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CIENCIA POLITICA UNIP EAD

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Fundamentos da CiênCia PolítiCa
Unidade II
3 A democrAciA nA AntiguidAde clássicA
3.1 o nascimento da política
É possível identificar na Grécia Antiga e em Roma as principais explicações sobre a origem da vida 
política que nos afeta até hoje. 
Mas os gregos também identificavam suas principais explicações para suas origens em histórias 
ainda mais antigas. Eles acreditavam no mito das “Idades do Homem”. A primeira é a Idade de Ouro, 
quando os seres humanos conviviam com os deuses e eram também imortais. Os seres humanos 
nasciam diretamente da terra. A vida transcorria em paz e harmonia, sem nenhuma necessidade de 
leis e governo. 
Então, no momento em que os humanos descobriram o fogo, Zeus os transformou em mortais, e a 
Idade de Ouro acabou. Eles passaram a viver nas florestas, sem roupa nem moradia, sendo ameaçados 
pelas feras e pelas intempéries, e precisavam caçar e colher frutos para viver. Com o fogo, conseguiram 
aprender a cozinhar os alimentos, e em seguida passaram a trabalhar na metalurgia. Construíram 
cabanas, teceram seu vestuário, fabricaram armas para a caça e finalmente formaram famílias. 
Nesse momento, começa a Idade do Ferro, quando os homens organizados em grupos passam a 
fazer guerra entre si. Entre a Idade do Ouro e a Idade do Ferro, os gregos acreditavam que tudo tivesse 
acontecido numa transição entre a Idade da Prata e a Idade do Bronze. Como a guerra imperava, os 
deuses então intervieram e enviaram aos homens um escolhido, que redigiu as primeiras leis, criando o 
governo (CHAUI, 2000, p. 491). 
Platão utilizou este mito – e também Cícero, séculos depois – para explicar através de uma 
metáfora a origem das leis e sua importância na formação da política e da própria ideia de legislador. 
As leis e os legisladores zelavam pela razão da vida política, instituindo a ordem, a harmonia e a 
concórdia entre os seres humanos que viviam juntos numa polis – a forma grega de pensar a cidade e 
o conjunto da sua população ao mesmo tempo. Portanto, foi o uso da razão para organizar a cidade 
que fez surgir a política. 
Essa descrição do nascimento da política pode ser encontrada numa série de referências que contém 
algumas variações. Na obra do poeta grego Hesíodo O trabalho e os dias, a origem da vida política 
começa com a doação do fogo aos homens, presente do semideus Prometeu. Com domínio do fogo, os 
seres humanos puderam perceber-se como seres diferentes dos animais. Entenderam a necessidade e as 
vantagens de viverem em sociedade para facilitar a produção, e a melhor forma de facilitar o trabalho 
foi dividindo todas as tarefas em etapas, criando a cooperação.
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Unidade II
Uma vez vivendo em comunidades, as tribos pediam aos deuses sua benção, e a maior delas 
foi as leis para poderem formar governos. Descobriram então que os deuses não cuidam de todos 
os problemas – é necessário encontrar soluções humanas para várias questões. Mesmo sem deixar 
de acreditar nos deuses, os seres humanos criaram as leis e as instituições, o que fez surgir a 
comunidade política. 
Essa lenda é sintética o suficiente para se tornar uma teoria política, e foi o que os sofistas fizeram. 
Para eles, tanto as ideias quanto as práticas e os costumes permitiram aos seres humanos as instituições 
de convenções sociais, que acabavam sugerindo as leis. Assim, a tradição e os costumes constituem a 
convenção, e foram a obediência e a defesa dessa convenção que fundaram a atividade política. 
 observação
Os sofistas eram homens estudados, que se intitulavam filósofos. 
Trabalhavam como professores particulares e como advogados, para 
defender comerciantes nos julgamentos públicos nas praças dos mercados. 
Sabemos das atividades dos sofistas através das obras de Platão, que, 
seguindo a posição pessoal de Sócrates, seu professor, detestava os sofistas. 
Para Sócrates, o conhecimento não pode ser vendido, e nenhum homem 
sábio vende seus serviços de convencimento em favor de uma causa. 
Outra ideia para o nascimento da política é a teoria de que a política é consequência da natureza, 
porque a constituição da cidade também é uma decorrência da natureza. Isto porque a natureza dos 
seres humanos seria diferente da natureza dos animais, já que os seres humanos se comunicam e 
refletem sobre a realidade utilizando palavras. A consequência desse raciocínio é que os seres humanos 
são naturalmente sociais, e, como observou Aristóteles, são animais políticos. Então, ao conhecermos a 
natureza humana, encontramos as causas da política. Ainda segundo essa teoria, o motivo para a vida 
em comunidade e a vida política é a própria comunicação, que, entre os seres humanos, é natural, e 
assim a natureza funda a política. 
Na Grécia, a vida política era buscar sempre a justiça para regular a comunidade. A primeira noção 
de justiça tinha sido pensada como um mito. A lei divina instituiu a ordem do Universo, e desta ordem 
universal nasceu a harmonia das coisas e, como consequência, a justiça entre os homens. Assim, a 
percepção da justiça entre as coisas e também entre os homens pode ser entendida como uma regra 
natural. A ideia de justiça é consequência da ordem divina da natureza, e assim deviam ser também a lei 
e a ordem da sociedade humana. 
Com a evolução da política entre os gregos, as explicações encontradas na mitologia foram 
se tornando insuficientes para explicar a realidade. Até porque essa ideia de que justo é o que 
segue a lei natural é um pensamento fundamentado pela razão. Mas como a razão encontra mais 
de uma solução, as filosofias de Platão e Aristóteles defenderam este caráter natural da justiça e 
da lei, enquanto os sofistas defendiam que a justiça e as leis são convenções combinadas entre 
os homens. 
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Para eles, a cidade tinha nascido decorrente de uma convenção social, em que era esperado 
que as regras da boa convivência fossem lei. A justiça é o consenso que surge quando as leis são 
aplicadas. A política serviria para criar ou preservar esse consenso. Quando a cidade muda, as leis 
podem mudar. Assim, cidades diferentes têm leis diferentes. A justiça deveria permitir a mudança 
das leis dentro da mesma cidade, sem destruir a comunidade da cidade – ou comunidade da polis, 
ou simplesmente comunidade política. A única maneira de realizar as mudanças seria o debate 
para se alcançar o consenso, e o acordo seria fechado através de votação, quando a expressão 
pública da maioria se tornaria a lei. 
 lembrete
Os sofistas eram professores que ensinavam a retórica. Eram contratados 
para ensinar a debater em público, com argumentos que permitiam lidar 
com questões da justiça e da política.
Assim, a finalidade da política seria encontrar a medida da justiça, e essa medida seria a lei, votada 
depois de uma defesa pública de sua pertinência, e a vitória do interesse mais bem-argumentado seria 
aprovada pelo voto da maioria (CHAUI, 2000, p. 493). Um homem grego só seria completo se estivesse 
inserido na cidade (polis) – polis significava a comunidade de homens adultos participando autônoma 
e individualmente do exercício do poder (SOUZA, 2010, p. 9). Na polis a vida social não era separada da 
atuação política. A atuação política era tão importante que o próprio conceito de vida social não existia 
no vocabulário grego e surgiu posteriormente em Roma. A polis grega era horizontal, o que significa que, 
na origem, todos os homens livres eramconsiderados iguais em valor e posição, independentemente da 
sua profissão (SOUZA, 2010, p. 9).
Por outro lado, na vida privada grega o homem mandava nas mulheres, nos servos e também nos 
seus escravos. Na vida pública, apenas os homens livres ocupavam os cargos de governo através de um 
sistema de revezamento. O espaço mais importante da cidade era a ágora, praça onde funcionava o 
mercado e também eram realizados os debates e as votações políticas. A ágora era o espaço de exercício 
da democracia direta e da convivência dos cidadãos (MAAR, 1982). O homem adulto em Atenas que não 
participasse da vida da cidade era considerado uma pessoa estranha pelos demais. O homem “não político” 
era um ser deficiente, um ídion ou ideotes, um ser carente (palavra que deu origem ao termo “idiota”).
 observação
Você não deve cair na tentação de imaginar que no passado existiram 
civilizações mais justas do que as que temos hoje em dia. O comportamento 
das civilizações antigas serve para nos inspirar naquilo que foram suas boas 
práticas, mas não devemos acreditar que seu cotidiano era melhor.
Mesmo com a democracia, Atenas não foi sempre uma sociedade horizontal. Até o século VI a.C., 
o poder político era controlado por uma elite aristocrática que era dona das terras férteis em volta da 
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cidade, os bem-nascidos. Mas surgiu uma classe de comerciantes que não eram donos de terra; estes, ao 
ficarem ricos, exigiram sua participação nos processos decisórios da vida política (SOUZA, 2010, p. 12). 
Se alguém não conseguia pagar suas dívidas, era transformado em escravo. Também aqueles que eram 
pobres, além dos escravos, passaram a exigir participação no poder político. Com isso, os bem-nascidos 
foram obrigados a reformular as instituições políticas da cidade-estado de Atenas. Em 621 a.C., Drácon 
estabeleceu um conjunto de leis escritas que daria lugar às antigas leis orais (na língua portuguesa, 
essas leis deram origem ao termo draconiano, aquilo que se é obrigado a seguir). 
Em 594 a.C., Sólon, o novo legislador, ampliou as reformas políticas em Atenas, acabou com a 
escravidão por dívidas e resolveu classificar a população ateniense através da quantidade de riqueza de 
cada cidadão. Assim, os comerciantes ricos finalmente conquistaram o direito de participação política. 
Surgiram instituições para formular as leis, e os juízes passaram a julgar os cidadãos de acordo 
com as leis escritas. As elites proprietárias de terras se revoltaram e promoveram golpes de Estado que 
terminaram com a democracia e instituíram a tirania que durou oitenta anos. Em 510 a.C., Clístenes 
dividiu o povo em dez demos, que podiam escolher seus representantes políticos. Eram uma espécie de 
primeiros partidos políticos. Como todos obrigatoriamente participavam de um demo, cada ateniense 
podia escolher através do voto seus representantes políticos no governo da polis. A participação entre 
ricos e pobres ficou mais equilibrada. Outra novidade política adotada por Clístenes foi o ostracismo, 
hoje em dia chamado de exílio. Qualquer pessoa considerada uma ameaça ao governo democrático era 
banida da cidade por dez anos. Com isso, eles pensavam em afastar da cidade aqueles que desejavam e 
conspiravam para se tornar tiranos (SOUZA, 2010, p. 13). 
A própria cidadania ganhou com as reformas de Clístenes, mas somente os homens livres, de pai e 
mãe ateniense, maiores de 18 anos e nascidos na cidade eram considerados cidadãos – mulheres, escravos 
e estrangeiros não podiam participar da política. Com o desenvolvimento das cidades, do comércio, do 
artesanato e das artes militares, Atenas se tornou o centro da vida social, política e cultural da Grécia. A 
democracia atingiu seu auge e desenvolveu duas características importantes para a Filosofia: a igualdade 
de todos os homens adultos perante as leis e o direito de todos de participarem diretamente do governo 
da cidade, da polis. Como a democracia era direta, e não por eleição de representantes, garantiu a todos 
os homens a participação no governo (CHAUI, 2000, p. 43).
Com a diversificação das atividades na polis, cresceu também a necessidade das atividades 
políticas. Todas as dimensões da sociedade passaram a ser tratadas de forma política, e essa ampliação 
das atividades acabou permitindo que política viesse a denominar tudo o que envolvia o poder e a 
organização da sociedade. 
Assim, política virou sinônimo de toda ação para governar a coletividade organizada num Estado, 
além de todas as ações públicas, contra a autoridade ou a favor dela. 
Mas na Grécia a ação política pressupunha que o homem fosse justo. É necessário entender que um 
homem tinha tal qualidade quando, antes de se deixar dominar pelos desejos ou por sua cólera, pensava 
com a razão. Quanto mais sabedoria um homem pudesse demonstrar no convívio político, mas sua alma 
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se mostrava sábia e superior. Platão entendia que era justo haver uma hierarquia na cidade, e essa ordem 
colocaria as almas superiores dominando as inferiores. Assim, os filósofos deveriam governar a cidade, 
que seria administrada pelos cientistas, protegida pelos guerreiros e sustentada pelos produtores.
Na República idealizada por ele, as classes deveriam assumir suas funções para o bem da polis. O 
inverso dessa cidade, a polis injusta, era aquela governada por proprietários, que não pensam no bem 
comum, apenas em seus interesses econômicos. Uma cidade governada por militares também é injusta, 
pois eles obrigariam a todo tipo de violência apenas para ver suas ideias de honra e de sucesso vingarem 
através desse ofício. 
Para Platão, uma cidade justa nasceria com a educação de todos os cidadãos. Homens e mulheres 
desde a infância seriam cuidados com os serviços do Estado, que proveria sua educação pensando na 
própria manutenção da continuidade. As funções necessárias à cidade eram todas, e a educação faria 
parte também da regulamentação da vida econômica da cidade. Todas as crianças teriam a mesma 
formação inicial, mas as que tivessem as piores notas seriam destinadas às atividades econômicas. 
Depois de outro período escolar, novas provas indicariam os destinados ao exército. O próximo ciclo 
ensinaria ciências, quando mais uma prova separaria os administradores da cidade, e os melhores dos 
melhores alunos seriam os legisladores, que formariam a classe dirigente (CHAUI, 2000, p. 494).
Para Platão e Aristóteles, para medir a corrupção ou a decadência de uma sociedade, basta verificar 
a forma de atuação da lei no Estado, a qualidade de sua economia e a presença da violência como 
parâmetro inclusive da política. Para facilitar o entendimento dos ciclos de comportamento social 
que Platão sugeriu, ele e Aristóteles pensaram motivos para que a sociedade se reorganizasse. Sua 
classificação das formas de governo sugeriu limites para quando elas iriam se modificar, por deturpação 
resultante do comportamento social. 
A monarquia, ao ultrapassar seu limite, degenera em tirania. O rei pode se tornar tirano, o que significa 
que um homem governa para servir seus interesses pessoais. A aristocracia, o governo dos melhores, 
degenera na oligarquia, o governo dos muito ricos. Essa forma de governo pode acontecer na forma de 
uma plutocracia, mas pode também ser uma timocracia, o governo dos militares. Também a democracia 
pode degenerar em demagogia, quando muitos querem tudo para si e, finalmente, descrentes do Estado, 
as pessoas experimentariam a anarquia.
A desagregação da sociedade promovida pela anarquia estaria sujeita à volta da tirania. Fica maisorganizado quando a sociedade busca num homem a ordem, fechando um círculo que demonstra a 
impossibilidade de uma forma estável de governo. 
 observação
São dois os vocábulos gregos que compõem os nomes dos regimes 
políticos: arche – o que tem comando – e kratos – a autoridade suprema. 
Quando a palavra traz o sufixo arche (arquia), sabemos quantos estão no 
poder. Já as palavras com kratos (cracia) descrevem quem está no poder. 
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Quanto aos regimes políticos: governo de um só = monarquia (monas); 
governo de alguns = oligarquia (oligos); governo de ninguém = anarquia 
(ana). 
Com o sufixo kratos, percebemos a autocracia, que é o poder de uma 
pessoa reconhecida como rei. O poder dos melhores estava na aristocracia, 
e a democracia é o poder do povo (CHAUI, 2000).
Na Grécia, e mais tarde em Roma, as civilizações foram governadas principalmente por monarquias. 
Mas até mesmo esses reis, que gostavam de inventar origens divinas, enfrentavam sociedades 
organizadas. Os governantes tinham de submeter as decisões a um Conselho de Anciãos ou a chefes 
militares. Foi esse tipo de negociação social que acabava por transformar as monarquias em oligarquias. 
O governo passava a ser controlado pelas famílias mais ricas, violentas e poderosas. Elas eram pessoas 
que se consideravam “melhores” do que as demais, e isso se chama aristocracia. 
Vimos que a forma de fazer política na polis mudou quando os debates e as decisões deixaram 
de ser resolvidos na ágora e passaram a ser solucionados no teatro grego. No novo espaço, o debate 
entre interlocutores em condições de igualdade foi substituído pela distinção entre cidadãos que 
tomavam a palavra no espaço do palco e aqueles que assistiam passivamente da plateia. Os cidadãos 
que demonstravam a técnica de dramatização do discurso eram mais eficientes no convencimento das 
ideias, e discursar em público tornou-se uma especialização. Essa arte se tornou o critério de hierarquizar 
os cidadãos. O resultado é que, depois dessa especialização, os cidadãos não se reconheciam mais nas 
decisões tomadas e não entendiam o motivo de determinadas leis. A horizontalidade da polis com 
a sua unidade sociopolítica desmoronou. Quando os homens livres deixaram de se considerar iguais 
e aceitaram o critério de hierarquia imposto pela arte da oratória, perderam a sua igualdade e, com 
ela, a sua identidade enquanto cidadãos (SOUZA, 2010, p. 11). O resultado é que os gregos perderam a 
vontade de se manter unidos para resistirem às invasões estrangeiras, pois os interesses do povo e dos 
aristocratas tinham se afastado muito.
3.1.1 A política dos cidadãos ressurge em Roma
Vários foram os motivos pelos quais o mundo romano conseguiu separar melhor as dimensões 
do social e do político. As cidades romanas eram maiores que as cidades gregas, o que inviabilizava a 
participação direta dos cidadãos, pois era muita gente para se sentar num teatro. Em vez de manterem 
a polis grega, a cidade romana foi chamada de civitas. A civitas romana é uma associação de cidadãos 
que respeitam um conjunto de leis, a civilis societas, que é organizada por uma sociedade jurídica, 
a iuris societas. O homem político pensado por Aristóteles se tornou o homem social formulado por 
Sêneca (4 a.C.-65 d.C.). 
Durante a existência da República Romana, o governo foi exercido pelo Senado. Quando Júlio César 
transformou a República em Império e se tornou o primeiro imperador, a gestão das leis continuou 
sendo feita para cuidar da convivência social e era imposta a toda a população. Nesse modelo romano 
centrado no social, surgiu a ideia de que o homem é um animal social. 
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Mesmo com a semelhança das Repúblicas Grega e Romana, o único governo verdadeiramente 
democrático foi o de Atenas. Mesmo nas outras cidades gregas e em Roma, o governo era exercido 
pelos que se achavam melhores, os aristocratas. Mantinha formas políticas para que as famílias ricas 
herdassem o poder, criando uma oligarquia (CHAUI, 2000, p. 496).
Há aspectos comuns na invenção da política dessas duas civilizações. A forma de deter e trabalhar 
a propriedade da terra é o grande aspecto em comum. As duas civilizações promoveram a urbanização, 
e a divisão territorial das cidades acabou formando representações sociais e políticas semelhantes. A 
urbanização foi decorrência dos governos dos proprietários de terra. Como os grandes proprietários 
disputavam áreas cada vez maiores, eram travadas pequenas guerras de conquista, que traziam como 
resultados camponeses expulsos de suas terras e escravos capturados em terras inimigas. Tanto na Grécia 
como em Roma, os camponeses pobres migraram para as aldeias e se tornaram artesãos e comerciantes. 
Mas com o tempo esses artesãos e comerciantes prosperavam, e suas aldeias viravam cidades que 
passavam a disputar o poder com as famílias aristocratas.
Durante toda a história grega e também a romana, aconteceu o que hoje chamamos de uma luta 
de classes. Com a urbanização, o confronto se dava entre os proprietários agrários e os artesãos e 
comerciantes, e também dessas classes com a massa de assalariados da população urbana, que eram 
coletivamente chamados de “os pobres”. As lutas envolviam as classes dos ricos, e deles contra os pobres. 
Essas lutas eram possíveis porque todos os habitantes homens da cidade eram convocados como 
soldados nas guerras. Os soldados eram responsáveis tanto pela expansão territorial das civilizações 
quanto pela defesa de sua cidade. Os homens participavam de milícias, e essa participação militar fazia 
que todos se julgassem no direito de intervir nas decisões econômicas e legais das cidades. Era necessário 
fazer política para solucionar essas lutas de classes (CHAUI, 2000, p. 484).
A interpretação marxista de Marilena Chaui permite uma comparação direta com o que aconteceu 
com as duas civilizações. Quando a cidade é dividida em territórios regionais e há esse critério de 
proximidade urbana, os demos (na Grécia) e os tribus (em Roma) têm o direito de participar da vida 
política da cidade.
Para evitar o poder ditatorial, que era a autoridade da força e da lei concentrados na pessoa de um 
general, gregos e romanos começaram distinguindo a autoridade pessoal privada, do chefe de família, 
do poder impessoal público, controlado pela coletividade.
Os cargos do governo eram preenchidos por eleições entre os cidadãos, para tentar impedir a 
manutenção do poder hereditário. A autoridade militar não podia atuar sem ordem do poder civil. Em 
Roma, o poder político também significava o poder militar, mas as campanhas militares eram discutidas 
e aprovadas pela autoridade política, até porque os recursos para formar um exército precisavam ser 
arregimentados entre os ricos. Os chefes militares eram eleitos pelas assembleias dos cidadãos.
Gregos e romanos também separaram a autoridade religiosa do poder do governo da sociedade. 
O poder político sempre manteve certa união com a religião. Os sacerdotes eram respeitados pela sua 
capacidade de poder político, sem que isso se tornasse uma submissão da política à autoridade religiosa.
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Nas duas civilizações, foram criadas a ideia e a prática da lei como expressão de uma vontade 
coletiva e pública. A lei devia ser igual para todos e precisava também definir direitos e deveres para os 
cidadãos. Através da lei, tentaram manter a diferença entre o poder políticoe todos os demais poderes. 
Segundo Marilena Chaui, o mais importante é que impediram as pessoas de se vingarem, diminuindo a 
violência social e criando um ambiente respeitado e controlado por todos (CHAUI, 2000, p. 485). 
Para que as leis pudessem ser defendidas, criaram as instituições públicas, inclusive o erário público, 
que dispunha de recursos para a melhoria do bem comum. 
Tais características conjuntas atuando ao mesmo tempo numa sociedade diferenciam definitivamente 
os seres humanos dos animais, tal a importância da política. A política fez surgir a publicidade, o que 
chamamos hoje em dia de transparência. A sociedade precisa conhecer deliberações feitas em seu nome 
e participar da tomada de decisão. Para gregos e romanos, a realidade social é expressa na forma da 
política. Os conflitos sociais aparecem no espaço público, e a política intercede como espaço legítimo 
desses conflitos.
Quando a Grécia foi dominada por Alexandre da Macedônia e, séculos mais tarde, quando Roma 
deixou de ser república para se tornar o Império dos Césares, a corrupção gerou a decadência da política. 
Isso permitiu o retorno à tirania e mudou a vida política (CHAUI, 2000, p. 486). 
Mesmo reconhecendo as semelhanças entre os acontecimentos do passado e a vida 
contemporânea, os gregos e os romanos tinham sociedades e políticas muito distantes dos nossos 
valores e princípios atuais. Eles eram escravagistas e patriarcais. Só tinham cidadania os homens 
adultos livres nascidos no território da cidade, e as mulheres eram excluídas da vida pública. 
Gregos e romanos não viveram numa sociedade sem classes e justa, mas inventaram a política para 
encontrar soluções temporárias das suas diferenças e dos seus conflitos (CHAUI, 2000, p. 487). 
3.1.2 O idealismo de Platão
Anteriormente, vimos algumas ideias de Platão e Aristóteles sobre a política. Vamos a seguir estudar 
a influência de Platão sobre o pensamento ocidental. 
A primeira pessoa importante para a filosofia influenciada por Platão foi Aristóteles, que foi aluno 
de Platão e também foi o primeiro a discutir suas ideias publicamente. Vamos relembrar os principais 
elementos das doutrinas de Platão na seguinte ordem: 
•	 Platão	sugeriu	uma	doutrina	das	 ideias,	segundo	a	qual	as	 ideias	são	objeto	do	conhecimento	
científico. As ideias são entidades ou valores que têm um status diferente do das coisas naturais. 
As ideias se caracterizam pela unidade e pela imutabilidade. Com base nesta doutrina, todo 
conhecimento adquirido pelos sentidos (visão, audição, tato, paladar e olfato) não tem o mínimo 
valor de verdade e pode eventualmente apenas impedir o acesso ao conhecimento autêntico. 
Como entender esta doutrina? Pense que a ideia de mesa é mais abrangente do que qualquer 
mesa que você conheça, pois quando dizemos mesa incluímos todas as mesas do mundo, mesmo 
aquelas que não conhecemos.
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•	 Ele	criou	a	doutrina	da	superioridade	da	sabedoria	sobre	o	saber.	A	sabedoria	é	a	qualidade	que	
permite ao ser humano conhecer o objetivo político da filosofia, que é a realização da justiça nas 
relações humanas. 
•	 Além	disso,	Platão	começou	a	doutrina	da	dialética	como	procedimento	científico.	A	dialética	é	um	
método através do qual uma investigação de duas pessoas consegue reconhecer uma única ideia, 
para depois dividi-la em suas articulações específicas. Assim, quando duas pessoas concordam 
sobre o que é uma mesa, elas podem criar mesas diferentes, e mesmo objetos como cadeiras ou 
pratos que funcionam em conjunto com a mesa. Mas isso vale tanto para as ideias dos objetos 
concretos, como mesas e cadeiras, quanto para ideias abstratas, como a própria justiça. 
Foi a discussão dessas três doutrinas que opuseram Aristóteles a Platão e marcam a diferença entre o 
platonismo e o aristotelismo. A filosofia original de Platão é, porém, maior do que o platonismo. Quando 
as ideias de Platão influenciaram o Renascimento por volta do final do século XIII, elas foram adaptadas 
à realidade daquela época na forma de neoplatonismo. Naquele momento, o que interessava eram as 
ideias de Platão sobre a justiça para o indivíduo e a justiça na polis. 
Aristóteles entendeu que o bem para um indivíduo é dependente do bem supremo da polis. O bem do 
indivíduo era resultado do seu comportamento ético, e o bem da coletividade era resultado da política. 
Ele pensava que o vínculo entre a ética e a política dependia das qualidades morais dos cidadãos e das 
qualidades das leis. Assim, a cidade era resultado direto das virtudes dos cidadãos, pois os homens só 
podiam ser bons e justos numa cidade boa e justa.
Surge aqui a questão filosófica de como estabelecer uma diferença entre a realidade e o conhecimento 
racional que temos da realidade na mente – dito de uma forma mais simples, como nós conseguimos 
estabelecer a diferença entre aquilo que nós imaginamos com as ideias e aquilo que realmente acontece 
entre as pessoas e as coisas do mundo. Como escreve Marilena Chaui, 
Não podemos saber se a realidade exterior é racional em si. Só podemos 
saber e dizer que a realidade é racional, isto é, através das nossas ideias. Essa 
é a posição filosófica do idealismo e afirma apenas a existência da razão 
subjetiva. O que entendemos como realidade, é o que conhecemos por meio 
das ideias de nossa razão (CHAUI, 2000, p. 84). 
Para entender isso, é só pensarmos no que é a Lua. Precisamos de conceitos abstratos para 
entender o que é o satélite natural da Terra, mas uma vez compreendidos esses conceitos, ao 
vermos a Lua no céu, sabemos que ela é um corpo celeste que gira em volta da Terra, mesmo que 
cada um de nós não tenha a oportunidade de ir até lá para ver se isso é verdade ou não.
Essa concepção das coisas do mundo começou com Platão. Ele defendeu a tese de que determinadas 
ideias que contêm razão são inatas, ou seja, as temos na mente desde que nascemos. Tal descrição se 
encontra nas obras Mênon e A República. 
Num diálogo, Platão escreveu que Sócrates conversou uma vez com um jovem escravo 
analfabeto. Mas, como sabia fazer as perguntas ao escravo na hora certa, ele conseguiu que 
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o escravo elaborasse uma demonstração do teorema de Pitágoras. As propostas e soluções 
geométricas foram surgindo na mente do jovem à medida que as perguntas de Sócrates o faziam 
raciocinar. Platão não entendia como, mas chegou à conclusão de que, se o escravo não tivesse 
nascido com a razão, não teria conseguido demonstrar o teorema a partir da experiência adquirida 
na vida (CHAUI, 2000, p. 85). 
Na República, Platão desenvolve a Teoria da Reminiscência. Para ele, nascemos com a razão e com as 
ideias verdadeiras, e a Filosofia nos relembra essas ideias. Conhecer alguma coisa é recordar uma verdade 
que já está em nós. Esse pensamento vai influenciar diretamente Santo Agostinho séculos mais tarde.
Platão concluiu que, se não contássemos com as ideias da razão e da verdade, não teríamos como 
saber que uma ideia é verdadeira. Nascemos sabendo distinguir o verdadeiro do falso.
3.1.3 A influência de Platão através de séculos de Filosofia
Séculos depois, esta foi a mesma pergunta que Santo Agostinho se fez sobre a existência de Deus: 
“É falso ou verdadeiro que Deus exista? Sei no meu íntimo que tudo [o] que foi criado, foi feito por um 
ser superior, portanto se creio nisso, eu existo” (AGOSTINHO, 2007a, p. 39).
A doutrina de Platão que defendia as ideias inatas atravessou os tempos. No Renascimento, os 
pensadores estavam interessados em discutir o poder despótico e tirânico dos reis. A IdadeMédia estava 
terminando sob a influência das ideias de Aristóteles, adaptadas por São Tomás de Aquino. Para os 
renascentistas, resgatar as ideias de Platão era tentar recriar as bases intelectuais para discutir o poder 
dos monarcas. Para isso, era necessário resgatar a razão, que estava contida nas ideias inatas.
Depois do Renascimento, começou o Iluminismo (também chamado de Idade da Razão, 
aproximadamente de 1650 a 1780). Um de seus pensadores mais importantes, René Descartes, 
dividiu as ideias em três tipos, cujas diferenças eram sua origem e sua qualidade. As ideias 
vindas de fora surgem das nossas sensações, percepções ou lembranças, ou seja, aparecem 
porque as percebemos através dos cinco sentidos. São as nossas ideias cotidianas, que nem 
sempre correspondem à realidade das coisas.
Existiriam as ideias fictícias, que são as fantasias que criamos. São aquelas que aparecem 
nos sonhos, que transformam pessoas em sapos, enfim, ideias que nunca correspondem a nada 
da realidade. Porém, as ideias inatas seriam aquelas que não vêm da nossa experiência sensorial 
porque não existem objetos sensoriais ou sensíveis para elas. As ideias inatas existem porque 
nascemos com elas, e são inteiramente racionais. Por exemplo, a ideia do infinito, do número 
zero, essas ideias são para Descartes “a assinatura do Criador” no espírito das criaturas racionais. 
Através dessas ideias inatas, podemos conhecer a verdade.
Segundo essa teoria, com as ideias inatas –por exemplo, a ideia de verdade – podemos julgar se uma 
ideia adventícia é verdadeira ou falsa. Também através dessa ideia de verdade, sabemos que as ideias 
fictícias são sempre falsas. Segundo Descartes, as ideias inatas são as mais simples que formamos na 
mente. Elas não são compostas por nenhuma outra ideia. A mais famosa da ideias inatas reconhecida por 
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Descartes é cogito, a ideia de que sabemos que existimos porque temos certeza de que pensamos. Em 
outras palavras, não se consegue pensar em nada antes de se ter certeza de que você existe e está vivo. 
Por serem simples, as ideias inatas seriam entendidas pela mente através da intuição. São elas que 
permitiriam a dedução racional e a indução. Através da dedução e da indução nós conseguimos conhecer 
as ideias complexas ou compostas (CHAUI, 2000, p. 87). Essa forma de pensamento baseado nas ideias 
que permitiu a Descartes perceber as regras da razão e, portanto, começar a descoberta do pensamento 
científico, está diretamente ligada ao pensamento de Platão.
No século XVII, adotou-se o termo idealismo (doutrina das ideias) como referência à doutrina 
platônica das ideias inatas. O pensador alemão Leibniz (2004, p. 186) escreveu: “O que há de bom nas 
hipóteses de Epicuro e de Platão, dos maiores materialistas e dos maiores idealistas reúne-se aqui na 
doutrina da harmonia preestabelecida”. Esse significado de idealismo acredita no caráter espiritual da 
própria realidade. Mas idealismo fez surgir dois novos significados para este termo. 
O primeiro é de caráter epistemológico, que dá sustentação ao desenvolvimento das ideias. Neste 
sentido, o idealismo foi utilizado pela primeira vez por Christian Wolff, iluminista alemão também do 
século XVII: “Denomina-se idealista quem admite que os corpos têm somente existência ideal em nosso 
espírito, negando assim a existência real dos próprios corpos e do mundo” (WOLFF, 1969, p. 36). A ideia 
coincide bastante com a doutrina de Platão. 
O segundo significado foi explicado pelo filósofo Kant (1980) quando definiu que: 
Idealismo é a teoria que declara que os objetos existem fora do espaço ou 
simplesmente que sua existência é duvidosa e indemonstrável, ou falsa 
e impossível; o primeiro é o idealismo problemático de Descartes, que 
declara indubitável somente uma afirmação empírica, “Eu sou”. O segundo 
é o idealismo dogmático de Berkeley, que considera o espaço, com todas 
as coisas a que ele adere como condição imprescindível, como algo em si 
mesmo impossível e declara por isso que as coisas no espaço são simples 
imaginações (KANT, 1980, p. 110). 
Kant está afirmando que a ideia de Descartes “eu penso” é o princípio fundamental do conhecimento. 
Ora, essa ideia é primordialmente platônica. Já no segundo significado, idealismo é um conjunto de 
ideias abstratas que existem simplesmente porque alguém acredita nelas.
O filósofo alemão faz distinção entre o idealismo material e o idealismo transcendental ou formal, 
que é a sua própria filosofia da “idealidade transcendental” do espaço, do tempo e das categorias, 
doutrina esta que permite justificar o realismo e refutar o idealismo. Mas apesar dessa posição, a 
filosofia kantiana acreditava que o fenômeno, ou seja, o objeto do conhecimento empírico, fosse uma 
representação, e portanto uma ideia, e não um objeto concreto. 
Para explicar isso, o filósofo Schopenhauer escreveu um livro chamado O mundo como vontade 
e representação (1819) dizendo: “O mundo é a minha representação” (SCHOPENHAUER, 2005, p. 13). 
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Essa tese, aceita como um princípio evidente do idealismo romântico, foi compartilhada na 
Filosofia moderna e contemporânea. Muitos filósofos concordaram que a ideia de uma coisa 
é o objeto do conhecimento. Em outras palavras, seguindo o pensamento de Kant, quando 
eu digo que estou pesando 100 quilos, o meu peso real poderia ser medido de várias formas 
diferentes. Mas como eu concordei com a ideia abstrata da medida de peso em quilogramas 
e aprendi a entender o que essa ideia abstrata significa, eu posso construir uma balança que 
determina que eu realmente peso 100 quilos. Mas se eu não quiser respeitar essa ideia abstrata 
da medida de peso, eu posso trocar os números da balança por letras e dizer que “eu peso XYZ”. 
Portanto, o ser humano tem o poder de representar qualquer ideia a respeito da realidade. Esse 
poder é a base do idealismo.
A segunda forma de idealismo foi a romântica e também surgiu na Alemanha, depois de Kant. É 
a forma de pensamento que mais influenciou os séculos XVIII, XIX e XX. Seus fundadores, os filósofos 
Fichte e Schelling, sugeriram que o idealismo romântico era subjetivo ou absoluto. A qualificação de 
subjetivo pretendia contrapor esse idealismo ao ponto de vista do filósofo holandês Espinoza, que 
no século XVII sugerira a redução de toda a realidade a um único princípio, a substância enquanto 
matéria, e, portanto, objeto. Em outras palavras, Fichte e Schelling se recusavam a acreditar que 
uma coisa pudesse existir sem que o meu “EU” ou o meu Espírito fosse dentro de mim aquilo que me 
tornasse possível acreditar que todas as coisas existem, e se não existissem dentro do meu Espírito, 
então não existiriam simplesmente. Esse tipo de pensamento sugere o ditado: “O que os olhos não 
veem, o coração não sente”. Tal formulação é tipicamente romântica. Então, se acontecer um desastre 
e eu não ficar sabendo, não tenho por que me importar com o sofrimento alheio. 
Para Fichte, o Eu não é, como para Descartes, um Eu admitido só com o objetivo de poder filosofar, 
mas é o eu real, o verdadeiro princípio, o prius absoluto de tudo (FICHTE, 1846). Hegel (1989a), que 
também chamou de subjetivo ou absoluto o seu idealismo, esclareceu seu princípio desta forma: 
A proposição de que o finito é o ideal constitui o idealismo. O idealismo da 
filosofia consiste apenas nisto: em não reconhecer o finito como verdadeiro 
ser. Toda filosofia é essencialmente idealismo, ou pelo menos tem o idealismo 
como princípio; trata-se apenas de saber até que ponto esse princípio está 
efetivamenterealizado. A filosofia é idealismo tanto quanto religião (HEGEL, 
1989a, p. 74). 
Neste sentido, Hegel estava dessa vez explicando que, se Platão tinha razão em acreditar em ideias 
inatas, principalmente que a razão estava nos homens desde o nascimento, qualquer pessoa que olhasse 
para as coisas à sua volta saberia que todas as explicações sobre todas as coisas só são possíveis porque 
a pessoa dentro dela consegue organizar explicações sobre sua existência. Portanto, qualquer filosofia 
seria um conjunto de ideias explicativas do mundo nas quais você acredita, da mesma forma que 
acredita numa religião. 
O título de uma das obras fundamentais do idealismo inglês, Aparência e realidade (1893), de F. H. 
Bradley, já identifica o tema que dominou o idealismo na área de influência da língua inglesa. Uma das 
ideias que pareciam inatas era a de liberdade, inspiradora também de muitos idealismos. Então, Wilhelm 
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Dilthey, um dos precursores da Sociologia no século XIX, percebeu que os idealismos são a intuição 
do mundo através das ideias propostas por Platão, seguidas pela Filosofia helenístico-romana, por 
Cícero, pela especulação cristã de Santo Agostinho, por Kant, Fichte, Maine de Biran e pelos pensadores 
franceses a este ligados (ABBAGNANO, 2007). 
No século XX, as ideias inatas reaparecem na filosofia de Heidegger (O Ser e o Tempo, 1927) e no 
existencialismo de Sartre (O Ser e o Nada, 1943). Mas Freud foi o primeiro a perceber que a ideia inata 
tem limite: como escreve Chaui, se a justiça para Platão é uma ideia do poder total da razão sobre as 
paixões e os sentimentos, os desejos e os impulsos, qual mal-estar acontece quando nossa consciência 
é dominada pelo inconsciente, pelo desejo? (CHAUI, 2000). 
Com Freud surgiu um problema para o inatismo, quando verificamos que a nossa razão pode 
mudar o conteúdo de ideias que antes eram consideradas por nós mesmos universais e verdadeiras. 
Também em exercício de lógica, sabemos que a razão pode comprovar que há entre as ideias 
racionais algumas falsas. Se é possível que a realidade permaneça a mesma, mas as ideias que a 
explicam perdem a validade, percebemos que existe um problema para se continuar acreditando 
no inatismo. Um pequeno exemplo é o seguinte: na Antiguidade, era possível fazer um tijolo 
queimando argila úmida numa forma. A explicação para isso é que os elementos terra e água 
misturados, cozidos pelo fogo, criavam um objeto concreto. As ideias inatas entendiam que a razão 
determinava que era o fogo que dava à argila a consistência depois de se cozinhá-la com água. 
Mas a ciência descobriu que o motivo para as partículas de terra se solidificarem é uma reação 
química dos componentes da terra, e aí nasce a questão: um ser humano nasce sabendo o que 
são os elementos químicos e suas propriedades? Certamente não. Portanto, quando chegamos ao 
ponto de entendermos o processo químico que permite ao fogo “cozinhar” os tijolos, já estamos 
muito longe de qualquer ideia que nasceu conosco. 
Em outras palavras, Platão percebeu que podemos formular uma ideia que expressa alguma coisa, 
como a ideia de “mesa”. Quando falamos “na mesa”, não precisamos estar nos referindo a esta ou àquela 
mesa em particular, porque estamos falando de todas as mesas que existem no mundo, sem dizer 
exatamente aquela que nos serve de modelo ou de percepção real de uma mesa.
Por outro lado, quando pensamos na ideia de segurança, qualquer medo interno que sentimos, seja 
medo do escuro ou de ficar sozinho, influencia imediatamente a nossa ideia de segurança. Então aquilo 
que parecia simples de entender, que é uma ideia tão fácil e compartilhada por todos, assim como a 
ideia de mesa, se transforma numa ideia abstrata que precisamos examinar dentro de nós. No caso da 
ideia de segurança, ela precisa ser detalhada e discutida, e logo percebemos que ela não é uma ideia que 
nasce com todos nós da mesma forma. Então surge a pergunta: nascemos mesmo com ideias básicas 
ou adotamos essas ideias?
3.1.4 O realismo de Aristóteles
Para a Ciência Política, a definição de Aristóteles para o homem é uma das pedras fundamentais do 
entendimento do ser humano. Nessa definição, Aristóteles fala da natureza racional do homem: “Quem 
não pode fazer parte de uma comunidade ou quem não precisa de nada, bastando-se a si mesmo, não 
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é parte de uma cidade, mas é fera ou Deus” (ARISTÓTELES, 2008, I, 2, 1253). Ele tentava explicar que o 
homem não pode deixar de viver em sociedade. 
Para Aristóteles, há uma ligação entre racionalidade e política, e este entendimento opera até hoje 
na cultura. Mas, no Iluminismo, Hobbes interpretou essa definição de Aristóteles da seguinte forma: O 
homem não está apto, desde o nascimento, a viver em sociedade porque ele só se torna apto para a vida 
social graças à educação (HOBBES, 2008). 
Aristóteles acreditava que a finalidade da política fosse a felicidade. Isso fez suas ideias se afastarem 
das ideias de Platão, mas também daquelas dos sofistas. Enquanto Platão estava preocupado com as 
ideias para organização da vida, inclusive da vivência política, Aristóteles se preocupou com a vivência 
imediata. Sua forma de pensar dividia as ideias e as coisas em partes, as denominadas categorias. 
Então, para pensar a justiça, Aristóteles distinguia dois tipos (duas categorias) de bens: os partilháveis 
e os participáveis. A água seria, por exemplo, um bem partilhável, pois podemos dividir ou distribuir sua 
quantidade. O poder é um bem participável, que não pode ser dividido.
Para Aristóteles, a justiça seguia a qualidade dos bens, e uma justiça distributiva deveria dar a 
cada um o que é devido; sua função seria distribuir desigualmente aos desiguais e torná-los mais 
iguais. (CHAUI, 2000, p. 494). Esse tipo de justiça foi sugerido novamente mais de 2 mil anos depois, 
pelo pensamento de Karl Marx: “[...] de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas 
necessidades” (MARX, 1875, p. 7).
Ainda segundo Aristóteles, numa cidade injusta, impunham-se limitações aos pobres de alcançarem 
a riqueza. Na cidade injusta, as leis dificultam ou proíbem o acesso à propriedade, remuneram mal o 
trabalho e cobram impostos de forma que deixer o povo sempre em dívida com os governantes. Esse 
tipo de vida não traz a felicidade.
Por outro lado, Aristóteles não se iludia com a realidade da vida. Pensava que a justiça política 
deveria respeitar o modo pelo qual a comunidade definia a participação no poder e considerava seus 
cidadãos responsáveis pelo regime político vigente, pois este espelhava os valores mais respeitados 
pelos cidadãos. 
Quando uma cidade valorizasse a honra que fosse baseada na hierarquia social de laços familiares, 
na terra e nas tradições, o poder seria a honra mais alta que deveria ser destinada a um só, o rei, e seria 
justo que na monarquia um só detivesse o poder. Nas cidades que dão valor às virtudes da excelência de 
caráter, como a fidelidade ao grupo e aos antepassados, o poder iria caber aos melhores e a aristocracia 
seria justa. Mas haveria cidades que valorizariam a igualdade e considerariam as diferenças entre ricos 
e pobres uma questão econômica, e não política. Neste caso, teríamos a democracia, em que seria justo 
que todos participassem do poder. 
Quanto às diferenças sutis do entendimento das formas da política entre Platão e Aristóteles, 
pode-se afirmar que este pensava a realidade da cidade, enquanto Platão pensava nas ideias que 
possibilitariam o governo delas.
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 lembrete
A diferença entre as ideias de Platão e as de Aristóteles criou duas 
grandes escolas de pensamento que se alternaram no tempo e nas escolas 
de filosofia. Um exemplo é o movimento do Iluminismo, período no qual 
Montesquieu escreveu na obra O Espírito das Leis uma ideia consoante as 
de Aristóteles, de que os regimes políticos variam conforme a geografia e o 
tamanho de seus territórios (MONTESQUIEU, 2005).
Para Aristóteles, quando um povo tende para a igualdade e a liberdade e vive numa cidade pequena, 
tenderia a adotar a democracia. Já um povo cuja natureza fosse obedecer a uma única autoridade, e que 
vivesse num território extenso, aceitaria certamente a monarquia (CHAUI, 2000, p. 496).
Se a política para Aristóteles teria como finalidade a vida justa e feliz, então ela conteria ética. Na 
civilização grega, não se pensava a ética fora da comunidade política. Mas Aristóteles fazia grande 
distinção entre teoria e prática, diferentemente de Platão. A prática era organizada em categorias como 
fabricação e ação (em grego, poiesis e praxis). Para ele, a praxis tinha mais valor do que a poiesis. A praxis 
pode ser descrita como a ação voluntária de uma pessoa racional para alcançar um fim considerado 
bom. Neste sentido, a praxis é a política. 
Em Ética a Nicômaco, ele escreve: 
Se, em nossas ações, há algum fim que desejamos por ele mesmo e os outros 
são desejados só por causa dele, e se não escolhemos indefinidamente 
alguma coisa em vista de uma outra (pois, nesse caso, iríamos ao infinito e 
nosso desejo seria fútil e vão), é evidente que tal fim só pode ser o bem, o 
Bem Supremo… Se assim é, devemos abarcar, pelo menos em linhas gerais, a 
natureza do Bem Supremo e dizer de qual saber ele provém. Consideramos 
que ele depende da ciência suprema e arquitetônica por excelência. Ora, 
tal ciência é manifestamente a política, pois é ela que determina, entre os 
saberes, quais são os necessários para as cidades e que tipos de saberes cada 
classe de cidadãos deve possuir… A política se serve das outras ciências 
práticas e legisla sobre o que é preciso fazer e do que é preciso abster-se; 
assim sendo, o fim buscado por ela deve englobar os fins de todas as outras, 
donde se conclui que o fim da política é o bem propriamente humano. 
Mesmo se houver identidade entre o bem do indivíduo e o da cidade, é 
manifestamente uma tarefa muito mais importante e mais perfeita conhecer 
e salvaguardar o bem da cidade, pois o bem não é seguramente amável 
mesmo para um indivíduo, mas é mais belo e mais divino aplicado a uma 
nação ou à Cidade (ARISTÓTELES, 2009, I. 2, p. 678).
Entendemos que Aristóteles subordinava o bem de um sujeito ao Bem Supremo da polis em que se 
encontrava. Já Platão pensava que havia uma diferença entre a justiça para o indivíduo e a justiça para 
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a polis (CHAUI, 2000, p. 497). Aristóteles agregou à descrição da forma de governo feita por Platão o 
pensamento político ao perceber qual forma de governo é mais adequada para cada situação.
Na Idade Moderna, a questão passou a ser a construção da estabilidade social, a partir de um 
ordenamento político determinado (LEBRUN, 1984). Segundo as ideias aristotélicas, não basta saber 
quem governa, mas também como governa. Como sugere Bobbio (1980, p. 34), a classificação de 
Aristóteles contém três formas boas de governo e suas respectivas degenerações em três formas 
más. Categorizando as respostas em formas boas e más de governo, Aristóteles criou uma hierarquia 
do que é um bom governo e do que é um mau. Neste sentido, ele seguiu as ideias de Platão quando 
concordou que para cada forma boa pode ocorrer sua degeneração numa forma má de governo 
(SOUZA, 2010, p. 21).
Exemplo de aplicação
Do polo positivo para o negativo, a hierarquia das formas de governo de Aristóteles pode ser assim 
representada: 
+ monarquia aristocracia política anarquia oligarquia tirania –
Verifique na história do Brasil quando podemos identificar esses regimes. Descubra o que são os 
seguintes períodos históricos: Império, Regência, República Velha, Revolução de 1964, Redemocratização, 
Estado Novo.
É importante notar que os limites entre uma e outra forma de governo não são bem-delimitados. A 
dificuldade em distinguir a forma boa da forma má ocorre porque a política é fluida. A vida dos homens 
não conhece distinções delimitadas, como na Geometria ou na Matemática. O pensamento de Aristóteles 
percebeu que na realidade histórica existem formas de monarquia com características tirânicas, mas que 
estavam legitimadas pelos governados. Para ele, alguns povos assumiam características servis, e, nesse 
caso, o governo tirânico não poderia ser classificado como uma forma degenerada ou corrupta. 
Para Aristóteles, é necessário fazer diferença entre a tirania sobre povos que não aceitavam a 
submissão e a tirania sobre os povos que a ela se adequavam. Essa ideia de legitimidade do poder nasce 
com Aristóteles e até os nossos dias é um tema clássico do pensamento político.
Ao comparar seu esquema com a realidade, Aristóteles também percebeu que duas formas más de 
governo podem se combinar para gerar uma forma boa. O governo bom de muitos pode ser constituído 
pelo resultado de elementos da oligarquia e da anarquia, pois é possível que homens livres e pobres 
entrem em acordo com homens ricos e nobres, gerando o governo de muitos e aliviando a tensão social 
existente entre os sem propriedade e os com propriedade (BOBBIO, 1980). 
Aristóteles traz para a discussão filosófica temas que serão fundamentais para a ciência política: a 
estabilidade do governo, o comportamento político das massas, a legitimidade do poder e a identificação 
do interesse comum (SOUZA, 2010).
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Renato Janine Ribeiro faz um comentário interessante sobre a participação política em Atenas: 
– Não sei qual era a pauta usual das assembleias atenienses. O comparecimento 
a elas era bem variável: ora iam mil pessoas, ora 10 mil. Nem todos compareciam 
a todas as assembleias. Mas concordo que o ingrediente religioso era poderoso 
na vida pública de Atenas e Roma. Uma assembleia romana não se realizava se 
os augúrios não fossem propícios. Havia algo de sagrado nessas reuniões políticas 
(RIBEIRO; CORTELLA, 2010, p. 22). 
A influência de Aristóteles criou o aristotelismo. Alguns fundamentos da sua doutrina passaram à 
tradição filosófica e inspiraram as escolas filosóficas e os movimentos políticos. O aristotelismo árabe, o 
aristotelismo cristão medieval e o aristotelismo do Renascimento são exemplos de escolas que buscaram 
seguir seus fundamentos. A importância atribuída por Aristóteles à natureza e o valor e a dignidade 
das perguntas que fazemos em decorrência da sua existência demonstram como seu pensamento era 
diferente do de Platão. 
Platão pensava que as perguntas sobre a natureza só poderiam atingir uma resposta muito 
improvável se comparadas ao conhecimento, enquanto Aristóteles pensava que tudo na natureza 
vale a pena ser estudado, pois o verdadeiro objeto da pesquisa é a substância das coisas.
O segundo fundamento aristotélico é o conceito de metafísica como filosofia primeira e a Teoria 
da Substância como fundamento da enciclopédica completa das ciências. Isso significa que primeiro 
se deve formular uma explicação lógica sobre a natureza das coisas para depois investigar se a ideia é 
verdadeira ou não.
Sua forma de pensarestava estruturada na doutrina das quatro causas: a formal, a material, a eficiente 
e a final. A doutrina do movimento, como passagem da potência ao ato, permitiria a interpretação de 
toda a realidade natural, e essa forma de pensar ainda é parcialmente utilizada pelos cientistas.
Sua ideia de Teologia, fundada nos seus conceitos de Primeiro Motor (do mundo) e do Ato Puro, 
justificou a ideia de Deus defendida pela Igreja Católica durante toda a Idade Média. Junto com essa 
doutrina, Aristóteles também criou a doutrina da essência substancial ou necessária, que defendia que 
a alma seria a base da teoria do conhecimento e da lógica.
Talvez sua doutrina mais importante tenha sido a importância que ele atribui à lógica, que até hoje 
utiliza sua forma de pensar para escrever programas de computadores. Todo conhecimento científico 
moderno se baseia na lógica aristotélica para poder avançar.
É claro que as muitas escolas filosóficas e correntes de pensamento baseadas em Aristóteles 
não utilizam todos esses elementos em conjunto, mas combinam aqueles que pensam ser os 
mais pertinentes. Isso explica por que a influência de Aristóteles é percebida em movimentos tão 
diferentes como a metafísica teológica da escolástica medieval e o naturalismo do Renascimento, 
que é seu oposto.
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No comentário de Mário Sergio Cortella: 
– Por que estou pensando isso? Porque me parece que há aí um 
componente de metafísica, no sentido de algo que é um impulso externo 
ao humano na direção de uma completude do humano: a política como 
arte que nos faz humanos. E, ao nos tornar humanos, separa-nos – 
como queria Aristóteles – dos outros animais, de acordo com sua lógica 
de gênero próximo, diferença específica. Explico: Aristóteles tinha uma 
fórmula para poder dar uma definição que era “gênero próximo, mas 
diferença específica”. Essa fórmula o ajudava a dar definições no campo 
da linguagem. Gênero próximo: humano; diferença específica: racional. 
Gênero próximo: humano; diferença específica entre os humanos: 
político. O contrário disso é o idiota – que, portanto, é menos humano. 
Aquilo que Marx chama de “humanização da vida e do trabalho” e que 
na mensagem religiosa se interpreta como o tornar as pessoas mais 
humanas, é isso que estou tentando traduzir agora em política. O que 
nos torna mais humanos é justamente a capacidade do exercício da 
política como convivência e como conexão de uma vida. No livro Nos 
Labirintos da Moral, Yves de la Taille citou a clássica definição de ética 
de Paul Ricoeur: vida boa, para todos e todas, em instituições justas 
(RIBEIRO; CORTELLA, 2010, p. 22).
4 romA e o PensAmento rePúblicAno
Podemos dividir a história de Roma em diversos períodos: a época arcaica e lendária dos reis 
patriarcais, semi-humanos e semidivinos, a da República e, finalmente, a da Roma Imperial. Nesta etapa 
de nossos estudos nos interessa principalmente a República Romana.
No período da República, Roma tornou-se uma república aristocrática governada por senhores de 
terras, chamados de patrícios. Havia esporadicamente alguma participação dos representantes eleitos 
pela plebe, chamados de tribunos da plebe. O poder era dividido entre o Senado e uma instituição muito 
particular chamada Povo Romano, que podemos considerar a primeira experiência da ideia do que os 
ingleses chamam de Câmara dos Comuns e que no Brasil dá-se o nome de Câmara dos Deputados. Era 
o espaço onde os plebeus astutos, através da riqueza ou de honras militares, passavam a fazer parte do 
grupo governante.
A República de Roma estava fundamentada num governo que era submetido a leis escritas e 
impessoais. A coisa pública – em latim, res publica – acontecia sobre o solo público romano, que estava 
distribuído entre as famílias patrícias, mas que eram legalmente propriedade da cidade de Roma. Os 
fundos públicos, que eram provenientes dos impostos cobrados, serviam para a construção de estradas, 
aquedutos, templos, monumentos e novas cidades e também serviam para a manutenção dos exércitos. 
A República Romana, mais do que a experiência democrática grega, é que serve de modelo aos governos 
contemporâneos.
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Dois cônsules, eleitos pelo Senado e pelo Povo Romano, recebiam os poderes administrativo, 
judiciário e militar e controlavam o governo. O poder judiciário e o poder militar eram mantidos como 
um só, com o nome de imperium. 
O Senado organizava o conselho dos magistrados e zelava pela moral da religião e pela política. Roma 
era uma república aristocrática, dominada pela oligarquia, composta pelos proprietários de terra, com 
poderosa vocação militar. Em apenas cinquenta anos, conquistou todo o mundo ocidental conhecido. 
Na medida em que se tornou a primeira potência mundial estruturada, os cônsules que também 
eram generais, como Caio Júlio César e Pompeu, reivindicaram mais poder e mais autoridade. Assim, a 
república aristocrática se transformou primeiro numa república monárquica, que foi iniciada por Caio 
Júlio César, e depois se transformou numa monarquia, com Otávio Augusto. O consulado original foi 
transformado num principado. O príncipe era o imperador, o chefe militar que detém ao mesmo tempo 
o poder judiciário de fazer as leis. Era juiz supremo e senhor das terras do Império Romano.
Essas transformações políticas acabaram transparecendo nas ideias que surgiram para apoiá-las. 
Acreditando na ideia de Platão do governante-filósofo, pensadores romanos como Cícero e Sêneca 
escreveram a respeito do príncipe perfeito ideal e do bom governo. Mesmo as ideias políticas romanas 
sustentavam a ideia grega de que a felicidade e a justiça na comunidade política deveriam compor a 
ordem com harmonia (CHAUI, 2000, p. 498).
Mas, como previsto por Platão, a justiça depende das qualidades morais do governante; já Aristóteles 
acreditava que a justiça só acontecesse quando apoiada também pela índole do povo. Para Platão, bastava 
que o príncipe fosse o modelo das virtudes para a comunidade, que iria imitar seu comportamento. 
Segundo Chaui (2000, p. 499), os romanos se perceberam filosoficamente entre a teoria platônica, que 
acreditava que a educação virtuosa permitisse a boa política, e a teoria aristotélica, que acreditava 
alcançar a política legítima e justa a partir das qualidades positivas das instituições da cidade, que 
nasciam do comportamento virtuoso dos cidadãos. 
Nessas discussões, os romanos escolheram a linha platônica, pois acreditavam que a formação do 
príncipe virtuoso fosse mais importante do que a formação do povo. Como o príncipe é um ser humano 
passional e racional, deveria aprender a não ceder às paixões, mas apenas à razão. Assim, devia ser 
educado e aprender as virtudes que fazem um governante justo. 
A virtude deveria ser construída com o conhecimento das qualidades morais. A primeira 
qualidade seria a sabedoria na forma de prudência, organizada a partir do senso de justiça, de 
coragem e de moderação. A segunda qualidade moral do príncipe seria a honradez, descrita como 
a disposição de manter os princípios em qualquer circunstância. O príncipe deveria ser capaz de 
exercer a clemência, de encontrar uma punição justa e de saber perdoar. Também deveria dispor de 
sua riqueza para o serviço do povo. A terceira qualidade moral ou virtude dizia respeito ao desejo 
do príncipe virtuoso. Ele escolheria a honra, com a glória e a fama. Cícero pensava que o verdadeiro 
príncipe era quem nunca se deixava arrastar por paixões que o fizessem perder a razão. Deveria, em 
qualquer circunstância, comportar-se como homem dotadode vontade racional. Um príncipe sábio 
seria capaz de fazer um bom governo, buscando o respeito dos súditos. 
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Caso se transformasse num tirano, teria um comportamento passional e demonstraria vários defeitos, 
sendo odiado e temido por todos. Caso isso viesse a acontecer, o príncipe se tornaria inseguro e acabaria 
cercado de soldados para protegê-lo, vivendo com medo do povo. A teoria do bom governo ligava a 
pessoa do governante à sua qualidade de político. Suas qualidades pessoais espelhariam as suas virtudes 
públicas. Neste sentido, o comportamento do príncipe espelhava o da comunidade e, por sua vez, seria 
imitado por ela tanto na virtude quanto no vício. 
Ao contrário dos pensadores gregos, os pensadores romanos pensavam o aspecto prático e utilitário 
das coisas, transformando o direito e a justiça em instrumentos da vontade romana de dominação do 
mundo. 
Assim, a Filosofia romana não criou categorias abstratas de pensamento filosófico ao estilo platônico 
ou aristotélico e lidou com a realidade. Criaram um sistema filosófico voltado para a utilidade. A 
influência dos pensadores gregos pode ser observada no estoicismo romano, que influenciou pensadores 
e políticos como Cícero (106-43 a.C.), Sêneca (4 a.C.-65 d.C.) e o imperador Marco Aurélio (121-180 d.C.).
A Escola de Filosofia Estoica foi fundada por Zenão de Cítio (335-263 a.C.). Esta escola se expandiu 
por toda a Grécia e mais tarde pelo mundo romano. Os estoicos sustentavam que o universo seria 
conduzido por um princípio geral, a razão. O mundo da matéria estaria impregnado de racionalidade, e 
o homem seria essencialmente racional.
Para os estoicos, os homens deviam limitar as suas necessidades e depender menos das coisas. Cada 
pessoa tinha o direito de agir livremente, sem estar diretamente ligado ao Estado, e viver como um 
cidadão do mundo. A atenção dos homens deveria estar na busca da virtude, e não nos costumes do 
povo, nem nas leis impostas pelo Estado.
Assim, os estoicos acreditavam que o homem devesse viver de acordo com a natureza, buscando 
seu aperfeiçoamento espiritual e racional e superando suas paixões e os condicionamentos que seriam 
impostos pela sociedade. A base de seu pensamento era a preocupação ética com o conceito de dever. Da 
Filosofia estoica foram adotados pelos pensadores romanos os temas da razão, do dever, da felicidade, 
da sabedoria e da autonomia. 
Na transformação da República para o Império, Roma assistiu à degradação dos costumes antigos, 
à crise dos valores romanos e à invasão de influências orientais. Nesse sentido, o pensamento estoico 
permitia uma maleabilidade para que se refletisse sobre todos os acontecimentos com certo grau de 
distanciamento ou neutralidade, o que facilitava a convivência com as mudanças do cotidiano.
Renato Janine Ribeiro, dirigindo-se a Mario Cortella (2010), menciona: 
– Mas, Mario, cabe aqui um contraponto: quando nos referimos à democracia 
antiga, que foi notável em Atenas e Roma, estamos falando de algumas 
dezenas de milhares de pessoas numa população global de dezenas ou 
talvez centenas de milhões. Enfim, a democracia antiga foi limitada. Além 
disso, tenho lido muito sobre o final da República romana, e as décadas que 
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antecederam o golpe de Estado de Júlio César foram caracterizadas por muita 
corrupção. Mas, seja como for, volto à minha questão hiperquantitativa: 
“nunca antes na história deste mundo”. Nós passamos de uma Antiguidade 
em que talvez um habitante por mil vivesse numa democracia (talvez até 
menos, se levarmos em conta que nessas democracias não tinham cidadania 
as mulheres, os escravos, os estrangeiros) para um contexto em que metade 
do mundo vive em ambiente democrático, e a expansão das democracias 
parece estar continuando (CORTELLA; RIBEIRO, 2010, p. 19).
Inspirados pelos ideias estoicos, os romanos recriam a definição de justiça como a vontade 
constante e perpétua de dar a cada um o que é seu. Isso é uma forma de dizer que a justiça é 
fazer as pessoas se comportarem em conformidade com a lei. O que caberia a cada um já estaria 
determinado por uma lei. A noção de conformidade à lei como definição de justiça acabaria se 
impondo no pensamento ocidental. 
Já na Idade da Razão, Hobbes escreveu que a justiça consiste simplesmente na manutenção dos 
pactos. Quando não há um Estado exercendo o poder coercitivo que assegure a manutenção dos pactos, 
não existe justiça nem injustiça (HOBBES, 2008). 
Mesmo a interpretação de Kant da definição romana de justiça a reduz ao respeito a uma norma 
já estabelecida: 
Se aquela fórmula fosse traduzida por “dar a cada um o que é seu”, estaria 
dizendo um absurdo, pois não é possível dar a alguém o que já tem. Para 
ter sentido deve ser assim expressa: inclui-se numa sociedade em que a 
cada um possa ser garantido o que é seu contra qualquer outro (KANT, 
2013, p. 31). 
Outros filósofos perceberam que esse conceito romano de justiça é a simples tentativa de justificar 
um determinado sistema de valores. Kelsen disse: 
Justiça significa a manutenção de uma ordenação positiva mediante sua 
conscienciosa aplicação. Ela é justiça segundo o direito. A proposição 
segundo a qual o comportamento de um indivíduo é justo ou injusto no 
sentido de ser jurídico ou antijurídico significa que seu comportamento 
corresponde ou não à norma jurídica que é pressuposta como válida pelo 
sujeito judicante por pertencer a uma ordenação jurídica positiva (KELSEN 
apud ABBAGNANO, 2007, p. 111). 
Assim, percebemos que a ideia original de justiça para a felicidade foi transformada em justiça para 
a manutenção da propriedade. Quer se entenda a norma como de direito natural, quer como norma 
moral ou de direito positivo, a justiça seria sempre considerada uma conformação do comportamento 
do indivíduo à norma. Portanto, a justiça não se refere ao comportamento específico da pessoa, mas 
à eficiência da norma na sua capacidade de facilitar as relações humanas, e a norma se transformou 
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no objeto do juízo e do direito. Assim, os diferentes pontos de vista das diferentes teorias da justiça, 
derivadas do direito romano, são os diferentes conceitos de como se pretende medir a eficiência de uma 
norma como regra para o comportamento social. 
Por isso, ao examinar as leis, os juristas não avaliam seu grau de justiça, mas tentam apenas 
estabelecer a sua eficiência no que diz respeito às melhorias das relações humanas. Pensam simplesmente 
na eficiência das leis para garantir seu objetivo fundamental, que é considerado um valor absoluto. Isso 
sugere que a autoridade jurídica não necessite de ética pessoal para fazer justiça. Basta que ele julgue 
de acordo com a exigência genérica da lei, que para ser justa deve estar adequada ao sistema de valores 
que determina as regras de uma sociedade. Por esse motivo é que algumas sociedades permitem a pena 
de morte e outras não. 
Nesse sentido, a justiça prevista pelo direito romano não considerou o pensamento de Aristóteles, 
que escreveu: 
As leis promulgadas sobre qualquer coisa visam à utilidade comum a 
todos ou à utilidade de quem se destaca pela virtude ou por outra forma; 
desse modo, com uma só expressão definimos como justas as coisas que 
propiciam ou mantêm a felicidade ou parte dela na comunidade política 
(ARISTÓTELES, 2009, V. 1, p. 1129 b 4).
Durante a Idade Média, a identificaçãodo bem comum com a bem-aventurança eterna de Deus se 
tornou um caso particular dessa doutrina romana com a interpretação que foi feita por São Tomás de 
Aquino. No mundo moderno, Hume retornou a esse ponto de vista do direito romano quando pensou 
que a felicidade e a segurança seriam a finalidade útil da justiça numa sociedade (HUME, 2005). A 
redução da justiça à utilidade, e não à felicidade, tem a característica de eliminar o caráter de fim último 
ou valor absoluto, levando a considerá-la como solução dos conflitos humanos.
4.1 A república e a cidadania: classes sociais e eleições
Para que a existência de Roma fosse uma continuação da tradição grega, a história de sua fundação 
por volta de 750 a.C. conta que Eneias, herói de Troia, fugiu da cidade derrotada e fundou a cidade 
de Alba Longa, às margens do rio Tibre. Eneias se casou com a filha de Latino e se tornou o rei dos 
latinos. Dezesseis gerações depois, nasceram os gêmeos Rômulo e Remo, que foram abandonados às 
margens do rio Tibre. Eles foram amamentados por uma loba e recolhidos por um pastor que os educou. 
Posteriormente, os gêmeos fundaram naquele local a cidade de Roma.
A história e a arqueologia indicam que Roma surgiu provavelmente como uma fortificação militar 
por volta do século VIII a.C. para defender os moradores da região contra o povo etrusco. 
No início da República, a sociedade romana estava dividida em quatro classes: 
•	 Os	 patrícios	 formavam	 a	 aristocracia	 dos	 proprietários	 de	 terra	 e	 detinham	 todos	 os	 cargos	
políticos. 
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•	 Os	clientes	eram	romanos	não	proprietários	que	sobreviviam	vendendo	seus	serviços	aos	patrícios.	
•	 Os	 plebeus	 eram	 os	 camponeses,	 os	 comerciantes	 e	 os	 artesãos,	 e	 formavam	 a	 maioria	 da	
população. Nos primeiros tempos, eles não tinham direito de participar das decisões políticas, 
mas eram obrigados a lutar no exército e a pagar impostos. 
•	 A	 classe	 sem	 voz	 eram	 os	 escravos,	 geralmente	 pessoas	 capturadas	 pelo	 exército	 após	 as	 guerras.	
Portanto, no início, a cidade de Roma tinha características muito parecidas com as das cidades gregas.
O período da República Romana abrange três séculos (IV, III e II a.C.). No período, a pequena cidade 
se transformou no maior império da Antiguidade. Os romanos começaram por conquistar seus vizinhos 
dentro da própria Península Itálica. No século III a.C., toda a atual Itália já tinha sido dominada.
A conquista territorial foi o resultado de uma aliança entre os patrícios e os plebeus. Os 
plebeus participavam das campanhas do exército e em troca recebiam terras e direitos políticos. 
Além de conquistar posições de defesa, a expansão virou a força motriz da economia romana. Ao 
conquistar um determinado território, saqueavam o lugar, tomavam a posse da terra e faziam 
escravos.
Após terem dominado a Península Itálica, os romanos passaram a buscar outros territórios. O primeiro 
deles foi Cartago, no norte da África, onde hoje em dia fica a cidade de Túnis. Cartago era uma grande 
cidade fundada pelos fenícios, tão rica que rivalizava com a própria Roma. Dominava todo o norte da 
África até o litoral da Península Ibérica. 
As guerras dessa conquista foram as Guerras Púnicas (264 a.C.-146 a.C.), que se estenderam por 
quase cem anos. Após três guerras, Roma dominou Cartago, tornando-se a única potência comercial do 
mar Mediterrâneo. 
Após a conquista da Macedônia (168 a.C.), a Grécia tornou-se parte do Império Romano, e a 
influência de sua cultura começa a ser sentida no mundo romano. Veremos isso posteriormente, quando 
estudarmos Marco Túlio Cícero. 
A expansão romana seguiu para a Península Ibérica, a Grécia, a Gália e o Oriente. Depois de séculos 
de conquista, Roma dominou toda a orla do Mediterrâneo, chamando-o de Mare Nostrum (Nosso Mar). 
Nesse longo período, os plebeus lutaram para conquistar a igualdade política com os patrícios. 
4.2 A organização da república
Com a instalação da República, os patrícios romanos construíram uma organização social e 
administrativa para exercer o domínio sobre Roma e desfrutar os privilégios do poder. Eles controlavam 
os altos cargos da República. 
Essa organização social e administrativa da República previa a existência de um Consulado 
composto por dois cônsules. Cada um dispunha de um mandato de um ano, e eles eram votados pela 
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Assembleia Centurial. Necessariamente tinham de pertencer a famílias patrícias e ser referendados 
pelo Senado. Os cônsules desempenhavam as funções de chefes de Estado. 
 observação
Quando Roma entrava em guerra, os cônsules eram substituídos por 
um ditador. Os ditadores eram votados para um mandato de seis meses sem 
direito a renovação e dispunham de plenos poderes para que pudessem 
lidar com eventuais situações de crise social. 
Essa possibilidade jurídica de transformar um general em mandatário 
supremo, devido a ameaças externas ao país, permitiu que os juristas 
brasileiros que eram contra a democracia no Brasil transformassem generais 
em presidentes no período entre 1964 e 1985.
Foram criados Atos Institucionais, que eram leis que determinavam a 
instituição da República segundo os interesses militares e em nome da 
segurança nacional. Mesmo durante esse período, o Senado continuou a 
funcionar, mesmo que em determinados momentos os senadores fossem 
escolhidos pelos militares.
Seguindo a tradição contratualista, todos as intervenções políticas dos militares eram 
acompanhadas de decretos-lei, que não eram votados pelo Congresso Nacional, mas simplesmente 
determinados pelos generais.
O maior poder de Roma era exercido pelo Senado. Durante a República, o Senado Romano foi 
formado pelos patrícios com mandato vitalício. Geralmente, os patriarcas das famílias ocupavam 
esse posto. Era a instituição que zelava pelo poder da aristocracia, sendo responsável pela 
nomeação de juízes e embaixadores. O Senado também controlava as finanças e decidia a guerra. 
Havia também a Assembleia Curiata, que cuidava dos assuntos religiosos. No início de Roma, essa 
assembleia tinha alguma importância, mas no período repúblicano foi conservada apenas para 
preservar funções honoríficas. 
Ao lado do Senado, existia a Assembleia Centurial, composta pelos militares agrupados em centúrias, 
equivalentes aos batalhões modernos. Existiam mais centúrias patrícias do que centúrias plebeias. Na 
Assembleia, conviviam patrícios e plebeus, todos romanos, que votavam as leis que vigoravam em 
Roma. Além dos cônsules, a Assembleia Centurial elegia vários magistrados, que, em geral, tinham 
mandato de um ano. Os principais cargos da magistratura eram os pretores, que administravam a 
justiça; os censores, que faziam o recenseamento da população pelo critério de riqueza e zelavam 
pelas tradições; os questores, que administravam as finanças e cobravam os impostos; e os edis, 
que cuidavam da conservação da cidade. Também eram eleitos os pontífices, que celebravam os 
cultos religiosos. Na Assembleia Centurial ainda eram resolvidas as apelações dos cidadãos contra as 
decisões dos magistrados. 
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Fundamentos da CiênCia PolítiCa
Uma nova magistratura foi instituída mais tarde, o Tribunato da Plebe. Essa instância surgiu no auge 
dos conflitos sociais entre patrícios e plebeus para representar os plebeus. Os tribunos conquistaram o 
direito de veto das decisões do Senado. 
Os patrícios

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