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ECA – Estatuto Da Criança e do Adolescente SEST – Serviço Social do Transporte SENAT – Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte ead.sestsenat.org.br CDU 342.726-053.2 Curso on-line – ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – Brasília: SEST/SENAT, 2016. 43 p. :il. – (EaD) 1. Direitos da criança. 2. Adolescente - legislação. I. Serviço Social do Transporte. II. Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte. III. Título. 3 Sumário Apresentação 5 Unidade 1 | O Estatuto da Criança e do Adolescente 6 1 O Estatuto da Criança e do Adolescente 7 1.1 O Que É o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)? 7 1.2 Introdução ao ECA 9 1.3 Sistemas de Responsabilidade Infanto-Juvenil 10 Glossário 13 Atividades 14 Referências 16 Unidade 2 | Principais Direitos das Crianças e dos Adolescentes 18 1 Principais Direitos das Crianças e dos Adolescentes 19 1.1 Quais os Principais Direitos das Crianças e dos Adolescentes? 19 1.2 Direitos do Adolescente Infrator 21 1.3 Procedimento para Apuração de Ato Infracional 22 1.4 Execução de Medida Socioeducativa 25 1.5 Crimes do ECA 26 1.6 Infrações Administrativas 28 1.7 Parte Cível 28 1.8 Atualização Legislativa 29 1.9 Estado de Filiação 29 Glossário 32 Atividades 33 Referências 35 Unidade 3 | O Conselho Tutelar 37 1 O Que É e Como Funciona o Conselho Tutelar 38 4 Glossário 40 Atividades 41 Referências 43 Gabarito 45 5 Apresentação Prezado(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) ao curso ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente! Neste curso, você encontrará conceitos, situações extraídas do cotidiano e, ao final de cada unidade, atividades para a fixação do conteúdo. No decorrer dos seus estudos, você verá ícones que tem a finalidade de orientar seus estudos, estruturar o texto e ajudar na compreensão do conteúdo. O curso possui carga horária total de 20 horas e foi organizado em 3 unidades, conforme a tabela a seguir. Fique atento! Para concluir o curso, você precisa: a) navegar por todos os conteúdos e realizar todas as atividades previstas nas “Aulas Interativas”; b) responder à “Avaliação final” e obter nota mínima igual ou superior a 60; c) responder à “Avaliação de Reação”; e d) acessar o “Ambiente do Aluno” e emitir o seu certificado. Este curso é autoinstrucional, ou seja, sem acompanhamento de tutor. Em caso de dúvidas, entre em contato por e-mail no endereço eletrônico suporteead@sestsenat. org.br. Bons estudos! Unidades Carga Horária Unidade 1 | Conheça o Estatuto da Criança e do Adolescente 5 horas Unidade 2 | Principais Direitos das Crianças e dos Adolescentes 10 horas Unidade 3 | O Conselho Tutelar 5 horas 6 UNIDADE 1 | O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 7 1 O Estatuto da Criança e do Adolescente 1.1 O Que É o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)? O ECA é uma lei brasileira totalmente dedicada à proteção dos direitos das crianças e dos adolescentes. Trata-se da Lei nº 8.069, criada em 1990, para fazer cumprir uma determinação constitucional. Complicado? Um pouquinho, não é? Não se assuste. Sabemos que este curso não foi feito para advogados. Mesmo assim, precisamos estudar muita coisa que está lá na Lei. A solução é facilitar. Deixar de lado o chamado “juridiquês” e tentar explicar da forma mais simples possível. Que tal voltar um pouquinho antes de retomar o assunto? Vamos começar pela lei brasileira mais importante, a Constituição Federal. Veja na Figura 1 outros nomes que também são dados à Constituição de um país. A Lei Maior estabelece de forma geral os tipos de direitos que as pessoas devem ter. Não só as pessoas comuns, mas todas as pessoas do país, sejam crianças, jovens ou idosos, juízes, deputados, senadores, governadores e até mesmo as empresas (conhecidas como pessoas jurídicas). Nenhuma lei do país pode deixar de cumprir as ordens da Constituição. Figura 1: Sinônimos de Constituição Fonte: Elaborado pelo autor 8 Não entendi, se a Constituição já define todos os direitos de todas as pessoas do país, porque, então, precisamos de outras leis? Muito boa pergunta. Na verdade, a Lei Maior define tudo sim, mas de forma muito ampla, generalizada. As demais leis do país detalham tudo o que foi determinado por ela. Pois bem, o ECA é exatamente uma dessas leis bem detalhadas. Foi elaborado para facilitar o cumprimento da parte da Constituição que afirma que a criança, o adolescente e o jovem merecem absoluta prioridade por parte da família, da sociedade e do Estado. Deu para perceber que não envolve só a população infanto-juvenil? Afinal, a família, a sociedade e o Estado têm a obrigação de defender os direitos das crianças e dos adolescentes. Em outras palavras, é indispensável que pais, professores, empregadores e governos conheçam esses direitos e saibam como cumpri-los. Infelizmente, a realidade atual deixa evidente que grande parte da população desconhece o conteúdo desse Estatuto tão importante. Veja, no exemplo a seguir, como a Constituição não deixa nenhuma dúvida ao tratar da proteção à infância e à adolescência: Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988) O ECA é uma lei que reflete o cuidado especial dedicado às crianças e aos adolescentes pela nossa Carta Política. Uma atenção que não foi criada aqui no Brasil, mas que tem origem na doutrina das nações unidas para a proteção dos direitos da infância e outros dispositivos internacionais. Muitos estudiosos do Direito afirmam que o Estatuto da Criança e do Adolescente segue uma nova forma de pensar o assunto em todo o mundo. Ou seja, a proteção integral às crianças e aos adolescentes é praticamente considerada um objetivo fundamental do direito internacional (DIGIÁCOMO; DIGIÁCOMO, 2013). 9 Mais um motivo para que todos os cidadãos conscientes se interessem em conhecer o ECA, pois ele protege o futuro das nossas famílias e do nosso país. 1.2 Introdução ao ECA Agora que já sabemos o que é o ECA, vamos destacar rapidamente alguns pontos que ajudarão a orientar nossa evolução no assunto. Trataremos primeiro dos beneficiários da Lei e em seguida dos aspectos de maior importância para o objetivo geral deste curso. Beneficiários do ECA são aquelas pessoas que estão protegidas por essa Lei. O nome Estatuto da Criança e do Adolescente deixa claro e o artigo 1o confirma: “Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente”. Mas quem é criança e quem é adolescente? A resposta está no artigo 2o: Art. 2º. Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade [3]. Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade (BRASIL, 1990). Sendo assim, não faz diferença se a Psicologia, ou os jovens em geral, definem escalas como pré-adolescência para as pessoas com 9, 10 ou 11 anos. Para efeitos jurídicos, valem apenas as definições legais e, nesse caso específico, é exatamente o que está bem claro no artigo segundo do ECA. Muito importante observar que já não são usados os termos “menor” nem “menor de idade” ou “menor infrator”, pois são considerados discriminatórios e pejorativos. Conforme ficou claro no art. 2o, crianças e adolescentessão pessoas. Trata-se de diferença vital, uma vez que juridicamente pessoas são titulares de direitos, ou seja, são seres humanos que merecem respeito e cuidado. Vimos, então, que o ECA deixou claro em seus dois primeiros artigos quem são as pessoas que têm direito à sua tutela. Uma proteção que está detalhada em mais de 250 artigos. Nossa! Tudo isso? E vai dar tempo de estudarmos uma lei tão grande? 10 Não. Estudar uma lei dessa requer muito tempo de estudo e dedicação. Algo que normalmente faz parte dos conteúdos dos cursos jurídicos. Acontece que o nosso objetivo aqui, conforme já definimos na introdução, é ampliar o conhecimento e a reflexão em torno do ECA, para facilitar o uso em nosso cotidiano pessoal e profissional. Portanto, foram escolhidos apenas os tópicos mais interessantes para isso. 1.3 Sistemas de Responsabilidade Infanto-Juvenil Um assunto que frequentemente chama a atenção é a questão dos deveres das crianças e dos adolescentes. Existem pessoas que afirmam que o ECA só faz deseducar e criar malfeitores, porque, segundo o Estatuto, crianças e adolescentes só têm direitos e nenhuma responsabilidade. Essa é uma afirmação muito séria, falsa, preconceituosa e triste. Evidencia nossa ignorância em relação à proteção de nossas crianças e jovens. Afinal, se uma criança cometer uma falha, você acha mesmo que a culpa é dela? Quem seria o responsável? Os sistemas de responsabilidade previstos no ECA definem e atribuem responsabilidades proporcionais à ocorrência e à faixa etária. De fato, seu art. 101 relaciona uma série de medidas de proteção que poderão ser aplicadas sempre que houver violação ou ameaça de violação aos direitos das crianças definidos no Estatuto. Ou seja, não importa se a violação ou ameaça ocorreu por ação ou omissão da sociedade ou do Estado, por omissão ou abuso dos pais ou responsável legal, ou em razão da conduta da criança (art. 98). A criança não será responsabilizada pela falta, mas deve ser protegida para que aquela ocorrência deixe de existir. Sendo assim, crianças e adolescentes nunca cometem crime, nunca têm responsabilidade pelos seus atos. Se cometerem alguma das condutas descritas como crime pelo Código Penal estarão praticando um ato infracional e não um crime. Não nos referimos a “menor infrator”, mas a “criança ou adolescente em situação de risco”. No caso da criança, a responsabilidade por tal ato será atribuída à família, à sociedade e ao Estado, que deixaram de proteger aquela criança com absoluta prioridade, conforme determina a Constituição Federal. O ato infracional, então, é considerado 11 uma violação dos direitos da infância. Para corrigir ou evitar novas ocorrências poderão ser determinadas as medidas de proteção definidas pelo art. 101 de forma isolada ou combinadas entre si. Exemplo: Imagine uma criança de 8 ou 11 anos que vive nas ruas e se sustenta com pequenos furtos, algumas vezes orientadas e organizadas por adultos. Esta criança não será punida por tais furtos, pois ela é considerada um ser inimputável. Com base no ECA, a autoridade competente poderá aplicar medidas de proteção. Como, por exemplo, encaminhamento aos pais, obrigar à matrícula e à frequência na escola, a tratamento psicológico/psiquiátrico, o acolhimento em uma instituição para menores ou em famílias substitutas. Será que essas medidas de proteção não são equivalentes a uma punição para essa criança? O que você acha? Vamos continuar mais um pouquinho nesse assunto, discutindo agora o sistema de responsabilidade para os adolescentes. Já vimos que, assim como a criança, o adolescente também não comete crime. Mas ele não se sujeita apenas a medidas protetivas aplicáveis pelo Conselho Tutelar. Esse assunto será detalhado na unidade 2, mas podemos adiantar que a pessoa entre 12 e 18 anos de idade que comete ato infracional está sujeita a uma série de medidas socioeducativas, cujo objetivo é educar e evitar a reincidência. Resumindo • A Lei nº 8.069/69 é o Estatuto da Criança e do Adolescente ou ECA. • O ECA procura garantir proteção integral à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, conforme determina o art. 227 da Constituição. • Criança é uma pessoa até 12 anos incompletos. • Adolescente é uma pessoa entre 12 e 18 anos de idade. • Criança que comete ato infracional está sujeita a medidas de proteção. • Adolescente que comete ato infracional está sujeita a medidas socioeducativas. 12 • Não é correto falar “menor infrator” e sim “criança em situação de risco” ou “adolescente em situação de risco”. • Ato infracional não é crime! • Medida socioeducativa não é pena! g Excelente recurso para enriquecer os conhecimentos relativos ao ECA é a Cidade dos Direitos, indicada pelo Portal do Professor, do Ministério da Educação, disponível através do link a seguir. http://www.promenino.org.br/cidadedosdireitos/#/home 13 Glossário Discriminatório: adjetivo que transmite a sensação de tratamento injusto ou desigual, segregatício. Estatuto: lei, conjunto de normas jurídicas que trata de um mesmo assunto ou que define as regras de funcionamento de uma sociedade privada. Exemplos: Estatuto da Criança e do Adolescente, Estatuto do Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SENAT). Inimputável: que não é capaz de responder por seus atos. Juridiquês: neologismo; palavra surgida no próprio meio jurídico para se referir à escrita elaborada com excesso de termos técnicos por alguns advogados, juízes ou promotores. Exemplos: “consorte supérstite” em vez de viúvo, “excelso sodalício” em vez de Supremo Tribunal Federal. Neologismo: utilização de novas palavras, compostas a partir de outras que já existem. Pejorativos: adjetivo que dá ideia de algo desagradável, depreciativo ou que é equivalente a um insulto. Tutela: proteção ou amparo que se dá a alguém. Vital: sentido figurado: algo que é indispensável, que tem muita importância, essencial, básico, fundamental, imprescindível. 14 a 1) Escolha a alternativa que representa um conceito correto para o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): a. ( ) O ECA é uma lei brasileira que trata de diversos assuntos, inclusive dos direitos das crianças e dos adolescentes b. ( ) O ECA é uma lei brasileira totalmente dedicada à proteção dos direitos das crianças e dos adolescentes. c. ( ) O ECA é uma lei internacional que trata dos direitos das crianças e dos adolescentes d. ( ) O ECA é uma lei brasileira que trata de diversos assuntos, menos das crianças e dos adolescentes. 2) Como o ECA define CRIANÇA? a. ( ) Criança é uma pessoa com até 12 anos incompletos b. ( ) Criança é quem tem de 0 a 10 anos de idade. c. ( ) Criança é quem tem até 12 anos completos d. ( ) Criança é uma pessoa ainda não completou 10 anos de idade. 3) Como o ECA recomenda tratar a criança que comete ato infracional? a. ( ) Criança que comete ato infracional deve ser recolhida para orfanatos. b. ( ) Os pais da criança que comete ato infracional precisam ser julgados e pagar multas, se for o caso. c. ( ) Criança que comete ato infracional está sujeita a medidas de proteção. Atividades 15 d. ( ) Criança que comete ato infracional perde o direito à proteção do Estado. 4) Segundo o ECA, quem pode ser considerado adolescente? a. ( ) A pessoa que tem entre 12 e 18 anos de idade. b. ( ) A pessoa que não é mais criança, mas ainda não é adulta. c. ( ) A pessoa com mais de 15 anos. d. ( ) A pessoa entre 12 e 18 anos de idade que seja independente financeiramente. 5) Segundo o ECA, sãoobjetivos das medidas socioeducativas: a. ( ) Livrar o adolescente da prisão. b. ( ) Educar a criança e evitar a reincidência. c. ( ) Educar a criança e o adolescente e evitar a reincidência. d. ( ) Educar o adolescente e evitar a reincidência. 16 Referências AULETE, Dicionário Caldas Aulete Digital. Disponível em: < http://www.aulete.com. br/index.php>. Acesso: 11 jul. 2016. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Texto compilado até a Emenda Constitucional no 91 de 2016. Disponível em:<http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 09 jul. 2016. _______. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal nº 8069, de 13 de julho de 1990. Índice elaborado por Edson Seda. Curitiba: Governo do Estado do Paraná, 1994. DIGIÁCOMO, Murillo José; DIGIÁCOMO, Ildeara Amorim. Estatuto da criança e do adolescente anotado e interpretado. Ministério Público do Estado do Paraná: Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente, Curitiba, 2013. 17 UNIDADE 2 | PRINCIPAIS DIREITOS DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES 18 1 Principais Direitos das Crianças e dos Adolescentes 1.1 Quais os Principais Direitos das Crianças e dos Adolescentes? A partir de agora você estudará a parte mais interessante do nosso curso. E verá que tudo o que aprendemos anteriormente foi superimportante para começarmos a entender o funcionamento prático dos conhecimentos adquiridos sobre o ECA. Vimos na unidade 1 que o ECA conceitua criança como a “pessoa” que tem até doze anos incompletos e adolescente como a “pessoa” entre doze e dezoito anos de idade (art. 2o). Essa definição parece simples, mas possui enorme importância na hora de especificar os direitos dos beneficiários do Estatuto. De fato, a partir daquela definição, a criança e o adolescente deixaram de ser um indivíduo “menor”. De acordo com o que está registrado no art. 3o do ECA, passaram a ser pessoa, detentora de todos os direitos a ela inerentes. Frase difícil essa última, não é? Tudo bem, vamos explicá-la. Segundo a legislação válida atualmente em nosso país, uma pessoa é um indivíduo que tem muitos direitos que são dela pelo simples fato dela existir. Independentemente de seu sexo, idade, raça, profissão, formação intelectual, etc. Em outras palavras, crianças e adolescentes são hoje legalmente reconhecidos como seres humanos que têm direitos independente de sua idade. É o caso de todos os direitos fundamentais estabelecidos na Constituição brasileira. Principalmente no seu artigo 5o que garante o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Figura 2: Crianças e adolescentes têm direitos fundamentais estabelecidos na Constituição 19 Outro poderoso conjunto de direitos são aqueles declarados no art. 227 da Carta Magna. Esse artigo constitucional se reflete em toda a estrutura do ECA e impõe à família, à comunidade, à sociedade em geral e ao Poder Público o dever de respeitar as crianças e os adolescentes com a mais absoluta prioridade, colocando-os a salvo de qualquer forma de discriminação ou opressão (arts. 4º e 5º do ECA e art. 227 da CF). Ainda segundo o art. 4o do ECA, parágrafo único, a prioridade absoluta envolve preferência para receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias, por exemplo, no atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública, na formulação e na execução das políticas sociais públicas; destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. Segundo Digiácomo e Digiácomo (2013, p. 6), mesmo que o jovem entre 16 e 18 anos de idade se emancipe, ele não perde sua condição de adolescente, nem a proteção do Estatuto. Proteção esta que se inicia mesmo antes do nascimento, envolve o parto, o registro de nascimento, a proteção contra troca de bebês nas maternidades, o aleitamento, inclusive quando as mães estão submetidas a medidas privativas de liberdade, entre outros. Como já vimos, o ECA tem um conjunto de mais de 250 artigos, todos voltados à proteção da criança e do adolescente. Levaríamos muito tempo para estudar e relacionar um por um. Sendo Figura 3: Alguns Direitos da Criança e do Adolescente destacados no ECA 20 assim, relacionamos na figura acima alguns direitos de grande importância prática, para que você possa ter ideia do quanto essa Lei pode ajudar a sua vida ou mesmo a vida de algum parente, amigo ou conhecido. 1.2 Direitos do Adolescente Infrator Segundo o art. 103 do ECA, considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal quando ela é cometida por criança ou por adolescente. Já dissemos, mas é sempre bom repetir, pois é um dos aspectos principais do nosso estudo: criança e adolescente não cometem crime. O adolescente que pratica ato infracional tem direito à política de proteção integral do Estatuto da Criança e do Adolescente. Parte desse cuidado está no uso correto da denominação especial que recebe a conduta do adolescente praticada em conflito com a lei. Ato infracional, e não crime. Medida socioeducativa, e não pena. Privação de liberdade e internação, e não prisão. Tem direito a ser atendido preferencialmente em repartições policiais especializadas no atendimento de adolescentes acusados da prática de ato infracional, como forma de garantir atendimento diferenciado em relação aos estabelecimentos destinados a adultos. Deve-se evitar o contato do adolescente com adultos imputáveis acusados da prática de infrações penais com a Delegacia de Polícia e com a cadeia pública. O adolescente só poderá ser privado de sua liberdade, ou ter sua apreensão efetuada, em caso de flagrante de ato infracional ou com ordem escrita da autoridade policial competente (art. 230). Quando ocorrer a apreensão do adolescente deve ser comunicada ao juiz e aos pais ou responsável. Ele (adolescente) tem o direito de saber qual a autoridade que o aprendeu; de não ser submetido à identificação compulsória (impressões digitais, fotografias), a menos que se tenham dúvidas quanto a sua identidade; não pode ser transportado em “camburão”; tem o direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade judicial; direito de solicitar a presença dos pais/responsável. 21 O adolescente infrator tem também alguns direitos chamados “processuais”: ao devido processo legal; à igualdade processual; à defesa técnica e à assistência judiciária gratuita. Uma das diretrizes da política de atendimento é a integração das operações de órgãos públicos, seja policial ou não, buscando tornar mais rápido e ágil o atendimento prestado a adolescentes acusados da prática de atos infracionais. Dessa forma, será possível aplicar a resposta socioeducativa apropriada em menos tempo. 1.3 Procedimento para Apuração de Ato Infracional Como é apurado um ato infracional do adolescente em conflito com a lei? Pode ser interessante saber como ocorre esse procedimento, pois, conforme diz SANTOS (2011), infrator não é uma característica pessoal que torna adolescentes desviantes de outros “comuns” ou “normais”. Para esse autor, infração não é uma simples função de adolescente infrator, mas sim um comportamento praticamente natural da adolescência. Com essa afirmativa, ele quer dizer que ninguém está livre de ter um amigo, colega de trabalho ou parente cujo filho adolescente esteja em situação de conflito com a lei. Portanto, conhecer o procedimento para apuração de ato infracional pode ser uma forma prática e útil de conhecer o ECA e de ajudar a si mesmo e ao próximo. Vejamos, então, os principais passos. A intenção não é detratar detalhes jurídicos, mas apenas compartilhar informações que possam ser úteis em seu dia a dia, no caso de necessidade. Quando um adolescente é suspeito de ter praticado um ato infracional, a ação que vai investigar essa suposta ocorrência tem que ser promovida pelo Ministério Público (MP). De acordo com as Diretrizes das Nações Unidas para Prevenção da Delinquência Juvenil, conhecida como Diretrizes de Riad (1990) o adolescente não poderá ser tratado de maneira mais rigorosa do que o adulto. Atenção! Muitas ações judiciais são invalidadas por descumprimento desta regra, que deve ser respeitada ao longo de toda a apuração. 22 O processo se inicia com uma fase policial que está detalhada nos artigos 171 a 178 do ECA. Se for um ato infracional leve o adolescente será liberado após a lavratura do Boletim de Ocorrência, na presença dos pais ou do responsável legal. Entretanto, em caso de apreensão em flagrante, o delegado encaminhará o caso para a correspondente Promotoria de Justiça de Defesa das Crianças e dos Adolescentes do Ministério Público. Agora será importante lembrar o que já estudamos sobre os direitos do adolescente infrator: a apreensão só poderá ocorrer em caso de flagrante de ato infracional ou com ordem escrita da autoridade competente; a apreensão deve ser comunicada ao juiz e aos pais ou responsável; o adolescente não pode ser levado em compartimento fechado em veículo oficial (polícia); somente poderá ser submetido à identificação criminal se houver dúvida se ele é adolescente ou não ou se existir alguma outra justificativa legal para a confrontação. A segunda fase do processo de apuração é conhecida como fase Ministerial, porque ocorre no MP. Ela está descrita nos artigos 179 a 182 do ECA. Agora o MP faz a oitiva informal e poderá decidir por arquivar o caso; conceder remissão (ou seja, perdoar o adolescente); ou representar, que é o nome dado ao ato que inicia a fase judicial. Se o MP resolver arquivar, o processo ainda terá que ir para o juiz, que pode discordar do arquivamento e devolver os autos ao MP, só que agora para o Procurador-Geral. O MP pode elaborar a Representação, peça jurídica que inicia o processo judicial para a investigação do ato infracional. Figura 4: Lembrete sobre o processo de apuração de ato infracional 23 A fase judicial é bem detalhada e muito técnica em termos jurídicos. Entretanto, para os objetivos do nosso curso precisamos saber dos aspectos mais importantes em termos práticos. Conhecendo-os, fica fácil de saber se foram seguidos e até mesmo de tirar dúvidas com o Promotor do Ministério Público. Quando o MP resolve representar, quer dizer que ele faz um documento pedindo ao juiz para iniciar o processo. Os pais ou responsável legal pelo adolescente serão informados (notificados), para que possam providenciar sua defesa prévia em três dias. Essa defesa é optativa, mas é sempre importante, pois mostrará ao juiz o nível de interesse dos pais pelo assunto. Caso os pais não sejam encontrados o juiz definirá um curador para o adolescente. Se o adolescente não for encontrado o juiz suspende o processo e emite um Mandado de Busca e Apreensão contra ele, que é um documento que autoriza os policiais a procurarem em casa ou fora dela. Em seguida será agendada a audiência de apresentação do adolescente ao juiz da causa. A questão pode ser resolvida em uma única audiência, que é o que ocorre na maioria das vezes. Ao final, o juiz prescreverá a medida socioeducativa. Outra frase difícil? É simples: significa que o juiz vai ordenar quais medidas deverão ser aplicadas para corrigir o ato infracional. Lembram que ato infracional não é crime e que medida socioeducativa não é pena? Pois bem, é por isso que o juiz não dá uma sentença determinando uma pena. Ele prescreve as medidas socioeducativas que podem ser só para o adolescente infrator ou até mesmo para ele e seus pais ou responsável. Caso a medida socioeducativa prescrita seja internação ou semiliberdade, haverá ainda a intimação do adolescente e de seu advogado. Se forem outras medidas, será intimado apenas o advogado. O resultado final pode ainda ser alterado por meio de uma apelação, que deve ser pedida em um prazo de dez dias. 24 1.4 Execução de Medida Socioeducativa Você já sabe que o adolescente que comete ato infracional se sujeita às seguintes medidas socioeducativas, todas listadas no art.112 do ECA: I. Advertência – que corresponde na repreensão verbal e assinatura de termo (art.115); II. obrigação de reparar o dano, caso o adolescente tenha condições financeiras para tanto (art. 116); III. prestação de serviços à comunidade (art. 117), com tempo máximo de oito horas por semana e durante seis meses; IV. liberdade assistida (art.118 e art.119), quando as atividades pessoais e escolares do acusado da prática de atos infracionais são acompanhadas por um orientador durante seis meses, no mínimo; V. inserção em regime de semi-liberdade (artigo 120), com liberação compulsória aos 21 anos, permite tarefas externas sem autorização judicial; exigidas a escolarização e a profissionalização; pode servir como transição entre a medida de internação (regime fechado) e a liberdade completa; VI. internação em estabelecimento educacional; VII. qualquer das medidas de proteção previstas no art. 101; § 1º. A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração. § 2º. Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de trabalho forçado. § 3º. Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições. 25 Não é preciso conhecer detalhes delas, mas é importante saber que elas são 7 (sete) e quais são. Porque isso? Para evitar que o adolescente seja obrigado a cumprir uma medida que não está prevista na lei. Tudo que estiver fora do procedimento padronizado pode ser contestado pelos pais ou representantes que podem alegar constrangimento ilegal. Além de saber quais são as diferenças entre medidas de execução e de medidas socioeducativas destinadas a adolescentes que praticam atos infracionais, é importante saber que tais medidas são reguladas pela Lei nº 12.594/2012. Trata-se da Lei que criou o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase). 1.5 Crimes do ECA Desde o início do curso temos dito algumas vezes que criança e adolescente não cometem crimes. Caso elas pratiquem algumas das infrações descritas como crimes pelo Código Penal, fica caracterizado um ato infracional. Nunca um crime. Sendo assim, o que seriam crimes no ECA? Os crimes do ECA estão descritos nos artigos 228 a 244-A e nunca resultam do comportamento da criança ou do adolescente. São sempre condutas contrárias aos direitos delas. Normalmente praticadas por adultos que deixaram de cumprir as determinações do art. 227 da Constituição. Além dos crimes, o ECA tipifica também as infrações administrativas que estão nos arts. 245 a 258-B. Em outras palavras, quem pratica os crimes tipificados no ECA jamais são crianças ou adolescentes. Pelo contrário, quando se fala em crime ou infração administrativa há referências a ações praticadas contra os interesses e direitos da criança e do adolescente. Alguns desses crimes são atitudes propositais. Outros resultam do desconhecimento da Lei por parte de pais, educadores, empregadores e servidores públicos. Vamos falar rapidamente de alguns deles, sem detalhes técnicos, mas deixando claro a sua importância. Dessa forma, você poderá identificá-los mais facilmente em sua vida diária. 26 Lembra-se dasregras sobre a qual falamos nos direitos do adolescente infrator? Explicamos que a apreensão do adolescente só pode ser feita dentro de certas condições. Quais eram mesmo? “Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.” Pois bem. Caso seja feita a apreensão irregular de criança ou adolescente, pode-se estar praticando o crime previsto no art. 230 do ECA. É o caso em que seja negada à criança ou ao adolescente a identidade dos responsáveis por sua apreensão. Ou na qual o apreendido não seja informado acerca dos seus direitos. Outro crime muito comum, infelizmente, é o de pornografia infantil, que envolve “qualquer atividade sexual explícita real ou simulada”, previsto no art. 241 do ECA. Crime que possui algumas variações: adquirir, possuir ou armazenar por qualquer meio, foto ou vídeo, pouco importa o meio de armazenagem (art.241-B); simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfico (art. 241-C); aliciar, assediar, instigar ou constranger criança com o fim de com ela praticar ato libidinoso (art. 241-D); entre outros. No caso do art. 241, não haverá crime se a posse deste material tiver por finalidade comunicar as autoridades e estiver com agente público no exercício da função ou membro de associação legalmente constituída e que inclua entre as suas finalidades a repressão a estes crimes. Destacam-se, ainda, o crime de corrupção de menores, previsto pelo art.244-B, e a venda de fogos de artifício capazes de provocar dano quando manuseados inadequadamente por criança ou adolescente (art. 244). Figura 5: Lembrete sobre o art. 241 do ECA 27 1.6 Infrações Administrativas As infrações administrativas estão definidas nos arts. 245 a 258-B do ECA. Entre elas, destacam-se a do art. 250, que estabelece que crianças e adolescentes não podem se hospedar em hotel, motel, pensão ou congênere, salvo quando acompanhados dos pais ou responsáveis, tiver autorização por escrito ou autorização judicial. O ECA também prevê que os pais possam ser responsabilizados caso violem os direitos de seus filhos (art. 129, ECA). Como exemplo, considere a situação em que os pais não cumpram a obrigação de matricular o filho na escola, ou de acompanhar sua frequência e aproveitamento escolar. 1.7 Parte Cível Desde o início dos nossos estudos você está tendo a oportunidade de confirmar que o ECA faz uma defesa ampla dos direitos da criança e do adolescente. Trata-se de uma proteção que não ocorre apenas nos aspectos penais ou administrativos. Veja a seguir que muitos direitos de natureza cível são também amparados por esse Estatuto. A questão da garantia da prioridade (art.4o, parágrafo único) é uma das mais importantes. Defende o direito de primazia que crianças e adolescentes têm para receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias. Com base nessa prioridade, os governos têm a obrigação de pensar, de formular políticas públicas e destinar verbas com preferência para os programas destinados à proteção da infância e da juventude. O Supremo Tribunal Federal (STF) já decidiu que o Poder Judiciário pode, inclusive, sentenciar ao município para construir escola em determinado bairro em que crianças e adolescentes possam estar sendo negligenciadas. Um dos aspectos cíveis de grande relevância é a questão do direito à vida e à saúde de que tratam os artigos 8 e 10. Ela garante que o médico do parto será preferencialmente o médico do pré-natal, pois conhece melhor as condições de vida e de saúde do nascituro; as instituições de saúde devem garantir alojamento conjunto para mãe 28 e o bebê; a identificação mínima deve incluir identificação plantar e digital do bebê e digital da mãe; todos os documentos do parto e suas intercorrências devem ficar arquivados por 18 anos, no mínimo. 1.8 Atualização Legislativa Para que não se perca no tempo, o Estatuto da Criança e do Adolescente precisa ser atualizado sempre que surjam novas situações ou entendimentos que eventualmente venham a gerar dúvidas sobre a proteção absoluta que deve ser garantida. Essa atualização pode ser feita diretamente no próprio ECA ou por meio da criação de outras leis que passam a fazer parte do sistema de proteção. Esse é o caso da Lei nº 12.594/2012, que regulamenta a execução de medidas socioeducativas e, de certa forma, complementa e enriquece o ECA. Em seu art. 35 ela define o princípio da legalidade de que já tratamos aqui como uma das Diretrizes de Riad (Diretrizes das Nações Unidas para Prevenção da Delinquência Juvenil), lembra? Estabelece que o adolescente não pode ter tratamento mais severo do que o adulto. Define também que a execução da medida socioeducativa deve se dar no domicilio ou na residência dos pais ou responsável ou, se não existirem, no local onde a criança for encontrada (art. 36). Garante que o adolescente internado tenha direito a visita íntima, desde que seja casado ou viva em união estável. Estabelece a extinção da medida socioeducativa (art. 46) pela morte, ao completar 21 anos, ou se houver condenação por crime em regime fechado ou semiaberto em execução provisória ou definitiva. 1.9 Estado de Filiação O art. 27 do ECA estabelece que o reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça. 29 Não é a mãe que tem o direito. O direito ao reconhecimento do estado de filiação é da criança e do adolescente, portanto a mãe não pode abrir mão desse direito. Ou seja, uma mãe não pode dizer simplesmente: o filho é meu eu registro e pronto. Será que o pai sabe da existência daquela criança? Será que ele não tem interesse em reconhecê- la como filho(a)? E se não tiver esse interesse, ele deverá ser obrigado pela justiça a reconhecer o estado de filiação. Sendo assim, nos casos em que a criança não tem a paternidade reconhecida, é indispensável iniciar um procedimento para investigação de paternidade. A mãe deve ser orientada a fazê-lo por conta própria, se tiver condições para isso, ou a procurar a Defensoria Pública para que garanta os direitos de seus filhos. A descoberta da paternidade biológica é um direito fundamental e natural da criança, cabendo à autoridade judiciária o dever de apurá-la, na forma da lei. Quando a lei diz que o direito é personalíssimo, indisponível e imprescritível está afirmando que o dono daquele direito não pode abrir mão dele em favor de ninguém, que nenhuma outra pessoa poderá fazer uso daquele direito e que o titular do direito pode resolver isso a qualquer tempo, sem prazo-limite. A Lei nº 8.560/92 define as regras para a realização de investigação administrativa de paternidade. As defensorias públicas estão preparadas para conduzir os processos judiciais, solicitando, se for caso, a realização do exame de DNA. Uma vez confirmada a paternidade o pai terá que reconhecer a criança como filho(a). Em defesa da criança e do adolescente, aquele que reconhece a paternidade sabendo que não é seu filho biológico, não poderá desistir. Um detalhe importante é o fato de o Superior Tribunal de Justiça (STJ) entender que a paternidade socioafetiva tem prevalência sobre a paternidade biológica. g Assista ao vídeo educativo sobre o ECA produzido pelo Centro Integrado de Aprendizagem da Rede da Universidade Federal de Goiás, disponível no link a seguir. Confira! h t t p s : / / y o u t u . b e / y 5 r 6 v T h H _ X U ? l i s t = L L - IYmprUYL9UoDeotlpDaUQ 30 Resumindo • A Lei nº 8.069/69 é o Estatuto da Criança e do Adolescenteou ECA. • O ECA procura garantir proteção integral à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, conforme determina o art. 227 da Constituição. • Crianças e adolescentes têm todos os direitos fundamentais estabelecidos na Constituição. • Crianças e adolescentes devem ser cuidados com a mais absoluta prioridade pelos pais, pela sociedade e pelo Estado. • O jovem entre 16 e 18 anos de idade que se emancipe não perde sua condição de adolescente, nem a proteção do ECA. • A proteção do ECA começa mesmo antes do nascimento. • É crime descumprir o procedimento para apuração do ato infracional. • Quem pratica os crimes descritos no ECA jamais são crianças ou adolescentes e sim adultos que deixam de protegê-los. • A apreensão irregular de criança ou adolescente é crime previsto no art. 230 do ECA. • Toda criança tem direito ao reconhecimento do estado de filiação, direito que é personalíssimo, indisponível e imprescritível. 31 Glossário Autos: conjunto ordenado das peças de um processo judicial. Curador: que exerce curadoria, quem cuida. Detentora: que tem ou conserva a posse em nome de outro com quem, p.ex., se acha em relação de dependência e a cujas ordens ou instruções atende. Dispositivos: que contém disposição, ordem, preceito, regra, prescrição, artigo. Inerente: que faz parte de algo de forma inseparável. Invalidadas: tornar inválida por algum motivo. Lavratura: formalização, passar para a forma escrita. Nascituro: diz-se do ser humano na fase que precede o nascimento. Oitiva informal: expressão jurídica que significa ouvir fora do processo judicial. Remissão: perdão, ato ou efeito de remir. Representar: termo jurídico que corresponde a elaborar petição para iniciar um processo judicial. Primazia: prioridade, preferência. Preceitos: orientações, determinações, regras. Tipificar: termo jurídico que significa associar a conduta da pessoa a algo que está descrito na lei como crime. 32 a 1) Considerando seus estudos sobre o ECA, marque a afirmativa correta. a. ( ) A proteção do ECA à criança e ao adolescente se inicia mesmo antes dos nascimento. b. ( ) A pessoa entre 16 e 18 anos de idade que se emancipe perde sua condição de adolescente e também a proteção do ECA. c. ( ) Crianças e adolescentes são legalmente reconhecidos como seres humanos que só têm direitos por causa de sua idade. d. ( ) Crianças e adolescentes devem ser cuidados com a mais absoluta prioridade pelos pais, mas não pela sociedade, nem pelo Estado. 2) Marque a alternativa correta relacionada ao “ato infracional”. a. ( ) Ato infracional é crime cometido por crianças e adolescentes. b. ( ) É crime descumprir o procedimento para apuração do ato infracional. c. ( ) Criança que comete ato infracional deve cumprir medida socioeducativa. d. ( ) A pena para o adolescente que comete ato infracional é chamada de medida socioeducativa. 3) Sobre os direitos da criança e do adolescente depois do ECA é correto afirmar que: a. ( ) Crianças e adolescentes têm todos os direitos fundamentais estabelecidos na Constituição. Atividades 33 b. ( ) Todos os direitos das crianças e dos adolescentes estão no ECA, não tendo nada em outras leis. c. ( ) Todos os direitos das crianças e dos adolescentes estão no ECA e na Constituição, não tendo nada em outras leis. d. ( ) O Código Penal também define os crimes praticados por adolescentes. 4) A medida socioeducativa de inserção em regime de semi- liberdade exige liberação compulsória aos 21 anos e permite, ainda: a. ( ) Realização de tarefas externas com autorização judicial. b. ( ) Realização de tarefas internas sem autorização e externas com autorização judicial. c. ( ) Realização de tarefas internas e externas, com autorização. d. ( ) Realização de tarefas externas sem autorização judicial. 5) Escolha a alternativa que liste apenas medidas socioeducativas, listadas no artigo 112 do ECA: a. ( ) Advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços para a família. b. ( ) Advertência, obrigação de reparar o dano, liberdade assistida. c. ( ) Obrigação de reparar o dano, liberdade assistida, pena em regime de semi-liberdade. d. ( ) Obrigação de reparar o dano a depender do valor, prestação de serviços para a comunidade, liberdade assistida. 34 Referências AULETE, Dicionário Caldas Aulete Digital. Disponível em: < http://www.aulete.com. br/index.php>. Acesso: 11 jul. 2016. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Texto compilado até a Emenda Constitucional no 91 de 2016. Disponível em:<http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 09 jul. 2016. _______. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal nº 8069, de 13 de julho de 1990. Índice elaborado por Edson Seda. Curitiba: Governo do Estado do Paraná, 1994. DIGIÁCOMO, Murillo José; DIGIÁCOMO, Ildeara Amorim. Estatuto da criança e do adolescente anotado e interpretado. Ministério Público do Estado do Paraná: Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente, Curitiba, 2013. SANTOS, Juarez Cirino dos. O adolescente infrator e os direitos humanos. E-Gov Portal de e-governo, inclusão digital e sociedade do conhecimento. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/o-adolescente-infrator-e-os-direitos- humanos>. Acesso: 10 jul. 2016. ONU, Organização das Nações Unidas. Diretrizes das Nações Unidas para Prevenção da Delinquência Juvenil (Diretrizes de Riad). Resolução 45/112 de 14 de Dezembro de 1990. Disponível em: <http://www.sdh.gov.br/assuntos/criancas-e-adolescentes/ pdf/SinasePrincpiosdeRiade.pdf>. Acesso: 10 jul. 2016. 35 UNIDADE 3 | O CONSELHO TUTELAR 36 1 O Que É e Como Funciona o Conselho Tutelar De acordo com o art. 131 do ECA, o Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei. O Conselho Tutelar possui autonomia de ação em defesa de suas prerrogativas legais. Por isso, o Conselho Tutelar não necessita submeter suas decisões à aprovação de outros Órgãos e instâncias administrativas. Apesar disso, suas ações estão sujeitas ao controle de sua legalidade e adequação pelo Poder Judiciário, por iniciativas do MP ou de qualquer interessado devidamente autorizado pela lei (art. 137, ECA). Em outras palavras, o Conselho Tutelar é um órgão autônomo, mas não é imune à fiscalização. Foi criado para facilitar o atendimento às necessidades e direitos da criança e do adolescente como forma de garantir maior alcance, maior proximidade desse cuidado em todos os municípios do país. Dessa forma, procura-se alcançar maior agilidade na aplicação de medidas e no encaminhamento para os programas e serviços públicos. Como o membro do Conselho Tutelar não faz parte do Poder Judiciário, nem é policial, ele pode tender a se aproximar mais das crianças e dos adolescentes com menor risco de desconfiança. Essa realidade ajuda a alcançar o efetivo respeito aos direitos e garantias legais e constitucionais. Os detalhes técnico-jurídicos do funcionamento do Conselho Tutelar não possuem grande importância prática. Para o cidadão comum é indispensável saber que o papel maior desse Órgão é intermediar e facilitar a aplicação de medidas e a utilização dos programas de atendimento e serviços criados para defender os direitos de crianças e adolescentes. Essa simplesinformação é de grande utilidade em nosso dia a dia. Acione o Conselho Tutelar sempre que testemunhar situações de agressão aos direitos infanto-juvenis. Figura 6: O Conselho Tutelar é uma das instituições públicas que integram o Sistema de Garantias dos Direitos da Criança e do Adolescente 37 Adultos que exploram crianças, por exemplo, mantendo-as nas ruas em situação de mendicância ou de insinuação à prostituição, devem ser imediatamente denunciados. O Conselho Tutelar está apto a buscar a efetiva solução desse tipo de problemas, facilitando a proteção integral prometida pelo art. 1º do ECA. Como cidadão consciente, informe-se, em sua cidade, quanto aos contatos (endereço, telefones e e-mail) e a forma de escolha dos membros do Conselho Tutelar. Você pode fazer parte desse processo que é obrigatoriamente democrático. Empresários que se utilizam de trabalho infantil ou que empregam adolescentes fora das regras legais também podem e devem ser denunciados ao Conselho Tutelar. As providências para o encaminhamento aos órgãos públicos competentes podem ser tomadas diretamente pelos conselheiros. Exemplificando, se você suspeitar que determinado estabelecimento esteja violando direitos de crianças e adolescentes (vendendo bebida alcóolica ou cigarros, permitindo acesso a boates, explorando ilegalmente seu trabalho, etc.) cabe à ação do Conselho Tutelar, do MP, do Poder Judiciário, e dos demais integrantes do “Sistema de Garantias”. Você tem dúvidas e não sabe a quem acionar? Não tem problemas. Chame o Conselho Tutelar que ele tem condições de tomar as providências para investigar a questão. Figura 7: É proibido explorar o trabalho infantil 38 Resumindo • O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo encarregado de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos no ECA. • Existe e atua em todos os municípios do país. • Foi criado para garantir maior alcance nas políticas de proteção às crianças e adolescentes. • Você pode fazer parte do Conselho Tutelar, cujos membros são escolhidos por meio de processo que é obrigatoriamente democrático. • Como cidadão consciente, informe-se, em sua cidade, quanto aos contatos (endereço, telefones e e-mail) e a forma de escolha dos membros do Conselho Tutelar. Glossário Imune: aquele que não tem deveres ou obrigações. Mendicância: ato de pedir esmola ou auxílio de forma habitual. Prerrogativas: vantagens, direitos ou obrigações que algumas pessoas possuem por determinação legal ou por fazerem parte de determinado grupo familiar ou profissional. 39 a 1) O Conselho Tutelar: a. ( ) Existe e atua em todos os municípios do Sul do país. b. ( ) Existe e atua em todos os municípios país. c. ( ) Existe e atua em todos os municípios do Norte do país. d. ( ) Existe e atua em todos os municípios do Nordeste do país. 2) O Conselho Tutelar é encarregado pela sociedade de zelar: a. ( ) Pelo cumprimento dos direitos dos adultos. b. ( ) Apenas pelo cumprimento dos direitos da criança. c. ( ) Pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. d. ( ) Apenas pelo cumprimento dos direitos do adolescente. 3) Sobre a composição do Conselho Tutelar, é correto afirmar que: a. ( ) Apenas membros do Poder Judiciário podem participar. b. ( ) Deve ser preenchida democraticamente com membros da sociedade. c. ( ) Apenas membros do Poder Executivo podem participar. d. ( ) Apenas membros do Poder Legislativo podem participar. 4) Sobre o Conselho Tutelar, é correto afirmar que: a. ( ) É uma das instituições privadas que integram o Sistema de Garantias dos Direitos da Criança e do Adolescente. Atividades 40 b. ( ) Suas ações estão sujeitas ao controle de legalidade e adequação pelo Poder Judiciário. c. ( ) É órgão provisório e autônomo, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. d. ( ) Necessita submeter suas decisões à aprovação de outros Órgãos e instâncias administrativas. 5) Ainda sobre o Conselho Tutelar, pode-se dizer que: a. ( ) É um órgão autônomo e imune à fiscalização. b. ( ) Possui autonomia de ação em defesa de suas prerrogativas legais. c. ( ) Foi criado especificamente para facilitar o atendimento aos direitos de crianças e adolescentes infratores. d. ( ) Ajuda a dificultar o encaminhamento para os programas e serviços públicos. 41 Referências AULETE, Dicionário Caldas Aulete Digital. Disponível em: < http://www.aulete.com. br/index.php>. Acesso: 11 jul. 2016. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Texto compilado até a Emenda Constitucional no 91 de 2016. Disponível em:<http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 09 jul. 2016. _______. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal nº 8069, de 13 de julho de 1990. Índice elaborado por Edson Seda. Curitiba: Governo do Estado do Paraná, 1994. DIGIÁCOMO, Murillo José; DIGIÁCOMO, Ildeara Amorim. Estatuto da criança e do adolescente anotado e interpretado. Ministério Público do Estado do Paraná: Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente, Curitiba, 2013. 42 Gabarito Questão 1 Questão 2 Questão 3 Questão 4 Questão 5 Unidade 1 B A C A D Unidade 2 A B A D B Unidade 3 B C B B B Apresentação Unidade 1 | O Estatuto da Criança e do Adolescente 1 O Estatuto da Criança e do Adolescente 1.1 O Que É o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)? 1.2 Introdução ao ECA 1.3 Sistemas de Responsabilidade Infanto-Juvenil Glossário Atividades Referências Unidade 2 | Principais Direitos das Crianças e dos Adolescentes 1 Principais Direitos das Crianças e dos Adolescentes 1.1 Quais os Principais Direitos das Crianças e dos Adolescentes? 1.2 Direitos do Adolescente Infrator 1.3 Procedimento para Apuração de Ato Infracional 1.4 Execução de Medida Socioeducativa 1.5 Crimes do ECA 1.6 Infrações Administrativas 1.7 Parte Cível 1.8 Atualização Legislativa 1.9 Estado de Filiação Glossário Atividades Referências Unidade 3 | O Conselho Tutelar 1 O Que É e Como Funciona o Conselho Tutelar Glossário Atividades
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