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Terapia Comunitária Integrativa

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TERAPIA COMUNITÁRIA INTEGRATIVA
UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA DO CONHECIMENTO
Direitos desta edição reservados à:EDITORA DA UFPB Caixa Postal 5081 – Cidade Universitária – João Pessoa – Paraíba – Brasil CEP 58.051-970Impresso no Brasil
Printed in BrazilFoi feito o depósito legal
T315 Terapia comunitária integrativa: uma construção coletiva do
 conhecimento / Maria de Oliveira Ferreira Filha, Rolando
 Lazarte, Maria Djair Dias, organizadores.--João Pessoa:
 Editora Universitária da UFPB, 2013.
 346p. 
 ISBN: 978-85-237-0691-3
 1. Terapia de grupo(Assistência social). 2. Terapia
 comunitária integrativa. 3. Saúde mental. I. Ferreira Filha, 
 Maria de Oliveira. II. Lazarte, Rolando. III. Dias, Maria Djair. 
UFPB/BC CDU: 364-785.24
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
ReitoraMARGARETH DE FÁTIMA FORMIGA MELO DINIZ 
Vice-reitorEDUARDO RAMALHO RABENHORST 
EDITORA DA UFPB
DiretorIZABEL FRANÇA DE LIMA 
Vice-diretorJOSÉ LUIZ DA SILVA 
Supervisor de editoraçãoALMIR CORREIA DE VASCONCELLOS JUNIOR
Supervisor de produçãoJOSÉ AUGUSTO DOS SANTOS FILHO
Editoração e capaRILDO COELHO
Maria de Oliveira Ferreira Filha
Rolando Lazarte
Maria Djair Dias
ORGANIZADORES
TERAPIA COMUNITÁRIA INTEGRATIVA
UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA DO CONHECIMENTO
Editora da UFPB
João Pessoa
2013
Autores
Adalberto de Paula Barreto. Médico. Doutor em medicina pela Université de 
Paris V (René Descartes) (1982) e em antropologia pela Université Lumiére Lyon 2 
(1985). Graduado pela Universidade Federal do Ceará (1976), Filósofo e Teólogo 
graduado pela Université Catholique de Lyon et Pontificia Universitas St. Tomas de 
Aquino (1983). Docente da graduação e pós graduação da Faculdade de Medicina 
da Universidade Federal do Ceará (UFC). Coordenador do Projeto 4 Varas/
Movimento Integrado de Saude Mental Comunitária do Ceará - MISMEC/CE. 
Criador da Terapia Comunitaria Integrativa. abarret1@matrix.com.br
Ana Lúcia da Costa Silva. Psicóloga. Mestre em Saúde da Família-Unesa-RJ, 
com especialização em: Saúde Mental-Fundação Osvaldo Cruz-(Fiocruz), Centro 
de Pesquisa Leônidas & Maria Deane, Terapia Cognitiva Comportamental-
Falculdade Martha Falcão-AM, Teoria e Clinica Psicanalitica-Gama Filho, 
Recursos Humanos- UFAM-Am, e Formação em Terapia Comunitária. acosta.
da.lua@hotmail.com 
Amilton Carlos Camargo., Psicólogo Clínico, Terapeuta Comunitário formado 
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Doutorando em 
Políticas Públicas (Ciências Sociais Aplicadas) pela Universidade Federal do 
Maranhão, Especialista em Psicologia da Saúde e Psicoterapia Psicodinâmica 
para os Transtornos de Personalidade pela Universidade Federal de São Paulo, 
Mestre em Psicologia Social - Universidade São Marcos.SP. camargoam@uol.
com.br
Antonia Oliveira Silva. Enfermeira, graduada pela Universidade Federal 
da Paraíba (1975). Especialista em enfermagem psiquiátrica. Mestra em 
Psicologia (Psicologia Social) pela Universidade Federal da Paraíba (1991); 
Doutora em Enfermagem pela EERP/USP (1998). Pós-Doutorado em Psicologia 
Social pelo ISCTE/Portugal (2003). (1978). Pesquisadora líder do Grupo de 
Estudos e Pesquisa em Envelhecimento e Representações Sociais e bolsista de 
produtividade em pesquisa do CNPq. alfaleda@hotmail.com
Eliane Carnot de Almeida. Psicóloga, graduada pela Universidade Gama Filho 
(1981), Doutora em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social - IMS, 
Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ (2005), Mestre em Saúde 
Coletiva pelo Instituto de Medicina Social / UERJ (1998). Professora Titular da 
Universidade Estácio de Sá. ecarnot@uol.com.br 
Dayse Gomes Sousa de Oliveira. Fisioterapeuta graduada pelo Centro Universitário 
de João Pessoa - UNIPÊ (2003). Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal 
da Paraíba -UFPB (2008), Especialista em Saúde Pública pela FACISA (2005).
daysecarlosjr@uol.com.br
Edlene de Freitas Rocha. Fisioterapeuta graduada pela Universidade Estadual 
da Paraíba (1996), Mestre em Enfermagem pela UFPB, Terapeuta Comunitária. 
UAKTIARA/SP. Especialista em Cinesioterapia pela Universidade Federal da 
Paraíba (2002) e Saúde Pública pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas 
(2005) e também em Fisioterapia Traumato-ortopédica Funcional(2008). 
edlenefreitasrocha@hotmail.com 
Fábia Barbosa de Andrade. Enfermeira graduada pela Universidade Federal 
da Paraíba. Doutora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Mestrado em Enfermagem 
pela Universidade Federal da Paraíba (2009). fabiabarbosabr@yahoo.com.br
Fernanda Lúcia de Sousa Leite Morais. Médica, graduada pela Universidade 
Federal da Paraíba- UFPB (1981). Mestre em Enfermagem pela UFPB (2010); 
Especialista em Gestão e Política de Recursos Humanos para o SUS, pelo Centro 
de Pesquisas Aggeu Magalhães, da Fundação Oswaldo Cruz (1993); Terapeuta 
Comunitária  formada pelo IBDH e   Secretaria  Municipal de Saúde de  João 
Pessoa/PB (2007). Docente da Faculdade de Ciencias Médicas da Paraíba. 
fernandaleitemorais@gmail.com
Fernanda Jorge Guimarães. Enfermeira graduada pela Universidade Federal da 
Paraíba (2004). Doutoranda da Universidade Federal de Pernambuco. Docente 
do Núcleo de Enfermagem do Centro Acadêmico de Vitória da Universidade 
Federal de Pernambuco, Especialista em Enfermagem do Trabalho. Mestre em 
Enfermagem pela UFPB (2006), Terapeuta Comunitária formada pelo MISMEC/
CE. ferjorgui2004@yahoo.com.br
Francisdo Arnoldo Nunes de Miranda, Enfermeiro graduado pela Universidade 
Estadual do Ceará. Doutor em Enfermagem pela Escola de Enfermagem de 
Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Mestre em Enfermagem Psiquiátrica 
e Ciências Humanas, Docente do Programa de Pós Graduação em Enfermagem, 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Líder do Grupo de Pesquisa: Ações 
promocionais e de atenção a saúde de grupos humanos em Saúde Mental e Saúde 
Coletiva (Diretório de Grupos do CNPq). farnoldo@gmail.com 
Iris do Ceu Clara Costa. Odontóloga, graduada pela Universidade Federal 
do Rio Grande do Norte (1977). Doutora em Odontologia Preventiva e Social 
pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho-Araçatuba (2000), 
Especialização em Ativação no processo de mudanças na formação profissional 
em saúde pela Escola Nacional de Saúde Pública/Rede Unida/Ministério da Saúde 
(2006). Mestre em Odontologia Social pela Universidade Federal Fluminense 
(1981). Pós Doutorado em Psicologia Social pela Universidade Aberta de Lisboa-
Portugal (2007-2008). Professora Associada II da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte.
iris_odontoufrn@yahoo.com.br 
Luci Leme Brandão Lazzarini. Psicóloga graduada pela Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo - PUCSP em 1979; Especialista em Terapia Familiar e de 
Casal formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUCSP em 
2007. Terapeuta Comunitária formada pela Pontifícia Universidade Católica de São 
Paulo - PUCSP em 2004;. luciblazzarini@yahoo.com.br 
Lucineide Alves Vieira Braga. Enfermeira graduada pela Universidade Federal 
da Paraíba (1989. Mestre em Enfermagem na Atenção à Saúde pelo Programa 
de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal da Paraíba (2009), 
Especialista em Saúde Publica, Obstetrícia, Saúde da Família e Formação Pedagógica 
em Educação Profissional na área de saúde: Enfermagem - PROFAE. Docente do 
Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ e Faculdade de Ciências Médicas da 
Paraíba - FCM. Terapeuta Comunitária. Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa 
em Saúde Mental Comunitária da UFPB. lucineide.avb@gmail.com
Maria de Oliveira Ferreira Filha. Enfermeira. Doutora em Enfermagem, 
formada pela Universidade Federal do Ceará (2002). Mestre em Enfermagempela 
Universidade Federal da Paraíba (1994). Graduada pela Universidade Federal da 
Paraíba (1981). Especialista em Enfermagem Pisiquiátrica pela UFPB (1982), 
Docente do Programa de Pós Graduação em Enfermagem – PPGENF/ Universidade 
Federal da Paraíba/ UFPB, vinculada ao e ao Departamento de Enfermagem de 
Saúde Pública e Psiquiatria. Pesquisadora e Líder do Grupo de Estudos e Pesquisa 
em Saúde Mental Comunitária (cadastrado no CNPq). Terapeuta comunitária, 
formada pelo MISMEC Ceará. e membro do Grupo de Enfermeiras Experts no 
Ensino de Enfermagem em Saúde Mental das Américas - OPS/OMS, desde 2003. 
marfilha@yahoo.com.br
Maria Djair Dias. Enfermeira graduada pela UFPB. Doutora em Enfermagem 
pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo - SP, Especialista em 
Enfermagem Obstétrica. Mestre em Enfermagem pela UFPB. Docente Associado II 
do Departamento de Enfermagem Saúde Pública, e do Programa de Pós-Graduação 
em Enfermagem da UFPB; Terapeuta Comunitária - MISMEC - Ce. mariadjair@
yahoo.com.br
Márcia Rique Caricio. Enfermeira graduada pela Universidade Federal da Paraíba 
(1989). Mestre em Enfermagem pela UFPB(2010). Sanitarista, Especialista em 
Obstetrícia, em Saúde da Família e em Gestão de Servicos de Saúde e do Cuidado. 
Docente da Escola de Enfermagem de Natal (UFRN). marcia.rique@gmail.com
Maura Vanessa Silva Sobreira. Enfermeira graduada pela Universidade Federal da 
Paraíba (2008). Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande 
do Norte (2009), Especialista em Políticas e Gestão do Cuidado em Saúde. Docente 
Assistente II do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual do Rio 
Grande do Norte-Campus Caicó-RN. maurasobreira@yahoo.com.br
Marilene Grandesso. Psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica. Fundadora e 
coordenadora do INTERFACI - Instituto de Terapia: Família, casal, comunidade 
e indivíduo. Professora e supervisora de Terapia familiar e de casal do NUFAC-
PUC-SP; Fundadora e coordenadora do pólo formador em TCI - INTERFACI. 
Coordenadora do Certificado Internacional em Práticas Colaborativas. 
Coordenadora de Grupos de estudo de Práticas narrativas desde 2006. mgrandesso@
uol.com.br
Ricardo Franklin Ferreira. Psicólogo. Doutor em Psicologia Escolar e do 
Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo.  Professor Adjunto 
II, na área de Psicologia Social, do Departamento de Psicologia da Universidade 
Federal do Maranhão (UFMA). ricardo_franklin@uol.com.br 
Rolando Lazarte. Sociólogo. Doutor em Sociologia pela Universidade de São 
Paulo/USP. Mestre em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio 
de Janeiro (IUPERJ). Licenciado em Sociologia pela Universidad Nacional de Cuyo 
(UNCuyo), Mendoza, Argentina. Bacharel em Ciências Políticas e Sociais pela 
Escola de Sociologia e Política de São Paulo (ESPSP). Membro do Grupo de Estudos 
e Pesquisas em Saúde Mental Comunitária (cadastrado no CNPq), vinculado ao 
Programa de Posgraduação em Enfermagem da UFPB. Terapeuta Comunitário 
do Pólo Formador em Terapia Comunitária do MISC-PB, Movimento Integrado 
de Saúde Comunitária da Paraíba. Primeiro Diretor de Comunicação Social da 
ABRATECOM-Associação Brasileira de Terapia Comunitária. elzarat@gmail.com
Túlio Batista Franco. Psicólogo. Graduado em Psicologia pela PUC-MG (1985), 
Doutor em Saúde Coletiva pela UNICAMP (2003) e Mestre em Saúde Coletiva 
pela UNICAMP (1999). Docente do Programa de Pós-graduação em Saúde 
Coletiva da Universidade Federal Fluminense (UFF). Líder do Grupo de Pesquisa; 
Laboratório de Estudos do Trabalho e Formação em Saúde; LETFS/CNPq. Filiado 
à Association Latine pour l´Analyse des Systèmes de Santé (ALASS), Barcelona, 
Espanha. Filiado à Rede Ibero-Americana de Pesquisa Qualitativa. tuliofranco@
gmail.com 
Viviane Rolim Holanda. Enfermeira graduada pela Universidade Federal da Paraíba 
(UFPB). Doutoranda em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC). 
Mestre em Enfermagem pela UFPB (2006). Docente do Curso de Graduação em 
Enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) lotada no Centro 
Acadêmico de Vitória (CAV). vivi_rolim@yahoo.com.br
SUMÁRIO
PREFÁCIO ........................................................................................................... 13
APRESENTAÇÃO ................................................................................................ 17
PARTE I – CONHECENDO A TERAPIA COMUNITÁRIA 
INTEGRATIVA. .................................................................................................. 23
1. Uma Introdução à Terapia Comunitária Integrativa: conceito, 
bases teóricas e método. 
Adalberto de Paula Barreto e Rolando Lazarte ......................................................... 24
PARTE II – A TERAPIA COMUNITARIA INTEGRATIVA COMO 
INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO. .......................................................... 45
2. Tempo de falar e tempo de escutar: a produção de sentido em grupo terapêutico. 
Amilton Carlos Camargo e Ricardo Franklin. .......................................................... 46
3. Minha vida tem sentido toda vez que venho aqui: significado atribuído à Terapia 
Comunitária pela família do participante. 
Luci Leme Brandão Lazzarini e Marilene Grandesso ............................................... 66
4. Terapia Comunitária e Resiliência: história de mulheres. 
Lucineide Alves Vieira Braga, Maria Djair Dias, Maria de Oliveira Ferreira Filha e 
Adalberto de Paula Barreto. .................................................................................... 84
PARTE III – A TERAPIA COMUNITÁRIA INTEGRATIVA NA ESTRATÉGIA 
SAÚDE DA FAMÍLIA/SUS: MUDANÇAS DE PRÁTICAS............................... 107
5. A Terapia Comunitária e as Mudanças de Práticas no SUS. 
Edlene de Freitas Rocha e Maria de Oliveira Ferreira Filha .................................... 108
6. Terapia Comunitária: um encontro que transforma o jeito de ver e 
conduzir a vida. 
Márcia Rique Carício, Maria Djair Dias, Túlio Batista Franco e Maria de Oliveira 
Ferreira Filha. ..................................................................................................... 132
7. Rodas de Terapia Comunitária: espaços de mudanças para profissionais da 
estratégia saúde da família. 
Fernanda Lucia de S. Leite Morais e Maria Djair Dias ......................................... 159
8. A Terapia Comunitária e suas repercussões no processo de trabalho da Estratégia 
Saúde da Família: um estudo representacional. 
Maura Vanessa Silva Sobreira e Francisco Arnoldo Nunes de Miranda .................... 188 
PARTE IV – A TERAPIA COMUNITÁRIA INTEGRATIVA COM GRUPOS 
ESPECIFICOS .................................................................................................... 207
9. Terapia Comunitária como abordagem complementar no tratamento da 
depressão: uma estratégia de saúde mental no PSF de Petrópolis. 
Ana Lúcia da Costa Silva e Eliane Carnot de Almeida .......................................... 208
10. A Contribuição da Terapia Comunitária para o enfrentamento das inquietações 
das gestantes. 
Viviane Rolim Holanda, Maria Djair Dias e Maria de Oiveira Ferreira Filha ........ 231
PARTE V - AVALIAÇÃO DA TERAPIA COMUNITÁRIA 
INTEGRATIVA ................................................................................................. 253 
 
11. A História da Terapia Comunitária na atenção básica de saúde em João Pessoa/
PB: uma ferramenta de cuidado. 
Dayse Gomes Sousa de Oliveira e Maria Djair Dias .............................................. 254 
 
12. A Terapia Comunitária como instrumento de inclusão da saúde mental na 
atenção básica: análise da satisfação dos usuários. 
Fábia Barbosa de Andrade, Maria de Oliveira Ferreira Filha, Antonia Oliveira Silva, 
Iris do Céu Clara Costa ........................................................................................ 281
13. Repercussõesda Terapia Comunitária no cotidiano de seus participantes. 
Fernanda Jorge Guimarães e Maria de Oliveira Ferreira Filha ............................... 320
13
Prefácio
Vários são os caminhos que conduzem ao conhecimento e conferem 
competência a quem por eles caminha. A grande estrada da qualificação 
profissional tem sido as escolas, as universidades e as academias: instituições 
detentoras de saber, formadoras de profissionais, com seus rituais de iniciação, 
seus títulos, suas teorias, suas teses. 
Uma outra fonte de produção do saber é a vivência pessoal de indivíduos 
e de grupos sociais apreendida ao longo da vida. Os obstáculos, os traumas, 
as carências e os sofrimentos superados transformam-se em sensibilidade e 
competência, levando-nos a ações reparadoras de outros sofrimentos. Essa 
competência e essas habilidades construídas a duras penas são transmitidas, de 
geração a geração, pela tradição oral do “ouvi dizer” e “vi fazer” constituindo 
um capital sócio cultural indispensável a todo e qualquer desenvolvimento 
tanto individual como coletivo.
Por isso afirmamos, “minha primeira escola foi minha família e 
meu primeiro mestre foi a criança que fui”. Geralmente atribuímos nossas 
competências a livros que lemos, cursos que fizemos e jamais a algo que 
vivenciamos. Como poderemos nos empoderar se deixarmos de lado o saber 
produzido no contexto familiar, na escola da vida? Seremos meros marionetes 
prontos para sermos manipulados, colonizados e, portanto, alienados de nosso 
potencial criativo. 
Só nos empoderamos, quando compreendemos e aceitamos ser sujeito 
ativo, aprender com nossa história e não ter vergonha de nossas origens étnicas 
e dos nossos valores culturais, construídos em contextos diferentes, por nossos 
ancestrais. 
Na academia, nós incorporamos o saber científico que nos confere um 
diploma que legitima uma identidade profissional e nos garante um salário 
financeiro. No entanto, muitas vezes, esta incorporação é feita em detrimento 
da identidade cultural. Ela exige a morte do índio, do negro que vive em cada 
um de nós. Desta forma, reproduzimos o drama vivido no filme do Robocop, 
onde a dimensão humana fica eclipsada, reprimida por uma parafernália 
tecnológica. Tudo se passa como se a condição para sermos um profissional 
14
eficiente, cientista, fosse combater a dimensão afetiva, cultural, própria do ser 
humano.
Na experiência de vida, as carências e os sofrimentos, quando 
superados, transformam-se em sensibilidade e competência, levando-nos a 
ações reparadoras de outros sofrimentos, nos conferindo um salário afetivo.
O sofrimento que vivi me anima a restaurar aquilo que já conheço. 
É, portanto, minha antiga dor que se torna fonte de competência sanadora. 
Desta forma, cuidando do outro, eu restauro a minha própria história pessoal 
e familiar.
Podemos, assim, afirmar que a carência gera competência. Geralmente 
ensinamos melhor aquilo que mais precisamos aprender e damos melhor aquilo 
que não recebemos. Por exemplo: se fui rejeitado… torno-me acolhedor.
Nós necessitamos destas duas formas de conhecimento: o técnico-
científico e o conhecimento produzido pela experiência de vida.
Usando uma metáfora para melhor compreendermos estes dois saberes, 
são como duas mãos que se chocam, produzindo inicialmente barulho e 
sofrimento, e aos poucos, se dão conta que podem produzir música, ritmos, 
melodias que demonstram a alegria de viver. Portanto, são saberes que se 
chocam, se interpelam, num choque criativo e jamais destrutivo, no qual um 
novo saber quer eliminar o outro, seguindo a lei do mercado que faz com que 
o surgimento de um novo produto, sempre provoca a destruição do outro. 
Seria uma perda inestimável se a diversidade dos saberes não permitisse a co-
habitação, de forma respeitosa, desta diversidade. Ora, a sociedade é composta 
de contextos os mais diversos e, por isso, precisamos compreender que um 
modelo único, uma leitura única será sempre parcial. Um ponto de VISTA, é 
sempre a VISTA de um ponto. A compreensão da realidade social exige leituras, 
abordagens as mais variadas e plurais possíveis para atender a complexidade 
dos diversos contextos. Um modelo é uma construção sempre provisória. Um 
modelo aplicado para fazer uma leitura num determinado contexto, pode não 
servir para compreender um outro contexto. A realidade é uma universidade. 
Ela nos ensina a cada momento a relativizarmos o nosso saber, para podermos 
incluir, articular outros saberes construídos em outros contextos.
 A Terapia Comunitária Integrativa - TCI, como toda abordagem 
integradora ou holística, sabe que é possível transformar o choque e a dor 
15
deste confronto em ritmo, em batucada, em algo criativo que não negue, mas 
integre. Na Terapia Comunitária, aprendemos a construir juntos. 
A TCI apóia-se nas competências dos indivíduos e nos saberes 
produzidos pela experiência. Seus participantes são considerados verdadeiros 
especialistas na superação do sofrimento. Suas histórias de vida os têm 
tornado especialistas na superação de obstáculos e na produção de um saber, 
geralmente ignorado pela academia.
Não se trata de rejeitar o saber acadêmico, mas, sim, resgatar esta outra 
fonte geradora de competência. Trata-se de permitir que um método de cunho 
científico possibilite ao outro método de cunho mais intuitivo e cultural 
tomar corpo, consciência, consistência e reconhecimento de habilidades 
adquiridas por outras vias que não as convencionais. Trata-se de reconhecer 
que a cultura tem também seus processos e métodos geradores de habilidades 
e competências. 
A Terapia Comunitária Integrativa vem adotando o Método de pesquisa-
ação-participativa (RAP em francês), definido como “rejeição do monopólio 
universitário sobre a produção do conhecimento, e fazendo apelo também 
a outras maneiras de produzir ‘conhecimentos’ como a história oral, que 
prioriza a experiência do vivido da base, na base e para a base”. Os resultados 
têm sido encorajadores. O que resulta do diálogo entre as diferentes formas de 
produção de “conhecimento” tem permitido compreender a importância de 
ver o outro como um parceiro possuidor de recursos ocultos que precisam ser 
mobilizados, levados em conta em um trabalho de desenvolvimento humano 
e comunitário. Assim, tem sido possível relativizar os métodos e estar aberto a 
uma colaboração transdisciplinar e transcultural.
Do contrário, o sofrimento sem crescimento, sem transformação em 
competência, transforma-se num fatalismo aniquilador de esperanças, gerando 
comodismo. Não adianta fazer nada. “Se correr o bicho pega e se ficar o bicho 
come”. E, aos poucos, vamos perdendo a confiança em nós mesmos, em nosso 
potencial e vamos alimentando atitudes de fracasso, de auto-desvalorização e 
dependências as mais diversas, provocando o que chamo de a “síndrome da 
miséria psíquica”. Se, por um lado, este adágio popular sugere conformismo, 
nos convida a deixar as coisas como estão. Por outro lado, neste mesmo 
provérbio, podemos descobrir uma outra mensagem oculta, transformadora, 
16
mobilizadora desde que acrescentamos uma frase. Ou seja, se a gente se juntar, 
o bicho é quem corre, a gente pega e mata o bicho da corrupção, da violência, 
dos preconceitos... 
O sofrimento é a matéria prima da TCI, na medida em que podemos 
transformá-lo em crescimento. Para compreendermos melhor, me permitam 
uma outra metáfora: o sofrimento é como o “excremento”, a “merda” que 
pode ser transformada em estrume, em alimento para as plantas crescerem e 
produzirem flores e frutos. O foco de nossa reflexão é centrada no “sofrimento” 
e a pergunta chave é: O que tenho feito de meus “excrementos” de minhas “ 
merdas” de meus traumas? Já aprendi a transformá-los em adubo ou apenas a 
exalar odores insalubres e poluentes de vidas?
Neste livro, são relatadas algumas experiências daescola da vida, 
onde os grandes especialistas do cuidado souberam lidar com esta 
alquimia. Transformar sofrimento em sensibilidade, em energia reparadora, 
possibilitando a construção de uma nova ordem social, a construção coletiva 
do conhecimento. 
A forma de conhecimento que se recupera na prática da Terapia 
Comunitária, é bastante complexa. Compreende a capacidade do indivíduo 
vir a se observar e a observar os outros, bem como as ações de que faz parte, 
como parte de um contexto. Aponta para que a pessoa recupere a condição de 
agir, isto é, a de ser um ator, e não alguém que meramente reage. Procura ajudar 
a que o indivíduo recupere o valor da sua própria experiência como uma fonte 
de conhecimentos e de uma capacidade para se desenvolver no mundo. Isto é 
uma simbiose entre o saber popular, experiencial, e o conhecimento científico. 
Estas são apenas algumas pinceladas do processo essencial de recuperação do 
ser que ocorre na TCI ou, melhor dizendo, desencadeado por ela. Cada um 
e cada uma irá descobrir por si os traços desta caminhada de volta para si 
mesmo ou si mesma. 
A revolução que a TCI propicia na vida das pessoas e comunidades 
conduz, como dissemos mais atrás, a um empoderamento, a uma re-fundação 
da vida e da experiência. Esperamos que estes estudos, e mais, a experiência 
de cada um e de cada uma neste caminho que aqui se propõe, qual seja, o de 
pesquisar constantemente em si mesmo e na circunstância de que somos parte, 
leve muitos e muitas a este re-descobir o sentido de uma vida plena, feliz, livre 
e criativa. 
Adalberto de Paula Barreto
17
Apresentação
A pesquisa sobre a Terapia Comunitária Integrativa – TCI, ainda é uma 
área de conhecimento relativamente nova no Brasil, embora o seu objeto de estudo 
tenha uma existência superior aos 20 anos. A defasagem entre o surgimento do 
objeto de estudo e o seu estudo, contudo, não deve de per si chamar a atenção. 
O fato de que um conjunto de práticas, de modos de ser e de fazer, de 
pensar e de sentir, em suma, o que Émile Durkheim chama de fato social, demore 
em atrair a curiosidade dos acadêmicos, dos gestores, da população nos seus 
diversos atores sociais, pode até ser considerado normal. 
Para que esse conjunto de práticas venha a ter efeitos que despertem a 
atenção dos estudiosos, essas práticas devem já ter provocado conseqüências tais, 
pela sua aplicação e disseminação, que seja inevitável que as instituições de ensino 
e pesquisa se voltem para o novo fenômeno em expansão. 
Tal é o que ocorre no Brasil com os estudos sobre a Terapia Comunitária 
Integrativa, em parte, reunidos nesta coletânea. A ideia é a de oferecer aos leitores, 
de maneira sucinta, um breve “estado das artes”, se é que esta afirmação não é 
demasiado pretensiosa. O que foi pesquisado, ao menos no circuito acadêmico, 
no âmbito universitário. Quais são as avaliações das repercussões da aplicação 
desta tecnologia de cuidado e de redução do sofrimento mental que é muito mais 
do que uma ação em saúde ou pela saúde. É um fenômeno social, um movimento 
social, e como tal, o que aqui apresentamos, é como que a ponta de um iceberg. 
A TCI é um processo, uma prática social e pessoal complexa, e como tal, 
tem dado lugar a pesquisas e estudos tanto sobre ela mesma, quanto sobre os seus 
efeitos sobre as pessoas e comunidades. Este é um campo vasto de investigação, 
que compreende desde os fundamentos da TCI até as suas diversas aplicações 
em Equipes de Saúde da Família, comunidades, instituições. Aqui apresentamos 
vários destes estudos.
A pesquisa em TCI não dispensa o sujeito: o terapeuta comunitário está 
constantemente investigando sua própria vida e a vida ao redor, na trama da rede 
da qual faz parte. A prática da pesquisa em TCI envolve então o pesquisador e a 
população pesquisada. É sempre uma pesquisa participante, uma pesquisa ação. 
E também uma pesquisa em que o conhecimento é sempre transformador, nunca 
mera informação ou interpretação. 
A primeira parte é introdutória e o capitulo elaborado por Adalberto de 
Paula Barreto, criador da terapia comunitária, e Rolando Lazarte, colaborador, 
18
apresenta uma visão da terapia comunitária para os leitores, dando ênfase à 
discussão das bases teóricas, conceitos fundamentais, método, e os resultados 
que se alcançam com esta prática, em termos da recuperação da pessoa humana, 
a sua auto-estima e noção de si, a sua identidade e história, a trama social de 
pertencimento e a estrutura valorativa. Nesse capitulo, se entrecruzam visões 
sobre este novo fenômeno social desde os ambitos disciplinares da antropologia 
e a sociologia.
Na segunda parte, apresentamos estudos sobre a TCI e os seus efeitos 
na vida das pessoas que participam dos encontros de TCI, bem como nos seus 
familiares. O texto de Amilton Carlos Camargo e Ricardo Franklin, Tempo de falar 
e tempo de escutar: a produção de sentido em grupo terapêutico, é um estudo 
exploratório que buscou, através da narrativa de mulheres, ampliar a compreensão 
dos sentidos atribuídos ao sofrimento a partir da participação dessas mulheres 
nas rodas de Terapia Comunitária. Os autores trazem uma reflexão centrada na 
percepção do sujeito inserido no coletivo, evidenciando como as apropriações da 
fala do ‘outro’, produzem um novo sentido para as experiências vividas. 
Minha vida tem sentido toda vez que venho aqui: significado atribuído à 
terapia comunitária pela família do participante, de autoria de Luci Leme Brandão 
Lazzarini e Marilene Grandesso, é um estudo onde se mostra como a participação 
de um membro da família nas rodas da TCI, repercute positivamente na sua 
transformação pessoal, tanto quanto na da família da qual faz parte. As autoras 
utilizaramm o genograma para oferecer ao leitor uma maior compreensão sobre a 
constituição das famílias pesquisadas. 
O texto, Terapia Comunitária e Resiliência: história de mulheres de 
Lucineide Alves Vieira Braga, Maria Djair Dias, Maria de Oliveira Ferreira e 
Adalberto de Paula Barreto, discute a resiliencia, um dos pilares teóricos da TCI, 
e nesse estudo buscou-se conhecer as estratégias resilientes utilizadas por um 
grupo de mulheres participantes de rodas de TCI. É uma pesquisa que priorizou 
o método da história oral temática, para revelar histórias de lutas e superação 
da vitimização. Os autores discutem as características resilientes presentes nas 
mulheres, e constatam que a TCI propiciou o aumento da autoestima e da 
capacidade de mobilização social e comunitária.
Na terceira parte do livro, a ênfase recai sobre estudos desenvolvidos sobre 
a inserção da Terapia Comunitária Integrativa na Estratégia Saúde da Família- 
ESF. Os três primeiros estudos, tiveram como método de investigação a história 
oral temática. Coloca-se o foco nas mudanças que ocorreram nas práticas dos 
19
profissionais da ESF que se formaram terapeutas comunitários. O texto de Edlene 
de Freitas Rocha, Maria de Oliveira Ferreira Filha e Maria Djair Dias, intitulado 
A Terapia Comunitária e as Mudanças de Práticas no SUS, traz um retrato do 
processo de formação em TCI realizado no município de Pedras de Fogo/PB, e 
aborda a TCI como uma prática de humanização do cuidado em saúde, conforme 
preconizada pelo SUS. Através dos relatos dos participantes do curso, focaliza a 
contribuição da TCI para o autoconhecimento como um processo de educação 
permanente, e compara a TCI com a política de Educação Permanente para o 
Sistema Único de Saúde – SUS, no contexto da consolidação de um modelo 
comunitário de saúde mental. 
A contribuição de Márcia Rique Caricio, Maria Djair Dias, Túlio Batista 
Franco e Maria de Oliveira Ferreira Filha, Terapia comunitária: um encontro 
que transforma o jeito de ver e conduzir a vida, mostra através da história oral, 
as repercussões da TCI em profissionais da Estratégia de Saúde da Família. Do 
ponto de vistada perspectica de Gilles Deleuze, Os autores comparam a TCI 
como um encontro potente onde as pessoas são afetadas mutuamente pelas 
histórias vividas e narradas nas rodas. Eles trazem uma inovação no campo 
epistemológico, e mostram como a terapia temática, que é uma das variantes 
da TCI, pode ser utilizada como técnica de produção de material empírico, nos 
estudos qualitativos que requerem a expressão da subjetividade representada pelo 
vivido, pelo experienciado. 
No capitulo, Rodas de terapia comunitária: espaços de mudanças para 
profissionais da estratégia saúde da família de Fernanda Lucia de S. Leite Morais e 
Maria Djair Dias, a perspectiva está centrada na compreensão sobre as mudanças 
pessoais e profissionais ocorridas em trabalhadores da Estratégia de Saúde da 
Família (ESF) a partir da participação deles em rodas de Terapia Comunitária 
Integrativa. Verificam-se as interrelações entre o mundo do trabalho e o mundo 
da vida, numa atenção humanizada aos usuários na atenção básica em saúde. Este 
estudo demarca a proximidade da TCI com a educação permanente em saúde 
sob dois ângulos: enquanto sujeito de produção das práticas coletivas da saúde e 
enquanto objeto da ação transformadora da TCI, quando os profissionais relatam 
20
as mudanças ocorridas no processo de trabalho a partir da participação deles nas 
rodas de TCI.
Já o capítulo Repercussões da terapia comunitária no processo de trabalho 
da Estratégia Saúde da Família: um estudo representacional, de autoria de Maura 
Vanessa Silva Sobreira e Francisco Arnoldo Nunes de Miranda, fundamenta-
se na teoria das representações sociais, na perspectiva moscoviciana através da 
abordagem sociocognitiva, por entenderem os autores que esta opção teórico-
metodológica favorece uma reflexão sobre a crítica, sobre o espaço onde o sujeito 
está inserido, conferindo um valor influenciado pelo saber do senso comum e da 
ciência. O estudo avalia as repercussões da TCI tanto no processo de trabalho da 
equipe da ESF quanto no acolhimento e atendimento aos usuários dos serviços 
de saúde na atenção básica.
A quarta parte, a TCI com grupos específicos, traz duas pesquisas que 
tiveram o propósito de investigar como a TCI poderia potencializar as ações 
específicas de cuidado para grupos com características homogêneas, no que diz 
respeito a problemáticas enfrentadas. O capítulo Terapia Comunitária como 
abordagem complementar no tratamento da depressão: uma estratégia de saúde 
mental no PSF de Petrópolis, de autoria de Ana Lúcia Costa e Silva e Eliane 
Carnot de Almeida, mostra como a TCI pode ser utilizada como uma estratégia 
complementar no tratamento de pessoas em depressão. Este capitulo é uma boa 
referencia para àqueles que pretendem aplicar a TCI em grupos específicos, como 
diabéticos, hipertensos, usuários de álcool e drogas, entre outros. 
O capítulo A contribuição da Terapia Comunitária para o enfrentamento 
das inquietações das gestantes, de Viviane Rolim Holanda, Maria Djair Dias e 
Maria de Oliveira Ferreira Filha, objetivou identificar, na fala das mulheres 
gestantes, as estratégias desenvolvidas para o enfrentamento das suas inquietações 
do dia-a-dia, e revelar as contribuições da Terapia Comunitária para o bom 
desenvolvimento do processo da gravidez. Aqui se percebe a importância de se ter 
nos serviços de saúde um espaço de fala e escuta coletiva, onde todos são mestres 
e aprendizes. Esse material é direcionador para práticas coletivas em saúde, onde 
a TCI pode ser mais um espaço educativo, um lugar de tira dúvidas sobre mitos e 
medos relacionados com a gestação e puerpério.
A quinta parte, estudos que avaliam a TCI, foi inserida nesta coletânea 
para despertar o interesse de pesquisadores e principalmente dos terapeutas 
comunitários, para a avaliação da própria prática, seja através de técnicas 
21
qualitativas ou de instrumentos quantitativos. Inclui o capítulo A História da 
Terapia Comunitária na atenção básica de saúde em João Pessoa: uma ferramenta 
de cuidado, de autoria de Dayse Gomes Sousa de Oliveira e Maria Djair Dias. 
Neste capítulo pode-se apreciar a riqueza de narrativas que compõem a história 
do processo de implantação da TCI na rede de Atenção Básica em Saúde no 
município de João Pessoa, PB. As autoras apresentam aos leitores uma utilização 
do método da história oral temática, trazendo uma contribuição singular para a 
pesquisa qualitativa, em que o fenômeno estudado apenas pode ser conhecido 
através da voz dos colaboradores. Há uma sequencia nítida de narrativas que, 
cadenciadas, reconstroem uma história que até então era desconhecida.
Por sua vez, o capítulo A Terapia Comunitária como instrumento de 
inclusão da saúde mental na atenção básica: análise da satisfação dos usuários, de 
Fábia Barbosa de Andrade, Maria de Oliveira Ferreira Filha, Antonia Oliveira Silva, 
Iris do Céu Clara Costa, teve como objetivo avaliar a satisfação dos usuários com 
relação à TCI na Atenção Básica em Saúde, bem como a contribuição da TCI 
para a melhoria nos cuidados em saúde mental no nível primário da atenção em 
saúde. É um estudo que utiliza uma escala de avaliação da satisfação dos usuários 
sobre serviços de saúde mental, SATIS-BR, que foi adaptada para este estudo 
sobre avaliação da TCI, após quatro anos de sua implantação no município de 
João Pessoa, Capital da Paraíba. Esta pesquisa é uma referencia para gestores que 
desconheçam a repercussão da TCI na atenção básica de saúde e também na 
saúde mental. 
Finalmente, o capítulo Repercussões da Terapia Comunitária no cotidiano 
de seus participantes, elaborado por Fernanda Jorge Guimarães e Maria de Oliveira 
Ferreira Filha, é um dos primeiros estudos sobre a TCI publicado em periódicos 
indexados do sistema qualis da CAPES. Ele destaca-se pela importância da 
integração ensino-serviço como propulsora da construção de novos saberes e de 
novas práticas. Nesta pesquisa, a história oral também foi utilizada como método 
para conhecer as repercussões da TCI no dia a dia das pessoas que participavam 
das rodas de TCI e que também frequentavam uma Unidade de Saúde da Família 
do município de João Pessoa, PB. Ele também é referencia para os terapeutas 
comunitários, uma vez que mostra como as pessoas concebem esse momento 
terapêutico, tirando dele, lições para lidar com situações conflitivas no cotidiano.
Estas pesquisas que agora apresentamos ao público leitor, constituem a 
primeira reunião de estudos sobre a Terapia Comunitária Integrativa como 
22
construção coletiva do conhecimento. Acreditamos que a partir desta iniciativa, 
outros pesquisadores possam continuar a contribuir para que esta tecnologia de 
cuidado, que é ao mesmo tempo um movimento social de promoção da pessoa 
humana, uma ação cidadã e um método de conhecimento transformador, continue 
se expandindo e dando bons frutos, em termos de melhoria da qualidade de vida 
de muitas pessoas e comunidades.
O que aqui se apresenta, são pesquisas e estudos com ênfases e objetos 
específicos, utilizando metodologias particulares. A ideia é que outros 
pesquisadores possam ir além, aprofundadndo e questionando, gerando novas 
interpretações e perspectivas de conhecimento e ação. A nossa expectativa é a de 
que esta reunião de estudos pioneiros sirva para o progresso no campo da pesquisa 
e da ação. Os que forem se voltando para estas temáticas no futuro, irão gerando 
novos estados das artes, e assim sucessivamente, nessa construção coletiva que é o 
processo do conhecimento. 
O tipo de estudos aqui apresentados, enfatiza tanto a interpretação 
como a compreensão, a captação de sentidos, a descoberta de novas relações 
de conexões. Os leitores terão a oportunidade de conhecer uma ampla gama de 
formas de investigação, cujo traço comum é: pesquisa-se a TCI para transformar, 
práticas sociais para fazer emergir sujeitos novos, mais atuantes, maisautônomos, 
mais donos de si e do seu destino.
A nossa pretensão ao dar a público estes escritos é a de estimular o avanço 
do conhecimento na direção da consolidação do já investigado, bem como 
apontar direções para onde há de se avançar para além do conhecido, em direção 
às áreas ou aspectos ainda muito pouco explorados. 
Nesse sentido, podemos dizer que esta coletânea, que é uma produção do 
Grupo de Estudos e Pesquisa em Saúde Mental Comunitária, registrado na base 
de dados do CNPq e vinculado ao Programa de Pós Graduação em Enfermagem 
da Universidade Federal da Paraíba, é pioneira quanto a uma tentativa de mapear 
o conhecido e o por conhecer. Convidamos os leitores, a mergulharem nesta 
aventura do conhecimento.
Os organizadores
PARTE I
CONHECENDO A TERAPIA COMUNITÁRIA
 INTEGRATIVA 
24
UMA INTRODUÇÃO À TERAPIA COMUNITÁRIA 
INTEGRATIVA: 
CONCEITO, BASES TEÓRICAS E MÉTODO. 
1 
Adalberto de Paula Barreto
Rolando Lazarte
 
TERAPIA COMUNITÁRIA INTEGRATIVA
A Terapia Comunitária Integrativa (TCI) foi criada no ano de 1987 
na Favela do Pirambu, Fortaleza, sob a coordenação do psiquiatra, teólogo 
e antropólogo Adalberto de Paula Barreto, em parceria com a Associação 
dos Direitos Humanos do Pirambu e com a Pró-Reitoria de Extensão do 
Departamento de Saúde Comunitária da UFC. 
A TCI é um espaço de acolhimento do sofrimento, onde as pessoas 
se encontram e se sentam lado ao lado, formando uma roda, para partilhar 
inquietações, problemas ou situações difíceis, tanto quanto alegrias, vitórias 
ou histórias de superação. Na Terapia Comunitária Integrativa aprende-se a 
partir da escuta das histórias de vida dos participantes valorizando o saber de 
cada um, adquirido pela própria experiência. Valoriza-se a competência de 
cada pessoa, no contexto grupal, uma vez que se entende que todos são co-
responsáveis na busca de soluções e na superação dos desafios do cotidiano.
O termo terapia é de origem grega, therapeia, e significa acolher, ser 
caloroso, servir, atender. Já “comunitária”, vem de comunidade – que significa 
comum + unidade – e serve para designar pessoas que tem características 
em comum: exclusão e sofrimento, mas que também buscam soluções e a 
superação das dificuldades em sua vida. 
Assim a palavra comunidade, geograficamente falando, compreende o 
território, o local onde as pessoas vivem, trabalham, criam seus filhos e em 
25
geral realizam as atividades necessárias para a vida diária. A comunidade é o 
ambiente social onde os riscos são vivenciados e os apoios são prestados.
A Terapia Comunitária Integrativa é uma prática integrativa porque 
valoriza a diversidade das culturas, do saber fazer e das competências individuais 
e coletivas, lutando contra o isolamento, a fragmentação e a exclusão. Cada 
pessoa tem um saber que foi produzido pela sua própria experiência de vida. 
Quem é descendente de africano, tem o saber dos pretos-velhos, quem é 
descendente dos índios tem a sabedoria das ervas, das garrafadas, dos chás. 
Quem tem 60 anos tem um saber produzido pela experiência dos anos 
vividos. A TCI é também uma prática de caráter sistêmico, porque considera 
que as dificuldades estão relacionadas com o contexto e as interações sociais. 
Os indivíduos pertencem a uma rede relacional capaz de auto-regulação, 
protagonismo e crescimento. 
A TCI é uma abordagem que facilita o resgate da autoestima, fortalece 
o poder resiliente e o empoderamento, uma vez que potencializa recursos 
individuais e coletivos. É um instrumento de construção de redes de apoio 
social, porque possibilita a criação de vínculos e a formação de uma teia de 
relações facilitadora das trocas de experiências, do resgate das habilidades e da 
superação das adversidades baseada na formação de recursos sócio-emocionais. 
Na TCI, cada um é doutor da sua própria vivência, por isso, cada um 
vai falar de si e da sua experiência. Nas rodas, não se discutem temas teóricos 
e sim questões do cotidiano e sempre a partir de uma situação-problema que 
permite às pessoas descobrirem que também têm as soluções. Quando isso é 
feito, no final da terapia, se cria ou se fortalece uma rede de apoio solidária, 
que não tem como objetivo resolver os problemas das pessoas, mas criar e 
suscitar uma dinâmica interativa de identificação. Essa rede começa a se tecer 
e as pessoas irão se tornar mais autônomas, menos dependentes dos remédios 
e das instituições.
Portanto a TCI é uma tecnologia leve de cuidado, que tem dado respostas 
satisfatórias aos que dela participam, sendo mais um instrumento de trabalho, 
que pode ser utilizado por profissionais da saúde, áreas afins, e pela própria 
comunidade, no sentido de construir e fortalecer vínculos solidários, levando 
26
as pessoas e a própria comunidade a um processo de (re) construção e (re) 
conhecimento da sua identidade, imagem e memória coletiva, recuperando 
as raízes comuns, dando um sentido de pertencimento aos indivíduos, sem 
perder de vista as suas singularidades.
A TCI é caracterizada por três componentes básicos: 1) o engajamento 
de todos os elementos culturais e sociais ativos da comunidade para viabilizar 
a discussão e a realização de um trabalho de saúde mental; 2) o fortalecimento 
do coletivo, a fim de promover o encontro de grupos de crianças, adolescentes, 
mulheres, homens, idosos, funcionado como instrumento de integração social; 
3) a formação da identidade social, para que a pessoa cada vez mais tome 
consciência da miséria e do sofrimento humano, facilitando a descoberta de 
suas potencialidades terapêuticas. 
OS CINCO PILARES BÁSICOS DA TERAPIA 
COMUNITÁRIA INTEGRATIVA
A Terapia Comunitária Integrativa se apóia em cinco pilares teóricos: 
a pedagogia de Paulo Freire, a resiliência, a antropologia cultural, a teoria 
da comunicação humana (ou pragmática da comunicação humana), e o 
pensamento sistêmico. Estes são os pilares que estão explícitos atualmente na 
TCI, mas não se há de pensar que não existam nela outros pilares de maneira 
implícita. 
Por se tratar de uma prática complexa, em que saberes científicos e 
populares estão entrelaçados, a descoberta de outros pilares contidos neste 
afazer multifacetado, poderá sempre ocorrer. 
Esta possibilidade se coloca como um desafio para os estudiosos e para 
os terapeutas comunitários que devem ser, eles mesmos, eternos pesquisadores, 
eternos redescobridores de um fazer e de um ser, seu próprio ser, o ser da vida, 
que nunca está acabado, está sempre ocorrendo, sempre sendo outra coisa, 
sempre sendo algo mais. 
27
A Pedagogia de Paulo Freire
Há vários aspectos da pedagogia de Paulo Freire que se encontram 
incorporados na Terapia Comunitária Integrativa. Dentre eles, cabe aqui 
mencionar a criticidade (como oposta à visão ingênua, alienada, do mundo), 
a contextualização, a problematização, o caráter dialógico da construção do 
conhecimento e da realidade, a noção do opressor interno (FREIRE, 1987), 
o opressor introjetado no oprimido, e a noção de que o processo educativo é 
sempre de duas vias: todos aprendem, o educador e o educando, isto é: todos 
somos educadores-educandos, por um lado, e, por outro, a noção de que todos 
somos geradores de saberes e de visões de mundo irredutíveis umas às outras, 
em um movimento contínuo de mútua contradição e complementariedade. A 
compreensão de que a vida é um processo incompleto, é outra das características 
do pensamento de Paulo Freire 
Estas noções são algumas que se apresentam como relevantes. Podem 
parecer muito simples, mas –talvez como conseqüência dessa mesma 
simplicidade-- o seu efeito libertador nas rodas de Terapia Comunitária 
Integrativa, e na formação de terapeutas comunitários –toda terapia comunitária 
tende a ser um processo constante de auto-descoberta e libertação.
Ver as coisas em processo, se ver no processo de oposições e decontradições que é a vida. Poder se ver no contexto das circunstâncias 
em que cada um foi sendo moldado, passando a ser um analista de si 
mesmo e das pessoas em redor, e não mais espectador passivo. Se perceber 
como co-responsável na criação das circunstâncias em que se vive e se luta, 
nas quais se descobrem recursos próprios e coletivos para a emancipação 
do que oprime, e não mais como vítima. Se perceber, portanto, como 
sujeito construtor de modos de vida e visões de mundo, de relações sociais 
que oprimem mas também podem e devem libertar, em outras palavras, 
assumir a pessoa que se é e que se está sendo, o destino que se quer 
realizar. Ou seja: sujeito ativo, criativo, capaz (o “eu posso” individual e 
coletivo), autor das próprias escolhas e dono da própria vida. Tudo isto 
em movimento, ou seja: não mais a vida como passividade, submissão, 
aquiescência, mas como atividade, criatividade, compromisso consciente.
28
A pedagogia de Paulo Freire é muito mais do que os procedimentos 
que costumam ser citados ao se referir a ela. Tal como a Terapia 
Comunitária Integrativa, o método Paulo Freire é uma forma de ver o 
mundo, de ler a realidade e a si mesmo, de agir significativamente em 
grupo e individualmente, a partir de valores e formas de perceber geradas 
num encontro mutante com a matriz sociocultural e histórica a que se 
pertence. 
As tentativas de resumir estes dois grandes movimentos sociais em 
boa medida entrelaçados e mutuamente implicados a alguns dos seus 
traços característicos, podem levar a visões estereotipadas afastadas do 
que se quer conhecer, isto é: dois grandes movimentos sociais gerados no 
Nordeste brasileiro, expandidos pelo país inteiro, em perpétuo processo de 
mudança interna, avançando de maneira lenta, mas firme, em direção a 
formas mais humanas de existência. 
O movimento de educação popular de Paulo Freire e a terapia 
comunitária agem pela base, são movimentos sociais, modificam a 
consciência do oprimido em direção à sua libertação prática, não teórica 
ou ideológica. Um dos eixos desta ação libertadora, talvez o principal, é a 
recuperação da auto-estima de pessoas e comunidades. 
Esta recuperação da autoestima, está ligada à libertação da pessoa 
e das comunidades, dos estereótipos e dos preconceitos internalizados, 
que os faziam se repudiar e se desconhecerem a si mesmos, por terem 
introjetado a visão do opressor. Isto fica claro numa menção que Paulo 
Freire faz em A pedagogia da Autonomia, à forma como um favelado passou 
a ver a si mesmo, já não mais como uma vítima ou alguém indesejável, mas 
comum sujeito vitorioso, vencedor, por ter-se organizado e mobilizado 
coletivamente em favor do bem comum. 
Na Terapia Comunitária Integrada, esta mesma recuperação da 
auto-estima, ocorre a partir do momento em que as pessoas passam a 
se perceberem já não apenas enquanto alguém que cumpre obrigações, 
papéis sociais, mas como alguém com direito a existir, a ser ele mesmo, a 
29
pessoa, o ser humano que é, e não que os outros pensam a seu respeito ou 
o que os outros querem que a pessoa seja. 
A pedagogia de Paulo Freire foi gestada em um contexto de 
mobilização social e política latino-americana e mundial, no fim dos anos 
1950 e começo dos anos 1960. Era um período marcado por rebeliões 
estudantis e por mudanças políticas em direção ao socialismo. 
Na Pedagogia do oprimido, Paulo Freire questiona o revolucionarismo, 
como oposto à radicalidade. No primeiro, se mantém ou pretende-se 
manter a tutela sobre os oprimidos, em nome da sua libertação. A segunda, 
envolve uma mudança geral, em que todas as pessoas se mobilizam na 
construção de uma sociedade emancipada. 
As advertências de Paulo Freire resultam proféticas, olhando 
retrospectivamente o panorama dos processos políticos das últimas décadas 
no nosso continente e no mundo. Em particular, o agir dos movimentos 
guerrilheiros e dos regimes do chamado socialismo real, bem como as ditaduras 
cívico-militares e as suas continuidades neoliberais. 
A vigência e o vigor da sua pedagogia permanecem atuais, na medida 
em que outros movimentos sociais, como a Terapia Comunitária Integrativa, 
aprenderam estas lições; cada um de nós é o mundo a ser mudado, e não há 
líderes nem partidos ou instituições que possam nos libertar, se não assumirmos 
nós mesmos a responsabilidade e as conseqüências de termos tomado a decisão 
de sermos os autores do nosso próprio destino, com autonomia.
A Teoria da Comunicação Humana
A teoria da comunicação humana é um dos pilares básicos da Terapia 
Comunitária Integrada. Formulada por Watzlawick, Helmick-Beavin e 
Jackson, permite compreender a ação humana como um comportamento 
em que são transmitidas mensagens. Toda a conduta humana é transmissora 
de mensagens, inclusive quando nos propomos a não comunicar, estamos 
dizendo algo: você não existe, você não me importa, você não é de nada. Bem 
dizem que o contrário do amor não é o ódio, mas a denegação. 
Na Terapia Comunitária Integrativa, aprendemos que uma pessoa deixa 
de ter sentido ou passa a ser ignorada deliberadamente, quando ela é denegada 
30
e isto acarreta conseqüências para a sua auto-estima, para a noção de si, para o 
seu modo de ser e de se comportar no mundo. 
Uma criança que não foi desejada, desde o ventre materno soube disso, 
e veio ao mundo preparada para ter que agradar, para dizer que sim o tempo 
todo, para aceitar qualquer coisa em troca de um pouco de afeto. Uma que foi 
querida desde a concepção, ao contrário, é capaz de dizer sim quando quer, 
e não quando não quer. Estas constatações aparentemente muito simples, 
permitem com que a pessoa comece a ver a si própria desde outro lugar, desde 
uma possibilidade de auto-conhecimento autêntico, sem enganos, verdadeiro. 
Muitas vezes, nas terapias ou nas formações de terapeutas comunitários, 
os participantes são levados a descobrirem as falsas imagens que fizeram de si 
mesmos, e que os tem aprisionado durante a vida toda, ou por longos períodos 
de tempo. Quando a pessoa começa a se perceber como alguém que venceu 
muitas batalhas, alguém que soube dar a volta por cima em circunstâncias 
que poderiam tê-la quebrado ou desviado do seu caminho, o conceito de si 
começa a emergir de uma maneira positiva. O sujeito se descobre capaz de 
direcionar sua própria vida, de dar um significado ao seu existir, de decidir 
o que quer que seja o seu próprio ser. “O que você quer para eu querer” 
(a criança ou a pessoa boazinha). “O que você quer para eu não querer” (o 
rebelde ou contestatário) são prisões em que a pessoa deixa de ser ela mesma, 
perde a sua liberdade, age por automatismos. 
Quando aprendemos a decodificar as primeiras mensagens e a lê-las ao 
nosso favor, quebram-se os determinismos da nossa vida. Se alguém se sentiu 
abandonado, não querido, porque foi esperado menina e era menino, ou o 
contrário, isto determinou reações que estiveram fora do seu controle, da sua 
capacidade de decidir. Agiu durante anos contra o mundo, contra as pessoas, 
por vingança: não me quiseram, não os quero. Muitos comportamentos 
agressivos estão animados por uma reação de quem se sentiu não querido, 
não amado. 
Muitas vezes a agressividade vai direcionada contra a própria pessoa, 
que passa a conviver com um tirano interno, um  sabotador da sua felicidade e 
31
do seu direito a viver com alegria e segundo sua maneira única e irrepetível, no 
meio aos outros. Nas formações de terapeutas comunitários, um dos exercícios 
é a descoberta do animal com que cada um se identifica. Formam-se grupos e 
os coleguinhas que escolheram o mesmo animal, trocam figurinhas a respeito 
de si mesmos, dos seus modos de ser característicos. 
Isto faz com que cada um descubra sua natureza mais comum ou 
freqüente, suas formas habituais de ser e de se comportar. Então, a pessoa 
deixa de se condenar e dese comparar com os outros, descobre sua forma 
única de ser, e a aceita. As mensagens recebidas (fui abandonado, não me 
quiseram) são re-codificadas em função do contexto  interpretativo que a 
interpretação sistêmica e integrativa propõe, com base nos valores dos pais e 
da cultura em volta, e das escolhas próprias da pessoa. 
O que se aprende na Terapia Comunitária Integrada, em termos 
da comunicação, é a sair ou tentar quebrar as armadilhas da comunicação 
paradoxal, do duplo vínculo e das distorsões das mensagens equívocas que 
emitimos ou recebemos. “Carta certa para pessoa errada”, é quando emitimos 
uma mensagem que é correta no seu conteúdo, mas está sendo direcionada 
a quem não tem nada a ver. Quando a reação é desproporcionada ao fato, 
estamos reagindo não ao fato, mas ao que ele nos remete. 
Estas chaves nos dão elementos para irmos re-programando a nossa 
conduta desde uma visão mais atual, mais presente, menos condicionada pelo 
passado. O passado é visto como o estrume necessário para o crescimento 
da planta. O presente desponta como um tempo novo, livre de amarras. O 
empoderamento das pessoas e das comunidades depende em boa medida da 
decodificação e re-codificação de mensagens recebidas e emitidas. 
A Antropologia Cultural
 Os conhecimentos dessa ciência chamam a nossa atenção para a 
importância da cultura, esse grande conjunto de realizações de um povo ou 
32
de grupos sociais, o referencial a partir do qual cada membro de um grupo se 
baseia, retira sua habilidade para pensar, avaliar e discernir valores, e fazer suas 
opções no cotidiano. 
Vista dessa maneira, a cultura é um elemento de referência fundamental 
na construção da nossa identidade pessoal e grupal, interferindo, de forma 
direta, na definição de quem somos, de quem é cada um de nós. E é a partir 
dessa referência, que podemos nos afirmar, nos aceitar e nos amar, para então 
podermos amar os outros e assumir nossa identidade como pessoa e cidadão. 
Dessa forma, podemos romper com a dominação e com a exclusão social que, 
muitas vezes, nos impõem uma identidade negativa ou baseada nos valores de 
uma outra cultura que não respeita a nossa. 
Quando reconhecemos que, mesmo num único país, convivem 
várias culturas e aprendemos a respeitá-las, descobrimos que a diversidade 
cultural é boa para todos, é verdadeira fonte de riqueza de um povo e de 
uma nação. Se a cultura for vista como um valor, um recurso que deve ser 
reconhecido, valorizado, mobilizado e articulado de forma complementar 
com outros conhecimentos, poderemos ver que este recurso nos permitirá 
somar, multiplicar nossos potenciais de crescimento e de resolução de nossos 
problemas sociais e construir uma sociedade mais fraterna e mais justa.
A Antropologia traz uma visão do universo cultural do ser humano. 
Compreendemos que toda cultura, todo indivíduo, tem direito à diferença, 
e que a cultura responde a um desejo maior do ser humano: o de nutrir a 
sua identidade. Ser diferente é a razão maior de ser humano. Combater a 
diferença é um ato de dominação e de empobrecimento da humanidade.
A visão antropológica nos diz que somos construídos socialmente, que 
cada ser humano se torna quem ele é, a partir dos condicionamentos recebidos 
desde a sua gestação, pela vida afora. 
Estes condicionamentos são as marcas da cultura, são as definições que 
nos moldam de maneira a virmos a ser membros da sociedade. Este processo 
é a socialização, e implica na adoção de padrões de comportamento, de 
33
percepção do mundo e de nós mesmos, de relacionamento com os outros, 
com a natureza, a sociedade, etc. 
Este processo implica na constante adoção e rechaço de valores e de 
padrões, conforme os ambientes em que a pessoa vai se incorporando e as 
formas de convivência com as quais a pessoa é levada a se relacionar ao longo 
da sua vida. Nesse processo, a pessoa vai formando a sua identidade, mas por ser 
um processo contraditório, em que o ser humano individual freqüentemente 
é forçado a se negar a si mesmo para poder sobreviver, a identidade negativa 
ou auto-excludente, muitas vezes prevalece sobre a identidade originária ou 
verdadeira, essencial. 
A Terapia Comunitária Integrativa promove um reencontro da pessoa 
consigo mesma, a través de um processo de auto-reconhecimento em que 
as falsas auto-imagens vão sendo descobertas e rechaçadas, substituídas pela 
imagem e auto-conceito positivos originários. 
Estereótipos e preconceitos marcam o caminho conflitivo em que a 
identidade se debate para sobreviver. Uns e outros são impostos por relações 
de poder que marcam a dominação de grupos na sociedade. A pessoa se 
defronta com situações nas quais deve adotar padrões e valores contrários aos 
seus , e isto pode levar à negação da própria identidade ou ao seu reforço. 
Neste último caso, prevalece a resiliência, a auto-afirmação de si mesmo e dos 
próprios valores, em circunstâncias de extremo risco de desaparição da própria 
identidade. Isto em circunstâncias extremas; em circunstâncias normais, a 
pessoa pode escolher entre valores dominantes, os universais da cultura, ou 
as alternativas.
Na prática da Terapia Comunitária Integrativa, a pessoa é levada 
a se tornar terapeuta de si mesma. Isto envolve, entre outras coisas, um 
reencontro profundo com as suas raízes, a sua identidade, a sua origem, o seu 
pertencimento.
Uma prática social torna-se libertadora quando está profundamente 
conectada com as origens, com a história de vida da pessoa, o que ela quis ser 
34
e o que é, o seu passado e o seu projeto de futuro. Do contrário, pode- se cair 
em práticas mecânicas, sem sentimento, tecnificadas. 
No resgate da criança interior, uma das vivências utilizadas na formação 
do terapeuta comunitário, o indivíduo é levado a se reencontrar com o seu 
primeiro mestre, a criança que foi. Isto promove um retorno à pureza original, 
que volta a se tornar um fato do dia a dia, um estado de consciência habitual. 
O Pensamento Sistêmico
A origem do pensamento sistêmico deve ser buscada nas visões de 
mundo dos povos da antiguidade, tal como se mostram nos textos dos povos 
originários da nossa América, ou na Grécia antiga. Essas visões integradas do 
mundo, que Werner Jaeger refere em Paidéia, tem semelhança com as do povo 
maia, por exemplo, ou na mitologia kogui. Na literatura e na antropologia, 
respectivamente, Octávio Paz e Ramón P. Muñoz Soler, entre outros, aludem 
a esse mundo coeso, anterior às rupturas da modernidade e do racionalismo 
utilitarista.
Ao pensarmos em sistema, vêm a imagem e o conceito de um sistema 
como o solar, ou o organismo humano, objetos e elementos em relação 
mútua, em delicado e preciso equilíbrio, trabalhando ou funcionando para 
uma finalidade comum.
O pensamento sistêmico tem-se desenvolvido ao longo de varias épocas, 
com caracteres próprios. No século IX, é possível reconhecer seus traços no 
pensamento de Émile Durkheim (1974), um dos fundadores da sociologia, 
mas ele se encontra também, com feições diversas e no entanto em certos 
sentidos convergentes, no pensamento de Karl Marx. Também é possível 
reconhecer o pensamento sistêmico nas visões de mundo dos escolásticos da 
Idade Média, em que ciência e religião convergiam em formas de conceber e 
conhecer o mundo posteriormente dissociadas pelo racionalismo cientificista. 
35
A trajetória desta dissociação é traçada por Fritjof Capra em O ponto de 
mutação.
Na sociologia moderna, mencionemos Talcott Parsons (1988), que 
mantém a concepção durkheimiana, enriquecida com conceitos weberianos 
e da psicologia social, aproximando o conhecimento do macro (estrutural) 
ao micro (individual, pessoal). Nesta linha, encontramos autores como Agnes 
Heller (1985), Ferdinand Braudel (1990), Karel Kosik (2000), Georges 
Gurvitch (1987), e Alfred Schutz (Fenomenologia e relações sociais). Neles 
encontramosconcepções mutantes de realidade social, permeadas por 
conceitos de consciência e de dinâmica social em constante transformação. 
Max Weber, para fecharmos esta breve introdução sociológica, constrói a sua 
sociologia a partir de conceitos de objetividade, racionalidade e ação social, 
em que os motivos, as crenças, as idéias e imagens, tem valor preponderante. 
Esta integração de sabores, a interdisciplinaridade, é outro dos traços 
do pensamento sistêmico. Restaria acrescentar outro destes traços, qual seja a 
concepção da realidade social como construída, em permanente modificação, 
de maneira inter-subjetiva, por contraposição ao objetivismo que supõe existir 
uma realidade externa e independente dos sujeitos humanos.
Este aspecto, da criação social e pessoal da realidade, é da maior 
importância, pois vêm de encontro ao fatalismo objetivista, que supõe que 
apenas poderá haver uma humanidade mais feliz e mais plena, quando 
tiverem mudado umas supostas condições objetivas, que existiriam 
“independentemente da vontade dos seres humanos”. Como não é assim, 
como o mundo, e eu como o mundo primeiro, dependem de nós mesmos, 
podemos fazê-lo à nossa imagem e semelhança, isto é, de acordo com a vontades 
de cada um. O empoderamento de pessoas e comunidades, o reencontro 
da capacidade criativa ou autopoiese, é o resultado final (se é que existem 
resultados finais) do processo de emancipação humana, de recuperação da 
autonomia, de fim da alienação e recomeço da vida plena. Levar em conta 
36
os princípios do pensamento sistêmico é viver mais de acordo com o que a 
realidade é. Isto é: a incerteza, a intersubjetividade, a constante mutação de 
tudo e de todos, nos levam a existir de um modo mais fluente, mais do modo 
como o Tao dos antigos chineses diz, ou seja, deixar a vida seguir seu jogo, sua 
eterna dança de contrários complementares.
Nas últimas décadas do século XX, Fritjof Capra trouxe novamente a 
tona a questão da integração de saberes. Vários dos seus livros, provocaram 
uma verdadeira revolução, no sentido de que trouxeram de volta a antiga 
visão unitária, decomposta pelo utilitarismo, o mecanicismo, o reducionismo 
e o materialismo. Se as antigas visões não viram exclusão entre espírito e 
matéria, estas visões integradas que retornam, repõem a unidade do saber e 
a unidade da vida, enunciadas por muitos pensadores, como Karl Marx, por 
exemplo. Embora Marx tenha sido apresentado como materialista, sua visão 
do ser humano é integrada, como pode ser lido nos Manuscritos Econômicos 
e Filosóficos de 1844. Erich Fromm (1983), Karl Jaspers (1953), Wilhelm 
Reich, Muñoz Soler, Edgar Morin, Maturana e Varela (2004), Leonardo 
Boff (1999), completam a plêiade de pensadores modernos em que a visão 
integrada retorna. Ciência e poesia, religiosidade e objetividade, os opostos se 
completam e determinam na sua interação contínua, o movimento da vida.
No final da década de 1930, o biólogo Ludwig Von Bertalanffy, 
enunciou a Teoria Geral dos Sistemas, buscando compreender a inter-relação 
existente entre as partes e o todo.
O pensamento sistêmico diz que as crises e os problemas podem ser 
entendidos e resolvidos quando os percebemos como partes integradas de 
uma rede complexa, com ramificações, que interligam as pessoas num todo, 
envolvendo a biologia (corpo), a psicologia (mente e emoções) e a sociedade 
(contexto cultural) (Maturana 2004). Esses aspectos estão interligados de tal 
modo que cada parte influencia e interfere na outra. A abordagem sistêmica 
possibilita entender a pessoa na sua relação com a família, com a sociedade, 
com seus valores e crenças, colaborando para a compreensão e a transformação 
do indivíduo (Barreto, 2008).
É importante registrar que, tendo consciência da globalidade, aborda-se 
e situa-se um problema sem perder de vista as várias partes do conjunto. Por 
isso se faz necessário observar o contexto, ou seja, as “circunstâncias que estão 
interligadas e dão sentido ao funcionamento do sistema” no qual o indivíduo 
37
se insere. Igualmente, para compreender como funciona a sociedade e 
para entender o comportamento das pessoas e dos grupos sociais, é preciso 
compreender o sistema como um todo. 
Na Terapia Comunitária Integrativa, a aplicação da abordagem 
sistêmica implica em reconhecer que todo ato de uma pessoa, a vida dessa 
mesma pessoa, seus valores, atitudes, formas de agir, está inserido numa 
matriz. Essa matriz é o contexto que dá sentido a esse ato, a essa pessoa, ou 
a alguma das suas atitudes ou comportamentos. Implica em deixar de julgar 
separadamente, aprendendo a ver as coisas num conjunto, no seu contexto, 
fora do qual não fazem sentido.
Esta forma de ver as coisas, aparentemente tão simples, envolve uma 
mudança radical na percepção do terapeuta. O objetivo da TCI é que cada um 
seja seu próprio terapeuta. No processo de formação do terapeuta comunitário, 
ele é levado a um mergulho em profundidade em si mesmo, na sua trajetória 
de vida, suas lutas, os fracassos, os recomeços, o vai-vém da sua existência, 
num conjunto interpretativo do qual fazem parte seus familiares (a primeira 
escola), a família que ele constituiu ou não posteriormente, o ambiente social 
e as tradições culturais de que faz parte. Isto refaz a leitura de si mesmo que 
a pessoa fazia entes da formação como terapeuta comunitário, em que se via 
a si mesmo e aos demais, separadamente. Aprende a se ver e a compreender 
em conjunto, integradamente, daí o nome de terapia comunitária integrativa 
e sistêmica. 
A Resiliência
Toda carência gera uma competência. A resiliência se refere ao saber 
que a pessoa adquire ao longo da sua vida, pela experiência, a luta, as vitórias 
sobre dores que poderiam tê-la quebrado ou, de fato, a quebraram durante 
anos. 
Quando a pessoa emerge vitoriosa do processo de estranhamento de si 
mesma, quando ela recupera a sua autoestima, aprende que ela é alguém de 
valor sem igual na sua vida, alguém que por ter vencido todas as batalhas que 
se apresentaram até o momento atual, é dona de um saber e de um poder que 
não deve a ninguém, mas apenas a si mesma. 
Tendemos a valorizar em demasia algo que lemos, uma ajuda que 
recebemos, alguma pessoa ou muitas, a quem atribuímos valor enorme na 
38
nossa vida. Mas sem a nossa decisão de vencer, teríamos sucumbido. As 
pessoas do meio popular valorizam muito o saber aprendido na escola da vida. 
A Terapia Comunitária Integrativa reforça esta atribuição de valor, 
enfatizando que cada um é doutor na sua própria experiência.  Saber que se 
aprende nos livros e nas escolas, o saber técnico-científico, não substitui, mas 
se complementa com o saber experiencial, o que foi adquirido no dia a dia, ao 
longo dos anos, na luta contra circunstâncias adversas, quer seja na família, a 
primeira escola de cada um, quer na escola ou no trabalho, na vizinhança, nas 
distintas esferas sociais de atuação. 
A pessoa resiliente valoriza os gestos de ajuda que recebeu e recebe ao 
longo da vida. Ela se nutre da generosidade, da infinidade de atos de amor que 
a acolheram e ampararam ao longo das vicissitudes que teve de atravessar. Ela 
sabe que cada um, cada ser humano, é a soma de infindáveis atos e gestos de 
colaboração que deram por resultado o ser que cada um de nós é agora. 
A vida adquire um valor inestimável desde esta perspectiva, em que 
tudo que somos reúne os nossos ancestrais, os amigos que fomos tendo nas 
distintas etapas da vida, as lutas que tivemos que enfrentar, os ambientes e 
experiências adversas pelos que tivemos que atravessar, as vitórias que nos foi 
dado obter. Somos uma soma de atos de amor. 
A pessoa resiliente sabe disto, e age em conseqüência, valorizando cada 
pequena coisa. É comum em famílias de imigrantes ou pessoas que sofreram 
necessidades como fome ou escassez, valorizar uma migalha de pão, uma 
gota de água, umpedaço de comida, um olhar de  compreensão, uma escuta 
calorosa e atenta. 
Quando a pessoa se vê na trama da vida, na teia da vida, como 
costumamos dizer na Terapia Comunitária Integrativa, ela não dispensa nada, 
e o que a faz sofrer, a faz crescer. Ela descobre isto na sua formação como 
terapeuta comunitário, quando reconhece o processo do qual é resultado. Se 
se sentiu abandonada, não querida, torna-se amorosa, sensível à dor alheia, 
capaz de se doar sem nada esperar, sabendo da alegria de poder se integrar 
amorosamente na vida dos outros. 
Se foi problema, tende a ser solução. Se se sentiu um estorvo, sabe 
acolher. No processo de se tornar terapeuta comunitário, a pessoa aprende a se 
tornar cada vez mais autônoma, senhora de si, na medida em que sai do papel 
de vítima para o de vencedor. A complementação do saber científico com o 
experiencial, oriundo da vida e das vivências que cada pessoa passou e passa, 
39
cria essa capacidade resiliente que torna o individuo forte naquilo em que foi 
mais débil. 
É a transformação da fraqueza em força, e cada ser humano é capaz de 
descobrir e descobre que isto ocorre na vida de cada pessoa. Neste sentido, 
pode-se dizer que é a vitória do ser humano sobre a adversidade. Eterna 
epopéia infindável em que todos estamos involucrados, e que não termina 
enquanto há vida.
O Método da Terapia Comunitária Integrativa 
Como já foi dito, nos encontros da Terapia Comunitária Integrativa as 
pessoas sentam-se lado a lado, em roda, de modo que seja possível a visualização 
dos participantes entre si. Tais encontros se desenvolvem em cinco etapas, 
a saber: acolhimento, escolha do tema, contextualização, problematização e 
encerramento.
No primeiro passo, acolhimento, o terapeuta acomoda os participantes 
em um círculo, a fim de que todos possam ter a visão do grupo como um 
todo. Nesse momento, são explicitadas pelo terapeuta as regras da terapia: 
fazer silêncio, para garantir o espaço da escuta; falar de si mesmo e da própria 
experiência; não dar conselhos, não julgar nem criticar, respeitando a história 
de vida do outro; se no decorrer da terapia algum participante lembrar de uma 
música, piada, poesia, ou conto que tenha alguma ligação com o tema, pedir 
permissão ao grupo para trazê-los a tona. Isso permite a expressão da cultura, 
reveladora de dores e sofrimentos, bem como de estratégias de superação.
Neste passo, a pessoa é recebida de forma calorosa, de tal forma que 
o grupo poderá vir a ser a sua referência na comunidade, num processo de 
ruptura do isolamento, do estranhamento, do abandono e do anonimato. 
No segundo passo, escolha do tema, o terapeuta estimula os participantes 
a falarem de forma sintética, sobre situações de sofrimento que eles possam 
estar vivenciando. Em seguida, o terapeuta apresenta uma síntese das situações 
40
verbalizadas pelo grupo, e sugere que o grupo escolha uma delas como um 
tema para ser aprofundado no passo seguinte.
Neste ingresso ao círculo, uma matriz é recriada, a pessoa que se sentia a 
única no mundo com uma dor tão grande que ninguém poderia compreender, 
situa-se no meio de outras pessoas que contam as suas dores. A dor dela não 
é maior nem menor do que as demais. Mesmo que o tema ou problema de 
outro participante não tenha sido eleito para ser trabalhado no grupo, ele se 
vê no problema dos demais, com os quais aos poucos vai se formando um elo 
de simpatia por semelhança ou diferença.
No terceiro passo, contextualização, são colhidas mais informações sobre 
a situação temática escolhida, permitindo a utilização de perguntas a fim de 
facilitar a compreensão e o esclarecimento do contexto onde o problema ou a 
situação se insere. As perguntas formuladas ajudam a pessoa que está falando 
do seu problema a refletir sobre a situação vivida.
O momento em que todos irão comungar da contextualização do tema 
escolhido é algo grandioso, haja vista que o mergulhar no contexto do outro, 
requer dos participantes da roda despojamento e liberdade; acontece nesse 
momento um encontro entre o contexto daquele que está falando de si na roda, 
e do outro que apenas ouve, comovendo-se, fortalecendo-se e se preparando 
para contribuir no amenizar daquele sofrimento a partir da explanação da sua 
história de vida.
A escuta ativa abre espaço para a ressonância por semelhança. A pessoa 
aprende que nada está isolado, todas as coisas fazem parte de um sistema de 
interconexão e interatividade. 
No quarto passo, problematização, o terapeuta comunitário apresenta o 
mote, que no âmbito da Terapia Comunitária Integrativa significa a pergunta-
chave que vai permitir a reflexão do grupo, e a pessoa que expôs o problema 
fica em silêncio. 
Neste momento, as pessoas que vivenciaram momentos semelhantes 
ou que guardam alguma relação com o tema do mote, passam a refletir a 
experiência vivida, e de que modo foi enfrentada determinada situação de 
41
sofrimento, permitindo o nascimento de estratégias de enfrentamento usadas 
pelas pessoas, evidenciando o processo resiliente. 
Ocorre, então, a complementariedade das diferentes realidades, a partir 
da partilha de situações semelhantes, onde as riquezas emergidas de cada 
identidade passam a se fazer presentes, ali naquele meio coletivo, onde todos 
ouvem, alguns falam, mas o coletivo se fortalece com a partilha de vida de 
cada pessoa. Desse modo a pessoa que teve seu problema escolhido elege as 
estratégias mais adequadas a serem utilizadas na resolução do seu problema. 
Isto é promover a cidadania e fortalecer o empoderamento no meio social.
O quinto e ultimo passo, conclusão/encerramento, se dá com todos os 
participantes unidos através da junção das mãos, em um círculo com rituais 
próprios como cantos religiosos ou populares, orações, abraços e o relato 
de cada um da experiência adquirida naquele encontro. A execução desse 
momento permite a construção de redes sociais solidárias, que unem entre 
si, todos os indivíduos da comunidade. O término da sessão é o começo para 
a utilização dos recursos que a comunidade dispõe para a resolução dos seus 
problemas.
SINTETIZANDO
 
A Terapia Comunitária Integrativa configura um ramo do voluntariado, 
dando lugar a um novo ator social: o terapeuta comunitário. Esta é uma 
atividade exercida por profissionais da saúde (médicos, enfermeiras, psicólogos, 
odontólogos, agentes comunitários de saúde, dentre outros), pedagogos, 
mobilizadores sociais, ativistas políticos, agentes pastorais, que nela encontram 
uma ferramenta para criar e fortalecer vínculos sociais positivos. A TCI é 
realizada em espaços públicos como praças, embaixo de uma árvore, em clubes, 
igrejas, associações de moradores. Os resultados são o fortalecimento do tecido 
social, em termos de reconhecimento mútuo de relações de pertencimento, de 
respeito às diferenças, de aumento da autoestima das pessoas a partir de um 
reencontro profundo com elas mesmas, uma valorização da própria história de 
vida, uma identidade e memória pessoal e coletiva reavivadas. Os resultados 
da TCI vem sendo objeto de estudos e pesquisas científicas no Brasil e em 
outros países, como Uruguai, França e Argentina. 
42
REFERÊNCIAS
BARRETO, Adalberto. Terapia Comunitária passo a passo. 2 ed. Fortaleza: LCR, 2008.
BERGER, Peter L., BERGER, Brigitte. Socialização: como se tornar um membro da sociedade 
In: FORACCHI, M. M., MARTINS, J.S.(Orgs.). Sociologia e sociedade Rio de Janeiro: 
Livros Técnicos e Científicos, 1977.
BERTA, M. El Dios vivo. Montevideo, Colección Psicoterapia Abierta, 2007.
BOFF, L. Saber cuidar. 10 ed. Petrópolis: Vozes, 1999. 
BRAUDEL, F. Historia e Ciências Sociais Lisboa: Editorial Presença, 1990.
CAPRA, F. O ponto de mutação. São Paulo: Editora Cultrix, 1999.
DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. 26. ed. São Paulo: Companhia 
Editora Nacional, 1974.
FREIRE,

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