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Pós-graduação em Ciência Política da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo – FESPSP Turma 2012/2013 Aluno: Felipe Labruna – RA 0018534 A Reforma Agrária no Brasil sob aspectos jurídicos/legais: A Lei 4504/64, conhecida como Estatuto da Terra, conceituou a Reforma Agrária no Brasil como sendo um conjunto de ações com o intuito de efetuar a promoção da distribuição da terra, por meio de alterações no regime de sua posse e seu manejamento, com o intuito de incrementar sua produtividade e alcançar à justiça social. Apesar de a Reforma Agrária ter sido realizada em diversos países europeus no início do século XX, como Bulgária, Finlândia, ex-Tchecoslováquia, Iugoslávia, Alemanha, Áustria e Grécia, em nosso país a possibilidade de aplicação de uma reforma neste sentido se deu apenas com o advindo de alterações na Constituição Federal de 1946, através da Emenda n° 10, datada de 10 de Novembro de 1964. A partir de então, o procedimento adequado para serem realizadas desapropriações sofreu uma enorme evolução a respeito de seus desdobramentos temporais. Devido à Emenda nº 10, as vias processuais e todo o procedimento podiam persistir por mais de 10 anos. Entretanto, com a promulgação do Decreto-lei 554/69, foi criado um rito sumário para ações que envolvessem o tema, possibilitanto a imissão da posse para as entidades expropriantes, de maneira liminar. Todavia, sempre que fosse oferecida contestação pela parte desapropriada, o rito passava a ser o antigo (ordinário). Desde 1993, com o advento da Lei Complementar nº 76/93, foi estabelecido que em ações que envolvam Reforma Agrária, o rito será o sumário em sua totalidade, com duração processual restrita a no máximo 150 dias. A Reforma Agrária é abordada por nossa Constituição Federal atual em seus artigos 184, 185, 186, 187, 188, 189, 190 e 191. Afirmam eles: “CAPÍTULO III DA POLÍTICA AGRÍCOLA E FUNDIÁRIA E DA REFORMA AGRÁRIA Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. § 1º - As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro. § 2º - O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a União a propor a ação de desapropriação. § 3º - Cabe à lei complementar estabelecer procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o processo judicial de desapropriação. § 4º - O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da dívida agrária, assim como o montante de recursos para atender ao programa de reforma agrária no exercício. § 5º - São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária. Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; II - a propriedade produtiva. Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento dos requisitos relativos a sua função social. Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. Art. 187. A política agrícola será planejada e executada na forma da lei, com a participação efetiva do setor de produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais, bem como dos setores de comercialização, de armazenamento e de transportes, levando em conta, especialmente: I - os instrumentos creditícios e fiscais; II - os preços compatíveis com os custos de produção e a garantia de comercialização; III - o incentivo à pesquisa e à tecnologia; IV - a assistência técnica e extensão rural; V - o seguro agrícola; VI - o cooperativismo; VII - a eletrificação rural e irrigação; VIII - a habitação para o trabalhador rural. § 1º - Incluem-se no planejamento agrícola as atividades agro-industriais, agropecuárias, pesqueiras e florestais. § 2º - Serão compatibilizadas as ações de política agrícola e de reforma agrária. Art. 188. A destinação de terras públicas e devolutas será compatibilizada com a política agrícola e com o plano nacional de reforma agrária. § 1º - A alienação ou a concessão, a qualquer título, de terras públicas com área superior a dois mil e quinhentos hectares a pessoa física ou jurídica, ainda que por interposta pessoa, dependerá de prévia aprovação do Congresso Nacional. § 2º - Excetuam-se do disposto no parágrafo anterior as alienações ou as concessões de terras públicas para fins de reforma agrária. Art. 189. Os beneficiários da distribuição de imóveis rurais pela reforma agrária receberão títulos de domínio ou de concessão de uso, inegociáveis pelo prazo de dez anos. Parágrafo único. O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil, nos termos e condições previstos em lei. Art. 190. A lei regulará e limitará a aquisição ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa física ou jurídica estrangeira e estabelecerá os casos que dependerão de autorização do Congresso Nacional. Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.” Conforme muitos doutrinadores do Direito afirmam, o artigo 184 da Constituição Federal trata de uma “desapropriação sanção”. É chamada dessa maneira as desapropriações que são originadas por um não cumprimento, por parte do proprietário da terra, de seu dever social, que é o de tornar a terra produtiva. Por sua vez, os casos em que a terra precisa cumprir sua função social estão estabelecidos no artigo 186 da Carta Magna. A função social da terra é cumprida quando promove-se a preservação do meio ambiente, quando utilizam- se os recursos naturais disponíveis de maneira responsável, quando são observadas as normas legais e atos normativos que regulam as relações de trabalho e quando há a preocupação latente com o bem-estar de todos os trabalhadores. Não podem de maneira alguma ser desapropriados para fins de Reforma Agrária a propriedade produtiva (artigo 185 da Constituição Federal), o imóvel que comprovadamente é objeto de implantação de projeto técnico (Lei 8629/93, artigo 7º), a propriedade pública dos terrenos de marinha e seus acrescidos na orla oceânica e na faixa marginal dos rios federais; e a reserva à margem dos rios navegáveis (art. 26, da Lei 4504/64) e a pequena e média propriedade rural, não tendo o proprietário, neste caso, outra propriedade rural (segundo a lei 8.829/1993). Há dois tipos de desapropriação por interesse social: um deles é regulado pela lei 4132/1962 e possui caráter genérico, já o outro é próprio e específico para a Reforma Agrária, sendo tratado pela Lei Complementar 76/93 e pelas leis ordinárias 8629/1993 e 4504/1964. À medida que a Reforma Agrária apresenta rito sumário, possibilidade de imissão na posse do terreno em medidade liminar, competência privativa da União Federal para figurar no polo ativo e a possibilidade de indenização da terra nua em títulos da dívida agrária , tal divisão de desapropriações se mostrou muito importante. Segundo o artigo 15 da Lei 4504/64, são prioritárias para a desapropriação as zonas críticas ou sob tensão social. Identificadas estas áreas, o INCRA (autarquia federal com a incumbência de promover a colonização e Reforma Agrária) elabora planos de desapropriação, checando as viabilidades, conveniências e as consequências desta. O procedimento desapropriatório sob a finalidade de promover a Reforma Agrária possui três fases, sendo a primeira chamada de “declaratória” e que ocorre em prisma administrativo, a segunda é chamada de “executória” e é desenvolvida por meio de ações judiciais propostas ao Poder Judiciário e a terceira constitui-se na implementação dos planos de Reforma Agrária desenvolvidos, distribuindo-se administrativamente as propriedades expropriadas e assentando-se as famílias cadastradas. Os beneficiários da Reforma Agrária são escolhidos através de cadastro anterior realizado perante o INCRA, onde de acordo com o artigo 46, parágrafo 3º do Estatuto da Terra, se busca identificar, classificar e organizar todos os imóveis e terras que pertencem a um único proprietário. O mesmo artigo, em sem parágrafo 4º, determina que estes cadastros devem sofrer atualização a cada cinco anos. Para que as terras sejam distribuídas às famílias cadastradas, segundo o artigo 21 da Lei 8629/1993 são feitas concessões de uso (de maneira preferencial) ou entrega de títulos de domínio, que não podem ser negociados pelo período de dez anos. Para que se atinja a finalidade social das desapropriações promovidas pela Reforma Agrária, aqueles que se beneficiam dela são obrigados a cultivar a terra, por pelo menos dez anos, sob pena de resolução contratual, como prevê o artigo 22 da Lei 8629/1993. Através do ajuizamento da ação de desapropriação, inicia-se a fase executória, na comarca judiciária da localização do imóvel, conforme determina o artigo 18, parágrafo 4º, da Lei 4505/1964. Tal ação necessita ser proposta no prazo improrrogável de dois anos, contados do decreto desapropriatório expedido pela Presidência da República. Os prazos da ação própria para Reforma Agrária são taxativos e exíguos, em nome da celeridade processual. Ao receber a petição inicial do processo, o juiz possui apenas 48 horas para despachá-la, autorizando o depósito da indenização, a ser efetuado pelo INCRA a favor do proprietário desapropriado. Depois disso, o magistrado terá outras 48 horas para ordenar a imissão na posse do imóvel a favor do desapropriante (INCRA), em conformidade com o artigo 6º da Lei Complementar nº 76/93. O artigo 16 da Lei 8629/93 determina que os assentamentos são efetivados pela atuação da Diretoria de Assentamento do Incra, dentro de no máximo três anos do registrado de propriedade realizado pelo desapropriante.
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