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Análise de reportagem a partir das teorias semióticas
Reportagem analisada:
BRUM, Eliane; MIM, Marcelo. A mulher que alimentava. In: Época. 16 ago. 2008. Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI10410-15257-1,00-A+MULHER+QUE+ALIMENTAVA.html> Acesso em 08 dez. 2009.
 	A reportagem publicada em agosto de 2008 na revista Época relata a vida e a morte de uma mulher comum, que aos olhos (e nas mãos) da jornalista Eliane Brum, tornou-se rica e única. Aplicando técnicas de literatura, Eliane comprovou que nenhuma história é simples o bastante para não tornar-se marcante e que, com a utilização de técnicas da semiologia, é possível valorizar e transformar em romance de não-ficção uma reportagem jornalística. 
 Eliane presenciou os últimos 115 dias da merendeira aposentada Ailce. Desde que esta descobriu ser vítima de um câncer até seus últimos instantes vida. Tornou-se intima de sua fonte, de sua personagem. Com isso descreveu com clareza sentimentos e emoções de Ailce, através de figuras de linguagem como a metáfora, encontrada em vários trechos da matéria. 												Ailce não tinha nenhuma característica fantástica ou que pudesse transformar sua vida em um grande acontecimento de interesse público. Era uma pessoa como outra qualquer, que nasceu, construiu sua trajetória, e deixou seu legado aos seus descendentes.
No decorrer do texto, Eliane Brum utiliza-se de recursos do jornalismo literário para proporcionar a sua personagem, a fonte e o objeto jornalístico, uma história rica e digna de ser contatada. Através de mecanismos de linguagem é perceptível a noção de significado em sua narração, como em trechos de poemas retirados de outros contextos, onde o estado de espírito das pessoas envolvidas no caso é descrito, sem que necessariamente elas tenham dito ou se referido a tais sensações. Como no trecho abaixo, extraído pela repórter de um poema de Manuel Bandeira:
“Quando o enterro passou/Os homens que se achavam no café/Tiraram o chapéu maquinalmente/Saudavam o morto distraídos/Estavam todos voltados para a vida/Absortos na vida/Confiantes na vida. Lá dentro, sentadas uma diante da outra, eu e ela vivemos o segundo ato. Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado/Olhando o esquife longamente/Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade/Que a vida é traição.”
Segundo Charles Sanders Pierce pode-se entender a utilização de poemas como a semiose do interpretante imediato. Em uma de suas teorias, Pierce divide a qualidade interpretativa em alguns diferentes módulos, onde o interpretante imediato representa o signo que lembra outra coisa que não exatamente seu sentido literal. No caso, o poema lembra a vida da personagem. O conceito da Semiologia Francesa segundo Ferdinand de Saussure em meados dos séculos XIX e XX, também encontra-se aqui, pois o significado do poema passa ter uma relação direta sobre os fatos narrados, eles passam a significar e simbolizar um momento que não aquele preparado durante a sua produção. 
	A fala, também conceituada por Saussure, é explicitada em todo texto, ao dar voz a personagem que faz declarações reconhecidas esteticamente por estarem entre aspas, demonstra a utilização particular da língua e as características individuais na forma de expressão verbal em um mesmo idioma.	 
A análise das fotografias utilizadas pela reportagem mostra o uso de conceitos semióticos da fotografia tendo como autor base Roland Barthes. Na primeira fotografia (rosto de Ailce) foi usado o efeito de pose. A imagem de Ailce com o olhar vazio e o rosto demonstrando um misto de decepção ou tristeza. O fotógrafo privilegiou este ângulo de Ailce com o intuito de demonstrar sua tristeza, e iniciar o assunto denso do qual a matéria trata. 
A sintaxe é um outro elemento que também ajuda a criar significados no texto.
As fotografias usadas na matéria encadeiam-se de modo a montar uma seqüência, que vai do momento em que a idosa descobre o câncer até o exato momento de sua morte. 
Outra estratégia utilizada pelo fotógrafo é a fotogenia, que pode ser encontra da segunda fotografia (Ailce no quintal de casa), na terceira (Ailce na sala de casa) e na sexta (rosto de Ailce no reflexo do espelho). Na segunda imagem a fotogenia aparece no ângulo utilizado, em que o fotógrafo foca as luzes naturais do local onde Ailce estava, criando sombras, também há a utilização de um objeto, o muro como elemento de geração de significado. As luzes, as sombras, e o muro criam um ambiente que remete a situação da personagem.
Na terceira fotografia o ângulo escolhido coloca a escada da casa em primeiro plano. É outro exemplo de fotogenia em que a escada significa prisão. Ao olharmos é como se a escada fosse o limite do espaço em que a protagonista da “história” podia circular. Na sexta imagem o fotógrafo o ângulo usado permite que a imagem de Ailce pudesse ser vista não frontalmente, mas refletida num espelho. A percepção da fragilidade da mulher é maior. O rosto demonstra as marcas do sofrimento e da frustração com a vida. 
Na última fotografia utilizada pode-se encontrar o uso de um paradoxo, figura de linguagem descrita na Semiologia francesa de Ferdinand de Saussure. A oposição que se faz é entre a vida da filha e a morte da mãe. No momento do clique da máquina fotográfica Ailce acabava de morrer, tinha os olhos abertos como os da filha que acariciava seu rosto. Mas não havia vida no seu olhar.
A personificação é uma figura de linguagem usada por Eliane Brum para descrever o momento em que a idosa despede-se de sua casa e é levada para a enfermaria de cuidados paliativos. Eliane atribui uma atitude humana a casa, que é um objeto inanimado. O trecho está descrito a seguir:
“Na despedida da mulher que a habitava, a casa parece agonizar”.
A antítese também é usada no texto com palavras que embora se oponham não são contraditórias. Como no exemplo abaixo, em que há uma oposição entre movimento e inércia, e entre fala e silêncio.
“Há um movimento em cada um deles, nela nenhum. Eles falam dela, mas ela não está lá”.
Na escolha das falas da entrevistada a serem publicadas na matéria, Eliane privilegia na primeira delas uma frase também com antítese. A oposição que se faz neste caso, é com relação ao tempo, ter e não ter.
“(...) Quando tive tempo, descobri que meu tempo tinha acabado”.
Foi também utilizada uma figura de linguagem, que poderia ser caracterizada como metonímia, no trecho: 
“Na segunda-feira 14 de julho, seu quarto tem cheiro de morte.”
Não é o quarto que tem cheiro de morte, mas o corpo. Embora não haja uma relação lógica entre os termos há uma relação de proximidade entre o quarto (o local) e o que está contido nele, o corpo de Ailce. Neste mesmo trecho também foi utilizada uma metáfora. Não é a morte que tem cheiro, mas são os odores do corpo da mulher doente. Não há uma relação de proximidade entre os termos a palavra morte foi escolhida para dar um sentido figurado a odores do corpo. 
Nota-se também que o texto de Eliane estava atado a morte de Ailce. O discurso carrega as marcas da experiência contraditória da jornalista. A reportagem que podemos considerar como exemplo de jornalismo literário, é carregada de emoções, e exigiu um envolvimento de Eliane com a entrevista, porém sua matéria somente seria concluída quando a personagem principal estivesse morta. 
Exemplos desta contradição podem ser encontrados nos seguintes trechos:
“Pergunta: “A história que você está escrevendo sobre mim está chegando ao fim?”. Eu me acovardo: “Não sei”. Seus olhos amarelos me perfuram. “Não sabe?” Eu minto: “Acho que não falta mais nada”. Ambas sabemos que falta a morte.”
“Muitas vezes eu fui a única testemunha de sua vida. Eu escreveria sua história, e ela estaria morta.”
Após a análise conclui-se que os elementos da semiologia utilizados pela repórter Eliane Brum e pelo fotógrafo Marcelo Min contribuíram para dar o tom literário e poético do texto. Portanto,o uso das figuras de linguagem no jornalismo pode trazer ritmo a narrativa e tornar o texto mais atrativo para o leitor. Já no caso da fotografia a utilização de estratégias de conotação na escolha dos ângulos e poses revela a intenção do fotógrafo em registrar não apenas uma imagem, mas a própria história de Ailce.

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