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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES - Cristiano Chaves - Resumo

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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
BIBLIOGRAFIA:
1.	Vol.2 “Curso de Direito Civil” Cristiano Chaves
2.	Vol.2 Carlos Alberto Gonçalves
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
No direito romano, os autores do direito retratavam as obrigações através da história dos devedores, que corriam com seus pertences para fugir dos seus credores que, ao alcançá-los, tiravam seus pertences e sua vida, descontando a dívida através da própria personalidade do devedor. Por termos base cultural em Roma (que venceu o outro berço da civilização ocidental, a Grécia), uma sociedade muito mais bélica e patrimonialista, nosso Direito é extremamente patrimonialista e pouco humanista.
Historicamente, a ideia de obrigação é a ideia de uma responsabilidade pessoal, até que vai ser editada uma lei no baixo império romano, chamada de Lex Poeteria Papiria, que foi a primeira lei a trazer uma prerrogativa humanista na obrigação, passando de uma responsabilidade pessoal, para uma responsabilidade patrimonial. O grande legado deixado por essa lei só foi ocorrer depois de Roma.
O Brasil não adota mais a ideia da Reponsabilidade Pessoal; no Art. 391 do C.C e no Art.789 do C.P.C., o Brasil adota a ideia da Responsabilidade Patrimonial.
Conceito Clássico de Obrigação: “Obrigação é uma relação jurídica pela qual se confere a um sujeito ativo (“credor”), o direito de exigir de outro sujeito (“devedor”) o cumprimento de uma prestação, economicamente apreciado.” Conceito de Carlos Alberto Gonçalves. 
Nesse conceito, nós destacamos 5 elementos: Credor, Devedor, Prestação, “economicamente apreciado” e a Responsabilidade Patrimonial.
*Os alemães desdobraram um pouco mais esse conceito com duas expressões: Schuld (Obrigação) e Haftung (Responsabilidade), sendo que, o descumprimento de uma obrigação resulta em uma responsabilidade.
Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor.
Art. 789.  O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei.
Este conceito do Carlos Alberto não é errôneo, ele apenas é incompleto. No mundo moderno, não da para falar de obrigações apenas com esse conceito. Na conjuntura atual, entende-se que esta Relação Obrigacional não pode violar os valores de terceiros e da coletividade. O Código Civil de 2002 traz esses valores. No Art. 421 traz a ideia da Função Social dos Contratantes e o Art. 422 traz a Boa Fé Objetiva, que trazem justamente, esses valores de terceiros e coletivos. 
Os Direitos Fundamentais possuem uma eficácia vinculante (vertical) nas relações entre (...) e uma eficácia horizontal, nas relações entre esses direitos fundamentais, estabelecendo que estes são hierarquicamente iguais. 
Portanto, com isso, podemos concluir que as Obrigações se dão por uma relação dinâmica. 
POSIÇÃO DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS NO DIREITO CIVIL
As relações privadas se subdividem entre dois subgrupos: Relações Existenciais e Relações Patrimoniais.
Relações Existenciais: É a relação jurídica personalíssima, que diz respeito à pessoa na sua essência. São, portanto Ontológicas, que estudam o ser. Ex.: Direitos Personalíssimos
Relações Patrimoniais: É a relação de caráter econômica; o amago é a economia. Ex.: Contratos.
Os Direitos das Obrigações estão inseridos no campo das Relações Patrimoniais. No entanto, dentro das Relações Patrimoniais, nós teremos uma divisão: Relações Reais e Relações Obrigacionais.
A Relação Real e Obrigacional se diferencia pelo sujeito. Tanto o Sujeito Ativo quanto o Passivo de uma relação obrigacional são determinados ou então, pelo menos, determináveis. Em toda relação de propriedade, portanto em toda relação real, todos são sujeitos passivos, ao que se dá o nome de Obrigação Passiva Universal, na qual toda a sociedade deve se abster de violar a propriedade alheia. A relação obrigacional é Inter Partes, enquanto a real é Erga Omnes. No entanto, além de se diferenciarem pelo sujeito, se diferenciam pelo objeto. Numa relação obrigacional, o objeto é uma prestação humana, de pessoas. Já a real, o objeto é qualquer coisa. Outra diferença se da pelo processo. Numa relação real, temos uma Ação Real (uma ação de buscar a coisa), já numa relação obrigacional, nós temos a chamada Ação Pessoal (uma ação de obrigar a cumprir com a prestação). 
Por fim, a Relação Real é perpétua, mas a Obrigacional jamais será perpetua, ela é transitória. Ou seja, toda Relação Obrigacional é transitória/efêmera, ela vai acabar, irá se extinguir. O modo esperado para se terminar uma obrigação é o cumprimento, o adimplemento. Mas de modo inesperado, a obrigação acaba pela responsabilidade. A Relação Real é perpetua. 
No entanto, após fazer essa distinção, nós teremos categorias jurídicas híbridas ou ambíguas. Seriam elas:
1)	Obrigações propter rem: Chamadas também de Obrigações Ambulatórias, são obrigações aderentes a uma coisa. Ou seja, são prestações impostas ao titular de uma coisa, ao proprietário. Neste caso, não interessa quem é a pessoa, mas interessa apenas quem é o proprietário; uma obrigação “aderente”.
Ex.: Taxa de Condomínio e Direitos de Vizinhança.
As características dos Direitos proter rem, são portanto, claramente, de Relações Reais. Porém, ela é Obrigacional. Isso porque, só é Direito Real aquilo que está previsto em lei. Sem previsão em lei, pode ter todas as características de Direito Real, mas será sempre obrigacional. 
2)	Obrigações com eficácia real: Art. 1417 do C.C.
Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à aquisição do imóvel.
É, portanto, uma relação obrigacional que produz efeitos reais. São exceções que dependem de previsão legal expressa. Na Itália, França e Portugal, tais obrigações são regras. A obrigação com eficácia real é aquela que deve ser respeitada por terceiros e depende de previsão legal para existir, por se tratar de modalidade excepcional de obrigação.
De modo geral, as relações obrigacionais são mais complexas.
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA OBRIGAÇÃO
Os elementos constitutivos da obrigação são os mesmo elementos constitutivos de qualquer relação jurídica: Sujeito, Objeto e Vínculo; qualquer que seja o ramo do Direito. 
SUJEITO
O Sujeito da Relação Obrigacional pode ser toda e qualquer pessoa (Pessoa Física, Pessoa Jurídica), individualmente ou em conjunto. Além das pessoas, os Entes Despersonalizados podem ser sujeitos na Relação Obrigacional. 
Obs.: Entes Despersonalizados – É um conjunto de bens ou conjunto de pessoas, mas que não se enquadram como P.J., ou por que não está expressa na forma da lei, ou porque não tem atividade compatível com a P.J., como o espólio, massa falida, condomínio, etc. Entes despersonalizados não sofrem dano moral, pois não possuem Personalidade Jurídica, mas podem sofrer danos materiais.
OBS: O Brasil é um dos únicos países do mundo em que o condomínio, mesmo possuindo CNPJ, é considerado um ente despersonalizado.
Pode, portanto, ser um Ente Despersonalizado, singular ou plural. Ou seja, é possível que o Sujeito da relação obrigacional não tenha nem personalidade (Ente Despersonalizado), quanto ser um incapaz (O incapaz pode receber uma herança).
Instituto da Confusão
Art. 381. Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as qualidades de credor e devedor.
No Direito, Confusão é extinção da obrigação por perda da diversidade de sujeitos. Ou seja, é quando o credor e o devedor se confundem na mesma pessoa, de modo que, não há como um exigir do outro, porque os dois são a mesma pessoa. Haverá Confusão, portanto, quando o credor e o devedor não tiverem mais alteridade, ou seja, fundiram-se numa mesma pessoa as suas qualidades. A confusão tende a ocorrer por devido a uma sucessão causa mortes. A exemplo, do filho que deve ao pai, e o pai morre. No entanto, na ocorrência de uma pluralidade de herdeiros, a extinção seráparcial.
Obs.: Havendo Confusão entre vivos, mais especificamente, entre pessoa natural e pessoa jurídica (pessoa e empresa), caracteriza a desconsideração (Art.50).
Sujeitos Especiais
Para certos Sujeitos, o tratamento sai do Código Civil e vai para Lei Especial. Os dois melhores exemplos são: O consumidor e o Empregado.
No caso do CDC, havia uma grande discursão sobre “qual o conceito de consumidor?”, “Qual a relação de consumo?”. A própria lei especial cria regras para o tratamento especial. 
E o que precisa para ser empregado? São os Art. 2 e 3 da CLT. Para ser um empregado, deve haver uma subordinação jurídica, que é o que qualifica, portanto, esse sujeito.
Mas o que caracteriza consumidor? Antigamente, havia a ideia de que, para ser consumidor, deveria haver a ideia de hipossuficiência econômica. Esse conceito mudou para o conceito de vulnerabilidade. Portanto, o conceito de consumidor, que estão nos Arts. II e III do CDC, é o conceito de destinatário final, sendo esta teoria finalista mitigada, pois é o destinatário final jurídico, e não fático. 
 Há uma questão relacionada ao fato de, como interpretar normas gerais do Direito Civil e ramos especiais como Direito do Consumidor e Empresarial, pois existem zonas de interseção entre tais áreas (há a lógica de priorizar as normas especiais diante das gerais). (i) Diálogo das Fontes é uma técnica de interpretação das normas criada por Erick Jaime. Aplica-se a norma geral em lugar da norma especial, sempre que a norma geral se mostrar mais protetiva ao sujeito de direito, isto é, dialogo das fontes. Com outras palavras, é o uso racional das normas, com o intuito de ampliar a proteção do sujeito especial. Desta forma, o Código Civil sempre será aplicado quando for mais benéfico. 
Obs.: A perspectiva de credor e devedor não é estática, ela é dinâmica. 
OBJETO (Elemento Objetivo)
O Objeto da relação obrigacional é uma prestação humana, que consiste em: “dar”, “fazer” e “não fazer”. O objeto se diferencia em:
Objeto Imediato: A própria conduta humana (Objeto da Obrigação);
Objeto Mediato: É o bem da vida consistente (Objeto da prestação em si).
Todo Objeto de relação obrigacional deve ser Lícito, Possível, Determinado ou Determinável.
Obs.: Art.426 – Pacta Corvina 
Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.
Então aqui, temos um objeto ilícito.
Obs.: Temos relações obrigacionais que possuem sujeitos indeterminado e indetermináveis. Hoje, se falam das Obrigações Transindividuais, que transcendem a pessoa, como por exemplo, as obrigações ambientais (Ex.: Toda propriedade rural deve respeitar o limite da proteção ambiental). 
Obs².: A relação obrigacional admite a substituição, tanto do sujeito, quanto do objeto, e a isso se dá no nome de sub-rogação. Sub-rogação Pessoal (Sujeito) e Sub-rogação Real (Objeto).
VÍNCULO JURÍDICO
O Vínculo Jurídico é a garantia do cumprimento da Obrigação. O vínculo está na Responsabilidade (Haftung), a garantia do cumprimento de todas as obrigações. Portanto, todo Vínculo Jurídico vem dotado de coercibilidade, e esta coercibilidade se da através de execução patrimonial pelo Poder Judiciário (o devedor reponde por suas dividas com o seu patrimônio). 
 Há situações em que o patrimônio do indivíduo não será passível de responsabilização, como o bem de família e os instrumentos do trabalhador.
Existem casos em que a Constituição admite a Responsabilidade Pessoal, como exemplo, no Art.5º, LXVII (Divida de Pensão Alimentícia e o Infiel Depositário). O Infiel Depositário é aquele que recebe algo para guardar, mas deixa de devolver. A Constituição diz, portanto, que eles podem ser presos, na forma da lei. Para o devedor de alimentos, a lei é o nCPC, Art. 528-533, e o infiel depositário, a lei é o C.C. no Art. 652. O CPC de 2015 acolhe uma restrição, que antes estava na Súmula 309 do STJ, e que agora está no Art. 528, §7º do Novo CPC. O STJ dizia, portanto, e que agora virou lei, que só pode prender o devedor de alimentos, pela dívida dos últimos 3 meses (?) Dessa forma, o novo CPC interpreta o devedor de alimentos de maneira restritiva. 
Obs.: Todo tratado internacional de Direitos Humanos assinado pelo Brasil estará em sede supralegal. No caso do Infiel Depositário, portanto, a sua prisão é constitucional, porém, ilícita, devido ao Pacto de São José da Costa Rica, que proíbe a prisão civil de devedores. 
TODO VÍNCULO JURÍDICO TEM COERCIBILIDADE? O QUE É OBRIGAÇÃO NATURAL? EM RESUMO: NAS OBRIGAÇÕES NATURAIS, COMO SE CARACTERIZA O VÍNCULO JURÍDICO?
EFEITO NO VÍNCULO
Se estamos diante de sujeito, objeto e vínculo jurídico dotado de coercibilidade patrimonial, temos uma obrigação chamada de obrigação jurídica. O Direito não pode ignorar os diversos sentidos da palavra obrigação, pois existem mais duas categorias de obrigação, além da obrigação jurídica, caracterizadas pelo vínculo subjetivo.
OBS: O cumprimento de uma obrigação jurídica se chama adimplemento, também chamada de pagamento.
Obrigações Morais: são aquelas nas quais está ausente o vínculo jurídico. Ela tem sujeito, tem objeto, tem um vínculo, mas esse vínculo não é jurídico; ele é um vínculo moral. A moral não é um valor juridicamente controlável. A moral é um dos valores mais subjetivos e abertos que podem existir. 
Portanto, aqui, o sistema jurídico não considera o plano moral; as obrigações do plano moral não são executáveis. Além disso, todas as obrigações morais não tem coercibilidade. No entanto, se alguém quis, e cumpriu uma obrigação moral, porque quis, pode afirmar que sabia que não era obrigado e, por exemplo, pedir a devolução do dinheiro? Não. O cumprimento de uma obrigação moral é a doação. No nosso sistema, no Brasil, toda doação é irrevogável. As únicas duas hipóteses de revogação da doação estão nos Arts. 557 e 562, no entanto, aqui, tecnicamente se tem uma anulação da Doação, e não uma revogação propriamente dita, como expresso pelo legislador.
Obrigação Natural: A obrigação natural tem sujeito, tem objeto, e tem vínculo jurídico. No entanto, ela não é uma obrigação jurídica, por que o legislador adentrou o vínculo jurídico, e retirou dele a prerrogativa da coercibilidade pelo poder judiciário; ele entendeu que esse vínculo jurídico não merecia a coerção pelo judiciário. O cumprimento de uma obrigação natural é o pagamento, no entanto, se o indivíduo quer cumprir ou não é questão de consciência. Se o individuo não cumpre, o outro não pode lhe executar. No Brasil nós temos duas obrigações naturais que são:
- Divida de jogo assumida no Brasil;
- Divida prescrita.
Obs.: O cumprimento espontâneo de obrigação natural tem natureza de pagamento (“pagou está pago”); não há como voltar atrás. 
Obs²: Divida de jogo assumida no estrangeiro, espontaneamente, pode ser executada no Brasil, diretamente ou por meio de carta rogatória. Carta Rogatória é o mecanismo pelo qual a pessoa é executada fora do Brasil, e o juiz do estrangeiro manda uma ordem para o juiz brasileiro. Essa ordem se dá pela carta rogatória. O juiz não pode descordar da Carta Rogatória. 
OBRIGAÇÃO COMPLEXA
Poderia chamar também de “A Obrigação como um processo”, frase pensada por Clóvis do Couto e Silva. Durante todo o Séc. passado, repetia-se todo o padrão de Obrigações Romanista. Foi então que na década de 70, Clóvis do Couto e Silva estabelece a Obrigação com o sentido de processo, o processo é um movimento. A Obrigação é dinâmica, e não estática. No entendimento contemporâneo, não da para usar mais o entendimento romanista, porque os valores agora são outros.
OBS: O CC segue a operabilidade, socialidade e a eticidade. Operabilidade significa que o exercício do direito seja algo fácil para todos. Socialidade é a preocupação com a função social dos direitos civis, que colaborem com a sociedade. Eticidade é o comportamento probo, sendo a ética mínima da convivência jurídica.
Respeito aos Direitos Fundamentais: Nós vamos ter um realce dos Direitos Fundamentais. Os constitucionalistas vão dar um apelido a isso, que é a Eficácia Horizontaldo Direitos Fundamentais. De acordo com essa eficácia, nenhuma obrigação privada pode atentar aos Direitos Fundamentais. Nenhum particular pode assumir obrigações que vão contra os Direitos Fundamentais.
Boa Fé Objetiva: A Boa Fé Objetiva nada mais é do que o sentimento ético que se espera das partes. Eticidade não se confunde com a moral. É o sentimento ético que se espera das partes, ou seja, é estabelecido um padrão mínimo de conduta esperado entre as partes, sendo uma boa-fé principiológica. Boa-Fé é o valor jurídico dúplice, podendo ser objetiva ou subjetiva. A (i) Boa-Fé Subjetiva é psicológica, se prendendo ao conhecimento, sendo o casamento putativo um exemplo de boa-fé subjetiva, que é uma norma regra. A boa-fé objetiva se relaciona com a eticidade do CC/02.
 Cada contrato possui um nível de boa-fé diferente, tendo como exemplo uma relação entre o farmacêutico e o comprador, que pediu um remédio X e o farmacêutico não ofereceu a opção do mesmo remédio X em sua versão genérica e o contrato entre duas gigantes empresas (McDonalds e Coca-Cola), sendo o nível de boa-fé objetiva do contrato entre duas empresas muito maior, pois não é possível alegar a falta de conhecimento de uma das partes envolvidas.
“Treud und Glauben” que é a “Liberdade e Confiança”.
A Boa Fé Objetiva se aplica a ambos os polos da relação obrigacional, não só o mais forte ou o mais fraco. Ela não é um instrumento de proteção do contratante mais fraco, ela é um instrumento ético. A cada contrato, teremos um nível de boa fé objetiva diferente.
Ou seja, a boa fé objetiva não é um instrumento para retirar vantagens licitamente obtidas ou para apoiar e proteger os hipossuficientes, mas algo que se aplica em ambas as partes da relação, sendo um instrumento para a construção de uma relação ética.
Tríplice função da boa fé objetiva: 
Função Interpretativa: Toda e qualquer obrigação precisa ser interpretada pelo seu sentido ético; 
Função Integrativa: Integrar é diferente de Interpretar; essa função estabelece deveres anexos/implícitos/laterais à Boa Fé Objetiva, que estarão ali, querendo as partes ou não; 
Obs.: As Obrigações tem por fontes o Negócio Jurídico, a Relação Jurídica, a Proibição do Enriquecimento sem causa e a Boa Fé Objetiva. 
Função Limitadora/Restritiva/de Controle: Essa função é a antítese da segunda. Ela limita o exercício de direitos, reconhecidos ao contratante, que se encontram abusivos. Ela visa, portanto, evitar/impedir abuso de direitos.
Função Social do Contrato: É a preocupação com os impactos do cumprimento de uma obrigação pela sociedade. 
Relatividade dos efeitos da obrigação quer dizer que a relação obrigacional só gera efeitos para as partes. Porém, há situações em que os efeitos da relação podem afetar a sociedade além das partes, e de forma negativa. Ou seja, Função Social do Contrato é a preocupação com os impactos do cumprimento de uma obrigação sobre a coletividade e terceiros. A Função Social do Contrato incorpora a socialidade do CC/02. Da função social nascem dois novos conceitos:
Terceiro Ofensor/Lesor/Cumplice: é aquele que se meteu na relação alheia, aquele que chega para “atrapalhar” a relação dos outros. 
Terceiro Ofendido/Lesado: é quando a relação entre duas pessoas prejudica terceiros. Um exemplo foi quando o Hospital Aliança recusou os clientes da Sulamerica (maior plano de saúde na Bahia), extinguindo o contrato devido a questões sobre o valor recebido, fazendo com que a extinção da relação particular entre ambos gerasse imenso prejuízo a terceiros (os clientes da Sulamerica, que não integram a obrigação). O MP requereu a permanência do contrato entre a Sulamerica e o Hospital Aliança.
OBS: O terceiro tem legitimidade para ajuizar uma ação contra a relação de partes que estão o prejudicando.
CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
O Código Civil se utiliza de diferentes critérios para classificar as obrigações, se utilizando de diferentes tipos de classificações e crismas. Os diferentes critérios classificatórios resultam em diferentes espécies e modalidades obrigacionais. Orlando Gomes dizia que a percepção de que os critérios não são excludentes, mas combinantes é fundamental para a compreensão do assunto, ou seja, uma classificação não elimina a outra, fazendo com que as modalidades tenham (...)
QUANTO AO CONTEÚDO
Quanto ao conteúdo, as obrigações podem ser de 3 diferentes possibilidades:
Obrigações de Meio: O meio não se vincula ao fim. Ou seja, nas Obrigações de Meio, o devedor se compromete apenas a um comportamento eficiente, probo, comprometido, porém não assume o dever de produzir um resultado, partindo da premissa de que deve assumir uma conduta, mas não deve consumar o resultado. Só haverá responsabilidade ao devedor caso o mesmo atue de forma desidiosa e displicente. A obrigação do advogado e a do médico são dois exemplos típicos de obrigações de meio, não podendo ser responsabilizados por não salvarem a vida ou não ganharem o caso. Caberá ao credor provar que o devedor foi desidioso.
Obrigações de Resultado: A Obrigação de Resultado é aquela na qual o devedor se vincula à obtenção de algo previamente ajustada, havendo uma “vinculatividade”. Toda obrigação de resultado é vinculativa, ou seja, o devedor se compromete a alcançar determinado resultado. Um exemplo de obrigação de resultado é a obrigação do transportador, que tem a obrigação de conduzir o passageiro ao local previamente estabelecido. Se o resultado não for obtido, presume-se a culpa do devedor, que deve provar que não é culpado. Ou seja, o devedor assume uma responsabilidade subjetiva com a presunção de culpa.
Obs.: A atividade do odontólogo, de acordo com o STJ, é uma obrigação de resultado, pois enquanto o tratamento médico é atuar para obter a melhoria, a do dentista é para garantir a melhoria.
Obs².: O grande debate foi sobre o cirurgião plástico estético (cirurgião plástico reparativo é obrigação de meio), cuja primeira posição do STJ foi de que a mesma é uma obrigação de resultado, pois o mesmo, antes da cirurgia, pode informar que tal operação não será possível de satisfazer o individuo, ou seja, quando o cirurgião se compromete com a cirurgia, ele deverá cumprir o resultado desejado pelo paciente/cliente.
O STJ posteriormente passou a tratar este caso, especificamente, sob uma nova ótica, dizendo que a classificação histórica que vem do Direito Romano de obrigação de resultado envelheceu, pois as obrigações são dinâmicas, sendo desnecessária a diferenciação entre obrigações de meio e de resultado, interessando apenas a boa-fé objetiva, ou seja, se o cirurgião plástico se incumbir de boa-fé objetiva (dever de informação ao paciente e os deveres anexos) e aconteça algum problema durante a operação, o mesmo não será responsabilizado.
Obrigação de Garantia: Caracteriza-se Obrigação de Garantia, quando o devedor assume o dever de eliminar riscos de terceiros, ou seja, o devedor se compromete a eliminar riscos de terceiro (eliminar riscos que outra pessoa teria). O contrato de seguro é um exemplo de obrigação de garantia, ou seja, a seguradora, caso haja um acidente com o seu automóvel, se compromete a assumir a obrigação de ressarcir o dano causado por um terceiro. A evicção e o vício redibitório são obrigações de garantia assumidas pelo vendedor numa relação de compra e venda.
Evicção: é a obrigação de todo e qualquer devedor de responder civilmente (indenização) caso a coisa que ele está devendo não lhe pertença. Evicção consiste na perda da coisa comprada por uma decisão. Um exemplo é quando A vende uma terra para B, que agora é propriedade de C, que a adquiriu de A por usucapião. 
Vícios Redibitórios: é quando compramos um produto defeituoso, cujo defeito impede sua utilização (celular que não atende ligações, ou compra de um touro reprodutor que é estéril). Ou seja, é um defeito que diminui o valor da coisa ou torna a coisa imprópria para o uso.
QUANTO A LIQUIDEZ:
Quanto à liquidez as obrigações podem ser liquidas ou ilíquidas:
Obrigações Liquidas: São as obrigações que tem acertamentoindiscutível, ou seja, é uma obrigação que já tem um acertamento quanto ao objeto, já se sabe de antemão, qual a sua extensão de qualidade e quantidade.
Um exemplo de obrigação liquida é a obrigação de entregar R$10.000. 
A liquidez é muito importante não para o Direito Material, mas para o Direito Processual. Por quê? Porque o juiz só pode autorizar uma execução obrigacional se esta for liquida, certa e exigível, sendo, portanto um pressuposto do Direito de Ação, de exigibilidade, sendo importante, portanto, para fins processuais.
Obrigações Ilíquidas: As obrigações são ilíquidas quando o objeto é incerto. Elas exigem acertamento. As Regras para a liquidação de obrigações estão no CPC/15, Art. 509 e 510. Ele apresenta 3 diferentes mecanismos para a liquidação das Obrigações, ou seja, 3 diferentes formas de liquidação:
Liquidação por Cálculos: Ocorrerá liquidação por cálculos, quando o próprio credor apresenta planilha contábil, assinada por profissional, tornando liquida a obrigação. Isso é muito usado em obrigações de “dar dinheiro”. 
Obs.: O Art.305 do Código consagra o Princípio do Nominalismo para todas as obrigações em dinheiro. Toda obrigação em dinheiro deve ser paga em seu valor nominal. O problema é que o valor da moeda vai se depreciando, devido à inflação, tendo o STF decidido que o Princípio do Nominalismo carrega em si, de forma implícita, a correção monetária, a menos que as partes tenham renunciado à correção monetária. 
Liquidação por Arbitramento: Algumas obrigações exigem mais do que cálculos para a sua liquidação, exige-se às vezes conhecimento técnico, expertise. Expertise significa conhecimento específico em uma área, esta é a liquidação por arbitramento. Por exemplo, na área mobiliária.
Liquidação por Artigos: Ela é mais incomum. São casos em que se tem necessidade de fatos novos para a liquidação, fato novo este, que é necessário para a liquidação da divida. O melhor exemplo seria o do Taxista. Você bateu no carro do taxista, que ficou 15 dias parado para o conserto, sendo tudo que foi quebrado posto de volta, portanto, liquidado. Porem, além disso, o taxista ficou 15 dias sem rodar, tendo que ser restituído, chamado de Lucros Cessantes, que é uma vantagem que o credor iria receber, se o outro não tivesse lhe causado prejuízo. Então, há fatos que precisam ser provados para que se tenha a liquidação.
Obs.: Compensação, quando credor e devedor mantêm relações distintas (ambos devem um ao outro), só são possíveis em obrigações líquidas, pois é pressuposto da compensação a liquidez.
QUANTO A PLURALIDADE DE OBJETOS
O objeto da obrigação é a prestação, sendo o objeto da prestação um bem da vida, podendo ser qualquer coisa que tenha valor para alguém. As partes podem estabelecer o objeto da prestação, podendo ser simples ou plurais.
Obrigações Simples: As partes podem acertar a entrega de uma única coisa. Ou seja, se a obrigação tem apenas um objeto na prestação, a mesma é uma obrigação simples. O pagamento é um direito tanto do credor quanto do devedor que, ao efetuar o pagamento, caso seja recusado, poderá entrar com ação de consignação e pagamento. Se houver perecimento do objeto sem culpa, extingue-se a obrigação, se for com culpa, haverá indenização.
Obrigações Plurais: É quando há uma pluralidade dos objetos da prestação, podendo esta ser cumulativa ou alternativa.
Obrigação Cumulativa: É quando há um cúmulo/adição, onde esta adição faz com que o devedor só se exonere da obrigação prestando todos os objetos conjuntamente, ou seja, caso falte um objeto, a obrigação será descumprida. É uma cumulação de prestações, mas não de obrigações. Ela possui a mesma estrutura interna de uma obrigação simples, mudando apenas a quantidade de prestações a serem feitas.
Obrigação Alternativa: É quando não há uma conjunção (e), mas sim uma pluralidade de prestações e possibilidades que se eliminam entre si, não se acumulando (ou). Nas obrigações alternativas, se a prestação devida for uma, não será outra.
O momento chave da obrigação alternativa é o da escolha, que é chamada de Concentração da Dívida, que compete a quem estiver indicado no contrato (autonomia privada) e, caso não esteja previsto no contrato, competirá a escolha ao devedor. Se a pessoa a quem couber a escolha não a fizer em prazo estabelecido pelo juiz (10 dias), a escolha será invertida. A escolha pode se dar por qualquer das hipóteses previstas no contrato, não precisando atender o valor médio. 
Feita a Concentração de Dívida, segue-se as regras das obrigações simples, ou seja, dali em diante, a obrigação será simples e regida como tal, tendo como grande problema o perecimento/deterioração. As obrigações alternativas são dinâmicas, dependendo da boa-fé objetiva. Um exemplo é quando uma empresa de alimentos fecha um contrato com um agricultor, que se compromete e assume a obrigação de fornecer e produzir 1 tonelada de grãos, havendo a possibilidade do agricultor escolher quais grãos serão fornecidos, independente do preço.
Obs.: A responsabilidade é subjetiva (depende de culpa, de acordo com o Artigo 927 do Código Civil), só sendo objetiva (responsabilidade sem culpa) nos casos previstos em lei e por decisão judicial, havendo exceções, como nos casos em que o empregador responde por dano causado pelo empregado (responsabilidade objetiva). Se o devedor, nas obrigações simples, não teve culpa, não haverá responsabilidade.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
Perecimento ou Deterioração é a perda da coisa. O Perecimento Acidental/Fortuito será excludente de responsabilidade do devedor. A perda de coisa nas obrigações alternativas dependerá a quem compete a escolha.
Se a escolha cabe ao devedor, a perda da coisa antes da escolha é irrelevante. Se o perecimento foi total e não culposo, extingue-se a obrigação, e caso tenha sido culposo e total, haverá perdas e danos + valor da obrigação do devedor. Se a perda ocorreu depois da escolha, a obrigação se tornou simples, e haverá a análise da culpa. Se for sem culpa, extingue-se a obrigação, se for com culpa, haverá a indenização.
Se a escolha cabe ao credor, havendo perecimento antes da escolha, depende da culpa. Se não foi culposo, extingue-se a obrigação e, se for culposo e total, haverá a indenização + valor da obrigação. Se for culposo e parcial, tudo depende da vontade do credor, que pode escolher outra coisa, gerando a Concentração de Débito (se torna obrigação simples) ou pode gerar a indenização por perdas e danos (indenização). Se houve perecimento depois da escolha, seguem-se as regras da obrigação simples.
CAPÍTULO IV
Das Obrigações Alternativas
Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou.
§ 1o Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra.
§ 2o Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período.
§ 3o No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberação.
§ 4o Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes.
Art. 253. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexeqüível, subsistirá o débito quanto à outra.
Art. 254. Se, por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma das prestações, não competindo ao credor a escolha, ficará aquele obrigado a pagar o valor da que por último se impossibilitou, mais as perdas e danos que o caso determinar.
Art. 255. Quando a escolha couber ao credor e uma das prestações tornar-se impossível por culpa do devedor, o credor terá direito de exigira prestação subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos; se, por culpa do devedor, ambas as prestações se tornarem inexeqüíveis, poderá o credor reclamar o valor de qualquer das duas, além da indenização por perdas e danos.
Art. 256. Se todas as prestações se tornarem impossíveis sem culpa do devedor, extinguir-se-á a obrigação.
OBS: Obrigações Facultativas
Na Argentina e em certos países europeus, existe uma outra categoria de obrigações, que não estão normatizadas no Brasil, mas podem estar estabelecidas no contrato pela autonomia privada, que são as chamadas Obrigações Facultativas, já que o Princípio da Tipicidade não se aplica no Direito Obrigacional (possibilidade de negócios jurídicos, contratos e obrigações atípicas). As Obrigações Facultativas podem servir como um mecanismo de facilitação das obrigações, sendo obrigações simples e singulares. Ao invés de chamarmos as mesmas de Obrigações Facultativas, podemos chamá-las de Obrigações com Facultatividade de Solução. Elas possuem apenas uma única possibilidade prestacional, ou seja, o devedor se vincula apenas a uma prestação que, caso pareça sem culpa, à mesma será extinta.
Nas Obrigações Facultativas, com a intenção de facilitar a obrigação, o negócio jurídico prevê outra possibilidade de cumprimento da obrigação, possibilitando ao devedor a possibilidade de se exonerar a obrigação com outra prestação em “stand by”, sendo utilizada apenas de acordo com a vontade do devedor. Portanto, caso haja perecimento sem culpa da prestação assumida, a prestação facultativa não poderá ser executada. Se houve perecimento culposo da prestação originariamente assumida, haverá execução da prestação em stand by.
Obs.: Caso o devedor não cumpra uma obrigação assumida por perecimento sem culpa, o mesmo, ao cumprir a obrigação em stand by, pratica doação. Isto é comum em situações de seguro de residência, por força de contrato. Em caso de sinistro, a seguradora tem a obrigação assumida de indenizar o credor, podendo, entretanto, praticar a obrigação facultativa/stand by deliberadamente.
QUANTO A PLURALIDADE DE SUJEITOS (RESUMO JF)
Obrigações Simples: A OBRIGAÇÃO SIMPLES NÃO CARREGA NENHUM GRAU DE DIFICULDADE, POIS NÃO HÁ COMO DISTRIBUI O CRÉDITO COM NINGUEM. PORTANTO, O CÓDIGO CIVIL NEM ALUDE ÀS OBRIGAÇÕES SIMPLES.
Obrigações Plurais: O CÓDIGO CIVIL PROTEGE AS OBRIGAÇÕES COM PLURALIDADE DE SUJEITOS, QUE PODEM SER DIVISÍVEIS, INDIVISÍVEIS E SOLIDÁRIAS. CADA UMA DELAS TEM CRITÉRIO PRÓPRIO E DEFINIDO NO CÓDIGO. 
Obrigações Divisíveis: NO ART.258, TEMOS AS OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS (...)
Obrigações Indivisíveis: Não se prendem a um critério natural, físico. 
Duas das perguntas da prova tem mistura de classificação (misturando pluralidade de sujeito e objeto)
As outras perguntas: Obrigação de resultado/de meio liquida e ilíquida (dentro de uma questão prática). 
QUANTO AO OBJETO
Obrigações de Não Fazer
É a única obrigação negativa existente no sistema. Ela é uma abstenção voluntaria de uma conduta que seria lícita à parte, se não fosse a obrigação assumida. Portanto, é algo que o devedor poderia fazer se quisesse, mas ele assumiu a obrigação de não fazer. Se a abstenção é imposta por lei, não importa obrigação de não fazer. Só há obrigação de não fazer se a conduta fosse lícita à parte. Ex.: Um vizinho que assume a obrigação de não levantar o muro acima de um determinado limite. Outra obrigação de não fazer, é a obrigação de confidencialidade, de não dar informações. 
Obs.: Discute-se se a Obrigação de Não Fazer pode ser ou não indivisível. Ela pode ser sim, indivisível, quando corresponde a diferentes comportamentos de abstenções. 
O Art. 251 permite autotutela nas obrigações de não fazer. E o que seria isso? É a possibilidade do credor de se auto tutelar, garantindo a abstenção. Ex.: Se o vizinho passa da altura que nós combinamos, e eu derrubo o muro, eu estarei me auto tutelando. Mas uma observação: a autotutela deve está dentro uma razoabilidade. Civilmente, toda vez que alguém se excede do limite da razoabilidade, irá responder por Abuso de Direito. Quando o credor, pratica a auto defesa com abuso, responde objetivamente.
Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos.
Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido.
Obrigações de Fazer
A Obrigação de Fazer corresponde a uma atividade a ser realizada pelo devedor. Portanto, ela é conduta positiva, preparar e entregar algo. Ex.: Um alfaiate que assumiu a obrigação de entregar um terno. As obrigações de fazer, portanto, as condutas humanas, podem ser Fungíveis ou Não Fungíveis, a depender do seu grau de realização intuito personae/personalíssimo (em razão de pessoa). Um pintor que assume a obrigação de pintar uma parede é uma obrigação fungível, podendo ser feita por qualquer um, enquanto um pintor que assume a obrigação de pintar um quadro é infungível, pois é uma obrigação personalíssima, podendo ser feita apenas pelo próprio pintor.
Esta classificação, na década de 90 do século passado, foi muito importante, pois se dizia que as obrigações de fazer infungíveis comportariam tutela específica e perdas e danos, e se a obrigação era Fungível, comportaria apenas as perdas e danos. No Código Civil de 2002, essa questão caiu, pois para o Codex, seguindo linha do STJ, tanto as obrigações fungíveis como as infungíveis comportariam tutela específica ou perdas e danos. 
Uma obrigação de fazer é descumprida/inadimplida quando há um “não fazer”. Pode perecer sem culpa, caso aquela conduta se torne proibida na forma de lei. Fora disso, se a conduta me é possível e eu não a pratico, ocorreu o inadimplemento.
Descumprindo a obrigação de fazer, o credor optará entre Perdas e Danos e Tutela Específica. Assim como nas Obrigações de Não Fazer, o Ordenamento Jurídico permite o credor a se autotutelar numa obrigação de fazer (Art. 249 do Código Civil). Aqui então, essa autotutela nada mais é do que um ganho de velocidade/celeridade. Ex.: Eu contrato alguém para pintar a parede e ele não aparece para pintar. Então eu vou atrás de outro pintor, que faz o serviço e, ao invés de discutir com o outro pintor o cumprimento da obrigação, ele irá discutir a cobrança desse prejuízo. 
Se o (a) credor pratica a autotutela, ele pede uma atividade de execução (não há necessidade de citação ou de conhecimento) limitada ao valor da obrigação assumida, enquanto caso o (b) credor deva decidir entre tutela específica ou perdas e danos, o mesmo pede uma atividade de conhecimento, podendo possuir um valor acima da obrigação assumida.
Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível.
Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido.
 Logo, a autotutela serve para assegurar ao credor maior efetividade no asseguramento do seu interesse.
OBS: O limite do Jus Variandi é a escolha. Logo, o credor não pode fazer a autotutela ou execução do Poder Judiciário. A autotutela não se dá em obrigações de dar dinheiro. Em linha de princípio, a autotutela só alcança as obrigações fungíveis.
Obrigações de Dar
Durante a década jurídica de 70 e 80, havia uma controversão entre a obrigação de dar e de fazer. (...)
Na obrigação de dar, o devedor entrega algo que já está pronto, portanto, o ponto alto da obrigação de dar é a tradição/ a entrega. Na obrigação de fazer, o cerne é a elaboração, o preparo para a entrega. 
Não cabe autotutela nas obrigações de dar, tendo como única possibilidade o Poder Judiciário, havendo hoje em dia tanto a tutela específica como perdas e danos em caso de inadimplemento.
 Um exemplo é a costureira que assume a obrigaçãode fazer e entregar um vestido, enquanto a vendedora de loja tem a obrigação de apenas dar o vestido. Uma construtora, ao vender a planta de um edifício, tem a obrigação de fazer. 
Obs.: No Brasil, o cumprimento de uma obrigação não é, por si só, suficiente para a aquisição de uma propriedade, isso porque, em relação aos bens imóveis, além da entrega da coisa (tradição), exige-se o registro no cartório de imóveis. Já nos bens móveis (livros, roupas, etc), a tradição da coisa/obrigação de dar, consiste na aquisição da propriedade. O registro dos bens móveis, quando exigido, é meramente administrativo (serve para o controle do poder público).
As obrigações de dar se subdividem em:
(i) Obrigação de Dar Coisa Certa é quando existe uma perfeita individualização da coisa, ou seja, o devedor sabe e conhece aquilo que deve entregar, tendo absoluta convicção, pois o objeto está completamente individualizado. Um exemplo é quando A assume a obrigação de vender para B o seu apartamento ou um carro X com suas informações especificadas. Aplica-se nessas obrigações o (a) Princípio da Identidade Física da Prestação do Artigo 313, ou seja, o credor não é obrigado a aceitar coisa adversa ainda que de maior valor, assim como o devedor não é compelido a entregar coisa distinta, ainda de que menor valor. 
 Se o (b) credor aceitar do devedor coisa adversa, há o cumprimento indireto através de Dação Em Pagamento, extinguindo-se a obrigação. 
 Caso o (c) credor obrigue o devedor em uma obrigação de dar coisa certa a entregar algo adverso, o devedor não se obriga a isto, podendo entrar com a Ação De Consignação Em Pagamento para entregar a prestação originariamente assumida. 
 A (d) Consignação Em Pagamento ocorre quando há dúvida sobre quem é o credor e quando há dúvida sobre a prestação. Nesta ação, figura em polo ativo o devedor e no polo passivo o credor (ou credores), cabendo ao juiz decidir se a obrigação está quitada ou não, havendo a quitação e cumprimento da obrigação de forma indireta. 
OBS: A Ação de Consignação de Pagamento de dar dinheiro pode ser realizada tanto pelo Poder Judiciário quanto pelo Banco.
 Na obrigação de dar coisa certa, presume-se que a prestação abrange os acessórios (frutos, produtos, rendimentos, benfeitorias e acessão). O perecimento, no ponto de vista da obrigação de dar coisa certa, segue a máxima “Res Perit Domino”/A coisa perece para o dono. Logo, todos os riscos quanto à perda serão imputados ao alienante da coisa no momento (antes da entrega da coisa, o devedor responderá pelo perecimento, enquanto caso haja perecimento culposo após a entrega da coisa, o credor não poderá responsabilizar o devedor por fatos posteriores á tradição, com exceção dos casos de vício redibitório e evicção). 
Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.
Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos.
Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu.
Art. 236. Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos.
Art. 237. Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação.
Parágrafo único. Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes.
Art. 238. Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda.
Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos.
Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239.
Art. 241. Se, no caso do art. 238, sobrevier melhoramento ou acréscimo à coisa, sem despesa ou trabalho do devedor, lucrará o credor, desobrigado de indenização.
Art. 242. Se para o melhoramento, ou aumento, empregou o devedor trabalho ou dispêndio, o caso se regulará pelas normas deste Código atinentes às benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de má-fé.
Parágrafo único. Quanto aos frutos percebidos, observar-se-á, do mesmo modo, o disposto neste Código, acerca do possuidor de boa-fé ou de má-fé.
OBS: Obrigação de Restituir (dar de volta) é uma obrigação de devolução. Tanto na locação quanto no comodato haverá uma obrigação de restituir. Na obrigação de restituir o Res Perit Domino é invertido, ou seja, o proprietário da coisa não é o devedor (quem entrega), mas sim o credor (quem recebe). As Obrigações de Guardar é uma obrigação de guardar/depositar e depois de restituir. É um caso responsabilidade objetiva (caso um manobrista assuma a obrigação de guardar.
 (ii) Obrigação de Dar Coisa Incerta é quando há uma dívida de gênero, que significa uma dívida incerta. Sabe-se a quantidade e qualidade, mas não sabe qual é a coisa individualizadamente. 
Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.
 Um exemplo é quando A assume entregar um carro para B, pois não há a especificação do tipo do carro. Haverá, portanto, uma indeterminação transitória do objeto, tendo um momento de escolha, que é a Concentração do Débito. Nesse momento, a escolha cabe a quem estiver previsto no contrato e, no silêncio das partes, cabe ao devedor, invertendo-se a escolha no prazo de 10 dias. A partir do momento da escolha, a mesma se torna uma obrigação certa. 
Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor.
Art. 245. Cientificado da escolha o credor, vigorará o disposto na Seção antecedente.
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 Nas obrigações de dar coisa incerta, quem escolhe não possui escolha livre, com o intuito de evitar o abuso de direito (critério objetivo), devendo se fazer pelo padrão médio. Enquanto não houver escolha, as obrigações de dar coisa incerta não perecem (Genus Not Perit/Gênero Não Perece), ou seja, antes da escolha é irrelevante a constatação de culpa ou não do devedor. Após a escolha, segue-se as regras da obrigação de dar coisa certa. 
Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito
TEORIA DO PAGAMENTO/ADIMPLEMENTO 
Pagamento é o cumprimento voluntário e integral da obrigação, que resulta na extinção do vínculo. Ou seja, o pagamento pode se dar por obrigações de dar, fazer e não fazer, não sendo restrito à obrigação de dar dinheiro. 
 Por isso, é melhor chamar o pagamento de adimplemento. Portanto, é necessário a espontaneidade (execução judicial não é pagamento), licitude e exatidão. Todo pagamento é direto (ou seja, dação em pagamento e ação de consignação não são pagamento).
 Karl Larenz diz que o pagamento tem natureza de execução real, ou seja, o adimplemento não é um negócio jurídico, mas um ato real de extinção do débito que libera o devedor e converte em realidade a prestação devida. 
 Se o credor cobrar uma dívida já paga, o mesmo é obrigado a devolver em dobro, conforme os Artigos 939 e 940 do CC. Para o STJ, o limite para apresentação da prova de pagamento é o momento da sentença. Ou seja, caso o devedor apresente prova que pagou após a sentença, ele terá que efetuar o pagamento, mesmo tendosido cobrado duas vezes pelo credor.
Art. 939. O credor que demandar o devedor antes de vencida a dívida, fora dos casos em que a lei o permita, ficará obrigado a esperar o tempo que faltava para o vencimento, a descontar os juros correspondentes, embora estipulados, e a pagar as custas em dobro.
Art. 940. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se houver prescrição.
SUJEITOS DO PAGAMENTO
Os sujeitos do pagamento se dividem em quem deve pagar e a quem se deve pagar.
-Quem Deve Pagar: Do latim, “Solvens” significa quem deve pagar/solvente. Quem deve pagar, ordinariamente é o (i) devedor, responsável pela efetuação do pagamento. Além do devedor, que é, originariamente o “Solvens”, outras pessoas também podem realizar o pagamento, como os terceiros, que se dividem em terceiro interessado ou desinteressado. 
Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor.
 Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste.
(ii) Terceiro Interessado é aquele que tem interesse jurídico no pagamento, porque ele pode ser atingido com os efeitos do inadimplemento, tendo como exemplo o fiador e o sublocatário. O credor nunca pode recusar o pagamento de um terceiro interessado, sendo obrigado a receber o pagamento nos termos da Identidade Física da Prestação. Se o pagamento é realizado por terceiro interessado, haverá o chamado (a) Direito de Regresso (direito material) ou Ação de Regresso (direito processual), cujo efeito é a sub-rogação e, uma vez sub-rogado o crédito, o terceiro interessado passa a ser credor do devedor em lugar do credor original. Logo, o terceiro passa a titularizar a dívida do credor original, herdando também todos os direitos. O terceiro interessado pode herdar títulos de crédito como cheques e notas promissórias permitem a execução direta, sem precisar passar pela ação cognitiva. Ou seja, o pagamento por terceiro interessado gera sub-rogação com direito de regresso.
(iii) Terceiro Desinteressado é aquele que não pode ser atingido pelo inadimplemento pois, eventualmente, o inadimplemento não o atinge. Nesse caso, o terceiro não interessado paga por uma obrigação moral, tendo como exemplo os pais, irmãos e familiares, por exemplo. O credor também não pode recusar pagamento de terceiro não interessado, sendo obrigado a receber o pagamento nos termos da Identidade Física da Prestação. Se o pagamento é realizado pelo terceiro não interessado, não importará em direito de regresso. Isto porque o terceiro não interessado terá apenas o direito de reembolso ou ação de reembolso e não o de regresso. O (a) Direito De Reembolso ou Ação de Reembolso depende da prova do proveito gerado ao devedor. Não há sub-rogação, ou seja, o terceiro não interessado deve provar a vantagem propiciada ao devedor, podendo assim exigir seu direito, sendo necessária uma ação de conhecimento para que haja a execução. 
Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor. 
Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento.
OBS: Se o terceiro não interessado paga em nome do devedor, não haverá direito de reembolso, pois foi uma doação/liberalidade. Pagamento feito pelo representante não é pagamento feito pelo terceiro, sendo o pagamento feito pelo devedor.
 O credor não pode ser compelido a receber, mas terá o direito de objetar as exceções pessoais que lhe caibam. Ou seja, tudo o que o credor puder exigir do devedor, ele poderá exigir do terceiro interessado ou desinteressado. Ao terceiro interessado e desinteressado o devedor pode opor todas as exceções que poderia opor ao credor em caso de dívida prescrita ou de compensação (um devedor original devia 100 para A, que devia 30 para o devedor. B é fiador do devedor e quita sua dívida, havendo a Ação de Regresso, se tornando credor do devedor. Entretanto, o devedor pode passar a exigir de B também os 30).
Art. 306. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação.
Art. 307. Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito por quem possa alienar o objeto em que ele consistiu.
Parágrafo único. Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor que, de boa-fé, a recebeu e consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la.
-A Quem Se Paga: Do latim, “Accipiens” é o nome da pessoa que vai receber em pagamento, ou seja, é a quem se paga. Logo, o accipiens será ordinariamente o credor. Porém pode ser também credor o seu representante legal, convencional (Artigo 308, CC) ou tácito (aquele que se apresenta ao devedor com título de crédito dado pelo representado, Artigo 311, CC). 
Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.
Art. 311. Considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante.
 (i) Pagamento Feito Ao Credor Putativo é o pagamento feito ao terceiro (Artigo 309, CC) que tinha aparência de credor. Para que o mesmo seja válido, é necessária a prova de aparência de credor e de boa-fé. Logo, o pagamento feito pelo devedor ao terceiro de boa-fé é válido e eficaz, exonerando o devedor da obrigação, havendo o direito de regresso, onde o credor originário passa a se tornar credor do credor putativo. 
Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor.
 O pagamento que é feito pelo devedor ao cedente do crédito e não ao cessionário em uma cessão de crédito, sendo que o devedor não foi notificado (a notificação é uma requisito de eficácia da cessão de crédito) é um exemplo de pagamento ao credor putativo. (ii) Aparência é quando se juridiciza algo que não era jurídico em nome da boa-fé. Um exemplo disso é justamente o pagamento feito ao credor putativo.
OBS: Numa cessão de crédito, caso o devedor seja notificado e acabe pagando ao cedente e não ao cessionário, não houve eficácia no pagamento, devendo o devedor efetuar novamente o pagamento ao cessionário. 
Art. 310. Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício dele efetivamente reverteu.
Art. 312. Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor.
OBJETO DO PAGAMENTO
O objeto do pagamento é a prestação devida, que pode ser de dar, fazer ou de não fazer, seguindo o Princípio da Identidade Física do Artigo 313. 
Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa.
-Moratória Legal: O NCPC, em seu Artigo 916, comporta uma exceção ao Princípio da Identidade Física da Prestação, estabelecendo que na execução de título de crédito extrajudicial (cheques, notas promissórias, hipoteca, aval e afins que não sejam originadas por decisão judicial) seja admitida a Moratória Legal, ou seja, o credor pode ser obrigado a receber inicialmente 30% do pagamento e o restante em parcelas de até seis vezes acrescidas de reajuste monetário e correção de juros de 1% ao mês.
NCPC Art. 916.  No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do exequente e comprovando o depósito de trinta por cento do valorem execução, acrescido de custas e de honorários de advogado, o executado poderá requerer que lhe seja permitido pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de correção monetária e de juros de um por cento ao mês.
OBS: O Artigo 475 do CC estabelece que mesmo se a obrigação for descumprida minimamente, o credor terá o direito de extinguir o contrato. O STJ, no julgamento do REsp 272.739/MG, implementou a Teoria do “Substantial Performance” ou Adimplemento Substancial/Inadimplemento Mínimo significa que haverá apenas a execução das parcelas, mas não a resolução do contrato. Entretanto, não caberá Substancial Performance em casos de alienação fiduciária (contrato pelo qual é transferido ao credor a propriedade do que é seu como garantia de débito. Um exemplo é quando um banco compra um carro para o indivíduo na concessionária, onde até que o indivíduo pague ao banco o valor do carro, o mesmo será propriedade do banco mesmo sendo usado pelo indivíduo). 
Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos. 
 As duas modalidades mais comuns do objeto são pagamento em dinheiro e pagamento em moeda estrangeira.
-Pagamento em Dinheiro: O Artigo 315 consagra o Princípio do Nominalismo, ou seja, toda dívida em dinheiro deve ser paga em seu valor nominal, trazendo implicitamente a correção monetária. Isto faz com que toda dívida deva ser quitada pelo seu valor nominal. 
Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subseqüentes.
 Os juros não estão explícitos no Princípio do Nominalismo, dependendo de expressa disposição das partes ou da atividade exercida (atividade bancária, por exemplo), tendo como teto máximo de % de juros o que for estipulado no contrato, não havendo limites para a % de juros. Entretanto, o juiz pode controlar a abusividade dos juros onde, de acordo com o Artigo 406 do CC, podendo utilizar a Taxa SELIC (não pode o juiz cumular a correção monetária, pois a mesma já inclui a correção monetária, pois representaria Bis In Idem) ou a Taxa prevista no Artigo 161 do CTN, além de estabelecer de acordo com sua vontade.
Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.
CTN Art. 161. O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária.
§ 1º Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de um por cento ao mês.
OBS: No Brasil é vedado a cobrança do anatocismo, ou seja, do juros sobre juros/juros compostos (pagamento em parcelas com juros sobre as parcelas, por exemplo), salvo os empréstimos feitos pelos bancos. 
OBS: A Lei 13455/17 autorizou que todo e qualquer contrato de compra e venda pode estabelecer valores diferenciados para o prazo de pagamento (parcelas) e agora também formas de pagamento (crédito, espécie, etc).
-Pagamento em Moeda Estrangeira: O Artigo 318 do Codex proíbe, sob pena de nulidade, pagamento feito em ouro ou em moeda estrangeira. 
Art. 318. São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial.
 Entretanto, no Brasil, são encontradas 3 exceções, admitindo em caráter excepcional, o pagamento em moeda estrangeira. O Decreto Lei 857/69 prevê duas exceções, que são quando há: (i) Dívida Assumida no Exterior, com o valor equivalente ao do dia do pagamento e (ii) Dívida Oriunda de Importação. O STJ prevê a terceira exceção que é no caso de (iii)Qualquer Contrato Sem Ser De Consumo ou de Adesão (Doutrina de Cristiano Chaves), cuja cláusula contratual que prevê pagamento em moeda estrangeira é válida desde que haja conversão em reais na data do pagamento. Caso não haja a conversão, ocorrerá dação em pagamento e não o pagamento, pois houve cumprimento indireto. 
 O pagamento deve ser feito no lugar ajustado pelas partes (327-330, CC), sendo priorizado o lugar do devedor caso haja silencio das partes. O cumprimento da obrigação em local diverso não extingue o vínculo.
Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias.
Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles.
Art. 328. Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem.
Art. 329. Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor.
Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato.
OBS: O Artigo 330 estabelece que se o pagamento estiver sido estipulado em determinado local, mas o credor reiteradamente aceitou o pagamento em outro lugar, haverá a presunção de que o local previsto no contrato foi renunciado.
OBS: Local de Pagamento não se confunde com Foro de Eleição. Foro de Eleição é a escolha de um lugar onde serão ajuizadas para discutir eventuais problemas de um contrato. Logo, o local de pagamento não será necessariamente o mesmo do Foro de Eleição. Foro de Eleição em contrato de adesão prejudicial ao aderente é nulo.

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