Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Curso - Biologia/Licenciatura Componente Curricular - Anatomia Humana Professor - Gabriel Ribeiro Atividade de Aprendizagem FRAGMENTOS DE TEXTOS DA HISTÓRIA DA CIÊNCIA RELACIONADOS À MORFOFUNÇÃO RENAL Data: _____/_____/______ Nome: _______________________________ Nome: ______________________________ Nome: _______________________________ Nome: ______________________________ Nome: _______________________________ OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM (Re)construir conhecimentos sobre a morfofunção dos rins; (Re)construir visões sobre a natureza da ciência; Desenvolver capacidades de cooperação. INTRODUÇÃO A presente atividade de aprendizagem está orientada para a consecução dos objetivos de aprendizagem acima assinalados. Consiste na interpretação de fragmentos de texto da História da Ciência, acerca da morfofunção renal, a partir de um conjunto de questões orientadoras que estão localizadas após a apresentação desses fragmentos. A história do conhecimento acerca da morfofunção dos rins é aqui organizada a partir dos contributos de apenas algumas personalidades históricas. É importante sublinhar que outras personalidades para além das referidas contribuíram para a compreensão das questões que irão analisar, mas face aos objetivos de aprendizagem e ao tempo disponível para esta abordagem foi necessário fazer uma seleção das ideias consideradas mais relevantes. “Pode se dizer que o conhecimento da estrutura e função renal passou por um caminho longo e tortuoso - muitas vezes feito de conjecturas e pura imaginação - ao longo da história das ciências biomédicas. Em seu tempo, mesmo o próprio Malpighi sublinha este ponto, admitindo que: ‘tão variado tem sido o destino dos rins, ao longo da história, que eles têm até sido considerados supérfluos’.” (Mezzogiorno; Mezzogiorno & Esposito, 2002, p. 213) “Comecemos então pela Antiguidade Clássica. Aristóteles considerava os rins como ornamentos perfeitamente dispensáveis, cuja função se limitava a permitir que a bexiga executasse a sua tarefa com mais perfeição. Hipócrates, clínico pragmático e de rara intuição, não quis aventurar-se por teorias fantasiosas e, talvez, por isso mesmo, limitou-se a iniciar uma prática simples e de grande utilidade que iria manter-se mais de 2000 anos: a observação da urina. Galeno, fundador do método experimental em medicina (fato que nem sempre tem sido reconhecido), fez aquilo que lhe competia para contradizer uma série de disparates de Asclepíades sobre a passagem dos líquidos para a bexiga sob a forma de vapor e a sua condensação posterior: laqueou os ureteres e constatou que, enquanto a montante eles se distendiam com urina, a jusante a bexiga permanecia vazia. Com esta elegante demonstração ficou a saber-se que a urina era realmente produzida pelos rins, mas os tabus e os meios técnicos da época não iriam permitir chegar mais longe.” (Veloso, 1997, p. 132) “Foi só no século 16 que importantes anatomistas italianos como Berengario de Carpi (1460/70?-1530), Gabriel Falópio (1490/1523? -1562/1663?) e Bartolomeu Eustáquio (1500/1510?-1574), tornaram-se os primeiros a chegar perto de desvendar a verdadeira estrutura do órgão de formação de urina [4, 5]. No ‘Commentarii de super anathomia mundinii’, Berengario de Carpi foi o primeiro a demonstrar a progressiva subdivisão das veias renais na substância renal, assim como a identificar as papilas renais. Gabriel Falópio, além disso, afirmou que dentro do rim, ambas, veias e artérias, eram distribuídas até a parte externa do corpo do órgão. Ele também observou como esses vasos eram distribuídos por todo o rim até o ponto onde eles se tornavam invisíveis.” (Mezzogiorno; Mezzogiorno & Esposito, 2002, p. 214). “Os conceitos desenvolvidos por esses cientistas pioneiros foram geralmente aceites e confirmados por seus contemporâneos e sucessores, como Caspar Bauhin (1560-1624), André Du Laurens (1567-1609), Johann Vesling (1598-1649) e Thomas Bartholin (1616-1680). (...). Bartolomeu Eustáquio é reconhecido como uma figura central do século 16. Ele era um examinador apaixonado, estudioso e crítico das formas humanas, e dissecou um grande número de cadáveres de pessoas que morreram de doenças agudas e crônicas, e vivissecou animais de diferentes espécies. Com Eustáquio, a investigação detalhada tornou-se vital para os estudos anatômicos. Ele comprometeu-se, principalmente, com o estudo da anatomia normal e com a anatomia comparativa (patológica), e utilizou a dissecção como uma ferramenta de investigação com a qual descobriu a causa de doenças. Sua única imprecisão Bartolomeu Eustáquio residia na crença de que o sangue flui a partir do centro para as extremidades em ambas, as artérias e as veias: isso é compreensível, uma vez que William Harvey ainda não tinha publicado o De Motu Cordis et Sanguinis.” (Mezzogiorno & Mezzogiorno, 1999, p. 194) “[Em sua] monografia erudita [De Renibus Structura], Eustáquio começa com uma descrição extremamente detalhada do tamanho, consistência, cor e localização dos rins, para a qual só muito pouco pode ser acrescentado pelo conhecimento moderno. Primeiro Eustáquio compara a forma do rim a um grande feijão, e especifica que a sua extremidade superior (ou cranial) é mais arredondada do que a inferior (ou caudal). Ele então passou a descrever o rim direito, geralmente como sendo um pouco mais caudal do que o esquerdo, mas também tomou cuidado ao referir que a posição da extremidade caudal do órgão depende, principalmente, do volume de rins, independentemente de se tratar do rim direito ou esquerdo, tal como ilustrado [ao lado]. Ele completou esta meticulosa descrição morfológica afirmando que os rins estão envolvidos em duas membranas, a interna sendo uma túnica fibrosa [atualmente, cápsula renal] que forma um revestimento firme e liso, que, em alguns pontos, continua em torno dos vasos, e uma membrana externa [atualmente, fáscia renal] que é impedida de aderir ao rim pela presença de uma camada de tecido adiposo entre as duas membranas.” (Mezzogiorno & Mezzogiorno, 1999, p. 195) “Ao descrever seu estudo do parênquima renal, ele confirmou a crença de Berengario da Carpi, de que a veia renal ramifica-se na substância renal, mas, além disso, afirmou que é a partir dos vasos arteriais [figura central, ao lado] que a urina é secretada. De importância maior do que isso é a identificação dentro do parênquima [tecido responsável pela função principal do órgão] do rim, de três substâncias diferentes, uma declaração que aboliu, definitivamente, a velha crença de que os rins seriam compostos de uma única matéria, homogênea. Ele definiu uma substância externa [atualmente, córtex renal] de cor avermelhada, compacta e de aparência carnuda, que contém formações diminutas das artérias extremamente finas que filtram a urina. Em seguida, ele descreveu uma substância cerosa [atualmente, medula renal] encravada com linhas, tão finas como fios de cabelo, cada uma composta por um conjunto de canais [bolas, figuras superior e inferior, ao lado], que se reúnem em pequenas protuberâncias em forma de bocal, formando assim uma terceira substância. Entre as papilas [seta sólida, figura inferior, ao lado] estão pequenas “glândulas” [atualmente colunas renais - estrelas, figura inferior, ao lado], que ele descreveu como sendo derivadas da substância externa. (...). Cada papila é sustentada por um tubo em forma de taça [atualmente, cálice menor- seta tracejada, figura inferior, ao lado] que se junta a outras para formar dois ou três tubos curtos [atualmente, cálices maiores – quadrado, figura inferior, ao lado]. Estes, por sua vez, ligam-se para formar um saco em forma de funil [atualmente, pelve renal] que se estende para dentro do ureter. Um grande número de vasos peregrina dentro das três substâncias. Entre as substâncias internas e as periféricas, veias se conectam com veias e artérias com as artérias, formando arcos bem definidos que se espalham para fora em finos ramos que são demasiado pequenos para serem vistos a olho nu.” (Mezzogiorno & Mezzogiorno, 1999, p. 195-196) “Investigar a organização microscópica exigia apenas uma ferramenta específica - o microscópio, descoberta tradicionalmente atribuída a Galileo Galilei (1564-1642), que só foi disponibilizada a outros cientistas no final de 1600. Mas, enquanto isso, o conceito peculiar de Galileo de um mundo regido por leis meramente mecanicistas também influenciou grandemente o curso das investigações das ciências biológicas.” (Mezzogiorno; Mezzogiorno & Esposito, 2002, p. 214). Marcelo Malpighi Preparação de Bellini do córtex renal de cabra de acordo com o método de Malpighi - os corpúsculos renais são claramente visíveis. Glândula elementar de Malpighi “Alguns anos mais tarde, Marcello Malpighi (1628-1694) - pode finalmente tirar proveito do microscópio de Galileu tornando-se o verdadeiro fundador da anatomia microscópica - precisamente descrevendo os ‘corpúsculos renais’. Ele publicou suas descobertas em ‘Opera sulle ghiandole’, onde ele habilmente descreveu o comportamento dos pequenos vasos sanguíneos afirmando que a extremidade de alguns destes terminavam em corpos glandulares ([atualmente], os glomérulos renais). Ele notou que após a injeção de um líquido colorido, estes corpos tornavam-se visíveis, pendurados as terminações dos ramos vasculares, como maçãs penduradas nos galhos de uma árvore [figura ao lado, centro]. A crença de Malpighi era a de que cada corpo glomerular abraçaria a extremidade ampolar de um túbulo, os dois componentes dando origem a um conjunto “folículo glandular” (ou ‘glândula elementar’, [figura ao lado, abaixo]). Em particular, ele mencionou uma rede arteriolar envolvendo a extremidade ampolar do túbulo renal [figura abaixo]. Em ‘De renibus’, ele ainda explica a estrutura destas pequenas estruturas glandulares, sustentando que o sangue chega a estas glândulas através das artérias e que é lá que a urina é separada e passa para os túbulos, enquanto as pequenas vênulas devolvem o sangue para a circulação geral. (...) No início do século 19, graças, também, aos enormes melhoramentos técnicos do microscópio, Jacob Mathias Scheiden (1804-1881) e Theodor Schwann (1810-1882) fundaram a ‘teoria celular’, pela qual os organismos vivos, incluindo o homem, começaram a ser considerados como ‘estados celulares’ finalmente compostos de ‘categorias’ de células, cada uma com sua própria especialização morfofuncional. As ciências biomédicas, e a nefrologia em particular, deveriam ser gratas a Friedrich Gustav Jacob Henle (1809-1885): ele reconheceu que as glândulas são providas por um epitélio, e, portanto a ‘famosa’ membrana que Malpighi colocava no centro do seu modelo ‘elementar de glândula’ finalmente adquiriu uma estrutura celular.” (Mezzogiorno; Mezzogiorno & Esposito, 2002, p. 217). Esquema do modelo de néfron de Malpighi (1666). Friedrich Gustav Jacob Henle Estes achados permitiram William Bowman (1812-1891) resolver, definitivamente, o problema das conexões estruturais entre o corpúsculo de Malpighi e o túbulo renal. Ele colocou o glomérulo vascular dentro da ampola tubular terminal: esta atua como uma cápsula que cerca a rede capilar [figura ao lado]. Mas Bowman também mostrou a origem das arteríolas eferentes do glomérulo. Pode-se dizer, portanto, que, com Bowman, a compreensão da morfoestrutura fundamental ou, organização do néfron, havia finalmente sido alcançada (apenas a alça tubular não foi descrita, e Henle o fez em 1862). (Mezzogiorno; Mezzogiorno & Esposito, 2002, p. 218) Esquema do modelo de néfron de Bowman (1842) Bowman revisou completamente a doutrina da diurese. Segundo ele, a extensa rede capilar embutida dentro da cápsula tinha a função de retardar o fluxo sanguíneo local, assim, permitindo e facilitando a passagem de fluidos dos capilares para a cavidade capsular [figura ao lado]. (Mezzogiorno; Mezzogiorno & Esposito, 2002, p. 218) Nos anos que se seguiram o interesse pela compreensão do néfron moveu-se sensivelmente de uma perspectiva puramente morfológica para investigações que preferencialmente visavam uma melhor compreensão de sua verdadeira função: basicamente, o néfron se tornou um dos principais temas de interesse dos fisiologistas. Com Carl Ludwig (1816-1895) o néfron foi novamente considerado uma máquina, e a diurese o resultado das forças físico- químicas que aplicadas ao longo da totalidade do néfron realizariam nestes, os processos de filtração e reabsorção (Mezzogiorno; Mezzogiorno & Esposito, 2002, p. 219). Desenho de Ludwig mostrando sua interpretação morfofuncional do néfron. Carl Ludwig “O início do século XX iria ficar marcado por uma figura que anuncia a moderna fisiologia renal: Arthur Cushny. No seu livro, The Secretion of Urine, publicado em 1917, fez pela primeira vez uma clara distinção entre dois processos distintos que intervém na formação da urina: a filtração, que ocorre no glomérulo e que é um processo físico, e a reabsorção a cargo dos tubos, e dependente do que ele chamava a ‘atividade vital do epitélio’. A partir daí o terreno estava armado para o trabalho de fisiologistas brilhantes (...) que iriam desvendar os segredos da função renal tal como nós a conhecemos hoje.” (Veloso, 1997, p. 132) Referências Bibliográficas VELOSO, Antônio José (1997). O rim revisitado. Medicina Interna, 4, 132-134. MEZZOGIORNO, Antonio & MEZZOGIORNO, Vincenzo (1999). Bartolomeo Eustachio: A Pioneer in Morphological Studies of the Kidney. American Journal of Nephrology, 19, 193-198. MEZZOGIORNO, Antonio; MEZZOGIORNO, Vincenzo & Esposito, Vincenzo (2002). History of the Nephron. American Journal of Nephrology, 22, 213-219. Questões Orientadoras 1. Galeno concebeu um experimento para fundamentar suas ideias contrárias ao pensamento de Asclepíades. Elaborem uma ilustração para representar o experimento realizado por Galeno. Esta ilustração será desenhada no quadro e, explicada para o grupo turma. 2. Após a leitura de todo o texto, explique porque Bartolomeu Eustáquio não poderia ter feito considerações mais específicas sobre a função renal, sem o conhecimento do modelo de William Harvey, médico inglês que propôs que a circulação do sangue. 3. Os rins são sustentados/mantidos, em sua posição na parede posterior do abdomen, por algumas estrutras anatômicas consideradas por Bartolomeu Eustáquio. Quais seriam estas? 4. Considerando apenas aspectos macroscópicos, descrevam o trajeto percorrido pela urina, da papila renal até a uretra. 5. Qual a principal diferença entre os modelos de néfron de Malpighi e Bowman? Que conhecimento foi fundamental para que Bowman elaborasse o seu modelo de néfron? 6. O que vocês compreenderam por processos de filtração e reabsorção? Em que locais do néfron tais processos ocorrem?
Compartilhar