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DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

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FACULDADE PARAÍSO DO CEARÁ
Kelly de Sousa Góis Araújo
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA:
a inclusão da matéria processual no Novo Código de Processo Civil
Juazeiro do Norte
2017
Kelly de Sousa Góis Araújo
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA:
a inclusão da matéria processual no Novo Código de Processo Civil
Projeto de pesquisa apresentado ao Grupo de Pesquisa de Direito Empresarial da Faculdade Paraíso do Ceará.
Orientador: Professor Pedro Jorge Monteiro Brito
Área de Concentração: Direito Empresarial
Juazeiro do Norte
2017
Kelly de Sousa Góis Araújo
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA:
a inclusão da matéria processual no Novo Código de Processo Civil
Projeto de pesquisa apresentado ao Grupo de Pesquisa de Direito Empresarial da Faculdade Paraíso do Ceará.
Área de Concentração: Direito Empresarial
Juazeiro do Norte, 26 de maio de 2017
A minha família por todo
 o incentivo, em especial
 aos meus pais, fontes
 de inspiração.
AGRADECIMENTOS
 Ao meu orientador, Prof. Pedro Jorge Monteiro Brito, que tanto me apoiou e auxiliou para que a realização deste trabalho se concretizasse.
. rof.______________________________________________________________
______kkkkkkclvkfnjnvmkn,mfnvkfnmkvnckjnvkmnbmc nmbdnbmnn m
RESUMO
A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica que se utiliza de fontes primárias, com o objetivo de analisar o processo de inclusão do procedimento da Desconsideração da Personalidade Jurídica no Novo Código de Processo Civil, e, portanto da matéria processual, vez que no Código de Processo Civil de 1973 havia uma grande lacuna deste. Durante a vigência do falecido Código, a desconsideração só encontrava previsão legal na legislação material, ou seja, no Código Civil, e dessa forma faltava um parâmetro para que os juízes de todo Brasil viessem a aplicar a desconsideração. A proposta de desenvolver estudos acerca de tal omissão adveio do fato de a desconsideração da personalidade jurídica ser um instrumento indispensável, visto que tem por escopo mostrar como deve se dar a realização da feitura da desconsideração da personalidade jurídica, tendo em vista que o Código Civil demonstra os casos que dão ensejo ao referido instrumento, para que os sócios que a compunham venham a responder por dívidas contraídas pela mesma, de maneira que há um desprezo momentâneo da autonomia que rege os institutos da pessoa jurídica e de seu sócio, bem como muitas vezes para que haja a execução dos bens de certos sócios, e consequentemente a satisfação da dívida de um determinado credor. Atingidos esses objetivos, foi possível constatar a relevância e aplicabilidade dessa proposta, já que com o advento do Novo Código de Processo Civil, os magistrados possuem um norte de como deverá ser o procedimento da desconsideração da personalidade jurídica, e, portanto há a coibição de qualquer possibilidade de alvedrio por parte daquele que tem o dever de aplicar a lei, o juiz.
Palavras-chave: Desconsideração da personalidade jurídica. Inclusão. Procedimento. Lacuna. Matéria processual. Novo Código de Processo Civil. 
ABSTRACT
The methodology used was the bibliographic review that is used from primary sources, with the purpose of analyzing the process of inclusion of the procedure of Disregarding the Legal Personality in the New Code of Civil Procedure, and therefore of the procedural matter, rather than in the Process Code 1973 there was a major gap in this. During the validity of the deceased Code, disregard only found legal provision in the material legislation, ie, in the Civil Code, and thus lacked a parameter for judges throughout Brazil to apply the disregard. The proposal to develop studies about this omission came from the fact that the disregard of the legal personality is an indispensable instrument, since its purpose is to show how the realization of the lack of consideration of the legal personality should be made, considering that the Civil Code Demonstrates the cases that give rise to the said instrument, so that the members that compose it will respond for debts contracted by the same, so that there is a momentary contempt of the autonomy that governs the institutes of the legal person and its partner, as well as many For the execution of the assets of certain partners, and consequently the satisfaction of the debt of a certain creditor. Once these objectives were achieved, it was possible to verify the relevance and applicability of this proposal, since with the advent of the New Code of Civil Procedure, magistrates have a common understanding of what should be the procedure for disregarding legal personality, and therefore there is a any possibility of alvedrio on the part of the one who has the duty to apply the law, the judge.
Keywords: Disregard of legal personality. Inclusion. Procedure. Gap. Related searches New Code of Civil Procedure.
1 INTRODUÇÃO
	
A desconsideração da personalidade jurídica (COELHO, p. 55, 2015) não é algo pubescente na legislação brasileira, sendo um tema já bastante conhecido no meio jurídico e até mesmo bastante utilizado. Todavia, antes da entrada em vigor do Código de Processo civil de 2015 (BRASIL, p. 351, 2016), o conhecimento pelos juristas acerca do referido tema era apenas de ordem material, visto que a única previsão do supramencionado incidente se encontrava no Código Civil de 2002, mais precisamente no seu artigo 50 (BRASIL, p. 160, 2016).
Devido à omissão do legislador acerca da matéria processual em relação à desconsideração da personalidade jurídica, viu-se a necessidade de haver o suprimento da mesma.
O responsável pelo desaparecimento de tal escassez foi justamente o Novo Código de Processo Civil, que se dedicou à matéria nos artigos 133 ao 137 (BRASIL, p. 374-375, 2016), tendo em vista que, como se verá neste trabalho, antes o único apetrecho a estatuir o incidente de desconsideração da personalidade jurídica era a jurisprudência.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1. O QUE É A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
Pode-se conceptualizar a desconsideração da personalidade jurídica como o evento, ainda que temporário, que possui como escopo fazer com que uma pessoa física responda às suas próprias expensas pelas obrigações da pessoa jurídica pela qual é sócio, devido à subsistência de desvio de finalidade ou confusão patrimonial (COELHO, p. 64 e 67, 2016).
Consoante o ser humano é tendencioso a buscar alternativas com fulcro de eximir-se de suas responsabilidades, é notório que quando o mesmo contrai dívidas, procura outras saídas para não ser solvente para com seus credores. Uma delas é exatamente a de se aproveitar do fato de que sua responsabilidade perante a pessoa jurídica pela qual é sócio se dá apenas de forma subsidiária, havendo a separação dos bens que constituem o patrimônio da sociedade e os que integram o patrimônio dos seus associados, o que leva estes às vezes a contrair dívidas em benefício da pessoa jurídica, mesmo com esta sendo insolvente, gerando assim uma verdadeira fuga dos credores pelo qual se encontra diretamente ligado. 
Quando tal fenômeno acontece, os credores da sociedade ficam com bastante receio de não terem sua dívida quitada, e, portanto ficar com um prejuízo muitas vezes bastante considerável. É aí que tem vez o referido instrumento do prezado trabalho, qual seja a desconsideração da personalidade jurídica. Este é o meio pelo qual irá haver o afastamento provisório da regra da autonomia patrimonial dos bens sociais e dos de seus sócios, ocasionando então a quebra da regra da responsabilidade que é atribuída aos sócios da pessoa jurídica, tendo em vista que a empresa é insolvente, porém seus sócios não.
O que muitas pessoas pensam equivocadamentee de maneira inverídica é que com o estabelecimento da desconsideração, a própria sociedade perde sua personalidade, porém, o que ocorre é a desconsideração da regra da autonomia patrimonial, e esta é de maneira episódica e temporária (COELHO, p. 65, 2015). Não é permanente. Um dia, ao menos em regra, ela (autonomia patrimonial) voltará a reinar. 
Outro mito comercial é o de que com o mesmo instituto o patrimônio do sócio passará a arrogar por toda e qualquer obrigação da sociedade. Isso não ocorre. Tanto é que as obrigações contraídas pela empresa serão suportadas por esta e por seu patrimônio social, de maneira que o sócio só irá responder diante de um caso e de um credor específico.
Vale mencionar que a desconsideração da personalidade jurídica não faz com que todos os credores da pessoa jurídica venham a se beneficiar dela, e sim e tão somente àquele que a requerer ou ao que o juiz analisando o caso concreto decrete.
Com isso pode-se perceber que a pessoa jurídica não deixa de ter personalidade e nem responsabilidade, tanto é que seus direitos e obrigações subsistem (COELHO, p. 25, 2015). O que ocorre é apenas um ocasional desvio de responsabilidade da pessoa jurídica, tendo em vista que seu sócio vai responder com o seu próprio patrimônio por dívidas contraídas pela empresa, que é insolvente, porém a recíproca não ocorre.
Como as obrigações pertinentes da sociedade subsistem, é ela que continua incumbida dos seus encargos adquiridos, e não seus sócios. Seu sócio responderá por dívida da empresa de forma isolada, em um caso a parte, contra um credor específico, e não em relação a todas as suas dívidas e obrigações. 
A desconsideração pode ser utilizada com multíplice amplitude, inclusive em relação às dívidas trabalhistas, previdenciárias, nas relações de consumo e nas relações de causação de danos ao meio ambiente, deixando de lado temporariamente a separação que há entre o patrimônio societário e o patrimônio dos seus sócios, fazendo com que ao invés de os mesmos responderem de forma subsidiária, que é a regra, respondam de forma direta.
Existem doutrinas que pregam que não há autonomia entre as posses da empresa e a de seus sócios, porém, se trata de doutrina minoritária, tendo em vista que prevalece que há sim separação destes patrimônios (COELHO, p. 33-34, 2015). Se assim não sucedesse, os indivíduos teriam o receio de constituírem sociedades (COELHO, p. 61, 2015), de forma que o número de sociedades existentes cairia muito, e consequentemente o capital especulativo viria a diminuir.
Assim, os bens que guarnecem a pessoa jurídica, integram o seu patrimônio, não tendo qualquer vinculação, então, com o patrimônio de seus sócios. Como por exemplo: Lucas tem dois filhos e uma esposa. Lucas é sócio de uma transportadora. Sendo assim, os caminhões que pertencem à transportadora pela qual Lucas é sócio são para uso exclusivo da transportadora, e pertencem ao patrimônio desta, e não ao patrimônio de Lucas, pessoa física. Ou seja, a propriedade dos bens é da pessoa jurídica, configurando assim patrimônios esquivos e singulares.
Devido a essa separação dos patrimônios da empresa e os de seus sócios, os sócios até respondem por dívidas relativas à empresa, porém não de forma direta, e sim com o caráter de subsidiariedade, de forma que é preciso primeiro esgotar o patrimônio social, para depois extrair o de seu sócio, onde o mesmo pode invocar o benefício de ordem (COELHO, p. 50, 2015). Há previsão legal no artigo 795 do Código de Processo Civil (BRASIL, p. 449, 2016), e também no artigo 1024 do Código Civil (BRASIL, p. 478, 2016).
O padrão é que os sócios da pessoa jurídica não se encarreguem pela quitação dos débitos desta, justamente por haver essa independência que há entre os seus patrimônios, o que faz com que o patrimônio societário responda por dívidas atinentes à sociedade. Acontece que como para toda regra há exceção, pode de maneira não cotidiana, e sim de forma excepcional, haver o inverso, ou seja, o sócio responder com os seus respectivos bens por dívidas adquiridas pela empresa, havendo então uma mitigação do princípio da autonomia patrimonial alusiva aos estabelecimentos empresariais.
Assim, o intento da desconsideração é o de evitar o cometimento de fraudes pelas pessoas jurídicas se valendo da proteção que é dada em detrimento da separação do patrimônio social do das pessoas que são seus componentes (COELHO, p. 60-61, 2015), com vista a se esquivar de eventual execução sobre seus bens (os da pessoa física), para que o credor não sofra os efeitos do inadimplemento em relação às dívidas contraídas pela empresa.
Sendo assim, não ocorre a retirada da personalidade da pessoa jurídica, e muito menos o fim da separação do patrimônio social do de seus associados (COELHO, p. 63-64, 2015). O sentido de haver a desconsideração da personalidade jurídica é apenas o de reprimir e impedir o cometimento de ardil pelas pessoas jurídicas. O que é realizado é apenas um desabono episódico, com vistas a evitar fraudes de sócios de pessoas jurídicas que se valem da autonomia patrimonial que lhes é dada em relação ao patrimônio social. A desconsideração é então imprescindível, pois sem o esquecimento episódico da separação patrimonial, a prevenção de fraude contra credores ou fraude a execução restariam infrutíferas.
Fábio Ulhoa Coelho sustenta que para que haja a desconsideração não basta a simples inadimplência dos débitos da pessoa jurídica para com seus credores (COELHO, p. 69, 2015). É preciso mais. É preciso que tal inadimplemento se realize porque a pessoa jurídica se vale do fato de que os recursos de seus sócios não poderão responder por tais débitos, e sendo assim uma eventual execução não recairá sobre seus bens, e sim, e tão somente só para com os bens sociais, porém, sem haver solvabilidade. Ou seja, tem que haver a má-fé de se valer do instituto da autonomia patrimonial para não cumprir com seus débitos perante seus credores.
Contudo não há vicissitude sempre na aplicação da desconsideração da personalidade jurídica. Ela só deve ser realizada se e somente se caracterizar um entrave ao ultraje da obrigação dos sócios face à pessoa jurídica. Se tal empecilho não se verifica, e se for possível que o implemento da obrigação incida sobre seu sócio com fulcro assim de haver a quitação da dívida perante o credor, não há motivos para se afastar a regra da separação patrimonial. Não há móbil para se desconsiderar a personalidade jurídica. Simplesmente deve haver a desconsideração diante de ilícito ocasionado pela pessoa jurídica. Do contrário, tal desconsideração não tem vez. 
A desconsideração torna-se imprescindível quando não é possível deslocar a responsabilidade do ilícito provocado pela pessoa jurídica aos seus sócios, tendo em vista preservar as propensões dos credores.
A finalidade da desconsideração é mostrar os “bastidores” da personalidade jurídica da sociedade, assoalhando o antijurídico causado por esta. Para que isso ocorra é preciso apartar de lado a autossuficiência do capital.
A conjectura da desconsideração da personalidade jurídica reside em rechaçar a separação do patrimônio social do patrimônio das pessoas jurídicas que são seus sócios. 
A desconsideração tem vez em casos muito comuns, como o que acontece quando uma pessoa jurídica contrai dívidas, e deixa de lado as mesmas, efetuando a criação de outra pessoa jurídica, deixando a primeira “ao léu”. Tudo isso ocorre para que os credores não possam executar esta nova associação, tendo em vista que seus bens não podem arcar com o passivo da provecta. Em casos assim é preciso medidas mais drásticas para barrar a arbitrariedade, irresponsabilidade e ilicitude praticada por tais devedores. A providência proficiente também é a desestima da personalidade jurídica.
É deveras comum hodiernamente, magistrados de todo o país realizarem a desconsideração da personalidade a todo e qualquer pretexto, obliterando-se que tal desconsideração só tem motivo quando a realização do ilícito é feita devido ao fato de a pessoa jurídicase aproveitar da autonomia patrimonial existente entre seu patrimônio e o de seu sócio, ou seja, magistrados instauram o incidente sem verificar a fundo se realmente houve o abuso ou o intento fraudatório (COELHO, p. 69, 2015).
Para tentar explicar os casos possibilitadores da desconsideração da personalidade jurídica, os discentes de Direito também criaram duas teorias. São elas: a teoria maior e a teoria menor (COELHO, p. 70, 2015).
A teoria maior parte do pressuposto de que para que haja a desconsideração da personalidade jurídica é preciso que haja a existência de abuso de direito, desvio de finalidade ou confusão patrimonial, ou seja, não basta tão somente que haja a transferência do patrimônio social para o patrimônio dos seus sócios, tem que haver a existência da intenção de cometer ilícitos com a referida transferência (SÁ, p. 234, 2016). Essa teoria, embora possua essa nomenclatura, acaba por afunilar as conjunturas ensejadoras da desconsideração.
A teoria menor, no entanto assevera que para que haja a desconsideração da personalidade jurídica é vital somente que haja a existência da transferência do patrimônio da sociedade para o de seus sócios, pouco importando se houve ou não com a referida transferência o dolo de haver fraude (SÁ, p. 235, 2016). Esta teoria amplia as hipóteses de desconsideração da personalidade jurídica. 
Fábio Ulhoa Coelho não concorda com essa divisão. Já o processualista Renato Montans menciona a divisão das duas citadas teorias para buscar estatuir os casos em que há motivação para a desconsideração da personalidade jurídica (SÁ, p. 234-235, 2016). O preceptor de Direito Empresarial discorda com o catedrático Renato Montans, já que Fábio Ulhoa menciona que tais teorias encontram-se vetustas (COELHO, p. 70, 2015).
2.2. ORIGEM DOS ESTUDOS ACERCA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
A primeira pessoa a realizar estudos mais aguçados acerca da desconsideração da personalidade jurídica foi Rolf Serick, no ano de 1953 (COELHO, p. 59, 2015). Porém, antes dele, Maurice Worsmer nos anos de 1910 a 1920, já havia gasto muito tempo com estudos do referido tema (COELHO, p. 59, 2015).
Rolf Serick, para explicar a aplicação da desconsideração, criou alguns princípios para reger a desconsideração, dos quais vale a pena destacar:
Um dos princípios, mais especificamente o primeiro, preleciona que não há a possibilidade de desprezar a personalidade jurídica de uma empresa sem que haja a existência de abuso de direito (COELHO, p. 59, 2015).
Já outro princípio assevera que não é imprescindível que haja tão somente a inadimplência da pessoa jurídica para com o credor para que dê ensejo à desconsideração, ou seja, o inadimplemento por si só não é idôneo para fazer com que haja a desconsideração (COELHO, p. 59, 2015).
Um outro princípio tem como premissa a de que já que o legislador optou por dar particularização em relação à pessoa jurídica e ao seu sócio, é perfeitamente possível que haja o esquecimento desse tratamento diferenciado, tendo em vista que o sócio passe a atribuir-se como responsável por dívida feita pela empresa, cabendo assim a desconsideração da personalidade jurídica (COELHO, p. 60, 2015). 
2.3. OS PRIMEIROS ESTUDOS DA DESCONSIDERAÇÃO NO BRASIL
No Brasil, posteriormente, quem dedicou seus estudos ao assunto foi Rubens Requião (COELHO, p. 60, 2015). Requião propôs uma teoria no sentido de que sempre deveria haver o afastamento da autonomia patrimonial, e que o sócio deveria responder com seu patrimônio em toda situação (COELHO, p. 60, 2015).
Tal teoria não possui nexo, já que a desconsideração deve ser realizada quando a pessoa jurídica, valendo-se da autonomia do patrimônio da pessoa física pela qual é seu sócio, pratica ato ilícito.
 O estudioso também defendia a conjuntura de que a desconsideração teria de ser feita com grande amplitude pelos magistrados no Estado brasileiro, sem se importarem se há presságio da lei ou não, tendo em vista a prevenção de danos tardios e irremediáveis, se estivesse diante da não realização da desconsideração (COELHO, p. 60, 2015). Tal teoria possui fundamentos, tendo em vista a premissa de que é melhor prevenir do que remediar.
Porém, entre os magistrados há o esquecimento de que a desconsideração não deve ser a regra, e sim, a exceção, de modo que sua aplicação só deve haver unicamente quando for constatado o embaraço de atribuir ônus ao sócio por obrigação da sociedade.
2.4. AS “OFFSHORE COMPANIES”
As “offshore companies”, conhecidas popularmente como “paraísos fiscais” (COELHO, p. 70, 2015), são práticas bem costumeiras entre os devedores, de maneira que ocorrem com a constituição por estes de sociedade em um país estrangeiro, com o escopo de se aproveitar dos baixos tributos e da ausência da exigência de inúmeras burocracias que existem no Brasil para que se possa constituir uma pessoa jurídica (COELHO, p. 70, 2015).
Com isso, o sócio consegue controlar a pessoa jurídica do Brasil, transferindo assim todos os seus bens para o patrimônio da sociedade estrangeira. Mais uma vez os devedores encontraram um jeito de que os credores, em eventual execução sobre os bens do devedor, não localizarem bens no território onde o sócio reside, e sendo assim a execução restar inútil.
O fato de alguém constituir uma pessoa jurídica no exterior por si só não caracteriza uma fraude, sendo esta, em regra, lícita (COELHO, p. 71, 2015). A fraude é quando o intuito de constituí-la é o cometimento de abuso, de ilícito, de forma a se aproveitar da autonomia entre o pecúlio da pessoa jurídica e o de seus sócios (COELHO, p. 71, 2015).
Da mesma maneira que as pessoas jurídicas localizadas no Brasil, intentando a proteção do credor, é justificável desconsiderar a personalidade jurídica e fazer com que haja a quebra da autonomia patrimonial, visando então a prevenção do cometimento de ilícitos pela sociedade (COELHO, p. 71, 2015).
A dessemelhança das “offshore companies” para as pessoas jurídicas implantadas no Brasil reside no fato de que é mais difícil a prova de que tais constituições se deram com o intento fraudatório (COELHO, p. 70-71, 2015).
2.5. PRESCIÊNCIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NA LEGISLAÇÃO MATERIAL
O artigo 50 do Código Civil de 2002 (BRASIL, p. 160, 2015) dispõe que se houver imoderação do uso da personalidade jurídica ou desorganização entre os bens que constituem a associação com os bens dos associados, pode o credor ou o Ministério Público diligenciar que em algumas hipóteses, quando diante da obtenção de encargos por uma sociedade, o dever de se desincumbir seja conferido às pessoas dos governantes desta (BRASIL, p. 160, 2016).
Com a observância de tal artigo, é possível perceber que para que haja a peripécia da desconsideração da personalidade jurídica faz-se necessário que haja o preenchimento de algum dos requisitos mencionados no artigo 50 do diploma civil (BRASIL, p. 160, 2016), quais sejam: desvio de finalidade ou confusão patrimonial ocasionada pelos sócios de uma pessoa jurídica (BRASIL, p. 160, 2016).
A presciência de ordem material acerca da desconsideração da personalidade jurídica existia ao tempo da criação do Código Civil de 2002 (BRASIL, p. 147, 2016), porém, restava-se uma indagação acerca da matéria processual do objeto do presente artigo, visto que o Código de Processo Civil de 1973 (BRASIL, p. 351, 2016) não dispunha de tal matéria.
Vez que havia uma grande omissão acerca do tema, os estudiosos e aplicadores do direito sentiam falta da regulação processual de um instituto tão importante, tendo em vista que é o responsável por impedir o credor de não ter sua dívida satisfeita. Para isso, só havia uma única maneira de resolver tamanha ausência, como pode ser visto no tópico seguinte.
2.6. INSTRUMENTO RESPONSÁVEL POR SUPRIR A OMISSÃO PROCESSUAL ACERCA DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NA VIGÊNCIA DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973
Devido à esterilidade de lei para tratar de matéria processual acerca do mecanismo a ser empregue na desconsideraçãoda personalidade jurídica durante a vigência do Código de Processo Civil de 1973 (BRASIL, p. 351, 2016), sobejava então à jurisprudência preencher a imensa lacuna deixada.
Era pacífica nas instâncias superiores a permissão da desconsideração sem a necessidade de entrar com ação autônoma, podendo ser realizada de forma incidental nos próprios autos da execução (JÚNIOR, p. 397, 2015), desde que houvesse prova dos pressupostos primordiais previstos no artigo 50 do Código Civil (BRASIL, p. 160, 2016), deixando então de lado a regra de que há separação do patrimônio da empresa do patrimônio dos sócios que a compõem, para que a dívida do credor fosse satisfeita, e que as dívidas da empresa tivessem adimplemento com os recursos de seus associados, o que ocasionava o impedimento de fraude a execução (BRASIL, p. 375, 2016). 
	Havia uma grande peculiaridade em tal desconsideração, peculiaridade esta que não se revelava de forma positiva, vez que o contraditório se realizava de maneira postergada, já que só podia ser realizado em grau recursal, o que dificultava deveras a exteriorização do devedor acerca do pedido da desconsideração da personalidade jurídica em seu desfavor (JÚNIOR, p. 397-398, 2015).
	Com a mencionada insuficiência de oferta ao contraditório e à ampla defesa, o legislador na feitura do Código de Processo Civil de 2015 (BRASIL, p. 350, 2016) tomou cautela e preencheu a lacuna deixada pelo Código de 1973 (BRASIL, p. 350, 2016), tratando da desconsideração da personalidade jurídica em cinco artigos, que vão do artigo 133 ao 137 (BRASIL, p. 374-375, 2016).
2.7. A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
 	O Código de Processo Civil trata da desconsideração da personalidade jurídica nos artigos 133 ao 137 (BRASIL, p. 374-375, 2016). Sua realização pode ser requerida pela parte, pelo credor ou pelo Ministério Público, conforme o artigo 133 do referido diploma (BRASIL, 2016, p. 374).
	Pode tal incidente ser requerido seja qual for a etapa do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença ou na execução fundada em título executivo extrajudicial (BRASIL, 2016, p. 374).
	A aplicação do afastamento da autonomia patrimonial no Novo Código de Processo Civil (BRASIL, p. 351, 2016) se dá conforme a previsão na lei material, de maneira que é imprescindível a existência de abuso da personalidade jurídica, desvio de finalidade ou confusão patrimonial, conforme o previsto no art. 133, parágrafo 2º do diploma supramencionado (BRASIL, p. 374, 2016).
 2.8. DESCONSIDERAÇÃO INVERSA	
Conforme o ostentado no presente trabalho, é sabido que a desconsideração tem vez para acarretar aos associados de uma sociedade o dever de pagar dívidas atinentes a esta, deixando de lado a autonomia patrimonial. Porém, o inverso também é possível, ou seja, imputar a responsabilidade por dívidas contraídas pela pessoa física à pessoa jurídica pela qual é sócio, tendo como pressuposto também a autonomia patrimonial para o do cometimento de fraude ou abuso. 
O objetivo da desconsideração inversa também é o de evitar possíveis falcatruas em detrimento dos credores, de forma que é atribuída à pessoa jurídica a o comprometimento de arcar com os ilícitos praticados pelos seus sócios, o que faz com que os bens sociais respondam por dívidas atinentes à pessoa física do sócio, deixando de lado temporariamente a autonomia patrimonial.
	O principal objeto que a desconsideração inversa visa a prevenir é o desvio de bens (COELHO, p. 68, 2015), visto que cotidianamente o devedor transmite seus bens (da pessoa física) para os bens da pessoa jurídica, com o desígnio de não saldar suas dívidas perante os seus credores, se valendo assim da autonomia patrimonial.
A área de maior atuação da desconsideração inversa é no Direito de Família. Imagine-se o caso de uma pessoa que contrai matrimônio com outra. Em observância aos altos números de divórcio, a pessoa tem o receio de que isso venha a acontecer com ela, e se preocupando com seus bens, passa a efetuar a transmissão destes para o patrimônio da sociedade pela qual é sócio, alegando que os mesmos foram contraídos em benefício da sociedade, e não em proveito próprio, objetivando assim esquivar seus bens de uma eventual partilha com seu cônjuge, e fugir de uma possível penhora, se valendo da emancipação do cabedal de seus bens para realizar tal defraudação.
Sendo assim para que o outro cônjuge não saia do casamento sem que haja a devida partilha dos bens, a desconsideração inversa tem vez, fazendo então com que o desmembramento do patrimônio social e o capital da pessoa jurídica de seu sócio seja desconsiderado, e a pessoa jurídica responda por obrigação do sócio.
O Enunciado 283 do CJF/STJ (BRASIL, p. 1789, 2016) dispõe acerca da viabilidade da realização da desconsideração inversa, mencionando que esta tem vez quando diante de sócio que se sirva da cisão entre seus recursos e os da sociedade pela qual se encontra associado, para assim perpetrar aos destinados esconder seus bens privativos, de maneira a vir suscitar danos a outras pessoas (SÁ, p. 235, 2016). 
	Com base no exposto no enunciado citado, é possível chegar à conclusão de que é possível que ao invés de o encargo do pagamento de uma despesa ser culpabilizado aos sócios da pessoa jurídica pelas dívidas desta, seja esta que responda pelas dívidas de seus sócios.
	Temendo o fato de os credores ficarem a ver navios sem a devida quitação de sua dívida, o legislador previu a hipótese de desconsideração inversa, onde esta ocorre justamente para que haja a quebra da autonomia patrimonial, e, portanto, o patrimônio da empresa venha a responder por dívidas contraídas pelos seus sócios.
No entanto, como a denotação do Enunciado 283 do CJF (BRASIL, p. 1789, 2016) propõe, pode ser constatado que não basta haver a ”simples” transferência do patrimônio da pessoa física para o da pessoa jurídica (SÁ, p. 235, 2016). É preciso mais. É imprescindível que haja a referida transferência justamente com o intuito de o devedor isentar-se de sua responsabilidade perante seus credores, e para isso é necessário que se configure um dos pressupostos do supramencionado artigo 50 do Código Civil (BRASIL, p. 160, 2016), quais sejam: abuso da personalidade jurídica, o desvio de finalidade ou a confusão patrimonial (BRASIL, p. 160, 2016).
2.9. DISPOSIÇÕES ACERCA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
É plausível que fornecedores cometam ilícitos para com os consumidores de seus produtos ou serviços, fazendo com que haja o surgimento do dever de indenizar. Para que os consumidores recebam a devida quitação às vezes faz-se necessário também que haja a realização da desconsideração da personalidade jurídica nas relações de consumo.
O que enseja a desconsideração na relação consumerista é o fato de haver o descumprimento dos regimentos fixados, e com isso a obtenção de prejuízos à pessoa jurídica. Exemplos disso residem no desprimoroso gerenciamento da administração, na ruína, no descumprimento das obrigações pela sociedade, ou até mesmo no encerramento ou na inatividade delas em decorrência da má administração (BRASIL, p. 732, 2016). Com a existência de algum desses fatos será possível imputar ao sócio a responsabilidade pelos danos sofridos aos consumidores (COELHO, p. 74, 2015).
Conforme o exposto no item 2.1., Fábio Ulhoa Coelho discorda de Renato Montans em relação ao fato de que este último menciona que há duas teorias que almejam elucidar as hipóteses que permitem haver a desconsideração, enquanto que Ulhoa assevera tal reparte não tem vez, dado que esta fragmentação encontra-se decréptica, sendo em todas as hipóteses preciso que haja a existência de ludíbrio ou exorbitância no uso do direito em todos os casos (COELHO, p. 75, 2015). Já Renato Montans diz em sua obra que é sofrível o incumprimento dos deveres da sociedade para que dê ensejo à desconsideração (SÁ, p. 235, 2015) nas relações consumeristas, concordando que há a aplicação da referida divisão para fins de desconsideraçãoda personalidade jurídica nas relações de consumo (SÁ, p. 235, 2016). 
Há previsão da desconsideração no Código de Defesa do Consumidor também no parágrafo 5º (BRASIL, 2017), que robora que para que os consumidores não fiquem sem ter seus créditos adimplidos, é possível desprezar a personalidade jurídica se esta servir de como óbice ao devido adimplemento (BRASIL, p. 732, 2016).
Para Ulhoa o que o artigo quer dizer é que sempre que o fornecedor descumprir uma norma que tenha o escopo de evitar danos de qualquer espécie ao consumidor, e esta não possua natureza de pecúlio a desconsideração tem vez. Fato curioso é que, segundo o mesmo, o desrespeito da norma não pode ter caráter de dinheiro, porém, a sanção a ser aplicada por tal transgressão tem caráter econômico, tendo em vista que tem índole financeira (COELHO, p. 75, 2015).
O Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, p. 725, 2016), criado em 1990, foi o precursor da aplicação da desconsideração da personalidade jurídica no Brasil (COELHO, p. 72, 2015). A seguir deste houve previsão legal também na Lei Antitruste (Lei 12. 539/2011) no ano de 1994 (COELHO, p. 75, 2015), e em seguida veio a Lei dos Crimes Ambientais (BRASIL, p. 1452, 2016) que foi criada com fulcro em regular os casos em que as pessoas jurídicas causam prejuízos ao meio ambiente, determinando sanções de cunho indenizatório para as sociedades, de forma que se a pessoa jurídica não dispuser de rendimentos para o efetivo pagamento, a execução deve recair sobre os bens de seus sócios, deixando assim de lado a autonomia patrimonial.
Mais uma vez Fábio Ulhoa salienta que é preciso haver com isso a intenção de fraudar ou haver abuso de direito, e não somente a insolvabilidade da sociedade perante o credor (COELHO, p. 77, 2015).
Outra lei que o legislador previu tal desconsideração da personalidade jurídica foi a Lei Anticorrupção (Lei 12.846/2013), dispondo sobre a possibilidade de a responsabilidade pelas obrigações das pessoas jurídicas que praticam atos que atentam contra a Administração Pública no Brasil ou em outro país, sejam tragadas por seus sócios (COELHO, p. 77, 2015).
Ainda com todas essas leis prevendo a desconsideração, às vezes haverá algum caso de lacuna da lei. O que se deve pensar? Que o credor ficará a ver navios por causa de fraudes cometidas pelo devedor? Não. Definitivamente não. A resposta é negativa, vez que mesmo que não haja presságio jurídico, a desconsideração poderá ser executada pelo juiz (SÁ, p. 77, 2015).
Para haver a desconsideração da personalidade jurídica é primordial que haja a propositura de ação judicial, que deve ter o credor como figurante no pólo ativo da ação, e seu sócio como pólo passivo.
Não é possível haver a desconsideração em despacho pelo juiz na execução de sentença (COELHO, p. 78, 2015). É preciso que haja processo para que se forme o título executivo para o credor.
O incidente de desconsideração da personalidade jurídica possui previsão legal no artigo 28 do Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, p. 732, 2016), que frui que quando houver imoderação do uso do direito ou do poder, cometimento de antijurídico, desobediência ao descrito em lei, transgressão de regimentos ou de contrato social, desprimoroso gerenciamento da administração, ruína, descumprimento das obrigações pela sociedade, ou até mesmo o encerramento ou a inatividade delas em decorrência da má administração há a possibilidade de o juiz realizar a desconsideração (BRASIL, p. 732, 2016).
	O Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, p. 725, 2016), diferentemente do Código Civil (BRASIL, p. 725, 2016), acolhe a Teoria Menor para a configuração da desconsideração da personalidade jurídica nas relações de consumo, ou seja, para que haja esta basta tão somente o descumprimento da obrigação pela pessoa jurídica, pouco interessando se existia a real intenção de fraudar ou não os credores, se aproveitando então da autonomia patrimonial, bastando tão somente que o sócio possua patrimônio, mas a pessoa jurídica não, sendo então motivo idôneo à referida desconsideração.
	O interessante é que a Teoria Menor, embora possua essa nomenclatura, não restringe os casos que ensejam a desconsideração. Muito pelo contrário. Esta teoria amplia. Isso se deve ao fato de que o seu rol é exemplificativo, o que faz com que quase tudo enseje o desrespeito à personalidade jurídica, e não somente o desvio de finalidade ou a confusão patrimonial (SÁ, p. 235, 2016). 
	No Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, p. 725, 2016) ocorre o inverso do que acontece no Código Civil (BRASIL, p. 147, 2016) em relação à legitimidade para o requerimento da desconsideração, tendo em vista que no primeiro o juiz pode declará-la de ofício, enquanto que na aplicação da lei material não. O Código Civil (BRASIL, p. 147, 2016) dispõe que é preciso que a parte ou o Ministério Público reivindiquem a desconsideração (BRASIL, p. 160, 2016).
É pertinente mencionar que a desconsideração inversa não se encontra prevista no Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, p. 725, 2016), e, portanto, não possui aplicação na relação consumerista, restringindo-se tão somente ao Código Civil (BRASIL, p. 147, 2016).
3.0. POSSSIBILIDADE DE LITISCONSÓRCIO NA PROPOSITURA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
Há a possibilidade de haver litisconsórcio passivo ulterior na propositura do incidente de desconsideração da personalidade jurídica, de maneira que podem ser chamados vários, ou até mesmo todos os associados de uma pessoa jurídica para responderem com o seu próprio patrimônio pelo passivo da sociedade pela qual fazem parte (NEVES, p. 312, 2016).
Parte da doutrina entende que não há a possibilidade de litisconsórcio passivo ulterior, uma vez que há diferença entre legitimidade passiva e responsabilidade secundária, pronunciando que a pessoa jurídica é a fidedigna obrigada quanto ao débito, porém, quem será o responsável pela quitação da mesma será o sócio da pessoa jurídica, não passando este de mero terceiro na relação processual, enquanto que quem figura como parte no pólo passivo, é a própria pessoa jurídica, e não seu sócio (NEVES, p. 312, 2016).
Já para a outra parte da doutrina, como Daniel Amorim Assumpção Neves, propõe que há sim litisconsórcio passivo ulterior, tendo em vista que quem possui mais interesse em se defender da desconsideração da personalidade jurídica é o associado da pessoa jurídica, devido ao fato de que são os seus bens que poderão sofrer eventual execução (NEVES, p. 312-313, 2016). 
Doravante, imagine-se a hipótese de determinada pessoa jurídica ser devedora de incomensuráveis credores, e já ter usufruído da autossuficiência dos seus bens e os dos sócios que a compõem muitas vezes, já sendo então bastante contumaz na prática de fraude a execução contra os mesmos credores. Tal exemplo possibilita o surgimento da seguinte indagação: é possível haver litisconsórcio ativo de credores na desconsideração da personalidade jurídica (BRASIL, p. 374-375, 2016)?
Não há pesquisas acerca do referido tema ainda, porém, pode-se chegar à conclusão que se é que há a possibilidade de tal hipótese, seria deveras negativo para o credor que requeresse a desestima da personalidade jurídica, pois a desconsideração sendo feita apenas em seu favor nem sempre sua dívida será quitada por completo, quanto mais tendo que o patrimônio dos seus sócios ser utilizado para a atribuição da obrigação a copiosos ou até à integralidade dos seus credores. 
3.1. MOMENTO DA REIVINDICAÇÃO DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
	O artigo 134, § 2º do Código de Processo Civil (BRASIL, p. 375, 2016) traz em seu texto que a reivindicação da desconsideração da personalidade jurídica pode ocorrer na própria petição inicial ou em qualquer fase do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença ou na execução com base em título executivo extrajudicial (BRASIL, p. 374-375, 2016).
	Se o requerimento já ocorre na petição inicial, não mais é preciso o requerimento para a introdução da desconsideração, já gozando então o credor o direitode alegar que a pessoa jurídica “empurra” seus bens para o patrimônio dos seus associados, com o propósito de não realizar o efetivo adimplemento de suas dívidas, para que então o juiz ao ler a petição inicial já tome ciência de que se trata de um devedor partidário de antijurídicos e entrecorra a condigna desconsideração.
	O artigo 134, § 3º do Código de Processo Civil (BRASIL p. 375, 2016) dispõe que se o requerimento não ocorre na petição inicial, o processo é suspendido pelo incidente de desconsideração da personalidade jurídica (BRASIL, p. 375, 2016). Sendo assim, o processo só possui continuidade depois de haver o julgamento do referido incidente, conforme o exposto no artigo 134, § 3º do Código de Processo Civil (BRASIL, p. 375, 2016).
	O Novo Código de Processo Civil (BRASIL, p. 351, 2016) também assevera que a desconsideração pode ser requerida na fase de cumprimento de sentença e na fase de execução fundada em título executivo extrajudicial (BRASIL, p. 374-375, 2016). Porém, há uma peculiaridade, tendo em vista que é necessária a instauração do incidente, mesmo se já tenha sido requerida na petição inicial (JÚNIOR, p. 400, 2016), já que aqui não há sentença, e, portanto, não há decisão no sentido de haver a alteração da responsabilidade dos sócios da pessoa jurídica. Sendo assim, a instauração do incidente é imprescindível para que haja a criação de um título idôneo.
3.2. O CONTRADITÓRIO E A AMPLA DEFESA NA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
	Depois de a parte ou o Ministério Público requerer a desconsideração, a pessoa física ou a pessoa jurídica (a depender do tipo de desconsideração) é citada para se manifestar no prazo de 15 (quinze) dias, onde neste prazo pode requerer as provas que julgar pertinentes, segundo o disposto no artigo 135 do Novo Código Processo Civil (BRASIL, p. 375, 2016).
	O artigo 135 do referido diploma (BRASIL, p. 375, 2016) possui tamanha relevância, tendo em vista que resolveu o embaraço que era ocasionado devido ao déficit de contraditório e ampla defesa que existia antes do Código de Processo Civil de 2015 (BRASIL, p. 351, 2016), já que esses antes somente eram ofertados nas vias de recurso (JÚNIOR, p. 398, 2015).
3.3. RECURSO IDÔNEO PARA DESAFIAR INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDAE JURÍDICA
	O artigo 136, caput do novo Código de Processo Civil (BRASIL, p. 375, 2016) assevera que o recurso que faz jus à quebra da desconsideração da personalidade jurídica é o agravo de instrumento, tendo em vista que na maioria das vezes a desconsideração é concedida por meio de decisão interlocutória (BRASIL, p. 375, 2016). Porém, o parágrafo único do mesmo artigo (BRASIL, p. 375, 2016) menciona que se a desconsideração for proferida em via recursal por relator de Tribunal através de decisão monocrática, o recurso idôneo à modificação da decisão que concedeu a desconsideração é o agravo interno (BRASIL, p. 375, 2016).
3.4. COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
O artigo 1062 do Novo Código de Processo Civil (BRASIL, 2016) informa que a competência para decidir se a realização da desconsideração da personalidade jurídica tem vez ou não é dos Juizados Especiais (NEVES, p. 307, 2016).
3.5. OBJETIVO MAIOR DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
	O desígnio maior da desconsideração da personalidade jurídica é o de proteger o credor de possível fraude a execução por parte do devedor, conforme o disposto no artigo 137 do Novo Código de Processo Civil (BRASIL, p. 375, 2016). Dessa forma se o sócio da pessoa jurídica pensa em desfazer-se de seus bens, seja por meio de alienação de bens, doação, etc. almejando fugir de uma eventual execução sobre seus bens, esta não será possível; e se tal venda ou doação ocorrer, não produzirá eficácia para com a parte que requereu a desconsideração (JÚNIOR, p. 400-401, 2015).
	Há críticas doutrinárias no sentido de que como o incidente só pode ser instaurado em fase posterior, e a fraude a execução só oferece a significativa proteção em relação aos bens sujeitos a execução quando o devedor é devidamente citado, a demora nessa citação pode fazer com que, notadamente durante esse lapso temporal, o devedor venha a ser desfazer desses bens, seja por meio de alienação, doação, etc., deixando então o credor a ver navios, sem bens a ser sujeitos à penhora. Com isso a doutrina propõe uma solução, que seria a possibilidade de instauração de um incidente anterior na fase do contraditório (JÚNIOR, p. 401, 2015).
3.6. REPERCUSSÃO DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
	A principal repercussão da desconsideração da personalidade jurídica é acarretar aos sócios o dever de se obrigarem pela incumbência de débitos contraídos pela empresa (pessoa jurídica), afastando então a regra de que há separação do patrimônio da empresa do patrimônio de seus sócios (JÚNIOR, p. 398, 2015).
Com efeito, a elementar da desconsideração inversa é fazer com que as dívidas contraídas pelos sócios da pessoa jurídica, recaiam sobre esta, ou seja, que a pessoa jurídica responda por débitos adquiridos por seus sócios, pessoas físicas (JÚNIOR, p. 398, 2015).
3 CONCLUSÃO
Diante de todo o exposto no presente trabalho, pode-se arrematar que a inclusão do dispositivo legal para a regência do procedimento a ser adotado pelo magistrado ao desconsiderar a personalidade jurídica de uma sociedade foi de suma magnitude, haja vista que proporcionou aos juízes a sapiência de como se deve ser feita a desconsideração, para que estes não venham a realizá-la a seu bel-prazer, e às vezes até mesmo de forma arbitrária, de maneira que condiciona e limita sua aplicação ao contido nos ditames legais.
A inclusão da matéria processual ajudou também aos demais regulamentos do ordenamento jurídico que preveem a desconsideração da personalidade jurídica, como o Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, p. 725, 2016), para que sejam orientados em relação à como deverá ser o emprego da desconsideração da personalidade jurídica.
Não obstante senhoreie divergência entre o processualista Renato Montans e o empresarialista Fábio Ulhoa em relação ao fato de que o primeiro aponta que existem duas teorias, a teoria maior e a teoria menor, que buscam explicar os casos que a desconsideração da personalidade jurídica tem vez, devido ao fato de que alega que as duas teorias existem e são idôneas ao fim que se prestam (SÁ, p. 234-235, 2016). Já Ulhoa defende que tal bifurcação já se encontra bitolada (COELHO, p. 70, 2016).
A teoria menor é aplicada no Direito do Consumidor, no Direito Ambiental e no Direito do Trabalho (SÁ, p. 235, 2016). A teoria maior prega que deve ser utilizada a desconsideração da personalidade jurídica somente nos casos em que os devedores possuam o fito fraudatório ao realizar a transferência dos seus recursos para os da empresa a qual se encontram associados, se valendo do alongue da autossuficiência entre os recursos da pessoa jurídica e os de seus associados, ou seja, que a desconsideração só tem vez se e quando há confusão patrimonial ou abuso de poder pela pessoa jurídica quando esta tiver intento fraudatório na utilização da autonomia patrimonial (SÁ, p. 234, 2016).
Com o desígnio de transcorrer a satisfação da dívida por parte do credor, deve então sempre haver a utilização da teoria menor (SÁ, p. 235, 2016), julgando por não haver pretexto proficiente para justificar a transferência do patrimônio da pessoa jurídica para o das pessoas que constituem seus associados, de maneira que a fraude neste caso deve ser considerada presumida, e deve então haver a desatenção da separação dos patrimônios, e consequentemente a desconsideração da personalidade jurídica.
BIBLIOGRAFIA
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