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Obturação do sistema de canais radiculares 58% das falhas de tratamentos endodônticos se deve a obturação incompleta – porém, com frequência, os canais foram mal obturados porque foram mal instrumentados. Evidências indicam que os procedimentos de limpeza e modelagem, realizados durante a instrumentação, promovem um ambiente asséptico, tornando o procedimento de obturação menos crítico. Remanescentes pulpares, tecido necrosado, bactérias e seus produtos, permanecendo em áreas inacessíveis de um sistema de canais limpos e modelados, podem iniciar ou perpetuar uma lesão, porque os mecanismos de defesa do hospedeiro são incapazes de removê-los. Por outro lado, estudos indicam que todo o sistema de canais radiculares não pode ser totalmente limpo e desinfectado – por isso, é necessária a realização da obturação do espaço radicular, para eliminar a infiltração. A obturação reduz a infiltração coronária e a contaminação bacteriana, sela o ápice aos fluidos dos tecidos periapicais, além de sepultar os irritantes remanescentes no canal. A obturação tridimensional é essencial para o sucesso em logo prazo do tratamento – o sistema de canais deeve ser selado apical, coronal e lateralmente. Apesar de várias técnicas de obturação existirem, todas estão sujeitas a algum grau de infiltração. Outra dificuldade da obturação reside no fato que radiograficamente é impossível determinar, com certeza, se uma obturação bem realizada sofrerá com infiltração. Momento da obturação Os fatores que influenciam o momento apropriado para obturar os canais de um dente incluem os sinais e sintomas do paciente, o estado do tecido pulpar e perirradicular, o grau de dificuldade e o grau de colaboração do paciente (pacientes com problemas sistêmicos, mentais, psicológicos ou fadigados podem precisar ser programados para 2 seções ou mais). Com o tecido pulpar vital È aceitável se realizar acesso, instrumentação e obturação em casos que o paciente exibe polpa totalmente ou parcialmente viva. A remoção do tecido pulpar normal ou inflamado com realização do procedimento sob condições assépticas deve resultar em sucesso. A vantagem de a obturação ser realizada na mesma seção que o acesso e a instrumentação reside no fato de que há redução da probabilidade de infiltração, que é considerável quando se realiza o tratamento em mais de uma sessão. Com o tecido pulpar necrosado Quando os pacientes apresentam sintomas agudos causados por necrose pulpar e abscesso agudo perirradicular, a obturação é, geralmente, adiada até que o paciente esteja assintomático. Entretanto, muitos autores afirmam que, dado o correto tratamento endodontico, com incisão e drenagem e antibioticoterapia, a obturação pode ser realizada na mesma seção que o acesso e a instrumentação. De maneira geral, a obturação pode ser realizada em mesma seção quando o canal pode ser secado e não há edema. Quando há exsudação no canal e o canal não pode ser seco, a obturação está contra-indicada no momento. Em casos que a obturação foi deixada para a próxima sessão, deve-se usar um material obturador temporário, de preferência com atividade antimicrobiana (como hidróxido de cálcio), pois as bactérias, em canais instrumentados mas não obturados, podem se multiplicar e atingir a quantidade de bactérias do pré-tratamento em alguns dias (2 – 4). Tipos de cimento endodôntico Os cimentos endodônticos são necessários para selar o espaço entre a parede dentinária e a interface do material obturador principal (cones). Também, servem para preencher lacunas e irregularidades do canal principal e preencher os canais laterais e acessórios, alem de agirem como lubrificantes durante a obturação. Ideal Biocompatível (todos são, em graus variados, tóxicos; produtos resultantes da decomposição dos cimentos podem ter efeito adverso sobre a capacidade proliferativa perirradicular) Por isso, os cimentos não devem ser depositados nos tecidos perirradiculares durante a obturação Adesivo às paredes do canal Selar hermeticamente o canal Radiopaco Não manchar estrutura dentária (todos o fazem) Não sofrer contração após a presa Com tempo de presa apropriado (longo) Insolúvel em fluidos bucais Ser solúvel em solvente comum (caso haja necessidade posterior de sua remoção, como pré-tratamento) Cimento de Óxido de Zinco e Eugenol (Pulp Canal Sealer, Procosol, Tubli-Seal, Wach, etc.) O primeiro cimento de OZE foi criado por Grossman. Vantagens Absorvidos se houver extrusão para o periápice Tempo de presa longo Desvantagens Sofrem contração de presa Solúveis Mancham a estrutura dentária Composição Óxido de Zinco (42%) Resina (27%) Sulfato de Bário (15%) etc Cimentos a base de Hidróxido de Cálcio (Calciobiotic, Sealapex, Apexit, etc.) Cimento de Ionômero de Vidro (Ketac-endo,, Activ GP, Resilon, etc.) Vantagens Adesivo Desvantagens Difícil remoção Sofre contração, deixando margem para infiltração Cimentos resinosos (AH-26, AH-26 plus, EndoREZ, Diaket, Epiphany, RealSeal, etc.) Vantagens Adesivo Não possuem eugenol (menos irritantes) Cimentos de silicone (RoekoSeal, GuttaFlow, etc.) Desvantagens Sofre expansão ao endurecer Materiais principais (cones) de Guta-Percha A Guta-Percha é o material obturador principal mais utilizado, tendo como alternativos Cones de Prata (não usados mais) e outros. As vantagens da guta-percha residem na sua plasticidade, facilidade de manipulação, mínima toxicidade, radiopacidade e facilidade de remoção por calor ou solventes. Suas desvantagens residem na não aderência à dentina e alteração dimensional ao aquecer e ao esfriar. A Guta-Percha não aquecida é uma massa sólida compactável não estícável. Quando é aquecida, o material se torna maleável e pegajoso, que escoa quando sofre compressão. Os cones de guta-percha são compostos por: 20% Guta-Percha 65% Óxido de Zinco 10% Radiopacificadores 5% plastificadores Os cones de guta-percha estão disponíveis nos calibres padronizados (20, 25, 30, 35, etc...) e não padronizados (convencional – FF, F, FM, etc...). Técnicas de obturação Compactação lateral A desvantagem da compactação lateral reside na sua incapacidade de preencher as irregularidades do canal radicular tão bem quanto algumas outras. Após o preparo do canal, um Cone Principal padronizado de tamanho igual à lima de memória é selecionado, e deve ser inserido até o batente apical (comprimento de trabalho). O Cone principal deve se encaixar bem no canal radicular, e deve haver resistência para a sua remoção. Realiza-se uma radiografia para confirmar o assentamento do cone principal. Daí, o canal deve ser irrigado e secado com pontas de papel absorvente. Embebe-se o cone principal no cimento desejado, e insere-se o cone novamente no canal – há duas variações neste ponto: Biologicamente favorável – porção mais apical do cone não é embebida no cimento, para evitar possível extravasamento apical do material; Clássica – cone é embebido por inteiro no cimento; A partir daí, utiliza-se o espaçador digital para inserir cimento e abrir espaço para a inserção de cones acessórios. A correta utilização do espaçador digital consta de inserção com rotação para sentido horário, seguido por movimentos pendulares laterais, e remoção com rotação para sentido anti-horário – tudo realizado com força considerável, para realmente abrir espaço no canal radicular. Aberto o espaço, insere-se o cone acessório sem cimento e corta-se a porção que se mantém fora da coroa. Outra desvantagem da compactação lateral é que o processo não produz uma massa homogênea – os cones principal e acessórios são laminados e mantêm-se separados. Espera-se que o espaço entre os cones seja preenchido pelo cimento. Quando o espaçador for inserido e não ultrapassar o terço mais cervical do canal. O excesso de guta-percha na câmara pulpar é removido por Compactação Vertical Aquecida, melhorando o selamento. Compactação vertical aquecida Pode ser utilizada após a compactação lateral. Para a sua realização, precisa-se dos instrumentos chamados Calcadoresde Paiva. Eles devem ser aquecidos (com auxílio de lâmpada a álcool) para serem utilizados. Com os calcadores de Paiva aquecidos, realiza-se compressão da guta-percha na câmara coronária em direção apical. A vantagem desta técnica reside na produção de movimentos na guta-percha termoplastificada, preenchendo irregularidades e canais acessórios de maneira mais eficiente que a compactação lateral. Por outro lado, deve-se atentar para a maior probabilidade de extravasamento apical dos materiais e para possível indução de fratura na raiz. Condutores de Guta-Percha Os condutores de guta-percha são produzidos para corresponder aos tamanhos de limas padrão, e são acoplados à turbina de baixa rotação. Previamente ao seu uso, o condutor deve ser desinfetado com Hipoclorito de Sódio a 5.25% por 1 minuto e lavado com álcool 70%. O Condutor é inserido até a porção média do canal radicular. Daí, deve ser ativado por 10 segundos, sem movimentação, e, então, removido, ainda ativado. A velocidade de rotação do instrumento irá aquecer a guta-percha, a plastificando, e a força centrífuga da rotação irá fazer com que a guta-percha plastificada preencha as irregularidades do canal, além de canais secundários, acessórios e laterais. A desvantagem de usar o condutor é que há maior probabilidade de extravasamento apical dos materiais. Selamento do orifício coronário Independente da técnica utilizada para obturar os canais, microinfiltração pode ocorrer em pouco tempo após a obturação, podendo gerar infecção periapical. Para reduzir este risco, aplica-se material restaurador sobre os orifícios de entrada dos canais, e coloca-se restauração coronária definitiva o mais cedo possível. Se houver falha de restauração da coroa, cobre-se o soalho da câmara pulpar com uma camada de material adesivo.
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