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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO – UFERSA FACULDADE DE DIREITO André Luiz Leite de Oliveira RESUMO Direitos Humanos APUNTES SOBRE LA EXIGIBILIDAD JUDICIAL DE LOS DERECHOS SOCIALES Mossoró-RN 2016 Apontamentos sobre a exigibilidade judicial dos Direitos Sociais (autores: Victor Abramovich e Christian Courtis). Ao iniciar a obra, os autores argumentam que as regras que tratam sobre os direitos sociais são normas apenas programáticas, normas quase que utópicas, mas que deveriam conferir direitos plenos aos indivíduos. Ocorre que a diferenciação entre direitos civis e sociais não é tão simples como defende tal doutrina. A principal diferença, segundo seus apoiadores, estaria na distinção entre obrigações negativas e positivas. Segundo tais defensores, os direitos civis caracterizam-se por obrigações negativas, definidas pelo Estado, como abster-se de matar, de torturar, de impor censura, de violar correspondência, de afetar a propriedade privada, etc, enquanto as obrigações de direitos sociais exigiriam tipo positivo (oferecer serviços de saúde, educação, habitação, etc.). No primeiro caso, diz-se, o Estado iria cumprir a sua missão com a mera abstenção, sem envolver gastos e, portanto, a revisão judicial seria limitada à anulação desses atos de violação à obrigação de abster-se. Contra a exigibilidade judicial dos direitos sociais, mesmo quando tenham reconhecimento constitucional, diz-se que, como são direitos que estabelecem obrigações positivas, seu cumprimento depende de verbas públicas, nao podendo o Judiciário impor ao Estado o cumprimeto de condutas de dar ou fazer. Tal distinção é fraca, pois todos os direitos, sejam eles civis, políticos, econômicos ou culturais tem custo e se constituem de obrigações negativas e positivas. Os direitos civis não se esgotam em obrigações de abstenção por parte do Estado: eles exigem ações positivas, como a regulamentação, o exercício do poder de polícia, a atividade judicante, etc. Todas estas atividades envolvem custos para o Estado. Alguns direitos sociais se caracterizam por exigirem ações positivas do Estado. Os chamados direitos-prestação, ou seja, aqueles que exigem a distribuição de algum tipo de benefício para os seus detentores. Outros direitos sociais, no entanto, exigem abstenções do Estado (Ex: não interferir numa greve, não interferir nas negociações ou no resultado da negociação, etc). Todo direito então requer, para sua eficácia, obrigações positivas e negativas. “Exigen, más bien, imaginación a los juristas y a los jueces (7), en aras de ofrecer protección eficaz a aquellos bienes que el constituyente ha decidido priorizar.” A atividade estatal violadora de direito econômico, social ou cultural pode ser questionada judicialmente nos casos de descumprimento de obrigações positivas do Estado, ou seja, omissões em suas obrigações de realizar ações ou adotar medidas de proteção e garantia dos direitos em questão. Neste ponto, surgem indagações: o Poder Judiciário é o menos adequado para realizar políticas públicas; um caso judicial é pouco apropriado para discutir medidas de alcance geral; a discussão processual gera problemas, pois outras pessoas afetadas pelo mesmo descumprimento não participam do processo; etc. Em muitos casos, a falha do Estado pode ser reparada, mesmo diante de um contexto processual tradicional. A violação do direito à saúde é reparável por meio de ajuizamento de uma ação individual. Desta forma percebe-se que sentenças judiciais podem ser instrumentos importantes para aconselhar os poderes políticos das necessidades da agenda pública. Ressalte-se tais compromissos não se tratam de favores, mas de direitos individuais e obrigações estatais, decorrentes de programas de governo assumidos tanto interna como internacionalmente. É fundamental que é o próprio Poder Judiciário quem comunica ao poder político o descumprimento de suas obrigações. Assim, quando o poder público não cumprir as obrigações, será declarado "infrator" pelo Poder Judiciário, enfrentando a responsabilidade política de sua atuação morosa ante a população. Assim, longe de compreender que os direitos econômicos, sociais e culturais não sejam exigíveis judicialmente, o Comitê estabelece uma forte presunção de que a falta de recursos legais apropriados, permitindo que sejam exigidos tais direitos, constitui uma violação legal. Em suma, embora possa admitir que existem limitações sobre a exigibilidade judicial dos direitos económicos, sociais e culturais, pode-se concluir exatamente o contrário: dada a sua complexa estrutura não existe direito econômico, social ou cultural, que não apresente pelo menos alguma característica ou faceta que permite a sua demanda judicial em caso de violação. “El espectro de sus posibilidades procesales-constitucionales se extiende, desde la mera constatación de una violación de la Constitución, a través de la fijación de un plazo dentro del cual debe llevarse a cabo una legislación acorde con la Constitución, hasta la formulación judicial directa de lo ordenado por la Constitución" O autor elenca alguns obstáculos para a implementação da exigibilidade dos direitos sociais. Vejamos: 1. A determinação da conduta devida Um obstáculo inicial à exigibilidade judicial dos direitos sociais se relaciona à falta de especificação precisa do conteúdo desses direitos. Quando a Constituição ou tratado internacional falam do direito à saúde, à educação, ao trabalho ou à habitação, é difícil conhecer a exata medida das prestações ou abstenções devidas. É evidente que a exigibilidade de um direito na via judicial envolve a determinação de um descumprimento, algo que se tornará impossível de exigir se a conduta devida não for clara. A determinação de um direito constitucional é afetado pelo mesmo problema, que se encontra na imprecisão de linguagem das normas legais. No entanto, tal dificuldade nunca conduziu à alegação de que os direitos civis não sejam direitos ou não sejam exigíveis judicialmente, mas sim para a tarefa de especificar seu conteúdo e limites, a partir de regulamentações legislativas e administrativas, a jurisprudência e doutrina. O problema da falta de precisão é típico das normas constitucionais ou tratados de direitos humanos, uma vez que tratam-se das normas de maior generalidade, pois estam visam permitir maior flexibilidade e adaptabilidade aos instrumentos normativos decorrentes. 2. A auto-restrição do Poder Judicial perante questões políticas e técnicas Outro obstáculo à judicialização dos direitos sociais reside nos critérios restritivos usados na magistratura ao tomar decisões qualificadas como políticas. Então, quando a reparação de uma violação de direitos sociais referentes à ação do Estado, envolve recursos orçamentários ou implica tomar decisão sobre qual grupo social será tutelado, muitos juízes consideram que tais questões são de competência dos órgãos políticos. Além disso, a margem de discricionariedade da Administração é maior, portanto, diminuindo a vontade de controle judicial. Existem argumentos para afirmar que o processo judicial não é o cenário adequado para discutir tais temas, na medida em que um mecanismo para a resolução de conflitos como o processo judicial, em que um lado ganha e o outro perde, pode ser adequado para resolver uma situação em que se enfrentam inúmeros interesses individuais e coletivos. Assim, quanto maior a margem para discussão de questões que possam ser descritas como "políticas" ou " técnicas ", menores serão as chances de sucesso da ação pretendida.Se o juiz, além de deliberar sobre uma questão de direito, deva decidir sobre prioridades na implementação do orçamento, de quais grupos merecem proteção preferencial do Estado, ou sobre a conveniência de política públicas, o resultado do litígio será incerto. Não há definições absolutas sobre o caráter "político" ou "técnico" de uma questão, de modo que a linha demarcatória entre tais questões e os problemas essencialmente jurídicos é incerta. 3. A inadequação dos mecanismos processuais tradicionais para a tutela dos direitos sociais Outro obstáculo importante para a exigibilidade dos direitos sociais é a inadequação dos mecanismos processuais tradicionais para a sua proteção. A ações judiciais tradicionais tipificadas pelo ordenamento jurídico foram projetadas para a proteção dos direitos civis clássicos. A questão remete a uma das discussões fundamentais sobre a definição dos direitos, consistente na relação entre a legislação em vigor e ação judicial existente para exigi- lo. Assinalando essas dificuldades é perfeitamente possível determinar diferentes tipos de situações em que a violação desses direitos é corrigível mediante atuação judicial com os instrumentos processuais existentes hoje. A falta de instrumentos jurídicos específicos para remediar a violação de certas obrigações que tem como fontes direitos econômicos, sociais e culturais não determina a impossibilidade técnica de criá-los e desenvolvê-los. A inadequação atual dos mecanismos ou garantias judiciais não diz nada sobre a impossibilidade conceitual de se judicializar os direitos sociais, mas requer reflexão e criação de instrumentos processuais aptos a levar a cabo estas reivindicações. Os novos horizontes desenvolvidos por meio de ação de proteção individual e coletiva, os recentes desenvolvimentos em matéria de medidas cautelares, as possibilidades de aumento de ações de inconstitucionalidade, o progresso das sentenças declaratórias, a ação civil pública e os mandados de segurança e de injunção, a legitimação do Ministério Público ou da Defensoria Pública para representar interesses coletivos, são exemplos dessa tendência. A evolução constitucional e legislativa nos últimos anos é notória. Muitos dos sinais que são percebidos nesta área hoje são, pelo menos, encorajadores 4. A escassa tradição de controle judicial na matéria Por fim, importante trazer a tona a ausência de tradição na exigibilidade por esses direitos, pois apesar das regras constitucionais que os consagram, concepções conservadoras sobre o papel institucional do Poder Judiciário e de separação de poderes, têm causado escassa prática de exigibilidade judicial desses direitos e um desrespeito às regras que os instituíram. Aliado a isso a falta de percepção de conflitos vinculados à violação de direitos sociais pelas próprias vítimas. Ainda quando o conflito é percebido em termos jurídicos, as vítimas destas violações dirigem sua luta a outras estratégias de reclamação, como protestos, campanhas de divulgação e de pressão, entre outras, a partir de sua desconfiança na atuação do Poder Judiciário e dos advogados. Para os autores a palavra chave é precedentes judiciais: “La gradual acumulación de precedentes judiciales, que permita extraer principios de actuación operables en contextos análogos, hará posible un cambio de actitud por parte de los tribunales, y una mayor visibilidad de la posibilidad de reclamo judicial por parte de las propias víctimas”. (grifo meu).
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