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Fichamento txt UDN e anti populismo

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DULCI, Otávio Soares. A UDN e o anti-populismo no Brasil. 1. ed. Belo Horizonte: Ed. UFMG/PROED, 1986, pp. 19-46
1) Nota biográfica sobre o autor
Otávio Soares Dulci possui graduação em Ciências Sociais e mestrado em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais e doutorado em Ciência Política pelo IUPERJ - Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. Atualmente é professor na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e na Universidade Federal de Minas Gerais. Desenvolve pesquisas sobre política brasileira, desenvolvimento regional, trabalho e empresariado.
Entre os livros publicados pelo autor, estão:
1. 	GROS, D. (Org.) ; CAPPELIN, P. (Org.) ; DELGADO, I. G. (Org.) ; DULCI, O. S. (Org.) . Empresas e grupos empresariais: atores sociais em transformação. 1. ed. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2006. v. 1. 400 p.
2. 	DULCI, O. S. ; FARIA, M. A. . Diálogo com o Tempo: 170 anos do Legislativo Mineiro. 1. ed. Belo Horizonte: Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais, 2005. v. 1. 390 p.
3. 	DULCI, O. S. (Org.) ; PAIVA, P. T. A. (Org.) . 20 Anos do Seminário sobre a Economia Mineira. Volume 3: Demografia e Políticas Públicas. 1. ed. Belo Horizonte: UFMG/CEDEPLAR, 2002. v. 3. 290 p.
4. 	 DULCI, O. S. . Política e Recuperação Econômica em Minas Gerais. 1. ed. Belo Horizonte: UFMG, 1999. v. 1. 301 p.
5. 	DULCI, O. S. (Org.) ; NEVES, M. (Org.) . Belo Horizonte: Poder, Política e Movimentos Sociais. 1. ed. Belo Horizonte: Editora C/Arte, 1996. v. 1.
6. 	NEVES, L. ; DULCI, O. S. ; MENDES, V. . Edgar de Godói da Mata-Machado: Fé, Cultura e Liberdade. 1. ed. São Paulo / Belo Horizonte: Loyola / UFMG, 1993. v. 1. 255 p.
7. 	DULCI, O. S. ; IGLÉSIAS, F. ; MEDEIROS, J. . As Constituintes Mineiras de 1891, 1935 e 1947: Uma Analise Historica.. 1. ed. Belo Horizonte: Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais, 1989. v. 1. 313 p.
8. 	 DULCI, O. S. . A UDN e o Anti-Popuilismo no Brasil.. 1. ed. Belo Horizonte: UFMG/PROED, 1986. v. 1. 230 p.
2) Apresentação do texto
O texto ora analisado integra livro escrito pelo cientista político Otávio Soares Dulci com base em sua dissertação de mestrado na Universidade Federal de Minas Gerais, sob orientação de Antonio Octavio Cintra, entre os anos de 1971 e 1977. A obra, publicada em 1986, insere-se em um período da história brasileira particularmente marcante: o da lenta redemocratização do país. Embora ainda vivesse sob um quadro político autoritário, a população brasileira começava a experimentar novamente o processo eleitoral, a exemplo do pleito de 1974.
Nesse contexto, o autor se propôs a revisar a história dos partidos no Brasil, assunto que, na sua avaliação, despertava, ainda na década de 70 e 80, pouco interesse dos estudiosos da política do país. Na introdução de seu livro, Dulci afirma que, em geral, o sistema partidário era analisado ou como simples resultado de conjunturas políticas mais amplas ou como um somatório de máquinas políticas ligadas a questões como populismo, clientelismo, corporativismo. Raramente se encontrava um estudo da instituição partidária como um sistema de representação e promoção de interesses de classes.
Dulci considera, no entanto, que as eleições de 1974 demandavam novos estudos sobre o passado recente dos partidos. Para o autor, a experiência desses anos mantinha uma clara correspondência com os resultados eleitorais de 1962, que, por seu turno, seriam resultado de uma lenta evolução no quadro partidário brasileiro. 
Dulci foca, dessa forma, sua pesquisa na trajetória dos partidos políticos entre os anos de 1930 e 1964, identificados como o período populista da história brasileira. Tendo como principal objeto de estudo a União Democrática Nacional (UDN), o autor constrói a tese de esse partido representa não apenas o principal veículo de oposição ao regime populista como também um dos principais responsáveis pela sua destruição em 1964. Nesse aspecto, a UDN ocuparia papel de destaque na história política do Brasil, como elemento catalisador de camadas sociais e grupos de interesse diversos, interessados, ao menos virtualmente, em uma nova forma de fazer política no país.
O trabalho está dividido em três partes. A primeira delas, selecionada para a composição deste estudo dirigido, apresenta uma resumo das diferentes vertentes de análise sobre o populismo e um quadro geral de características da UDN como representante do anti-populismo. Na segunda parte, são estudadas as raízes da UDN a partir da Revolução de 1930 até a queda do Estado Novo. Finalmente, na terceira, é examinada a história udenista de 1945 até o colapso do regime em 1964.
Uma breve análise sobre as referências bibliográficas utilizadas por Otávio Dulci em seu trabalho revela que a pesquisa se apoiou em um amplo e consistente quadro de fontes primárias e secundárias. Na introdução de seu livro, o autor nos revela que a identificação de bibliografia sobre o tema representou uma das principais dificuldades do estudo, já que pouco se havia publicado a respeito dos partidos políticos no país. Daí, a necessidade de recorrer a uma espécie de reconstituição histórica, a partir da análise de depoimentos, memórias, artigos, entrevistas, notas e documentos oficiais.
3) Comentário relativo à observação de Caio Prado Júnior
A crítica de Caio Prado Júnior à forma o brasileiro pesquisa e escreve História pode, em parte, ser aplicada ao texto de Otávio Dulci- ao menos, o trecho indicado para leitura. De fato, Dulci, em alguns momentos, privilegia em sua análise os conceitos e os debates teóricos decorrentes deles. 
Isso não significa, contudo, que o autor negligencie a apresentação dos fatos e suas contextualizações históricas. Desde a primeira parte da obra, Dulci situa o leitor em relação ao tempo e ao espaço de constituição da UDN, seu objeto de estudo.
Há que se considerar, ainda, que se está tratando aqui da primeira parte de uma obra com mais de 200 páginas. Como o próprio autor coloca na introdução de seu livro, este primeiro trecho traz um panorama sobre o populismo e a construção do anti-populismo. Torna-se compreensível, portanto, o cuidado com a definição de alguns conceitos. 
Nos demais capítulos da publicação, parece-me que o autor enfatizou fatos e não somente idéias. Inclusive porque, conforme o próprio Dulci expôs na introdução, o estudo sobre partidos políticos ainda estava muito incipiente à época da edição do texto. Logo, coube ao pesquisador desenvolver o que ele chama de “reconstituição histórica” a partir de documentos primários.
4) A análise e interpretação do conteúdo do texto
A parte do livro indicada para este estudo dirigido pode ser dividida em duas. Em uma primeira, o autor apresenta a origem do conceito de populismo e em que circunstância esse vem sendo empregado no Brasil. Em um segundo momento, Dulci enumera algumas características gerais da formação da UDN e explica por que o partido teria se tornado símbolo do anti-populismo no país.
De acordo com o cientista político, o termo populismo tem sua origem histórica em dois movimentos sociais do século XIX. Um desencadeado nos Estados Unidos e outro no Império Russo. Em ambos, populismo referia-se a organizações de pequenos produtores rurais diante do avanço capitalista. 
Na África e na América Latina, o conceito passa por inúmeras transformações, sendo usado para designar situações as mais diversas. Em geral, segundo o autor, o termo está associado não a um eixo temático ou ideológico preciso, mas sim a um contexto histórico de transição face aos rumos do desenvolvimento econômico e suas conseqüências político-sociais. O populismo seria uma resposta a esse processo, uma espécie de recomposição social, em que alianças ou pactos entre grupos sociais constituem peça essencial. Nesse ambiente, as relações entre a vontade popular e a liderança política representam igualmente parte importante.
No Brasil, conforme Dulci, o termo populismo só foi utilizado de maneira corrente após 1945, tendoGetúlio Vargas como um de seus principais expoentes. A historiografia, no entanto, costuma indicar o período entre a Revolução de 1930 e o golpe de 1964 como a fase populista da política brasileira. De acordo com o autor, é possível dizer que, no país, duas têm sido as principais vertentes de estudo sobre a questão. 
Há um eixo de análise focado em uma teoria de modernização, segundo a qual, na América Latina, o período pós-crise de 1929 seria marcado pelo início de um processo de modernização e de rompimento de tradicionais relações de patronato. A massa rural acostumada a esses relacionamentos teria perdido, então, seus vínculos de mediação e boa parte dela teria migrado para as cidades. No meio urbano, não conseguiria se organizar politicamente, ficando à mercê de novas formas de patronato e dependência. Por essa vertente de estudo, o populismo é uma maneira de líderes carismáticos firmarem-se no poder a partir da manipulação de massas despossuídas de organização política ou classista.
O eixo de análise está ligado à teoria marxista. Parte-se, dessa forma, do pressuposto que a sociedade está dividida em classes. Nesse sentido, o populismo resultaria do arranjo de relações entre grupos sociais desencadeado pela Revolução de 1930. Seria um “Estado de compromisso”, um “pacto de classes”. O Estado populista incorporaria novos segmentos sociais no campo político, ainda que de maneira controlada, como teria sido o caso de integrantes da classe média e operária, integrados em um sistema corporativo. No campo político, o populismo reduziria as tensões sociais e prejudicaria a livre associação. No campo econômico, a característica mais forte desse regime é a intervenção estatal, com uma política industrial de substituição de importações.
Em ambas as vertentes de análise, segundo Dulci, o populismo é visto como anomalia, desvio. Para as duas, o problema central é identificar a relativa autonomia do Estado populista em relação aos diferentes segmentos sociais.
Pela leitura do texto ora resenhado, depreende-se que o autor leva em consideração aspectos das duas vertentes de análise em sua pesquisa. Há todo momento, Dulci pressupõe a existência de classes sociais formadas no Brasil. Por outro lado, considera também que o populismo advém de uma crise econômica, cujo ápice foi marcado pela Revolução de 1930.
Segundo Dulci, o populismo no Brasil foi definido progressivamente. Quando Vargas assumiu em 30, com o apoio militar, sua postura seria a de um “chefe” de todas as classes e não de uma classe específica, a dos trabalhadores. A partir de 1943, no entanto, os reflexos da vitória dos Aliados na 2ª Guerra Mundial e da ascensão de idéias democráticas ecoaram no Brasil. Vargas, para se reforçar no poder, não poderia mais figurar somente como um líder autoritário. Por isso, teria utilizado a estratégia do discurso trabalhista e se colocado ao lado dos operários.
O viés autoritário do governo Vargas- vale ressaltar- não significava que o líder político comandasse o país sozinho, isolado. A Revolução de 30, na avaliação de Dulci, levou a uma conjugação de uma estrutura agrária com uma política de substituição de importações. No decorrer do período identificado como populista, houve uma associação de poder entre essas camadas, tendo o Estado como árbitro das relações sociais, principalmente nas cidades. No campo, a manutenção de práticas de clientela ainda conferia bastante influência aos fazendeiros. Somente na década de 50, a burguesia industrial teria se tornado “classe-líder” do pacto populista.
A arbitragem empreendida pelo Estado, especialmente na relação entre trabalhadores e empresários, a partir da estrutura sindical corporativista, teria conseguido manter por um tempo as massas operárias caladas. Com a redemocratização, o trabalhismo de Vargas converteu-se no Partido Trabalhista Brasileiro. Mas o PTB não manteria os operários sob suas rédeas para sempre. A ascensão da classe operária seria um dos fatores a abalar o regime populista. 
No campo, a instauração dos primeiros movimentos de trabalhadores rurais também levaria ao colapso do sistema. Os camponeses, tutelados pelas relações de clientela, escaparam da arbitragem sindical. Quando na década de 50 começaram a se organizar, o Estado não dispunha de outros meios para contê-los a não ser pela repressão. João Gourlat ainda teria tentado estender aos trabalhadores rurais alguns direitos dos empregados urbanos, mas a reação dos produtores falou mais alto. A crise no pacto de dominação populista se agravava, então, a cada dia.
O coronelismo no campo e o corporativismo nas cidades dissolveram, na avaliação de Dulci, os interesses “objetivos” de classe. Durante o período populista, os acordos políticos eram realizados de maneira individualizada com o aparelho estatal. As políticas públicas assumiam, dessa forma, a marca do governante.
Enquanto isso, as classes médias, que durante a década de 30 ainda se engajaram em algum movimento de esquerda ou de direita, calaram-se com o Estado Novo. Fossem por apoiar um Estado centralizado fossem por ver atendidos seus interesses, os setores médios somente começariam a criticar o regime depois da 2ª Guerra Mundial e da conseqüente ampliação das políticas trabalhistas. Sentindo-se relegada pelo Estado, a classe média tornar-se-ia o suporte urbano do anti-populismo.
Nesse contexto político e social, o sistema partidário foi reestruturado na década de 40. Os partidos, embora compostos por grupos sociais, também se encontravam influenciados pelas práticas clientelistas. Sua capacidade de representação era, ainda, virtual.
Até emergir o quadro de crise do populismo, coube ao Partido Social Democrático (PSD) papel central no sistema político-partidário. Ele congregava oligarquias fiéis a Vargas e setores burgueses beneficiados com a industrialização dos anos 30-40. Se aliado “natural”, segundo Dulci, era o PTB, encarregado de gerir a participação política dos setores operários e sindicais. Na oposição, estava a União Democrática Nacional (UDN). 
A UDN, objeto principal de estudo deste texto, passou por uma evolução, na avaliação do autor. Não houve somente uma UDN, mas sim várias. Antes de se tornar reacionário- como hoje lembramos dele-, o partido congregou em sua fileiras todo um movimento de índole democrática e de oposição ao Estado Novo. Em sua origem, a UDN era formada por oligarquias excluídas do poder, setores democráticos contrários ao Estado Novo, militares, frações liberais da burguesia e, até mesmo, comunistas. Logo, no entanto, o partido excluiria grupos mais à esquerda e reforçaria seu caráter mais conservador.
A partir de uma análise do desempenho da UDN nas eleições de 1945 a 1962, Dulci observa que o partido foi, aos poucos, ganhando espaço em setores urbanos mais desenvolvidos e dependendo menos dos votos das oligarquias tradicionais. O aumento de sua participação eleitoral nas cidades fez com que se aflorassem na UDN suas divergências internas.
O partido, de acordo com Dulci, vivia um dilema entre uma estratégia de conciliação com o governo e uma de competição. Os conciliadores, ligados às oligarquias rurais, interessavam-se pela colaboração com o presidente Dutra porque essa poderia render-lhes dividendos positivos com suas clientelas locais ou regionais. Já o setor da competição, formado principalmente por “bacharéis”, criticava as relações de clientela e defendia reformas de cunho liberal. O liberalismo clássico, aliás, era bandeira da maior parte da UDN, embora alguns grupos menores falassem também de mudanças sociais. 
Até a década de 60, o setor udenista favorável a alianças era o mais influente. A partir dos anos 60, o lacerdismo e sua visão elitista e conservadora da política tornaram-se hegemônicos. O avanço da influência de Carlos Lacerda no partido coincide com o período em que o populismo já se encontrava desgastado por uma série de lutas sociais.
A UDN, mais do que uma união de oposições oligárquicas, era um partido contrário ao populismo e favorável a um projetoliberal para o país. Tratava-se, portanto, de uma posição anti-populista, nas palavras de Dulci. Sobre esse aspecto, o autor propõe dois ângulos de análise.
Em âmbito político-institucional, a UDN defendia a liberdade individual e as instituições representativas. Ao menos durante um tempo, o partido acreditava no poder do voto para levar a democracia à sociedade. Sob esse ponto de vista, as críticas udenistas ao regime eram, em geral, de cunho moral. O sistema populista seria deturpado politicamente, sendo necessária a presença de uma elite moral e intelectual no poder para levar ordem e legalidade ao país. Somente um grupo político moralizado poderia aplicar a lei com exatidão, o que não ocorria com o regime populista. Com o passar dos anos, no entanto, a confiança dos liberais no voto e nas instituições então vigentes declinou. Eles passaram, então, a defender uma reforma institucional, mesmo que para isso tivessem que recorrer, paradoxalmente, a meios ilegais.
Sob o aspecto econômico, o projeto anti-populista identificava-se com o neoliberalismo. Valorizavam-se a liberdade de iniciativa e a especialização internacional da produção. Em princípio, criticavam uma industrialização “forçada”, parasitária do campo. À medida que o partido aumentava sua influência na cidade, entretanto, crescia a defesa da industrialização. Mas não qualquer projeto de indústria. A UDN mantinha-se contra o nacionalismo e o intervencionismo do Estado na economia, colocando-se ao lado daqueles que defendiam o livre fluxo de capitais e os investimentos externos no país. Nesse sentido, havia, inclusive, um viés militar na posição da UDN. Os quadros do partido, em sua maioria, acreditariam que, em tempos de Guerra Fria, o Brasil deveria se posicionar como parceiro de nações do Ocidente capitalista. Os anti-populistas defendiam, ainda, o retorno da hierarquia social própria do capitalismo, em que as classes médias ocupassem função estabilizadora. Já as massas operárias, por serem meio de manobra populista, deveriam manter atuação política reduzida na sociedade.
Na avaliação de Dulci, o projeto neo-liberal da UDN somente teria êxito em um ambiente autoritário, pois, de outra forma, as condições sociais do Brasil não suportariam um desenvolvimento econômico excludente, baseado na garantia do capital estrangeiro e na exploração da mão-de-obra. Os custos sociais seriam altos demais para alcançarem o apoio por meio do voto. 
A rejeição ao populismo, portanto, não se encaminhou para o rumo democrático. Pelo contrário, seguiu caminho inverso à medida que as reivindicações de classes emergiam. A UDN passou, então, a combater os setores populares ativos no cenário político e, ao mesmo tempo, o Estado que os tolerava por não conseguir mais reprimi-los. Contrariamente ao seu discurso de moralidade e ordem, iniciou uma campanha por medidas alternativas à legalidade. Tudo para levar a cabo seu projeto neo-liberal.
5) Principais verbetes e seus significados no texto
- Populismo- termo que surgiu para designar movimentos rurais nos Estados Unidos e no Império Russo do século XIX, mas que evoluiu para os significados mais diversos. No Brasil, em geral, é associado a uma anomalia do jogo político, pelo qual as massas trabalhadoras ficariam sujeitas ao clientelismo ou à tutela do Estado por meio de uma estrutural sindical-corporativista;
- Anti-populismo- termo usado pelo autor para designar correntes político-sociais de cunho liberal, contrárias à manutenção do regime populista no Brasil. A UDN seria um dos principais representantes desse grupo político;
- Estado Novo- período da ditadura militar Varguista, entre 1937 e 1945.
- Revolução de 30- resultado do ápice da crise de 1929 no Brasil. Movimento revolucionário teria sido o marco inicial do populismo no país.
- Classe- grupos definidos a partir de sua posição econômica na sociedade.
- Clientela- relação pessoal de dependência entre um grupo menos favorecido economicamente e outro com maior poder econômico e político;
- Partidos- na teoria, grupos políticos de representação de classes. Durante o período populista estudado no texto, no entanto, integravam o sistema político clientelista presente na sociedade;
- Trabalhismo- estratégia usada por Vargas para reforçar seu poder junto às classes trabalhadoras e intermediar suas relações com o patronato. A partir de um jogo político marcado pelo simbolismo, Vargas colocava-se como aquele que entendeu os anseios da massa trabalhadora e conferiu a ela uma série de direitos; 
- Corporativismo- Estrutura sindical e institucional organizada pelo governo Vargas para mediar a participação político-social das classes trabalhadoras;
- Neo-liberalismo- base doutrinária da proposta anti-populista. Segundo ela, os preços devem ser respeitados como determinante fundamental da economia. Medidas fiscais e monetárias em países em desenvolvimento devem estar de acordo com os ditames dos bancos centrais de nações desenvolvidas. Orçamentos governamentais devem ser equilibrados e o capital estrangeiro, bem recebido. Ao Estado, cabe somente a manutenção de um ambiente de ordem e estabilidade, de maneira que a estrutura econômica possa caminhar conforme as leis de mercado.
6) Fontes e bibliografia utilizada
- DULCI, Otávio Soares. A UDN e o anti-populismo no Brasil. 1. ed. Belo Horizonte: Ed. UFMG/PROED, 1986. v.1. 230 p.
- Site pesquisado: http://lattes.cnpq.br/0130593695067590, acessado em 08 de novembro de 2007.

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