Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE ARTES CURSO ARTES/MÚSICA WASHINGTON SANTOS NEVES O ENSINO NÃO-FORMAL DE GUITARRA ELÉTRICA EM MONTES CLAROS: UM ESTUDO MULTICASO Montes Claros-MG Abril/2017 Washington Santos Neves O ENSINO NÃO-FORMAL DE GUITARRA ELÉTRICA EM MONTES CLAROS: UM ESTUDO MULTICASO Monografia apresentada ao curso de Licenciatura em Artes - Habilitação em Música da Universidade Estadual de Montes Claros como exigência para obtenção de grau de Licenciado em Artes – Habilitação em Música. Orientador: Prof. Antônio Normando Freire da Silva Montes Claros-MG 2017 Washington Santos Neves O ENSINO NÃO-FORMAL DE GUITARRA ELÉTRICA EM MONTES CLAROS: UM ESTUDO MULTICASO Monografia apresentada ao curso de Licenciatura em Artes - Habilitação em Música da Universidade Estadual de Montes Claros como exigência para obtenção de grau de Licenciado em Artes – Habilitação em Música. Membros: __________________________________________ Prof. Antônio Normando Freire da Silva __________________________________________ Ms. Stanley Levi Nazareno Fernandes __________________________________________ Ms. Daniel Aguiar Novais Montes Claros-MG Abril/2017 Dedico este trabalho a meus pais, Vanice e José Cleunilson, a minha avó, Maria Madalena, a minha noiva Monique Anália, aos meus familiares e amigos que me acompanharam nessa trajetória. AGRADECIMENTOS A Deus primeiramente, por me ajudar até a presente etapa da minha vida, sem Ele eu não conseguiria. Aos meus pais Vanice e José Cleunilson e minha avó Maria Madalena, que ajudaram a me tornar a pessoa que sou, me dando educação, suporte, valores e por fim, ensinando significados da vida. A minha noiva Monique Anália, que me ajudou durante este processo, auxiliando, dando conselhos, orientações e me incentivando da melhor forma possível. Aos meus amigos, que sempre acreditaram em mim e estiveram comigo durante minha trajetória acadêmica. Ao meu orientador Prof. Antônio Normando, por abraçar a ideia do trabalho e estar continuamente disponível para me ajudar. A todos que estiveram presentes em minha vida durante este processo. Obrigado! “O aluno que tem todas as possibilidades de progredir encontra-se diante de um perigo muito difícil de ser evitado durante de seu desenvolvimento. Não se trata de se perder num narcisismo estéril mas de achar que o que já sabe é suficiente, principalmente se obteve êxito e fama naquilo que fez. Assim, ele corre o risco de se comportar como se a existência artística fosse uma forma de vida nascida e justificada espontaneamente em si mesma. O aluno, discípulo, estudante, músico deve descobrir em si mesmo que a obra interior que deve realizar é bem mais importante que as obras exteriores, por mais atraentes que sejam, e que ele deve persegui-la se quiser ser o artífice de seu destino de artista”. (Mozart Mello) RESUMO O objetivo deste trabalho foi analisar o processo do ensino não-formal de guitarra elétrica na cidade de Montes Claros – MG. Houve a busca de examinar as metodologias aplicadas nas aulas, como também perceber as linhas de pensamento dos professores em relação ao ensino do instrumento, formando uma visão parcial do ensino/aprendizagem de guitarra elétrica na cidade. O estudo bibliográfico abordou questões referentes a processos de ensino/aprendizagem e áreas afins. Além disso, utilizou-se como método um estudo multicaso envolvendo 07 (sete) professores de guitarra elétrica atuantes no ensino não- formal do instrumento na cidade e 01 (um) não atuante. Para a técnica de coleta de dados foram realizadas pesquisas de campo envolvendo entrevistas semiestruturadas e observações, em que foram concretizados registros fotográficos e audiovisuais. Foi possível perceber através da pesquisa que o ensino de guitarra elétrica na cidade de Montes Claros - MG acontece através de aulas particulares e cursos livres, o que caracteriza a modalidade de ensino não-formal. Os dados apontaram que a maioria dos professores ensinam metodicamente. O contexto em que as aulas são ministradas se restringe às escolas de música de curso livre presentes na cidade e residência do professor ou aluno. Através das entrevistas pode-se perceber vários aspectos referentes ao mecanismo de ensino/aprendizagem de guitarra além de questões que envolvem a cidade em si. Os resultados desse trabalho poderão contribuir para o alcance de uma melhor compreensão acerca do ensino/aprendizagem de guitarra elétrica na cidade, além de futuramente, auxiliar na construção de um possível programa específico para os professores do instrumento. Poderá também colaborar em futuras pesquisas acerca da prática musical na cidade, tendo em vista que a mesma possui diversas instituições de ensino de música além de uma extensa diversidade cultural. Palavras-chave: Ensino/Aprendizagem. Ensino não-formal. Guitarra Elétrica. ABSTRACT This work aimed to analyse the no-formal teaching of electrical guitar in the city of Montes Claros – MG. Besides that, the methodologies applied in the teaching sessions were analysed, and also the teaching philosophies for each instructor regarding the instrument. By doing this, we achieved a partial vision of the teaching/learning process of guitar classes in Montes Claros. A bibliographic study regarding the teaching/learning process and the ancillary processes, using for that the multicase method with 07 (seven) active electrical guitar teachers and 01 (one) non active teacher. The data collection was realized by means of semi-structured interviews and observations, with photographical and audio-visual registers. It was possible to notice that the electrical guitar teaching in Montes Claros – MG is conducted in an organized way by means of individual classes or free courses, which characterizes the modality of informal teaching. It as also darerved that the biggest part of the instructors follow a teaching method. The context in which the classes are ministered are the music schools in the city or the teacher/students residences. By the interviews it was possible to see various aspects regarding the teaching/learning process of electrical guitar in the city. The results of this work can contribute to a better understanding about the teaching/learning process of electrical guitar in the city, and it can, in the future, be used to build up a feasible specific program to teach the instrument. It can also be used infuture researches about the musical practice in the city, having in mind that there are various music teaching institutions, besides an extensive cultural diversity. Key words: Teaching/learning. Informal teaching. Electrical guitar. LISTA DE QUADROS CAPÍTULO 1 Quadro 1 – Trabalhos publicados acerca do ensino de guitarra no Brasil ................... 22 CAPÍTULO 2 Quadro 2 – Perfil dos professores participantes da pesquisa ....................................... 26 LISTA DE GRÁFICOS CAPÍTULO 3 Gráfico 1 – Influência dos entrevistados ..................................................................... 34 Gráfico 2 – Formação dos entrevistados ..................................................................... 35 Gráfico 3 – Tempo de experiência como professor de guitarra .................................. 36 Gráfico 4 – Valores cobrados ...................................................................................... 39 Gráfico 5 – Meios de divulgação das aulas ................................................................. 44 LISTA DE ANEXOS Figura 1 – Aluno a esquerda afinando a guitarra ......................................................... 58 Figura 2 – Professor a direta falando sobre acordes .................................................... 58 Figura 3 – Professor escrevendo no quadro modelos de tríades .................................. 59 Roteiro de entrevista ................................................................................................... 60 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 13 CAPÍTULO 1 – O ENSINO NÃO-FORMAL DE GUITARRA ELÉTRICA NO BRASIL ........................................................................................................................ 15 1.1 Acerca das modalidades de ensino ....................................................................... 15 1.2 Sobre educação musical não-formal .................................................................... 19 1.3 O ensino de guitarra elétrica no Brasil: uma revisão de literatura .................. 21 CAPÍTULO 2 - METODOLOGIA ............................................................................ 25 2.1 Universo de pesquisa ............................................................................................. 25 2.1.1 Perguntas que nortearam a pesquisa .............................................................. 25 2.2 Estudo multicaso .................................................................................................... 26 2.3 Coleta de dados ...................................................................................................... 27 2.3.1 Pesquisa bibliográfica ................................................................................... 27 2.3.2 Entrevistas semiestruturadas ......................................................................... 27 2.3.3 Observações participantes ............................................................................. 28 2.3.4 Fotografias ..................................................................................................... 28 2.3.5 Filmagens ...................................................................................................... 29 2.4 Organização e análise dos dados .......................................................................... 29 2.4.1 Análise do discurso ........................................................................................ 30 2.4.2 Transcrição das entrevistas ............................................................................ 30 2.4.3 Seleção das fotografias .................................................................................. 30 2.4.4 Seleção e edição das filmagens ..................................................................... 31 CAPÍTULO 3 – RESULTADOS DO ESTUDO MULTICASO .............................. 32 3.1 Análise das entrevistas .......................................................................................... 32 3.1.1 Perfil dos professores participantes ............................................................... 32 3.1.1.1 Escolha da profissão ........................................................................... 33 3.1.1.2 Influências ........................................................................................... 33 3.1.1.3 Formação ............................................................................................ 35 3.1.1.4 Tempo de experiência .......................................................................... 35 3.1.1.5 Atuação no mercado ............................................................................ 36 3.1.2 Características referentes às aulas de guitarra elétrica na cidade .................. 37 3.1.2.1 Locais de atuação ................................................................................ 37 3.1.2.2 Equipamentos utilizados ..................................................................... 38 3.1.2.3 Valores cobrados................................................................................. 39 3.1.2.4 Tempo de curso ................................................................................... 40 3.1.2.5 Demanda de alunos ............................................................................. 41 3.1.2.6 Formato de aulas ................................................................................ 41 3.1.2.7 Interesse em aulas ............................................................................... 43 3.1.2.8 Divulgação das aulas .......................................................................... 44 3.1.2.9 Metodologia ........................................................................................ 45 3.1.2.10 Material didático .............................................................................. 46 3.1.3 O ensino na visão dos professores de guitarra .............................................. 46 3.1.3.1 Dificuldades encontradas ................................................................... 46 3.1.3.2 Interação com outros profissionais da área ....................................... 47 3.1.3.3 Perspectiva pessoal ............................................................................ 48 3.2 Análise das observações ........................................................................................ 49 3.2.1 Abordagem .................................................................................................... 49 3.2.2 Dinâmica inicial ............................................................................................ 50 3.2.3 Desempenho didático do professor ............................................................... 50 3.2.4 Desempenho do aluno ................................................................................... 51 3.2.5 Final das aulas e ponderações pertinentes para o percurso até a próxima aula .................................................................................................................................51 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 52 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 54 ANEXOS ....................................................................................................................... 58 13 INTRODUÇÃO A guitarra elétrica é um instrumento que se destaca há muito tempo no cenário musical, mais especificamente desde a década de 30, segundo Gomes (2014). É numerosa a quantidade de pessoas que buscam aprender tocar este instrumento por vários motivos, dentre eles a fascinação pelo mesmo, a vontade de ingressar em bandas ou conjuntos musicais em cuja formação está presente o uso da guitarra elétrica, inspiração vinda de guitarristas que estão na mídia, entre outros aspectos. Ao fazer-se o levantamento de instituições de Ensino Superior no Brasil que oferecem em seu currículo o ensino da guitarra elétrica, percebe-se que são poucas. (BORDA, 2005; MÓDOLO, 2014, 2015). Outros pesquisadores investigam como é realizado o ensino da guitarra elétrica no contexto de aulas particulares (GARCIA, 2010, 2011; OLIVEIRA, 2013; LEÃO, 2014); outros ainda mostram-se preocupados com metodologias e métodos que permeiam o ensino do instrumento (MÓDOLO; SOARES, 2009; MARQUES; JOLY, 2013). Tendo em vista que são poucos os estudos que abordam o ensino da guitarra elétrica no Brasil e nenhum especificamente sobre o ensino do instrumento na cidade de Montes Claros - MG, esse trabalho teve como objetivo reunir informações a fim de responder o seguinte problema de pesquisa: como acontece o ensino não-formal de guitarra elétrica no município de Montes Claros – MG? Em sua totalidade, a cidade de Montes Claros não possui instituições de ensino superior que tenham a guitarra elétrica em sua matriz curricular, sendo assim, o ensino da mesma é transmitido através de aulas particulares e escolas de música de curso livre, o que caracteriza a modalidade de ensino não-formal. Diante disso, outras perguntas foram formuladas com o propósito de expandir ao problema de pesquisa: Qual é a metodologia utilizada pelos professores de guitarra? Os professores possuem habilitação específica no instrumento? Como é a relação professor/aluno? O trabalho torna-se relevante por ser o primeiro que aborda o ensino da guitarra elétrica no município de Montes Claros/MG, podendo servir como inspiração para outras pesquisas similares. Além disso, pode também proporcionar aos professores de guitarra uma visão mais abrangente em relação a suas aulas. 14 Este estudo traz ponderações acerca do ensino de guitarra elétrica nos contextos não-formais de educação musical, as redundantes de ensino e suas aplicações. Para o desenvolvimento do trabalho foi realizada uma pesquisa bibliográfica e um estudo de casos (multicaso). A pesquisa bibliográfica teve como base publicações científicas acerca do ensino de guitarra no Brasil. O estudo multicaso foi desenvolvido através de pesquisa de campo, onde foi possível analisar o perfil dos professores participantes assim como suas concepções acerca da guitarra elétrica em Montes Claros, tratando do ensino e do mercado. O trabalho está dividido em 3 (três) capítulos. No primeiro, discute-se sobre as modalidades de ensino, apresentando conceitos de vários autores, buscando assim esclarecer a diferença existente entre elas. Além disso, discorre-se especificamente sobre o ensino não-formal, no qual o trabalho é focado, e logo após se apresenta uma breve revisão de literatura a respeito do ensino de guitarra elétrica no Brasil. O segundo capítulo apresenta como foi realizado o desenvolvimento da pesquisa. Nele, é abordado o problema de pesquisa, o tipo de estudo desenvolvido, assim como os instrumentos de coleta de dados e posteriormente a organização dos mesmos. O terceiro capítulo apresenta os dados que foram coletados a partir de entrevistas realizadas com alguns professores de guitarra elétrica da cidade e observações de aulas dos mesmos. Por fim, o trabalho é finalizado com algumas considerações finais, onde são apresentadas possíveis respostas para o problema de pesquisa e recomendações. 15 CAPÍTULO 1 – O ENSINO NÃO-FORMAL DE GUITARRA ELÉTRICA NO BRASIL O presente capítulo aborda as questões conceituais e epistemológicas que norteiam a pesquisa. O capítulo se inicia com vários conceitos de autores que discorrem sobre as modalidades de ensino que denominamos como formal, não-formal e informal. Em seguida, discute-se alguns pontos acerca da educação musical não-formal e que consequentemente remetem ao propósito do trabalho. Finaliza-se o mesmo fazendo uma análise do estado da arte do ensino de guitarra elétrica no Brasil através de uma revisão de literatura. 1.1 Acerca das modalidades de ensino Os processos de ensino/aprendizagem, ao contrário do que possa parecer, não se resume apenas a um ambiente escolar. Pode-se perceber que os mesmos acontecem em diversas situações, contextos, espaços, com diversos tipos de relação entre quem aprende, e quem ensina e em que os mesmos estão aprendendo juntos e compartilhando experiências. [...] a educação está presente em casa, na rua, na igreja, nas mídias em geral e todos nós nos envolvemos com ela, seja para aprender, para ensinar e para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver todos os dias misturamos a vida com a educação. Com uma ou várias. [...]. Não há uma forma única nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar em que ela acontece; o ensino escolar não é a única prática, e o professor profissional não é seu único praticante (BRANDÃO, 1981, p. 64). Quando se discute a questão do ensino de uma forma geral, tomamos como base a figura da escola. Fora dela, todo processo de ensino que não segue uma estrutura sistematizada como na escola é considerado não-formal e/ou informal. Vários autores discorrem sobre a diferença entre as três modalidades de ensino (formal, não formal e informal). 16 Para Libâneo, a educação divide-se em dois grupos, “intencional” e “não- intencional”. Segundo o autor, a educação formal estaria dentro do grupo da intencionalidade. O mesmo afirma que a educação formal, segue uma estrutura planejada e organizada, e diz ser a educação escolar o grande exemplo de tal modalidade. (LIBÂNEO, 1999, p.88-89). Semelhante a essa definição expressa por Libâneo (1999), Maarschalk (1988) diz que: A educação formal caracteriza-se por ser altamente estruturada. Desenvolve- se no seio de instituições próprias — escolas e universidades — onde o aluno deve seguir um programa pré-determinado, semelhante ao dos outros alunos que frequentam a mesma instituição. (MAARSCHALK apud CHAGAS, 1993. p. 32). Moacir Gadotti (2005) em seu artigo “A questão da Educação Formal/Não- formal” traz conceitos bastante diretos e objetivos a respeito do que seria educação formal. Ele concorda com o que foi dito por Maarschalk (1988). Afirma que tal estrutura necessita de uma estrutura hierárquica e burocrática, além de um currículo a ser seguido. (GADOTTI, 2005, p. 2). Concordando a definição de ensino formal por Gadotti (2005), Gohn (2006) acha necessária a demarcação dos campos de desenvolvimento em que cada modalidade de ensino atua, assim como a definição de seus objetivos, suas características, resultados esperados e a identificação do agente educador presente em cadauma. Segundo a autora, a educação formal desenvolve-se em instituições regulamentadas por lei, organizadas segundo diretrizes nacionais, onde há regras e padrões comportamentais definidos previamente, que no caso seriam as próprias escolas, que em sua visão possuem o objetivo de formar o indivíduo como um cidadão ativo, desenvolvendo habilidades, competências, criatividade, percepção, motricidade etc. Nesse contexto, para Gohn (2006) é esperada na educação formal uma aprendizagem efetiva, com a devida titulação e certificação que possibilitam um avanço a outros níveis mais elevados. A autora assegura que o agente educador presente nessa modalidade é a figura do próprio professor (GOHN, 2006, p. 2-5). A educação formal requer tempo, local específico, pessoal especializado, organização de vários tipos (inclusive a curricular), sistematização sequencial das atividades, disciplinamento, regulamentos e leis, órgãos superiores etc. Ela tem caráter metódico e, usualmente, divide-se por idade/classe de conhecimento. (GOHN, 2006, p. 4). 17 Apesar da figura da escola na maioria das vezes ser considerada o espaço em que o ensino formal acontece e se estrutura, pode-se dizer que o mesmo também pode acontecer em espaços não-formais ou informais de ensino. Para Libâneo (1999) e Gadotti (2005), mencionados anteriormente, todo ensino que acontece intencionalmente também pode ser considerado como ensino formal. Gadotti (2005) ressalta que “toda educação é, de certa forma, educação formal, no sentido de ser intencional, mas o cenário pode ser diferente [...]” (GADOTTI, 2005, p. 2). Como uma forma de ilustrar essa afirmativa, Libâneo (1999) cita dois exemplos: de atividades extraescolares que são proporcionadas por escolas (feiras, visitas, etc.) que segundo ele, são práticas não-formais, sendo que a escola é considerada uma instituição de ensino formal. Assim, o autor mostra que há intercâmbio entre o formal e o não-formal. Um outro exemplo seriam atividades que uma associação de bairro (instância de educação não-formal) promove, como um curso para mães sobre a importância do aleitamento materno, que é ministrado em três dias e que possui objetivos explícitos, métodos, conteúdos, que por sinal são considerados características da educação formal. (LIBÂNEO, 1999, p.89). Lembrando que: [...] a educação escolar convencional é tipicamente formal. Mas isso não significa dizer que não ocorra educação formal em outros tipos de educação intencional (vamos chamá-las de não-convencionais). Entende-se, assim, que onde haja ensino (escolar ou não) há educação formal (...) desde que nelas estejam presentes a intencionalidade, a sistematicidade e condições previamente preparadas, atributos que caracterizam um trabalho pedagógico- didático, ainda que realizadas fora do marco do escolar propriamente dito. (LIBÂNEO, 1999, p.88-89). Em se tratando de ensino não-formal, Libâneo (1999) implicitamente faz uma comparação com a estrutura da escola. De acordo com ele, os dois tipos de educação acontecem intencionalmente, ou seja, o que difere é o fato do ensino não-formal não possuir o mesmo grau de burocracia presente na estrutura do ensino formal. Nas palavras do autor, a modalidade de ensino não-formal abrange as “[...] atividades com caráter de intencionalidade, porém com baixo grau de estruturação e sistematização, implicando certamente relações pedagógicas, mas não formalizadas”. (LIBÂNEO, 1999, p. 89). Em consonância com a afirmativa expressa por Libâneo, Gadotti (2005) salienta que a educação não-formal é menos hierárquica e menos complicada. Ele menciona que tal educação não precisa seguir uma determinada sequência, além disso pode modificar sua duração e emitir ou não certificados. (GADOTTI, 2005, p. 2). 18 Maarschalk (1988) ratifica que a educação não-formal acontece fora da escola, geralmente envolvendo espaços cujo objetivo é ensinar a um determinado público de acordo com o seu interesse. O autor cita como tais espaços os museus, meios de comunicação, cursos livres, feiras e encontros. (MAARSCHALK apud CHAGAS, 1993). Diante isso, Gohn (2006) concorda com Maarschalk (1988), isto é, que a educação não-formal acontece fora da escola. Segundo a autora, tal educação se desenvolve através do compartilhar experiências em locais marcados pela não formalidade. Cabe destacar que Gohn (2006) concorda com a tese defendida por Libâneo (1999). Para ela a “intencionalidade” (que na educação não-formal está presente na atuação, no participar, na vontade de aprender e de ensinar ou trocar conhecimentos) é um fator de extrema importância para se compreender as diferenças existentes entre cada modalidade de ensino. A autora afirma que não há objetivos “pré-estabelecidos” na educação não- formal, tais objetivos são construídos por meio do processo de interação entre os indivíduos envolvidos e que como consequência, essa interação acaba gerando a forma de como o ensino irá acontecer. (GOHN, 2006, p. 2-3). Também nas expressões da autora, a educação não-formal não possui uma organização por critérios, tais como idade, série, conteúdo, etc., (nisso ela concorda com Libâneo (1999) e Gadotti (2005). Ela relata que essa modalidade de ensino ajuda na construção da identidade do indivíduo, além de colaborar para o desenvolvimento de sua autoestima. O agente é o “outro” com quem se interage. (GOHN, 2006, p. 3, 4). Conforme a mesma, o tema em questão, [...] forma o indivíduo para a vida e suas adversidades (e não apenas capacita- o para entrar no mercado de trabalho); [...] os indivíduos adquirem conhecimento de sua própria prática, os indivíduos aprendem a ler e interpretar o mundo que os cerca. (GOHN, 2006, p. 4, 5). Diante de tantos aspectos que caracterizam a educação não-formal, Gadotti (2005) faz uma crítica direcionada a pessoas que segundo ele, chamam impropriamente de educação informal o que seria de fato educação não-formal. Ele assegura que “a educação não-formal é também uma atividade educacional organizada e sistemática, mas levada a efeito fora do sistema formal”. (GADOTII, 2005, p. 2). Em se tratando de educação informal, Libâneo (1999, p. 90) trata a mesma como sendo não-intencional. Consoante ele, essa modalidade é o resultado do ambiente em que o indivíduo está envolvido, e os diversos meios de informações influenciam 19 diretamente em sua educação, contudo de uma forma solta, isto é, sem objetivos planejados anteriormente. Na visão de Maarschalk (1988) a educação informal acontece através do convívio com a família, amigos, colegas, entre outros aspectos; portanto, o autor certifica que tal aprendizado acontece de forma espontâneo no decorrer do dia a dia do indivíduo (MAARSCHALK apud CHAGAS, 1993). Cabe ressaltar que Gohn (2006) reforça o que foi dito por Maarschalk (1988), quando declara que o ensino informal acontece em espaços educativos demarcados por referências de nacionalidade, localidade, idade, sexo, religião, etnia etc., e que abrange família, amigos, diversos ambientes, dentre eles igrejas ou locais de culto a que se vincula crença religiosa, etc. Ele assegura que tais espaços são os próprios agentes educadores presentes em tal modalidade (GOHN, 2006, p. 2-3). Gohn apresenta características significativas que são proporcionadas ao indivíduo através da educação informal, ou seja: A educação informal socializa os indivíduos, desenvolve hábitos, atitudes, comportamentos, modos de pensar e de se expressar no uso da linguagem, segundo valores e crenças de grupos que se frequenta ou que pertence por herança, desde o nascimento Trata-se do processo desocialização dos indivíduos. (GOHN, 2006, p. 3). Na visão de Gohn, a educação informal é um processo constante, todavia não organizado, no sentido de não ter ou seguir sistematicamente uma demanda hierárquica metodológica acadêmica. Segundo a autora, o conhecimento que é transmitido já foi anteriormente vivenciado. Ela menciona que não são esperados resultados no processo de ensino informal, os devidos resultados mostram-se através do desenvolvimento do próprio indivíduo. (GOHN, 2006, p. 4, 5). 1.2 Sobre educação musical não-formal Entre tantos espaços educacionais existentes, a escola esteve como principal referência de educação em geral, e, quando se trata de educação musical na atualidade, a escola deixa de ser essa “principal referência”, já que há diversos espaços e meios de ensinar e aprender música. 20 Souza (2001) diz que crianças e jovens aprendem música nos dias atuais mais em espaços extraescolares do que na escola propriamente dita. Ele assegura que é possível o ensino e aprendizagem de música sem procedimentos tradicionais que geralmente são impostos pela escola. Araújo (2009, p. 59) soma às palavras de Souza (2001) que o contexto social em que nos encontramos atualmente, permitiu vastas possibilidades para que a educação musical se expandisse e tomasse dimensões nunca vistas anteriormente. Nas palavras de Salustino (2013): Como professor de educação musical, atuando nos espaços localizados em comunidades, ONGs, igrejas, associações de bairros, observa-se que muitos jovens buscam esses espaços, não apenas para lazer ou recreações, mas para aprendizagem efetiva de modalidades, como a música, que em algumas vezes não são oferecidas em espaços formais. (SALUSTINO, 2013, p. 16) O ensino musical não-formal vem ganhando bastante credibilidade pelo fato de não se prender tão somente a um modelo fixo de ensino. Essa modalidade permite a criação de possibilidades que admitem uma maior interação entre professor e aluno, conforto, flexibilidade no atendimento, além de abranger uma maior demanda de diversidade cultural através de metodologias diversificadas que muitas vezes o ensino formal de música não é capaz de oferecer. Garcia (2010, p. 4) afirma que é comum nos contextos não-formais o ensino musical ser entendido por muitos como “aulas de instrumento musical”, e que tanto o profissional atuante como a pessoa que se interessa pela atividade buscam a performance musical. A mesma é para eles a única forma de conhecimento musical existente, seja por vários fatores, dentre eles a falta de conhecimento ou a ideia do que seja “fazer música”. O autor supracitado ainda afirma que geralmente esses profissionais não possuem formação formal na área, são músicos que visam nas aulas mais uma fonte de renda. Cabe mencionar que Arroyo (2000) discorre sobre a importância de a educação musical contemporânea construir novas práticas que deem conta de envolver as diversas experiências musicais que as pessoas vivem na sociedade atual. Segundo ele, crianças e jovens tem contato direto com vários modos de ensino, tais como os meios de comunicação, e isso desperta neles a vontade de se aprofundar mais, o que os leva a procurar escolas ou instituições que desenvolvam o que foi absorvido por eles através da informalidade. (ARROYO apud ARAÚJO, 2009, p. 57). Os assuntos musicais a serem abordados neste contexto partem muito mais do aluno, baseando-se nos seus gostos e ambições musicais. Seus objetivos (nas aulas) são construídos no processo interativo, gerando um processo educativo, 21 e as aulas se tornam possíveis devido a um acordo prévio entre educador e educando, o qual poderá ser quebrado quando os interesses divergirem. (GARCIA, 2010, p. 5) Nas palavras de Oliveira (2003, p. 95), os ambientes onde o ensino não- formal acontece são áreas que estão em constante desenvolvimento. O autor ainda cita deficiências na formação dos educadores musicais que pretendem atuar nesses ambientes, tais como a falta de preparação e a dificuldade de planejamento (p. 97). É necessário que dentro do ensino musical abordado haja educadores qualificados para perceber e suprir as necessidades vindas de diversos públicos, que geralmente procuram nessa forma de ensino o aprendizado musical objetivo e específico, lazer, cultura entre outros (SALUSTINO, 2013, p. 24). Em relação a atuação desses profissionais, Del Ben (2003, p. 31) diz que é imprescindível que o professor domine uma gama de saberes para que o mesmo possa lidar com particularidades relacionadas ao seu trabalho. Segundo a autora, estes saberes devem ser adquiridos em sua formação. Morais (2009, p. 27) pondera sobre a importância da flexibilidade que o educador musical deve possuir nessa área, pois ele está sujeito a aulas particulares, aulas em grupo, disciplinas, projetos de extensão, projetos sociais, dentre outros. Nessa conjuntura, tais características citadas no presente texto acerca da modalidade de ensino não-formal dentro da educação musical remetem diretamente ao objetivo do trabalho que é caracterizar como acontece esse modelo de ensino no contexto de aulas particulares de guitarra elétrica na cidade de Montes Claros – MG. 1.3 O ensino de guitarra elétrica no Brasil: uma revisão de literatura De acordo com o levantamento realizado através de artigos, dissertações e trabalhos de conclusão de curso relacionados ao ensino de guitarra elétrica no Brasil, percebe-se que há uma necessidade de mais trabalhos que ampliem o referencial acerca do estudo do instrumento. Os trabalhos nos quais esse tópico é baseado foram encontrados em anais da ABEM e internet. Os mesmos estão apresentados no Quadro 1: 22 QUADRO 1: Trabalhos publicados acerca do ensino de guitarra no Brasil. Título Ano de publicação Autor Por uma proposta de currículo em guitarra elétrica 2004 Rogério Borda Gomes Por uma proposta curricular de curso superior em guitarra elétrica 2005 Rogério Borda Gomes O formal e informal no ensino e aprendizagem de guitarra elétrica em Florianópolis 2008 Thiago Grando Módolo A integração dos métodos formais e informais no ensino-aprendizagem de guitarra elétrica em Florianópolis: três estudos de caso 2009 Thiago Grando Módolo e Jose Soares O ensino de guitarra elétrica no contexto de aulas particulares 2010 Marcos da Rosa Garcia Ensino e aprendizagem de guitarra em espaços músico-educacionais diversos de João Pessoa 2011 Marcos da Rosa Garcia Processos de autoaprendizagem em guitarra e as aulas particulares de ensino do instrumento 2011 Marcos da Rosa Garcia Aulas de guitarra para crianças: dilemas e desafios 2013 Jéssica de Almeida e Ana Lúcia Louro Ensino coletivo de guitarra: um estudo sobre as metodologias e potencialidades para a iniciação musical através do instrumento 2013 André Ricardo Barros Marques e Maria Carolina Leme Joly Ensino e Aprendizagem da Guitarra Elétrica: Uma Breve Revisão da Literatura 2013 Thiago Grando Módolo e Sérgio Luiz Ferreira de Figueiredo O ensino particular de instrumento: um estudo de caso com alunos de guitarra 2013 Tiago Oliveira O ensino da “guitarra brasileira”: uma construção 2013 Rogério Lopes A formação do professor de guitarra elétrica atuante no ensino superior: uma perspectiva 2014 Thiago Grando Módolo Um panorama do ensino particular da guitarra elétrica na cidade de Natal-RN 2014 Djair Pessoa Leão A formação musical e pedagógica em quatro cursos superiores de guitarraelétrica no Brasil 2015 Thiago Grando Módolo Fonte: Internet (2016). 23 Verificando a existência de uma pequena quantidade de currículos voltados para a guitarra elétrica, Gomes (2004) explana que em seu trabalho buscou situar um debate e uma procura por indicações, a fim de construir uma matriz curricular superior em guitarra elétrica. Em sua dissertação publicada no ano seguinte (2005), o autor realizou uma pesquisa acerca da história da guitarra no Brasil, analisou documentos curriculares de cinco instituições de Ensino Superior, além de abordar assuntos referentes ao seu trabalho passado. Através de um estudo de casos com três professores de guitarra, Módolo (2008) investiga o uso dos métodos formais e informais no ensino e aprendizagem da guitarra elétrica na cidade de Florianópolis. Nas palavras do autor, os professores se preocupam com a integração de tais métodos na forma de ensinar o instrumento, além de possuir diferentes concepções sobre o ensino do mesmo. Em seu artigo publicado em 2010, Garcia (2010) expõe resultados significativos de uma pesquisa realizada no segundo semestre do ano anterior no qual buscou analisar o ensino de guitarra elétrica na cidade de João Pessoa – PB no contexto de aulas particulares. Segundo ele, foi possível verificar que, apesar do aumento de cursos e da sistematização e organização dos mesmos, a prática ainda é baseada no domínio prático da guitarra. Já no artigo publicado em 2011, o autor analisa o processo de autoaprendizagem em guitarra na mesma cidade. Conforme ele, “é possível afirmar que na autoaprendizagem se aprende perguntando, questionando, observando, reproduzindo e comparando-se a outros músicos, ídolos (modelos musicais), amigos e familiares”. (GARCIA, 2011, p. 1) Marques e Joly (2013) apontam em trabalho as vantagens do ensino coletivo de guitarra para crianças buscando fazer um levantamento e adequação de materiais utilizados nesse tipo de ensino coletivo e na musicalização infantil adaptando estes para a guitarra elétrica. Módolo e Figueiredo (2013) fazem uma breve revisão de literatura acerca do ensino e aprendizagem de guitarra elétrica no Brasil. Os autores estabeleceram quatro categorias para essa pesquisa, sendo elas: a inserção da guitarra elétrica em instituições de curso superior, a identidade brasileira da guitarra elétrica e sua inserção no contexto da música popular brasileira, estudos voltados para a prática e improvisação de músicos (guitarristas) e estudos que tratam de aspectos relacionados ao ensino e à aprendizagem 24 da guitarra elétrica. Nas palavras dos autores supracitados, há uma necessidade de mais trabalhos que ampliem o referencial acerca do estudo da guitarra elétrica. Oliveira (2013) realizou um estudo de caso com três alunos de guitarra no contexto particular. Seu trabalho teve como foco investigar a rotina de estudo da guitarra na vida cotidiana de cada aluno e como essa prática afeta os mesmos na música e em sua volta. Em sua dissertação, Lopes (2013) busca definir o que de fato seria o que denominamos “guitarra brasileira” além de elaborar uma metodologia para o ensino da mesma em que os conteúdos estejam baseados na música brasileira. Segundo o autor a guitarra brasileira é caracterizada pelo seu componente rítmico e a elaboração de uma metodologia seria possível. Módolo (2014) apresentou em seu trabalho dados preliminares da pesquisa de mestrado intitulada "A Formação dos Professores de Guitarra Elétrica em Cursos Superiores no Brasil” onde investigou a formação musical oferecida nesses cursos e de que maneira questões pedagógicas fazem parte ou não da formação oferecida. Para a escolha das instituições teve como critérios: uma instituição que oferece há vários anos Bacharelado em Música Popular com a opção pela guitarra elétrica, uma instituição que iniciou recentemente o curso de Bacharelado em Instrumento com a opção pela guitarra elétrica e uma instituição que oferece o curso de Licenciatura em Instrumento com a opção pela guitarra elétrica. Em seu trabalho de concluso de curso, Leão (2014) expõe de forma breve a evolução da guitarra elétrica até sua chegada ao Brasil, discorre sobre as dificuldades em obter materiais metodológicos e professores específicos para o ensino do instrumento nas primeiras décadas de seu surgimento no país e apresenta um panorama do ensino particular da guitarra elétrica na cidade de Natal-RN através de um questionário aplicado a 16 professores particulares do instrumento em questão da cidade. Módolo (2015) investiga a formação musical oferecida em quatro cursos superiores no Brasil que incluem guitarra elétrica, através de um estudo de caso envolvendo quatro professores de guitarra elétrica. O autor destaca vários resultados obtidos através da pesquisa, dentre eles que os professores participantes aprendem na prática a atuarem como docentes de guitarra elétrica, as aulas de grupo estão presente nas quatro instituições e proporcionam uma maior interação entre professor e aluno, dentre outros vários resultados. 25 CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA O presente capítulo apresenta a metodologia utilizada para chegar ao objetivo da pesquisa, ou seja, analisar o processo do ensino de guitarra elétrica no contexto de aulas particulares na cidade de Montes Claros – MG. O capítulo inicia-se com uma breve caracterização do estudo, abordando aspectos a respeito do universo de pesquisa em questão e, em seguida apresentará um questionário que norteia a pesquisa. Dando continuidade, são expostos os instrumentos de coleta e análise de dados utilizados na realização da pesquisa. 2.1 Universo de pesquisa A cidade de Montes Claros possui atualmente cerca de 08 (oito) escolas de música, dentre as quais cinco possuem aulas de guitarra elétrica. Não há um número exato de quantos professores particulares do instrumento a cidade possui. Também não há dados de quantos alunos são matriculados nas escolas e aulas particulares de guitarra devido ao fato de serem cursos livres com uma grande rotatividade, sem obrigatoriedade de cursar disciplinas curriculares. 2.1.1 Perguntas que nortearam a pesquisa A pergunta central que a norteia é: “Como acontece o ensino não-formal de guitarra elétrica no município de Montes Claros – MG?” A partir de tal pergunta desencadearam-se outras, sendo elas: “Qual é a metodologia utilizada pelos professores de guitarra?”, “Os professores possuem habilitação específica no instrumento?”, “Como é a relação professor/aluno?” 26 2.2 Estudo multicaso Foram realizados 08 (oito) estudos de caso com professores particulares de guitarra elétrica da cidade de Montes Claros - MG. Tal metodologia foi escolhida pois pretendeu-se analisar como ocorre o ensino do instrumento na cidade, não como um todo, pois, como se trata de um município com aproximadamente 400.000 habitantes (IBGE, 2016), supõe-se que não existam apenas oito professores particulares de guitarra em toda a cidade. Em geral, os estudos de caso representam a estratégia preferida quando se colocam questões do tipo "como" e "por que", quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real. (YIN, 2005, p. 19) Não serão expostos nomes dos professores participantes da pesquisa, sendo assim, abaixo apresento um perfil desses professores representados por números. Tais professores foram selecionados mediante a condições de busca por parte do pesquisador, tendo como critério a faixaetária (professores entre 20 a 40 anos). QUADRO 2: Perfil dos professores participantes da pesquisa. Professor 1 22 anos, ministra aulas em sua própria residência. Professor 2 23 anos, ministra aulas em sua própria residência. Professor 3 24 anos, ministra aulas na instituição de ensino denominada Ciamp. Professor 4 25 anos, ministra aulas em sua própria residência e/ou em domicílio. Professor 5 26 anos, ministra aulas na instituição denominada Villa Music e/ou em domicílio. Professor 6 27 anos, ministra aulas em sua própria residência e/ou em domicílio. Professor 7 27 anos, ministra aulas na instituição denominada Sol Maior. Professor 8 37 anos, no momento não leciona. Mora atualmente fora do país, onde exerce a profissão de músico. Fonte: Dados da pesquisa (2016). 27 2.3 Coleta de dados Como instrumentos de coleta de dados foram realizados pesquisa bibliográfica, entrevistas semiestruturadas, observações participantes, registros fotográficos além de filmagens das aulas ministradas pelos professores selecionados. 2.3.1 Pesquisa bibliográfica A pesquisa bibliográfica foi realizada durante todo o processo de desenvolvimento do trabalho, tendo como objetivo alicerçar e embasar teoricamente o assunto abordado, além de fornecer informações quantitativas, históricas e culturais acerca do ensino de guitarra elétrica no Brasil. Foram consultados trabalhos específicos que tratam sobre o ensino do instrumento no Brasil e áreas afins relacionadas ao tema, encontrados em artigos, dissertações e trabalhos de conclusão de curso. Tais publicações foram registradas através de um levantamento que foi citado na pesquisa bibliográfica. 2.3.2 Entrevistas semiestruturadas Foram realizadas entrevistas praticamente durante todo o processo de desenvolvimento do trabalho. O objetivo dessas entrevistas foi colher diversas informações acerca do desenvolvimento, metodologia, e outros aspectos referentes às aulas de guitarra. Além disso, pôde-se registrar impressões pessoais que os professores têm acerca do ensino e prática do instrumento em questão no município e região. Este trabalho abrangeu também um guitarrista que, por sua prática, conhecimento e metodologia no instrumento, é referência na cidade. Atualmente esse guitarrista reside fora do país. Foi adotado o modelo de entrevista semiestruturada, que permite que aspectos referentes ao contexto pesquisado possam ser explorados. 28 [...] por ser uma técnica face a face é possível que o entrevistador esclareça alguma pergunta ou terminologia não compreendida pelo entrevistado ou, o que é mais importante, o entrevistador pode pedir detalhes de respostas fornecidas quando são detectados fatos interessantes ou novos. (CUNHA, 1982, p.10) Tal formato permitiu que os professores entrevistados pudessem ir além do que estava no roteiro pré-estabelecido. Durante as entrevistas, o roteiro adaptava-se as características pessoais e contextuais de cada professor. Para transcrição e análise de dados, todas as entrevistas foram gravadas em áudio. 2.3.3 Observações participantes A observação participante foi a etapa mais importante da pesquisa, pois a mesma possibilitou um contato direto do pesquisador com o contexto/fenômeno pesquisado. Segundo Cunha (1982, p. 12), a observação “é o método através do qual o pesquisador capta a realidade observada”. Ainda nas palavras do autor, tal método: [...] exige bastante preparo por parte do observador, tendo em vista que o mesmo estará atento a condutas humanas, captadas através dos sentidos auditivo e visual, podendo, naturalmente, ocorrer distorções ou mesmo concentrar-se num aspecto nem sempre o mais relevante. (CUNHA, 1982, p. 12) Foram realizadas 07 (sete) observações, sendo uma observação por professor no período de 27/09/2016 a 19/10/2016. Um dos entrevistados não está atuando no momento como professor, por isso não pôde ser observado. O objetivo das observações foi analisar pessoalmente como acontece o ensino e aprendizagem de guitarra elétrica na cidade através de aulas particulares, captando também demais fatores que estejam presentes em todo o processo. 2.3.4 Fotografias Os registros fotográficos feitos no decorrer das aulas de guitarra foram de fundamental importância, pois através delas podê-se captar detalhes importantes, tais 29 como: características dos ambientes em que as aulas acontecem, equipamentos e objetos utilizados, expressões e performances, além de outros aspectos fundamentais presentes nas aulas. 2.3.5 Filmagens Os registros em vídeo foram coletados em diferentes momentos e situações das aulas, captando informações e detalhes, tais como aspectos particulares da prática com o instrumento até um diálogo entre professor e aluno, que posteriormente seriam de grande aproveitamento para a realização de uma análise de dados. Uma vantagem que este instrumento de coleta de dados proporciona é a percepção de detalhes que muitas vezes passam desapercebidos ou a que por algum outro fator não se deu muita atenção. Segundo Loizos, “o vídeo tem uma função óbvia de registro de dados sempre que algum conjunto de ações humanas é complexo e difícil de ser descrito compreensivamente por um único observador, enquanto ele se desenrola” (LOIZOS apud DURÃES FILHO, 2010). 2.4 Organização e análise dos dados Todos os dados coletados durante a pesquisa foram organizados e analisados através de instrumentos que permitiram uma clara compreensão acerca do fenômeno pesquisado, direcionando assim ao foco principal da pesquisa. Foram utilizados os seguintes instrumentos de organização de dados: constituição do referencial teórico, análise dos discursos, seleção e transcrição de entrevistas, seleção das fotografias, finalizando com a seleção e edição de filmagens. Tal processo de organização de dados somou muito ao processo de análise dos mesmos. 30 2.4.1 Análise do discurso Essa etapa teve como foco compreender o que foi dito pelos entrevistados. Partindo desse ponto de vista, interpretou-se não apenas o discurso em si, mas também as práticas discursivas. 2.4.2 Transcrição das entrevistas Depois de registradas em áudio, foi feita uma seleção das entrevistas que seriam transcritas, sendo o próximo passo transformar as mesmas em registros escritos. A fim de apresentar as características pessoais de cada entrevistado, opta-se em preservar as palavras e expressões por eles ditas, pois assim poderia de forma mais clara apresentar o universo pesquisado. Vale lembrar que não é uma tarefa fácil transformar em texto algumas expressões verbais, uma vez que as mesmas apresentam certas implicações que dificultavam na codificação. 2.4.3 Seleção das fotografias Foram selecionadas fotografias que apresentassem visualmente aspectos que facilitassem a análise e compreensão do universo estudado. Através das fotografias escolhidas foi possível registrar momentos específicos das aulas de guitarra, assim como características de instrumentos musicais, diversidade de equipamentos, materiais usados na realização das aulas, ambiente em que as aulas acontecem, etc. 31 2.4.4 Seleção e edição das filmagens Foram registrados em vídeo momentos específicos das aulas de guitarra. Tais momentos envolvem desde diálogos a exercícios passados pelo professor ao seu aluno.32 CAPÍTULO 3 – RESULTADOS DO ESTUDO MULTICASO O presente capítulo visa analisar e discutir os dados obtidos através das entrevistas e observações realizadas com professores de guitarra elétrica da cidade de Montes Claros participantes da pesquisa. Através de uma coleta anteriormente realizada, pôde-se obter informações que contribuirão na compreensão de como o ensino de guitarra elétrica acontece na cidade. Durante o capítulo não serão citados os nomes dos professores por motivos éticos; sendo assim, os mesmos foram identificados como “Professor 1”, “Professor 2”, e assim consecutivamente. 3.1 Análise das entrevistas 3.1.1 Perfil dos professores participantes Foram entrevistados 08 (oito) professores do gênero masculino que atuam no contexto não-formal de ensino de guitarra elétrica, que é caracterizado pelo ensino nas escolas de música de cursos livres e/ou residências em Montes Claros, sendo a faixa etária dos entrevistados entre 22 a 37 anos de idade. A maioria dos entrevistados atuam e residem na cidade, exceto um deles, que atualmente mora nos Estados Unidos, onde atua apenas como músico. Como citado anteriormente, esse professor foi referência de guitarra na área do ensino e performance na cidade, portanto, foi decidido que tal professor seria incluído na pesquisa. 33 3.1.1.1 Escolha da profissão Os entrevistados tiveram respostas bem parecidas em relação à escolha da profissão de “professor de guitarra”. Segundo eles, os fatores que os influenciaram estão basicamente relacionados ao prazer em ensinar, à paixão pela guitarra, influência por parte da família, e junto à questão financeira. Nas palavras do professor 4: “[...] eu penso assim, tipo em expor mesmo tudo que eu tenho, tudo que eu aprendi não é pra mim reter. Acho que a principal função do educador, eu acho, do ser humano assim, é poder passar né cara.” (Professor 4, 2016). O professor 3 diz que o que o motivou foi “o prazer, a paixão, o amor pela guitarra e o ver nos olhos das pessoas quando você mostra alguma coisa que você sabe e ela se identifica e fica feliz com isso.” (Professor 3, 2016). O professor 8 diz que: [...] a primeira coisa é o fato de tá reciclando [...] eu absorvia o material, eu já queria já transferir aquele conhecimento, e com isso eu ia, eu ia tá solidificando a ideia do que eu já tinha estudado né, essa foi a primeira coisa, é... ter mais uma fonte de renda foi outra [...] (Professor 8, 2016) Segundo relato do professor 2: “Minha família já vem de um histórico de músicos né, minha irmã é professora de música, meu pai é musico, nasci num cenário musical. Desde pequeno já tive essa vocação [...] comecei exercer a função, tocar, e tô até agora [...]” (Professor 2, 2016). 3.1.1.2 Influências Ao discorrerem sobre suas influências na guitarra, os professores entrevistados demonstraram ser bastante ecléticos em relação a estilos, timbres e épocas diferentes. Foram citados guitarristas brasileiros renomados, dentre os quais tiveram destaque: Edu Ardanuy, Kiko Loureiro e Juninho Afram. Os professores 4 e 8 fazem menção a dois desses guitarristas ao relatarem: “Eduardo Ardanuy que é um guitarrista que eu sou... assim, pra mim é um dos melhores guitarristas do mundo [...] não tem como guitarrista brasileiro não ser influenciado por Kiko Loureiro né [...]” (Professor 4, 2016). 34 [...] acho que a minha maior influência na guitarra foi o Kiko Loureiro por vários motivos: o contato que eu tive com ele, aquele contato direto, eu aprendi muito com ele, então a gente tinha uma relação de amizade. Então eu pude ver muita coisa de perto, foi, foi o que me ajudou, na verdade não foi nem tanto na guitarra mas a forma de como ele pensa... ah..., na música eu acho que foi uma grande influência [...] (Professor 8, 2016) Na visão do professor 2, a questão da influência depende de fases. Segundo ele “a influência de todo guitarrista evangélico é o Juninho Afram, do Oficina G3. Aí, a partir que fui amadurecendo mais, eu fui encontrando meu estilo [...]” (Professor 2, 2016). Sabe-se que muitos guitarristas brasileiros são influenciados por guitarristas de outros países, e não foi diferente com os professores participantes da pesquisa. Além dos guitarristas brasileiros citados anteriormente, também se fez menção aos guitarristas Steve Vai, Yngwie Malmsteen, John Petrucci, Frank Gambale, Eddie Van Halen, B. B. King, Joe Satriani, Andy Timmons, Jimi Hendrix, dentre muitos outros também renomados no instrumento em questão. GRÁFICO 1: Influência dos entrevistados. Fonte: Dados da pesquisa (2016). Percebe-se no Gráfico 01, que a maior parte dos professores de guitarra de Montes Claros participantes da pesquisa são influenciados por guitarristas de outros países. Guitarristas de outros países 75% Guitarristas brasileiros 25% 35 3.1.1.3 Formação A formação docente dos entrevistados está baseada em conservatórios, escolas de música, graduação em música, aulas particulares com outros professores e autodidatismo. Os conservatórios estão localizados nas cidades de Montes Claros - MG e São Paulo - SP. A escola de música está situada em Belo Horizonte – MG e as Universidades são pertencentes também às cidades de Montes Claros e Belo Horizonte, além de cursos a distância. GRÁFICO 02: Formação dos entrevistados. Fonte: Dados da pesquisa (2016). 3.1.1.4 Tempo de experiência Todos os professores entrevistados relatam ter começado a dar aulas no período de sua juventude, por volta dos 17 a 26 anos de idade. Analisando o tempo em que ministram aulas de guitarra elétrica em Montes Claros, chegamos a média de 6 meses a 17 anos de aulas do instrumento em questão. 23% 29%18% 12% 12% 6% Conservatório Aulas particulares Graduação em Música Formação em outra área Autodidata Escolas de música 36 GRÁFICO 3: Tempo de experiência como professor de guitarra. Fonte: Dados da pesquisa (2016). No Gráfico acima é possível perceber o tempo de experiência de cada entrevistado como professor de guitarra. Os números nas barras azuis em vertical representam os anos ou meses (Exemplo: 1 “um ano”, 0,1 “um mês”). 3.1.1.5 Atuação no mercado Além de aulas de guitarra, todos os professores atuam no mercado em variados segmentos pertencentes ao meio musical, tais como: aulas de outros instrumentos, músico da noite, gravações em estúdio, workshops, bandas autorais, covers e produção musical. Dos entrevistados, três não tem sua renda baseada apenas em aulas de guitarra ou atividades que girem em torno da música. Nas palavras do professor 1: “Trabalho em uma loja de instrumentos musicais no setor de vendas. Por preferência, preferi não viver de música diretamente, acaba sendo uma renda extra pra mim, mas meu trabalho mesmo é com vendas na loja de instrumentos musicais.” (Professor 1, 2016). Para o professor 6 “[...] geoprocessamento é que gera mais renda, é o meu carro chefe.” (Professor 6, 2016). O professor 7 diz fazer “alguns trabalhos com móveis e artigos em madeira, também trabalho no buffet dos meus pais [...]” (Professor 7, 2016). 3 6 3 5 8 7 0,6 17 37 3.1.2 Características referentes às aulas de guitarra elétrica na cidade 3.1.2.1 Locais de atuação Segundo o relato de alguns professores em relação ao local das aulas, os mesmos afirmamque trabalham de forma autônoma. Sendo assim, essas aulas acontecem em sua própria residência ou na casa do aluno. A escolha do local das aulas depende de um acordo feito entre as partes. Então, minhas aulas de guitarra são ministradas ou na minha residência ou na residência do aluno, entende? Fica a critério do aluno, assim, alguns alunos eu atendo lá em casa né, na minha casa mesmo e tal, e ou dependendo do interesse do aluno, eu vou até a casa do aluno mesmo e ministro as aulas. (Professor 4, 2016) Outros professores dizem ministrar aulas apenas em sua própria residência e/ou escola de música de cursos livres, pois acreditam que o tempo que gastam se locomovendo de uma casa de aluno para outra, é equivalente ao tempo em que poderiam estar dando outra aula, então, não é viável para eles. Como diz o professor 8: [...] cara, tive várias fases de, eu ia na casa do aluno no início, depois eu já vi que não era tão viável porque eu perdia muito tempo pra ir de um ponto até o outro. Então era mais fácil pros alunos virem até minha casa [...] (Professor 8, 2016). Ainda segundo ele: [...] dava aula no meu quarto mesmo e, é a coisa começou a evoluir, tive que mudar depois. Eu aluguei uma sala, é, ai cê já começa, ter, ter que enfrentar problemas [...] ai já entra questão grana no meio, cê tem que pagar aluguel, aquela coisa toda, ah eu já, ai eu já comecei a sentir, eu falei: não! (Professor 8, 2016) O mesmo professor cita em seu relato que chegou a abrir sua própria escola de música, porém por motivos financeiros (aluguel do ponto, contas, etc.) foi obrigado voltar a dar aulas em casa. 38 3.1.2.2 Equipamentos utilizados Em relação aos equipamentos utilizados nas aulas, estão presentes: guitarras, pedais, amplificadores, cabos, afinador, metrônomo, notebook, aparelho sonoro para reprodução das Backing Tracks (Playbacks) e quadro branco. O professor 3 chega a citar a importância de um microfone para a voz quando necessário. Em seu relato, o professor 4 diz que, se a aula acontecer em sua residência, não tem necessidade do aluno levar seu próprio equipamento (a menos que o mesmo faça questão), pois ele fornece todo o suporte necessário para que a aula aconteça e consequentemente o conforto do aluno: “[...] se for na minha residência, aí eu já tenho todo o equipamento [...] na minha casa não é necessário o aluno tá deslocando com esse equipamento, lá em casa já tem todo o suporte.” (Professor 4, 2016). Alguns professores não utilizam pedais de efeitos nas aulas, para estes, apenas a guitarra, um cabo e o amplificador resolvem o problema. O professor 8 discorda do pensamento destes quando discorre sobre a utilização de pedais de efeitos nas aulas: [...] não tem como eu falar pro cara: “ah o pedal de Chorus... ah”, e descrever por exemplo o efeito sem a pessoa ouvir né... “a, são duas linhas de guitarra, uma é levemente desafinada” ... o cara, é, ele pode tentar entender mas, quando ele escuta o pedal de Chorus, ele vai unir a teoria com a pratica, então eu fazia questão de ter esse equipamento pra poder mostrar [...] (Professor 8, 2016) Nas palavras do mesmo: [...] eu era bem cuidadoso com relação a isso, comprava, comprei móveis né, ia nas lojas especializadas, escolhia os móveis tipo, quais são as tendências, os móveis modernos e tudo mais pra dar um conforto pra pessoa que tava ali estudando [...] eu queria que ela sentisse a vontade, então eu comprava os móveis deixava tudo, ah... organizado [...] pra gerar essa, esse conforto e fazer a pessoa se sentir à vontade quando ela tivesse estudando né, então um lugar arejado com equipamento bacana pra que, pra ela sentisse motivada a continuar e não o contrário né . (Professor 8, 2016) Acima, o professor faz menção a itens interessantes em relação as aulas, aos quais a maioria dos entrevistados não faz menção. O professor não só se preocupa com o conforto do aluno, mas também com relação à estética e contemporaneidade do local das aulas. O mesmo considera os móveis presentes no espaço como equipamento essencial para que a aula aconteça. 39 3.1.2.3 Valores cobrados Segundo os entrevistados, geralmente os alunos fecham o pacote com 04 (quatro) aulas, sendo 1 hora/aula por semana. Há casos em que os alunos preferem fazer mais de uma aula por semana, consequentemente, há um acréscimo no valor. Nas palavras do professor 7: “na escola o valor cobrado na presente data é R$ 90,00 por mês, uma aula semanal, e R$ 150,00 por mês, duas aulas semanais. O pagamento é feito no ato da matricula.” (Professor 7, 2016). O professor 4 diz que, se o aluno preferir fazer as aulas em sua própria residência, ele cobra uma taxa de deslocamento, que como citado anteriormente, acaba tomando do profissional um tempo que seria equivalente a outra aula que o mesmo poderia estar ministrando: “[...] pra eu poder tá deslocando até a casa do aluno eu cobro a taxa de deslocamento que é um acréscimo de R$ 50,00 na mensalidade.” (Professor 4, 2016). Em suas respostas, alguns professores dizem cobrar especificamente por aula, a não ser que o aluno prefira pagar por mês. Em caso de escolas de música, o pagamento é feito no ato da matrícula, e se em residência ou domicílio, o pagamento é adiantado na primeira aula. Abaixo segue o Gráfico 04 especificando o número associado aos entrevistados (eixo vertical) juntamente aos valores cobrados pelos mesmos (eixo horizontal). GRÁFICO 04: Valores cobrados. Fonte: Dados da pesquisa (2016). 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 80,00 mensal 20,00 hora/aula 120,00 mensal 150,00 / 200,00 mensal 40,00 hora/aula 150,00 mensal 90,00 / 150,00 mensal 150,00 mensal 40 3.1.2.4 Tempo de curso Ao analisar a duração dos cursos de guitarra elétrica oferecidos pelos professores entrevistados, nota-se uma grande variedade de ideias uma vez que, se trata de profissionais que atuam de forma autônoma. Segundo respostas fornecidas, o tempo estimado para duração do curso, em sua maioria, é livre. Alguns professores dizem não estimular um tempo determinado por trabalharem com pessoas com diferentes dificuldades. Conforme, o professor 8, cada aluno tem um ritmo próprio de aprendizagem, por isso não é lícito estimular um tempo e moldar o aluno no mesmo. [...] algumas pessoas elas tinham um ritmo mais rápido, outras, ah, um pouco mais lento o que não quer dizer que uma é melhor que a outra né, eu por exemplo, eu sou bem metódico, então assim eu preciso entender aquilo não importa o tempo eu preciso entender e algumas pessoas eu percebi assim elas [...] (Professor 8, 2016) Nas palavras do professor 2, seu curso é livre, porém ele sempre adverte ao aluno que, três a quatro meses de curso é o necessário para que ele já saia tocando seguro do que está fazendo, podendo assim caminhar com suas próprias habilidades, sem precisar mais gastar dinheiro com aulas. Geralmente eu mesmo falo com os alunos que o tempo máximo que eles ficam aqui é de 3 a 4 meses [...] ai depois que eles aprendem esses 4 meses as vezes podem caminhar com as próprias pernas, não tem necessidade de ficar vindo aqui e aula começar ser muito repetitiva [...] (Professor 2, 2016) Outros professores dizem estimular um tempo de duração do seu curso. Alguns trabalham com contrato, como é o caso do professor 4. Segundo ele, seu curso tem uma duração mínima de seis meses, e caso o aluno decida parar com as aulas antes de completar os seis meses, o mesmo assina uma rescisão de contrato. O professor 3 afirma que o tempo de duração do seu curso de guitarra elétricaé baseado em suas apostilas. No relato do professor, o mesmo diz seguir os módulos das apostilas, assim que finalizam uma apostila, passam para a outra. Tendo passado por todas as apostilas, o curso é finalizado também. De acordo com o professor 7, na escola especializada em que o mesmo ministra aulas, o curso de guitarra tem duração de dois anos, e ao final do curso o aluno recebe um certificado. 41 O ensino formal também certifica, mas a diferença entre as certificações é que uma é legitimada exclusivamente pelo Estado. 3.1.2.5 Demanda de alunos Em relação ao número de alunos que fazem aulas de guitarra com os professores participantes da pesquisa, podemos totalizar cerca de 50 (cinquenta) que são frequentes, sendo que, varia entre 03 (três) a 15 (quinze) alunos por professor. Alguns fatores, tais como a falta de tempo, contribuem para que esse número não seja maior, assim como cita o professor 4: “[...] volta e meia surge é, novos alunos, interesse, novos interessados e tal, mas devido à falta de tempo não dá pra poder tá atendendo.” (Professor 4, 2016). Segundo relato da maioria dos entrevistados, a rotatividade, os períodos de férias e a própria desistência dos alunos são pontos que eles consideram negativos nas aulas, pois, acabam desestabilizando financeiramente o professor. Os mesmos relatam que muitas vezes ficam receosos de fazer compromissos confiantes na renda provinda das aulas de guitarra pois, muitas vezes ela é incerta. 3.1.2.6 Formato de aulas Outro assunto abordado foi a questão de aulas coletivas. O professor 5 ministra aulas em turma com no máximo 03 (três) pessoas, pois acredita que com esse número ainda é possível manter o rendimento da aula. Já o professor 6, além de professor de guitarra, ministra aulas de geografia para turma de em média 40 (quarenta) alunos. Sendo assim, o mesmo afirma não ter dificuldades em aplicar aula para um número maior de alunos, além disso, procura oferecer promoções para que possa aumentar a quantidade de estudantes de guitarra e consequentemente sua renda mensal: “[...] as aulas vai depender do acordo firmado. Se o aluno conseguir mais de uma pessoa ele tem desconto, isso facilita pra mim e pro aluno [...] já tô acostumado com aula de 40 alunos, eu não tenho problema com isso.” (Professor 6, 2016). 42 Todos os professores entrevistados deixaram registradas suas opiniões a respeito de aulas individuais e aulas em turma. Para a maioria, as aulas individuais proporcionam um maior contato entre o professor e aluno, e esse contato possibilita um maior rendimento e aproveitamento da aula, uma vez que, a atenção é inteiramente voltada para o aluno e mais ninguém. Nas palavras do professor 8, “[...] eu queria ter um contato direto eu não queria dividir entre 2, 3, 4 alunos né eu queria entender o, o interesse assim pô meu interesse é nisso [...] o cara chega e fala eu quero isso aí a gente vai estudar aquilo a gente vai focar naquilo [...]” (Professor 8, 2016). Segundo o professor 4 é “indiscutível que a aula particular ela é bem mais produtiva né pro aluno, com certeza a absorção do aluno do conteúdo e a sua atenção, a atenção do professor é totalmente voltada pro aluno com certeza o resultado é bem maior [...]” (Professor 4, 2016). Para o professor 5 a aula “individual é bacana pela atenção total que você tem do professor e tá com o tempo totalmente disponível só pra você pra tirar dúvidas esse tipo de coisa.” (Professor 5, 2016) Outros professores deixaram claro pontos positivos e negativos em relação a aulas de turma. Na visão destes, aulas de turma proporcionam uma troca de conhecimento entre pessoas com diferentes experiências e gostos musicais, e que isso acaba somando ao aprendizado. Por outro lado, esse formato é desgastante e trabalhoso para o professor de guitarra e até para os próprios alunos, uma vez que, alguns professores podem não conseguir dividir sua atenção para mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Pode acontecer também de possuir alunos com níveis musicais e técnicos diferentes, podendo assim travar o avanço da aula. Para o professor 5 “a aula em turma é interessante por outro lado pela troca de experiência que você pode ter com os colegas e tocar em grupo né? A parte da prática de conjunto ela funciona melhor na turma do que na aula individual.” (Professor 5, 2016). O professor 7 diz que “os alunos não tem o mesmo perfil e nem a mesma facilidade que outros. Então quando tem mais de um, a não ser que sejam muito bons, a aula nunca rende.” (Professor 7, 2016). [...] devido esse desnível, assim, do aprendizado dos alunos, acabam que a gente sempre tem que ta, é, dando atenção a mais pra aqueles que vão ficando pra trás pra poderem ta desenvolvendo junto com os outros e tal e por isso que acaba não podendo aplicar mais [...] (Professor 4, 2016) Segundo o professor 1: 43 Eu acho que cada aluno tem um desenvolvimento, um processo, uns pegam mais fácil, outros com mais dificuldade, sempre da diferença de um aluno pro outro. Em casos específicos dou aula em grupo, por exemplo, tenho alunos que são pai e filho, mas não gosto de dar aula em turma não. (Professor 1, 2016) Segundo o professor 3 “[...] a aula em turma é interessante pra você poder visualizar. Várias cabeças pensando te desperta mais conhecimento pra que você possa cair de cara na área.” (Professor 3, 2016). 3.1.2.7 Interesse em aulas Em relação ao interesse dos alunos em procurarem as aulas de guitarra, os professores apresentaram vários fatores que remetem à procura pelas mesmas, dentre eles o aprimoramento da técnica e o saber improvisar. Esses fatores atribuem ao guitarrista uma certa segurança na hora de tocar. Segundo três professores, a maior parte dos alunos que os procuram interessados em aulas quer aprender a solar, alunos estes que não têm nenhum conhecimento acerca de escalas e outros conteúdos necessários para a prática desejada. Nos relatos dos professores 2 e 5, os alunos que procuram suas aulas geralmente têm um certo conhecimento acerca do instrumento, porém buscam aperfeiçoar esse conhecimento a ponto de poder ter o controle do instrumento sem apresentar dificuldades. De acordo com outros professores, o interesse dos alunos são os mais variados possíveis. Tem alunos que buscam as aulas tendo o instrumento apenas como um hobbie, outros procuram as aulas com um certo interesse e com o decorrer do tempo vão se interessando em aprender mais. Há ainda alunos que chegam com objetivos específicos. Assim como discorre o professor 7: “[...] A grande maioria quer tocar apenas por lazer ou até terapia. Alguns só querem aprender o básico e outros já estudam teoria. Também tem aqueles que querem aprender uma música específica e acabam se interessando por tudo.” (Professor 7, 2016) [...] tem outros alunos que já entram no curso com intuito de aprender técnicas de palhetada, palhetada sweep, palhetada híbrida, palhetada alternada, enfim... já tem outros que já querem aprender improvisação, já outros que querem aprender é acordes, harmônica, progressão harmônicas, acordes substitutos e tal e enfim. (Professor 4, 2016) 44 O professor 3 faz um comentário interessante quando diz que: “Tem gente que fantasia muito ver a pessoa em cima do palco e quer fazer igual” (Professor 3, 2016). Segundo ele, esses alunos simplesmente se inspiram em outros guitarristas famosos em performances de shows e isso desperta neles o desejo de tocar guitarra. 3.1.2.8 Divulgação das aulas Em tratando de como os professores divulgam suas aulas de guitarra,
Compartilhar