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2- Aços Inoxidáveis ferriticos 2.1- Características gerais Os aços inoxidáveis ferriticos são ligas a base de Fe-Cr que geralmente apresentam uma estrutura totalmente ferritica, com um teor máximo de C de 1,2%p. e um teor mínimo de Cr de 10,5%p. No entanto, em algumas aplicações especificas são utilizadas ligas com estrutura predominantemente ferritica, mas que também contem martensita revenida. Nessas ligas frequentemente denominadas de ligas inoxidáveis ferríticas transformáveis ocorre a formação parcial da austenita durante o resfriamento da liga fundida que se transforma em martensita antes de ser atingida a temperatura ambiente, e após a tempera é submetida ao revenimento. Como os aços inoxidáveis com estrutura totalmente ferritica não sofrem transformação de fase durante o resfriamento a partir do estado fundido ate a temperatura ambiente, os grãos dessas ligas apresentam um tamanho médio relativamente elevado em relação às outras ligas inoxidáveis que sofrem transformação de fase durante o seu resfriamento já que a precipitação de uma nova fase durante o resfriamento pode inibir o crescimento dos grãos da fase existente. Para refinar os grãos e, portanto, possibilitar a obtenção das propriedades mecânicas desejadas, as ligas inoxidáveis ferriticas são geralmente submetidas a um tratamento térmico mecânico que envolve a realização de um trabalho a frio procedida por um tratamento de recozimento por normalização. Para que a liga apresente uma estrutura totalmente ferritica a composição da liga é projetada de tal maneira que o efeito de um elemento gamogeno como o C seja minimizado pela menor presença desse elemento ou atenuado pela elevação da concentração de um elemento alfogeno como o Cr. As primeiras ligas inoxidáveis ferriticas utilizadas comercialmente como a liga 430 contem um teor de Cr acima de 13%p. com o objetivo de possibilitar a formação de uma estrutura totalmente ferritica. No entanto, com a utilização de técnicas de descarbonização e com a adição dos elementos de liga Ti e/ou Nb foram obtidas ligas com baixo teor de C, abaixo de 0,1%p. o que possibilitou a presença de uma estrutura totalmente ferritica com a liga contendo baixos teores de Cr (entre 10,5%p. a 12%p.) como as ligas 409 e 466. A utilização de ligas inoxidáveis ferriticas com baixo teor de Cr é importante em determinadas aplicações, nas quais o baixo teor de Cr, entre 10,5%p. a 12%p., é suficiente para que a liga possa resistir à corrosão, o que permite que a liga tenha uma melhor relação custo/beneficio. Além do mais a diminuição dos teores de C e N diminui a presença de carbonetos e nitretos de Cr, pois a formação desses precipitados ricos em Cr causa o empobrecimento desse elemento nas vizinhanças do precipitado, tornando, portanto, essa região altamente vulnerável à corrosão. Essas ligas com baixo teor de Cr são utilizadas em ambientes que não apresentam uma agressividade elevada, sendo utilizadas em aplicações nas quais a liga vai estar em contato com um ambiente como uma atmosfera rural, agua doce, e caldo de cana. Através da técnica conhecida como AOD (argon oxygen descarburization) o argônio e o oxigênio são injetados na liga quando ela se encontra no estado fundido causando a remoção seletiva do C e também do N sem afetar o teor de Cr na liga. Nas ligas inoxidáveis ferriticas contendo Ti e/ou Nb, conhecidas como ligas estabilizadas, esses elementos reagem com o C ou N formando carbonetos ou nitretos preferencialmente à formação dos carbonetos ou nitretos de Cr, o que inibe a formação desses precipitados favorecendo assim a resistência a corrosão da liga e às propriedades mecânicas, já que os carbonetos ou nitretos de Cr são fragilizantes. Nas ligas inoxidáveis ferriticas estabilizadas, a presença dos carbonetos ou nitretos de Ti ou de Nb também inibi o crescimento dos grãos ferriticos favorecendo assim às propriedades mecânicas da liga [1]. Durante o processo de soldagem da liga inoxidável ferritica são formados carbonetos e/ou nitretos de Cr no contorno de grãos da liga causando assim a corrosão intergranular, e além do mais ocorre durante o processo de soldagem um crescimento significativo dos grãos ferriticos. Portanto, para evitar a corrosão intergranular e atenuar o crescimento dos grãos, geralmente as ligas inoxidáveis ferriticas submetidas à soldagem são ligas estabilizadas. Os carbonetos de Ti geralmente são formados quando a liga inoxidável ferritica se encontra no estado fundido sendo que a presença desse precipitado pode causar defeitos na liga fundida. Já a adição conjunta do Ti e do Nb na liga estabilizada pode evitar a ocorrência desses defeitos. Na tabela 1 esta descrita a composição das principais ligas comerciais de aços inoxidáveis ferriticos convencionais. Tabela 1- Composição das principais ligas comerciais de aços inoxidáveis ferriticos convencionais [2,3,4,5]. Liga Cr C Mn Ni N Ti e/ou Nb P Si S Outros 405 (UNS S40500) 11, 5 a 14, 5 ≤0,08 1,0 ≤0,6 - - ≤0,0 4 1, 0 ≤0,0 3 Al = 0,10 a 0,30 DIN 1.4003 (UNS S41003) 10, 5 a 12, 5 0,03 1,5 1,0 0,03 0,04 1, 0 0,01 5 409 UNS (S40910 ) 10, 5 a 11 0,03 1,0 0,5 0,03 6(C+N) ≤Ti≤0,5 Nb=0,17 0,04 1, 0 0,01 5 430 (UNS S43000) 16 a 18 0,08 1,0 0,75 - 0 a 0,6 de Nb 0,04 1, 0 0,01 5 439 (UNS S43932) 17 a 19 ≤0,03 0 ≤1, 0 ≤0,5 0 ≤0,03 0 (0,2+4(c+N) ≤Ti+Nb≤0,75) ≤0,0 4 1, 0 ≤0,0 3 444 (UNS S44000) 17, 5 a 19, 5 ≤0,02 5 ≤1, 0 ≤1,0 ≤0,02 5 (Ti+Nb) ≤0,8 Mo=1,75 -2,5 446 UNS (S44600 ) 23 a 27 0,2 1,0 a 1,5 0 a 0,6 0,023 a 0,025 0,04 1, 0 a 1, 5 0,03 468 (UNS S4680) 18 a 20 0,03 1,0 0,5 - Ti+0,2.Nb+4(C+N ) 0,04 1, 0 0,03 0 Em relação às propriedades mecânicas as ligas inoxidáveis ferriticas convencionais apresentam uma tensão limite de escoamento e uma dureza que varia que de acordo com a composição e o tratamento termo mecânico ao qual a liga foi submetida, estando em uma faixa de valores similar a das ligas inoxidáveis austeniticas, com exceção das ligas austeniticas conhecidas como ´´LEAN`` que passam a conter uma estrutura martensitica ao serem submetidas a um processo de trabalho a frio. Já a ductilidade e a tenacidades das ligas ferriticas embora sejam geralmente superiores a das ligas martensiticas e endurecidas por precipitação, são inferiores a das ligas inoxidáveis austeniticas. Na tabela 2 estão descritas as propriedades mecânicas de algumas das principais ligas inoxidáveis ferriticas convencionais e super ferriticas. Tabela 2- Propriedades mecânicas de ligas inoxidáveis ferriticas comerciais [6,7,8,9,10] Liga Tensão de Escoamento (MPa) LRT %AL S44660 480 600 25 S44735 440 560 20 405 220 460 21 S44800 460 590 23 E-Brite 275 a 345 450 a 485 22 a 30 AL 29-4C 552 MPa 665 20 409 330 200 32 430 450 250 22 Devido ao baixo limite de solubilidade do C e do N nas ligas inoxidáveis ferriticas as propriedades mecânicas dessas ligas são influenciadas principalmente pelos mecanismos de endurecimento por solução solida substitucional e pelo refino de grão. Alguns dos elementos que podem estar presentes nessas ligas afetam o endurecimento por solução solida na seguinte ordem crescente: Cr˂W˂V˂Mo˂Ni˂Mn˂Si˂P [11]. Assim, as ligas com menor concentração deelementos de liga como a liga 409 tendem a apresentar uma menor dureza e resistência mecânica. Já as super ligas inoxidáveis ferriticas que apresentam uma concentração mais elevada de Cr, Mo e Ni tendem a apresentar uma dureza e uma resistência mecânica mais elevada. Uma das principais aplicações dos aços inoxidáveis ferriticos é a de componente do sistema de exaustão de veículos automotores, devido principalmente à elevada resistência a oxidação em elevadas temperaturas, às propriedades mecânicas adequadas aos processos de conformação e ao custo relativamente baixo dessas ligas em relação às ligas inoxidáveis austeniticas. Uma outra vantagem importante dos aços inoxidáveis ferriticos resulta do coeficiente de expansão térmica dessas ligas relativamente baixo, o que permite que essas ligas apresentem uma resistência adequada à oxidação cíclica (causadas principalmente devido as flutuações térmicas resultantes das partidas e pardas dos veículos). As ligas inoxidáveis ferriticas 409 são as ligas mais utilizadas no sistema de exaustão, sendo também utilizadas outras ligas inoxidáveis ferriticas tais como as ligas 439, 441, 434, 444 e 436. No tubo coletor onde a temperatura pode chegar a 950ºC a utilização das ligas 439 e 441 é mais adequada que a da liga 409 devido a maior resistência mecânica e a resistência a oxidação a altas temperaturas dessas ligas já que elas contem um maior teor de Cr. A liga 441 por conter Nb apresenta também a vantagem de ter uma maior resistência a fluência devido a formação dos precipitados de Nb2C que dificultam o deslizamento entre os grãos. Além da elevada resistência a oxidação o fato de as ligas inoxidáveis ferriticas apresentarem também uma elevada condutividade térmica também favorece a utilização desses ligas em tubulações de evaporadores e trocadores de calor. Na tabela 2 estão descritos exemplos de aplicação de algumas das principais ligas inoxidáveis ferriticas convencionais. Tabela 3- Exemplos de aplicações de ligas inoxidáveis ferriticas convencionais [12,13,14]. Liga Aplicações 439A (UNS S43932) Cozinhas residenciais; cestos de maquina de lavar roupa e refrigeradores; carcaça de micro-ondas e fornos elétricos; tubos para corrimão em ambiente interno; painéis para construção civil em ambiente interno; tubos e chapas para escapamento de veículos; tubos e chapas de evaporadores, tanques de armazenamento, trocadores de calor e secadores utilizados na produção de açúcar. 409 Caixas de capacitores ; sistema de exaustão de veículos automotores; e tanques de combustível. 430 Adornos de automóveis; calhas; máquinas de lavar roupa; revestimento da câmara de combustão para motores diesel; equipamentos para fabricação de ácido nítrico; fixadores; aquecedores; portas para cofres; moedas; pias e cubas; baixelas; utensílios domésticos; revestimentos de elevadores. DIN 1.4003 (UNS S41003) Silos, containers, coletores de bagaço de cana, lateral das mesas alimentadoras, condutores de cana e coletores de caldas em usinas de açúcar e de álcool; mobiliários urbanos; ônibus; e vagões de trens. ACE P444A (UNS S4400) Revestimento de fachadas externas de edifícios, inclusive a beira mar; Termotanques e aquecedores solares; Tubos para trocadores de calor e evaporadores; tubos e chapas para evaporadores, tanques, recozimento e fermentadores em usinas de açúcar; tanques para fermentação e armazenamento na fabricação de vinhos; e diversos equipamentos da indústria de alimentos. A utilização das ligas inoxidáveis ferriticas convencionais apresenta uma importante limitação que é baixa resistência a corrosão dessas ligas em meios agressivos, como nos meios nos quais ocorre a corrosão por pite. Portanto, para permitir principalmente que essas ligas possam apresentar um comportamento adequado nesses meios foram desenvolvidas as ligas conhecidas como superferriticas. Essas ligas são caracterizadas por apresentarem baixos teores de C (C≤0,03%p.) e de N (N≤0,025%p.). Essas ligas também apresentam elevado teor de Cr, e geralmente contem Mo e são estabilizadas com Ti e/ou Nb. Na tabela 4 estão as composições de algumas das principais ligas super ferriticas. A presença de teores mais elevados de Cr e Mo favorece a resistência a corrosão por pite das ligas, mas no entanto, aumenta a suscetibilidade da liga à formação da fase sigma e da fase alfa linha. Tabela 4- Composição de ligas comerciais de aço inoxidável super ferritico [2,6,7,8,9] Liga Cr C Mo Ni Mn Si S P N Ti e/ouNb Outros SEA- CURE (UNS S44660) 25 a 28 ≤0,03 3 a 4 1 a 3,5 ≤1,0 ≤1,0 ≤0,03 ≤0,04 - 0,02≤Ti+Nb≤1,0 E-Brite (UNS S44627) 25 a 27,5 0,002 a 0,010 0,75 a 1,5 0,15 a 0,5 0,05 a 0,40 0,20 a 0,40 0,01 a 0,02 0,01 a 0,02 0,10 a 0,15 0,2≤Nb≤0,5 Cu0,2 Cb0,05 a 0,2 Monit (UNS S44635) 24,5 a 26 0,025 3,5 a 4,5 3,5 a 4,5 1,0 0,75 0,03 0,04 0,035 0,3≤Ti+Nb≤0,6 29Cr- 4Mo (UNS S44700) 28 a 30 ≤0,010 3,5 a 4,5 ≤0,1 5 ≤0,0 30 ≤0,2 ≤0,020 ≤0,025 ≤0,020 - Cu≤0,15 Al 29- 4C (UNS S44735 ) 28 a 30 0,015 a 0,025 3,5 a 4,5 0,4 a 0,5 1,0 0,35 0,030 0,040 0,020 Ti+Nb=0,5 FS10 (S4480 0) 28 a 30 0,010 3,5 a 4,2 2,0 a 2,5 0,3 ≤0,2 ≤0,020 ≤0,025 0,010 290Mo (UNS S44735 ) 28 a 30 0,03 3,6 a 4,2 1,0 1,0 1,0 0,03 0,04 0,03 0,045N, Nb+Ti6(C+N) Ti+Nb = 0,6 As ligas inoxidáveis ferriticas são suscetíveis à fragilização por hidrogênio causada pela utilização da proteção catódica por corrente impressa como método de proteção contra a corrosão dessas ligas. A ocorrência da fragilização por hidrogênio diminui significativamente a ductilidade inviabilizando a utilização dessas ligas. No entanto, tem sido constatado experimentalmente [15] para uma liga super ferritica Monit (UNS=S44635) que a realização da proteção catódica passa a ocorrer em potenciais inferiores a 800mV vs. SCE . Portanto tem sido sugerido que a realização da proteção catódica entre os potencias de -800mV vs. SCE e -750mV vs. SCE, o que é normalmente utilizado na proteção catódica de ligas ferrosas, deve evitar a ocorrência da fragilização por hidrogênio. A maior resistência a corrosão sob tensão, constitui a principal vantagem dos aços inoxidáveis ferriticos em relação aos aços inoxidáveis austenicos no que se refere a resistência a corrosão. As ligas ferriticas podem resistir a corrosão sob tensão mesmo em ambientes que apresentam condições suficientes para ocorrer a corrosão por pite, desde que o teor total de Ni, Cu e Co seja inferior a 0,5%p. A diminuição da tenacidade da liga ferritica devido a realização de um trabalho a frio pode tornar a liga susceptível a corrosão sob tensão em condições nas quais esse tipo de corrosão não ocorreria. Esse comportamento ocorre quando a liga é submetida a um trabalho a frio que produz uma dureza igual ou superior a 20 RC [16]. 2- Resistencia a corrosão por pite A resistência à corrosão localizada por pite dos aços inoxidáveis ferriticos mais resistentes a esse tipo de corrosão é inferior a das ligas inoxidáveis austeniticas e duplex mais resistentes a corrosão por pite, sendo que esse fato se deve principalmente a solubilidade praticamente inexistente do nitrogênio na estrutura ferritica. Enquanto que na estrutura austenitica a presença do N em solução sólida é suficiente para queesse elemento possa elevar significativamente a resistência a corrosão por pite, nas ligas ferritica o N geralmente não esta presente em solução solida, e quando esta presente a sua quantidade não é suficiente para elevar significativamente a resistência a corrosão por pite. Nas aplicações nas quais a corrosão por pite ocorre são utilizadas ligas inoxidáveis ferriticas convencionais contendo Mo, como a liga 444 e a maioria das ligas super ferriticas. A resistência a corrosão por pite das ligas inoxidáveis ferriticas tende a aumentar com a elevação do teor de Mo, no entanto, nessas ligas o teor de Mo é inferior a 5%p., pois nessa concentração passa a ocorrer uma diminuição significativa da ductibilidade e da resistência a corrosão sob tensão da liga [9000]. Como visto no item, a presença do Ni no aço inoxidável não afeta significativamente a resistência a corrosão por pite em solução ácida, no entanto em solução alcalina esse efeito passa a ser significativo. Portanto, em solução alcalina a ausência ou o baixo teor de níquel dos aços inoxidáveis ferriticos também contribui para a menor resistência a corrosão por pite dessas ligas em relação aos aços inoxidáveis austeniticos e duplex. Como exemplo desse com prestamento pode ser citado os resultados descritos na tabela 4. Na tabela 4 é comparado o valor do ´potencial de pite da liga ferritica 444 com o potencial de pite das ligas austeniticas 304 e 316 em soluções 3,5% de NaCl com pH=8 e com pH=6. Observa-se através dos resultados descritos nessa tabela que a liga 444 que contem um teor de Mo em torno de 2%p. apresenta um potencial de pite e portanto uma resistência a corrosão por pite superior a da liga inoxidável austenitica 304 que não contem Mo. No entanto a liga ferrtica 444 apresenta uma resistência a corrosão por pite inferior a da liga austenitica 316, devido principalmente ao teor mais elevado da nitrogênio da liga austenitica. É interessante observar, que a maior resistência a corrosão por por pite da liga 444 em relação a liga 304 é menos significativa na solução alcalina em relação a solução ácida, enquanto que a maior resistência a corrosão por pite da liga 316 em relação a liga 444 é mais significativa na solução alcalina que na solução ácida. Esse comportamento esta relacionado com o efeito mais significativo da presença do Ni, a qual é significativamente maior nas ligas austeniticas na elevação da resistência a corrosão por pite na solução alcalina em relação a solução ácida. Tabela 4- Potencial de pite de várias ligas inoxidáveis em soluções 3,5% de NaCl com pH=3 e pH=8 [17]. Liga Epite vs. SCE para pH= 3 Epite vs. SCE para pH= 8 444 377mV 323mV 304 278mV 300mV 316 408V 453mV . O comportamento das ligas inoxidáveis ferríticas em relação à corrosão por pite é significativamente afetada pela formação de carbonetos de Cr, pois como visto anteriormente a formação desses precipitados ricos em Cr causa o empobrecimento desse elemento nas vizinhanças do precipitado, tornando, portanto, essa região altamente vulnerável à corrosão por pite. A difusão dos átomos de C na estrutura cubica de corpo centrado é favorecida em relação a estrutura cubica de face centrada, tornando assim a estrutura ferritica mais favorável a formação do carboneto de cromo. Os átomos de C podem também formar carbonetos de Mo, reduzindo assim a presença desse elemento em solução solida e consequentemente a resistência à corrosão por pite. Devido ao efeito dos carbonetos de cromo na resistência a corrosão por pite, a resistência a esse tipo de corrosão, é significativamente aumentada com a diminuição do teor de C nessas ligas. Como visto anteriormente, a utilização de uma técnica de refino e a adição na liga do Ti e/ou Nb diminui significativamente o teor de C na liga contribuindo assim para a elevação da sua resistência a corrosão por pite. A adição do Ti na liga também diminui a presença das inclusões de MnS, as quais como visto no item atuam como sítios de nucleação do pite, colaborando assim para a elevação da resistência a corrosão por pite da liga. Com a presença do Ti na liga é formado o sulfeto de Ti inibindo assim a formação do sulfeto de manganês[18]. Efeito da presença de fases secundarias Além da formação dos carbonetos e nitretos de Cr que se formam a acima de 900ºC outras fases fragilizantes como as fases intermetálicas α` e σ podem também ser formadas nas ligas inoxidáveis ferriticas em elevadas temperaturas. A fase α` é uma fase rica em Cr que é formada geralmente entre 300ºC a 550ºC a partir da decomposição espinoidal da ferrita α rica em Fe. As fases α e α`apresentam uma estrutura cubica de corpo centrado, e um parâmetro de rede semelhante o que faz com que a fase α` seja um precipitado coerente e como consequência distorce a rede cristalina na sua adjacência dificultando significativamente o movimento das discordâncias. Além de diminuir a tenacidade da liga a presença da fase α` diminui significativamente a resistência à corrosão por pite da liga, pois por ser uma fase rica em Cr a sua formação resulta no empobrecimento desse elemento na sua adjacência diminuindo assim a capacidade protetora do filme passivo formado nessa região. O tempo para ocorrer a fase α` depende da temperatura sendo menor na temperatura de 475ºC, por esse motivo a ocorrência da fase α` é também denominada de fragilização a 475ºC. A ocorrência da fase α`é favorecida pela elevação do teor de Cr da liga. No entanto, embora a elevação do teor de Cr diminua o tempo necessário para ocorrer à precipitação da fase α`, a presença de um maior teor de Cr na liga torna menos intenso o efeito dessa fase na diminuição da resistência a corrosão por pite da liga. Foi constatado experimentalmente [19] que uma liga de aço inoxidável super ferritico contendo elevado teor de Cr (Fe-28,12Cr-2,44Mo-0,01C-0,31Nb-0,01Ti) ao ser exposta a 475ºC foi necessário 150 horas de exposição para que o Ecp diminuísse de 1,10 V vs. S.C.E para 0,92 V vs. S.C.E. Considerando que a liga fica vulnerável a corrosão por pite em um determinado meio quando o seu potencial de pite é inferior a 1,0 V vs. S.C.E, esse comportamento indica que é necessário dezenas de horas de exposição a 475ºC para que a precipitação da fase α` torne a liga susceptível a ocorrência do pite. A fase σ é uma fase com estrutura tetragonal rica em Cr e Mo sendo que o tempo para sua formação diminui com a elevação da concentração desses elementos na liga e é geralmente inferior ao da fase α`. O tempo para formação da fase sigma também diminui quando a liga é submetida a um trabalho a frio, por favorecer a difusão do Cr. Por ser essa fase rica em Cr e Mo a sua formação resulta em um empobrecimento desses elementos nas adjacências da fase resultando assim em uma significativa diminuição da resistência a corrosão por pite além de diminuir a tenacidade da liga. A presença da fase sigma é geralmente observada em ligas inoxidáveis ferriticas que apresentam a somatória dos teores de Cr e Mo igual ou superior a 20%p [20]. A preocupação com a ocorrência da fase sigma é importante nas aplicações nas quais as ligas inoxidáveis ferriticas são utilizadas em elevadas temperaturas acima de 550⁰ C, principalmente as ligas que contem teores mais elevados de Mo e Cr. Para uma liga inoxidável super ferritica 26Cr-4Mo-2Ni (Ti + Nb) exposta a uma temperatura de 800⁰ C foi constatado [21] que passa a ocorrer a precipitação da fase sigma após 30 minutos, sendo que essa fase ocorre inicialmente no contorno de grãos e passa a crescer através do interior do grãos após 24 horas de exposição. A presença de tungstênioe de titânio [22,23] na liga tende a inibir a precipitação da fase sigma. Tem sido constatado [23] que a substituição do Mo pelo W na liga inoxidável ferritica retarda à ocorrência da fase sigma tornando assim a liga menos suscetível a diminuição da resistência a corrosão por pite devido as presença da fase sigma. Em uma liga inoxidável super ferritica contendo 4%p. de Mo (Fe-29,10Cr- 4,19M0-0,44Si-0,0042C-0,0015N-0,10Nb) o potencial do pite é em torno de 950mV vs. SVE em solução 4M de NaCl a 80ºC e reduz para 770mV vs. SVE após exposição durante 1 hora a 850ºC. Já em uma liga com a mesma composição, exceto a substituição do Mo pelo W, o potencial de pite que também esta em torno de 950 vs. SVE é reduzido a 770mV vs. SVE somente após 50 horas de exposição a 850ºC. Nas aplicações que requerem elevada resistência a corrosão por pite, geralmente as ligas inoxidáveis superferriticas são preteridas em relação às ligas super austeniticas e super duplex que apresentam maior resistência a esse tipo de corrosão. No entanto, em algumas aplicações que além da resistência a corrosão por pite requer determinadas características tais como resistência a corrosão sob tensão, elevada transferência térmica, e elevada resistência a oxidação e à oxidação cíclica em elevadas temperaturas, pode ser mais vantajosa à utilização das ligas ferriticas. As ligas super ferriticas apresentam tem uma resistência a corrosão-erosão superior a das ligas de Ti e de Cu, uma resistência a vibração superior a das ligas de Ti e uma capacidade de transferência de calor superior a das ligas inoxidáveis austeniticas, além do custo das ligas super ferriticas ser inferior ao das ligas de Ti e das ligas inoxidávei super austeniticas e super duplex [24]. Em relação a resistência a corrosão por pite na água do mar, as ligas super ferriticas podem apresentar um desempenho satisfatório na temperatura ambiente, tendo sido constatado a ausência de corrosão por pite em ligas super ferriticas imersas na água do mar por um período de 10 anos[ 24]. Tem sido também constatado que a liga super ferritica SEA-CURE apresenta uma resistência a corrosão por pite e a corrosão sob fresta na água do mar superior a da liga inoxidável austenitica 316L [25]. Ligas inoxidáveis super ferriticas tais como as ligas superferriticas SEA-CURE e 29-4C, são frequentemente utilizadas como tubulações de condensadores e de trocadores de calor que estão em contato com meios corrosivos como agua do mar, água salobra, gás de combustão, e petróleo cru. As ligas super ferriticas são utilizadas em condensadores de usinas termoelétricas, em trocadores de calor de refininaria de petróleo, em trocadores de calor de plantas de desalinização, de plantas de tratamento de água e de plantas de tratamento de gases de combustão [24]. A liga 29-4C é também utilizada como duto de forno de aquecimento doméstico. Apesar dos elevados teores de Cr e Mo presentes nessas ligas, não ocorre a precipitação de fases como a fase sigma que possa impedir a utilização dessas ligas nessas aplicações. Esse comportamento provavelmente se deve ao fato de as ligas SEA-CURE e 29-4C serem estabilizadas com Ti, cuja adição inibe a precipitação da fase sigma [22], é possível que a estabilização com o Nb também cause esse efeito. Uma limitação importante das ligas super ferriticas que limita a utilização dessas ligas em tubulações de trocadores de calor e evaporadores é a de que a utilização dessas ligas é restrida à tubulações de pequena espessura, sendo a liga SEA-CURE utilizada em tubulações com espessura de até 2,11mm e a liga 29-4C em tubulações com espessura de ate 1,25mm [24]. Essa limitação se deve ao fato de que a tenacidade e a ductibilidade dessas ligas diminuem com a elevação da espessura dificultando assim o processo de manufatura dessas ligas. Como visto anteriormente uma das principais aplicações das ligas inoxidáveis ferriticas ocorre no sistema de exaustão de um veiculo. Nesse equipamento além da condensação dos gases resultantes da queima do combustível, também ocorre à condensação do vapor resultando na presença da água no inteiro dos componentes. Essa água pode conter íons cloreto a um nível que causa a corrosão por pite no interior dos componentes. Quando o escapamento é exposto a uma atmosfera marinha úmida pode também ocorrer à corrosão por pite na superfície externa dos componentes. A ocorrência da corrosão por pite que é mais critica no silenciador e no abafador causa a perfuração dos componentes do sistema de exaustão resultando no desvio dos gases de combustão e na consequente queda do rendimento do motor, o que torna necessário a substituição do equipamento. A suscetibilidade dos equipamentos à corrosão por pite é maior nos veículos que percorrem uma baixa quilometragem por dia, pois nesses veículos é maior a probabilidade de não ocorrer à eliminação do vapor, permanecendo agua no interior do escapamento enquanto nos veículos com elevada quilometragem por dia a probabilidade de eliminar a água é maior sendo assim menor a probabilidade de ocorrer a corrosão por pite no interior dos equipamentos. Para elevar a vida útil do equipamento tem sido desenvolvidas ligas para o sistema de exaustão que apresentam maior resistência à corrosão por pite principalmente por conter Mo. A liga FSSNEW ( Fe-0,012C-14,3Cr-1,28Mo-0,48Nb- 0,004S-0,0089N-P˂0,03) estabilizada com Nb foi desenvolvida para ser utilizada no sistema de exaustão de veículos [26]. Essa liga, além de possuir uma resistência ao pite superior a da liga 409 apresenta também limite de resistência a tração, tensão de escoamento e resistência à oxidação em elevadas temperaturas superiores ou iguais às ligas inoxidáveis ferriticas normalmente usadas no sistema de exaustão. Outras ligas inoxidáveis ferriticas contendo Mo tem sido também utilizadas no sistema de exaustão tais como a liga 444 utilizada no tubo dianteiro, conversor catalítico e tubo central, e a liga 436 utilizada no silenciador [l7, 27]. Essas ligas além de apresentarem teores relativamente baixo de Cr e Mo (a somatória dos teores de Cr e Mo é inferior a 20%p.) são estabilizadas com Ti ou Nb o que colabora para inibir a precipitação da fase sigma. Referências 1-. Bottrel Coutinho C., Materiais metálicos para engenharia, Fundação Christiano Ottoni,, 1992, Belo Horizonte. 2-. Mcguirre M., Stainless steels for design engineers, Ed. 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