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BRICS

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Introdução
O presente trabalho tratará sobre os BRICS. Abordará o histórico da formação do acrônimo, bem como as semelhanças, diferenças, conquistas e dificuldades apresentas por cada país integrante do grupo. Ao final será feito um paralelo entre as perspectivas positivas, de sua criação, onde especulava-se que, até 2050, Brasil, Rússia, Índia e China ultrapassariam, em termos de PIB, a economia dos seis países mais industrializados do mundo e o cenário atual enfrentado pelo grupo. 
A HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DOS BRICS
Em 2001 o economista Jim O’Neil formulou a expressão BRIC, utilizando as iniciais dos quatro países considerados emergentes, que se destoavam dos demais, por apresentarem elevado e rápido crescimento econômico, a tal ponto que, juntos, poderiam eclipsar as economias dos atuais países mais desenvolvidos e ricos até 2050. Em 2011 a África do Sul passou a integrar o grupo que ganhou a letra “S” (em inglês – South África).
 Esses países também guardavam semelhanças bastante interessantes e relevantes, como o fato de possuírem grandes proporções territoriais, uma enorme população que apresentava sinais de maciças entradas de pessoas na classe média nos próximos anos, economias sólidas e vastas riquezas naturais, além de possuírem polos industriais em franca ascensão. Com perspectivas positivas, Jim O'Neill alertou também que apesar do então BRIC não formar um bloco político ou econômico, mas apenas um agregamento didático que enquadrava esses quatro países, sua importância geopolítica mundial poderia se tornar muito relevante nos próximos anos, a ponto de irromperem a dominância do Ocidente e estabelecerem uma ordem política multipolar, em oposição ao atual domínio estabelecido pelos membros do G-7
A conformação dos BRIC iniciou-se de maneira informal em 2006, com almoço de trabalho, à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), coordenado pelo lado russo. Em 2007, o Brasil assumiu a organização do referido almoço à margem da AGNU e, nessa ocasião, constatou-se que o interesse em aprofundar o diálogo merecia a organização de reunião específica de chanceleres do BRIC.
A primeira reunião formal de chanceleres realiza-se já no ano seguinte, em 18 de maio de 2008, em Ecaterimburgo, marcando o momento em que o BRIC deixou de ser uma sigla que identificava quatro países ascendentes na ordem econômica internacional para se tornar uma entidade político-diplomática. É importante registrar que o nascimento dessa entidade não se dá por recomendação de Ministros das Finanças, mas a partir da iniciativa de dois experientes e brilhantes diplomatas, especialistas em relações internacionais: o então Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Embaixador Celso Amorim20, e o Chanceler da Rússia, Embaixador Sergey Lavrov. No Comunicado Conjunto acordado em Ecaterimburgo, Brasil, Rússia, Índia e China destacam os seguintes pontos de consenso:
• fortalecimento da segurança e da estabilidade internacionais;
• necessidade de assegurar oportunidades iguais para o desenvolvimento de todos os países; 
• fortalecimento do multilateralismo, com a ONU desempenhando papel central; 
• necessidade de reforma da ONU e de seu Conselho de Segurança, de modo a torná-lo mais representativo, legítimo e eficaz;
• China e Rússia registraram apoio às aspirações do Brasil e Índia de desempenhar maior papel nas Nações Unidas; 
• apoio à solução de disputas por meios políticos e diplomáticos; 
• favorecimento do desarmamento e da não proliferação; 
• condenação ao terrorismo em todas as suas formas e manifestações; 
• reconhecimento da importância da cooperação internacional para o enfrentamento dos efeitos da mudança do clima; 
• reiteração do compromisso de contribuir para o cumprimento das Metas de Desenvolvimento do Milênio e o apoio aos esforços internacionais de combate à fome e à pobreza; e 
• acolhimento da sugestão do Brasil de organizar reunião de Ministros das Finanças dos BRICS para discutir temas econômicos e financeiros. Desde então, as reuniões têm sido pelo menos anuais. 
Para um primeiro encontro, foi notável o número de áreas em que se verificaram posições coincidentes. Isso não é pouco, especialmente se considerarmos que os integrantes do grupo são países com forte tradição diplomática e caracterizados tanto pela independência de suas políticas externas quanto pelo profundo compromisso com o reforço do multilateralismo21. Em julho de 2008, os Chefes de Estado e de Governo dos BRICS se reuniram pela primeira vez, de maneira informal, à margem da Cúpula do G8 (Hokkaido, 9 de julho). Os Presidentes: Luiz Inácio Lula da Silva, Dmitri Medvedev (Rússia) e Hu Jintao (China), além do Primeiro- -Ministro Manmohan Singh (Índia), instruíram seus chanceleres a organizar uma reunião de Chefes de Estado e de Governo do BRIC. Ainda em 2008, realizou-se em São Paulo, em 7 de novembro, o primeiro Encontro de Ministros de Finanças do BRIC, recomendado pelo Brasil na reunião de Chanceleres de Ecaterimburgo (maio). Note-se, assim, que naquele ano de 2008, os países dos BRICS já trabalhavam em uma agenda econômica, antes da quebra do banco Lehmann Brothers (setembro), e também antes da primeira reunião do G20 em nível de Chefes de Estado e de Governo (a primeira Cúpula do G20 se realizou em 14 e 15 de novembro de 2008, em Washington). Desde 2009, os BRICS vêm se reunindo anualmente na forma de encontros de Cúpula. 
A Primeira Cúpula 
(Ecaterimburgo, 16 de junho de 2009) se realizou sob o impacto da crise iniciada em 2008, de maneira que os temas econômicos tiveram proeminência. Poucos meses depois, na Cúpula do G20 em Pittsburgh (24 e 25 de setembro de 2009), o G20 foi efetivamente designado como “premier forum” para a cooperação econômica internacional, como propugnaram os países dos BRICS na Declaração de Ecaterimburgo. Os líderes desses países se comprometeram, ainda, a avançar na reforma das instituições financeiras internacionais, de maneira a refletir as mudanças na economia global, e afirmaram a percepção de que os países emergentes e em desenvolvimento deveriam ter mais voz e representação naquelas instituições. A coordenação dos BRICS nessa temática tem recebido grande visibilidade, uma vez que resultados tangíveis têm sido alcançados, como o progresso da reforma das quotas no FMI e no Banco Mundial. Isso tem beneficiado não apenas os países dos BRICS, mas muitos outros países em desenvolvimento.
A Segunda Cúpula
Realizada em Brasília, em 15 de abril de 2010, aprofundou a concertação política entre seus membros. No Comunicado Conjunto, os Chefes de Estado e de Governo congratularam-se pela confirmação do G20 como principal foro de coordenação e cooperação econômica internacional e registraram ser o G20 um foro mais representativo. Sublinharam, novamente, a necessidade de reformas ambiciosas das instituições de Bretton Woods.
 A grande novidade dessa Cúpula, no entanto, foi o crescimento exponencial, em 2010, das iniciativas de cooperação intra-BRICS, com a realização, entre outros eventos, da Primeira Reunião dos Chefes dos Institutos Estatísticos do BRIC, à margem de reunião do Comitê Estatístico da ONU (Nova York, 22 de fevereiro), que resultou na publicação de duas obras com estatísticas conjuntas dos países do BRIC; o 1º Programa de Intercâmbio de Magistrados do BRIC (Brasília, 1 a 12 de março); o 1º Encontro de Ministros da Agricultura do BRIC (Moscou, 26 de março); o Encontro de Presidentes de Bancos de Desenvolvimento do BRIC (Rio de Janeiro, 13 de abril), que resultou na assinatura de Memorando de Entendimento entre os referidos 
Terceira Cúpula dos BRICS
Realizada em Sanya, na China, em 14 de abril de 2011, oficializou o ingresso da África do Sul, que havia sido previamente definido na Reunião de Chanceleres do foro, em setembro de 2010, à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU). O ingresso ampliou a representatividade dos países do grupo, consolidando-o como um foro político-diplomático integrado por representantes de quatro continentes. 
A terceira reuniãode líderes avançou na consolidação do mecanismo em seus dois pilares de atuação: a coordenação em foros multilaterais sobre temas de interesse comum e a construção de uma agenda de cooperação intra-BRICS. Fortaleceu-se a cooperação setorial em áreas como agricultura, estatística e de bancos de desenvolvimento, e foram abertas novas vertentes de atuação na área de ciência e tecnologia e no campo da saúde, entre outros. Associados à Cúpula, realizaram-se o Seminário de Think Tanks, em Pequim; o 2º Foro Empresarial dos BRICS, em Sanya; e o Encontro de Bancos de Desenvolvimento dos BRICS, igualmente em Sanya. À margem da Terceira Cúpula, realizou-se também reunião dos Ministros do Comércio dos BRICS, para discutir os rumos da Rodada de Doha. Na esfera política, em 2011, todos os países do grupo estiveram no Conselho de Segurança das Nações Unidas, o que ampliou o espaço de coordenação e consulta em temas candentes da agenda do Conselho, como a questão da Líbia. A reunião de Chanceleres à margem da AGNU, em setembro de 2011, aprofundou o diálogo político na defesa da promoção da democratização do sistema internacional; promoveu debate sobre o Oriente Médio e Norte da África; abordou as Conferências COP 17 (Durban, dezembro de 2011) e Rio+20 (Brasil, junho de 2012); reiterou apoio ao ingresso na Rússia na OMC; e reafirmou a importância de ser completada a reforma das instituições financeiras internacionais. Ainda no que diz respeito à coordenação em temas políticos, realizou-se em Moscou, em 24 de novembro, reunião de Vice-Ministros para tratar da situação no Oriente Médio e Norte da África, o que resultou em uma Declaração abrangente sobre temas como a situação política na Síria, na Líbia e no Iêmen; o conflito Árabe-Israelense; e o programa nuclear iraniano. Os participantes da reunião ressaltaram a legitimidade das aspirações dos povos da região por maiores direitos políticos e sociais. O papel do Conselho de Segurança da ONU foi enfatizado, uma vez que ele detém a responsabilidade primária pela manutenção da paz e segurança internacionais.
A IV Cúpula,
Realizada em 2012 na Índia em Nova Dheli, teve como tema principal os problemas da economia mundial, a elaboração de medidas anticrise e a situação na Síria. Resultando em: 
- Aprovação da Declaração de Nova Deli;
- Assinatura de dois acordos intergovernamentais sobre a concessão mútua de créditos em moeda nacional e o compromisso de processamento prioritário das transações dos bancos dos países BRICS;
- A ideia da criação de um banco conjunto de desenvolvimento dos países BRICS para o financiamento de projetos internos. Outro dos seus objetivos será a ajuda aos países em desenvolvimento, em particular durante as crises econômicas. É suposto que esse banco possa funcionar como uma alternativa ao Banco Mundial.
Os participantes do BRICS se pronunciaram pelo aumento das reservas do Fundo Monetário Internacional, assim como pela saída gradual do FMI do controle dos EUA.
A V Cúpula
Realizada em 2013 na África do Sul em Durban, onde estipulou-se a criação do ACR (Arranjo de Contingente) e teria um fundo de US$ 100 bilhões. Estipulado a criação de um conselho que ficou conhecido como “Think Tank” alicerçado em 5 pilares: promoção da cooperação de crescimento e desenvolvimento; paz e segurança; justiça social, desenvolvimento sustentável e qualidade de vida; e troca de conhecimento e inovação para o progresso. 
A VI Cúpula
Realizada em 2014 no Brasil na cidade de Fortaleza, segundo Jim O’Neil esta foi a mais importante pois coloca em prática alguns objetivos anteriormente estipulados pelos membros, mas que ainda estavam apensas no papel. Oficializou e implementou a criação do Banco de desenvolvimento dos BRICS também chamado de NDB (New Development Bank), oficializou e implementou a ACR (Arranjo de Contingentes de Reserva), adoção da Declaração e Plano de Ação de Fortaleza (“Think Tank”), tendo como temas inicias: a facilitação de vistos para empresários, redução de barreiras não tarifarias, eliminação de dumping e subsídios, criação do “BRICS Portal de Negócios” dedicado a troca de informação entre os membros e apoio a exposições, fóruns e feiras dentro dos BRICS e uma seção especial no site de cada um dos países para informações e propostas comerciais de parceiros de negócios e potenciais joint ventures, entre outros. Assinatura do documento de comprometimento a longo prazo denominado "Towards a Long-Term Strategy for BRICS – Recommendations by the BRICS Think Tanks Council“ (Em direção a uma estratégia de longo prazo para BRICS – Recomendações para o BTTC). Ficou acordado que a priori cada Estado seria responsável por um dos pilares: A China iria trabalhar mais com o primeiro tópico que seria "promover a cooperação para crescimento econômico e desenvolvimento"; A Rússia com o segundo pilar que é "paz e segurança"; A África do Sul com o terceiro pilar "justiça social, desenvolvimento sustentável e qualidade de vida"; A Índia com o quarto pilar que é "política e governança econômica"; O Brasil com o quinto pilar que é: "alcançar progresso por compartilhar conhecimento e inovação". 
VII Cúpula do BRICS 
Ocorre em Ufá, na Rússia, nos dias 08 e 09 de julho de 2015. No encontro foram discutidos diversos assuntos como o Novo Banco de Desenvolvimento recentemente criado pelo grupo, o Arranjo de Contingência de Reservas, fortalecimento da cooperação entre os países-membros na área econômica e comercial, entre outros. 
Em 16/02/2016 a Índia assume a presidência dos BRICS, dando sequência à presidência russa.
Durante o evento, as partes concordaram em vários projetos e iniciativas conjuntos, inclusive nos setores de energia, financiamento e investimento. Mais tarde, os países continuaram a cooperação em diversos formatos.
A próxima cúpula do BRICS, sob a presidência da Índia, será realizada em Goa 15-16 de outubro de 2016.
Uma análise das condições favoráveis dos membros BRICS
Os países integrantes do BRICS possuem importantes peculiaridades. Brasil, Rússia e África do Sul são gigantes exportadores de commodities (1), desde matéria-prima para a manufatura (como o minério de ferro) até commodities energéticas (petróleo e gás natural), enquanto China e Índia são gigantes exportadores de produtos manufaturados, contando também com a exportação de produtos high-end tecnológicos (como chips e satélites). Isso mostra a importância desse grupo e sua capacidade de auxiliar-se mutuamente, com Rússia, Brasil e África do Sul exportando commodities a China e Índia, que os processam, manufaturam e transformam em bens de consumo. Com isso, caso formem um bloco econômico propriamente dito, a significância dos BRICS perante a conjuntura internacional se torna bastante relevante.
Não apenas importantes economias exportadoras, os países integrantes do BRICS possuem grandes populações que possuem previsão de grande aumento do tamanho da classe média. Isso se torna bastante significativa quando analisado perto da possível estagnação do mercado consumidor de países como EUA e União Europeia. Essa emergência de uma classe média consumidora nos BRICS pode causar uma demanda alta no mercado global por bens de consumo, a princípio bens básicos de consumo, o que pode pesar na esfera global do comércio mundial, hoje muito voltado para abastecer os atuais países desenvolvidos. Com o aumento do poder de compra da população e também da renda per capita, pode-se emergir, nos BRICS, futuramente uma demanda maior também por produtos industrializados e bens de consumo duráveis de maior valor agregado, como carros de luxo (visto que em mercados como China e Índia a presença de carros de baixo custo é notória). Esse aumento de um mercado consumidor pode ser crucial para o crescimento da economia mundial, hoje muito dependente do crescimento e da situação dos mercados dos países desenvolvidos atuais.
 A presença de uma mão de obra jovem e abundante também é um fator interessante para o crescimento dos BRICS, quando comparado, por exemplo, à mão de obra mais velhae cara de países como membros da União Europeia e Japão. Isso torna o processo fabril muito mais competitivo e barato nesses países, garantindo-lhes uma vantagem maior de competir no mercado global de produtos manufaturados.
Se as perspectivas em torno dos BRICS se concretizarem, a emergência desses países na esfera de influência global poderá fazer frente a influência tradicional de países como EUA e União Europeia. O acelerado crescimento econômico dos países integrantes do BRICS já é um fator relevante para o crescimento da economia mundial, uma vez que cada vez mais o crescimento dos países desenvolvidos tende a estagnar-se ou crescer muito lentamente.
Diversas ações de aproximação entre esses cinco países já foram feitas, incluindo uma possível criação de um banco de desenvolvimento comum. Uma emergência de uma aliança político-econômica entre os BRICS merece uma atenção mundial, visto que atualmente ainda se tratam apenas de uma agremiação de países que desfrutam de características e previsões em comum. 
Então, por que acabou o encanto dos Brics? 
O Brasil, que chegou a ser um dos alvos preferenciais dos investidores estrangeiros, está em recessão – que pode ser a mais profunda em um século – e perdeu o selo de bom pagador das agências de classificação de risco. 
A China, segunda maior força financeira mundial, cujo PIB chegou a acelerar mais do que dois dígitos, terá em 2016 o seu pior desempenho econômico em 26 anos.
Na Rússia, que está em guerra com a vizinha Ucrânia, o PIB encolheu 4% em 2015 e até a Índia, que estava em vias de tornar a queridinha do mercado internacional, enfrenta uma maré negativa, com o resultado econômico mais fraco em 5 anos.
Pesquisa realizada pelo FDI Markets, um serviço de dados do jornal britânico Financial Times, dimensionou o enfraquecimento dos emergentes. Segundo o levantamento, em 2015 empresas estrangeiras investiram US$ 452 bilhões em países em desenvolvimento, ante US$ 482 bilhões em 2014.
De acordo com o FDI Markets, 97 de 154 países classificados como mercados emergentes estão recebendo atualmente menos fluxo de capital internacional do que recebiam antes. Um outro estudo, desta vez realizado pelo FMI, identificou uma queda, desde 2011, de 25% no volume de recursos estrangeiros captados por emergentes, especialmente os que integram os Brics.
O Goldman Sachs resolveu fechar um fundo criado há nove anos que investia em ativos do grupo de países em virtude do acúmulo de prejuízos consecutivos. 
A realidade dos BRICS:
Há cinco anos, os maiores países em desenvolvimento do mundo estavam dominando o globo e seu crescimento econômico emergente alimentava os temores do Ocidente de que uma nova ordem mundial estava se formando. Mas este não é o atual cenário dos BRICS.
O fraco consumo global, a queda nos preços das commodities e uma série de outros problemas econômicos e políticos levaram a Rússia e o Brasil a uma recessão e impulsionaram o maior êxodo de capital dos mercados emergentes em mais de 20 anos, com os investidores retirando US$ 500 bilhões líquidos nos últimos 12 meses.
“A expectativa de uma nova ordem mundial dos Brics foi um pouco exagerada”, diz Hung Tran, diretor executivo do Instituto para Finanças Internacionais, entidade que reúne instituições financeiras globais. À medida que as economias avançadas aceleram e os mercados emergentes enfraquecem, a ideia de que os emergentes ganhariam um peso maior e um papel mais importante na coordenação econômica perdeu força, diz Tran.
Há poucos anos, ninguém esperaria tal reversão. A China crescia a uma taxa média de mais de 10% ao ano, atingindo o pico de 14% em 2007. O crescimento médio da Índia era de 8%; o da Rússia de 5%; e o do Brasil e África do Sul em torno de 4%. Colocando tudo em perspectiva, as economias do G-7 cresceram a uma média inferior a 1,4% no mesmo período.
Mas uma análise retrospectiva sugere que observadores e investidores deveriam ter desconfiado da história dos Brics. Tais economias emergentes dependentes da exportação de commodities sempre estiveram inclinadas a altos e baixos, com suas ascensões e quedas ocorrendo em sintonia com as ondas da demanda global. Sua contribuição coletiva ao crescimento mundial caiu de um pico de quase 50% em 2013 para apenas 36% hoje.
Desde 2011, três fatores importantes que impulsionaram o crescimento estelar dos Brics foram revertidos. Os preços das commodities — que subiram cerca de 80% entre 1999 e 2011 — recuaram para níveis vistos pela última vez há mais de 10 anos. A taxa de crescimento do comércio mundial caiu da média de cerca de 7% ao ano registrada nos seis anos antes da crise global para perto de 2% agora.
E o crescimento da China — o grande propulsor do grupo — caiu vertiginosamente. Ontem ela divulgou que seu produto interno bruto avançou 6,9% em 2015, o ritmo mais baixo em 25 anos. E corre o risco de estagnar agora que o governo chinês tenta transformar sua economia baseada nas exportações e inflada pelo excesso de crédito em um modelo mais sustentável e mais dependente do consumo interno.
Mas esses não são os únicos obstáculos prejudicando os Brics. Eles também enfrentam graves problemas com dívidas, turbulências políticas e grandes desafios demográficos. “As condições financeiras globais estão ficando mais difíceis e países emergentes e em desenvolvimento são especialmente sensíveis aos efeitos disso, porque enfrentam outras dificuldades”, diz o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, Maurice Obstfeld.
A maioria dos países acumulou pilhas de dívida durante uma era sem precedentes de dinheiro fácil, tomando emprestado mais do que as estimativas de crescimento permitiam. A dívida total dos emergentes atingiu um recorde de 200% do PIB — cerca de US$ 58 trilhões — e o maior salto ocorreu no setor corporativo.
Isso está criando uma legião de complicações financeiras. A volatilidade cambial está colocando balanços financeiros no vermelho, à medida que o dólar mais forte encarece o pagamento de trilhões de dólares em dívidas emitidas em moeda americana com a receita em moedas locais. Enquanto fábricas ficam ociosas, o setor imobiliário também recua e outros ativos têm um desempenho pior, o que tem levado empresas à inadimplência.
O grande fardo da dívida deve impedir novos empréstimos necessários para impulsionar o crescimento e elevar os custos de financiamentos, especialmente à medida que empresas em apuros criam problemas para os credores que sustentam essas economias. E com a elevação dos juros pelo banco central dos Estados Unidos, o Fed, a pressão aumenta sobre os custos de empréstimos.
A política também está criando obstáculos ao crescimento. A economia dependente do petróleo da Rússia, já afetada pela queda nos preços do combustível, também foi golpeada pelas sanções devido a suas intervenções na Ucrânia. O governo brasileiro está prestes a entrar em colapso devido a um amplo escândalo de corrupção, ameaçando a aguardada reestruturação econômica. E muitos economistas externos questionam se o Partido Comunista da China será capaz de domar os dragões da corrupção local e a atual turbulência financeira enquanto Pequim tenta ajustar sua economia.
Os países do Brics enfrentam ainda um dilema demográfico: a força de trabalho está crescendo mais lentamente ou, no caso da China, encolhendo. Isso reduz sua capacidade de expansão.
Para superar esses desafios crescentes, o FMI e o Banco Mundial alertaram que esses países devem adotar medidas urgentes para reformar suas economias e torná-las mais produtivas e competitivas. As fórmulas são diferentes para cada país, mas incluem estímulo aos investimentos do setor privado, reformas no mercado de trabalho, proteções mais eficazes aos direitos de propriedade intelectual e apoio aos sistemas judiciários. O Brasil e a África do Sul, por exemplo, devem resolver os gargalos críticos de infraestrutura que limitam o crescimento do comércio. A Rússia e a China devem incentivar uma concorrência maior nos mercados e privatizar estatais ineficientes.
Mas poucos economistasestão otimistas, e a maioria está ao menos preocupada com as perspectivas para os Brics. O Banco Mundial estima que a taxa de crescimento potencial dos Brics tenha caído para menos de 4% ante 6% há poucos anos.
Uma indicação essencial da inabilidade dos mercados emergentes para transformar suas economias pode ser encontrada numa publicação anual do Banco Mundial que compila o clima para negócios em países em todo o mundo. Com a exceção da África do Sul, os países do Brics se moveram pouco nas listas. A Índia, por exemplo, ocupa o 130º lugar entre 189 países no relatório de 2016, subindo quatro posições em relação a 2007. O Brasil está no 116º lugar este ano, cinco acima do registrado em 2007.
Esforços para reformar suas economias se tornarão especialmente importantes, contudo, considerando que os preços das commodities devem permanecer baixos por um longo período e não há sinal de um aumento na demanda vindo das economias avançadas no curto prazo.
Todos esses fatores explicam por que o Banco Mundial e outros alertam que os BRICS e outros mercados emergentes podem estar apenas no início de uma era de fraco crescimento.
Considerações finais
Contrariando as perspectivas do inglês Jim O'Neill, ao criar a sigla BRIC, em 2001, para designar os emergentes, Brasil, Rússia, Índia e China (mais tarde, a África do Sul acrescentaria o "S" ao termo), e dos analistas, que, naquele momento previam que esses países avançariam em ritmo maior do que o restante do mundo e que, embora não formassem um bloco econômico, teriam força suficiente para impulsionar o crescimento global, observamos os BRICS em condições muito diversas às esperadas.
Mediante aos fatos, anteriormente mencionados, é nítida a percepção de que o futuro econômico desses países é incerto, e, que seus esforços para formar um bloco que desafiaria o poder coletivo do grupo das sete maiores economias industriais têm sido vistos com uma dose saudável de ceticismo, alimentado agora por perspectivas cada vez mais sombrias para o grupo.
Referências:
1. O’NEILL, Jim. South Africa as a BRIC? Investment Week, 6 jan. 2011
2. FONSECA, JR., Gelson. “BRICS: notas e questões”, texto para seminário sobre BRICS organizado pelo Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais (IPRI), FAAP-SP, 6 de dezembro de 2011.
3. http://www.funag.gov.br/biblioteca/dmdocuments/OBrasileosBrics.pdf#page=31
4. http://www.revistageintec.net/portal/index.php/revista/article/view/510
5. http://revista.lusiada.br/index.php/ruep/article/view/673
6. http://www.sain.fazenda.gov.br/noticias/suefi/organismos-internacionais/vii-cupula-do-brics-ocorre-em-ufa-russia
7.http://br.sputniknews.com/portuguese.ruvr.ru/2013_03_18/Quarta-c-pula-doBRICS/ 
8. http://br.sputniknews.com/mundo/20160322/3884765/cupula-brics-goa.html#ixzz47L2bfU00 
9.http://br.wsj.com/articles/SB12251990900830883823304581488430565140952

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