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A reforma agrária

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Após anos de luta em favor da Reforma Agrária no Brasil, a mesma não alcançou mudanças significativas. Ao contrário de alguns países que se modernizaram nesta questão, mesmo entre inúmeras manifestações a questão agrária se fez pouco presente, permanecendo sem grandes mudanças.
Essa discussão que perpetra em nosso país ainda não conseguiu mostrar o seu verdadeiro significado. Contudo, não fica à espera de soluções. Para tanto, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra exerce papel fundamental em suas decorrentes manifestações.
Assim, apesar de ainda não ter alcançado seu objetivo, o sistema da reforma agrária vem modernizando-se por meio de novas diretrizes a fim de desvincular a sua imagem da concepção atribuída anos atrás. Nesse enfoque, faremos um breve resumo da problemática da Reforma Agrária no Brasil.
A Reforma Agrária é um sistema que busca distribuir terras para pessoas que não possuem moradia, ou seja, propriedades particulares (latifúndios improdutivos) são compradas pelo governo a fim de lotear e distribuir para famílias que não possuem terras para plantar. Além disso, a reforma agrária busca descentralizar e democratizar a estrutura fundiária, favorecer a produção de alimentos e a partir deles obter-se comida e renda.
Dentro deste sistema, as famílias que recebem os lotes, ganham também condições para desenvolver o cultivo: sementes, implantação de irrigação e eletrificação, financiamentos, infraestrutura, assistência social e consultoria, tudo oferecido pelo governo.
A reforma agrária tem por objetivo proporcionar a redistribuição das propriedades rurais, ou seja, efetuar a distribuição da terra para a realização de sua função social. Esse processo é realizado pelo Estado, que compra ou desapropria terras de grandes latifundiários (proprietários de grandes extensões de terra, cuja maior parte aproveitável não é utilizada) e distribui lotes de terras para famílias camponesas.
De acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária na prática a reforma agrária proporciona: A desconcentração e a democratização da estrutura fundiária; A produção de alimentos básicos; A geração de ocupação e renda; O combate à fome e à miséria; A diversificação do comércio e dos serviços no meio rural; A interiorização dos serviços públicos básicos; A redução da migração campo-cidade; a democratização das estruturas de poder; A promoção da cidadania e da justiça social. (INCRA, 2011).
A história da reforma agrária no Brasil é uma história de oportunidades perdidas. Embora a expressão “Reforma Agrária” tenha se tornado nova, o assunto não é. Em pleno Império, Joaquim Nabuco proclamou a necessidade da “democratização do solo”, expressão essa correspondente ao que hoje chamamos de reforma agrária. Nabuco então retomava o tema do jornal “Progresso do Recife/1847”, discutido por Antonio Pedro de Figueiredo. Notamos que, durante esse período, a questão agrária foi provavelmente levantada pela primeira vez.
Na trajetória da luta pela reforma agrária, foram inúmeros posicionamentos por parte dos governantes a fim de resolver a questão de distribuição de terras. Porém, todos em vão, visto que esses tomavam outras direções, a exemplo da revolução de 1930 – a qual deu impulso ao processo de industrialização e reconheceu direitos legais aos trabalhadores urbanos – que atribuiu ao Estado o papel principal no processo econômico, mas não interveio na ordem agrária. Visto que a chamada burguesia industrial – constituída com o capital dos barões do café e sediada em São Paulo -, fez uma revolução política, destronou a oligarquia rural, assumiu o poder e implementou um novo modelo econômico. Nesse momento, a classe dominante brasileira perdeu a segunda oportunidade de fazer uma reforma agrária.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, o Brasil redemocratizou-se e a questão agrária começou, então, a ser discutida com ênfase e tida como um obstáculo ao desenvolvimento do país. No entanto, até 1950, o debate sobre esta questão se restringia ao campo intelectual e político-partidário. Embora existissem diversos conflitos pela terra, não havia uma força social que reivindicasse a reforma agrária propriamente dita.
Ainda na década de 1950, começam a se unir diferentes formas de conflitos presentes no campo brasileiro por intermédio de uma linguagem comum. Apesar disso, o debate conseguiu maior destaque somente no início dos anos 60 com a chamada participação popular. Esse processo se deu graças à crescente disseminação das ideias do Partido Comunista do Brasil, o PCB, o qual foi o primeiro partido a organizar trabalhadores rurais, parceiros, arrendatários e outras categorias de pequenos produtores com fins de Reforma Agrária.
A partir daí a reforma agrária se torna uma demanda concreta expressa pelas diferentes forças sociais que aos poucos foram se unificando nas diferentes regiões do Brasil, tendo, dessa forma, despertado maior atenção do governo por ser considerada essencial para o desenvolvimento econômico e social do país.
Para tanto, com o intento de executar a reforma agrária, institui-se no ano de 1962 a Superintendência de Política Agrária – SUPRA. Logo, em 1963, é aprovado o Estatuto do Trabalhador Rural, regulando as relações de trabalho no campo, que até então estivera à margem da legislação trabalhista. Um ano depois, o Presidente da República assinou decreto prevendo a desapropriação, para fins de reforma agrária, das terras localizadas numa faixa de dez quilômetros ao longo das rodovias, ferrovias e açudes construídos pela União.
A fim de atender aos anseios da população, o então Presidente da República João Goulart (1961-1964) enviou uma mensagem ao Congresso Nacional a favor da reforma agrária. Contudo, em 31 de março de 1964, as medidas fracassaram, pois, neste período, iniciaram-se o ciclo dos governos militares.
Desse modo parte-se de pressupostos da importância das políticas públicas para a Reforma Agrária como instrumento de emancipação socioambiental e a sua importância no combate à fome, a pobreza e miséria rural através do desenvolvimento e implementação de políticas públicas. Nessa perspectiva a luta pela conquista da terra feita através dos movimentos sociais e protagonizadas pelos diversos sujeitos num processo de intervenção sócio histórica na luta contra o capitalismo representado pelo agronegócio e as diversas instancias representativas do jogo do poder econômico, social e político, significam avanços na conquista de uma autonomia baseada em princípios de solidariedade, cooperação e na Mística dos Movimentos Sociais que lutam pela conquista da terra e que longe de ser uma referência ao mundo místico e misterioso, tem um profundo caráter de pertencimento e Identidade política, cultural e social na luta pela conquista da terra.
Castells (1999) aponta para o crescimento dos espaços de fluxos em detrimento dos espaços de lugares. O autor afirma que ‘’o poder em nossas sociedades estão organizados no espaço de fluxos, a dominação estrutural de sua lógica altera de forma fundamental o significado e a dinâmica dos lugares. A tendência predominante é para um horizonte de espaços de fluxos aistórico em rede, visando impor sua lógica nos lugares segmentados e espalhados’’. Portando, os espaços de lugares, tenderiam a submeter-se às exigências e interesses dos espaços de fluxos. A ideia de fluxos do autor mostra como a reforma agraria é extremamente importante, colocando a ideia de que o poder social está diretamente ligado à estrutura física do espaço, ou seja, para manter os espaços de fluxos é indispensável deter os espaços físico. Com a reforma agraria, é possível distribuir melhor esse poder. 
Segundo Milton Santos, a história do meio geográfico pode ser dividida em três partes: meio natural, o meio técnico e o atual meio técnico-científico-informacional. Neste último, os objetos são carregados de intencionalidade, e possuem base na tecnologia e na informação. Os espaços ‘’atendem, sobretudo, aos interesses dos atores hegemônicos da economia, da cultura e da políticae são incorporados plenamente às novas correntes mundiais. O meio técnico-científico-informacional é a cara geográfica da globalização’’ (1997). Este meio, embora seja difuso não se dá de maneira homogênea, originando espaços hegemônicos e hegemonizados. Ou seja, ‘’agora torna-se mais nítida a associação entre objetos modernos e atores hegemônicos’’ (1997). A constituição desses dois cenários, um hegemônico e outro hegemonizado, pode ser reconhecida em diversas situações. 
Ainda segundo Milton Santos, em função do processo de globalização, pode-se observar a coexistência dos espaços opacos e luminoso, regiões do mandar e as regiões do fazer. Segundo o autor, os espaços luminosos são considerados ‘’aqueles que acumulam densidades técnicas e informacionais, ficando assim mais aptos a atrais atividades com mais conteúdo em capital, tecnologia e organização. Por oposição, os subespaços onde tais características estão ausentes seriam espaços opacos’’ (Santos, 2001)
Por tudo isso, a importância da reforma agrária é decisiva porque permite e consolida a estabilidade econômico-financeira de um país. Nenhuma nação poderá ser próspera enquanto seu trabalhador rural estiver na miséria social-econômica. Daí a necessidade premente da "libertação" destes trabalhadores, numa base econômica de aliança harmônica entre o proprietário e os trabalhadores rurais.
A reforma agrária não é contra a propriedade privada no campo. Ao contrário, descentraliza-a democraticamente, favorecendo as massas e beneficiando o conjunto da nacionalidade. É um imperativo da realidade social atual, devendo atender a função social da propriedade, evitando-se assim, as tensões sociais e conflitos no campo. Uma reforma agrária no País, moderada e sábia, será uma das causas principais do progresso nacional.

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