para o avanço da ci-
ência: “Cogito ergo
sun”
Física e estudou a queda dos corpos. Tais avanços, caros alunos, deram
espaço para a sistematização do conhecimento científico — estabelecer
métodos e regras básicas para a construção de um saber científico.
Neste contexto de avanço e crescimento, inclusive das ciências, caro
aluno, um filosofo destacou-se - René Descartes (1596-1659), dando
continuidade aos estudos dos filósofos mencionados anteriormente. Ele
postulou a separação entre mente (alma, espírito) e corpo. Para Descar-
tes, caro aluno, o homem possui uma substância material e uma substân-
cia pensante. E o corpo, desprovido do espírito, é apenas uma máquina.
Essas suas idéias, de certo modo, caro aluno, contribuíram para o avanço
da Anatomia e da Fisiologia e, assim, para o progresso da própria Psicolo-
gia. Ora, você deve estar se questionando como ocorreu essa contribui-
ção. Mas pare para pensar, caro aluno, a afirmação de Descartes – o corpo
sem espírito é uma máquina – abri as portas para investigar a estrutura
física do homem (anatomia), bem como deu espaço para estudar como
funciona, fisiologicamente, o corpo humano. Dessa forma, caro aluno,
deu início aos estudos de aspectos que, hoje, também são estudados pela
Psicologia, por exemplo, os processos básicos da Psicologia: memória,
percepção, sensação, atenção.
Com Descartes, caro aluno, a Filosofia passa a se ocupar da razão e
não mais da alma, ou seja, com a Teoria Racionalista – Cogito ergo sum – a
preocupação do filósofo não é mais o ser ou as causas primeiras das coi-
sas (Deus), mas diz respeito ao homem e a sua capacidade de conhecer e
transformar o mundo. Novamente, caro aluno, essa posição mais racional
irá influenciar a Psicologia, pois a Filosofia estava se ocupando da mente
e, neste momento, a Psicologia começou a desenvolver seus estudos so-
bre os processos mentais.
Caro aluno, esse foi um momento importante da História, pois foi a
época da Revolução Francesa e da Revolução Industrial na Inglaterra. Foi
um momento de transição para o capitalismo. Toda essa crise econômica e
social, pôs em xeque a Igreja e todos os conhecimentos produzidos por ela.
Cansado, caro aluno? Pois nossa viagem ainda não acabou, mas está
próxima do fim. Já chegamos ao século XIX. Vamos tentar contextualizá-
lo? O que você recorda, caro aluno? Foi um momento de transição da
sociedade feudal para a sociedade capitalista.
Lembra-se do feudalismo, caro aluno? Para recordar as característi-
cas desse período, leia o Box abaixo.
A sociedade feudal era composta por três classes básicas: Clero,
Nobres e Servos. A estrutura social praticamente não permitia
mobilidade, sendo, portanto, que a condição de um indivíduo era
determinada pelo nascimento. A relação do senhor e do servo era
típica de uma economia fechada, na qual uma hierarquia rígida estava
27
História da Psicologia Aula
2estabelecida, não havendo mobilidade social. As terras eram divididas
em feudos, onde havia um senhor, o senhor feudal que mandava em
tudo no local. O senhor era o proprietário dos meios de produção,
enquanto os servos representavam a grande massa de camponeses
que produziam a riqueza social. Cada feudo tinha sua moeda, leis,
tecnologia e, às vezes, a própria língua (o tamanho dos feudos eram
tão grandes que não havia comunicação entre eles, a não ser, em
caso de guerra, fazendo com que cada um tivesse um
desenvolvimento diferente. O clero possuía grande importância no
mundo feudal, cumprindo um papel específico em termos de religião,
de formação social, moral e ideológica. No entanto, esse papel do
clero é definido pela hierarquia da Igreja, quer dizer, pelo Alto Clero,
que por sua vez é formado por membros da nobreza feudal. A principal
fonte de produção era a terra. A razão ainda estava submetida à fé
como garantia de centralização do poder. A autoridade era o critério
de verdade. Esse mundo fechado e esse universo finito refletiam e
justificavam a hierarquia social inquestionável do feudo (BOCK,
2002; http://www.suapesquisa.com/feudalismo).
Após a leitura do Box, para recordar o funcionamento sócio-econô-
mico da época do feudalismo, estamos preparados para continuar nossa
viagem até o final da Idade Média. O que recorda dessa época? Lembra,
caro aluno, que é nesse período que acontece uma nova ordem econômi-
ca? Pois é, o capitalismo surge com força total e, com isso, inicia todo o
processo de industrialização. Nesse contexto, caro aluno, a ciência é cada
vez mais fortalecida, pois é ela que dará respostas e soluções práticas no
campo da técnica. A ciência dará suporte a essa nova ordem econômica e
social. Para compreensão de como o capitalismo modificou o modelo
sócio-econômico vigente, leia o Box abaixo:
O capitalismo pôs o mundo em movimento. Enquanto no feudalismo
tudo demorava para acontecer, aqui, as coisas aconteciam mais rápido.
Por conta da necessidade de abastecer mercados e produzir cada vez mais,
buscou novas matérias-primas na Natureza; criou necessidades; contratou
o trabalho de muitos que, por sua vez, tornavam-se consumidores das
mercadorias produzidas; questionou as hierarquias para derrubar a nobreza
e o clero de seus lugares há tantos séculos estabilizados.
O homem deixou de ser o centro do universo (antropocentrismo) e passou
a ser visto como um ser livre e capaz de construir seu futuro. As
características do feudalismo começam deixar de existir: o servo foi libertado
e pôde escolher seu trabalho e seu lugar social. Isso fez com que essas
pessoas se tornassem consumidores em potencial das mercadorias
produzidas. O conhecimento tornou-se independente da fé. Os dogmas
28
Psicologia Geral
da Igreja foram questionados. O mundo se moveu. A racionalidade do
homem apareceu, então, como a grande possibilidade de construção do
conhecimento. Outra característica importante, desse momento, é o advento
da máquina. Todo o universo passou a ser pensado como uma máquina,
isto é, podemos conhecer o seu funcionamento, a sua regularidade, o que
nos possibilita o conhecimento de suas leis. Esta forma de pensar atingiu
também as ciências do homem.
http://www.suapesquisa.com/capitalismo
Nesse contexto sócio-cultural, caro aluno, a ciência se desenvolveu e
as ideias dominantes fermentaram esse desenvolvimento: o conhecimento
como fruto da razão; a possibilidade de desvendar a Natureza e suas leis
pela observação rigorosa e objetiva. A busca de um método rigoroso, que
possibilitasse a observação para a descoberta dessas leis,apontava a neces-
sidade de os homens construírem novas formas de produzir conhecimento,
ou seja, não era mais estabelecido pela Igreja ou pela autoridade eclesial.
Alguns pensadores destacaram-se nesse período. Você sabe quais, caro
aluno? Hegel (1770–1831) demonstrou a importância da História para a com-
preensão do homem; Darwin (1809–1882), que negou o antropocentrismo
com sua tese evolucionista. Observe, caro aluno, que a ciência avança de tal
modo, que se tornou um referencial para a visão de mundo. Assim, para ser
verdade, tinha que obedecer aos critérios da ciência.
Até a Filosofia, caro aluno, passa a se adaptar à ciência. Você recorda
qual foi o pensador que trouxe a ciência para a Filosofia? Lembra do
Positivismo? Pois é, caro aluno, Augusto Comte postulou a necessidade
de maior rigor científico na construção dos conhecimentos nas ciências
humanas. Assim, ele propôs o método da ciência natural, a Física, como
modelo de construção de conhecimento.
Tendo a ciência como referencial para tudo, alguns temas da Psicolo-
gia, que antes foram estudados pela Filosofia, passaram a ser investiga-
dos por outras áreas como, por exemplo, da Fisiologia, da Neurofisiologia.
Esses estudos levaram à formulação de teorias sobre o sistema nervoso
central, demonstrando que o pensamento, as percepções e os sentimen-
tos humanos eram produtos desse sistema.
Caro aluno, você deve estar pensando o que isso tem haver com a
Psicologia. Pois bem, você deve estar compreendendo que toda essa mu-
dança, no mundo, afetou o homem e sua forma de ser, pensar e existir. E
para conhecer o psiquismo humano, torna-se necessário compreender os
mecanismos e o funcionamento do cérebro. Dessa forma, caro aluno, a
Psicologia passa a caminhar junto a Fisiologia, Neuroanatomia e
Neurofisiologia.
29
História da Psicologia Aula
2Houve algumas descobertas importantes para a Psicologia nessa épo-
ca, veja o Box abaixo:
* Neurologia – doença mental é fruto da ação direta ou indireta de
diversos fatores sobre as células cerebrais.
* Neuroanatomia – a atividade motora nem sempre está ligada à cons-
ciência, pois não estão necessariamente na dependência dos centros ce-
rebrais superiores.
* Fisiologia – Psicofísica: estudava a fisiologia do olho e a percep-
ção das cores.
 Lei Fechner-Weber: estabelece relação entre estímulo e sensação, permi-
tindo a mensuração Þ possibilidade de medida do fenômeno psicológico.
- Wilhelm Wundt (1832-1926) – paralelismo psicofísico – fenômenos
mentais correspondem fenômenos orgânicos.
Introspeccionismo – método para explorar a mente ou a consciência.
Essas descobertas foram importantes na história da Psicologia por-
que iniciaram o estudo de fenômenos mentais como elas também surgiu a
possibilidade de medida do fenômeno psicológico, coisa que, até então,
era considerada impossível. Observe, caro aluno, que assim os fenôme-
nos psicológicos adquiriram o status de científicos, pois, como vimos, para
ser compreendido como ciência, nesta época, era necessário que fosse
mensurável. Outra contribuição importante, como você já deve ter visto
no Box, foi a de Wilhelm Wundt que desenvolveu a concepção do
paralelismo psicofísico, no qual afirma que aos fenômenos mentais
correspondem os fenômenos orgânicos. Essa contribuição e a criação do
primeiro laboratório na Universidade de Leipzig, na Alemanha, para rea-
lizar experimentos na área de Psicofisiologia, fizeram com que ele fosse
considerado o pai da Psicologia moderna ou científica.
Caro aluno, veja que estamos fazendo o trajeto nessa viagem para
chegar até a Psicologia científica. E com Wundt, e outros companheiros
que, ao final do século XIX, surgiu a Psicologia moderna, trabalharam
juntos na Universidade de Leipzig, Alemanha.
É nesse contexto, caro aluno, que a Psicologia se distancia da Filoso-
fia e ganha status de ciência.
“A psicologia se “desliga” da filosofia e se configura enquanto ciência
independente quando deixa de buscar a essência humana e passa a
adotar métodos para não só conhecer, mas também intervir nesse
ser humano” (CAMBAÚVA, SILVA e FERREIRA,1998, p. 222)
Recorde, caro aluno, que para um conhecimento ser compreendido
como ciência são necessários alguns critérios e, para isso, os estudiosos e
30
Psicologia Geral
pesquisadores, sob os novos padrões de produção de conhecimento, pas-
sam a discutir sobre seu objeto de estudo (o comportamento, a vida psí-
quica, a consciência); a questionar sobre a delimitação de seu campo de
estudo (tentando aqui se diferenciar de outras áreas); a pensar sobre mé-
todos de estudo desse objeto e a formular teorias enquanto um corpo
consistente de conhecimentos na área.
Então, caro aluno, todas as teorias devem obedecer a tais critérios cien-
tíficos. Embora, tenha sido, a Alemanha, o berço da Psicologia científica, é
nos EUA que ela cresce rapidamente, resultado do grande avanço econô-
mico que os EUA estavam passando em função do sistema capitalista.
Surgem, assim, caro aluno, as primeiras escolas em Psicologia que
deram origem às inúmeras teorias que existem atualmente. Essas aborda-
gens são: o Funcionalismo, de William James (1842-1910), o Estrutu-
ralismo, de Edward Titchner (1867-1927) e o Associacionismo, de
Edward L. Thorndike (1874-1949).
Encerraremos, aqui, nossa viagem, caro aluno, com a indicação de
alguns sites para aprofundar esse assunto. Na aula seguinte, continuare-
mos com as teorias que sugiram em seguida: Psicanálise, Behaviorismo e
a Gestalt.
CURIOSIDADE
A partir do site abaixo, caro aluno, você poderá aprofundar as discus-
sões dessa aula:
http://www.scielo.br/pdf/epsic/v3n2/a03v03n2.pdf
ATIVIDADES
1. Como você viu, caro aluno, na Idade Média a Igreja influenciou nas
Artes, na Economia, na Vida Social e, na Filosofia, não podia ser diferen-
te. Dessa forma, quais foram os grandes pensadores dessa época e quais
foram suas contribuições para o conhecimento em Psicologia?
2. Mostre, caro aluno, que você acompanhou a aula e fale como aconte-
ceu o desligamento entre Filosofia e Psicologia.
COMENTÁRIOS SOBRE AS ATIVIDADES
1. Você observou, prezado aluno, que a Igreja tinha monopólio total
na época da Idade Média, por essa razão, os pensadores que se
destacaram estavam ligados à Igreja. O primeiro deles, você viu, foi
Santo Agostinho, que concordava com as ideias de Platão (fazia cisão
entre alma e corpo) e acrescentava que a sede da razão era a alma, ou
31
História da Psicologia Aula
2seja, que a sede do pensamento era a alma, com isso, ele trouxe para
a Igreja a responsabilidade de compreensão do ser humano, da sua
alma e, assim, do pensamento. Você notou, caro aluno, que tempos
depois, outro pensador se destacou: São Tomás de Aquino, que veio
com a responsabilidade de resgatar o poder para a Igreja. Ele buscou
inspiração em Aristóteles e afirmou que somente Deus era capaz de
reunir a essência e a existência em termos de igualdade, ou seja, ele
postulou que a busca da perfeição, pelo homem, só seria possível
através de Deus. Você compreendeu, caro aluno, que ele destacou-
se por essa afirmação, pois, assim, conseguiu encontrar novas
justificativas para a relação entre Deus e o homem e manter o
monopólio da Igreja.
2. Você viu, no decorrer da aula, caro aluno, toda evolução histórica
da Psicologia. Notou que, no Renascimento, houve uma tentativa de
sistematização do conhecimento científico, ou seja, era necessário
pensar em métodos e regras para a construção da ciência, destacando,
aqui, o filósofo René Descartes, que postulou a separação entre mente
e corpo. Com isso, caro aluno, você percebeu que ele abre
possibilidades de estudos de áreas como Anatomia e Fisiologia que
têm relação com os processos mentais, hoje, estudados também pela
Psicologia. Tais temas passaram a ser estudados também por outras
áreas – Fisiologia, Neurofisiologia e Neuroanatomia, estudando as
teorias do sistema nervoso central:pensamento, percepções e
sentimentos. Com a afirmação desse filósofo, o conhecimento tornou-
se independente da fé e tornou-se fruto da razão. Mas, você observou,
na aula, prezado aluno, que todos os acontecimentos históricos
culminaram para a Psicologia ser compreendida como ciência, um
exemplo disso, foi a construção do primeiro laboratório de
psicofisiologia por Wundt. Isso não teria acontecido se não fosse
pelo processo de reconhecimento do homem enquanto ser pensante
e separado da alma por outros filósofos, bem como, não teria ocorrido,
se não houvesse uma exigência por uma metodologia científica.
CONCLUSÃO
A partir do que estudamos, vimos que para a Psicologia ser compre-
endida como ciência, foi uma grande caminhada. Conhecemos, nessa aula,
caro aluno, os momentos mais importantes da história da Psicologia.
Observamos que cada momento revelou um contexto sócio-econô-
mico e cultural diferente como, por exemplo, na Idade Média, com a in-
fluência da Igreja em todos os aspectos da vida humana. Os pensadores
que se destacaram pertenciam à Igreja, com a intenção de monopolizar
até o conhecimento produzido da época.
32
Psicologia Geral
Vimos que, estudando a história da Psicologia, é possível entender a
sua constituição como ciência e entender sua diversidade de objeto de
estudo. Caro aluno, em toda nossa aula, fizemos destaques a muitos filó-
sofos, isso aconteceu porque a Psicologia, por muito tempo, foi tema da
Filosofia. Os teóricos consideram que a Psicologia emancipou-se da Filo-
sofia em meados do século XIX. Assim, não podemos resgatar a história
da Psicologia sem entendermos a Filosofia como primeira forma de de-
senvolvimento do pensamento humano racional, quando das primeiras
indagações do homem sobre o mundo.
Entendemos, caro aluno, que foi com Wundt e a criação do primeiro
laboratório em Psicofisiologia, que a Psicologia foi reconhecida como ci-
ência e, assim, surgiram as primeiras abordagens ou escolas em Psicologia
que deram origem às inúmeras teorias que existem atualmente.
RESUMO
Esperamos que essa viagem a momentos históricos, destacando mar-
cos importante para o desenvolvimento da Psicologia, tenha sido provei-
tosa para você, caro aluno.
Vimos, então, que os seres humanos buscam entender a si mesmos
desde sempre e para compreensão da diversidade com que a Psicologia se
apresenta, hoje, é indispensável recuperar sua história, pois a partir do
momento histórico conhecemos as exigências do conhecimento da hu-
manidade, às demais áreas de conhecimento e aos novos desafios coloca-
dos pela realidade econômica, social, política etc.
Aprendemos, caro aluno, que foi com os filósofos da Grécia Antiga
que se iniciou o interesse pelo ser humano e seu interior. Os pensadores
que tiveram destaque foram: Sócrates, Platão e Aristóteles, sendo que, com
este último, aconteceu a primeira tentativa de sistematizar a Psicologia.
Vimos também, caro aluno, que na Idade Média, com o monopólio da
Igreja, tudo passou ter sua influência. Não foi diferente com a filosofia. Os
pensadores que se destacaram foram Santo Agostinho e São Tomás de
Aquino. Com suas idéias, eles argumentaram, de modo racional, todo estu-
do do ser humano para, assim, ter o monopólio do estudo do psiquismo.
Após esse período, vimos que o Renascimento foi um momento de
grande destaque para a Psicologia, pois houve, nessa época, uma tentati-
va de sistematização do conhecimento científico, ou seja, métodos e re-
gras para a construção da ciência. Grande destaque para René Descartes,
que postulou a separação entre mente e corpo. Abrindo as portas, dessa
forma, caro aluno, para o início dos estudos da Anatomia e da Fisiologia.
33
História da Psicologia Aula
2Finalizamos a aula, caro aluno, com a origem da Psicologia Científi-
ca, já no século XIX, onde o conhecimento tornou-se independente da fé
e tornou-se fruto da razão. Os nomes importantes foram: Hegel, Darwin
e Augusto Comte. Com destaque para esse último que, com o Positivismo,
mostrava a necessidade de um maior rigor científico na produção dos
conhecimentos das ciências humanas.
Nessa época também, caro aluno, observamos que os temas da Psi-
cologia passaram a ser estudados por outras áreas - Fisiologia e
Neurofisiologia, estudando as teorias do sistema nervoso central: pensa-
mento, percepções e sentimentos.
E, é com Wilhelm Wundt, criador do primeiro laboratório para estu-
dos em Psicofisiologia, que a Psicologia se separa totalmente da Filosofia
e tem reconhecimento de ciência.
AUTO-AVALIAÇÃO
Seguem agora, caro aluno, algumas reflexões sobre o texto.
- Consegui acompanhar o conteúdo dado?
- Surgiram dúvidas que pude solucionar com os tutores?
- Sou capaz de indicar os marcos mais importantes do desenvolvimento
histórico da Psicologia?
PRÓXIMA AULA
Para a próxima aula, caro aluno, você deve considerar os marcos históri-
cos que contribuíram para o desenvolvimento da Psicologia como ciência,
destacando os contextos sócio-econômicos e cultural de cada momento.
No próximo encontro, prezado aluno, teremos contato com algumas
das principais teorias da Psicologia que nasceram com o reconhecimento
da Psicologia enquanto ciência.
REFERÊNCIAS
BOCK, A. M. B. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicolo-
gia. 13ª ed. reform. e ampl.São Paulo: Saraiva, 2002.
CAMBAÚVA, L. G.; SILVA, L. C.; FERREIRA, W. Reflexões sobre o
estudo da história da psicologia. (1998). Estudos de Psicologia, 3 (2),
207-227.
BARROS, C. S. G. Pontos de psicologia geral. Ática, São Paulo: 2004.
LIMA, S. R. Psicologia Geral. Aracaju: Editora J. Andrade, 2002.
META
Apresentar as abordagens iniciais da Psicologia – Behaviorismo e
Gestalt.
OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno deverá:
abordar o Behaviorismo, apresentando os principais conceitos;
abordar a Gestalt, apresentando os principais conceitos.
PRÉ-REQUISITOS
Aulas 1 e 2.
Aula
3ABORDAGENS DA PSICOLOGIA
– BEHAVIORISMO E GESTALT
Charge publicada no final do século XIX ironizando um possível futuro automatizado para a educação.
No final do século XIX surgiu o behaviorismo. Skinner foi um dos papas em Psicologia Experimental
e desenvolveu intensa atividade no estudo da Psicologia da Aprendizagem. Convicto na influência do
condicionamento para a educação, postulou que o comportamento dos alunos poderia ser modelado
pelas escolas. A “aprendizagem programada” e as “máquinas de ensinar” seriam os meios mais apropri-
ados para realizar aprendizagem escolar.
(Fonte: http://farm3.static.flickr.com/2091/2217351520_ce18c8c725.jpg)
36
Psicologia Geral
INTRODUÇÂO
Olá, prezado aluno, na aula anterior fizemos uma viagem ao passado.
Passamos pela Grécia Antiga, pelo Império Romano, pelo Renascimento,
até chegarmos, aos dias de hoje, compreendendo as influências que cada
um desses momentos tiveram no desenvolvimento da Psicologia Científi-
ca, mais especificamente, da Psicologia, na atualidade.
Para a aula de hoje, é importante que você tenha compreendido toda
a história da Psicologia, pois veremos duas das principais posições teóri-
cas da Psicologia. Mostrando as características mais importantes de cada
uma delas.
Então, caro aluno, vamos nessa.
Foto 1 - Max Wertheimer, foto 2 - Kurt Koffka e foto 3 - Wolfgang Köhler, criadores da Gestalt.
(Fontes: 1 e 2 - http://organizations.uncfsu.edu; 3 - www.princeton.edu/~freshman/gestalt/kohler/
kohler.gif).
31 2
37
Abordagens da Psicologia – Behaviorismo e Gestalt Aula
3DESENVOLVIMENTO
Como abordado na aula passada, caro aluno, foi nos EUA que a Psi-
cologia se desenvolveu de fato como ciência. Então, a Psicologia Cientí-
fica nasce quando rompe com a Filosofia e se estrutura de acordo com os
padrões de ciência do século XIX. Assim, o conhecimento científico é
aquele produzido em laboratórios, com o uso de instrumentos de obser-
vação e medição.
Retome à aula anterior, caro aluno.Finalizamos apresentando as pri-
meiras escolas em Psicologia - o Funcionalismo, de William James (1842-
1910), o Estruturalismo, de Edward Titchner (1867-1927) e o
Associacionismo, de Edward L. Thorndike (1874-1949). Dessas escolas,
surgiram as inúmeras teorias que existem atualmente.
Iremos abordar as três mais importantes e mais conhecidas tendênci-
as teóricas da Psicologia: o Behaviorismo, a Gestalt e a Psicanálise. Na
aula de hoje, começaremos com o Behaviorismo e a Gestalt. Já na quarta
aula, abordaremos a Psicanálise. Faremos isso de forma didática, ou seja,
separaremos a aula em tópicos.
BEHAVIORISMO
Você sabe o que significa esse nome, caro aluno? Pois bem, inicial-
mente vamos tentar compreender o que ele significa. Behaviorismo vem
do termo inglês behavior e significa “comportamento”. Pela nomenclatu-
ra, você pode observar que essa abordagem vai estudar sobre o compor-
tamento humano. É isso mesmo, caro aluno! Esse termo foi utilizado
pelo americano John B. Watson (1878-1958, EUA), em uma publicação
que apresentava o título Psicologia: como os behavioristas a veem.
Veja, caro aluno, que em função da tradução, algumas pessoas se re-
ferem a essa Teoria com outras nomenclaturas, por exemplo,
Comportamentalismo, Teoria Comportamental, Análise Experimental do
Comportamento, Análise do Comportamento.
Recorda, caro aluno, quais eram os critérios para uma ciência ser com-
preendida como ciência? Preocupado com isso, Watson postula que o com-
portamento é o objeto da Psicologia, pois respaldava as exigências da ciência
que os psicólogos buscavam. Observe, caro aluno, que o comportamento
supre todos os critérios, pois, é um objeto observável, mensurável. Os expe-
rimentos podem ser reproduzidos em diferentes condições e sujeitos.
Essas características foram fundamentais para a Psicologia alcançar o
status de ciência, rompendo, definitivamente, com a sua tradição filosófica.
Existem alguns nomes importantes que contribuíram para o desen-
volvimento dessa abordagem. Note, caro aluno, que essa abordagem se
destacou bastante nos EUA, mas, no mesmo momento histórico, outros
38
Psicologia Geral
cientistas desenvolviam estudos que, posteriormente, subsidiaram a Teo-
ria Comportamental.
Alguns desses nomes foram:
- Ivan Pavlov (1874-1949, Rússia) – desenvolveu experiências com ca-
chorros e, a partir dessas experiências, postulou o condicionamento clássico.
Termo utilizado, atualmente, por essa abordagem. Ele acredita que o con-
dicionamento clássico explica o porquê de uma resposta emocional ou fisio-
lógica incontrolável diante de um estímulo particular.
- Eduard Thorndike (1874-1949, EUA) – desenvolveu experiências com
gatos e, através dessas experiências, compreendeu que o comportamento
é governado por gratificações ou punições – condicionamento operante. Ter-
mos também utilizados por essa abordagem e que iremos definir posteri-
ormente.
- John B. Watson (1878-1958, EUA), com quem, de fato, desenvolveu-
se o Behaviorismo, pois, até então, os estudos eram realizados com ani-
mais. Watson aplicou esses estudos aos seres humanos e sugeriu que os
medos são decorrentes de condicionamentos clássicos e que, comportamentos
como a raiva, derivam de condicionamento operante.
- B. F. Skinner (1904-1990, EUA) – através de experimentos realizados
com ratos, estudou a influência do comportamento aprendido através do
comportamento operante.
Observe, caro aluno, que até aqui, falamos dos nomes mais impor-
tantes para essa abordagem; iremos, agora, definir e explicar cada termo
utilizado por essa teoria.
Antes, contudo, caro aluno, é importante você compreender que o
behaviorismo defendia que o comportamento devia ser estudado como
função de certas variáveis do meio, ou seja, certos estímulos levam o
organismo a dar determinadas respostas, isso ocorre porque os organis-
mos se ajustam aos seus ambientes por meio da hereditariedade e pela
formação de hábitos. Os teóricos, dessa abordagem, buscavam uma Psi-
cologia sem alma e sem mente, ou seja, que tivesse a capacidade de pre-
ver e controlar.
Com o passar do tempo, caro aluno, para os Behavioristas, o objeto
da Psicologia foi se modificando e, atualmente, essa abordagem se dedica
ao estudo das interações entre o indivíduo e o ambiente, entre as ações
do indivíduo (suas respostas) e o ambiente (os estímulos). Veja, caro alu-
no, eles evoluíram e perceberam que apenas o comportamento como ob-
jeto é muito amplo e compreenderam como objeto a interação indivíduo-
ambiente, ou seja, o homem é produto e produtor dessas interações. Após
Watson, quem teve maior destaque nessa abordagem foi Skinner, que,
como dito, aprofundou nos estudos sobre comportamento operante. Para
termos compreensão sobre esse condicionamento, caro aluno, iremos abor-
dar primeiro o que hoje é chamado de comportamento reflexo.
Edward Lee
Thorndike
Psicólogo americano.
(Fonte: http://
psych .wisc .edu /
h e n r i q u e s /
r e s o u r c e s /
thorndike.jpg)
Ivan Petrovich
Pavlov
 Cientista russo que
contribui para o de-
senvolvimento da
Psicologia.
(Fonte: http://
s a s i c o . c o m . b r /
psico/wp-content/
images/2009/04/
pavlov.jpg)
39
Abordagens da Psicologia – Behaviorismo e Gestalt Aula
3Conceitos Importantes
Condicionamento clássico ou Respondente – ocorre quando um estí-
mulo que induz uma resposta particular é consistentemente emparelhado
com um estímulo neutro (E) que não induz a resposta (R). Vamos tentar
compreender melhor, caro aluno, observe o gráfico abaixo:
R E
O Condicionamento clássico, caro aluno, é quando fazemos associa-
ções, ou seja, quando ouvimos barulho de fogos tomamos susto e, esse
susto, faz com que nosso corpo tenha uma reação - coração acelera. As-
sociamos, dessa forma, os fogos ao comportamento de susto. Entendeu,
caro aluno? Observe que, se essa situação ocorrer com frequência, ire-
mos apresentar essa resposta de susto ao escutarmos barulho de fogos,
mesmo que seja esperado. Veja o gráfico:
Fogos ’! Susto (aceleração do coração)
Como vimos, caro aluno, quem estudou esse comportamento foi
Pavlov através de experiências realizadas com cachorros. Ele associou
barulho da sineta com a salivação do animal. Veja como:
Sineta-Carne — Cachorro — salivação
Toda vez que Pavlov mostrava a carne ao cachorro, ele associava ao
barulho da sineta, por conta da carne, o animal salivava. Observe que
interessante, caro aluno: certo dia, após inúmeras repetições, Pavlov ob-
servou que apenas com o barulho da sineta o cachorro estava salivando.
Ficou mais claro? Veja que ele associou a carne (estímulo que dava a
resposta de salivação) ao estímulo neutro (sineta) para ter uma resposta.
Para melhor compreensão, assista ao vídeo no link abaixo que se refere
ao caso do Pequeno Albert – experimento realizado por Watson para mos-
trar que os temores surgem quando a criança deixa o ambiente protegido:
http://www.youtube.com/watch?v=g4gmwQ0vw0A
Baseado nesse exemplo, caro aluno, você consegue perceber que o
condicionamento do respondente tem algumas características? Veja só, a
primeira característica é que parecem ser involuntários – o medo que o
Pequeno Albert desenvolveu; a segunda característica é que são contro-
lados pelo Sistema Nervoso Autônomo – a sensação orgânica; outra ca-
racterística é que parecem ser controlados pelos eventos que precedem –
o barulho que foi associado ao ratinho de pelúcia; outra característica
importante é que são comportamentos não aprendidos inicialmente, ou
seja, são aparentemente programados pelo organismo com fins de prote-
ção e sobrevivência e, por último, podem ser generalizados – um novo
estímulo adquire a capacidade de evocar o comportamento respondente,
ou seja, casacos de pele que faça Albert recordar do rato.
No condicionamento respondente, caro aluno, não é necessário ter
experiências assustadoras com estímulos neutros para que se adquira

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