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Brigite Jordan Tradução. (1)

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
Escola de Artes, Ciências e Humanidades 
 
 
 
 
 
 
Tradução Parcial do Livro “Birth in Four Cultures: A Crosscultural 
Investigation of Childbirth in Yucatan, Holland, Sweden and the United States” 
1– Brigitte Jordan. 
 
“For the midwives of the world, in profound appreciation” – R.D.F 
 
 
 
 
 
Gabriela Paccola Moreno 
Aluna 
 
 
Profº.Dr. Edemilson Antunes de Campos 
Orientador Responsável 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2015/2016 
 
1 “O Nascimento em Quatro Culturas: Uma investigação transcultural acerca do nascimento em 
Yucatán, Holanda, Suécia e Estados Unidos. ” 
2 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
Prefácio da Quarta Edição – 1993: .................................................................................... 3 
Capítulo 1: A Estrutura Biossocial para a Comparação Transcultural das Práticas 
de Nascimento. ................................................................................................................................... 6 
Obstáculos para a Comparação Transcultural ............................................................ 10 
A sequência do trabalho de campo ................................................................................ 14 
Participação Antropológica .............................................................................................. 15 
Uma prévia do livro ............................................................................................................. 18 
Capítulo 3: A Comparação Transcultural dos Sistemas de Nascimento Através 
de uma Análise Biossocial. ........................................................................................................... 19 
O nascimento nos Estados Unidos, Holanda e Suécia: uma visão geral ............ 21 
Estatísticas sobre mortalidade: uma atualização ....................................................... 22 
Características Biossociais do Nascimento ................................................................ 23 
Visão histórica do nascimento ocidental ...................................................................... 26 
Conclusão: ............................................................................................................................ 76 
Parte II: O Conhecimento Autoritativo no Nascimento. ............................................ 77 
Capítulo 6: A Conquista do Poder Autoritativo nos Nascimentos em Hospitais 
Americanos ........................................................................................................................................ 79 
O Conhecimento Autoritativo........................................................................................... 80 
A Equipe Médica como Guardiã do Conhecimento ................................................... 90 
Encenando a Performance do Médico ........................................................................... 95 
As Estruturas de Participação na Sala de Parto ......................................................... 97 
Alguns Pensamentos sobre a Organização do Ambiente do Trabalho de Parto 99 
 
 
 
3 
 
Prefácio da Quarta Edição – 1993: 
 
Passaram-se quinze anos desde que a primeira edição de “Birth in Four 
Cultures” foi publicado pela editora Eden Press de Montreal. O livro, de diversas 
maneiras, foi deixado de lado. Raramente foi veiculado em propagandas, nunca foi 
resenhado em jornais de grande circulação e sempre foi obtido com muita dificuldade 
por aqueles que se interessaram. Porém, lentamente, essa situação foi mudando. 
Donos de livrarias começaram a reclamar que, constantemente, o exemplar 
esgotava de suas estantes. Professores ligavam por não conseguirem cópias para 
ministrarem aulas sobre o livro em seus respectivos cursos e, depois de alguns anos, 
inclusive, passei a receber cartas de lugares como a Mongólia e Lesoto. 
Uma tradução para o italiano surgiu. Pareceu que, apesar de seu status inicial 
de baixa notoriedade, o livro obteve algum impacto nas inciativas que visavam 
transformar a visão americana acerca das formas de nascimento, assim como, nas 
definições do estudo do nascimento como uma área legítima da pesquisa 
antropológica. 
No início dos anos 1970, quando eu estava batalhando para realizar uma 
pesquisa de campo em uma variedade de configurações acerca do nascimento e 
escrevendo o livro “Birth in Four Cultures”, o campo de estudo do qual, atualmente, 
conhecemos como Antropologia do Nascimento não existia. Não haviam trabalhos 
para serem comparados com este. Não haviam métodos de tentativa e erro. Não 
haviam conceitos analíticos que poderiam servir como base para a criação do meu 
material. 
Eu enfrentei grandes dificuldades ao tentar comparar as maneiras de 
concepção do nascimento de forma transcultural, assim como, ao expor o nascimento 
como um evento de entendimento culturalmente enraizado, de mediação biossocial –
e alcance interativo, e como um indivíduo poderia facilitar um processo de mudança 
que preservaria as melhores configurações dos sistemas de nascimento que estavam 
em colisão e conflito ao redor de todo o mundo. 
Em meio a todo esse esforço, encontrei inspiração nos trabalhos de Margaret 
Mead. Quando eu fui reconhecida com o prêmio Margaret Mead em 1980 por conta 
do trabalho que é apresentado nesse livro, senti que a premiação falou de forma 
sincera sobre nossa conexão. Mead era a única outra antropóloga que eu conhecia 
que tinha alguma visão sobre as concepções acerca do que nascimento antropológico 
4 
 
poderia ser. Para ela, assim como para mim, essa visão deveria incluir – 
primeiramente e mais importante de tudo – uma aproximação transcultural. A seguir, 
assim como enfatizado por nós duas, uma forma cultural específica da fisiologia 
universal do nascimento e a forma adaptativa (ou não-adaptativa, como pode ser o 
caso) das práticas particulares e seus efeitos. Em terceiro lugar – como assim 
insistimos – a área da Antropologia do Nascimento deve focar no estudo dos sistemas 
de nascimento e não na comparação individual e isolada das práticas que ocorrem. 
Nós temos consciência de que, em todos os lugares do mundo, o nascimento 
é um evento socialmente marcado como uma crise na vida dos indivíduos – e que é 
consensualmente configurado e idealizado. Como tal, consiste em uma série de 
práticas internas, consistentes e mutualmente dependentes - que podem fazer sentido 
àqueles que vivem a situação externamente e não necessariamente àqueles que a 
vivem internamente. Precisamente, são essas noções antropológicas básicas que 
diferenciam os estudos antropológicos da concepção de nascimento através de 
investigações biomédicas, sociológicas, fisiológicas ou literárias – embora elas tratem 
do mesmo tópico. 
Desde a publicação inicial desse livro, um número de excelentes estudos 
etnográficos aprofundados acerca dos sistemas de nascimento surgiu. Mas, ainda 
assim, nós ainda não temos comparações compreensivas e culturalmente enraizadas 
sobre os diferentes tipos de práticas obstétricas que são esperadas através da 
produção de estudos antropológicos. Até onde é de meu conhecimento, “Birth in Four 
Cultures” ainda continua sendo o único material que trabalha com comparações das 
práticas obstétricas americanas com mais de um sistema que possui suas próprias 
práticas obstétricas - a despeito do fato de que analistas sofisticados, atualmente, 
enxergam o modelo ocidental – cosmopolita e de alta tecnologia – apenas como mais 
um sistema etno-obstétrico (Hahn 1987). Nós, também, não fomos tão longe em 
termos de modelos ou estruturas para a facilitação de uma mudança.Transformações estão acontecendo ao redor de todo o mundo, em nossos 
jardins, em nossos hospitais de alta tecnologia obstétrica, assim como, nos países de 
Terceiro Mundo – onde, em grande parte, todo o prestígio do modelo obstétrico 
ocidental ofusca a análise da razão acerca daquilo que pode ser oferecido através dos 
modelos obstétricos nativos. Eu ainda acredito que o modelo de mudança – do qual é 
discorrido mais detalhadamente no capítulo 5 deste livro – que propõe um método de 
acomodação mútua entre os sistemas em conflito, pode ser crucial na geração de 
5 
 
permutas positivas e frutíferas, sendo essa consequência melhor do que o 
posicionamento combativo e adversário entre as partes envolvidas. 
Meu próprio trabalho mais recente foi focado no número de questões que 
surgiram diretamente após o aparecimento de Birth in Four Cultures. Eu mesma fui 
progressivamente me tornando mais interessada nas questões sobre tecnologia 
apropriada, questões individuais acerca da transição entre os sistemas de baixa 
tecnologia – que podem ser exemplificados através do modelo Maya – aos de alta 
tecnologia que estão presentes em grande parte dos países industrializados. Eu 
também tentei chegar a um entendimento profundo sobre o processo de nascimento, 
do qual os praticantes e participantes dos diferentes modelos de nascimento adquirem 
as habilidades necessárias para que o evento do nascimento ocorra de forma 
competente. Sob esse contexto, examinei a relação de aprendiz que foi desenvolvida 
entre mim e a parteira da comunidade que foi minha mentora em Yucatan. Contrastei 
essa espécie de experiência de aprendizado com o modelo didático que impõe um 
alto nível de aquisição de competências na maioria dos programas oficiais. 
Também continuei trabalhando nas questões metodológicas – particularmente 
no desenvolvimento de interações analíticas baseadas em vídeos que, combinadas 
com investigações etnográficas, são uma grande promessa de justiça aos tipos de 
fenômeno dos quais estamos interessados. Por fim, meu mais recente trabalho girou 
em torno do “conhecimento autoritativo”, conhecimento este que é construído e 
mostrado através dos membros da comunidade onde a prática é a base para a tomada 
de decisões. Alguns desses trabalhos foram incorporados à Parte II da quarta edição 
desse livro. 
Robbie Davis-Floyd tomou grande parte dessa incorporação, assim como, do 
difícil trabalho de conectar as partes da primeira edição desse livro com o estado de 
pensamento e aprendizado no campo de trabalho. O próprio livro dela “Birth as an 
American Rite of Passage” 2 (1992) foi uma inspiração para mim quando surgiu sua 
existência há alguns anos atrás. Muito mudou em termos de trabalho realizado, 
material disponível, novas visões e novos escritos. Sem a dedicação de Davis-Floyd 
em produzir adaptações, nada poderia ter sido trazido e acrescentado ao meu livro. 
De fato, sem ela não existiria uma reedição. 
 
2 “O Nascimento como um Rito Americano de Passagem”. 
6 
 
Desde que eu deixei o campo acadêmico na Universidade do Estado de 
Michigan, eu tive grande sorte de poder trabalhar no Centro de Pesquisa de Palo Alto 
e no Instituto de Aprendizado e Pesquisa – ambos foram desafios estimulantes e 
extraordinários no campo de pesquisa. Me sinto em débito com ambas as instituições 
por apoiarem minhas escritas e meus pensamentos, mas sobretudo, gostaria de 
agradecer aos meus colegas pelas contribuições que fizeram na direção da qual meu 
trabalho estava envolvido. A Parte II desse livro não teria acontecido sem a 
contribuição do XEROX PARC 3e do IRL.4 
Portanto, é com grande prazer, e com profunda apreciação dos meus amigos 
e colegas e pela contribuição de Robbie Davis-Floyd nesse volume, que eu introduzo 
a vocês essa edição atualizada e revisada de Birth in Four Cultures. 
Brigitte Jordan, 
Palo Alto, California. 
 
Capítulo 1: A Estrutura Biossocial para a Comparação Transcultural das 
Práticas de Nascimento. 
 
O nascimento é uma transição íntima e complexa cujo assunto é fisiológico e a 
linguagem é cultural. Tema e linguagem ou, para colocar de outra forma, conteúdo e 
organização nunca são dispostos um sem o outro. Eles devem ser considerados 
juntos para uma visão holística. É por essa razão que eu proponho tratar o processo 
de parturição aqui com uma estrutura biossocial, para assim dizer, como um fenômeno 
que é produzido juntamente e reflexivamente por uma biologia – que é universal – e 
uma sociedade – que é particular. A distinção entre aquilo que é biológico e aquilo que 
é social é, de diversas maneiras, meramente analítica. Não tem um status ontológico. 
Como é possível vermos, a fisiologia do nascimento e o seu contexto interacional (ou 
a sociologia do nascimento e seu contexto psicológico) constantemente desafiam 
muitos esforços para separá-los. 
Na obstetrícia americana contemporânea, o movimento pelo nascimento 
através de vias naturais das décadas de 1970 e 1980, destacaram um crescente 
reconhecimento da relação íntima entre os aspectos fisiológicos da parturição e o 
 
3 Palo Alto Research Center. 
4Institute of Research and Learning. 
7 
 
manejo e organização social. Similarmente, se considerarmos a gravação etnográfica, 
descobriremos que não há conhecimento de nenhuma sociedade que o nascimento 
seja tratado, pelas pessoas que estão envolvidas em seu processo, como uma função 
meramente fisiológica. Pelo contrário, em todos os lugares ele é socialmente marcado 
e configurado (Ford 1964; Hart 1965; Mead e Newton 1967; Newton 1972; Newman 
1976, 1981; Kay 1982; MacComarck 1982). Falar do nascimento como um evento 
biossocial, então, sugere e reconhece – ao mesmo tempo – essa função universal e 
biológica e a matriz social de cada cultura especificamente – da qual a biologia 
humana está inserida. 
Em alguns sentidos, a fisiologia do parto é a mesma – ainda que a parturição 
seja realizada contundentemente de maneiras diferentes e em diferentes grupos de 
pessoas. Nós sabemos, através de evidências transculturais, que o nascimento é 
tratado como um evento de crise de vida. Assim, esse período é, em todos os lugares, 
um candidato para uma configuração consensual e uma matriz social. Em muitas 
sociedades, o nascimento e o período imediato de pós-parto são considerados um 
tempo de vulnerabilidade para a mãe e para a criança – de fato, frequentemente, um 
período ritualístico que representa o perigo para a família e para a comunidade. No 
sentido de lidar com esse perigo e com a incerteza existencial associados ao 
nascimento, muitas pessoas tendem a produzir uma gama de práticas e crenças - 
internamente consistentes e mutualmente dependentes – e que são designadas para 
lidar com os aspectos psicológicos e socialmente problemáticos da parturição, de um 
modo a fazer sentido no contexto particular. Dessa forma, não é surpreendente, que 
– independente dos detalhes de cada sistema de nascimento – os praticantes tenham 
uma tendência a ver seus sistemas em particular como o melhor, o correto e, de fato, 
o jeito de trazer uma criança ao mundo5. Por essas razões, que encontramos dentro 
de um sistema, práticas de nascimento que aparentam estar “empacotadas” de forma 
relativamente igual, sistemática, ritualística e, mesmo, dentro de uma rotina moral 
requerida. Nós conhecemos as configurações das práticas e crenças – que são 
reconhecíveis e culturalmente específicas – quando conversamos, por exemplo, sobre 
a obstetrícia ocidental ou os diversos etno-obstetras das sociedades tradicionais.5 É importante enfatizar que, para as propostas desse estudo, as práticas e motivações da obstetrícia 
americana não serão assumidas a fim de providenciar uma posição inerentemente superior na comparação. 
8 
 
Como um evento de crise de vida, o nascimento é, em todos os lugares, um 
candidato para configuração consensual e regulação social – a matriz particular 
depende da história local, da ecologia, da estrutura social e do desenvolvimento 
tecnológico. Deste modo, enquanto procuramos por um baixo nível de variações em 
um sistema, a quantidade de variações em práticas específicas entre sistemas 
diferentes é extensa. Como uma ilustração dessa variedade, consideremos por um 
momento a questão: quem deveria (ou poderia) estar presente durante o momento de 
parturição? Nós descobriremos que em todas as sociedades conhecidas, incluindo a 
nossa, o acesso ao momento do nascimento é limitado restritamente a um grupo 
específico de pessoas (Ford 1964:56). O mais frequente é a exclusão categórica de 
crianças e homens (certas vezes, com exceção do marido ou de um especialista do 
sexo masculino) e também de mulheres que ainda não tiveram filhos. Existem relatos 
ocasionais de algumas sociedades em que o acesso é tido como desregulado, mas 
não é o caso de um exame minucioso sobre esse assunto. Os Krikati do Brasil Central, 
por exemplo, dirão ao visitante que todos os membros da comunidade, incluindo 
homens e crianças, possuem o direito de estarem presentes no momento dos 
nascimentos. Na prática atual, de qualquer forma, as mulheres em trabalho de parto 
escondem sua condição levando suas atividades diárias o máximo que puderem. 
Finalmente, quando o nascimento está eminente, elas se afastam para um lugar 
quieto nos arbustos, acompanhadas de alguma parente mais velha e conhecida – uma 
figura feminina (Lave 1974). Nos Estados Unidos, a maioria das mulheres dão à luz 
em hospitais, sendo atendidas pela equipe médica e tendo como acompanhante 
apenas uma pessoa – geralmente o pai da criança. Enquanto isso, as mulheres Maias 
de Yucatan são rodeadas de suas famílias e amigas. Em cada um dos sistemas, 
apenas a companhia das pessoas que já são de costume na convivência é vista como 
apropriada. Uma mulher Maia, por exemplo, fica irritada com a mera sugestão de 
chamar um médico do sexo masculino, enquanto isso, as últimas pessoas que uma 
mulher americana pode querer ver no momento em que está dando à luz, podem muito 
bem ser sua mãe ou seu pai. 
Por que uma investigação transcultural das práticas de nascimento é de 
interesse? A resposta é fácil. Primeiramente, dado que o nascimento é um 
acontecimento universal, é óbvio que investigar a organização biossocial desse 
processo torna possível a documentação e o alcance de diversas variedades do 
9 
 
comportamento e da psicologia humana – que não são possíveis de serem obtidos 
por fenômenos que não sejam universais. 
Em acréscimo, considerando-se que o nascimento, na maioria das sociedades, 
é um assunto de mulheres, um estudo acerca das maneiras como a parturição é 
manejada em diferentes culturas não pode, se não, melhorar e ampliar a nossa 
apreciação dos sistemas de organização feminina – assim como seus interesses e 
estratégias. Até recentemente na história da antropologia, nossas visões sobre as 
organizações sociais consistentemente ignoraram os muitos e variados lugares das 
mulheres nas sociedades – resultando em etnografias e teorias distorcidas e 
improvisadas (Rosaldo e Lamphere 1974). A investigação de um evento do qual a 
mulher – essencialmente e centralmente – figura, providencia algum acesso para as 
maneiras de organização femininas, assim como a realização através de suas mãos. 
A terceira razão para uma investigação transcultural dos sistemas de 
nascimento é mais complexa. Requere a consideração que esse tipo de estudo pode 
proporcionar ou, complementarmente, o que motivou a investigação em primeiro 
lugar. Em outras palavras, precisamos considerar aqui todos os tipos de problemas 
que essa categoria de pesquisa irá abordar. 
Atualmente, os sistemas de nascimento tradicionais estão passando por 
tremendas mudanças por conta da influência da medicina ocidental – enquanto a 
prática obstétrica ocidental, também, passa por pressões para ajustar-se às visões de 
mudança de posição e competência de mulheres e de casais envolvidos no processo 
de nascimento. Para os sistemas tradicionais, o grande prestígio do modelo médico 
esmagadoramente proporciona um modelo-padrão de resistência para a mudança. 
Porém, de qualquer maneira, muitas das práticas obstétricas estão sendo exportadas 
para os países em desenvolvimento através de orientações médicas. Nações 
tecnológicas e sofisticadas recebem, ironicamente, um status controverso em casa. 
Nos Estados Unidos, de fato, a apropriação do modelo médico para a concepção total 
do nascimento foi seriamente desafiada nos anos recentes, e atualmente, existe uma 
grande gama de alternativas. Porém, o senso de superioridade e o requerimento moral 
que é construído em todo o sistema funcional, geralmente, mantém seus praticantes 
em resistência e, muitas das vezes, “uniformizados” em relação às formas alternativas 
de manejar o nascimento desde que muitas alterações da maneira “correta”, 
geralmente, são interpretadas como antiéticas, exploradoras, “más práticas” e 
10 
 
tremendamente perigosas. Por essa razão, a experimentação dentro de qualquer 
sistema é sempre perigosa e, frequentemente, impossível. 
Seria difícil, por exemplo, realizar um estudo de drogas analgésicas (de alívio 
de dor) ou investigar os efeitos da ocitocina (que aumenta a força das contrações 
uterinas) na Holanda. Ambos os tipos de medicamentos são comuns nos Estados 
Unidos, porém, na Holanda o uso deles em um nascimento por vias naturais é 
considerado um prejuízo para a mãe e o bebê. Consequentemente, um 
experimentador nesse país seria responsável por condutas antiéticas. Nos hospitais 
americanos, por outro lado, até a década de 1970, era próximo do impossível 
experimentar posições diferentes para a mulher em trabalho de parto desde que a 
posição litotomica para o parto era (e ainda é) um modelo e integralmente faz parte 
das rotinas obstétricas. 6 É por essa razão que se espera de uma de uma comparação 
transcultural o fornecimento de informações para uma melhor compreensão do 
processo de nascimento – entendimento este que não se encontra disponível do ponto 
de vista interno de qualquer sistema de nascimento em particular. Pelo fato de que 
estamos realizando comparações dentro de uma estrutura biossocial, devemos 
esperar dois tipos de resultados: um que diz respeito à biologia e outro que nos diz 
acerca das formas que o nascimento é socialmente organizado e culturalmente 
produzido. Ambos os tipos de resultados devem providenciar um guia estratégico para 
a mudança que é inevitável nas formas diárias de manusear o nascimento 
contemporâneo. 
 
Obstáculos para a Comparação Transcultural 
 
Os obstáculos para a comparação transcultural dos sistemas de nascimento 
podem ser encontrados em três níveis: o primeiro tem relação com a escassez geral 
da informação sobre o nascimento; a segunda com o viés particular das informações 
disponíveis; e o terceiro com a dificuldade de organizá-las – o que pode não deixar 
claro quais são as partes relevantes da comparação. Permitam-me discutir esses 
pontos em turnos. 
 
 
6 Na posição litotomica a mulher é deitada em uma mesa de parto, tendo suas pernas colocadas em 
apoios. Ela é coberta por panos estéreis, deixando apenas o obstetra com a visão da área exposta. 
11 
 
Falta de informações:Dado que, aqui, estamos preocupados com um evento que é comum, 
fisicamente e socialmente marcado, e, significantemente, uma implicação social na 
vida de qualquer grupo, é surpreendente que as informações acerca do nascimento 
são esparsas. De fato, a informação que pode ser utilizada para uma concepção 
holística do nascimento é, primariamente, notória pela sua falta. Décadas atrás, 
Freedman e Ferguson apontaram que “praticamente não existem observações 
primitivas boas, diretas e pessoais do nascimento realizadas por observadores 
competentes” (1950:365) – uma situação que está, apenas, começando a mudar. 
Em 1978, quando esse livro foi publicado pela primeira vez, nem um único 
filme/documentário etnográfico de algum nascimento não-médico e em uma 
sociedade não-ocidental existia. Niles Newton (Mead e Newton 1967), fez uma 
pesquisa extensa sobre a literatura médica e antropológica das práticas de 
nascimento, seus estudos apontam que os escritos médicos possuem uma orientação 
voltada para a patologia pelo fato de que os médicos que trabalham em sociedades 
tradicionais tendem a ver apenas os casos de nascimento extremamente anormais. A 
checagem de dados para esse estudo incluiu arquivos do setor de Relações 
Humanas, que revelaram que cerca de dois-terços deles não possuíam descrições de 
nascimentos normais, não importando o quão rapidamente esses dados foram 
colhidos. Essa falta de informações é um tanto marcante. O nascimento de um novo 
membro de um grupo não é importante só para a perpetuação do grupo, mas também, 
esse fato transforma o status de vários de seus membros e, de forma mais marcante, 
o status dos pais, da família e dos atendentes. Esse fato possui implicações 
interpessoais, religiosas e econômicas. Se considerarmos a universalidade do 
nascimento e o seu significado teórico e prático é, de fato, surpreendente não 
possuirmos mais informações transculturais. 
Pode parecer estranho que antropólogos, que estudaram as crenças esotéricas 
dos sistemas, bem como os rituais secretos em grandes detalhes, não obtiveram o 
mesmo sucesso ao produzir gravações dos nascimentos inerentes às suas próprias 
culturas. Essa falta de informações pode ser parcialmente explicada pelo fato de que, 
apesar do nascimento ser algo excessivamente comum comparado com o curso dos 
eventos que os antropólogos investigam, é, também, extremamente difícil que os 
estudiosos do sexo masculino ganharem acesso ao evento do nascimento – e vale 
12 
 
aqui ressaltar que a maioria dos antropólogos, até recentemente, são do sexo 
masculino. Porém, isso não é afirmar que esses profissionais do sexo masculino não 
podem estudar o nascimento. O fato é que eles apenas ainda não o fizeram. Parte 
disso acontece, pois, muitos antropólogos submeteram-se à noção de que o 
nascimento é um assunto feminino e que possui menos importância que os rituais de 
puberdade, guerra, organização de parentesco, economia e etc. A falta de atenção ao 
nascimento por parte dessas pessoas no passado podem refletir a desvalorização 
endêmica de assuntos femininos no início de desenvolvimento das ciências sociais 
(Rosaldo e Lamphere 1974). Por outro lado, é necessário reconhecer que o acesso 
ao nascimento é, geralmente, difícil de ser obtido por pessoas externas – 
especialmente do sexo masculino. Sendo assim, esse era o contexto logo que 
comecei minha pesquisa (e ainda é em muitos lugares): o “nascimento normal que 
ocorre regularmente dentro de uma tribo ou comunidade está fora do alcance dos 
médicos, bem como dos antropólogos” (Mead e Newton 1967: 149). 
 
Informação Restrita 
Em acréscimo ao tema “informações”, um segundo obstáculo para uma análise 
comparativa é encontrar a natureza dos dados que estão disponíveis. Isso cai em 
duas categorias: uma é orientada de maneira médica e a outra é restritamente 
antropológica. A equipe médica, de tempos em tempos, precisa estudar os 
nascimentos em outras culturas, mas esses estudos tendem a focar na parte 
fisiológica do nascimento (e, geralmente, anormal também) e deixam de fora o que é 
de igual interesse aqui – os aspectos interacionais. Os compilados estatísticos da 
Organização Mundial de Saúde (OMS) contêm extensivos dados transnacionais dos 
quais abordam variáveis como mortalidade e morbidade infantil e materna, a 
disponibilidade de uma equipe médica e recursos, o status epidemiológico e 
nutricional da população e etc. Essas informações são úteis para colocar o cuidado 
obstétrico em uma posição dentro do sistema de saúde de um país e, quando o nível 
de desenvolvimento é constante, também proporcionam alguns parâmetros para o 
“sucesso” médico das práticas de nascimento de um país. Porém, eles nos dizem 
muito pouco sobre os aspectos sociais e interacionais do nascimento. 
A segunda categoria das investigações transculturais do nascimento, os 
estudos antropológicos, atualmente, definem essa área de investigação de forma 
13 
 
restrita. Antropólogos têm, tradicionalmente, sido ocupados com tópicos como a 
organização de parentesco, rituais, conflitos, sistema de crenças, e temas 
relacionados, a informação disponível em sociedades não ocidentais reflete essa 
ênfase. Não é surpreendente, porém, que os dados transculturais sobre o nascimento, 
dependendo do ponto em que eles se encontram em relação às informações 
coletadas no curso geral de um trabalho etnográfico, refletem os interesses 
tradicionais do antropólogo. Portanto, detalhamos fielmente a informação das formas 
dentro de um ritual como a disposição do cordão umbilical após o nascimento, porém, 
sabemos muito pouco acerca da natureza do processo de poder de decisão durante 
a parturição ou a extensão do apoio físico, material e emocional direcionados à mulher 
durante a gestação e o trabalho de parto. 7 
O único estudo mais utilizado e que está disponível chama-se “O Modelo 
Cultural do Comportamento Perinatal”8 de autoria de Margaret Mead e Niles Newton 
(1967) que compreenderam que, nesse ponto, ainda existem informações 
insuficientes para uma comparação transcultural rigorosa, para isso, propuseram um 
grande número de sugestões de pesquisa dos fatores culturais envolvidos no evento 
do nascimento. 
Essa e outras investigações similares mostram um problema comum, porém 
frequentemente não reconhecido, indicado no campo: no primeiro ponto do 
desenvolvimento da pesquisa antropológica sobre o nascimento, não estão claras o 
que as categorias para uma comparação transcultural e uma comparação entre os 
sistemas deveriam ser. A profissão médica enfatizou a fisiologia e a patologia, 
enquanto a antropologia focou nos praticantes nativos e no ritual (Cosminsky 1974, 
1977; Paul e Paul 1975; Rubel et. Al 1971, 1975; Schultze Jena 1933, Lévi Strauss 
1967). Se, de qualquer maneira, a finalidade for produzir uma estrutura para a análise 
comparativa das formas da qual a biologia universal do nascimento é mediada e 
 
7 Atualização: quando eu originalmente escrevi este livro, esperava que fosse possível desenvolver uma 
conceituação holística do nascimento, da qual integra a visão local e o significado desse evento, seus 
comportamentos associados, e a sua relevância para um sistema transcultural a respeito das condutas no 
nascimento. E, de fato, essa intenção foi alcançada, não apenas no meu trabalho, mas também nos excelentes 
estudos comparativos e etnográficos do nascimento que surgiram desde que esse livro foi publicado pela 
primeira vez em 1978. A maioria desses novos estudos utilizaram a participação antropológica para chegarem a 
esse tipo de conceituação holística do processo reprodutivo em diferentes culturas. (Veja por exemplo 
Chominsky 1982; Oakley1981; Kitzinger 1982; Paige e Paige 1981; Gray 1982, Kay 1982; MacComarck 1982b; 
Sargent 1982, 1989, 1990; Laderman 1983; Scully 1981; McClain 1983, 185, 1987 a e b; Konner e Shostak 1987; 
Trevathan 1987; Tronick et al. 1987; Faust 1988; Michaelson 1988; Susie 1988; Handwerker 1990; Layne 1990; 
Lazarus 1988, 1990; O’Neil e Kaufert 1990; Fraser 1992; Lefkarites 1992; Sault 1989, 1992). 
8 Cultural Patterning of Perinatal Behavior. 
14 
 
interpretada pelas práticas específicas de cada cultura, então, devemos admitir que 
nesse momento não existe um esquema conceitual para tal iniciativa. 
Por essas razões eu escolhi focar o meu trabalho em um problema mais 
limitado, porém, fundamental: isolar algumas características do processo de 
nascimento que são recomendadas como unidades para a comparação transcultural 
dentro de uma estrutura biossocial. Isso quer dizer que a minha investigação pode ser 
melhor entendida como um esforço inicial para remover um dos obstáculos para uma 
comparação transcultural significativa, isto é a questão de quais características do 
processo de nascimento podem ser identificadas e quais satisfazem a necessidade 
de abordar tanto os aspectos sociais quanto os fisiológicos e médicos do nascimento. 
Está claro para todas as razões citadas acima que essa questão não pode ser 
respondida pela literatura. Ao invés disso, a estratégia que eu empreguei foi um estudo 
intensivo para quatro sistemas de nascimento distintos, que possui ênfase na imersão 
no fenômeno, observação detalhada e, sempre que possível, participação nos 
trabalhos de parto e nascimento. 
 
A sequência do trabalho de campo 
 
No inverno de 1972 e na primavera seguinte, minha colaboradora Nancy Fuller 
e eu tivemos a oportunidade de, em uma cidade rural em Yucatán – México, participar 
dos nascimentos domiciliares que foram acompanhados por uma partera empírica, 
uma parteira nativa. Esses nascimentos, de forma alguma, assemelharam-se com o 
que eu sabia sobre os nascimentos americanos, e enquanto a experiência me cativava 
de maneira que eu não poderia especificar no momento, eu também descobri que eu 
não estava apta a falar sobre isso de nenhuma maneira sensível e legitima. Em 
particular, eu estava inapta a traduzir as características incomuns de um nascimento 
Maia em termos que fizessem sentido para a obstetrícia ocidental – o sistema 
dominante na sociedade da qual eu retornei. Ficou claro que eu precisava conhecer 
sobre a obstetrícia biomédica. 
Eu comecei a ler livros e revistas sobre obstetrícia e fiz um trabalho de campo 
no meio obstétrico em um grande hospital-escola na parte norte da Califórnia durante 
o verão de 1973, e também, dentro de um contexto parecido na parte norte no outono 
15 
 
desse mesmo ano.9 Ao mesmo tempo, eu entrevistei mães, pais, obstetras, médicos 
generalistas, parteiras rurais e enfermeiras obstétricas. Nancy Fuller e eu retornamos 
à Yucatán em 1974, participando de novo de nascimentos e, até, em visitas pré e pós 
natais. Foi durante essa segunda visita que eu me tornei versada no papel de ajudante 
formal da mulher que está dando à luz (tópico que será discutido com mais 
profundidade no capítulo 2). A parteira, também, começou a me tratar como sua 
assistente, o que significa que ela providenciou instrução e me encorajou a assumir 
em alguns momentos. Eu fui golpeada pelas diferenças entre o sistema de Yucatan e 
o americano, não apenas pelo nível de conhecimento médico e tecnologia, mas 
também, e mais impressionavelmente, em relação ao espírito do nascimento. 
Nesse ponto pareceu importante obter alguma noção do que, no sistema 
americano de nascimento, o que era local e inerente àquele sistema, e o que era 
devido ao modelo de medicina científica e cosmopolita.10 Eu escolhi Holanda e Suécia 
como locais de pesquisa de campo durante o verão de 1974, dado ao fato de que 
esses países tiveram (e ainda têm) a menor taxa de mortalidade infantil do mundo. 
Em acréscimo, Nancy Fuller e eu retornamos a Yucatán todos os anos para mais um 
trabalho de campo. Essa sequência de períodos de imersão focados no problema 
providenciaram a oportunidade de aprender a partir de um contexto para o outro com 
o objetivo de aproximá-los de forma mais frutífera. Esse percurso facilitou a 
formulação do que eu concluí serem as características significativas do modelo 
biossocial do nascimento. 
 
Participação Antropológica 
 
Uma palavra sobre a minha orientação acerca da coleta de dados é apropriada 
nesse ponto. Eu formulei minha aproximação a fim de conhecer as necessidades da 
investigação do nascimento enquanto evitava, ao menos, algumas das armadilhas 
que estavam reservadas ao investigador transcultural sobre o fenômeno do complexo 
 
9 Um trabalho de campo adicional foi realizado em Michigan, onde eu acompanhei tanto os nascimentos 
hospitalares quanto os domiciliares de 1976 até 1984. 
10 Eu uso o termo “medicina cosmopolita” de uma forma relacionada com “ocidental”, “moderna”, 
“científica” e “biomédica” para me referir ao modelo de cuidado e crença dentro das práticas de países 
industrializados. Na maioria dos países em desenvolvimento, algumas versões da medicina cosmopolita 
constituem o sistema oficial de cuidado em saúde. 
16 
 
comportamental. A parte central da minha aproximação é a convicção de que a base 
para uma compreensão adequada dos eventos biossociais deve vir de uma 
participação antropológica. Desde que o processo de dar à luz é caracterizado por um 
alto grau de intimidade (algo que não é público), assim como como o que fazer com 
as funções corporais e suas características, coletar dados por através de perguntas é 
provado como um método insatisfatório nas maneiras fundamentais. Um pouco à 
parte dos tópicos que são considerados tabus e inibições culturalmente 
condicionadas, o nascimento é um evento de grande complexidade interacional, onde 
as pessoas sabem o que e como fazer sem, necessariamente, serem capazes de falar 
sobre os detalhes do que elas fazem. Isso não é falar que aqueles que são 
considerados próximos (ou até internos) devam ser considerados como ineficientes, 
mas sim, que o expectador interno não é suficiente para a compreensão de como um 
sistema funciona. (A visão interna, como é possível notar, é particularmente relevante 
para uma avaliação dos procedimentos justificáveis, um tema que será levantado no 
capítulo 5). Para lidar com esse problema, eu fiz o uso de uma participação 
antropológica como uma ferramenta explícita no intuito de dar ao investigador acesso 
ao conhecimento de como partejar, isso quer dizer, os comportamentos que cada 
participante assume como atores competentes das maneiras de realizar um 
nascimento dentro das práticas de um sistema específico. 
O segundo problema óbvio que deve ser evitado nas investigações desse tipo 
é a imposição gratuita das categorias próprias de cada sociedade (e nesse caso, em 
particular, das categorias médicas) para coleta de dados sobre o nascimento. 
Novamente, isso não é afirmar que as questões médicas são irrelevantes, mas 
meramente que essa imersão no fenômeno, e a participação no evento do 
nascimento, devem sugerir as características relevantes para análise e descrição. Por 
essa razão, eu propus uma participação antropológica como metodologia fundamental 
que, combinada com outros métodos, promete providenciar as bases para uma 
contextualização holística do processo de nascimento. Esse tipo de contextualização 
irá integrar a visão local e o significado do evento, seus comportamentos associados, 
e a relevância para questões entre os sistemas no que tange a conduta durante o 
nascimento. 
17Minha noção particular de uma participação antropológica pode exigir uma 
clarificação maior.11 Eu digo, através de algo mais compreensível do que a presença 
física ou a participação nas atividades dos “nativos”. Primeiramente, meu interesse 
inicial refere-se ao nascimento não como um produto, mas sim, uma produção social; 
isso quer dizer que, a minha preocupação é com os participantes que fazem o 
nascimento acontecer, com a produção sensível e colaborativa do que os 
participantes definem como “o nascimento da maneira como o fazemos”. A partir 
desse interesse, surge uma orientação consistente, e tomando nota disso, sobre as 
características recorrentes dos nascimentos dentro de configurações particulares, os 
esforços verbais e não verbais que são alcançados durante a realização, por exemplo, 
de um nascimento em Yucatán e não, por assim dizer, de uma comida típica (apesar 
da comida ser consumida durante o processo), ou de uma seção onde histórias são 
contadas (embora elas também o sejam durante o processo). Meu interesse é em 
temas como as posições da mulher durante o trabalho de parto ou a divisão das 
tarefas entre as participantes durante esse momento, mas não, por assim dizer, em 
cuspir no chão (fato que ocorre em Yucatán) e a sua relação com a forma que eu 
encontrei o fenômeno, isto é, como a mulher que passou pelo fenômeno do 
nascimento dentro de diferentes configurações. Assim sendo, uma parte integral da 
minha participação foi a tomada de notas, a realização de perguntas, as comparações 
daquilo que eu concluí serem as características particulares de cada sistema de 
nascimento. 
A seguir, minha orientação é a realização do processo de nascimento pelos 
participantes.12 Com o termo “participantes” incluo todas as pessoas (sendo elas 
profissionais ou não profissionais, incluindo eu mesma) que estão comprometidas na 
tarefa comum de produzir um evento e torná-lo visível tanto quanto o trabalho que 
está à mão. Nos eventos de nascimento particulares dos quais essa investigação é 
baseada, às vezes, os participantes vinham de diferentes contextos culturais ou 
falavam línguas nativas distintas, ou ainda, alguns deles nunca estiveram presentes 
durante o processo de um nascimento enquanto outros auxiliaram eles mesmos 
durante um processo de nascimento/ testemunharam esse evento em várias 
 
11 Essa formulação foi desenvolvida orgulhosamente junto com Nancy Fuller e foi utilizada em meus 
trabalhos subsequentes. 
12 Minha definição de “participante” aqui está em débito, mas não equivalente, à noção de “membro” 
apresentada por Garfinkel e Sacks (1969: 116). 
18 
 
configurações ou, até, acompanharam um nascimento como especialistas 
profissionais. Esse fato não deve servir como motivação para o questionamento do 
status completo de alguém como participante, mas sim, deve ser visto como uma 
forma de providenciar recursos para a construção do nascimento como um evento 
local e sensível. 
Fatores como as instruções dos participantes sobre o que fazer em seguida, 
demonstrações corretas dos procedimentos, questões sobre como é feito em outros 
lugares, discussões sobre os benefícios de um jeito versus o outro, citações de 
autoridades e artigos, histórias sobre como algo foi realizado em um caso particular, 
constituem um dos métodos que os participantes usam no curso da condução de um 
nascimento. A diminuição do curso próprio de um evento aos olhos de um participante 
(entendido como um problema), providenciam uma ocasião para o reparo a partir de 
uma participação colaborativa dos mesmos, isso quer dizer, o reestabelecimento de 
uma ordem normativa. O trabalho de reparo, deste modo, proporciona um acesso 
àquilo que é visto como localmente normal, típico ou correto. Os empenhos 
terapêuticos dos participantes podem tanto ser verbais (“ele não deveria ter dado a 
ela essa dose”) quanto não verbal (como quando a parteira Maia moveu minha mão 
para a posição apropriada). Deve compreender-se que a minha análise é baseada na 
informação obtida a partir dos métodos utilizados pelos participantes. 
 
Uma prévia do livro 
 
Esse livro é organizado em suas sessões principais. A parte I introduz sobre a 
necessidade de uma análise biossocial e transcultural dos sistemas etno-obstétricos. 
O capítulo 2 apresenta uma descrição detalhada das práticas de nascimento de 
Yucatán, não apenas pelo fato de que o nascimento Maia é mais “exótico” do que os 
outros sistemas que eu estudei (entende-se como exótico o fato de que ele 
proporciona um maior contraste em relação ao sistema americano), mas também, pelo 
fato de que nenhum outro relato que existe na literatura conta com uma testemunha 
ocular indígena. O capítulo 3 compara os sistemas de nascimento nos termos dos 
conceitos biossociais analíticos, traçando não apenas a descrição Yucatán anterior, 
mas também o meu trabalho de campo nos Estados Unidos, na Holanda e na Suécia. 
19 
 
O capítulo 4 descreve a minha experiência no trabalho de campo e apresenta 
alguns dos métodos específicos de coleta de dados que eu utilizei para obter uma 
total compreensão da complexidade da interação humana acerca do nascimento. No 
capítulo 5, eu me esforcei para especificar as formas, dentro de cada sistema de 
nascimento, que o evento é organizado socialmente e culturalmente produzido. Eu 
também considerei as implicações dessa aproximação para uma melhor compreensão 
das mudanças presentes e observáveis das práticas de nascimento nos Estados 
Unidos, bem como as políticas de considerações relacionadas diretamente às 
mudanças nos países em desenvolvimento e em países desenvolvidos. 
A nova parte II desse livro introduz o macro conceito analítico do conhecimento 
autoritativo, apresentando estudos específicos acerca das formas como cada 
conhecimento autoritativo é construído e retratada como uma base para o poder 
legítimo de decisão durante o nascimento. O capítulo 6 analisa o alcance desse tipo 
de conhecimento em um ambiente hospitalar de alta tecnologia. O capitulo 7 descreve 
o conflito entre o conhecimento autoritativo baseado no modelo médico – que é 
apresentado em programas de treinamento patrocinados pelo governo – e o 
conhecimento experimental e adquirido das parteiras Maias de Yucatán. Por fim, o 
capítulo 8 conclui com uma análise dos efeitos mundiais da difusão do modelo 
tecnológico obstétrico ocidental na distribuição social do conhecimento autoritativo 
nos países em desenvolvimento. 
 
Capítulo 3: A Comparação Transcultural dos Sistemas de Nascimento 
Através de uma Análise Biossocial. 
 
A antiga descrição das mulheres Maias sobre as formas de dar à luz dá alguma 
indicação acerca das diversas variações do sistema de organização do parto. O 
nascimento na cultura Maia encontra-se, claramente, em contraste – não só em 
relação às práticas convencionais americanas, mas também - e frequentemente – aos 
sistemas sueco e holandês. Por mais que esses sistemas sejam estáveis, eles, 
geralmente, são vivenciados como uma apropriação. Interessantemente, a despeito 
da magnitude das diferenças entre esses sistemas, uma problemática que, 
especificamente, não ocorre a partir desses sistemas estáveis é o julgamento crítico 
e radical das práticas. Exames de autoconsciência indicam ser uma característica dos 
20 
 
sistemas que estão passando por mudanças, um ponto que será retornado para 
análise no capítulo 5.13 
Como apontado por mim anteriormente, um sentimento de apropriação – e até 
mesmo um requerimento moral de revisão cara-a-cara das próprias práticas culturais 
de nascimento é normalmente compartilhado por todos os participantes: a mulher que 
está dandoà luz, sua família e os profissionais que estão prestando serviço a ela. 
Sendo assim, é possível considerar esse fator difícil de ser separado sem ser dada 
nenhuma configuração cultural do que é uma necessidade fisiológica e o que é uma 
produção cultural. Doña Juana 14, por exemplo, considera que romper a bolsa 
amniótica é algo perigoso e não natural. Enquanto isso, obstetras americanos 
consideram que essa mesma prática é útil e rotineiramente aconselhável no rol de 
suas concepções acerca da fisiologia no desenvolvimento do parto. 
Nenhum dos dois praticantes acima citados tem experiência com o método do 
qual não é aceito por eles. Ambos podem ter sentimentos de apreensão acerca do 
que deve ser feito e, dentro de seus próprios sistemas, realizar procedimentos 
distintos daqueles que já estão acostumados parece não ser o melhor em relação aos 
interesses do binômio mãe-bebê. Porém, dado ao fato de que as práticas de 
nascimento são tão rigidamente configuradas e que apresentam resistência à 
manipulação a partir de sua apropriação, a investigação transcultural oferece formas 
de clarear aquilo que não pode ser visto particularmente dentro de um sistema. 
Eu também apontei anteriormente que as variáveis utilizadas para a 
comparação nas investigações passadas tenderam a negligenciar a natureza 
biossocial do nascimento. Nós aproveitaríamos ao máximo a informação de uma 
comparação transcultural se incluíssemos não apenas os aspectos médico-
fisiológicos do nascimento, mas também, os sociais e ecológicos – que são 
primordiais para considerar o nascimento, também, como um evento biossocial. 
Desenvolver um trabalho de campo nos Estados Unidos, na Holanda e na Suécia em 
acréscimo a Yucatán, me permite discutir nas próximas páginas alguns aspectos dos 
sistemas de nascimento que emergiram ao curso dessa investigação – tendo a forma 
holística como uma concepção significativa do nascimento. Esses aspectos, apesar 
de essenciais, são, certamente, insuficientes para alguma iniciativa; eles são 
 
13 Indica que os sistemas estão começando a passar por mudanças no momento em que as pessoas 
param para pensar neles. 
14 Dona Joana – Parteira de Yucatán citada no prefácio. 
21 
 
propostos como um entendimento inicial para uma visão mais compreensiva do 
nascimento. 
 
O nascimento nos Estados Unidos, Holanda e Suécia: uma visão geral 
 
Permitam-me resumir brevemente as características mais importantes dos 
sistemas americano e europeu. Fornecerei os detalhes nos pontos certos durante o 
desenvolvimento da discussão sobre cada sistema e suas configurações em 
particular. 
Nos Estados Unidos, 99% dos bebês nascem em hospitais. Um nascimento 
típico pode ser caracterizado através do atendimento realizado por um médico-
obstetra e profissionalmente manuseado com orientações relacionadas com 
tecnologias médicas e métodos farmacológicos de alívio da dor. Concomitantemente, 
uma mulher que vai parir e dá entrada em um hospital é tratada como uma paciente. 
A partir do momento de sua admissão, o poder de decisão e a responsabilidade sobre 
sua situação são da equipe hospitalar e do médico em plantão. 
Quanto à Suécia e à Holanda, é importante manter em mente que ambos, por 
muitos anos, fizeram parte dos países com menor taxa de mortalidade relacionadas 
ao nascimento (veja ao lado15). O que eles compartilham para isso, é um atendimento 
pré-natal sistemático e a possibilidade de aborto em demanda, tendo como 
consequência que, por conta de todas as práticas propostas, todas as gestações e 
todos os bebês são desejados. Na Suécia, todos os nascimentos acontecem em 
hospitais e são acompanhados por obstetrizes altamente treinados/treinadas; Na 
Holanda, cerca de 55% dos nascimentos são domiciliares e também acompanhados 
por parteiras – tanto no caso dos nascimentos domiciliares quanto hospitalares16. A 
maior diferença entre os dois países em questão é o fato de que, na Suécia, sedativos 
e medicações para alívio de dor, indução e estimulação artificial de parto são 
 
15 No caso dessa tradução, abaixo. 
16 Atualização: Na Holanda a proporção de nascimentos domiciliares caiu – e cai continuamente – de 
74% em 1958 para 35% em 1979, porém, essa tendência foi interrompida – portanto, em 1986 cerca de 36% dos 
nascimentos ainda ocorreram em domicílio (Kloosterman 1978, 1984; Tew e Damstra Wijmenga 1991:56). 
Atualmente, cerca de 43% dos nascimentos continuam sob os cuidados da/do obstetriz; 44% deles ocorrem em 
hospitais e 56% nos domicílios (Tew e Damstra Wijmenga 1991:56). O índice de mortalidade perinatal para os 
nascimentos holandeses acompanhados por uma/um obstetriz são os mais baixos do mundo – aproximadamente 
2/1000 (Kitzinger 1988:236). 
22 
 
frequentemente usados – enquanto no sistema holandês a mãe, na maioria dos casos, 
não recebe nenhuma droga de nenhum tipo.17 
 
 
 
Estatísticas sobre mortalidade: uma atualização. 
 
A mortalidade infantil inclui o número de mortes desde o nascimento até o 
primeiro ano de vida; deste modo, as estatísticas relacionadas à mortalidade infantil 
apresentam mortes não apenas relacionadas às causas durante o nascimento, mas 
também muitos outros fatores – tais como a falta de amamentação, doenças 
transmissíveis, má nutrição e abuso ou negligência por parte dos pais. 
Em 1979, a Suíça teve a menor taxa de mortalidade no mundo, com 7.5 mortes 
na infância (a cada 1000 nascimentos). Excluindo os países pequenos com poucos 
nascimentos, a menor taxa seguinte foi do Japão – de 7.9/1000, e da Holanda 
(8.9/1000). A taxa dos Estados Unidos – 13.8 em 1978 – foi substancialmente maior 
que uma dúzia de outros países. Em 1976, a taxa de mortalidade mexicana foi de 
57.0/1000 – sem excluir a população de Yucatán (Organização Mundial de Saúde – 
[OMS] 1981). Em 1987, a taxa de mortalidade infantil para a Suíça foi de 5.7, para a 
Holanda, 7.6 e para os Estados Unidos (em 1986), 10.3 – segundo as Nações Unidas. 
Mortalidade Infantil Tardia: as Nações Unidas compilam informações acerca da 
mortalidade infantil tardia – mortes que ocorreram após a 28ª semana de gestação 
até o nascimento. Em 1985, a taxa para essa categoria foi de 5.9 para a Holanda, 11.1 
para o México e 7.9 para os Estados Unidos – permanecendo atrasada em relação à 
outras quatorze nações, incluindo o Canadá (4.3), Chile (5.8), Japão (5.4) e a Austrália 
(4.6). Para a Suíça, essa taxa não pôde ser contabilizada e computada pois o número 
total de mortes infantis tardias foi menor do que mil. 
Morte neonatal inclui mortes desde o nascimento até vinte e nove dias 
incompletos. Em 1980, a taxa de mortalidade neonatal para a Holanda foi de 5.7; para 
 
17 Aqui, eu falo acerca dos tipos de nascimento que são rotina na maioria dos hospitais-escola dos quais 
eu realizei meu trabalho de campo. Existem razões para crer que a maioria das mulheres americanas dão à luz 
sob condições similares àquelas que eu fui apresentada. Aqui especificamente, não estou interessada nos vários 
métodos alternativos que estão disponíveis a alguns segmentos da população – tais como o manejo natural do 
nascimento, programas de tratamento perinatal centrados na família, nascimentos domiciliares e outras 
características do tipo. 
23 
 
a Suíça, 4.9; para o México, 14.8 e para os Estados Unidos, 8.4 – colocando-o atrás 
de dezenove outros países na categoria “Mortalidade Neonatal”. (OMS 1983:15, 
tabela 4). 
Morte Perinatal, segundo sua primeira definição, refere-se às mortes fetais na 
28ª semana de gestação ou mais, até às mortes infantis com menosde uma semana. 
Mortes Perinatais na década de 1980: Holanda, 9.8; Suíça, 7.3; Estados Unidos, 10.8 
– essas taxas não estão disponíveis para o México (Nações Unidas, 1988). 
As estatísticas sobre morte perinatal nos Estados Unidos são coletadas pelo 
Centro Nacional de Estatística em Saúde18 (1988) e usam a segunda definição acerca 
dessa categoria: mortes fetais a partir da 20ª semana de gestação ou mais até 28 dias 
incompletos após o nascimento – deste modo, é possível considerar que essa 
definição possua características mais inclusivas do que a primeira definição da mesma 
categoria. As estatísticas dos Estados Unidos apresentaram uma melhora estável 
recentemente: em 1950 a taxa de morte perinatal (segundo a definição 2) foi de 
39/1000; em 1960 de 34/1000; em 1970, 28.9/1000; em 1980, 17.5/1000 e em 1988 
(o último ano que houve disponibilidade de informações), 13.8/1000. O número de 
mortes neonatais também diminuiu, de 20.5 em 1950 para 6.3 em 1988 (Centro 
Nacional de Estatística em Saúde 1988, Departamento de Comércio dos Estados 
Unidos19 1991). Porém, consistentemente, o país americano ficou defasado em 
relação à muitos outros países – incluindo alguns do Terceiro Mundo. Embora seja 
argumentado que, às vezes, a melhoria nessas taxas seja resultado do cuidado 
obstétrico, algumas outras pessoas pontuam que essas melhorias também resultam 
de outras – tais como nutrição, sanitização e padrões de sobrevivência. Para os 
negros norte-americanos, a taxa de mortalidade perinatal (segundo a Definição II) 
continuou em 17.7/1000 no ano de 1990. 
 
 
Características Biossociais do Nascimento 
 
Com este pequeno esboço como pano de fundo, eu quero examinar agora o 
número de características biossociais do nascimento – especificamente, a 
 
18 National Center for Health Statistics. 
19 United States Department of Commerce. 
24 
 
conceptualização do local, do evento em si, da preparação para o nascimento, os 
profissionais que atendem ao evento e o sistema de apoio, o território que o 
nascimento ocorre, o uso de medicação, a tecnologia do nascimento e o local cujo 
poder de decisão é realizado. Para tal comparação transcultural dos sistemas 
específicos e suas práticas, os recursos utilizados para a melhor compreensão dos 
aspectos das produções culturais do nascimento devem emergir. 
 
A definição cultural de nascimento: 
 
A maneira como a sociedade conceitua esse evento constitui o único e mais 
poderoso indicador da maneira geral de dar forma ao nascimento. Em todas as 
configurações, a definição dele é de importância fundamental pois informa a todos os 
participantes “quem”, o “que” e “como” ocorre o nascimento. Eu já falei antes sobre o 
fato de cada sociedade produzir uma configuração sistemática das práticas de 
nascimento, que são mutuamente dependentes e internamente consistentes. O que 
as faz possuírem as características anteriormente citadas, e além disso, serem 
moralmente corretas é a definição de cultura específica local, como por exemplo, um 
procedimento médico (nos Estados Unidos), ou, uma estressante, porém normal, 
parte da vida familiar (como em Yucatán), ou como um processo natural (na Holanda) 
ou como uma conquista intensamente pessoal (como no caso da Suécia). Essa visão 
local compartilhada do nascimento garante que, por conta disso, os participantes 
tenham ideias similares em relação do curso e do manejo do nascimento. Essa visão 
possui status ideológico, e por isso eu digo que isso serve como um guia para conduzir 
a rotina do trabalho em questão. Ao mesmo tempo, ela fornece os recursos para lidar 
com as intercorrências – ao providenciar as bases para justificar procedimentos 
obstétricos quando eles se tornam problemáticos. 
O último ponto é importante. A definição do evento a partir de um grupo se torna 
visível dentro das noções dos membros do que constitui justificação adequada para 
as práticas das quais eles se comprometem. Deste modo, por exemplo, a questão dos 
outros filhos da mulher serem autorizados a visitar a mãe e o novo irmão depois do 
nascimento ter tomado um rumo negativo dentro das bases médicas nos Estados 
25 
 
Unidos20, ou no caso de ser positivo na Europa, as respostas são geralmente “é claro” 
e “importante para a interação familiar”, enquanto isso, em Yucatán essa questão se 
torna se torna sentido a partir do momento que a mulher a mulher não abandona seu 
ambiente diário, cujo local as crianças mais velhas simplesmente retornam após o 
nascimento. 
Em geral, nós descobrimos que onde quer que seja a conceptualização do local 
de nascimento, ela direciona de forma poderosa dentro de qual fisiologia da parturição 
o manejo do nascimento é socialmente interpretado em um ambiente colaborativo e 
consensual. Ao mesmo tempo, ela determina e serve como justificação para, e 
complementarmente, a manifestação local invariante das características do 
nascimento, como o território, pessoas apropriadas e a alocação do poder de decisão. 
Assim, o que é desnecessário, natural e apropriado dentro do senso comum dentro 
de um sistema, pode ser completamente inapropriado e injustificável em outros. Nós 
descobrimos, por exemplo, a noção holandesa do nascimento como um evento natural 
opõe-se ao uso de medicamentos a mulheres que, em condições similares nos 
Estados Unidos, receberiam as drogas. É para a compreensão dessas questões que 
a comparação transcultural das características biossociais do processo de nascimento 
pretende falar. 
Desde que a maneira americana do nascimento emergiu como um padrão 
sedutor em aspiração para as nações em desenvolvimento, eu quero discutir em 
alguns detalhes a definição americana do evento e algumas de suas implicações. 
Nós notamos, antes de tudo, que nos Estados Unidos, o nascimento é 
esmagadoramente visto como um evento médico (maiores informações no quadro). 
Essa conceituação é consistente dentro do fato de que na sociedade contemporânea 
dos Estados Unidos, os processos fisiológicos, em geral, são culturalmente definidos 
como pertencentes do domínio médico. Dessa forma, nutrição, ajuste sexual, padrões 
de sono, oscilações de humor, obesidade, aprendizagem a partir das dificuldades, 
alcoolismo, uso de drogas, violência, morte e todos os tipos de “desvios” são 
considerados assuntos próprios da atenção médica. 
A inclusão da gravidez e da infância dentro da esfera médica tem um número 
de consequências, todas elas são pressupostas na transformação da mulher grávida 
 
20 Atualização: Nos Estados Unidos, essa questão foi respondida de maneira majoritariamente negativa 
na década de 1980 e de 1990 como no conceito de “suporte familiar”. 
26 
 
como uma “paciente”. Como Parsons (1951) pontuou há muito tempo atrás, existe, na 
sociedade americana, uma gama de expectativas institucionalizadas relativas ao 
papel do doente possuem suporte por muitos participantes. Como uma paciente, a 
parturiente é, por uma extensão considerável, retirada de suas responsabilidades 
comum frente aos outros e a ela mesma; ela é definida como indefesa ao lidar com os 
problemas médicos em mão; e ela é obrigada a assistir as técnicas de ajuda à sua 
condição. Competência técnica, dentro desse contexto, é definido como expertise 
médica profissional – as recomendações e práticas de cada um, colocam o paciente 
em uma posição da qual ele é definido como “incompetente”. 
O papel do médico, que se articula com o papel do paciente doente, requer que 
o doutor/doutora coloque seu conhecimento técnico em prática (de doenças e de 
manejo da dor) para trabalhar no problema do paciente, enquantoo mesmo, de 
maneira recíproca, é esperado a confiança. 
 
 
 
Visão histórica do nascimento ocidental 
 
Uma breve visão dos desenvolvimentos que precedem a relativa recente 
predominância da medicina profissional no campo dos nascimentos pode ser 
instrutiva. Nós possuímos alguns arquivos dispersos de notório interesse médico nos 
problemas obstétricos da antiguidade (como Hipócrates no ano 5 depois de Cristo e 
Soranus no ano 2 depois de Cristo); Depois disso, o nascimento foi o domínio 
indisputado das parteiras por um milênio. As parteiras, nessa época, foram prováveis 
curandeiras tribais que não acompanhavam apenas nascimentos, mas, geralmente, 
ministravam nas necessidades em saúde de pessoas comuns (Ehrenreich and English 
1973). O nascimento era, nessa época, claramente considerado como domínio 
feminino, essa definição do evento era, aparentemente, compartilhada por todos os 
membros da sociedade. Essa visão, sendo valiosa de nota, teve sanções religiosas e 
legais, como evidenciado pelo fato de um médico alemão que disfarçou a si mesmo 
de mulher para poder observar um nascimento. Ele foi pego e queimado no poste em 
Hamburgo, no ano de 1522 (Myles 1971:698). Parece que em toda a história, médicos 
homens não tinham vantagens de oferecer para a parturiente serviços superiores aos 
27 
 
das parteiras – e a mais remota ideia de ter um profissional homem acompanhando o 
parto era considerada não natural e imoral. 
Durante e depois o período de Renascença essa visão acerca do nascimento 
começou a mudar. A Europa estava se urbanizando; quanto mais e mais pessoas se 
mudavam para as cidades, longe do modelo personalizado de cuidado das parteiras 
de vilas, para um território de estranhos, hospitais começaram a ser construídos e 
dentro deles, médicos podiam observar milhares de nascimentos por ano e 
desenvolver técnicas padronizadas e ferramentas para o manejo do nascimento. 
Conforme médicos do sexo masculino ascenderam nesse ramo e começaram a 
adentrá-lo os mesmos desenvolveram um vasto número de objetos mecânicos para 
fins de intervenção. 
Por exemplo, uma versão primitiva do fórceps obstétrico foi inventado no século 
16 ou 17 por um dos Chamberlens – uma família francesa-inglesa de diversos médicos 
que manteve a ferramenta em segredo de família por mais de um século. Um de seus 
descendentes vendeu-a para um colégio médico-farmacêutico em Amsterdã que, em 
troca, vendeu o fórceps em segredo a médicos licenciados. Muitos anos depois, o 
segredo foi revelado. Nesse tempo, foi descoberto que os doutores alemães 
venderam uma única e inutilizável lâmina (Hellman e Pritchard 1971: 1116f). Ainda 
naquela época, a técnica do fórceps se tornou uma técnica comum de médicos que, 
com a ajuda da ferramenta, puderam acompanhar nascimentos que estavam além do 
alcance da expertise das parteiras. 
Um desenvolvimento que contribuiu para a mudança da visão do nascimento 
foi a conquista da sepsis puerperal através de técnicas assépticas e sépticas 
desenvolvidas no decorrer do século. Isso é digno de nota que a febre do recém-
nascido não foi um problema de maiores proporções através de grande parte da 
história. Só foi através do estabelecimento de hospitais institucionais e infestados de 
germes no século 18 que a febre do recém-nascido se tornou um massivo assassino 
de mulheres. Sua causa foi descoberta pelo médico austríaco Ignaz Philipp 
Semmelwiess. Ele descobriu, por volta do ano de 1840, que em seu hospital, a taxa 
de mortalidade por conta da febre puerperal era três vezes maior em mulheres que 
foram acompanhadas por médicos do que por parteiras. Quando um de seus colegas 
se cortou enquanto dissecava o corpo de uma mulher que faleceu por conta de 
enfermidade, e então, o mesmo apresentou sintomas da infecção fatal, Semmelweiss 
concluiu que as mãos dos médicos e dos estudantes de medicina transmitiam a 
28 
 
doença dos corpos que eles dissecavam para as mulheres que eles atendiam. Doutor 
Semmelweiss publicou ordens para a higienização consciente das mãos com 
desinfetante. A despeito de uma queda dramática da mortalidade materna ao passo 
que as suas instruções eram seguidas, suas ideias foram zombadas e seus avisos 
não foram seguidos até que o trabalho de Louis Pasteur e Joseph Lister 
providenciaram uma evidência científica para as observações de Semmelweiss – 
propriamente, os dois primeiros elaboraram uma teoria para a doença em questão. 
Ao início do século 20, métodos assépticos e não assépticos se tornaram parte 
do repertório médico. Foi somente nesse ponto que as parteiras não treinadas ficaram 
para trás dos médicos profissionais. Foi também nesse ponto que o status das 
parteiras nos Estados Unidos e da Europa começou a divergir. Nos Estados, como 
Barbara Ehrenreich e Deirdre English pontuaram, muitos estados decretaram leis 
proibindo a obstetrícia exercida pelas parteiras logo no início do século em questão 
(1973b: 33ff). 
Especificamente, as parteiras foram consideradas responsáveis pela 
prevalência da febre puerperal e oftalmia neonatal – cegueira causada por conta de 
gonorreia materna. Ambas as condições podem ser prevenidas por técnicas 
facilmente ensinadas e aprendidas: higienização das mãos para a febre puerperal e 
gotas de nitrato de prata para a cegueira. Na Europa, estes avanços científicos foram 
incorporados ao repertório de técnicas das parteiras. Nos Estados Unidos, por outro 
lado, nenhum esforço sistemático foi feito para atualizar a profissão por meio de 
treinamentos. As parteiras foram, de forma crescente, vistas como ignorantes e sujas. 
Dessa forma, o parto e o nascimento passou para a esfera médica e a obstetrícia 
exercida pelas parteiras sofreu um declínio que, somente nos dias atuais, começou a 
ser revertido. 
 
 
Dor e Manejo da dor. 
 Dado o fato de que o alívio da dor é de responsabilidade – e também um 
privilégio – do ambiente hospitalar, a questão da dor do parto é de interesse maior do 
que apenas subjetivo e experiencial. De fato, isso surge como um fenômeno cuja 
relação com a conceptualização do sistema deve ser investigada. Parece ser o fato 
de que, existem algumas mulheres em determinadas sociedades que passam pela 
29 
 
experiência do parto sem sentir nenhuma dor. De longe, é claro que a dor é um fato 
reconhecido e esperado durante o parto e o nascimento em quase todas as 
sociedades. É particularmente claro que a noção de nascimento “primitivo” é mais fácil 
do que um nascimento “civilizado” é falsa (Freedman e Ferguson 1950). O que é de 
interesse aqui, de qualquer forma, não é o fato das mulheres passarem ou não pela 
experiência de dor, mas sim, em qual tipo de “objeto” a dor surge nos diferentes 
sistemas: ela é realçada ou descontada? Em qual tipo de ocasião sua ocorrência 
proporciona uma visão natural e inerente do sistema? Em suma, qual é o papel da dor 
ao fazer o nascimento como um evento visível e natural? 
Dentro desse contexto, é digno de nota que as mulheres americanas, que são 
atendidas pelos profissionais médicos dentro de uma tecnologia elaborada de alivio 
de dor, ainda assim, passam por um grande sofrimento. Há quase trinta anos atrás, 
Hardy e Javert (1949) se esforçaram para mensurar a intensidade da dor durante o 
parto entre as mulheres americanas. O método utilizado por eles consistiu em 
perguntar às mulheres em trabalho de parto para mensurarem as dores das 
contrações uterinas comparadas com a dor infligida simultaneamente em suas costas 
por radiação termal controlada. Quase todas as mulheres que ainda se encontravam 
em um estado de cooperação com a pesquisa durante o trabalho de parto relataram 
que a experiência caracterizava a intensidade máximade dor que elas já vivenciaram. 
21 
Mensurações à parte, a experiência de dor é observacionalmente mais visível 
na obstetrícia exercida nos Estados Unidos do que na Holanda, Suécia ou em 
Yucatán. Uma parteira/obstetriz inglesa que estava trabalhando na Holanda e que 
teve uma experiência tanto com o modelo médico (o Britânico) e o não medicalizado 
(o holandês) me marcou que as expectativas engendradas pela concepção local de 
nascimento influenciam o nível de dor durante a experiência. No sistema médico do 
qual o método de alívio de dor está disponível, mas a decisão administrada é feita 
pelo médico atendente, a mulher passa por grandes e medonhos empenhos para 
convencer o seu atendente acerca de suas necessidades de drogas para alívio de 
dor. Desde que objeto de alívio da dor não é acessível e nem possível, é de 
 
21 A unidade de medida utilizada para esse experimento foi o dol. 3-5 dols constituem uma dor 
moderada; 5-7 dols uma dor severa; e 10.5 dols é o tipo de dor mais intenso que pode ser sentido. Aumentar a 
radiação termal mais do que a última medida citada pode não aumentar a percepção de dor. Um número maior 
do que 8 dols pode causar danos teciduais; 10.5 dols é comum logo após o nascimento e inflige em queimaduras 
de segundo grau. 
30 
 
responsabilidade da mulher produzir a sua própria visão da experiência; Ainda mais, 
desde que os atendentes são forçados (pela preocupação dos efeitos que as drogas 
podem proporcionar durante o trabalho de parto) a segurar o uso de medicações pela 
maior quantidade de tempo possível, o sistema tem um viés na construção das 
orientações tanto à mulher quanto aos atendentes em relação ao uso de medicações 
para a dor. Frequentemente, a mulher está primeiramente ansiosa e preocupada com 
a possibilidade de sentir dor, a mulher é orientada a esse processo desde o seu 
desconforto inicial e então é monitorada com o aumento da intensidade da dor. A 
interação com a equipe médica é dominada por relações de negociação em relação a 
dor. É de responsabilidade da mulher de antecipá-la e de avaliar o ponto em que a 
dor se torna intolerável, e dessa forma, ela pode convencer a equipe sobre suas 
necessidades em relação ao uso de medicação. A exposição necessária dessa 
necessidade não só tem como adição um alto nível de barulho e histeria no sistema 
obstétrico americano, como também providencia um poderoso parecer na experiência 
do aumento dos níveis de dor. 
Na Suécia, onde os analgésicos e anestésicos também são utilizados como 
métodos de alívio de dor, a necessidade de convencer a equipe médica sobre a 
necessidade de sua utilização não se faz presente. As mulheres suecas são 
informadas sobre todos os tipos de medicação que estão disponíveis, as condições 
sob as quais eles não são recomendados e os riscos e possibilidades conhecidos em 
relação ao bebê. A decisão sobre o que tomar, se tomar e quando tomar é da mulher. 
Consequentemente, elas podem focar a atenção no trabalho de parto, e enquanto a 
medicação é utilizada como parte da rotina, a atmosfera é calma e quieta, de intensa 
concentração enquanto o pânico vocal se dissipa. A conceptualização local do 
nascimento como uma conquista da mulher encontra sua expressão em como ocorre 
o manejo da dor no sistema sueco. 
Similarmente, enxergar o nascimento como um processo natural cria um viés 
do sistema holandês contra todos os tipos de interferência. Os participantes no 
sistema de nascimento sueco mantêm uma convicção profunda de que o corpo da 
mulher sabe o que é melhor para si e que, dada uma quantidade suficiente de tempo, 
a natureza seguirá o seu curso. Essa orientação é similar daquela dada às mulheres 
maia, que também tendem a tomar uma atitude de espera. Em contraste com a 
atmosfera de crise do sistema médico dos Estados Unidos, que se baseia na 
orientação da equipe médica de patologias críticas e um alto drama de cirurgias, nós 
31 
 
vemos que em um parto em Yucatán se dá um ambiente parcamente iluminado, 
minimamente separado da vida familiar e largamente manejado com recursos diários. 
Para as mulheres maias algum tipo de dor é esperado durante o processo de 
nascimento, da forma como ela é – uma parte aceita da vida e um processo em geral. 
Em Yucatán, nenhum esforço é feito para amedrontar a mulher durante o trabalho de 
parto através da proibição daquilo que inerentemente é seu. A dor aparece nas 
histórias que as mulheres contam sobre suas experiências de parto, mas essas 
histórias tornam claro que, durante o trabalho de parto, o stress é algo normal e depois 
de todo o seu sofrimento tudo irá voltar ao normal – assim como foi para outras 
mulheres. Indo ainda mais longe, a experiência do nascimento, especificamente o 
testemunho do marido durante o processo de dor da esposa se torna uma interação 
poderosa que exerce um maior papel no testemunho de cuidado do marido durante o 
período puerperal. (Cuidar, em Yucatán, é um eufemismo para o espaçamento de 
idade das crianças por conta do coito interrompido). Para os maias, então, a dor do 
parto e a coo experiência social da dor em si servem para tornar o parto como uma 
das ocasiões significativas na vida normal do ciclo de vida. No processo de manejo 
da dor, assim como no manejo de outros aspectos do processo de nascimento, nós 
notamos que a forma como o evento é conduzido reforça um grande valor social. 22 
As características e os comportamentos considerados como desejáveis gerais 
na sociedade, assim como, trabalho árduo, estoicismo, expressão subjugada em 
relação aos sentimentos e emoções, são considerados igualmente desejáveis no 
processo de nascimento; Como um fato importância, esse é um evento 
potencialmente estressante e perigoso – e dá aos indivíduos a oportunidade de 
mostrar esse tipo de características em um fórum relativamente público. 
 
 
 
 
 
 
22 Atualização: em sua comparação de percepção de dor dentre quatro grupos étnicos diferentes nos 
Estados Unidos, Janice Morse e Caroline Park (1988) mostraram que dois grupos, dos quais os membros não 
consideram o nascimento como um processo natural – os Anglo-Canadenses e os Indígenas do Leste – julgaram 
o nascimento como um processo muito doloroso. As mulheres desses dois grupos, também, apresentaram suas 
percepções durante o processo de nascimento, enquanto os outros dois grupos que veem o nascimento como 
parte da vida diária – os Hutteritas Agricultores e os Ucranianos – julgaram (e viveram) o nascimento como muito 
menos doloroso. 
32 
 
Preparação para o nascimento. 
O nascimento é um marco pontualmente fisiológico e cultural dentro de um 
processo contínuo, cujo o início é arbitrário e o seu fim pontuado. 23 
De muitas maneiras, o momento do nascimento é meramente o clímax de um 
processo de desenvolvimento que começa no momento da concepção e depois disso. 
Isso vai ser de interesse de exame, na seção seguinte – a extensão das quais as 
concepções de um sistema específico do nascimento encontraram sua expressividade 
nos métodos locais de preparo da mulher para o curso e a experiência de parto e 
nascimento. 
Dentro de uma estrutura biossocial, dois tipos de considerações transculturais 
são importantes. A primeira concerne à natureza do processo de socialização pelo 
qual a mulher é introduzida ao seu sistema de nascimento cultural. Esse tópico requer 
um exame dos modos formais e informais de transmissão de informações. A segunda 
dimensão concerne ao conteúdo dessas instruções – o conhecimento substancial que 
é esperado por parte da mulher a ser adquirido, bem como a preparação física que 
também se espera

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