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Química Orgânica 1 Prof. Ricardo Silva Porto Universidade Federal de Alagoas 1º Semestre de 2016 CAPÍTULO 3 – ÁCIDOS E BASES EM QUÍMICA ORGÂNICA 1.1 Reações e seus mecanismos Praticamente todas as reações orgânicas caem em uma das quatro categorias: substituições, adições, eliminações, ou rearranjos. As substituições são as reações característica dos compostos saturados tais como os alcanos e haletos de alquila e de compostos aromáticos (mesmo que eles sejam insaturados). Em uma substituição, um grupo substitui outro. Por exemplo, clorometano reage com hidróxido de sódio para produzir álcool metílico e cloreto de sódio: Nesta reação de um íon hidróxido do hidróxido de sódio substitui o cloro do clorometano. Reações de adições são características de compostos com ligações múltiplas. Eteno, por exemplo, reage com bromo por uma adição. Nas adições, todas as partes do reagente adicionado aparecem no produto; duas moléculas se tornam uma: Eliminações são o oposto de adições. Em uma eliminação uma molécula perde elementos de outra molécula pequena. Reações de eliminação dão-nos um método para a preparação de compostos com ligações duplas e triplas. Uma eliminação importante é denominada desidro-halogenação, uma reação que é utilizada para preparar alcenos. Em uma desidro-halogenação, tal como a palavra sugere, os elementos de um haleto de hidrogênio são eliminadas. Um haleto de alquila torna-se um alceno: Em um rearranjo uma molécula sofre uma reorganização das suas partes constituintes. Por exemplo, aquecendo o seguinte alceno com um ácido forte provoca a formação de outro alceno isomérico: Neste rearranjo não só as posições da ligação dupla e um átomo de hidrogênio mudaram, mas um grupo metila moveu-se de um carbono para o outro. Nas seções seguintes, vamos começar a aprender alguns dos princípios que explicam como esses tipos de reações ocorrem. 1.2 Homólise e heterólise de ligações covalentes Reações de compostos orgânicos sempre envolvem a formação e quebra de ligações covalentes. A ligação covalente pode quebrar de duas maneiras fundamentalmente diferentes. Quando uma ligação quebra de tal forma que um fragmento leva embora ambos os elétrons da ligação, deixando o outro fragmento com um orbital vazio, este tipo de clivagem é chamada heterólise. A heterólise produz fragmentos ou íons carregados e é denominada uma reação iônica. A ligação quebrada é dito ser clivada heteroliticamente: Quando uma ligação se quebra de modo que cada fragmento tira um dos elétrons da ligação, este processo é chamado ruptura homolítica. A homólise produz fragmentos om elétrons desemparelhados chamados radicais. Neste capítulo, vamos nos concentrar em reações que envolvem íons e clivagem da ligação heterolítica. A heterólise de uma ligação normalmente requer que a ligação seja polarizada: A polarização de uma ligação geralmente resulta de diferentes eletronegatividades dos átomos unidos pela ligação. Quanto maior for a diferença de eletronegatividade, maior é a polarização. No exemplo dado, átomo B é mais eletronegativo que A. Mesmo com uma ligação altamente polarizada, a heterólise raramente ocorre sem assistência. As razões são: heterólise requer separação de íons com cargas opostas. Devido aos de cargas opostas atraírem-se mutuamente, a sua separação requer energia considerável. Frequentemente, a heterólise é assistida por uma molécula com um par não ligante que pode formar uma ligação com um dos átomos: A formação da nova ligação envolve uma parte da energia necessária para o heterólise. 1.3 Reações ácido-base Começamos nosso estudo de reações químicas, examinando alguns dos princípios básicos da química ácido-base. Há várias razões para isso: Muitas das reações que ocorrem na química orgânica são reações ácido-base ou então envolvem uma etapa ácido-base em algum momento. Reações ácido-base são reações simples que lhe permitirão ver como os químicos usam setas curvas para representar mecanismos de reações e como eles retratam os processos de quebra da ligação e formação de ligação que ocorrem quando as moléculas reagem. Reações ácido-base também nos permitem examinar ideias importantes sobre a relação entre a estrutura das moléculas e a sua reatividade e para ver como certos parâmetros termodinâmicos podem ser usados para prever a quantidade do produto que será formado quando uma reação atinge o equilíbrio. Reações ácido-base também fornecem uma ilustração da importância do papel dos solventes em reações químicas. Elas ainda nos dão uma breve introdução à síntese orgânica. Finalmente, química ácido-base é algo que você vai achar familiar por causa de seus estudos em química geral. Começamos, portanto, com uma breve revisão. 1.4 Ácidos e bases de Bronsted-Lowry Duas classes de reações ácido-base são fundamentais em química orgânica: reações ácido-base de Brønsted-Lowry e de Lewis. Começamos nossa discussão com reações ácido-base de Brønsted-Lowry. Reações ácido-base de Brønsted-Lowry envolvem a transferência de prótons. Um ácido de Bronsted-Lowry é uma substância que pode doar (ou perder) um próton. Uma base de Bronsted-Lowry é uma substância que pode aceitar (ou remover) um próton. Vejamos alguns exemplos. O cloreto de hidrogênio (HCl), na sua forma pura, é um gás. Quando o gás HCl é borbulhado em água, ocorre a seguinte reação. Nesta reação o cloreto de hidrogênio doa um próton; por conseguinte, atua como um ácido de Bronsted-Lowry. Água aceita um próton a partir de cloreto de hidrogênio; Assim, a água serve como uma base de Brønsted-Lowry. Os produtos são um íon hidrônio (H3O + ) e íon cloreto (Cl − ). Assim como classificamos os reagentes como um ácido ou uma base, nós também classificamos os produtos desta maneira. A molécula ou íon que se forma quando um ácido perde seu próton é chamada base conjugada do ácido. No exemplo acima, o íon cloreto é a base conjugada. A molécula ou íon que se forma quando uma base aceita um próton é chamado ácido conjugado. Íon hidrônio é o ácido conjugado da água. O cloreto de hidrogênio é considerado um ácido forte, porque a transferência de seu próton em água ocorre essencialmente completamente. Outros ácidos fortes que transferem completamente um próton quando dissolvido em água são iodeto de hidrogênio, brometo de hidrogênio e ácido sulfúrico. O ácido sulfúrico é chamado um ácido diprótico, porque ele pode transferir dois prótons. A transferência do primeiro próton ocorre completamente, enquanto o segundo é transferido apenas para a extensão de cerca de 10% (daí as setas de equilíbrio da equação para a segunda transferência de prótons). 1.5 Ácidos e bases em água O íon hidrônio é o ácido mais forte que pode existir na água: qualquer ácido mais forte irá simplesmente transferir seu próton a uma molécula de água para formar mais íons hidrônio. O íon hidróxido é a base forte que pode existir na água: Qualquer base mais forte do que o hidróxido irá remover um próton da água para formar mais íons hidróxido. Quando um composto iônico se dissolve em água, os íons são solvatados. Com hidróxido de sódio, por exemplo, os íons de sódio positivos são estabilizados por interação com pares de elétrons não ligantes de moléculas de água e os íons hidróxido são estabilizados por pontes de hidrogênio de seus pares de elétrons não ligantes com os hidrogênios parcialmente positivos de moléculas de água. Quando uma solução aquosa dehidróxido de sódio é misturada com uma solução aquosa de cloreto de hidrogênio (ácido clorídrico), a reação que ocorre é entre íon hidrônio e íon hidróxido. Os íons sódio e cloreto são chamados íons espectadores porque eles não participam da reação ácido-base: O que acabamos de dizer sobre o ácido clorídrico e hidróxido de sódio aquoso é verdade quando soluções de todos os ácidos fortes aquosos e bases são misturados. A reação iônica líquida é simplesmente: 1.6 Ácidos e bases de Lewis Em 1923, G. N. Lewis propôs uma teoria que ampliou significativamente a compreensão de ácidos e bases. À medida que avançamos veremos que uma compreensão da teoria ácido-base de Lewis é extremamente útil para a compreensão de uma variedade de reações orgânicas. Lewis propôs as seguintes definições para ácidos e bases. Os ácidos são aceptores de pares de elétrons. Bases são doadores de pares de elétrons. Na teoria ácido-base de Lewis, os doadores de prótons não são os únicos ácidos; Muitas outras espécies também são ácidos. Cloreto de alumínio, por exemplo, reage com amônia da mesma forma que um doador de prótons faz. Usando setas curvas para mostrar a doação do par de elétrons da amônia (a base de Lewis), temos os seguintes exemplos: Na reação com cloreto de hidrogênio acima, percebe-se que o aceptor do par de elétrons (o próton) também deve perder um par de elétrons, assim que a nova ligação é formada com nitrogênio. Isto é necessário porque o átomo de hidrogênio tinha uma camada de valência total de elétrons no começo. Por outro lado, porque a camada de valência do átomo de alumínio no cloreto de alumínio não estava cheia no início (ele tinha apenas um sexteto de elétrons de valência), ele pode aceitar um par de elétrons sem quebrar quaisquer ligações. O átomo de alumínio realmente atinge um octeto por aceitar o par do nitrogênio, embora ele ganhe uma carga negativa formal. Quando este aceita o par de elétrons, o cloreto de alumínio está, na definição de Lewis, agindo como um ácido. As bases são parecidas na teoria de Lewis e na teoria de Bronsted-Lowry, porque na teoria de Brønsted-Lowry uma base deve doar um par de elétrons, a fim de aceitar um próton. A teoria de Lewis, em virtude de sua definição mais ampla de ácidos, permite a teoria ácido-base incluir todas as reações Brønsted-Lowry e, como veremos, muitas outras. A maioria das reações que vamos estudar em química orgânica envolvem interações ácido-base de Lewis e uma boa compreensão da química ácido-base de Lewis vai ajudar muito. Qualquer átomo deficiente de elétrons pode agir como um ácido de Lewis. Muitos compostos contendo elementos do grupo IIIA como boro e alumínio são ácidos de Lewis porque os átomos grupo IIIA têm apenas uma sexteto de elétrons em sua camada externa. Muitos outros compostos que têm átomos com orbitais vazios também podem atuar como ácidos de Lewis. Haletos de zinco e ferro (III) (haleto férrico) são frequentemente utilizados como ácidos de Lewis em reações orgânicas. 1.7 Atração de cargas opostas Na teoria ácido-base de Lewis, como em muitas reações orgânicas, a atração de espécies com cargas opostas é fundamental para a reatividade. Como outro exemplo, consideraremos o trifluoreto de boro, um ácido de Lewis ainda mais poderoso do que o cloreto de alumínio, e a sua reação com amônia. Quando a reação esperado ocorre entre eles, o par de elétrons não ligantes da amônia ataca o boro do trifluoreto de boro, preenchendo camada de valência do boro. O boro agora transporta uma carga negativa formal e o nitrogênio contém uma carga formal positiva. A carga negativa substancial reside na parte BF3 da molécula, e a carga positiva substancial é localizada perto do nitrogênio. Exercícios: 1. Escreva uma equação que mostra o ácido de Lewis e a base de Lewis na reação de bromo (Br2) com brometo férrico (FeBr3). 2. Escreva equações que mostram a reação ácido-base de Lewis que ocorre quando: a) metanol (CH3OH) reage com BF3 b) clorometano (CH3Cl) reage com AlCl3 c) éter dimetílico (CH3OCH3) reage com BF3 3. Qual dos seguintes são potenciais ácidos de Lewis e quais são potenciais bases de Lewis. 1.8 Heterólise de ligações ao carbono: carbocátions e carbonos A heterólise de uma ligação a um átomo de carbono pode levar a dois íons: ou um íon com uma carga positiva no átomo de carbono, chamado carbocátion, ou um íon com um carbono carregado negativamente, chamado um carbânion: Carbocátions são deficientes de elétrons. Eles têm apenas seis elétrons em sua camada de valência, e devido a isso, carbocátions são ácidos de Lewis. Desta forma, eles são como BF3 e AlCl3. A maioria dos carbocátions também é de curta duração e altamente reativos. Eles ocorrem como intermediários em algumas reações orgânicas. Carbocátions reagem rapidamente com bases de Lewis – com moléculas ou íons que podem doar o par de elétrons que eles precisam para atingir um octeto estável de elétrons (isto é, a configuração eletrônica de um gás nobre): Carbânions são ricos em elétrons. Eles são ânions e têm um par de elétrons não compartilhados. Carbânions, portanto, são bases de Lewis e reagem dessa forma. 1.9 Eletrófilos e nucleófilos Porque carbocátions são reagentes em busca de elétrons, os químicos os chamam de eletrófilos. Eletrófilos são reagentes que procuram elétrons de modo a alcançar uma camada estável de elétrons como a de um gás nobre. Todos os ácidos de Lewis são eletrófilos. Ao aceitar um par de elétrons de uma base de Lewis, um carbocátion preenche a sua camada de valência. Os átomos de carbono que são deficientes de elétrons devido à polaridade de ligação, mas não são carbocátions, também podem ser eletrófilos. Eles podem reagir com os centros ricos em elétrons de bases de Lewis em reações como as seguintes: Carbânions são bases de Lewis. Carbânions procuram um próton ou algum outro centro positivo para doarem seu par de elétrons e, assim, neutralizar sua carga negativa. Quando uma base de Lewis procura um centro positivo diferente de um próton, especialmente aquele de um átomo de carbono, os químicos chamam de um nucleófilo. Um nucleófilo é uma base de Lewis que procura um centro positivo, como um átomo de carbono positivamente carregado. Como eletrófilos também são ácidos de Lewis (aceptores de pares de elétrons) e nucleófilos são bases de Lewis (doadores pares de elétrons), por que os químicos têm dois termos para eles? A resposta é que ácido de Lewis e base de Lewis são termos que são usados geralmente, mas quando um ou outro reage para formar uma ligação a um átomo de carbono, costumamos chamá-lo eletrófilo ou nucleófilo. 1.10 Setas curvas para ilustrar reações Setas curvas: mostram a direção do fluxo de elétrons em um mecanismo de reação. partem de uma fonte de um par de elétrons ao átomo aceptor do par. (setas curvas também podem mostrar o movimento dos elétrons individuais.) sempre mostram o fluxo de elétrons a partir de um local de maior densidade de elétrons para um local de menor densidade de elétrons. Nunca mostram o movimento dos átomos. Os átomos seguem o fluxo dos elétrons. A reação do cloreto de hidrogênio com a água proporciona um exemplo simples de como utilizar a notação de seta curva. Aqui nós invocamos a primeira caixa de muitas "um mecanismo para a reação", em que mostramos cada etapa chave em um mecanismo de reação. A seta curva começa com uma ligação covalente ou um par de elétrons não ligantes (um localde maior densidade de elétrons) e aponta para um local de deficiência de elétrons. Nós vemos que, como a molécula de água colide com uma molécula de cloreto de hidrogênio, que utiliza um dos seus pares de elétrons não ligantes (mostrados em azul) para formar uma ligação com o próton do HCl. Esta ligação se forma porque os elétrons com carga negativa do átomo de oxigênio são atraídos para o próton carregado positivamente. Como a ligação entre o oxigénio e o próton se forma, a ligação hidrogênio-cloro do HCl se quebra, e o cloro do HCl parte com o par de elétrons que anteriormente estava ligado ao próton. (Se isso não acontecesse, o próton terminaria por formar duas ligações covalentes, que, naturalmente, um próton não podem fazer.) Por conseguinte, usamos uma seta curva para mostrar a clivagem da ligação. Ao apontar da ligação para o cloro, a seta indica que a ligação quebra e o par de elétrons abandona com o íon cloreto. As seguintes reações ácido-base dão outros exemplos da utilização da notação de seta curva: Exercício: Adicione setas curvas às seguintes reações para indicar o fluxo de elétrons para todas as etapas que formam ligações e quebram ligações: 2. A Força de Ácidos e Bases de Bronsted-Lowry: Ka e pKa Em contraste com os ácidos fortes, tais como HCl e H2SO4, o ácido acético é um ácido muito mais fraco. Quando o ácido acético dissolve-se em água, a seguinte reação não ocorre até o fim: Experimentos mostram que, em uma solução 0,1 M de ácido acético, a 25 ° C apenas cerca de 1% das moléculas do ácido acético se ionizam transferindo seus prótons para a água. Portanto, o ácido acético é um ácido fraco. Como veremos a seguir, a força do ácido é caracterizada em termos de constante de acidez (Ka) ou valores de pKa. 2.1 A constante de acidez: Ka Uma vez que a reação que ocorre em uma solução aquosa de ácido acético é um equilíbrio, podemos descrevê-la com uma expressão para a constante de equilíbrio (K eq): Para as soluções aquosas diluídas, a concentração de água é essencialmente constante ( 55.5M), portanto, podemos reescrever a expressão para a constante de equilíbrio em termos de uma nova constante (Ka) chamada constante de acidez: A 25 ° C, a constante de acidez do ácido acético é 1.76 x 10 −5 . Podemos escrever expressões semelhantes para qualquer ácido fraco dissolvido em água. Usando um ácido hipotético geral (HA), a reação em água é e a expressão para a constante de acidez é Uma vez que as concentrações dos produtos da reação são escritos no numerador e a concentração do ácido não dissociado no denominador, um grande valor de Ka significa um ácido é um ácido forte e um pequeno valor de Ka significa que o ácido é um ácido fraco. Se o Ka for superior a 10, o ácido será, para todos os efeitos práticos, completamente dissociado em água em concentrações menores do que 0,01M. 2.2 Acidez e pKa Geralmente se expressa a constante de acidez, Ka, como o seu logaritmo negativo, pKa: pKa = −log Ka Isto é análogo a expressar a concentração de iões hidrónio como pH: pH = −log[H3O + ] Para o ácido acético o pKa é de 4,75: pKa = −log(1.76 x 10−5) = − (−4.75) = 4.75 Note que existe uma relação inversa entre a magnitude do pKa e a força do ácido. Quanto maior for o valor do pKa, o mais fraco é o ácido Por exemplo, o ácido acético com pKa = 4,75 é um ácido mais fraco do que o ácido trifluoroacético com pKa =0 (Ka = 1). O ácido clorídrico com pKa = −7 (Ka = 107) é um ácido muito mais forte do que o ácido trifluoroacético. (Entende-se que um pKa positivo é maior do que um pKa negativo). A Tabela 3.1 lista valores de pKa para uma seleção de ácidos em relação à água como a base. Os valores no meio da tabela de pKa são os mais precisos, porque eles podem ser medidos em solução aquosa. Métodos especiais devem ser utilizados para estimar os valores de pKa para ácidos muito fortes na parte superior da tabela e para os ácidos muito fracos na parte inferior. Os valores de pKa para estes ácidos muito fortes e fracos são por isso aproximados. Todos os ácidos que devemos considerar neste livro terão forças entre a de etano (um ácido extremamente fraco) e o de HSbF6 (um ácido que é tão forte que é chamado de "Superácido"). A água é um ácido muito fraco e sofre auto-ionização, mesmo na ausência de ácidos e bases: Em água pura a 25 ° C, as concentrações de íons hidrônio e hidróxido são iguais a 10 −7 M. Uma vez que a concentração de água em água pura é 55.5M, podemos calcular o Ka para a água. 2.3 Prevendo a força das Bases Em nossa discussão até agora temos tratado apenas com as forças de ácidos. Como consequência natural a este princípio, podemos estimar as forças das bases. O princípio é o seguinte: Quanto mais forte o ácido, mais fraca será a sua base conjugada. Podemos, portanto, relacionar a força de uma base com o pKa de seu ácido conjugado. Quanto maior for o pKa do ácido conjugado, mais forte é a base. Considere os seguintes exemplos: Vemos que o íon hidróxido é o mais forte nesta série de três bases porque seu ácido conjugado, água, é o ácido mais fraco. (Sabemos que a água é o ácido mais fraco, porque que tem o maior pKa). As aminas são como a amônia na medida em que são bases fracas. Dissolvendo amônia na água traz o seguinte equilíbrio: Dissolver metilamina em água causa o estabelecimento de um equilíbrio semelhante: Mais uma vez podemos relacionar a basicidade dessas substâncias com a força de seus ácidos conjugados. O ácido conjugado da amônia é o íon amônio, NH4 + . O pKa do íon amônio é de 9,2. O ácido conjugado de metilamina é o íon CH3NH3 + . Este íon, chamado íon metilamínio tem pKa = 10.6. Uma vez que o ácido conjugado da metilamina é um ácido mais fraco do que o ácido conjugado da amônia, podemos concluir que a metilamina é uma base mais forte do que a amônia. 2.4 Prevendo o resultado das reações ácido-base A Tabela 3.1 apresenta os valores aproximados de pKa para uma gama de compostos representativos. Não se espera a memorização de todos os valores de pKa na Tabela 3.1, mas seria uma boa ideia começar a aprender a ordem geral de acidez e basicidade para alguns dos ácidos e bases mais comuns. Os exemplos dados na Tabela 3.1 são representativos de sua classe ou grupo funcional. Por exemplo, o ácido acético tem um pKa = 4,75, e ácidos carboxílicos geralmente têm valores de pKa perto deste valor (pKa na faixa de 3-5). O álcool etílico é dado como um exemplo de um álcool, e álcoois geralmente têm valores de pKa próximo do álcool etílico. (Em que o pKa varia de 15- 18), e assim por diante. Ao aprender a escala relativa de acidez de ácidos comuns agora, você será capaz de prever ou não se uma reação ácido-base irá ocorrer como descrito. O princípio geral que se aplica é o seguinte: Reações ácido-base sempre favorecem a formação do par ácido-base mais fraco. A razão para isto é que o resultado de uma reação ácido-base é determinada pela posição de equilíbrio. Reações ácido-base são referidas, por conseguinte, estarem sob controle de equilíbrio, e reações sob controle de equilíbrio sempre favorecem a formação das espécies mais estáveis (menores potenciais de energia). Um ácido mais fraco e uma base mais fraca são mais estáveis (menor energia potencial) do que o ácido mais forte e a base mais forte. Usando este princípio, podemos prever que um ácido carboxílico (RCO2H) irá reagircom NaOH aquoso, da seguinte forma, porque a reação irá levar à formação do par ácido-base mais fraco. Uma vez que existe uma grande diferença no valor do pKa dos dois ácidos, a posição do equilíbrio vai favorecer grandemente a formação dos produtos. Em casos como estes, comumente mostramos a reação com uma seta de sentido único, embora a reação seja um equilíbrio. Exercícios: 1. O ácido fórmico (HCO2H) tem Ka = 1,77 x 10 −4 . (a) Quais são as concentrações molares do íon hidrônio e íon formiato (HCO2 − ) em uma solução aquosa 0,1 M de ácido fórmico? (b) Qual a percentagem do ácido fórmico é ionizado? 2. (a) um ácido (HA) tem Ka = 10 −7 . Qual é o seu pKa? (b) Outro ácido (HB) tem Ka = 5; qual o seu pKa? (c) Qual é o ácido mais forte? 3. Usando os valores de pKa na Tabela 3.1 decida qual é a base mais forte, CH3OH ou H2O. 4. Utilizando os valores de pKa de compostos análogos na Tabela 3.1 preveja qual seria a base mais forte. 5. O pKa do íon anilínio (C6H5NH3 + ) é 4,63. Com base neste fato, decida se a anilina (C6H5NH2) é uma base forte ou mais fraca do que a metilamina. 6. Considere a mistura de uma solução aquosa de fenol, C6H5OH (ver Tabela 3.1), e de NaOH. Que reação ácido-base, se houver uma, irá ocorrer? 7. Preveja o resultado da seguinte reação. 8. Que espécie seria formada através da reação deste composto com: a) um equivalente de NaNH2 em amônia; b) 2 equivalentes de NaNH2 em amônia? 2.5 Solubilidade em água como resultado da formação de sal Embora o ácido acético e outros ácidos carboxílicos contendo menos do que cinco átomos de carbono sejam solúveis em água, diversos outros ácidos carboxílicos de peso molecular mais elevado não são apreciavelmente solúveis em água. Devido à sua acidez, no entanto, ácidos carboxílicos insolúveis em água dissolvem em hidróxido de sódio aquoso; eles fazem isso por meio de uma reação para formar sais de sódio solúveis em água: Podemos também prever que uma amina reagirá com ácido clorídrico aquoso da seguinte forma: Enquanto metilamina e a maioria das aminas de baixo peso molecular são muito solúveis em água, aminas com pesos moleculares mais elevados tais como a anilina (C6H5NH2), têm solubilidade em água limitada. No entanto, estas aminas insolúveis em água, se dissolvem facilmente em ácido clorídrico porque as reações ácido-base converte-as em sais solúveis: Exercicio A maioria ácidos carboxílicos dissolvem em soluções aquosas de bicarbonato de sódio (NaHCO3) porque, como sais de carboxilato, eles são mais polares. Faça setas curvas que mostrem a reação entre um ácido carboxílico genérico e bicarbonato de sódio para formar um sal carboxilato e H2CO3. (Note que H2CO3 é instável e se decompõe em dióxido de carbono e água. Você não precisa mostrar esse processo). 3 Relação entre estrutura e atividade A força de um ácido de Bronsted-Lowry depende do grau em que um próton pode ser separado dele e transferido para uma base. A remoção do próton envolve quebrar uma ligação com o próton e deixar a base conjugada mais eletricamente negativa. Quando se comparam os compostos numa única coluna da tabela periódica, a força de a ligação ao próton é o efeito dominante. A força da ligação ao próton diminui à medida que se move para baixo na coluna, aumentando a sua acidez Este fenômeno é principalmente devido à diminuição da eficiência da sobreposição entre o orbital 1s do hidrogênio e orbitais de elementos sucessivamente maiores na coluna. Quanto menos eficiente a sobreposição de orbitais, mais fraca é a ligação e mais forte é o ácido. A acidez dos haletos de hidrogênio fornece um exemplo: Comparando-se os haletos de hidrogênio, H−F é o ácido mais fraco e H−I é o mais forte. Esta situação resulta do fato de que a ligação H−F é, de longe, a mais forte e a ligação H−I a mais fraca. Porque HI, HBr, e HCl são ácidos fortes, as suas bases conjugadas (I − , Br − , Cl − ) são todas bases fracas. HF, no entanto, que é menos ácido do que os outros haletos de hidrogênio por cerca de 10 ordens de grandeza (compare os valores de pKa), tem uma base conjugada que é correspondentemente mais básica do que os outros ânions haleto. Entretanto, o ânion fluoreto ainda não é tão básico como outras espécies que comumente pensamos como bases, como o ânion hidróxido. Uma comparação entre os valores de pKa para HF (3,2) e H2O (15,7) ilustra este ponto. A mesma tendência de acidez e basicidade é válida em outras colunas da tabela periódica. Considere, por exemplo, a coluna encabeçada pelo oxigênio: Aqui, a ligação mais forte é a ligação O−H e H2O é o ácido mais fraco; a ligação mais fraca é a ligação Se−H e H2Se é o ácido mais forte. A Acidez aumenta da esquerda para a direita quando se comparam compostos em uma determinada linha da tabela periódica As forças de ligação variam um pouco, mas o fator predominante torna-se a eletronegatividade do átomo ligado ao hidrogênio. A eletronegatividade do átomo em questão afeta a acidez de duas formas relacionadas. Afeta a polaridade da ligação ao próton e afeta a relativa estabilidade do ânion (base conjugada) que se forma quando o próton é perdido. Podemos ver um exemplo deste efeito quando comparamos a acidez dos compostos CH4, NH3, H2O e HF. Estes compostos são todos os hidretos de elementos do primeiro período e a eletronegatividade aumenta através de um período da tabela periódica da esquerda para a direita: Devido ao flúor ser o mais eletronegativo, a ligação em H−F é mais polarizada, e o próton em H−F é o mais positivo. Portanto, H−F perde um próton mais facilmente e é o mais ácido desta série: Devido ao fato do H−F ser o ácido mais forte nesta série, a sua base conjugada, o íon fluoreto (F − ), será a base mais fraca. O flúor é o átomo mais eletronegativo e acomoda a carga negativa mais prontamente: O íon metanídeo (CH3 − ) é o ânion menos estável dos quatro, porque o carbono sendo o elemento menos eletronegativo se torna menos capaz de aceitar a carga negativa. O íon metanídeo então é a base mais forte nesta série. O íon metanídeo, um carbânion, e o íon amideto (NH2 − ) são bases muito fortes, porque eles são as bases conjugadas de ácidos extremamente fracos. As tendências em acidez na tabela periódica são resumidas na figura seguinte: 3.1 Efeito de hibridação Os prótons do etino são mais ácidos do que os do etileno, que por sua vez são mais ácidos do que os do etano. Podemos explicar esta ordem de acidez em função do estado de hibridação do carbono em cada composto. Elétrons de orbitais 2s têm energia inferior aos elétrons dos orbitais 2p porque os elétrons em orbitais 2s orbitais tendem, em média, a ser muito mais próximos do núcleo do que elétrons em orbitais 2p. (Considere as formas dos orbitais: orbitais 2s são esféricos e centrados no núcleo; orbitais 2p têm os lóbulos de cada lado do núcleo e se estendem para o espaço). Com orbitais híbridos, ter mais caráter s significa que os elétrons do ânion serão, em média, inferiores em energia, e o ânion será mais estável. Os orbitais sp das ligações C−H do etino tem caráter 50% s (porque eles surgem da combinação de um orbital s e um orbital p), os orbitais sp 2 do etileno têm caráter 33,3%, ao passo que as orbitais sp 3 do etano têm caráter apenas 25% s. Isto significa que os átomos de carbono sp do etino agem como se fossem mais eletronegativos do que os átomos de carbono sp 2 doeteno e os átomos de carbono sp 3 do etano. Acidez relativa dos Hidrocarbonetos Sendo o mais eletronegativo, o átomo de carbono hibridizado-sp do etino polariza a sua ligação C−H em maior extensão, fazendo com que os seus hidrogênios sejam mais positivos. Portanto, o etino doa um próton para uma base mais facilmente. E, do mesmo modo, o íon etinídeo é a base mais fraca porque o carbono mais eletronegativo do etino é melhor para estabilizar a carga negativa. Basicidade relativa dos carbânions Observe que a explicação dada aqui envolve eletronegatividade, assim como aquela dada anteriormente para explicar a acidez relativa de HF, H2O, NH3 e CH4. 3.2 Efeito indutivo A ligação carbono-carbono do etano é completamente apolar, porque em cada extremidade da ligação existem dois grupos metila equivalentes: A ligação C−C é apolar. Este não é o caso com a ligação carbono-carbono do fluoreto de etila, no entanto: Uma extremidade da ligação, a mais próxima do átomo de flúor, é mais negativa do que a outra. Esta polarização da ligação carbono-carbono resulta de uma capacidade elétron- atraente do flúor (por causa de sua eletronegatividade) que é transmitida através do espaço e através das ligações da molécula. Este efeito é chamado de efeito indutivo. Efeitos indutivos são efeitos eletrônicos transmitidos através de ligações. O efeito indutivo de um grupo pode ser doador de elétrons ou retirador de elétrons. Efeitos indutivos enfraquecem quando a distância dos grupos aumenta No caso de fluoreto de etila, a carga positiva que o flúor transmite para C1 é maior do que aquela que transmite para C2, porque o flúor está mais perto de C1. 3.3 Acidez dos ácidos carboxílicos Os ácidos carboxílicos são ácidos fracos, tipicamente com valores de pKa na faixa de 3- 5. Álcoois, em comparação, tem valores de pKa na faixa de 15-18, e essencialmente não entregam um próton, a não ser quando são expostos a uma base muito forte. Para investigar as razões para essa diferença, vamos considerar ácido acético e etanol como exemplos representativos de ácidos carboxílicos e álcoois simples. Usando o pKa para o ácido acético (4,75), pode-se calcular a mudança de energia livre (∆G°) para a ionização do próton carboxila do ácido acético que é +27 kJ/mol, um processo moderadamente endergônico (desfavorável), uma vez que o valor de ∆G é positivo. Usando o pKa do etanol (16), pode-se calcular que a correspondente variação de energia livre para a ionização do próton do grupo hidroxila do álcool é +90,8 kJ/mol, um processo muito mais endergônico (e portanto menos favorável). Estes cálculos refletem o fato de que o etanol é muito menos ácido do que o ácido acético. A figura retrata a magnitude destas mudanças de energia em um sentido relativo. Como podemos explicar a maior acidez dos ácidos carboxílicos frente aos álcoois? Considere primeiro as mudanças estruturais que ocorrem se ambos ácido acético e etanol agirem como ácidos doando um próton para a água. O que precisamos focar é na estabilidade relativa das bases conjugadas derivadas do ácido carboxílico e do álcool. Isto porque a menor variação de energia para ionização de um ácido carboxílico (por exemplo, ácido acético), em comparação com um álcool (e.g., etanol) foi atribuída à maior estabilização da carga negativa no íon carboxilato em comparação com o íon alcóxido. A maior estabilização do íon carboxilato parece surgir a partir de dois fatores: (a) deslocalização de carga (como representado pelas estruturas de ressonância para o íon carboxilato, e (b) o efeito indutivo retirador de elétrons. 3.4 Efeito de deslocalização Deslocalização da carga negativa é possível em um ânion carboxilato, mas não é possível em um íon alcóxido. Nós podemos mostrar como a deslocalização é possível em íons carboxilato escrevendo estruturas de ressonância para o íon acetato. As duas estruturas de ressonância acima representadas distribuem a carga negativa em ambos os oxigênios do grupo carboxilato, estabilizando, assim, a carga. Este é um efeito de deslocalização (ressonância). Em contraste, estruturas de ressonância não são possíveis para um íon alcóxido, tal como etóxido. Estruturas de ressonância não podem ser representadas para o ânion etóxido Uma regra para se ter em mente é que a deslocalização de carga é sempre um fator de estabilização e devido à estabilização de carga, a diferença de energia para a formação de um íon carboxilato a partir de um ácido carboxílico é menor do que a diferença de energia para a formação de um íon alcóxido a partir de um álcool. Uma vez que a diferença de energia de ionização de um ácido carboxílico é inferior a de um álcool, o ácido carboxílico é um ácido mais forte. 3.5 Efeito indutivo A eletronegatividade dos átomos de oxigênio ajuda a estabilizar a carga, no que é chamado efeito indutivo retirador de elétrons. Um íon carboxilato tem dois átomos de oxigênio, cuja eletronegatividade combinada estabiliza a carga a mais do que um íon alcóxido, que tem apenas um único oxigênio eletronegativo. Isso reduz a barreira de energia para a formação do íon carboxilato, fazendo do ácido carboxílico um ácido mais forte do que um álcool. Também é razoável esperar que um ácido carboxílico seja um ácido mais forte do que um álcool quando consideramos ambos como moléculas neutras (antes da perda de um próton), porque ambos os grupos funcionais têm uma ligação O−H altamente polarizada, que por sua vez, enfraquece a ligação ao átomo de hidrogênio. No entanto, o efeito significante de remoção de elétrons do grupo carbonila no ácido acético e a ausência de um grupo de remoção de elétrons adjacente no etanol torna o hidrogênio do ácido carboxílico muito mais ácido do que o hidrogênio do álcool 3.6 Efeito indutivo de outros grupos O efeito de reforço de outros grupos elétron-atraentes (que não seja o grupo carbonila) pode ser mostrado por comparação da acidez do ácido acético e do ácido cloroacético: Este é um exemplo de um efeito do substituinte. A maior acidez do ácido cloroacético pode ser atribuída, em parte, ao efeito indutivo elétron-atraente extra do cloro eletronegativo. Ao adicionar o seu efeito indutivo àquele do grupo carbonila e ao oxigênio, ele deixa o próton do grupo hidroxila do ácido cloroacético ainda mais positivo do que o do ácido acético. Este também estabiliza o íon cloroacetato que é formado quando o próton é perdido por dispersão sua carga negativa. A dispersão da carga sempre faz uma espécie mais estável, e, como vimos agora em vários casos, qualquer elemento que estabiliza a base conjugada de um ácido aumenta a força do ácido. Exercício: Qual composto em cada par é mais ácido? 3.7 Compostos orgânicos como bases Se um composto orgânico contém um átomo com um par de elétrons não ligantes, este é uma base em potencial. Vamos considerar alguns exemplos que compostos orgânicos que possuem um par de elétrons não ligantes em um átomo de oxigênio agindo como base. Dissolver HCl gasoso em metanol provoca uma reação ácido-base muito parecido com aquela que ocorre com água: O ácido conjugado do álcool é muitas vezes chamado um álcool protonado, embora mais formalmente seja chamado íon alquiloxônio ou simplesmente um íon oxônio. Álcoois, em geral, são submetidos a esta mesma reação quando são tratados com soluções de ácidos fortes, tais como HCl,HBr, HI, e H2SO4: Assim, também o fazem os éteres: Compostos que contêm um grupo carbonila também agem como bases na presença de um ácido forte: Reações de transferência de prótons como estas são muitas vezes o primeiro passo para muitas reações que álcoois, éteres, aldeídos, cetonas, ésteres, amidas e ácidos carboxílicos sofrem. Os valores de pKa de alguns desses intermediários protonados são dados na Tabela 3.1. Um átomo com um par de elétrons não ligantes não é o único local que confere basicidade a um composto orgânico. A ligação de um alceno pode ter o mesmo efeito. Mais tarde vamos estudar muitas reações em que, na primeira etapa, alcenos reagem com um ácido forte, aceitando um próton da seguinte forma: Nesta reação o par de elétrons da ligação do alceno é usada para formar uma ligação entre um carbono do alceno e o próton doado pelo ácido forte. Observe que duas ligações são quebradas neste processo: a ligação da ligação dupla e a ligação entre o próton do ácido e a sua base conjugada. Uma ligação nova é formada: uma ligação entre um carbono do alceno e do próton. Este processo deixa o outro carbono do alceno trivalente, elétron-deficiente e com uma carga formal positiva. Um composto contendo um átomo de carbono deste tipo é chamado de carbocátion. Carbocátions são intermediários instáveis que reagem para produzir moléculas estáveis. 3.8 Mecanismo para uma reação orgânica Dissolver álcool terc-butílico em ácido clorídrico concentrado aquoso resulta na formação de cloreto de terc-butila. A reação é uma reação de substituição: Álcool terc-butílico é solúvel no meio aquoso; No entanto, cloreto de terc-butila não é, e por conseguinte, separa-se a fase aquosa como uma outra camada no balão. É fácil remover essa camada não aquosa, purificá-la por destilação, e, assim, obter o cloreto de terc-butila. Evidências consideráveis, descritas mais adiante, indicam que a reação ocorre da seguinte forma: Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Repare que todas estas etapas envolvem reações ácido-base. A etapa 1 é uma simples reação ácido-base de Bronsted, em que o oxigênio do álcool remove um próton a partir do íon hidrônio. A etapa 2 é o inverso de uma reação ácido-base de Lewis. Nela, a ligação carbono-oxigênio do álcool protonado quebra heteroliticamente quando a molécula de água sai com os elétrons da ligação. Isto acontece, em parte, porque o álcool é protonado. A presença de uma carga formal positiva sobre o oxigênio do álcool protonado enfraquece a ligação carbono-oxigênio direcionando os elétrons na direção do oxigênio positivo. A etapa 3 é uma reação ácido-base de Lewis, em que um ânion cloreto (uma base de Lewis) reage com o carbocátion (um ácido de Lewis) para formar o produto. Uma pergunta pode surgir: Por que não uma molécula de água (também uma base de Lewis) ao invés de um íon cloreto reage com o carbocátion? Afinal, há muitas moléculas de água ao redor, uma vez que a água é o solvente. A resposta é que esta etapa ocorrer algumas vezes, mas é simplesmente o inverso da etapa 2. Isto quer dizer que, nem todos os carbocátions que se formam levam diretamente ao produto. Alguns reagem com água para se tornarem álcoois protonados novamente. No entanto, estes irão se dissociar novamente para se tornarem carbocátions (mesmo se antes eles perderem um próton para se tornar o álcool novamente). Eventualmente, no entanto, a maioria deles é convertida para o produto porque, sob as condições da reação, o equilíbrio da última etapa encontra-se agora para a direita, e o produto separa-se da mistura de reação como uma segunda fase. 3.9 Ácidos e bases em soluções não aquosas Se você fosse adicionar amideto de sódio (NaNH2) à água em uma tentativa de realizar uma reação utilizando o íon amida (NH2 − ) como uma base muito poderosa, a seguinte reação ocorreria imediatamente: O íon amida iria reagir com a água para produzir uma solução contendo íon hidróxido (uma base bem mais fraca) e amônia. Este exemplo ilustra o que se chama o efeito nivelador do solvente. Água, o solvente aqui, doa um próton para qualquer base mais forte do que um íon hidróxido. Portanto, não é possível utilizar uma base mais forte do que o íon hidróxido em solução aquosa. Podemos usar bases mais fortes do que o íon hidróxido, no entanto, se escolhermos solventes que são ácidos mais fracos do que a água. Podemos usar o íon amida (por exemplo, a partir de NaNH2) em um solvente tal como hexano, éter dietílico, ou amônia (NH3) líquida. Todos estes solventes são ácidos muito fracos (geralmente não pensamos neles como ácidos), e, portanto, eles não vão doar um próton até mesmo para a base forte NH2 − . Podemos, por exemplo, converter etino para a sua base conjugada, um carbânion, tratando-o com amideto de sódio em amônia líquido: A maioria dos alcinos terminais (alcinos com um próton ligado a um carbono da ligação tripla) têm valores de pKa de cerca de 25; Portanto, todos reagem com amideto de sódio em amônia líquida da mesma maneira que o etino. A reação geral é Os álcoois são muitas vezes usados como solventes para reações orgânicas porque, sendo um pouco menos polares do que a água dissolvem compostos orgânicos menos polares. O uso de álcoois como solventes também oferece a vantagem de utilizar íons RO − (chamados íons alcóxido) como bases. Íons alcóxido são bases um pouco mais fortes do que íons hidróxido porque álcoois são ácidos mais fracos do que a água. Por exemplo, podemos criar uma solução de etóxido de sódio (CH3CH2ONa) em álcool etílico, adicionando hidreto de sódio (NaH) em álcool etílico. Nós usamos um grande excesso de álcool etílico, porque nós queremos que ele seja o solvente. Sendo uma base muito forte, o íon hidreto reage prontamente com álcool etílico: O íon terc-butóxido, (CH3)3CO − , em álcool terc-butílico, (CH3)3COH, é uma base mais forte do que o íon etóxido em álcool etílico, e pode ser preparado de uma maneira semelhante: Embora a ligação carbono-lítio de um alquil-lítio (RLi) tenha carácter covalente, ela é polarizada de modo a tornar o carbono negativo: Reagentes alquil-lítio reagem como se eles tivessem o íon alcanídeo (R: − ) e, sendo bases conjugadas de alcanos, os íons alcanídeos são as bases mais fortes que vamos encontrar. Etillítio (CH3CH2Li), por exemplo, atua como se ele tivesse um carbânion etanídeo (CH3CH2: − ). Ele reage com etino da seguinte forma: Alquillítio pode ser facilmente preparado deixando um brometo de alquila reagir com metal lítio, num solvente etéreo (tal como éter dietílico). Exercícios: 1. Escreva equações para a reação ácido-base que ocorre quando cada um dos seguintes compostos ou soluções são misturados. Em cada caso indique o ácido mais forte e a base mais forte, o ácido mais fraco e a base mais fraca, utilizando os valores de pka (indique também quando a reação ácido-base não ocorrer) a) NaH é adicionado ao CH3OH b) NaNH2 é adicionado ao CH3CH2OH c) NH3 gasoso é adicionado ao etillítio em hexano d) NH4Cl é adicionado ao amideto de sódio em amônia líquida e) (CH3)3CONa é adicionado à água f) NaOH é adicionado ao (CH3)3COH 2. Reescreva cada uma das seguintes reações utilizando setas curvas e mostre todos os pares de elétrons não ligantes3. Quando o álcool metílico é tratado com NaH, o produto é CH3O − Na + (e H2) e não Na + − CH2OH (e H2). Explique porque isso ocorre 4. Qual reação ocorre quando etanol é adicionado a uma solução de HC≡C: −Na+ em amônia líquida? 5. a) Ordene os seguintes compostos em ordem decrescente de acidez (do mais ácido pro menos ácido) e explique sua resposta: CH3CH2NH2, CH3CH2OH, CH3CH2CH3. b) Ordene as bases conjugadas dos ácidos anteriores em ordem crescente de basicidade. Explique sua resposta. 6. O etanol é um solvente conveniente para realizar a seguinte reação ácido-base? Explique sua resposta: 7. Coloque os seguintes compostos em ordem crescente de basicidade (do menos básico pro mais básico). Explique sua resposta
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