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Livro_gestao_recursos_pesqueiros

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or se tratar da maior área de floresta tropical contínua do planeta,
a Amazônia desperta apaixonados debates sobre sua real vocação.
A busca de novas opções econômicas para a região fez emergir uma série de iniciativas
voltadas à utilização sustentável dos recursos naturais. Um sistema que combine
responsabilidades compartilhadas com limites claros no uso dos recursos pode tornar-
se a melhor opção.
Este livro aborda o desenvolvimento pesqueiro na Amazônia, narrando conflitos
históricos de pesca e sobrexplotação de estoques pesqueiros levando o leitor à
compreensão dos elementos que compõe o processo participativo de gestão, mediação
de conflitos, acordo de pesca e mecanismos de controle. Neste sentido, o ordenamento
pesqueiro se apresenta com o objetivo de desenvolver mecanismos para o uso sustentável
dos recursos pesqueiros adequados à realidade regional, de forma a equacionar os
conflitos causados pela apropriação destes recursos. A competência e a responsabilidade
pelo ordenamento são do Poder Público. No entanto, a própria sociedade também é
co-responsável pelo ordenamento pesqueiro. Afinal, é ela que em ações diárias pode
ameaçar ou zelar pelo equilíbrio dos estoques pesqueiros. O autor descreve de forma
prática o conteúdo dos capítulos, apesar da complexidade do tema, com base em sua
ampla experiência sobre a atividade pesqueira no Amazonas e gerenciamento de projetos.
O Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea – ProVárzea executado pelo
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama,
tem direcionado esforços no sentido de estabelecer uma política que possibilite a
realização e a organização do processo de gestão com a sociedade, através do
compartilhamento de responsabilidades.
Livro_recursos_pesqueiros_capa.pmd 13/7/2005, 13:381
Anexos
121
Livro_recursos_pesqueiros.pmd 13/7/2005, 15:08121
Black
Gestão do Uso
dos Recursos Pesqueiros
na Amazônia
Livro_recursos_pesqueiros.pmd 14/7/2005, 08:161
Ministério do Meio Ambiente - MMA
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
 dos Recursos Naturais Renováveis
Diretoria de Fauna e
 Recursos Pesqueiros - Difap
Coordenação Geral de Gestão
dos Recursos Pesqueiros - CGREP
Marina Silva
Marcus Luiz Barroso Barros
Rômulo José Fernandes Barreto Melo
José Dias Neto
•
•
•
•
Livro_recursos_pesqueiros.pmd 14/7/2005, 08:162
Gestão do Uso
dos Recursos Pesqueiros
na Amazônia
Mauro Luis Ruffino
Manaus • 2005
Ministério do Meio Ambiente
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
Livro_recursos_pesqueiros.pmd 14/7/2005, 08:163
Catalogação na fonte
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
 R923g Ruffino, Mauro Luis
Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia / Mauro Luis
Ruffino. – Manaus: Ibama, 2005.
135p. ; 23 cm.
Bibliográfica
ISBN 85-7300-188-7
1. Recursos pesqueiros. 2. Gestão. 3. Amazônia. I. Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. II. Título.
CDmU (2.ed.) 639.2.053
Colaboração
Projeto Gráfico e Diagramação
Revisão
Fotos
Normalização Bibliográfica
José Dias Neto
Maria Nilda Leite
Mirian Carvalho
Sara Quízia Mota
Fábio Sian Martins
Enrique Calaf Calaf
Nara Albuquerque
Banco de Imagens ProVárzea/L. C. Marigo
Helionídia C. Oliveira
•
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•
Livro_recursos_pesqueiros.pmd 14/7/2005, 08:164
Sumário
APRESENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
CAPÍTULO 1 • Panorama do ordenamento da pesca
continental na Amazônia Legal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Em busca da pesca sustentável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Conceitos norteadores no manejo convencional da pesca . . . . . . . . . 10
CAPÍTULO 2 • O desenvolvimento pesqueiro na Amazônia . . 13
Período anterior à década de 1960 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Período entre 1960 e 1988 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Após 1989 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
CAPÍTULO 3 • A crise do peixe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Conflitos de pesca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Modificações nos ecossistemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Sobrexplotação dos estoques . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
CAPÍTULO 4 • Elementos da gestão dos recursos aquáticos . . . 27
Questões sobre manejo comunitário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Modelo de reserva de lagos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Mediação entre atores sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Potencial e riscos da pesca amadora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
CAPÍTULO 5 • Ordenamento pesqueiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Linhas de ação para o ordenamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Diretrizes estratégicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Como se faz ordenamento pesqueiro? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Parcerias para um ordenamento eficaz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Organização social e ordenamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Atores do ordenamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Organizações de base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Entidades de pesca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Entidades envolvidas com o turismo e a pesca amadora . . . . . . . . . . 46
Estado e consumidor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Livro_recursos_pesqueiros.pmd 14/7/2005, 08:165
Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
6
CAPÍTULO 6 • O Ibama e a gestão da pesca . . . . . . . . . . . . . . . 49
Princípios estratégicos da gestão dos recursos pesqueiros . . . . . . . . . 50
Papel das Gerências Executivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Embasamento técnico-científico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Participação dos envolvidos/interessados nos recursos . . . . . . . . . . . 53
Formação do processo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Missão do técnico: facilitar o processo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
CAPÍTULO 7 • Mecanismos de controle . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Limite ao livre acesso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Artes e métodos de pesca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Registros e licenças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Embarcações Pesqueiras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
CAPÍTULO 8 • Gestão participativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Acordos de Pesca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Passo a passo para a elaboração de um acordo de pesca . . . . . . . . . . 68
Critérios para legalizar acordos de pesca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Regras de pesca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
Conselhos de Pesca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Incentivos de mercado, com a certificação e o ecoturismo . . . . . . . . 73
Fiscalização participativa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Agente Ambiental Voluntário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
Diretrizes para a atuação do Agente Ambiental Voluntário . . . . . . . . 75
Guia de Pesca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
CAPÍTULO 9 • Legislação pesqueira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Competências para legislar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Legislando sobre bacias hidrográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Conflito de competências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
A iniciativa de criar leis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
Instrumentos legais que regem o ordenamento pesqueiro . . . . . . . . . 81
Medidas de ordenamento vigentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
Modalidades de pescadores e registros necessários . . . . . . . . . . . . . . . 86
Ação Civil Pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
Quem pode mover uma ação civil pública? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
Conceituação jurídica de meio ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
O direito de associação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
ANEXO 1 • Espécies de interesse comercial da Amazônia . . . 103
ANEXO 2 • Espécies amazônicas de interesse da pesca amadora . . 105
ANEXO 3 • Espécies sobrexplotadas da Amazônia . . . . . . . . 107
ANEXO 4 • A pesca amadora e os pólos de ecoturismo . . . . 115
Livro_recursos_pesqueiros.pmd 14/7/2005, 08:166
7
O Brasil é privilegiado em termos de disponibilidade derecurso naturais. No entanto, essa disponibilidade seapresenta de forma muito variada, no espaço e no tempo,
nas diferentes regiões do país.
A manutenção das situações de abundância ou de reversão de
quadros de escassez, exige a adoção de medidas, planos, ações e
princípios norteadores para que se processe uma gestão que permita
aos diferentes segmentos da sociedade o direito ao uso dos recursos
naturais de forma justa e responsável.
Nesse aspecto, a pesca continental brasileira, especialmente a ocorrente
na Amazônia Legal, apresenta-se hoje com um elevado nível de
complexidade, exigindo um esforço conjunto e interativo de diferentes
atores sociais no sentido de que sejam estabelecidas com clareza as
regras para operacionalização de uma gestão integrada com instrumentos
de controle e estratégias de aplicação muito bem definidas.
O maior desafio é o de garantir acesso para todos, em especial
para as populações excluídas e, ao mesmo tempo, manter a
disponibilidade dos recursos pesqueiros em quantidade e qualidade
para as presentes e futuras gerações.
Apresentação
Livro_recursos_pesqueiros.pmd 14/7/2005, 08:167
Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
8
Para que consigamos atingir esse nível de desenvolvimento,
o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis – Ibama – tem dispensado toda sua energia e direcionado
todo seu esforço no sentido de estabelecer uma política que
possibilite a realização de uma gestão que mantenha um canal
de comunicação permanentemente aberto, de forma que a realização
e a organização do processo de gestão ocorra com a sociedade,
através do compartilhamento de responsabilidades. A participação,
o envolvimento e a legitimação das medidas de controle exige
não só a presença e o aval dos segmentos sociais mas, acima de
tudo o conhecimento através do acesso a informações em base
de dados confiáveis.
A publicação do documento Gestão do Uso dos Recursos
Pesqueiros na Amazônia, especialmente na forma como são tratados
os temas e a profundidade de conteúdo de cada um, nos dá a
certeza de que se constituirá em elemento básico, que poderá
contribuir para um avanço significativo no fortalecimento do
Programa de Pesca Continental – Gerenciamento por Bacias
Hidrográficas – desenvolvido pelo Ibama, considerando que traz
em seu bojo um conjunto de informações que são de fundamental
importância para manutenção de uma relação aberta, lúcida e
responsável entre o poder público (gestor) e a sociedade (usuária)
dos recursos pesqueiros nas mais variadas formas.
José Dias Neto
Coordenador Geral de Gestão
dos Recursos Pesqueiros - Ibama
Livro_recursos_pesqueiros.pmd 14/7/2005, 08:168
9
Panorama do
ordenamento
da pesca
continental
na Amazônia Legal
Omodelo de desenvolvimento pesqueiro, concebido nadécada de 1960 e desenvolvido até o final da décadade 1980 pela Superintendência do Desenvolvimento
da Pesca – Sudepe, buscava principalmente o aumento da produção.
A pesca era vista de forma setorial, desconsiderando-se os fatores
sociais, culturais e ambientais que interagem para o seu
desenvolvimento.
Com a criação do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, as questões ambientais
foram internalizadas no gerenciamento do uso dos recursos naturais.
Ao mesmo tempo, passou-se a buscar modelos de gerenciamento
voltados à gestão integrada das várias atividades atuantes sobre
determinado ecossistema.
Em busca da pesca sustentável
Nesse novo panorama, foi criado o Programa de Pesca
Continental/Gerenciamento por Bacias Hidrográficas, pelo Ibama.
Desenvolvido a partir de 1990, o Programa surgiu com a finalidade
de buscar a sustentabilidade da atividade pesqueira continental.
Livro_recursos_pesqueiros.pmd 14/7/2005, 08:169
Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
10
Nos primeiros anos de implementação do Programa não havia
clareza sobre quais instrumentos e estratégias seriam mais adequados
para operacionalizar a gestão integrada. Portanto, as ações se
concentraram, num primeiro momento, em reorganizar a
regulamentação da pesca.
No decorrer do processo, identificou-se a necessidade de maior
participação dos diferentes órgãos e instituições federais, estaduais
e municipais ligados à atividade, assim como de organizações
da sociedade civil interessadas na pesca, visando incluí-las na
tomada de decisão.
A pesca continental apresenta
hoje grande complexidade e exige
a interação de diferentes atores
sociais. Num país com as dimensões
do Brasil, as diferentes modalidades
de pesca – de subsistência, comercial
e esportiva – coexistem em diferentes
culturas, ecossistemas e sistemas
sociais. Isto provoca freqüentes
conflitos motivados por interesses
divergentes quanto ao acesso aos
recursos naturais, o que exige
efetividade na mediação do Estado.
Um expressivo resultado da implementação do Programa de
Ordenamento Pesqueiro por Bacias Hidrográficas foi o envolvimento
de instituições regionais capazes de contribuir e assumir responsabilidades
na formulação e implementação de políticas para cada bacia.
Conceitos norteadores no
manejo convencional da pesca
Em termos dos conceitos adotados, várias questões devem
ser avaliadas. O modelo convencional para o manejo da pesca
no Brasil baseou-se em três suposições básicas:
Um expressivo resultado
da implementação do Programa
 de Ordenamento Pesqueiro
por Bacias Hidrográficas
foi o envolvimento de instituições
regionais capazes de contribuir
e assumir responsabilidades na
formulação e implementação de
políticas para cada bacia.
Livro_recursos_pesqueiros.pmd 14/7/2005, 08:1610
Panorama do ordenamento da pesca continental na Amazônia Legal
11
• os recursos pesqueiros são de domínio da União e devem
ser acessíveis a qualquer cidadão;
• os grupos de usuários não são capazes de manejar os
recursos sem a supervisão e o controle do Estado; e
• o rendimento máximo sustentável de cada recurso
podeser estimado por meio de métodos científicos.
Tais suposições têm, no entanto, se mostrado problemáticas,
porque:
• o Estado não tem sido capaz de regular efetivamente a
pesca regional. O sistema se transforma em livre acesso de
fato, o que significa, neste caso, “sem controle”;
• muitas das agências governamentais afirmam que os pescadores
são incapazes de controlar a pressão e conservar os recursos
sem explorá-los de forma excessiva (McGoodwin, 1990).
Entretanto, algumas experiências revelam o contrário. As
comunidades de pescadores da várzea amazônica, por exemplo,
possuem baixo número de habitantes e forte controle social.
Isto pode facilitar o desenvolvimento do manejo comunitário,
pois os pescadores tendem a exercer um monitoramento
mútuo, que é uma das condições básicas para o sucesso
dessas iniciativas (Pirkerton, 1989). Um sistema que combine
responsabilidades compartilhadas com limites claros no
uso dos recursos pode tornar-se a melhor opção;
• a complexidade da pesca dificulta estimar qual o rendimento
ótimo ou sustentável da atividade pesqueira. Os métodos
clássicos para realizar essas estimativas são marcados por
incertezas. Há grande dificuldade em se considerar a
variabilidade dos fenômenos naturais e sociais. Além disso,
os métodos existentes foram desenvolvidos principalmente
para sistemas de pescarias em águas temperadas;
• as estratégias do manejo convencional concentram-se sobre
o estoque de peixes e em sua capacidade de regeneração
depois da captura. Baseiam-se em taxas de crescimento e
Livro_recursos_pesqueiros.pmd 14/7/2005, 08:1611
Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
12
mortalidade para calibrar as estimativas. Entretanto, a
preservação dos ecossistemas também é um fator importante.
Peixes de água doce são extremamente sensíveis às modificações
do ambiente (Welcomme, 1985).
No desenvolvimento de uma nova perspectiva de manejo,
o ambiente, os peixes e os pescadores deverão ser considerados
como uma unidade, cuja integração constitui um elemento
fundamental para a manutenção do recurso.
Livro_recursos_pesqueiros.pmd 14/7/2005, 08:1612
O desenvolvimento pesqueiro na Amazônia
13
O desenvolvimento
pesqueiro
na Amazônia
No desenvolvimento da atividade pesqueira na Amazôniae das ações do Estado para incentivá-la distinguem-seclaramente três períodos: antes da década de 1960, os
anos entre 1960 e 1988 e o período posterior a 1989.
Período anterior à década de 1960
A atividade pesqueira é praticada pelos habitantes da Amazônia
desde o período pré-colombiano. Há registros das diversas
modalidades de pesca e do comércio de produtos, como tartarugas
e pirarucus, nos grandes centros da região desde o fim do século
XIX (Veríssimo,1895).
Com a colonização européia, as várzeas dos rios foram habitadas
por “caboclos”, que nelas praticavam suas atividades de subsistência
e/ou econômicas. Tradicionalmente, a pesca funciona como uma
atividade complementar, integrada às demais atividades da economia
familiar. Em pequenas roças, os caboclos plantam mandioca,
milho, arroz, feijão ou frutas. Ainda hoje mantêm essa prática e
complementam a atividade agrícola com a caça, a criação de
pequenos animais e a pesca.
Livro_recursos_pesqueiros.pmd 14/7/2005, 08:1613
Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
14
Os lagos e as áreas alagadas nas imediações das moradias
constituem os principais pesqueiros. Antigamente pescava-
se com anzol, arpão, curral ou arco e flecha, sendo raro o
uso de redes ou tarrafas (Veríssimo, 1895; Mendes, 1938).
No fim da década de 1930, a colonização japonesa introduziu
o cultivo de juta que, juntamente com a borracha, tornou-se
uma importante atividade econômica (Diegues, 1992). Entretanto,
a partir da metade do século 20, com a crise dessas duas culturas,
a pesca transformou-se para muitos em atividade profissional
permanente ou prioritária.
A decadência dos demais
recursos tradicionais, juntamente
com o aumento da demanda
urbana de pescado, devido ao
crescimento demográfico, foram
as causas sócioeconômicas da
transformação que se verificou
nas décadas seguintes.
Da época colonial até a década
de 1910 verifica-se a preocupação
das autoridades em preservar os
recursos e evitar o uso de técnicas
predatórias de pesca por intermédio de várias normas com caráter
de lei. Nesse período, que poderia ser chamado de “pré-legislativo”,
destacam-se dispositivos que proibiam a pesca com venenos,
tapagens e currais de pesca em rios e lagos (Torres et al., 1995).
As comunidades ribeirinhas mantinham normas de controle
da exploração dos recursos aquáticos, as quais faziam parte da
sua tradição (Furtado, 1988).
Até 1912, as leis eram promulgadas pelas municipalidades. A
partir daquele ano, o Governo federal criou a Inspetoria Federal
de Pesca, subordinada ao Ministério da Agricultura, que
passou a centralizar esta atividade. Entre 1912 e 1932,
Nesse período “pré-legislativo”
destacam-se dispositivos que
proibiam a pesca com venenos,
“tapagens” e currais de pesca nos
rios e lagos. As comunidades
ribeirinhas mantinham normas
tradicionais para o controle da
exploração dos recursos aquáticos.
Livro_recursos_pesqueiros.pmd 14/7/2005, 08:1614
O desenvolvimento pesqueiro na Amazônia
15
apareceram outros atos legais dentro do marco conceitual
dos anos anteriores (Mello, 1985).
O período entre 1933 e 1961 caracterizou-se pelo início
da tecnificação do setor pesqueiro. Este passou a ser controlado
pela Inspetoria de Caça e Pesca, do Ministério da Agricultura,
que foi depois denominada Divisão de Caça e Pesca e subordinada
ao Departamento de Produção Animal.
Em 1953, o governo federal criou a Superintendência do Plano
de Valorização da Amazônia – SPVEA, entidade que, entre outros
objetivos, buscava transformar o sistema tradicional de pesca
praticado pelas populações ribeirinhas em uma atividade de caráter
nacional e de alta produtividade (Meschkat, 1959). Para tal, firmaram-
se convênios com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura
e a Alimentação – FAO e a Organização das Nações Unidas para
Educação, Ciência e Cultura – Unesco, para a implementação
dos primeiros estudos científicos sobre a pesca e o potencial das
espécies mais capturadas.
Período entre 1960 e 1988
Até o início da década de 1960 a Amazônia era uma região
geográfica e economicamente isolada. A abertura de estradas,
como a Belém-Brasília, e a implantação, pelo governo militar,
do programa “Operação Amazônica” estimulou um novo processo
de colonização. As ações visando ao “desenvolvimento econômico”
regional incluíam a construção de vias de comunicação, a
urbanização ao longo das principais rodovias, a ocupação
militar de fronteiras e um programa de incentivos fiscais e
de linhas de crédito que atraiu capitais nacionais e internacionais
para a região (Kitamura, 1994).
Coincidentemente, nessa época (1962) é criada a Superintendente
do Desenvolvimento da Pesca – Sudepe, que institucionaliza a
atividade pesqueira em todo o país. Esta instituição ficou encarregada
de formular, executar e coordenar a política e as ações de pesquisa
e ordenamento da exploração pesqueira na plataforma submarina,
Livro_recursos_pesqueiros.pmd 14/7/2005, 08:1615
Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
16
nas águas do mar territorial e nas águas continentais do Brasil.
Sua atuação permitiu consolidar as bases do até então incipiente
segmento industrial da pesca.
O crescimento destas atividade na Amazônia se insere
em um processo nacional, iniciado pelo Estado, que respondeu
a políticas e estratégias desenvolvimentistas idealizadas para
a região. O modelo adotado baseou-se em incentivos a
grandes empresas. Assim, transferiram-se volumes consideráveis
de recursos financeiros dos cofres públicos para grupos
econômicos privados. Como resultado,nas décadas seguintes
aprofundaram-se as desigualdades quanto ao acesso e ao
uso dos recursos naturais na região.
O período entre 1960 e 1988 caracteriza-se como uma
etapa de significativo crescimento e expansão de todas as
atividades produtivas na Amazônia. Apesar de não ser dirigida
prioritariamente para a pesca, essa política promoveu
significativas mudanças na atividade pesqueira.
É neste contexto histórico que surge a Lei Federal no° 5.174,
de outubro de 1966, que concedeu incentivo fiscal a
empreendimentos na jurisdição da Superintendência do
Desenvolvimento da Amazônia – Sudam, e o Decreto-Lei Federal
no° 221, 28 de fevereiro de 1967, que dispunha sobre a “Proteção
e Estímulo à Pesca e outras Providências”. Esta última visava
incentivar, por meio de benefícios fiscais, a estruturação da
indústria pesqueira, cujo crescimento estava defasado em comparação
com outros setores da economia nacional.
As empresas de pesca conseguiram os seguintes benefícios:
• isenção de impostos sobre importação e de taxas
aduaneiras para os materiais utilizados na captura,
no processamento e na comercialização do pescado;
• isenção de impostos e taxas federais sobre a venda de
pescado destinado ao consumo interno e à exportação;
• dedução do imposto de renda para investimentos em
projetos de pesca (Brito et al., 1975).
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O desenvolvimento pesqueiro na Amazônia
17
A Constituição de 1969 isentou de pagamento do Imposto
sobre Circulação de Mercadotia (ICM) o pescado beneficiado
e destinado ao mercado externo. Esses incentivos fiscais eram
administrados pela Sudam, por meio do Banco da Amazônia
S. A. – Basa, e pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento
Florestal – IBDF, por meio do Banco do Brasil.
Movidos pelos incentivos, vários empresários estrangeiros
ou oriundos do centro-sul do Brasil instalaram-se na Amazônia.
Nos arredores de Belém
surgiram as primeiras
empresas de pesca industrial.
O número de barcos com
grande poder de pesca
cresceu vertiginosamen-
te sem que qualquer
restrição fosse colocada. Na
década de 1970, mais de cem
barcos de pesca industrial
operavam no estuário do
rio Amazonas na pesca da
piramutaba (Brachypla-
tystoma vaillantii) e do
camarão (Penaeus spp.)
(Penner, 1984).
Na mesma época, no interior da Amazônia, a introdução dos
motores a diesel e das fibras de náilon monofilamento para as
redes de emalhar, assim como a instalação de frigoríficos, deram
o suporte técnico que faltava para uma mudança qualitativa no
poder de pesca.
Surge pela primeira vez a figura do pescador profissional itinerante,
que pesca de forma permanente em lugares distantes da sua moradia
e vende o seu peixe em frigoríficos e mercados dos centros urbanos.
Enquanto as inovações tecnológicas aumentaram a produtividade da
pesca, o crescimento do mercado urbano e a expansão dos frigoríficos
permitiram absorver o excedente de produção assim gerado (McGrath
et al., 1993).
O modelo de crescimento da pesca
na Amazônia, promovido pelo
regime militar agravou os conflitos
sociais entre grupos com diferentes
capacidades de exploração e
provocou o rápido esgotamento dos
recursos pesqueiros.
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Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
18
O modelo de crescimento econômico adotado pelo governo militar
acarretou grandes custos ao país, tanto em termos de agravamento
dos conflitos sociais entre grupos com diferentes capacidades de exploração
(ex: pescador artesanal x pescador industrial), como do ponto de
vista ambiental, com o rápido esgotamento dos recursos naturais.
Na segunda metade da década de 1980 estes incentivos fiscais
perderam a sua validade e não foram renovados. Os erros de
planejamento levaram o país a uma situação insustentável do
ponto de vista financeiro. Não era mais possível arcar com isenções.
Justamente nesse período começaram a ser observadas quedas
significativas nas capturas de alguns estoques de peixes
tradicionalmente explorados.
A captura da pesca industrial da piramutaba no estuário, que
atingiu 20 mil toneladas em 1977, caiu para 15 mil toneladas
em 1987, chegando às 10 mil toneladas (Torres et al., 1995). Nas
águas continentais, os desembarques em Manaus demonstram
uma tendência similar para as espécies mais exploradas
comercialmente. Os volumes de pirarucu (Arapaima gigas) caíram
de 1.140 toneladas em 1979, para 364 toneladas em 1986. Atualmente,
o pirarucu no estado do Amazonas encontra-se com sua pesca
proibida por 5 anos. O tambaqui (Colossoma macropomum),
que representava 45% do pescado desembarcado nesse porto em
1976, perde importância, passando para menos de 10% do total
em peso em 1982 (Sudepe, 1988).
No fim desse período surgiram regulamentações que pretendiam
controlar a atividade pesqueira no interior e no estuário, delimitando
o esforço pesqueiro, tipos de aparelhos permitidos, malhas, áreas
de pesca, épocas de defeso, tamanho mínimo de captura e até
cotas de captura (estas somente para a piramutaba).
Após 1989
Os últimos anos do século XX marcam uma nova configuração
nas forças econômicas atuantes na Amazônia. Ao mesmo tempo
em que se consolida a ocupação humana e cresce o desmatamento,
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O desenvolvimento pesqueiro na Amazônia
19
a concentração urbana e a degradação de ecossistemas, inicia-se
um amplo debate nacional e internacional sobre o tipo de
desenvolvimento que se pretende para essa região.
Por se tratar da maior área de floresta tropical contínua do
planeta, a Amazônia desperta apaixonados debates sobre sua
real vocação, um processo que se intensificou após o assassinato
do líder extrativista Chico Mendes. A busca de novas opções
econômicas para a região fez emergir uma série de iniciativas
voltadas à utilização sustentável dos recursos naturais.
O ano de 1989 representou um marco no desenvolvimento
da atividade pesqueira no país. Com a extinção da Sudepe e a
criação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis – Ibama, o governo demonstra uma nova
filosofia na gestão e no manejo dos recursos pesqueiros.
A criação do Ibama traduziu o anseio do Estado em tratar de
forma unificada a proteção do meio ambiente e o uso dos seus
recursos naturais. Em relação à pesca, isso representou a incorporação
do conceito de que para evitar o colapso dos recursos pesqueiros
faz-se necessária uma visão integrada do meio ambiente que seja
norteada para:
• o uso sustentado dos recursos;
• a economicidade dos empreendimentos; e
• a justiça social.
É neste contexto que se insere o ecoturismo e a pesca
esportiva como opções econômicas não predatórias dos recursos
aquáticos. De forma ainda incipiente, já que as políticas
públicas não mais comportam os incentivos fiscais que
caracterizaram as décadas anteriores, a pesca esportiva começa
a interagir com as demais modalidades de pesca na região.
Por ser uma atividade que necessita da integridade dos
ecossistemas para sua sobrevivência, torna-se uma potencial
aliada de outras iniciativas que visam o desenvolvimento
sustentável.
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Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
20
Ainda que não seja posta na prática de forma suficiente, esta filosofia
constitui, hoje em dia, o discurso das autoridades nacionais e regionais.
Com a criação do Ibama surgiram modelos de gerenciamento
que buscam gerir de forma integrada as várias atividades atuantes
sobre determinado ecossistema. Nesse contexto se insere o Programa
de Pesca Continental / Gerenciamento por Bacias Hidrográficas.
A partir de 1993, foram desenvolvidos mecanismos gerenciais
(fóruns de discussão, incentivos à participação, integração intra-
institucional, contextualização
inter-setorial da pesca), que
possibilitaram iniciara gestão
integrada. Tal estratégia fortaleceu-
se a partir de 1995, com o
estabelecimento, pelo governo
federal, de diretrizes claras sobre
gestão integrada e da reorganização
institucional desenvolvida pelo
Ibama e que teve forte contribuição
das experiências do projeto de
cooperação técnica entre o Ibama
e a Agência de Cooperação Técnica
Alemã - GTZ, através do Projeto
Iara (Ibama, 1995).
Ao lado disso, uma série de
iniciativas, como o Programa de
Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal – Proecotur, o
Programa Nacional de Desenvolvimento da Pesca Amadora – PNDPA,
e o Programa Piloto de Proteção das Florestas Tropicais do Brasil –
PPG7, especialmente por meio de um dos seus projetos, o Projeto
Manejo dos Recursos Naturais da Várzea - ProVárzea, constituem
reforços à iniciativa de trazer sustentabilidade para a pesca na região,
por meio de incentivo a ações e à participação da sociedade civil
neste processo.
De forma ainda incipiente,
a pesca esportiva começa a
interagir com as demais
modalidades de pesca na região.
Por ser uma atividade que necessita
da integridade dos ecossistemas
para sua sobrevivência, torna-se
 uma potencial aliada de outras
iniciativas que visam ao
desenvolvimento sustentável.
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A crise do peixe
21
A crise do peixe
Oprocesso tradicional de ordenamento pesqueiro apresentaevidências de insucesso em todo o mundo. Segundoa FAO, 75% dos estoques pesqueiros marinhos,
comercialmente importantes do mundo, encontram-se inteiramente
sobrexplorados, esgotados ou em fase de lenta recuperação.
Em quase todos os lugares, a pesca, que sustentou comunidades
por gerações, tem sofrido acentuado declínio, levando à exaustão
dos estoques e até mesmo a extinção de espécies comerciais,
como o bacalhau do Atlântico, por exemplo.
No Brasil, pode-se afirmar que o ordenamento das principais
pescarias tem sido marcado por muitos insucessos. Como principais
causas, pode-se citar:
• o princípio do “livre acesso”, que sempre caracterizou a
utilização dos estoques pesqueiros e que contribui para
dificultar a efetiva aplicação das medidas de regulamentação;
• medidas baseadas no enfoque puramente biológico, que não
levam em conta, de forma suficiente, os aspectos econômicos
da atividade pesqueira e socioculturais das comunidades envolvidas;
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Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
22
• a busca do maior rendimento econômico possível das pescarias,
que levou o governo a incentivar o desenvolvimento tecnológico
e a expansão das frotas, sem considerar a forma de distribuição
dos benefícios gerados pela atividade.
Na Amazônia a história não é muito diferente. O manejo
da pesca tem sido altamente ineficiente, não apenas pela sua
forma de implementação, mas, sobretudo, por problemas
conceituais. O governo federal concentra sob sua responsabilidade
todos os aspectos do manejo:
desde a elaboração até a
implementação das medidas, o
que inclui a definição dos
objetivos da regulamentação, a
instituição de leis, decretos,
portarias, e o monitoramento
dos estoques.
Obviamente, as agências gover-
namentais não têm pessoal nem
recursos financeiros suficientes
para executar todas essas tarefas.
Este modelo tecnocrata mostra-
se, portanto, particular-mente
ineficaz para forçar complacência e assegurar o controle do manejo
da pesca na Amazônia.
Os últimos anos caracterizaram-se também pelo aparecimento
ou intensificação de três sintomas de distorções no manejo dos
recursos pesqueiros na Amazônia:
• agravamento dos conflitos sociais entre categorias de pescadores;
• sérias modificações do hábitat e da paisagem; e
• sobrexplotação de alguns estoques de peixes.
Conflitos de pesca
Como conseqüência do declínio na produtividade pesqueira
e da falta de credibilidade governamental na regulamentação da
pesca, proliferam conflitos de pesca na bacia amazônica. A chamada
As agências governamentais
nem têm pessoal nem recursos
financeiros suficientes para executar
todas as tarefas referentes ao
ordenamento da pesca. Este modelo
mostra-se, portanto, ineficaz.
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A crise do peixe
23
“guerra do peixe”, denominação dada na década de 1970 aos
conflitos no lago Janauacá, próximo a Manaus (Goulding, 1983),
pode ser configurada de maneira genérica como o conjunto de
litígios pelo uso dos recursos pesqueiros.
Conflitos de pesca ocorrem, historicamente, em qualquer
região onde a pesca tem importância e potencial suficientes
para gerar demanda de usos múltiplos. Na Amazônia
brasileira, os principais conflitos detectados até hoje
dizem respeito ao afloramento dos interesses provenientes
dos diferentes usos imprimidos pela pesca amadora e
profissional. Ora, se de um lado os pescadores profissionais
reivindicam o direito de exploração do recurso que
tradicionalmente atende às suas necessidades, do qual
eles dependem para sua sobrevivência , de outros os
pescadores amadores argumentam que o convívio das
duas modalidades torna-se mais difícil na medida em
que os pescadores profissionais, utilizando de petrechos
mais eficientes (entenda-se redes), retiram dos ambientes
os espécimes mais desejados pelo pescador amador, os
grandes peixes.
Os conflitos da pesca envolvem confrontações verbais, queima
de equipamentos, apreensão de embarcações, violência pessoal
e até uso de armas. A maioria deles tem lugar nos lagos de
várzea, também conhecidos como “lagos da confusão” (Furtado,
1993). Os principais atores são, de um lado, os ribeirinhos,
pescadores das comunidades localizadas nos lagos e, de outro,
os pescadores itinerantes, denominados “pescadores de fora”
ou “invasores”, provenientes de outros locais e que desejam
pescar em águas consideradas comunitárias.
Como resposta a essa situação, e para defender o que consideram
sua propriedade, muitas comunidades da várzea desenvolveram
e implementaram sistemas de manejo próprios, como forma
de reduzir ou controlar a pressão sobre os recursos pesqueiros.
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Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
24
Também ocorrem problemas nos lagos ou em corpos d’água
localizados em terrenos particulares. Muitos proprietários, geralmente
fazendeiros, proíbem o acesso aos que têm direito de exploração.
Além disso, ocorrem litígios entre pescadores comerciais
(monovalentes) e pescadores de subsistência (polivalentes), entre
criadores de búfalos e pescadores, e entre moradores vizinhos.
No entanto, hoje em dia os órgãos e entidades envolvidas na gestão
da pesca entendem que tal convívio se faz possível à medida que
mecanismos de participação efetiva de todos os segmentos beneficiados
pela exploração dos recursos pesqueiros de uma região são implementados
nos fóruns de administração da atividade, garantindo a democratização
do uso dos recursos com regras claras e justas para todos.
Modificações nos ecossistemas
As severas modificações do ecossistema, consequências das grandes
intervenções humanas na região, também são responsáveis por causar
graves problemas à fauna íctíca e à atividade pesqueira. Entre estas,
destacam-se:
• a construção de hidrelétricas, as quais alteram o regime de
inundações periódicas das várzeas dos rios e impedem as migrações
reprodutivas;
• o garimpo causa assoreamento e lança mercúrio nas águas.
Este se acumula nos peixes, particularmente naqueles que
se alimentam de outros peixes (dourada, surubim, filhote,
tucunaré);
• o desmatamento produzido para comercialização da madeira
e para grandes projetos agropecuários; acarretando a
destruição dos hábitats, refúgios e alimentos para os
peixes.
Muitos autores argumentam que esses impactos, oriundo da
atividadehumana, têm um efeito mais devastador do que a própria
atividade pesqueira.
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A crise do peixe
25
Sobre explotação dos estoques
Os resultados da avaliação de estoques convencionais realizados
nos últimos anos indicam que espécies grandes e de baixo crescimento,
tais como tambaqui, caparari, dourada, piramutaba e, muito provavelmente,
o pirarucu estão sobreexplotados. Por outro lado, espécies com estratégias
de vida mais oportunistas, como a pescada, têm sua maior ou menor
ocorrência determinada por fatores ambientais, tais como velocidade
e intensidade das inundações (Isaac et al., 1998a);
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Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
26
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Elementos da gestão dos recursos aquáticos
27
Elementos
da gestão
dos recursos
aquáticos
Há pouca informação científica disponível sobre a pesca,especialmente na Amazônia. Apenas nos últimos 10anos, os projetos de pesquisa começaram a gerar dados
sistemáticos sobre captura, esforço e biologia de alguns estoques
de peixes, bem como sobre aspectos sociais e econômicos dos
conflitos que ocorrem nos diversos sistemas de pesca.
Esse tipo de informação vem proporcionando a base para
que se formulem novas estratégias de manejo. Ao mesmo tempo,
as regulamentações pesqueiras existentes têm sido minimamente
executadas. Em geral, estas se baseiam em suposições e consistem
em esforços isolados e esporádicos de agências de governos regionais.
Ao mesmo tempo, a política pesqueira governamental
está começando a mudar, passando de um enfoque tecnocrata,
que tem caracterizado a política pesqueira brasileira dos
últimos anos, para uma abordagem descentralizada e
participativa. Como conseqüência, os movimentos de base
estão se expandindo, para dar suporte ao manejo comunitário.
Evidentemente, trata-se de uma difícil tarefa, de implantar medidas
destinadas a regular a pesca amazônica. Entretanto, existe consenso
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Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
28
em torno da idéia de que qualquer medida de manejo apenas terá
sucesso se for criada e implementada pelo governo e se tiver a participação
ativa daqueles que utilizam os recursos. A falta de participação dos
usuários no planejamento e no monitoramento do manejo, em geral
feito pelo Estado, tem sido o principal fator responsável pelo desrespeito
às regulamentações.
Questões sobre manejo comunitário
Iniciativas de manejo comunitário são uma resposta à falta de participação
no processo formal. Por meio dos acordos de pesca, a sociedade civil
desenvolve uma alternativa ao modelo de manejo convencional e, ao
mesmo tempo, regula a atividade pesqueira direcionada aos objetivos do
manejo comunitário. Mas, apesar de consideravelmente promissor, o
regime de manejo proposto pelas comunidades ribeirinhas ainda se defronta
com alguns aspectos críticos de natureza prática e conceitual.
Com relação aos aspectos práticos, surgem questões como:
• restrições quanto a artes de pesca, área e época do ano são
suficientes para garantir o manejo eficaz dos recursos pesqueiros?
• é necessário restringir o esforço de pesca, limitando os
direitos de uso a um número restrito de pescadores? Neste
caso, o que fazer com o “resto” dos pescadores?
• como avaliar o sucesso dos sistemas de manejo dos lagos?
• como predizer os efeitos das medidas regulatórias, do ponto
de vista do ambiente natural e social?
Um estudo comparou a produtividade pesqueira de dois
lagos próximos a Santarém (PA). Em um deles adotou-se o
sistema de manejo comunitário e em outro este não ocorreu.
O resultado demonstrou que o lago manejado foi duas vezes
mais produtivo que o lago não manejado para todos os tipos
de artes de pesca (McGrath et al., 1994). Mas a captura total
por pescador no lago manejado foi quase a metade da verificada
no lago não manejado.
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Elementos da gestão dos recursos aquáticos
29
Muitos estudos ainda serão necessários antes de se avaliar que tipo
de manejo pode ser satisfatoriamente empregado. Novas metodologias,
usando estatística multivariada, estão sendo empregadas nas análises
da pesca artesanal ao redor do mundo, com o objetivo de obter indicadores
de sucesso (Preikshot & Pauly, 1988).
Quanto ao monito-ramento e à avaliação dos sistemas de
manejo comunitário, com raras exceções, o que se observa é a
inexistência de coleta de
dados no âmbito das
comunidades amazônicas.
Embora esta seja tradicio-
nalmente uma responsabi-
lidade do governo federal,
a participação da comuni-
dade torna-se fundamental
para assegurar o envol-
vimento dos grupos de
usuários em todos os estágios
do manejo.
Modelo de reserva de lagos
A eficácia do modelo de reserva de lagos para o manejo
dos estoques pesqueiros é outra questão a ser aprofundada, já
que ainda é pouco estudada. No caso da pesca amadora, têm-
se estabelecido trechos de rios e lagos como áreas reservadas
para a prática desta modalidade. As áreas são definidas
considerando o estado de conservação e o grau de fragilidade
do ecossistema, importância da pesca comercial para as populações
ribeirinhas e a presença de estruturas de pesca atuando dentro
do conceito pesque-e-solte.
Antes regulamentadas apenas por portarias, instruções normativas
e resoluções federais, as áreas reservadas para a pesca amadora
passaram a constar dos decretos que regulamentam o exercício
A criação de regras para o
uso dos recursos pesqueiros
não depende apenas dos
conhecimentos científicos obtidos.
Trata-se, sobretudo, da mediação
de interesses econômicos,
políticos e culturais.
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Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
30
da pesca esportiva nos estados do Pará e do Amazonas. Com
isso, ganharam status de unidades de conservação, exigindo-se a
descrição detalhada das condições de utilização da área, bem
como de instalação e operação de empreendimentos turísticos
de pesca e plano de manejo. Ou seja, atualmente a regulamentação
do uso dessas áreas vai além da simples exigência do pesque-e-
solte. (Veja no Anexo 4 as definições, diretrizes e critérios para a
criação de áreas reservadas para a pesca amadora, bem como os
pólos de ecoturismo, onde se prevê o uso dos recursos pesqueiros,
definidos pelo Proecotur).
Muitas espécies comercialmente importantes têm complexos
ciclos migratórios e usam uma variedade de ambientes ao longo
de suas vidas, alguns dos quais poderiam ser protegidos pela
reserva de lagos e outros não. Parece evidente que será necessário
manejar espécies migradoras numa perspectiva macrorregional.
Outros tipos de medidas técnicas e de ordenamento serão necessárias
para proteger adequadamente as grandes espécies migradoras (Ruffino
& Barthem, 1996).
Mediação entre atores sociais
É importante ressaltar que a gestão de uso dos recursos naturais
– e também dos recursos pesqueiros – representa a mediação de
interesses e de conflitos entre atores sociais que agem sobre o
meio físico. Este processo de mediação define e redefine,
continuamente, o modo como os diferentes atores sociais alteram,
com suas práticas, a quantidade do recurso e do meio ambiente.
Da mesma forma, define como se distribuem os custos e os
benefícios decorrentes dessas práticas.
O estabelecimento de regras de uso dos recursos pesqueiros
não é, portanto, meramente uma questão de aplicação dos
conhecimentos científicos obtidos. Representa a mediação de
interesses econômicos, políticos e culturais, e ocorre em determinado
contexto social, político, espacial e temporal.
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Elementos da gestão dos recursos aquáticos
31
Potencial e riscos da pescaamadora
Nesta composição de forças em torno do uso dos recursos,
vale ressaltar a contribuição que o crescimento da pesca amadora
pode trazer para a gestão dos recursos pesqueiros na Amazônia,
mas ao mesmo tempo os conflitos potenciais entre os diferentes
usuários.
A pesca amadora é uma das atividades mais praticadas em
todo o mundo e envolve uma série de serviços relacionados ao
setor turístico. O que antigamente restringia-se a uma atividade
de lazer tornou-se uma indústria cada vez mais forte que movimenta
anualmente milhões de dólares em segmentos tão diversos como
a importação e a exportação, a aqüicultura, o turismo e a mídia
especializada.
O gerenciamento que alguns países, como Estados Unidos,
Nova Zelândia, Chile, Canadá e Argentina, fazem da pesca amadora
revela que esta atividade é capaz de gerar receitas significativas,
viabilizando recursos não só para o seu próprio desenvolvimento
como também para serem aplicados na conservação do meio
ambiente. Realizada de forma planejada, a pesca amadora pode
tornar-se uma grande aliada das ações de regulamentação da atividade
pesqueira em seu conjunto.
Na Amazônia, os rios Negro, Tapajós, Trombetas e Xingu
vêm atraindo pescadores nacionais e internacionais, principalmente
em busca do tucunaré. No entanto, há inúmeras outras possibilidades
quanto a locais e espécies de peixes de interesse para a pesca
amadora. O desenvolvimento desta atividade deve, no entanto,
ser analisado sob os aspectos dos riscos e oportunidades que
apresenta.
Do ponto de vista econômico, a geração de recursos com
atividades potencialmente não predatórias representa um avanço.
Mas é preciso assegurar que estes recursos não se concentrem
novamente nas mãos de grupos economicamente privilegiados,
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Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
32
contribuindo ainda mais para a concentração de renda e a exclusão
social na região.
Do ponto de vista socioambiental, a pesca amadora possui uma
grande afinidade com as populações tradicionais e com as ações em
prol da conservação. No entanto, se não for bem planejada e não
incorporar as contribuições das populações locais, pode gerar mais
pressão sobre a pesca, estimular a aversão pelos pescadores “de fora”,
contribuir para gerar mais degradação ambiental e para a perda da
identidade cultural das comunidades ribeirinhas.
Dado o seu grande potencial, a pesca amadora tem atraído a atenção
do Estado e gerado algumas iniciativas
que podem auxiliar na gestão dos
recursos pesqueiros e na
regulamentação da pesca. Uma delas
é o Programa de Desen-volvimento
da Pesca Amadora – PNDPA, que
foi criado pelos ministérios do Esporte
e Turismo/Embratur e Meio
Ambiente/Ibama. Este programa tem
por objetivo transformar a atividade
da pesca amadora em instrumento
de desenvolvimento econômico, social
e de conservação ambiental. Estabelece
parcerias com estados e municípios onde a pesca amadora tem se desenvolvido
ou apresenta potencial de crescimento.
O PNDPA tem atuado no sentido de fortalecer a pesca amadora
como atividade importante para o turismo, o comércio e a indústria, e
também para a conservação do meio ambiente, da cultura e da tradição
das populações locais, a partir das seguintes ações:
• capacitação das comunidades ribeirinhas como guias de
pesca amadora;
• prospecção de novas áreas para a pesca amadora;
• captação de investimentos para o desenvolvimento do setor;
O PNDPA tem atuado no sentido
de fortalecer a pesca amadora
como atividade importante
para o turismo, o comércio
e a indústria, e também
para a conservação do meio
ambiente, da cultura e da
tradição das populações locais.
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Elementos da gestão dos recursos aquáticos
33
• divulgação do Brasil no exterior, visando aumentar o número
de turistas estrangeiros que pescam no país;
• fomento à realização de feiras e torneios de pesca amadora;
• divulgação da importância da licença de pesca amadora,
visando ao aumento dos pescadores licenciados;
• educação ambiental, alertando sobre a necessidade de conservar
o meio ambiente e como cada pescador pode tornar-se um parceiro
dos órgãos ambientais nesse trabalho; e
• promoção de pesquisas para conhecer melhor a ecologia
dos peixes esportivos.
Nessas ações o PNDPA conta também com a colaboração
dos pescadores amadores, das populações ribeirinhas, de empresas
privadas, de universidades e institutos de pesquisa, de organizações
governamentais e não-governamentais, entre outros parceiros.
Trata-se, portanto, de uma iniciativa, que combinada a outras
pode contribuir para uma mudança de paradigma no ordenamento
das pescarias na Amazônia.
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Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
34
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Ordenamento pesqueiro
35
Ordenamento
pesqueiro
Entende-se por ordenamento pesqueiro um conjunto deações empreendidas pelo Poder Público, mediante solicitaçãoou não da sociedade, para o uso sustentado dos recursos pesqueiros.
Nesse sentido, o ordenamento tem como objetivo desenvolver
mecanismos para o uso sustentável dos recursos pesqueiros adequados
à realidade regional, de forma a equacionar os conflitos causados
pela apropriação destes recursos.
A competência e a responsabilidade pelo ordenamento são
do Poder Público. Por meio de leis, decretos, portarias, instrumentos
normativos e ações, o Poder Público induz a sociedade como
um todo a conservar os estoques pesqueiros, explorando-os dentro
de critérios de racionalidade econômica, social e ecológica.
No entanto, a própria sociedade também é co-responsável
pelo ordenamento pesqueiro. Afinal, é ela que em ações diárias
(pesca, poluição, degradação ambiental) pode ameaçar ou zelar
pelo equilíbrio dos estoques pesqueiros.
Atualmente, as principais leis que regulamentam toda a atividade
pesqueira no Brasil são, em linhas gerais, o Decreto-Lei nº 221,
de 28 de fevereiro de 1967, a Lei nº 7679, de 23 de novembro de
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Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
36
1988, a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 e o Decreto
nº 3.179, de 21 de setembro de 1999.
Para regulamentar o uso sustentável dos recursos pesqueiros,
os administradores adotam medidas baseadas nos resultados das
pesquisas, bem como na atuação dos grupos de interessados,
sejam dos poderes público ou privado.
Linhas de ação para o ordenamento
Historicamente, inexistia um modelo de ordenamento voltado
para a pesca continental. Na realidade, o que se praticava até
1989 eram ações isoladas, buscando-se, tão somente, a solução
de problemas pontuais decorrentes, na maioria dos casos, de
pressões político-ecológicas locais.
No sentido de corrigir as distorções decorrentes da ausência
de uma política de ordenamento direcionada para esse setor, o
ex-Departamento de Pesca e Aqüicultura – Depaq, e atual Coordenação
Geral de Gestão de Recursos Pesqueiros – CGREP, do Ibama,
lançou em 1990 as bases do Programa de Pesca Continental/
Gerenciamento por Bacias Hidrográficas (Fischer et al., 1992).
Segundo este programa, as principais linhas de ação a serem
executadas em cada bacia eram:
• Regulamentação - adequar a regulamentação existente em
cada bacia compatibilizando-as com as necessidades técnicas
de ordenamento. Estas deveriam ser coerentes com as diferentes
realidades regionais;
• Pesquisa - identificar e apoiar as linhas de pesquisa prioritárias,
com vistas a subsidiar o processo de ordenamento;
• Zoneamento - desenvolver instrumentos de administração
que possibilitassem estabelecer o zoneamento da atividade
pesqueira;
• Fóruns - participar de diferentes fóruns com vistas a
integrar a atividade pesqueira às demais atividades usuáriasde recursos ambientais (florestais, agropecuárias, minerais).
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Ordenamento pesqueiro
37
Diretrizes estratégicas
Objetivando orientar o ordenamento do uso dos recursos pesqueiros
para um trabalho conjunto, participativo e co-responsável, envolvendo
os diversos segmentos usuários desses recursos, o Ibama estabeleceu,
em 1997, algumas diretrizes estratégicas para nortear o processo.
Segundo essas diretrizes, o ordenamento pesqueiro deve ser
realizado:
• utilizando como paradigma a busca pelo desenvolvimento
sustentável;
• tendo a bacia hidrográfica como marco referencial e unidade
básica de planejamento;
• buscando integrar a atividade pesqueira às demais atividades
usuárias de recursos ambientais que impactam direta e/ou
indiretamente a pesca;
• impedindo que os estoques sejam comprometidos ao
longo do tempo;
• embasando o processo de gestão no conhecimento técnico-
científico e na participação dos usuários dos recursos pesqueiros;
• apoiando projetos de pesquisa, de forma a garantir o aporte
de conhecimentos necessários ao ordenamento da pesca;
• desenvolvendo parcerias que viabilizem a descentralização
do ordenamento da pesca e o fortalecimento da comunicação
e do diálogo entre os diferentes grupos de usuários dos
recursos pesqueiros, entre estes e os usuários de outros recursos
naturais, e entre os usuários e as instituições responsáveis;
• apoiando o fortalecimento das estruturas organizacionais
dos vários usuários dos recursos pesqueiros, de modo a
possibilitar uma interlocução formal com legitimidade
de representar os interesses comuns;
• viabilizando mecanismos que tornem os fóruns de
negociação equilibrados politicamente;
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Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
38
• apoiando o desenvolvimento da aqüicultura, com vistas ao aumento
da produção nacional de pescado e ao oferecimento de outras
opções econômicas à sociedade.
Como se faz ordenamento pesqueiro?
Os problemas da pesca não são resolvidos apenas com soluções
técnicas. Vale ressaltar, também, que para se garantir uma pesca sustentável
é preciso integrar as diferentes administrações setoriais em uma única
gestão sistêmica, independentemente de ser a abordagem mono ou
multissetorial, ou seja, de se trabalhar apenas os aspectos inerentes à
pesca ou abordar os demais fatores que influem sobre esta.
Possíveis soluções monossetoriais são:
• adequar o ordenamento pesqueiro às peculiaridades locais;
• definir o tamanho mínimo de captura de algumas espécies,
assim como o tamanho de malha das redes;
• proibir petrechos e métodos de pesca;
• estabelecer e fiscalizar as épocas de defeso;
• experimentar formas de proteção (fechamento de áreas); e
• melhorar o aproveitamento e o processamento da
captura (diversificar produtos, melhorar condições
de higiene, de transporte e conservação);
Possíveis soluções multissetoriais incluem:
• reduzir atividades de impacto negativo (pecuária,
agricultura intensiva);
• recuperar áreas degradadas (reflorestamento da mata ciliar com
árvores frutíferas, culturas com sistemas agroflorestais etc.); e
• incentivar o aumento da diversificação econômica
(criação de animais silvestres, uso e comercialização
de plantas medicinais etc.).
Diferentes combinações dessas medidas técnicas podem solucionar
vários tipos de problemas. Mas verifica-se nas várias instâncias
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Ordenamento pesqueiro
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(comunidades ribeirinhas, organizações de pescadores, Poder Público)
que existe um leque de problemas fundamentais. Estes se referem
à história ocupacional da várzea amazônica e às estruturas políticas
e econômicas dominantes durante séculos na região. Trata-se basicamente
de uma insuficiente organização sócio-política em todos os níveis
da sociedade local (rural e urbana) e de grandes deficiências nos
sistemas de comunicação social (formal e informal).
A ausência ou o mau
funcionamento de instru-
mentos democráticos que
garantam a represen-tatividade
de todos os interessados na
busca de soluções para a
adminis-tração sustentável
dos recursos naturais, tais
como fóruns setoriais e/ou
inter-setoriais, organizações
profissionais, associações
comunitárias, levam a uma
situação na qual o bem
comum torna-se bem de
ninguém e, portanto, bem do mais forte.
A sustentabilidade no uso dos recursos pesqueiros somente
poderá ser perseguida de forma conseqüente se apoiada no
embasamento técnico/científico, na participação dos usuários
do recurso no processo de gestão e, principalmente, no
desenvolvimento de processos integrados de gestão que extrapolem
a atividade pesqueira e o simples processo de ordenamento desta.
Parcerias para um ordenamento eficaz
O Ibama, além de responsável pela condução do processo de
ordenamento das pescarias, tradicionalmente patrocina e executa
as pesquisas voltadas à geração de subsídios para o estabelecimento
A insuficiente organização
socio-política em todos os
níveis da sociedade local (rural
e urbana) e grandes deficiências
nos sistemas de comunicação
social (formal e informal) dificultam
a implementação de medidas
de ordenamento pesqueiro
 na Amazônia.
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Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
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de medidas de regulamentação. Porém, reconhece a necessidade
de buscar parcerias com produtores, órgãos governamentais estaduais
e municipais, instituições de ensino e pesquisa, setor não-
governamental etc.
Esse movimento busca promover e catalisar ações estratégicas
locais que levem a uma ampla discussão com todos os setores
direta e indiretamente relacionados à atividade pesqueira. O objetivo
é buscar ações integradas e participativas que visem ordenar a
atividade pesqueira.
Por meio de Fóruns de Pesca é possível identificar os principais
problemas, possíveis soluções, e implementar mecanismos que coloquem
em prática as ações recomendadas de maneira compartilhada entre
os diferentes atores/setores envolvidos. A realização desses fóruns
materializa o ordenamento em âmbito local.
As experiências relacionadas à administração participativa dos
recursos pesqueiros revelam, no entanto, uma série de dificuldades
do Ibama no exercício democrático de formação e funcionamento
dos fóruns de gestão. Entre as dificuldades estão aquelas ditadas
pelo crescente esforço de captura, em razão das pressões do mercado,
e pelos limites impostos pela biologia das espécies.
Mas existem dificuldades inerentes à composição dos atores
envolvidos e às relações entre estes. Ressalte-se que grande parte
das dificuldades deve-se à dispersão orgânica de alguns setores,
em particular daqueles relacionados à organização dos pescadores
e dos consumidores. Por outro lado, as organizações do setor
patronal, como por exemplo aquelas relacionadas à indústria e
ao beneficiamento da pesca, detêm um poder de barganha muito
superior ao dos demais setores.
Alguns pescadores têm transgredido os acordos firmados, o
que constitui um dos principais entraves para que o atual ordenamento
pesqueiro se torne um instrumento eficaz. Obviamente, entende-
se que tais situações são movidas também por pressões econômicas
exercidas sobre a atividade pesqueira, devendo sua superação ser
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Ordenamento pesqueiro
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mediada tanto pelo uso da legislação em vigor quanto por
instrumentos de mercado.
Existem também dificuldades relacionadas à histórica tradição
paternalista do governo brasileiro. Há um grande despreparo dos
quadros técnicos do Ibama para a facilitação de processos participativos
de gestão. No entanto, não se pode deixar de reconhecer que esses
fóruns são hoje um desejo e uma vontade, patrocinados e defendidos
pelo Ibama.Assim sendo, apesar das dificuldades, está fora de cogitação
qualquer movimento de retrocesso em relação à sua existência.
O desafio consiste, portanto, em aperfeiçoá-los: compensar
os setores sub-representados; qualificar a participação dos setores
com maiores debilidades orgânicas; flexibilizar o poder das
organizações mais fortes; envolver e delegar competência aos
estados da Federação.
Os fóruns devem se constituir verdadeiros espaços de negociação
política e dos interesses dos diversos segmentos organizados, envolvidos
com a atividade pesqueira, tendo como finalidade primordial o
aperfeiçoamento das políticas do setor (Santos et al., 2001).
Organização social e ordenamento
Tendo em vista a natureza e a magnitude dos problemas relacionados
à pesca, é fundamental viabilizar a participação dos usuários dos recursos
pesqueiros no processo de gestão. No entanto, torna-se inviável para o
Poder Público estabelecer interlocução com indivíduos ou pequenos
grupos isolados.
Para fortalecer e viabilizar a participação das comunidades, na condição
de usuárias dos recursos pesqueiros na gestão participativa, faz-se necessário
capacitar representantes de associações e colônias. Suas lideranças devem
ser treinadas para atuar como elementos de estímulo, mobilização, coordenação
e representação dos usuários, bem como para agirem como interlocutores.
Atualmente, o Ibama, além das dificuldades regionais no
relacionamento com as organizações de representação dos agentes
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Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
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de pesca, não tem interlocução com a representação organizada
dos segmentos envolvidos no consumo de pescados,
principalmente considerando-se o consumidor de baixa renda;
o que constitui uma verdadeira falha no exercício de um Estado
de Direito.
Muitas das organizações de base, apesar de “oficialmente”
exercerem uma representação local ou até estadual, na prática
desempenham um papel que extrapola os limites da região,
sobrepondo-se às organizações nacionais.
Institucionalmente, os pesca-dores estão organizados em colônias
de pescadores. Desde os tempos
coloniais, o governo tem feito
tentativas esporádicas de controlar
essa categoria profissional. As
primeiras colônias foram
fundadas em 1919 pelos militares,
com o objetivo de organizar os
pescadores para que contribuíssem
no sistema de defesa costeiro, mais
do que para defenderem seus
próprios interesses econômicos
e/ou sociais.
Assim como os estados
brasileiros, as colônias têm sido tradicionalmente controladas
pelas agências do governo federal, e os seus presidentes até
pouco tempo atrás eram indicados pelos políticos municipais
ou oficiais do governo federal (Campos, 1993).
No início da década de 1980, o movimento de oposição à
ditadura militar fez surgir uma série de organizações ligadas à
igreja católica. A mais conhecida na Amazônia rural é a Comissão
Pastoral da Terra – CPT. Mas existem outras organizações vinculadas
à Igreja, como a Comissão Pastoral da Pesca – CPP, o Movimento
de Educação de Base – MEB e a Federação de Órgãos para a
Assistência Social e Educacional – Fase.
Para cada tipo de pesca
ou para cada região, a interlocução
tem que levar em conta a história, a
herança, a tradição e,
principalmente, a dimensão
orgânica e a importância política
de cada entidade ou
organismos de representação.
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Ordenamento pesqueiro
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Essas organizações desempenharam e ainda desempenham um
papel fundamental no desenvolvimento de lideranças locais e
na organização de pescadores e ribeirinhos. Em 1985, surgiu um
movimento nacional chamado “Constituinte da Pesca”, que trabalhou
sobre o direito de organização e pela busca de autonomia política
para as colônias de pescadores (Campos, 1993).
A transição para um sistema democrático impulsionou as
colônias de Pescadores a se tornarem mais representativas. Embora
a fidelidade política dos líderes locais ainda influencie na escolha
dos candidatos, a representação das comunidades ganhou bastante
espaço. Por outro lado, a participação e a representação formal
dos pescadores em suas respectivas colônias ainda permanecem
baixas. No Estado do Pará, aproximadamente 1,2 milhão de pessoas
depende da pesca. Cerca de 20% a 30% são formalmente registradas
como integrantes das colônias.
Há cerca de 10 anos, alguns benefícios sociais oferecidos pelo
governo foram estendidos ao pescador, tais como o seguro-desemprego
durante os períodos de defeso, os benefícios de saúde e a aposentadoria.
A intermediação das colônias facilitou o acesso a esses benefícios.
Houve um estímulo ao registro profissional dos pescadores, embora
isto represente uma mudança essencialmente burocrática, de pouca
relevância para o manejo.
Considerando-se o manejo baseado nas comunidades, um
diferencial é o resultado da ampla colaboração entre instituições
formais e informais de âmbito local. O desenvolvimento dos
conselhos regionais de pesca na região do baixo Amazonas, conselhos
intercomunitários responsáveis pelo manejo individual de sistemas
de lagos, tornou-se o elemento básico do modelo de manejo
participativo emergente para as pescarias regionais.
Atores do ordenamento
A tarefa de aplicar os instrumentos necessários ao ordenamento
da pesca é competência do Estado. Existem, porém, outros atores
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Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
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que detêm papel-chave no sucesso ou no fracasso dessas medidas.
Trabalhar em conjunto com eles é condição fundamental para a
eficácia de um modelo de gestão dos recursos pesqueiros e de
um ordenamento compatíveis com as exigências socioculturais
e ambientais da região amazônica.
Organizações de base
Podem-se citar as seguintes organizações de base ou locais,
com atuação direta na pesca ou junto aos pescadores:
• Associação de Armadores de Pesca;
• Federação e Colônias de Pescadores;
• Associação e Federação das Indústrias de Pesca;
• Sindicato dos Pescadores;
• Sindicato das Indústrias de Pesca;
• Cooperativas de Pesca;
• Movimentos Estaduais dos Pescadores;
• Comissão Pastoral dos Pescadores;
• Associações de Pescadores; e
• Conselhos Regionais de Pesca.
Essas organizações ocupam espaço na atividade pesqueira ou
junto aos pescadores, sem, no entanto, integrar-se de forma organizada
na gestão pesqueira. Como características comuns:
• possuem intervenção no exercício da pesca;
• trabalham numa visão quase que exclusivamente corporativa;
• são organizações legítimas, com todo o direito de se fazer
representar em qualquer fórum de discussão ou de decisão
que envolva a atividade pesqueira. Não devem ser tratadas
como simples observadoras, mas ter poder de deliberação
e paridade, de forma a contribuir para o aperfeiçoamento
da gestão da atividade pesqueira;
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Ordenamento pesqueiro
45
• não há qualquer restrição sobre seu papel ou desempenho,
embora apresentem diferenças entre si quanto ao grau de
representatividade, até por estarem vinculadas a interesses imediatos
diversos.
Entidades de pesca
Devem ser incluídas também as entidades de representação da atividade
pesqueira nos fóruns de gestão. Estas devem representar os interesses
do setor e podem tornar-se importantes organismos na administração
dos recursos pesqueiros. São elas:
• Confederação Nacional dos Pescadores – CNP;
• Conselho Nacional de Pesca e Aquicultura – Conepe; e
• Movimento Nacional dos Pescadores – Monape.
Na administração dos recursos pesqueiros é imperiosa a
participação das entidades nacionais e locais. Não há dúvida
que esses são os organismos que têm representação e autoridade
para participar de fóruns da pesca. Há que se adequar essa
participação, considerando:• o “peso” e a dimensão que cada uma dessas organizações
possui;
• se os interesses representados são ou não os legítimos
e intrínsecos ao setor;
• até que ponto a organização reflete os interesses do
grupo que representa; e
• até que ponto a organização funciona como correia
de transmissão de interesses hegemônicos antagônicos
à essência de seus próprios interesses.
As atuais entidades nacionais têm dificuldade em representar
o universo de interesses de uma atividade tão cheia de conflitos
como a atividade pesqueira. Englobam uma série de diferenças
entre tipos de pesca, estoques pesqueiros e interesses de grupos
econômicos. Por mais que se empenhe, a Confederação Nacional
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Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
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dos Pescadores, por exemplo, tem dificuldade em representar
o conjunto de interesses das entidades de base, apesar de ser
esta a sua função.
Sem levar em conta os interesses pessoais, que normalmente
permeiam a vivência dos dirigentes de entidades de representação,
constata-se que as entidades de base (colônias, pastorais, sindicatos,
cooperativas, associações e federações) muitas vezes não se sentem
representadas pela sua entidade nacional, pois esta nem sempre
incorpora seus valores, posições e reivindicações.
Não é possível adotar um comportamento linear ou generalista. Para
cada tipo de pesca ou para cada região, a interlocução tem que levar em
consideração a história, a herança, a tradição e, principalmente, a dimensão
orgânica e a importância política de cada entidade ou organismo de
representação (Santos et al., 2001).
Entidades envolvidas com o
turismo e a pesca amadora
Estas envolvem grande diversidade de atores vivamente
interessados na manutenção dos recursos pesqueiros e na integridade
dos ecossistemas, para que os seus negócios prosperem. Tratam-
se, portanto, de potenciais aliados das medidas de ordenamento.
São eles:
• Agentes de viagem,
• Representantes do setor hoteleiro,
• Clubes de pesca,
• Associação dos Pescadores Esportivos nos estados,
• Segmentos da mídia especializada.
Estado e consumidor
O elemento tido como “de fora” no modelo de gestão de
recursos pesqueiros é o consumidor, ou melhor, sua entidade
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Ordenamento pesqueiro
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representativa, que tanto pode ser uma associação, um conselho
ou até a representação do Poder Legislativo.
Sua presença é necessária para que se minimize a vocação
corporativa do setor e pela necessidade de que haja um entendimento
global por tratar-se de um bem pertencente ao conjunto da sociedade.
Também não se pode deixar de reconhecer o fato de que quanto
mais abrangente for uma organização de classe ou de representação
de um setor da sociedade, menor será sua vocação corporativa,
uma vez que incorpora interesses maiores e mais complexos interesses.
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Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
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49
O Ibama e a gestão da pesca
O Ibama e a
gestão da pesca
OIbama, como órgão executor da política de gestãodos recursos pesqueiros de águas continentais, tem comoatribuição zelar pela preservação das espécies e do meio
ambiente, com a competência de normatizar as condições de
uso e sustentabilidade do recurso.
Observadas estas premissas, a Coordenação Geral de Gestão
dos Recursos Pesqueiros tem como missão buscar a sustentabilidade
no uso desses recursos. O conceito principal, aqui inserido como
o de “gestão do uso dos recursos pesqueiros”, pressupõe a formulação
e a aplicação de instrumentos, normas, critérios e padrões que
concorram para:
• a definição do volume a ser capturado;
• esforço de pesca máximo permitido;
• modalidades de pesca;
• períodos, áreas e petrechos permitidos;
• tamanhos mínimos de captura por espécies;
• aspectos relacionados aos riscos e impactos gerados na
introdução, reintrodução, transferência e translocação de
espécies utilizadas na aqüicultura; e
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Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
50
• povoamento e repovoamento dos ecossistemas aquáticos.
Assim, no que tange aos recursos pesqueiros, são atribuições
do Ibama:
• promover e implementar estudos científicos e tecnológicos
como suporte para o estabelecimento de critérios normativos
no uso dos recursos pesqueiros;
• integrar programas e projetos nacionais e internacionais
relacionados à avaliação e gestão do uso dos recursos pesqueiros;
• estabelecer fóruns de discussão técnico-científica para
subsidiar a gestão do uso dos recursos pesqueiros;
• desenvolver estudos e pesquisas para a avaliação dos impactos
ambientais causados pela atividade da pesca e da aqüicultura
sobre o meio ambiente, e de outros fatores antrópicos sobre os
recursos pesqueiros;
• promover a utilização do conhecimento técnico-científico
sobre os ecossistemas aquáticos, visando à sustentabilidade
no uso dos recursos pesqueiros;
• gerar, sistematizar e disponibilizar informações referentes
a recursos pesqueiros;
• monitorar impactos ambientais decorrentes das atividades
de pesca e aqüicultura;
• propor e avaliar critérios, padrões e normas para o
ordenamento pesqueiro;
• estabelecer fóruns de negociação para definição de critérios de
gestão do uso dos recursos pesqueiros e de monitoramento e
controle dos impactos ambientais, causados, direta ou indiretamente,
por fatores antrópicos com reflexos na pesca e na aqüicultura.
Princípios estratégicos da
gestão dos recursos pesqueiros
• Garantir a participação da sociedade civil organizada na
discussão de propostas para a gestão dos recursos pesqueiros,
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51
O Ibama e a gestão da pesca
por meio de fóruns representativos dos diversos interesses
existentes;
• Possibilitar a desconcentração e a descentralização de
procedimentos e decisões, intra e interinstitucionais, visando
ao melhor aproveitamento do conhecimento técnico-científico
disponível, assim como dos recursos materiais e humanos;
• Adotar um sistema de gestão articulado em rede, que privilegie
a coordenação e a
sinergia em vez da
rigidez da hierarquia
burocrática;
• Incrementar a
cooperação inter-
institucional, também
em rede, de forma
coordenada com as
estruturas de gestão
dos estados e dos
municípios, Secretaria
Especial de Aqui-
cultura e Pesca - Seap,
Ministérios da Agricultura e Abastecimento, do Trabalho,
de Ciência e Tecnologia e do Esporte e Turismo, universidades,
ONGs e outras organizações envolvidas com o tema.
Do ponto de vista operacional, a implementação de processos
de administração participativa está no rol das atividades do Ibama.
Considerando a insuficiência da organização sociopolítica dos usuários
dos recursos naturais e a ausência de fóruns de discussão e negociação
sobre questões relativas à pesca, a função do Ibama é a de articular
a operacionalização das diretrizes estratégicas, estabelecidas à luz
do instrumento legal disponível. Isso significa que o Ibama deve
incentivar a formação de fóruns de meio ambiente para tratar as
questões pesqueiras.
A função do Ibama
é a de articular a operacionalização
das diretrizes estratégicas,
estabelecidas à luz do instrumento
legal disponível. Isso significa que o
Ibama deve incentivar a formação
de fóruns de meio ambiente para
tratar as questões pesqueiras.
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Gestão do uso dos recursos pesqueiros na Amazônia
52
Em termos operacionais, a principal dificuldade na elaboração
de acordos de pesca consiste em sua legitimação e internalização
pelos vários grupos de usuários. A melhor estratégia para isso é
estimular a formação, em âmbitos estadual

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