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Após se interessar por filosofia e romper as barreiras necessárias para engatinhar filosofia adentro muitos caem em armadilhas, uma das principais é tentar ler o que um já iniciado está lendo, a pessoa que te inspirou a ir até a filosofia provavelmente já está por lá faz tempo, tentar ler o que ela está lendo não costuma ser uma boa ideia.
Alguns livros são famosos pela complexidade e no caso da filosofia não são poucos, para se desafiar ou tentar impressionar alguém, algumas pessoas “pulam” direto para livros muito complexos que exigem um grau avançado de conhecimento em filosofia, não é questão de ser mais ou menos capaz de entender, trata-se de ter pré conhecimentos de vários conceitos base para uma possível compreensão de alguns termos, além da necessidade da prática de como ler textos filosóficos.
Outra armadilha é nunca sair da superfície, para isso o individuo lê alguém que leu os filósofos, mas nunca a obra original, ou lê publicações reflexivas sobre temas diversos, títulos como “a filosofia por trás de Matrix”, “a filosofia dos filmes da Marvel”, “filosofia em Picasso”, entre tantos outros, o limite é o limite do marketing e dos títulos “isca”. Além dessas reflexões diversas também tem os livros tidos como profunda filosofia, mas que na verdade são apenas paliativos para a vontade de filosofar, dentre estes o mais famoso é sem dúvida, O mundo de Sofia.
Dado este breve panorama sobre obstáculos e armadilhas vamos aos títulos, para diferentes níveis de profundidade conforme seu tempo e interesse:
1 Fundamentos da filosofia de Gilberto Cotrim e Mirna Fernandes
O mais básico e mais didático de todos, em edição única esse livro é uma das opções que as escolas públicas recebem para o ensino de filosofia. Apresenta como opção tanto o método histórico cronológico, como o temático. Pode ser facilmente adquirido em Diretorias de ensino ou com algum ex aluno do ensino médio, a cada três anos ganha uma nova edição, mas pouca coisa muda além da capa.
Por ser um livro didático apresenta reflexões, textos de apoio e exercícios que podem ser usados ou ignorados conforme o interesse. É bom para pesquisas básicas e até mesmo aleatórias, escolher um capítulo e adicionar algo a seu repertório.
2 A história da filosofia ocidental de Bertrand Russell
Normalmente vêm em três volumes, algumas edições apresentam quatro volumes, também há volume único, é possível encontra-lo (versão digital) em sites de compartilhamentos e trocas de livros.
O livro usa o método tradicional de estudo de filosofia, o método histórico cronológico, os conceitos se desenvolvem de maneira linear e as ideias posteriores ou se baseiam nas anteriores ou as negam. É menos pedagógico do que os autores contemporâneos, mas é mais crítico. Esse livro é capaz de ir além do básico guiando até um nível intermediário, mas ainda sem a complexidade de livros específicos e/ou avançados.
Russell opina muito e faz análises, não se limita a dar os conceitos e contextualizar, embora escrito no século XIX o livro não aborda nada sobre filosofia contemporânea, o livro parte dos pré socráticos e vai até a filosofia moderna, o volume sobre filosofia medieval é o mais curto.
Vale citar uma crítica feita a Russell por muitos contemporâneos, Russell nem sempre é imparcial como devem ser os filósofos, assim como alguns de seus contemporâneos do século XIX e também filósofos pós idade média, Russell apresenta um desdém as religiões e suas interferências na filosofia, a filosofia medieval, também chamada de filosofia católica é vista de maneira pouco mais crítica e negativa.
3 História da Filosofia – Giovanni Reale & Dario Antiseri
Algumas edições têm sete volumes, outras nove e não são livros curtos, o tamanho do livro revela sua profundidade e completude, é complicado, mas possível encontrar os volumes avulsos na internet, mas vale o esforço, para os amantes das versões físicas sinto informar que não custa pouco. A uma grande distinção entra algumas edições que faz uma diferença significativa: as páginas “originais” ao final de cada capítulo, as páginas (normalmente azuis) contém notas sobres os autores e seu modo de pensar além de textos originais dos autores ali tratados, fique atento ao comprar o seu.
O livro é bem técnico, poucas ilustrações, parágrafos longos e textos longos. O livro contém os temas, assuntos, análises, comparações e se aprofunda em cada ideia, ao final de cada capítulo contextualizações, comparações, quadros sinóticos e diagramas. Este livro é para quem quer se aprofundar, indo do básico ao avançado.
Alguns criticam os métodos usados nesses livros, seguindo a cronologia da filosofia, justificando a escolha desses livros há de se dizer que a história da filosofia é uma base para se aprofundar em outros conceitos, não se deve limitar apenas a história da filosofia sem aprofundar nos temas pertinentes a cada época.
Depois de passado do nível básico, adquirido conceitos suficientes e prática suficiente para não apenas ler filosofia, mas absorver e aprender filosofia, abre-se um leque de opções, a maioria mais complexa (como citado no começo desse texto): a filosofia política, a filosofia da ciência, epistemologia, cultura e sociedade, mundo pós moderno, o mundo fenomênico kantiano, ontologia em Nietzsche, etc. Além das conexões com outras áreas, a ciência, a sociologia, a psicologia e até mesmo a informática.
Além da recomendação desses livros, ao que pretender ir além do básico, existe uma recomendação que parece exagerada de início, mas se justifica ao longo do processo, aprender outros idiomas, mesmo que basicamente, isso facilita a compreensão de termos em seu léxico original, a etimologia faz diferença em alguns casos, seja em termos gregos, latinos, alemães, franceses ou ingleses.
Se você se interessou por uma obra complexa ou avançada, tentou ler e não conseguiu e desanimou talvez tenha pulado etapas, busque aprender a técnica de como ler textos filosóficos, procure livros mais básicos como os aqui citados e se desafie a reler o livro em questão depois, vários livros de filosofia são surpreendentes quando relidos após um tempo.