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Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio DIREITO EMPRESARIAL II SOCIEDADES ANÔNIMAS (Lei 6404/76) NOÇÕES GERAIS 1) Características O artigo 1º da Lei das SAS determina suas características. Ela é uma sociedade personificada, empresária, que dissocia a figura do acionista do administrador, possuindo o capital social dividido em ações, com limitação da responsabilidade dos acionistas ao preço de subscrição das ações e estrutura complexa. Cabe, então, analisar mais detalhadamente cada uma dessas características. a) Personificada: possui personalidade jurídica, permitindo a definição de um patrimônio específico. Possibilita, também, que a sociedade possa perdurar independentemente de seus sócios. b) Empresária: uma sociedade anônima é sempre empresária, independentemente de seu objeto social. É um exemplo, aqui, a atividade rural: se for uma sociedade anônima que a explora, ela é empresária automaticamente. c) Dissocia a figura do acionista e do administrador: o acionista normalmente não é quem administra a sociedade. d) Capital Social dividido em ações: o capital social é dividido em títulos negociáveis. Essas ações representam um complexo de direitos em relação à empresa e circulam livremente. e) Limitação da responsabilidade: os acionistas respondem limitadamente, somente por aquilo que se comprometeram a subscrever. f) Estrutura complexa: possui órgãos típicos com funções inconfundíveis, como a Assembleia Geral, a Diretoria, o Conselho de Administração e o Conselho Fiscal. 2) Importância A sociedade anônima viabiliza a criação de grandes corporações – o que não impossibilita que uma AS seja uma pequena empresa. Ela representa grande oportunidade tanto para os acionistas quanto para as companhias. É, para os acionistas, um investimento com liquidez e com risco limitado. É um investimento, pois é possível tanto o lucro com participação, quando pela valorização das ações. Já a liquidez diz respeito à capacidade de negociar facilmente os títulos. Já para as companhias, serve como meio de captação de recursos e maior garantia de perenidade. A captação de recursos permite que a sociedade anônima recorra à poupança popular, enquanto a perenidade é garantida, pois o sucesso da empresa independe da identidade dos acionistas, que se renovam com o tempo. 3) Fenômeno Complexo Uma sociedade anônima pode ser considerada um fenômeno complexo por envolver múltiplos interesses, tornando-se um cenário conflituoso. Existem divergências entre minoritários e controladores, além de empregados, consumidores, outras empresas e a própria sociedade. Nesse contexto, cabe a análise das teorias contratualistas e institucionalistas. Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio a) Contratualista: Acredita que o interesse da sociedade é o interesse do sócio. A sociedade, então, visa o lucro e a realização do objeto social. b) Institucionalista: Vê o impacto da sociedade na comunidade, preocupando-se com o interesse social. Envolve, então, além dos sócios, trabalhadores, consumidores e o próprio Estado. c) Lei Brasileira: Nos artigos 116, 154 e 238 da Lei das SAs percebe-se uma clara adoção da corrente Institucionalista. Adota, então, uma corrente que visa o impacto social e busca efetivar uma função social. 4) Sociedade Anônima no Mundo Houve, ao redor do mundo, uma padronização das características da Sociedade Anônima. O que muda, portanto, é a nomenclatura utilizada, que busca ressaltar pontos específicos. a) Sociedade Anônima: é mais utilizada nos países latinos, destacando o fato de que os sócios permanecem anônimos, utilizando-se a denominação social. b) Sociedade por Ações: utilizada na Alemanha e na Itália. Destaca a divisão do capital social. c) Limited Company: Destaca a limitação da responsabilidade ao preço de subscrição. Essa nomenclatura, porém, pode causar confusão no Brasil (em função das limitadas). d) Corporation: Mais utilizada nos EUA. Destaca a personalidade jurídica da sociedade, que ganha um “corpo”. HISTÓRIA DAS SOCIEDADES ANÔNIMAS 1) Antecedentes Históricos Há divergência na doutrina sobre quando surgiu, de fato, a primeira Sociedade Anônima. É possível, porém, encontrar uma série de precedentes que encaminham seu surgimento e evolução. Os primeiros precedentes já eram encontrados em Roma, onde havia uma associação de pessoas com perfil impessoal. Essas pessoas realizavam empréstimos ao Estado e ganhavam o direito de cobrar tributos, participando das associações chamadas “Maone”. Isso deu origem ao Banco de San Giorgio, em Gênova, que alguns consideram a primeira SA. Já na Holanda existiam as chamadas “Rhederin”, associações para armação de navios que cediam ações àqueles que investissem. Foi nesse país que houve, também, o surgimento da primeira bolsa de valores. Outro precedente que pode ser destacado são as associações eclesiásticas medievais, que eram entes impessoais. Isso significa que cada associação era desvinculada de seus membros, que se sucediam sem alterar seu funcionamento. Por fim, o grande marco das Sociedades Anônimas ocorre, novamente, na Holanda. A partir da fusão de 8 Rhederin é criada a Companhia das Índias Orientais, que tinha seu capital dividido em ações. Ela foi fundada em 1602 e precedeu muitas outras com a mesma estrutura. 2) Fases das Sociedades Anônimas A evolução das sociedades anônimas pode ser dividida em três grandes fases: a fase do privilégio, a fase da autorização administrativa e a fase da liberdade plena. Importante dizer a evolução foi gradual e Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio que ainda encontramos resquícios de todos os tipos – a exemplo da necessidade de autorização para determinadas atividades, ou da sociedade de economia mista, que exige concessão estatal. Cabe analisar um pouco mais a fundo cada uma das fases: a) Fase do Privilégio: Nesse período a constituição da sociedade anônima se dava através do Estado, para que exercesse funções públicas. Essa constituição devia ser deferida pelo poder público, sendo, portanto, uma opção arbitrária do Estado. Havia, portanto, um vasto monopólio, uma vez que as SAs se mantinham vinculadas ao poder soberano. É exemplo desse período o próprio Banco do Brasil. b) Fase da Autorização Administrativa: Essa fase se inicia após a Revolução Francesa, quando foi proclamada a liberdade de associação. Houve, então, uma limitação para evitar abusos: a constituição de uma sociedade era condicionada a uma autorização governamental. Essa autorização era concedida diante da regularidade da sociedade. Esse regime chega ao Brasil em 1849. c) Fase da Liberdade Plena: Esse regime surgiu na França em 1867, também chamado de “Regime das Disposições Normativas”. A preocupação do Estado nessa fase não é mais em autorizar uma SA, mas sim em estruturá-la. A constituição da sociedade depende, então, do cumprimento a regras específicas. 3) Legislação das Sociedades Anônimas Em 1891, o decreto 494 consolida a legislação em vigor. Houveram algumas atualizações e outros decretos, mas somente em 1976, com a Lei das SAs, que está em vigor até hoje, que o regime foi realmente discutido. A lei 6404/76 trouxe diversas novidades para a regulamentação empresarial das sociedades anônimas, sendo pensada para a atual realidade do nosso país. Essa lei permite a dissociação do administrador e do acionista, regulou ospoderes dos acionistas controladores e minoritários, dentre outras noções básicas. LEI DAS SOCIEDADES ANÔNIMAS – 6404/76 1) Objeto Social O objeto social (a atividade a ser explorada) da sociedade anônima é determinado pelo Artigo 2º. Ele deve, como em todas as outras sociedades, ser lícito, possível e determinado. É aplicada, portanto, a regra geral. Existem as restrições clássicas que exigem autorização do Estado, a exemplo das instituições financeiras e companhias aéreas. O objeto social serve como guia para a sociedade: os administradores não podem fugir da atividade indicada no estatuto. A legislação prevê, inclusive, que a sociedade não responde por atos fora do objeto social – o que podemos considerar como um grande retrocesso. A alteração do objeto social depende de deliberação especial na Assembleia da SA. É interessante tratar das Holdings: elas, mesmo que não sejam a atividade prevista especificamente no estatuto, podem ser realizadas. Isso desde que contribuam para a realização do verdadeiro objeto social. 2) Nome O nome das Sociedades Anônimas é sempre uma denominação social. Isso porque os sócios são anônimos, de modo que seu nome não possa ser utilizado. Importante, porém, abordar uma exceção: o Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio nome da Companhia pode conter o nome de pessoas que concorreram para o sucesso da mesma. Além disso, a expressão SA ou Companhia (no início) deve estar inclusa. Em relação ao objeto social, há um conflito na legislação. O Código Civil diz que é necessária a indicação do objeto no nome, enquanto a Lei específica das Sociedades Anônimas nada diz a respeito. ESPÉCIES DE SOCIEDADE ANÔNIMA 1) Companhia Aberta X Fechada A sociedade anônima pode ser aberta ou fechada. O critério para diferenciar uma da outra é meramente formal: a aberta é a que possui valores mobiliários em negociação no mercado de capitais, com autorização da CVM. Já a fechada não pode realizar essas operações. Isso não significa, porém, que uma companhia aberta negocie, de fato, os valores mobiliários. Basta que tenha a autorização para ser considerada aberta. 2) Valores Mobiliários O conceito de valor mobiliário não é específico. Inicialmente, o rol da legislação era taxativo, mas com o acréscimo do inciso IX, tornou-se exemplificativo. Esse inciso determina que é valor mobiliário aquilo que “é ofertado publicamente, gerando direito de participação, parceria ou remuneração, cujos rendimentos advem do esforço do empreendedor ou de terceiros”. Através desse inciso puderam ser englobados outros fenômenos, que não somente as ações, debêntures, bônus – e outros citados no Art 2º da Lei 6385. Em resumo, são contratos de investimento coletivo que exigem registro na CVM. Valor mobiliário é “um termo geral que não inclui apenas os valores mobiliários tradicionais, mas também uma variedade de participações que envolvem um investimento com um retorno primariamente dependente do esforço de outra pessoa que não investidor”. 3) Mercado de Capitais O mercado de capitais é o meio onde ocorre a compra, venda e subscrição de valores mobiliários. É, portanto, o ambiente utilizado para captação de recursos. Ele é o conjunto de instituições e de instrumentos que possibilita a realização da transferência de recursos entre investidores e a companhia. Também conhecido como Mercado de Valores Mobiliários, ele é uma alternativa ao Mercado Financeiro, permitindo a captação da poupança popular. Ele tem liquidez, com compradores e vendedores interessados. Para participar desse mercado é necessário ser uma Companhia Aberta com autorização da CVM. O Conselho Monetário Nacional – órgão normativo e recursal – controla duas autarquias: o BACEN (Banco Central) e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários). O primeiro fiscaliza instituições financeiras e o segundo as sociedades. O funcionamento desse mercado se divide em dois ramos: o mercado primário e o secundário. O mercado primário é o de “cash in”. É nele que há a subscrição de novos valores mobiliários, de modo que o dinheiro arrecadado vai para a companhia. Já no mercado secundário ocorre a compra e venda de ações por terceiros que não a companhia. O dinheiro vai, então, para os ex-acionistas que revendem as ações, ocorrendo o chamado “cash out”. Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio Importante ressaltar que esse mercado é uma condição de existência do primário, uma vez que o investidor recebe a garantia de que poderá revender suas ações quando desejar. 4) Bolsa de Valores A bolsa de valores é um dos componentes do mercado de capitais, junto ao Mercado de Balcão. No Brasil a BOVESPA é a PJ (no caso, uma AS) que controla a maior das 9 bolsas no país – a Bolsa de São Paulo. É interessante ressaltar que a bolsa de valores possui autorregulamentação e fiscalização. Ela funciona a partir de um sistema centralizado e multilateral, que realiza o cruzamento daqueles que tem interesse em comprar e vender. Para ingressas na bolsa é necessária uma “conta” em corretora de ações. A bolsa funciona como um mercado anônimo e, atualmente, eletrônico. Por ser anônima, a bolsa se tornaria um ambiente propenso à fraudes. Por esse motivo, existe uma garantia: a Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia faz a liquidação das ações e depois executa o devedor, caso necessário. CONSTITUIÇÃO DAS SOCIEDADES ANÔNIMAS 1) Requisitos Existem requisitos mínimos para a constituição de uma sociedade. São eles a pluripessoalidade, a subscrição de todo o capital social, a integralização inicial e o depósito. É importante compreender cada um desses requisitos. a) Pluripessoalidade: a subscrição deve ser feita por pelo menos dois acionistas. Existem casos de unipessoalidade superveniente, mas a legislação estabelece prazo para que se reestabeleça a pluripessoalidade. A única grande exceção é a subsidiária integral, que permite a unipessoalidade originária: uma sociedade é única acionista de uma SA. b) Subscrição de todo o capital social: Isso significa que devem haver acionistas que se comprometam em pagar o capital social. c) Integralização inicial: no direito societário em geral, não é necessária integralização “na hora”. A AS, poré, exige que seja integralizado no mínimo 10% - quando feito em dinheiro. Em casos de instituições financeiras, essa integralização é de 50% do preço de emissão. Existe, na prática, uma polêmica, pois a Junta exige 10% não do capital mas sim do aporte de cada acionista. d) Depósito: O valor integralizado deve ser depositado pelo fundador, com o nome do subscritor, em benefício da sociedade, num prazo de 5 dias após receber o valor. O depósito, então, é feito antes da SA existir de fato. Se a AS não for constituída em 6 meses, o dinheiro é devolvido. 2) Formas de Constituição Uma sociedade anônima pode ser constituída através de subscrição pública ou particular de ações. A subscrição, conforme já indicado, é o compromisso de pagamento. A subscrição particular é a mais comum. É também chama de constituição simultânea, pois o ato constitutivo é formado pelos presentes sem exigir maiores formalidades. Normalmente as sociedades nascem fechadas e, depois, se abrem para o mercado de capitais. A constituição por subscrição particular pode ser em Assembleia Geral ou Escritura Pública. Já a subscrição pública é mais complexa, exigindo uma série de atos, e por isso é tamém chamada de Constituição sucessiva. É aquela em que as ações são emitidas antes mesmo da Prof. Spinelli2016/2 Helena Fabricio existência da SA a fim de angariar fundos para sua constituição. Esse tipo é mais regrado e exige autorização da CVM. Deve ser apresentado à CVM um estudo de viabilidade econômica, o projeto do estatuto e o prospecto. Além disso, é necessária uma instituição financeira intermediária, que realize o chamado “underwriting”. Após todo esse processo, é obrigatória a convocação de Assembleia Geral para a Constituição. *Underwriting: tem 3 tipos básicos – firme ou total, residual ou parcial e de melhor esforço. No primeiro tipo a instituição subscreve todos os títulos para depois negociá-los; no segundo ela se compromete em subscrever o que sobrar; e a última (e mais comum) é aquela em que ela se compromete em prestar o serviço da melhor forma possível, sem garantias. 3) A constituição propriamente dita A efetiva constituição da Sociedade pode ser por Assembleia Geral (subscrição pública e particular) ou por Escritura Pública (somente para ubscrição particular). A primeira é a mais comum. Na Assembleia Geral, após a total subscrição, o fundador convoca os subscritores através de anúncio público. Deve haver quorum de ½ do capital social e a constituição se dá, também, por ½ de “não oposição”. Existem algumas exceções, em que a Assembleia pode ser convocada para avaliar os bens subscritos, ou, ainda, para tratar da distribuição parcial – em que nem tudo foi subscrito, mas há um limite mínimo para constituição. Importante dizer, ainda, que na Constituição todas as ações votam (inclusive aquelas que não possuem tal direito). Já por escritura pública, meio possível somente para subcrição partiular, é menos usada, pois gera maior custo. Ela é, por lei, obrigatória para as subsidiárias integrais, mas na prática nem sempre se exige. 4) Providências Complementares Após a deliberação, deve ocorrer o arquivamento e a publicação dos atos constitutivos, além da transferência dos bens que foram subscritos. Os documentos necessários são entregues aos administradores que tem até 30 dias para arquivar na Junta Comercial. Vale lembrar que o ato constitutivo das SAS deve ser assinado por advogado. Após arquivamento, deve ser feita publicação no diário oficial. Sem isso, a companhia não pode funciona. Conforme o Art. 99, os administradores respondem pelos atos anteriores ao cumprimento das formalidades, salvo disposição em contrário. Além disso, os fundadores respondem solidariamente caso haja prejuízo a algum investidor. Cabe a Junta analisar somente a legalidade dos atos. A transferência dos bens é automática após o arquivamento do ato constitutivo na Junta. Por fim, caso a constituição seja anulada, a sociedade sera dissolvida. CAPITAL SOCIAL 1) Definição O capital social é o valor fixo, estipulado no estatuto, em moeda nacional que deve ser subscrito. É um valor estimado para que a companhia possa explorar sua atividade. Ele pode ser subscrito em dinheiro, bens ou direitos. Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio Na sociedade anônima, o capital social serve tanto como garantia indireta dos credores (uma cifra de retenção), como meio de realização do objeto social e como forma de medida de direito dos acionistas. No momento em que o capital é subscrito, existem regras que buscam garantir sua integralização. O acionista que não paga é chamado de remisso. Além disso, ele só pode ser modificado conforme previsto na lei. Importante diferenciar capital social de patrimônio. O patrimônio é o complexo de relações ativas, é mutável. Ele serve como garantia direta dos credores. O capital social é um passível inexigível: nem mesmo os acionistas podem cobrá-lo, só recebendo dividendos quando há lucro líquido (excedendo o capital social). As únicas exceções ocorrem quando há dissolução da sociedade, redução do capital ou reembolso. 2) Integralização A integralização é o efetivo pagamento, o aporte daquilo que foi subscrito. Podem ser aportados bens, e direitos passíveis de avaliação econômica. É expressamente proibido o aporte de serviços. Importante dizer que, conforme o Art 117, os bens aportados devem ter relação com o objeto social. Isso para que não perca seu valor, de modo que será sempre útil. Em relação ao aporte de serviços, estabeleceu-se uma prática para burlar a lei. Para isso, é realizado um tipo de cessão de crédito: a empresa faz um contrato com aquele que irá prestar o serviço, e então esse crédito é aportado. Normalmente esse contrato vem acompanhado de uma cláusula de lock-up para evitar que quem possui o “know-how” saia da empresa. Há, ainda, uma discussão sobre a possibilidade de aportar obrbigações. Essa controvérsia entra, por exemplo, em casos de aporte de estabelecimento: questiona-se se as obrigações vêm com ele. Por fim, extremamente importante destacar a regra para aporte em dinheiro. Nesse caso, é exigido 10% à vista. 3) Avaliação do aporte Tudo que for aportado na empresa deve ser avaliado. Inclusive o crédito é passível de avaliação, pois devem ser levados em conta fatores como juros, inflação, etc. Além disso, em casos de cessão de crédito, o cedente responde pela solvência – o que é uma exceção à regra geral. Essa avaliação deve ser realizada por três peritos ou empresa especializada e, posteriomente, aprovada na Assembleia. A grande tendência é avaliar para menos, a fim de evitar grande desvalorização. Vale ressaltar, ainda, que avaliadores e subscritores respondem por avaliação errônea. 4) Boletim de Subscrição É o documento que fixa os termos nos quais serão aportados os recursos. Além disso, a participação de cada sócio no aumento ou na redução do capital deve constar nele. Caso não seja fixado o termo do aporte, a administração interpela os subscritores. Esses subscritores tem um prazo de 30 dias para pagar, ou recae em mora ex re e se tornam remissos. Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio DIVISÃO DO CAPITAL SOCIAL EM AÇÕES 1) Ações As ações são frações do capital social. O número de ações é determinado no estatuto social e só pode ser alterado conforme a lei. Importante ressaltar que as ações são indivisíveis, mas isso não impede o chamado “desdobramento” nem o “agrupamento” de ações. As ações servem para conferir direito de participação na empresa. Geralmente, o valor das ações é igual, mas não há uma regra. Isso porque é possível que não seja fixado um valor nominal para a ação. 2) Natureza Jurídica As ações são, indubitavelmente, valores mobiliários. Elas não podem, porém, ser consideradas títulos de crédito, mas sim títulos de legitimação sem cartola que conferem direitos aos acionistas. São bens móveis e imateriais sobre os quais recaem direitos reais. Esses direitos reais podem ser o penhor, a alienação fiduciária, o usufruto e até mesmo o aluguel. Para que sejam oponíveis a terceiros, devem ser averbados no Livro de Registro de Ações Nominativas. 3) Valores referidos em lei Existem alguns critérios para determinar o valor de uma ação. Esse critério pode ser o valor nominal, patrimonial, de mercado ou o preço de emissão. Cabe analisar cada um deles. a) Valor nominal: é vinculado ao capital social, sendo, portanto, fixado no estatuto. Ele é, porém, opcional para as SAS. Existem vantagens e desvantagens em ter um valor nominal. A grande vantagem é que, por ter um preço mínimo, garante a participação dos sócios inviabilizando sua dissolução. Já a maior desvantagem decorre, também, do preço mínimo, já que acaba freiandoa aplicação, já que o valor da ação não pode ser reduzido mesmo em momentos de crise. Além disso, há a desvantagem de que o capital social não pode ser modificado sem alterar o valor nominal. b) Valor patrimonial: vinculado ao patrimônio. É a divisão do patrimônio pelo número de ações. c) Valor de mercado: está vinculado à bolsa, sendo determinado pela oferta e demanda. d) Preço de emissão: é o real valor da ação no mercado no momento da subcrição. Ele nunca pode ser menor que o nominal (caso este exista). Se excede o valor nominal a diferença (ágio) forma uma reserva de capital. CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES 1) Quanto à forma A forma da ação é vinculada ao seu modo de transferência. No Brasil, são sempre nominativas, dividindo-se em escriturais e registrais. Ser nominativa significa que a ação é um bem móvel imaterial e que sua transferência se dá por inscrição no livro. É o oposto da ação ao portador, que ainda existe em alguns paraísos fiscais. As registrais são aquelas em que o sujeito é acionista por ter seu nome no Livro de Ações Nominativas. Há, além disso, outro livro somente para transferências. Já a escritural é aquela em que o certificado é mantido em uma conta de depósito em uma Instituição autorizada pela CVM. Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio 2) Quanto à espécie A espécie é vinculada à extensão de direitos e vantagens dos acionistas. Se dividem em ordinárias, preferenciais e de fruição. Vale a pena analisar cada um dos tipos mais a fundo. a) Ordinárias: São aquelas que conferem direitos comuns. Não há restrição nem benefício. São identificadas pela sigla ON ou pelo final ‘3’. Essas são ações de emissão obrigatória e que dão direito ao voto. Elas são, portanto, para aqueles que tem interesse na gestão da sociedade. Ela pode possuir classes somente nas companhias fechadas. b) Preferenciais: são as que atribuem algum benefício, normalmente patrimonial, podendo haver restrição no direito ao voto. A vantagem é certa, mas a restrição é apenas uma possibilidade. A sigla utilizada é PN. Existe um limite para emissão de ações sem direito ao voto, que é de 50% do capital social – o que viabiliza que o controlador não seja o maior investidor. Se não possuírem o voto, adquirem esse direito quando não recebem seus dividendos, na Constituição da sociedade, na eleição do conselho, na liiquidação, em matérias que as afetem ou por disposição regulamentar. As vantagens podem ser econômicas (dividendo diferencial fixo, prioridade no recebimento) ou políticas (como o veto ou a eleição de administradores). Existe, ainda, no Brasil, a ação superpreferencial, típica de companhias aéreas (pois há exigência de controlador brasileiro) que conferem até 80x mais dividendos. c) De fruição: são ações integralmente amortizadas. A amortização ocorre quando se antecipa o que o acionista receberia em caso de liquidação. Então, as ações nunca nascem de fruição – elas se tornam. Essas ações não recebem juros sobre capital próprio, só concorrem ao líquido na liquidação após todos receberem e, em caso de recesso, há compensação com o que já recebeu. 3) Quanto à classe A classe especifica direitos dentro de espécies a fim de atrair investidores. Se dividem em A, B e C nas ordinárias e preferenciais. As classes ordinárias só são permitidas em companhias fechadas, enquanto as prefererenciais podem ser tanto em abertas quanto em fechadas. Importante ressaltar que não é possível mudar de classe: é necessário que se realize compra de novas ações. CIRCULAÇÃO DAS AÇÕES 1) Regra Geral A regra geral é a livre circulação de ações. Essa é uma característica própria das SAs. É imporante orque não se pode subjuga o acionista ao arbítrio dos demais, uma vez que a venda de ações é a principal forma de saída da sociedade. Apesar disso, existem possibilidades de restrição. 2) Direito de Recesso e Negociação Nas Sociedades Anônimas o direito de recesso deve ser motivado pela modificação da sociedade (no caso em que o acionista for dissidente – se opôr) ou por violação dos direitos do sócio. É por esse motivo que se diz que a negociação é a melhor e mais comum maneira de sair de uma sociedade. Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio Existe um grande problema, porém: na teoria, é fácil pensar em vender; a prática, porém, nem sempre é assim. Por exemplo, são poucas as pessoas que compram ações de companhias fechadas (que muitas vezes são familiares) para serem minoritários. Para resolver isso, o STF permitiu a chamada dissolução parcial: em companhias fechadas, onde ocorra a “quebra” do afectio societatis é possível uma dissolução parcial com reembolso ao acionista. 3) Transferência Já que não constam nomes no estatuto, a transferência deve ser feita mediante termo no livro de transferência – no caso das ações nominativas registrais. Já nas escriturais, basta o aporte eletrônico. 4) Restrições à livre circulação Nas companhias fechadas, pode ser determinado um acordo entre os acionistas a fim de restringir a circulação. Existem, ainda, possibilidades de restrição legislativa, que atingem, inclusive, as companhias abertas. Cabe analisar, então, as restrições mais especificamente. a) Restrições à sociedades abertas: a lei impõe necessidade de integralização de 30% do preço de emissão antes da liberação no mercado. b) Restrições às sociedades fechadas: ocorre mediante acordo de acionistas (a exemplo do próprio lock-up). Se posterior à Constituição, o acordo só recai sobre aqueles que aceitarem. c) Restrição à negociação com as próprias ações: é proibida a negociação com as próprias ações a fim de evitar redução simulada ou cotação artificial. São exceções os casos de resgate (que retira as ações do mercado de forma compulsória), reembolso (compra do acionista dissidente) e amortização. d) Restrições da CVM: Pode suspender a negociação de ações na bolsa para corrigir situações anormais. Cabe salientar, aqui, que o alienante que vende ações ainda subscritas (não integralizadas) responde solidariamente. OUTROS TÍTULOS 1) Debêntures São uma forma de captar recursos no mercado através de um empréstimo público. Quem adquire esses valores torna-se credor da sociedade. Existem algumas vantagens em ser debenturista, como o fato de poder ter cláusula própria de correção monetária, a participação nos lucros ou a conversibilidade da ação. Importante ressaltar que a própria companhia pode comprar seus debêntures, haveno extinção da dívida por confusão. Existem três espécies de debêntures: simples, conversível em ação e perpétua. A simples é aquela que tem direito de crédito, lucros e/ou participação. Já a conversível em ação pode, por opção do debenturista, virar uma ação, deixando o mesmo de receber o crédito. As perpétuas, por fim, são as que não possuem vencimento – ou seja, a companhia só precisa pagá-los em situações excepionais, como quando deixar de pagar os juros ou sofre dissolução. Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio Debêntures podem ter diferentes garantias. São elas a real, a flutuante, sem garantia ou subordinada. A com garantia real é aquela que possui um bem como garantia, a exemplo de uma hipoteca. Já a flutuante é aquela em que o debenturista possui privilégio geral, vindo antes somente dos credores quirografários. Os sem garantia são os credores quirografários. As subordinadas, por fim, são aquelas que estão abaixode todos os outros credores. Cabe, para compreender, analisar o Art 83 da Lei de Falências, que determina a ordem de recebimento dos credores. Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem: I - os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinqüenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho; II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado; III - créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas as multas tributárias; IV - créditos com privilégio especial. V - créditos com privilégio geral VI - créditos quirografários VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias; VIII - créditos subordinados. IX – sócios que são credores. Vale, ainda, dizer que, normalmente, o pagamento não chega até o fisco. A emissão de debêntures é, em regra, feita a partir de uma deliberação da Assembleia. Em exceção, pode ser decidida pelo Conselho de Administração. A emissão pode ser pública, nas SAS abertas com autorização da CVM, ou privada. Importante é, também, a figura do agente fiduciário. Ele é obrigatório nas emissões públicas. Esse agente representa a comunhão de debenturistas. É a companhia que escolhe esse agente, respeitando algumas regras. É bastante comum que bancos atuem como agentes fiduciários. Se forem pessoas físicas, devem ser idôneas e sem interesse na SA. Existe, por fim, a Assembleia de Debenturistas, que é um órgão de deliberação. Cada debênture possui um voto e há quorum mínimo. O agente fiduciário deve estar presente. Interessante ressaltar que os debenturistas podem ter posições privilegiadas, sendo capazes, muitas vezes, de barrar decisões. 2) Partes Beneficiárias São valores emitidos somente em companhiaas fechadas. São títulos negociáveis, sem valor nominal e estranhos ao capital social que conferem direito eventual de crédito vinculado aos lucros anuais. As partes beneficiárias são, normalmente, emitidas por companhias e associações a fim de garantir sua colaboração.0 Também servem como retribuição ou motivação aos empregados da empresa. Elas não podem ser eternas, com prazo máximo de 10 anos. A única exceção se aplica para associações beneficentes de empregados da empresa. Existe uma Assembleia Geral de Beneficiários, em que cada parte tem um voto e a companhia não pode votar. Pode ser feito, ainda, resgate dessas partes, ou conversão em ações (desde que haja reserva específica para tal). DIREITOS DOS ACIONISTAS 1) Quanto à titularidade Direitos de titularidade se dividem em individuais e de minoria. Os individuais são aqueles que pertencem a todo e qualquer acionista, como direitos essenciais. Já os direitos de minoria são aqueles Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio pertencentes aos acionistas com participação mínima, servindo como tutela aos minoritários e com caráter inderrogável. 2) Quanto à natureza Direitos se dividem, por sua natureza, em patrimoniais e políticos. Os patrimoniais são direitos econômicos, como o de receber lucro. Já os políticos são direitos de participação vinculados às deliberações da sociedade. 3) Direitos Individuais Se dividem em essenciais e não essenciais. Os essenciais são: a) Participar dos lucros: só não ocorre em casos de situação financeira incompatível. Não precisa ser igualitária a participação – e normalmente não é. b) Participar do acervo em caso de liquidação: após pagos os credores, divide-se o restante proporcionalmente. c) Fiscalização: o acionista pode fiscalizar a gestão da sociedade conforme a lei determinar. Isso porque o administrador normalmente não é o acionista. A maioria desses direitos de fiscalização, porém, exige participação mínima. Entra aqui o direito à informação. d) Preferência para subscrição: tantos de ações quanto de títulos conversíveis, a fim de evitar a dissolução dos acionistas. e) Recesso: como regra, deve ser motivado, normalmente quando o acionista é dissidente ou é modificada a estrutura da sociedade. O acionista que exerce recesso recebe reembolso. Sociedades fechadas podem ter dissolução parcial. f) Igualdade de tratamento: esses direitos existem para todos os acionistas. Já o grande direito não essencial é o de voto. Isso porque nem todo acionista pode votar. Esse direito é vinculado ao poder de controle e às ações orinárias. Apesar disso, vale dizer que todo acionista tem o direito à voz (se manifestar). Existem algumas restrições ao voto. Sociedades podem, por exemplo, limitar a quantidade de votos por acionista, mesmo que esse tenha um número superior de ações. A legislação também pode restringir. Importante dizer, ainda, que o voto deve ser no interesse da companhia, e não egoísta. Aqui voltamos à ideia institucionalista de interesse social. Por esse motivo, o sócio é responsabilizado por voto emulativo (danoso). Ele responde mesmo que não ganhe a votação. Ainda são direitos do acionista que ocorra a avaliação de bens, a aprovação de contas e o chamado benefício particular (que seria lícito). Esse benefício, porém, tem uma linha muito tênue com o conflito de interesses – que é ilícito. O conflito de interesses é um conceito indeterminado, que pode ser anulado se o acionista devolver o que ganhou. A CVM, porém, não diferencia o benefício particular do conflito de interesses. 4) Direitos de Minoria Ao longo da lei das SAs constam, de modo esparso, os chamados direitos de minoria. Alguns deles são atribuídos a qualquer acionista (como nos arts. 123, 124, 134, 159, 202, 206 e 246). Outros dispositivos falam de minoria sem especificar que minoria é esta (Art 239 e 277). Eventualmente, são Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio abordadas as preferenciais sem voto (art 161), ou à 0,5% do capital social (art. 126). Existe, ainda, a parte da lei que fala de 5% do capital votante ou não votante (art. 161 e art. 123). São casos, também, de 5% do capital social, no mínimo (de um ou mais acionista em conjunto), ou comm 10% do capital votante ou não votante. Por fim, fala-se em 15% do capital votante. Importante dizer que a lei criou uma válvula de escape, onde, no art. 291, a CVM é capaz de reduzir esses percentuais. Isso porque, dependendo da empresa, essas porcentagens, que parecem baixas, podem ser muito. Um exemplo seria, inclusive, a PETROBRAS. DEVERES DOS ACIONISTAS O principal dever dos acionistas é o de aportar recursos, integralizando o que subscreveu, conforme o art. 106. Outro dever, porém, é o de lealdade (boa-fé objetiva). É evidente, então, que o art. 187 do CC recai também sobre as sociedades. Fere esse dever o acionista que faz concorrência ou que divulga informações sigilosas, por exemplo. ACIONISTA CONTROLADOR 1) Noção Geral Existem diferentes motivações para alguém se tornar acionista. Alguns realmente querem exercer algum controle, outros só querem a renda. O controlador, porém, normalmente se encaixa no primeiro tipo. Existe o chamado fenômeno da dissociação entre propriedade e controle. Quem tem as ações, então, não é sempre capaz de decidir. Em alguns casos, os maiores acionistas ainda tem porcentagem pequena do capital. O art. 116 é o que determina o controlador e seu poder. Pode, então, ser pessoa natural ou jurídica, titular de direitos de sócio (não necessariamentedas ações), que, de modo permanente (“eterno enquanto dure”), prevaleçam nas Assembleias. Além disso, é necessário o efetivo exercício desse direito de controle, já que o controle baseia-se no fato. O art. 243, em seu parágrafo 2º, tem um conceito muito semelhante, mas não fala do uso efetivo, pois trata das subsidiárias integrais. É interessante pois, numa subsidiária, há o dever de controlar: isso porque esse é seu objeto social. 2) Classificação O controlador, então, é quem possui esse poder de controle. Esse poder pode ser classificado de duas maneiras: a) Controle Interno: quando alguém de dentro da companhia é o controlador. Acredita-se que é o único tipo, pois é o único expresso no art. 116. Ele é subdividido em quatro espécies: • Totalitário: toda a participação é de um só. É exemplo a subsidiária (isolada) ou três pessoas que sempre votam do mesmo jeito (conjunto); • Majoritário: também isolado ou conjunto, quando o controlador tem a maioria das ações. • Minoritário: Ocorre quando há fenômeno de absentismo nas assembleias. Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio • Gerencial: não existe no Brasil. Ocorre quando o capital é tão pulverizado que quem manda são os administradores. b) Controle externo: ocorre quando alguém de fora controla a companhia. Isso é exemplo no caso de financiamento do banco em que se dá ações do controlador como garantia, sendo feita uma alienação fiduciária. Isso impede que o controlador venda suas ações, de modo que é esse ente externo – no caso, o banco – que exerce o controle. Ocorre quando alguém que não tem direitos de sócio, quando há contrato de franquia ou no caso de endividamento. 3) Técnicas de Organização do Poder de Controle As técnicas de organização de poder de controle se dividem em diferentes categorias. a) Institucionais: possui as holdings como grande exemplo. Uma sociedade, que possui direito de voto e ações dispersas, tem 2 grandes acionistas (um com 32% e outro com 35%). Eles decidem, então, transferir suas participações para uma sociedade no nome de ambos, e essa sociedade torna-se acionista, com 67% das ações. O que tinha 37% será o com maioria na Holding e, então, de modo indireto, será o controlador. Essa técnica também é chamada de controle piramidal, pois é possível que se acumule uma sequência de Holdings e, então, mesmo quem investe pouco, pode controlar. Esse tipo de técnica é muito aliada a que vem a seguir. b) Estatutária: ações preferenciais sem direito a voto. Em uma empresa com 50% ordinárias e outros 50% preferenciais, basta que se tenha 26% das ordinárias para controlar. Também permite que não seja necessário investir muito. É bastante usado nas estatais, para que a União consiga se manter como controladora. c) Contratual: ocorre através do uso de procurações. Não é muito comum , pois permite que se uso o direito de voto de outro acionista. Também é possibilidade o acordo de acionistas, e esse sim é muito utilizado. É um acordo parassocial, firmado entre os acionistas paralelamente ao contrato da sociedade, mas que produz efeitos para a sociedade. É previsto no art. 118 da Lei das SAS. Mesmo que seja típico dessas companhias, é usado em outras sociedades com o nome “açodo de acionistas”. Esse acordo não precisa ser firmado entre todos e, caso alguns não queiram, a sociedade pode ser interventora. Ele serve para regular o voto, compra e venda de ações e consequentemente, poder de controle. É muito comum que acionistas que, ao unirem suas ações façam um acordo para regular o voto como controladores, o que dá estabilidade. O típico caso de acordo é o lock up, que regula a compra e venda. Proíbe-se que alguém saia por tal período, sendo muito usado em startups. Entra aqui, também, o caso de tag along (minoritários obrigados a vender) ou tag along (o novo controlador pode ser obrigado a comprar dos minoritários). Esse acordo é como qualquer contrato, devendo ter prazo determinado. Caso o sócio não siga o acordo, responde por perdas e danos, sofre execução específica e, ainda, existem os mecanismos de defesa do art. 118. É exemplo em caso de voto contrário ao acordo – não é computado; ou quando ele se ausenta, outro pode votar no seu lugar naquele sentido. O acordo deve, porém, para isso, estar registrado na SA no Livro de registros de ações Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio nominativas – ou seja, não vale para acordo velado ou de gaveta. Por fim, quem compra as ações que estão em acordo vigente, as restrições seguem até que vença o acordo. Existem, ainda, contratos de opção de compra e venda: caso a AS dê certo, o acionista faz um acordo para que possa comprar mais um nº X de ações por preço determinado, o que obriga os minoritários, ou, quando não dá certo, pode vender. Por fim, os minoritários também podem fazer acordos. Isso ocorre para que sejam capazes de exercer seus direitos. 4) Atuação O que faz o controlador? A rigor, ele administra o patrimônio alheio como se fosse seu, e por isso recaem sobre ele os deveres fiduciários. Esses deveres são impostos pela ideia de lealdade, já que ele pode definir o rumo da companhia. Dessa forma, atos abusivos podem ensejar a responsabilidade do controlador e a invalidade de certos atos, questionando-se, inclusive, a necessidade de dolo. Tudo isso está regrado no art. 117, mas há a grande dificuldade de constatar esse abuso. Tudo isso não significa, porém, que as minorias não podem ser abusivas. Muitas vezes, elas são capazes de travar a companhia, levando quase à falência. Em resumo, a responsabilidade do controlador é igual a dos demais: limitada ao que aportou. Isso salvo as hipóteses da desconsideração da PJ ou se sua atuação causar dano a terceiro. Internamente, ele pode responder pelos atos praticados em abuso de seu poder de controle, mas faltam meios na lei para efetivar sua responsabilização, sendo aplicada, de modo extensivo, a previsão do art. 246. ASSEMBLEIAS GERAIS E ESPECIAIS 1) Órgãos Sociais Ao falar das Assembleias, devemos falar desses órgãos sociais. O órgão é o indivíduo ou grupo que age para o desenvolvimento desse interesse coletivo – ou seja, cumpre função para um grupo maior. É, a rigor, um centro de poder e que, respeitadas as suas competências, manifestam a vontade social. Obrigatoriamente, a SA possui alguns órgãos. Na base deles temo a Assembleia Geral, que é o órgão deliberante que congrega os acionistas, regrado a partir do art. 121 da Lei. Logo acima vem os órgãos administrativos, podendo essa administração ser dual ou unitária (ou seja, um ou dois órgãos), com regras a partir do art. 138 da Lei das SAS. No topo, há a diretoria, órgão que representa a sociedade perante terceiros. A companhia pode também ter, na Administração, um órgão de deliberação colegiada, o Conselho de Administração. Ele é facultativo e, se existir, será dual a administração. Existem alguns casos em que esse conselho é obrigatório, como nas companhias abertas, companhias com capital autorizado e nas sociedades de economia mista. Além disso, existe um órgão sindicante. É o chamado Conselho Fiscal. É um órgão de fiscalização que sempre vai existir (obrigatório), mas cujo funcionamento é facultativo: de regra, ele não funciona, a não ser nas sociedades de economia mista. Ele está regrado no art. 161. Esses órgãos, como regra da Lei das SAS, tem competências indelegáveis. Elas não podem ser alteradas e estão descritos na lei, no art. 163, 122 e 139. Prof. Spinelli2016/2 Helena Fabricio 2) Assembleia Geral Está regrado do art. 121 em diante. O órgão máximo que pode deliberar sobre toda e qualquer matéria e que investe os demais órgãos (os elege) com uma exceção: se houver conselho de administração, esses vão eleger a diretoria. Isso está regrado nos arts. 122 e 142. Essa assembleia tem um poder/função deliberante. O importante é que deve ser respeitado o método assemblear (contraditório): nada a substitui, mesmo que todos tenham consentido informalmente. Os acionistas devem ser convocados (art. 124), assinando o livro de presença (art. 127) e para discutir as matérias e deliberar, ainda que aquele discutindo não tenham direito de voto (art. 125). É um órgão de deliberação colegiada que demanda a presença de acionistas. Em tese, seria inadmissível o voto por correspondência, mas podem ser feitas observações: na prática, ocorrem videoconferências. Em 2011 a lei 8431 modificou a das SAS, prevendo o voto à distância para companhias abertas, considerando-o presente. No mesmo sentido o parágrafo único do art. 121 permite o voto à distância conforme a regulamentação da CVM. A CVM regulou isso na instrução 561. A assembleia pode ser gravada. Essa assembleia tem competência privativa, conforme o art. 122 da Lei das SAS. Ela obrigatoriamente deliberará as questões definidas no artigo. É possível dar mais competência a Assembleia, a exemplo de financiamentos acima de 1 milhão que exijam deliberam, desde que não se afete competência privativa de outros órgãos. Existem, basicamente, duas espécies de Assembleia Geral: ordinária e extraordinária. Isso está definido no Art. 131, sendo que ambas podem ocorrer juntas. A ordinária é vinculada à sua competência, sendo as matérias do art. 132, que devem sempre ser deliberadas. Já a extraordinária delibera toda e qualquer matéria não citada nesse artigo, podendo ser convocada a qualquer momento. 3) Convocação É preciso respeitar uma série de regras e formalidades. Isso porque as decisões são tomadas por maioria e vinculam todos. Só não é preciso convocar se todos estiverem presentes (art. 122). Caso a companhia não possua Conselho de Administração, a convocação é feita pela diretoria, se não, o primeiro o faz. Também pode ser convocada pelo Conselho fiscal ou pelos acionistas, conforme a lei. Existe, ainda, a possibilidade de autoconvocação. O art. 289 determina como deve ser feita a convocação. Uma regra interessante é que deve ser publicado sempre no mesmo jornal, ou deve haver um aviso aos acionistas. A regral geral é a publicação em diário oficial e jornal, três vezes. Existem, porém, algumas exceções: por exemplo, o acionista que constitui mais de 5% da Companhia fechada pode pedir convocação por correspondência. Em pequenas SAs fechadas, com patrimônio inferior a um milhão e até 20 acionistas, pode ser feita a convocação mediante recibo, sem publicação. Importante, ainda, falar que não se pode deliberar algo que não está na ordem do dia, a não ser que todos concordem. Além disso, quando a pauta é “assuntos gerais”, nada é deliberado. Os prazos de convocação estão no parágrafo primeiro do art. 124. Nas fechadas, a primeira convocação deve ser com 8 dias de antecedência, e as outras duas 5 e 8 dias depois, respectivamente. Em abertas, a primeira convocação deve ter 15 dias de antecedência. Esses prazos são contados em dias Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio corridos. A CVM pode, eventualmente, mudar esses prazos e até interrompê-los nas companhias abertas. A assembleia deve ocorrer na sede e, se não for possível, na localidade dela (cidade). Isso está regrado no parágrafo segundo do art. 124. Já os documentos propícios devem ser liberados com antecedência. Conforme o art. 133, deve haver ser de um mês para assembleias ordinárias a disponibilização, que deve ser comunicada com anúncio. Nas companhias fechadas, os acionistas podem descartar essa necessidade (art. 135, parágrafo terceiro). Nas extraordinárias, os documentos devem estar presentes na companhia. A presença é determinada pela assinatura dos acionistas no livro, sendo o quórum de ¼ do capital votante. Na companhia fechada o quórum pode ser modificado. Há uma exceção para extraordinárias com reforma do estatuto: exige 2/3 dos votantes. O estatuto prevê, de modo geral, o funcionamento da Assembleia. 4) Quórum de Instalação O quórum é verificado através do livro de presença, sendo que assinam os votantes e não votantes. Só é vinculado, porém, aos votantes. Não é admitido acionista retardatário. O acionista pode ser representado, sendo que o representante assina (podendo ser este advogado, outro acionista, administrador ou, nas companhias abertas, instituições financeiras). A procuração vale no máximo por 1 ano e deve ter poderes específicos. Caso o quorum seja atingido, forma-se a mesa com o presidente – definido no estatuto – e o secretário – indicado pelo presidente. Lê-se a convocação do edital e a ordem do dia. Não é permitido na Assembleia voto secreto, pois em ente associativo deve se saber quem votou para evitar o voto abusivo. Normalmente, há uma declaração, justificativa do voto, que pode ser recusada pelo presidente. • Assembleia Ordinária tem rito especial determinado no art. 134. 5) Quórum de Deliberação Está regrado no art. 129. A regra geral é que a maioria dos presentes manda, mas o quórum pode ser modificado nas companhias fechadas. O art. 136 determina algumas matérias que possuem quorum especial. O voto nulo é importante e deve ser avaliado, pois pode influenciar no resultado quando o sujeito tenha algum impedimento em relação ao voto. Em tese, não há empate e se não há maioria, não é aprovado. É exigida a unanimidade para transformação do tipo societário, o que acaba por incluir, inclusive, os não votantes, conforme o art. 221. Isso permite que minoritários consigam bloquear essa modificação. 6) Atos Conclusivos É necessário lavrar a ata, conforme o art. 130, assinada pela mesa e pelos acionistas. Basta que assine o nº do quorum exigido. A ata original deve ser transcrita no registro de atas, e na Junta deve ser registrada uma cópia assinada pelo presidente e pelo secretário. Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio O arquivamento na Junta é que produzirá efeitos perante terceiros. Há, ainda, publicação no Diário Oficial e jornal de grande circulação. Em tese, não há consequência para a não publicação, mas a prescrição para invalidar a Assembleia, por exemplo, conta a partir desse ato. 7) Assembleias Especiais a) Acionistas: regrada no art 16 e 136. Deve haver assembleia para trata de classes de ações ordinárias, para mudança no estatuto a fim de mudar ou criar novas classes ou modificar os benefícios das preferenciais. Essas mudanças dependem da aprovação dos acionistas atingidos. b) Titulares de Partes Beneficiárias: conforme o art 51, qualquer modificação no estatuo que visa alterar ou reduzir vantagem dessas partes depende de Assembleia Especial. c) Debenturistas • Princípio da Sanação: quando os sócios tentam invalidar a Assembleia pode ser feita ratificação para sanar o vício que legitima essa invalidade. São três tipos de vício: de Assembleia, relacionado ao rito; de voto, relacionado ao impedimento; e de deliberação. O prazo decadencial para invalidar é de 2 anos, e o prescricional esta no art. 284. CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO 1) Noção Geral É um órgão da administração colegiado. Issosignifica que as decisões são tomadas conjuntamente, ocorrendo uma “mini-assembleia” com quorum. É um órgão facultativo, a não ser nas sociedades de economia mista, nas abertas e nas de capital autorizado. As competências são, em geral, extraídas da Assembleia Geral. O objetivo desse órgão é congregar diversos interesses – inclusive de minoritários (que elegem membros). A lei das SAs permite que o estatuto preveja eleições por empregados – e isso é obrigatório nas estatais. Esse órgão não é de execução e, portanto, não representa a companhia perante terceiros. Suas reuniões ocorrem na periodicidade prevista do estatuto. Esse órgão é fundamental para a governança da sociedade, pois faz planejamento a médio e longo prazo. É por isso que os membros deveriam ser independentes, para tomar decisões desvinculadas de interesse próprio. Deve ser plural, permitindo diferentes visões sobre os negócios. Na Alemanha, inclusive, sugerem participação mínima das mulheres. O estatuto pode atribuir competências além das determinadas pela Assembleia, desde que não atinja a competência privativa de outros órgãos. Ele deve ter no mínimo 3 membros, sendo que o estatuto pode prever um máximo – que não está determinado em lei. O ideal é que haja número ímpar e um presidente com voto de minerva. Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio Os conselheiros são eleitos e destituídos pela Assembleia. A destituição pode ser “ad mutum” (desmotivada). O estatuto determina a substituição desses conselheiros, mas a lei não prevê a existência de substituto ou vice. O estatuto deve fixar prazo de mandato, que tem no máximo 3 anos, permitida reeleição. Além disso, até que o substituto (ou o próximo) assuma, o anterior atua, não seguindo fielmente o calendário cível. 1) Membros do Conselho Qualquer pessoa, acionista ou não, pode ser membro do conselho, desde que seja pessoa natural. Isso vincula-se à ideia de imparcialidade. Não existem requisitos, apenas em casos mais específicos para os administradores. 2) Eleição dos Membros do Conselho Como regra geral, são os acionistas que elegem na Assembleia Geral, com ressalva aos casos em que os empregados podem eleger um membro (como nas estatais). A eleição, porém, guarda uma peculiaridade: não é pelo princípio da maioria. Isso ocorre porque, se assim fosse, o controlador sempre venceria – já que as eleições normalmente são por chapas ou individualmente um a um. Então, para viabilizar representantes dos minoritários, existem dois mecanismos: a) Voto Múltiplo: Tanto para companhias abertas quanto para fechadas, regrado no art. 141. Os acionistas com 10% do capital votante convocam para que se multiplique o nº de votos pelo de candidatos, permitindo uma eleição “majoritária” simultânea. Isso faz com que os minoritários possam concentrar votos, forçando o controlador a concentrar também. Isso porém, não garante nada aos minoritários, apenas dá uma possibilidade. b) Eleição em Separado por Minoritários: Só é possível em companhias abertas, estando regrado nos parágrafos de 4º a 8º do art. 141. Essa eleição pode ser feita por minoritários com no mínimo 15% das ações com direito a voto ou preferencialistas sem direito que representem 10% do capital social. Se ninguém atingir as porcentagens, pode ser cumulada a de ambos. Nas companhias abertas esses dois mecanismos podem ser cumulados, o que gera uma consequência: a lei prevê que, nesses casos, o controlador poderá eleger o mesmo número +1 em relação aos eleitos pelos minoritários, independente do número de conselheiros indicado no estatuto, a fim de que mantenha seu efetivo poder de controle. 3) Destituição dos Membros Os membros do conselho de administradores podem ser destituídos ‘ad nutum’ (desmotivadamente, a qualquer tempo). Em caso de voto múltiplo, porém, a destituição de um dos membros implicará a de todos os demais, levando a uma nova eleição. Tudo isso ocorre para dar mais efetividade ao direito dos minoritários. Já no caso do voto em separado, há um direito de eleger e também destituir: só os minoritários poderão excluir aqueles em que votaram, a não ser que haja alguma motivação urgente, como ilícitos, que flexibilize a regra. Não há, na lei, previsão de suplentes, cabendo ao estatuto essa determinação. O suplente funciona como “vice” e, se não há suplente, a vacância será preenchida através de escolha dos demais conselheiros (art. 150) e, se não o fizerem, a diretoria faz nova eleição. Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio DIRETORIA 1) Noção Geral É um órgão de administração que toda companhia deve ter. Isso porque este é o órgão que representa a companhia frente a terceiros, tendo isso como competência privativa. Existem, porém, algumas exceções: na ausência da diretoria, se não houver conselho de administração, será o Conselho Fiscal ou qualquer dos acionistas, falando ainda do acionista com maior número de ações (sem distinguir preferencial e ordinária, mas normalmente o controlador). O art 133 fala, ainda, do contrato de auditoria como do Conselho Fiscal. Todos os diretores têm o mesmo poder de gestão em relação aos demais. Normalmente o estatuto determina competências (um será diretor jurídico, por exemplo), ou exige um acordo entre os diretores – o que serve como mecanismo de controle. O Conselho de Administração também pode definir essas competências. Como regra geral, a diretoria não é órgão colegiado. Pode, porém, exigir atos com decisão colegiada – o que também não é muito comum. 2) Composição Deve ter no mínimo dois membros – o que influi no custo para manter a sociedade. Não há, porém, um limite. Eles também podem ser acionistas ou não, desde que pessoas naturais. O estatuto deve estabelecer, então, o máximo e o mínimo de diretores, se haverá suplente, o prazo de gestão (máximo de 3 anos com reeleição) e as eventuais competências. Há debate sobre a atuação de conselheiros como diretores, já que cabe ao conselho fiscalizar o gestor, o que acarretaria conflito de interesses. Apesar disso, é importante diálogo entre esses órgãos. A lei das SAs, então, permite que seja conselheiro e diretor, mas estabelece um limite de 1/3 dos membros do Conselho (art. 143). 3) Eleição É o conselho de administração que elege a diretoria e, se não existir esse órgão, a Assembleia decidirá – sem aplicação de regra de voto múltiplo. Alguns compreendem que esses direitos minoritários se estendem à diretoria, mas há debate. O conselho, como regra, vota de modo majoritário. Existem, porém, acordos entre acionistas que estabelecem que um escolherá e os demais seguirão sua orientação, sendo, inclusive, muito comum que se permita a indicação de diretor presidente ou financeiro – o que obriga até os conselheiros, que podem se vincular aos acordos. OUTROS ÓRGÃOS Nada impede que existam outros órgãos além desses dois. É mais comum ser criado por estatuto, mas nem sempre é assim. É exemplo o Conselho Fiscal (que será estudado posteriormente) e comitês especiais. Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio NORMAS COMUNS AOS ADMINISTRADORES Administrador é tanto o conselheiro de administração quanto o membro da diretoria. Essas normas comuns a eles aparecem a partir do art. 145 da lei das SAs. 1) Requisitos para Administrar Administrador pode ser acionista ou não, deve ser pessoal natural e residir no Brasil. O conselheiro de administraçãoe a lei podem exigir alguns requisitos (ex: para bancos). 2) Impedimento São impedidos de administrar os funcionários públicos e aqueles que cometeram crimes de administração (como corrupção e economia popular). Também aqueles que foram condenados pela CVM. O impedimento percorre mesmo após o cumprimento da pena. Ele pode, porém, ser ressalvado pela Assembleia Geral, quando o acionista ocupa cargo de administração em companhia concorrente (seria impedimento), pois poderia ser caso de conflito de interesses. O impedimento, porém, ocorre só quando o conflito é permanente de interesses, de modo que ele dificilmente poderia exercer plenamente a função. Exemplo é o caso do pão de açúcar: venderam para companhia francesa e vinculou-se ao concorrente Carrefour. Depois, o presidente vitalício foi eleito presidente da Sadia, o que gerou conflito permanente. A Assembleia, porém, também poderia ter afastado. 3) Investidura Deve ser assinado um termo de posse em até 30 dias, prorrogáveis. 4) Critérios de Remuneração A legislação estabeleceu parâmetros em seu artigo 152. Ela é baseada em fatores como reputação e responsabilidade do cargo. A fixação de alta remuneração é um exemplo de abuso de controle, o que pode, inclusive, gerar indenizações. Essa remuneração deve ser fixada todo o ano pela Assembleia, podendo ser individualizada. É mais comum que seja de forma global (valor X para todos) e eles dividem entre si. O administrador pode, ainda, estabelecer remuneração in natura, como carros, apartamentos. Há, porém, restrição à participação nos lucros, que varia de acordo com seu desempenho. Há, ainda, a opção de stock option para administradores: comprar ações para “estocar” e comerciar mais tarde. Se o administrador compra 10 ações por um real e em 2 anos elas valem três reais cada, ele sairá ganhando. A ideia é que o sujeito se dedique para que a companhia valha mais. 5) Renúncia Qualquer sujeito pode renunciar. Essa renúncia deve ser arquivada na Junta e publicada, para que produza efeitos perante terceiros. Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio 6) Natureza do Vínculo Administrador-Sociedade Um administrador pode ser empregado, mas é ainda mais comum que os não-empregados atuem com planos de carreira estabelecidos. Alguns elementos compõe a relação de emprego, como a onerosidade, a não eventualidade, a subordinação e a pessoalidade. O administrador não é, então, empregado, pois falta o elemento subordinação: é ele quem manda, ele possui discricionariedade quando realiza qualquer ato de gestão. Interessante falar dos casos de que muitas das empresas não teriam condições de contratar empregados formalmente, e então coloca-os como sócios. Isto é caso de fraude na relação de emprego. Quando o sujeito é empregado e eleito administrador, seu contrato fica suspenso durante todo o mandato. O conselho de Administração não exige, porém, exclusividade e, pois isso, essa função pode ser exercida em diferentes companhias, caso a Assembleia permita sem impedimentos. A relação entre sociedade e administrador é societária e orgânica: o administrador ocupa cargo em um órgão da sociedade. Se há contrato, o órgão é que assina esse documento. De qualquer modo, há uma relação contratual entre o administrador e a companhia. Na Alemanha, diz-se que há uma relação dual. Discute-se, porém, o tipo de contrato (prestação de serviços ou mandato). O problema dessa relação é as consequências do tipo. A relação contratual tem responsabilidade que presume culpa e dolo, enquanto a extracontratual não. 7) Deveres dos Acionistas Estão na lei a partir do art. 153. O administrador é eleito em confiança para administrar o patrimônio alheio, pois ele tem discricionariedade nesses atos. Entende-se que sobre ele devem recair deveres mais fortes do que recaíram sobre qualquer outra relação contratual. A concepção norte americana dos deveres fiduciários foi trazida para o Brasil pois, de fato, o administrador é um fiduciário. Isso porque alguém deposita confiança nele para que administre o patrimônio. A lei estabelece uma série de deveres específicos aos administradores, como a convocação da Assembleia Geral Ordinária, o arquivamento dos atos constitutivos da companhia e a elaboração de demonstrações financeiras. A lei das SAs por si só estabelece uma série de deveres específicos aos administradores. No art. 98 consta que os primeiros administradores têm a obrigação de levar os atos à Junta. O art. 123 estabelece que compete aos administradores convocar as Assembleias. Já o art. 133 diz que eles devem disponibilizar os documentos para a Assembleia com antecedência. Entretanto, não há como a lei especificar regras determinando todas as condutas. É por isso que a lei, paralelamente aos deveres específicos, prevê os deveres genéricos (normas de conduta). São deveres de comportamento que devem ser concretizados, impondo condutas em cada caso. Usam-se, então, conceitos jurídicos indeterminados (e não cláusulas gerais), pois existem inclusive sanções para a não realização dessas condutas. Esses deveres são referidos, normalmente, como fiduciários. Ele assim se chama por entender que os administradores funcionam como agentes fiduciários, já que possui o poder de gerir o patrimônio da sociedade e dos sócios, pois sobre ele recai a confiança de todos. Caso rompido esse vínculo de confiança, pode ser movida ação de responsabilidade, que o retira do cargo por determinação legal. Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio Desse modo, os deveres que recaem sobre os administradores são fortes, já que busca preservar-se a boa fé. A classificação desses deveres é feita de diversas formas. Alguns veem a classificação conforme a lei, outros buscam dividir os deveres em número variado (já que, dependendo do ponto de vista, eles pode se englobar ou confundir). Não há, então, uma visão clara sobre esse assunto. Normalmente, refere-se a dois deveres: de diligência e de lealdade. Para sistematizar, porém, podemos incluir outros. a) Obediência: é normalmente enquadrado na diligência. É o dever de obedecer o direito (the law). Isso mostra que a busca dos objetivos da empresa não permite que se exceda o limite da lei. Também obriga o administrador a respeitar atos da própria sociedade e as limitações que lhe são impostas. b) Diligência: art. 153 da Lei das SAs e 1011 do CC. Ele deve empregar cuidados necessários na administração dos negócios alheios. A lei fala, ainda, do homem “ativo e probo” (homem de negócios): deve-se utilizar dos meios que esse homem de negócios, nas mesmas circunstâncias, utilizaria. Essas circunstâncias são vinculadas a tempo, custo e tipo do negócio. Dentro desse, existem “subdeveres” ou parâmetros: • Dever de se qualificar: condições mínimas para assumir o cargo. • Dever de se informar: decisões tomadas devem ser sempre informadas, ou seja, ele deve sempre estar atento e contextualizado quando tomar suas decisões. Importante considerar que se informar toma tempo e dinheiro. • Dever de investigar: qualquer sinal de irregularidade deve ser analisado. Deve investigar os subordinados e seus pares – já que a responsabilidade em órgãos colegiados é solidária. • Dever de vigiar: as empresas devem ter programas de “compliance” efetivos – mecanismos efetivos de controle. Isso não significa que são infalíveis. • Dever de bem administrar: deve buscar o fim social – o lucro. Entram aqui os limites da obediência. Também não podemos condenar o administrador por não atingir osucesso. É, então, obrigação de meio (fazer seu melhor). c) Lealdade: é muito difícil de definir esse dever. Podemos, porém, dizer que é o “dever de servir à companhia, e não se servir dela”. O art. 155 prevê a existência desse dever. Essa definição acaba por coibir condutas que possuem vedação expressa na lei (ex: concorrência, usurpar oportunidades, manter o sigilo, não atuar em conflito de interesses). Cabe, aqui, maior análise do conflito de interesses. Ele pode ser pessoal, econômico e relevante – ou não. O conflito deve ser interpessoal, podendo ser de três tipos: indiferente (um não impacta o outro, por isso o direito não intervêm), convergência (mesmos interesses buscando fim comum, o direito regra levemente) e conflito (existem diferentes interesses relacionados, mas só pode ser atendido um deles, e por isso o direito regula de forma preventiva ou repressiva). A lei das Sas proíbe eleição quando há conflito, mostrando caráter preventivo, bem como impede a realização de determinados atos (liberalidade, empréstimos, presentes de terceiros). Imporante dizer que a Assembleia pode remover os impedimentos. Além disso, a lei não Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio consegue prever todos os atos de conflito para evitá-los, então o art. 156 traz uma norma procedimental, vinculada à informação. d) Informação: Está no art. 157 da Lei das Sas. Esse artigo é restrito para companhias abertas. Ele diz que o administrador, ao tomar posse, deve prestar uma série de informações e esclarecimentos descritos. Há, porém, nesse mesmo artigo, outra faceta desse direito: há obrigação de informar ou se abster de negociar, pois todos devem operar no mercado com a mesma informação. A ideia, então, é proteger o mercado e não a companhia, nesse caso. Em resumo, então, o dever é dividido em 2 formas: a primeira parte é vinculada à prestação de esclarecimentos ao tomar posse, enquanto a segunda é vinculada à probição de “insider trade” – dever de respeitar o mercado RESPONSABILIDADE CIVIL DOS ADMINISTRADORES 1) Noção Geral A responsabilidade dos administradores é regida pelo princípio da não-responsabilidade pessoal, cabendo somente como exceção. Essas exceções serão estudadas. A regra é a responsabilidade individual e subjetiva, uma vez que o art. 158 exige culpa ou dolo. Alguns acreditam, porém, que o inciso II pode remeter a uma objetivação da responsabilidade, vinculada à violação do estatuto. A lei das Sas, porém, possui algumas exceções em que torna a responsabilidade solidária, conforme o art. 158. São casos: conivência ou omissão por quem tinha conhecimento do ilícito; violação dos deveres mínimos de funcionamento – mais vinculada às fechadas – e não delação. Também podem ser responsáveis terceiros coniventes. Há hipótese de exoneração da responsabilldade. Isso ocorre quando cabe uma aprovação de contas e demonstração financeira, que pode ser negada até pelos minoritários. 2) Ação de Responsabilidade É a ação social: o dano é causado à companhia, e é ela que deve ser indenizada. O dano ao acionista é reflexo. É por isso que o legitimado para ingressar com ação não é o sócio, mas sim a própria SA. Aqui, entram dois pontos importantes: não é necessário que a deliberação sobre essa ação conste na pauta do dia, podendo ser proposta por qualquer acionista; ou acionistas com 5% do capital social podem ingressar. O grande problema é que o acionista que atua como substituto processual arca com o risco do processo, sendo que a indenização vai para a companhia de qualquer maneira. • Caso o acionista venda a ação no meio do processo, ele perde a legitimidade. A ação de responsabilidade individual, por sua vez, é aquela para responder pelos danos causados a terceiros, ainda que este seja acionista. Está prevista no art. 159, prescrevendo em 3 anos. Coexistem, então, as ações individual e social. O ex acionista que exerce essa ação não pode ser substituto processual também. Essa ação, por ser individual, independe da aprovação da Assembleia. Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio 3) Seguro de Responsabilidade Esse seguro cobre os riscos de negligência e má administração que não envolvam má fé ou declarações falsas e enganosas. Não há um padrão de cobertura, variando de uma seguradora para outra. É possível, também, que o administrador seja indenizado se ganhar a ação de responsabilidade ou tiver agido de boa fé. CONSELHO FISCAL 1) Noção Geral É o órgão que fiscaliza a legalidade da administração e de informação da Assembleia. Exerce, então, papel relevantíssimo na defesa dos interesses da companhia e dos acionistas. É obrigatório nas Sas, mas seu funcionamento não é permanente, como regra. A exceção é a sociedade de economia mista, que é permanente. O estatuto pode, também, prever isso. Não cabe ao Conselho analisar a conveniência do negócio, mas sim a legalidade da gestão. 2) Membros Ele possui no mínimo 3 e no máximo 5 membros, conforme o art. 161. Existem alguns requisitos para ser conselheiro fiscal: ser pessoa natural, ser residente no país, ter formação mínima, ter remuneração fixa (não participa nos lucros), bem como os requisitos exigidos de qualquer outro administrador. 3) Eleição e Instalação Se o conselho for permanente, ocorre eleição todo ano. Se não, como regra, ele deve ser instalado (colocado em funcionamento). Os acionistas minoritários com 10% das ações votantes podem pedir essa instalação, sendo que a CVM pode reduzir esse quorum. Esse assunto é outro que pode ser debatido sem estar na ordem do dia. O prazo do mandato é vinculado aos atos daquele exercício. Há, porém, debate sobre reabrir atos passados, quando a Assembleia já aprovou as demonstrações daquele ano. A eleição, para garantir a fiscalização, ocorre em separado, pois não faria sentido o controlador eleger todos. Ela ocorre na Assembleia Geral, sendo que os minoritários escolhem até 2, os ordinaristas 1 e os preferencialistas 1 também. Por fim, então, o controlador continua elegendo a maioria. O conselho é órgão colegiado, ou seja, possui deliberações conjuntas. Deste modo, se o controlador tem maioria (3/5), ele se “autofiscaliza”. A lei, porém, permite que eles atuem individualmente em casos específicos. É possível, então, separar a atuação colegiada a individual. Isso tudo influi na responsabilidade do Conselho, que está regrada nos arts. 165 e 165-A. Determina, também a responsabilidade dos conselheiros. 4) Destituição A destituição dos conselheiros pode ocorrer desmotivadamente e a qualquer tempo. Há exceção aos escolhidos pelos minoritários, pois estes são apenas “homologados” – não eleitos – e só podem sair por justa causa. Prof. Spinelli 2016/2 Helena Fabricio 5) Competência O conselho fiscal possui algumas competências indelegáveis, conforme o art. 163. A competência essencial é fiscalizar, mas também pode convocar Assembleia Geral extraordinária por motivos urgentes. DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADES 1) Noção Geral Sociedades tendem à perenidade, não tendo seu término vinculado à pessoa do sócio (ex: falecimento não é causa de dissolução). Porém, eventualmente, as sociedades podem acabar através da chamada dissolução. A dissolução tratada aqui é a lato sensu, o processo dissolutório. Esse processo divide-se em 3 etapas: dissolução stricto sensu, liquidação e extinção. Essas fases podem, porém, não estar bem definidas, como na
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