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PROVA ap´1 metodologia da geografia

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QUESTÃO 1 1. Qual a diferença entre Geografia como ciência e geografia como materialidade? 
A Geografia como um campo científico é composta por diferentes atores com interesses específicos reunidos, em geral, em uma instituição em torno de um propósito mais amplo: promover e produzir estudos geográficos e suas práticas profissionais. Já a geografia como materialidade é constituída pelas formas espaciais de naturezas distintas, física, biológica e social, que em conjunto compõem e movimentam, a partir de uma ordem que lhes é própria, os cenários geográficos. Estes constituem os territórios e os lugares, concentram as espacialidades e as territorialidades, são gerados pelos interesses sociais como também atuam sobre eles
QUESTÃO 2 Apresente os 5 paradigmas da Geografia e desenvolva 2 (conceito, base filosófica e as suas características). [Critérios para a correção: 0,5 por cada paradigma listado; 2,25 para cada um dos dois paradigmas desenvolvidos
a) Geografia Clássica: Positivismo Clássico (método indutivo e Empirismo) A Geografia Clássica, denominada também como Geografia Tradicional ou Geografia Empiricista, constituiu a base da Geografia institucionalizada. No campo científico geográfico seu domínio se estabeleceu entre 1870 e 1960. Entretanto, seu impacto foi muito maior, influenciando livros e atividades didáticas até o final da década de 1970, principalmente no Brasil. É a Geografia descritiva, empírica, uma ciência caracterizada como sinônimo de superfície terrestre, totalmente influenciada pelo Positivismo Clássico, uma concepção filosófica e científica que surge no final do século XVIII e início do século XIX, estimulando pesquisas realizadas apenas a partir dos sentidos do homem, daquilo que o homem pudesse realmente observar e descrever no mundo material. Foi a Geografia, guardando as devidas diferenças, empreendida por Humboldt e Ritter, pelas Escolas Alemã e Francesa do início do século XX, pelos norte-americanos e brasileiros até os anos de 1960.
 b) Geografia Lógico-formal: Neopositivismo (método dedutivo e Racionalismo) A Geografia Lógico-Formal recebeu várias denominações, como Geografia Teóretica, Geografia Quantitativa, Geografia Modelística, Geografia Sistémica, Geografia Neopositivista, Geografia Analítica, etc. Todas essas denominações apresentam a mesma essência: a atividade racional, o pensamento lógico e a matemática no estudo do espaço geográfico. Surgiu após a Segunda Guerra Mundial como fruto do desenvolvimento técnico e da necessidade de planejamento espacial, ou seja, de projeção para o futuro, seja pela devastação causada pelo conflito ou pela necessidade de sustentar e expandir o capitalismo no mundo. O domínio do paradigma lógico-formal na Geografia perdurou até o final dos anos de 1970. A concepção de espaço relativo, ou seja, aquele que depende diretamente da matéria, dos objetos, e está fortemente vinculado ao tempo e ao custo do deslocamento, predominou nos estudos geográficos desse período. Assim, a atividade científica geográfica priorizava como método o trabalho dentro dos escritórios a partir dos dados e informações levantados pelas atividades censitárias e tabuladas através dos computadores, que começavam a entrar na vida social. Partia se de afirmações gerais, hipóteses, casos hipotéticos que pudessem explicar a dinâmica econômico-espacial e buscava-se uma confirmação em estudos de casos a partir dos dados e amostras censitárias, sobretudo. Destacam-se como os primeiros representantes do paradigma neopositivista em Geografia: Fred Schaefer, William Bunge, Brian Berry e Richard Chorley. Todos com formações em Economia, Matemática e Estatística. No Brasil, tem grande expressão entre os geógrafos atuantes, nos anos 1960 e 1970, no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e no Departamento de Geografia da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em Rio Claro. Em termos didáticos, seu impacto foi muito pouco sentido nos Ensinos Fundamental e Médio. 
c) Geografia Marxista: materialismo histórico dialético A Geografia Marxista, também denominada de Geografia Crítica ou Radical, tem sua base filosófica no materialismo histórico e dialético desenvolvido por Karl Marx entre 1840 e 1880. A essência deste paradigma em Geografia está no rompimento com o Positivismo e no entendimento do espaço geográfico como produtosocial. A Geografia Marxista surge na década de 1970, como frutoda reação neopositivista e da grande revolução política e culturaliniciada na década de 1960 no mundo ocidental. Reações ao sistema capitalista, as opções socialista e comunista tomavam força no cenário mundial. Em Geografia, uma nova forma de interpretação do espaço geográfico, a partir de uma nova metodologia, não mais sustentada no estudo empírico e indutivo ou no racionalista e dedutivo, passaria a ser estabelecida com a adoção do materialismo histórico e dialético. Assim, começaria a dominar na Geografia a concepção de espaço social, relacional, um espaço entendido pelas lutas e contradições sociais, em substituição ao espaço absoluto e relativo das Geografias Positivista e Neopositivista. O trabalho de investigação do geógrafo não estaria mais em descrever os lugares ou elaborar e aplicar modelos espaciais de desenvolvimento econômico, mas sim em revelar a essência da dinâmica e das desigualdades espaciais, a partir da relação constante e dialética entre empiria e teoria. Geógrafos brasileiros e estrangeiros de grande participação na defesa da Geografia Marxista podem aqui ser mencionados, como Yves Lacoste, David Harvey, Milton Santos, Horacio Capel, Edward Soja, Armando Correa da Silva, Ruy Moreira, Carlos Walter Porto Gonçalves, Antônio Carlos Robert Moraes.
 d) Geografia Humanística: Fenomenologia, Hermenêutica, Existencialismo A Geografia Humanística, também conhecida como Geografia Humanista, surge a partir da adoção de filosofias que valorizam a consciência e a experiência pessoal como fontes de dados válidos sobre o mundo, como a Fenomenologia, a Hermenêutica e o Existencialismo, que surgem em finais do século XIX e se desdobram até a metade do século XX. Todas impugnam as abstrações positivistas e possibilitam novo ideal científico sustentado na revalorização do homem e do indivíduo, deslocando a atenção e observação dos objetos para o indivíduo, especialmente para os fenômenos e sentimentos que se colocam em sua consciência. A Geografia Humanística, assim, valoriza o estudo do mundo vivido pelo sujeito, do cotidiano em detrimento do mundo objetivo e abstrato da Geografia Positivista e Neopositivista. Contemporânea à Geografia Marxista, a Geografia Humanística surge na década de 1970 e ganha expressão na década de 1990. Puxada inicialmente por Yi-Fu Tuan (sino-americano), Anne Buttimer (irlandesa e norte-americana), Edward Relph (canadense) e Armand Frémont (francês), a Geografia Humanística tem seu principal eixo de desenvolvimento no mundo norte-americano. No Brasil, destacam-se na década de 1990 os estudos desenvolvidos pelo geógrafo João Baptista Ferreira de Mello e pelo arquiteto Werther Holzer.
 e) Paradigma ambiental e a Geografia: diálogo dos saberes Desde o estabelecimento da Geografia científica moderna, no século XIX, o ambientalismo foi uma de suas principais preocupações. Assim, os estudos sobre o ambiente não são novos na Geografia, mas a concepção de ambiente mudou muito, especialmente a partir da década de 1980. De uma noção puramente naturalista, que considerava o estudo ambiental delimitado apenas pela dinâmica natural, excluindo a intervenção e perspectiva social, a Geografia passou a incluir gradualmente a dinâmica social como parte fundamental para o estudo ambiental. Passou a não dissociar sociedade e natureza. Geógrafos brasileiros como Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, Carlos Walter Porto Gonçalves, Antônio Carlos Robert Moraes valem menção pela contribuição na mudança do tratamento da questão ambiental pela Geografia. Essa nova perspectiva ambiental alcançou e englobou áreas e estudos diversificados em Geografia, como: a área de GeografiaPolítica e Geopolítica, os estudos de Bertha Becker sobre a Amazônia e sua biodiversidade; as atividades didáticas de educação ambiental dos professores de Geografia nos Ensinos Fundamental e Médio; as áreas de Geomorfologia e Hidrologia, através dos estudos de riscos e processos erosivos; as atividades econômicas nas áreas de turismo ecológico e preservação; os estudos de sustentabilidade das cidades e espaços rurais, de expressões culturais, geoprocessamento, saúde, etc.

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