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dilloc. (€74. LIBERDADE PARA APRENDER reune todos os pensa- lentos de Rogers sôbre o processo da aprendizagem em edu- cação. Rogers afirma que os estudantes aprendem realmente divertem-se durante esta aprendizagem, quando o professor (facilitador de aprendizagem) fixa um ambiente que encoraje sua participação responsável na seleção de metas e nas -aneiras de alcançá-las. Mostra como três pessoas diferentes, trabalhando em b.,..ês níveis diferentes de ensino, descobriram maneiras dife- ntes de proporcionarem a seus alunos, liberdade para apren- der, e apresenta consequências interessantes dêstes esforços. Descreve as atitudes em direção ás quais o "facilitador" , aprendizagem deve crescer, a fim de ter sucesso e sugere --étodos práticos para desenvolver estas atitudes. Apresenta, depois, algumas das suposições e convic- Jes sôbre as quais baseia todo o seu "approach", incluindo -éias teóricas sôbre o processo de aprendizagem. Parte dal para atacar os problemas de valôres e o significado de "liber- Lade" no mundo moderno. Finalmente, êle descreve um plano prático para pra dr-nir mudanças drásticas, mas auto-dirigidas, num sistema euucacional. O autor — Gari R. Rogers (Ph. D., Teachers College, Lolumbia University) é membro permanente do "Center for idies of te Person", de La Jola, Califórnia. Foi, anterior- mente, membro do "Western Behavioral Sciences Institute" e. .2 membro premiado da "American Psychological Associa- r n" . Entre seus livros, destacam-se "On Becoming a Person" e "Man and the Sciences of Man?. estante de psicologia TEORIAS DA ADOLESCENICIA --Rol! E. Manes INFÂNCIA E ADOLESCENCIA - Stone e Church LIBERDADE PARA APRENDER - Carl &gera . LUDOTERAPIA • Virgínia Mae Axline INTERLIVROS DE MINAS GERAIS LTDA. Caixa Postal 1843 • Tel. 22-3268 Belo Horizonte - Minas Gerais Atendemos pelo serviço de reembolso postal A DINÂMICA INTERIOR DA INFÂNCIA LUDOTERAPIA Virginia Mae Àxline 'SCHOOL OF EDUCATION! - -NEW-YORK. UNIVERSI1Y-- - INTRODUÇÃO: Cari R. Rogers til interlivros Belo Horizonte - M. G. - 1912 za t" . ét. PLAY THERAPY - Virglnia Mae Miá° Edição original publicada em 1947 por Houghton Miffiln Company CambrIdge - Massachussetts - U.S.A. TRADUÇÃO: Angela Maria Valadares Machado Coelho SUPERVISÃO TÉCNICA: Heloisa de Resende Pires Miranda Psicóloga do Instituto de Aconselhamento e PsicotorapIa INACOP CAPA: Cláudio Martins COPYrIght by Virginia mae mane d memória de meu pm ROY G. AXLINE Direitos de tradução em Ilngua portuguesa: EDITORA DO PROFESSOR IND. E COM. LTDA. Direitos para esta edição cedidos à INTERLIVROS DE MINAS GERAIS LTDA. Rua Tupis, 38 - Loja 6 Caixa Postal 1843 - Tel. 22-3268 Bolo Horizonte • Minas.Gerals PREFACIO À EDIÇÃO BRASILEIRA Muitas pessoas interessadas em Psicoterapia Centrada na Criança se queixam de não encontrar livros que abordem o as- sunto de maneira bem completa, e que sejam escritos em portu- guês. Este livro de Virginia Mae Axline, que leva o titulo em sua edição brasileira de LUDOTERAPIA, vem .preencher tal va- zio. Trata-se de um texto bastante completo, escrito numa lingua- gem simples e direta. O leitor poderá encontrar, nele, orientação para pro- blemas liem variados, que vão desde as características da sala de brinquedos, onde 'se desenvolve a terapia, até o estudo do proces- so que se desenrola na criança que vive a experiência dessa terapia. Por isso mesmo, o livro de Virginia M. Axline já se tornou um clássico, servindo de ponto de partida para o estudo e desenvolvimento de muitos terapeutas, inclusive de outras corren- tes de Psicologia. Para o leitor que deseja saber a essência da abordagem contida nesse livro, eu diria que a autora descreve uma terapia caracterizada por uma profunda aceitação da criança, sejam quai forem os sentimentos e necessidades por ela apresentados. Aliad a isso, está presente também um grande respeito — misto de fé e confiança — para com a capacidade da criança de se desenvol- ver por si mesma, sem uma ajuda direta. interessante notar que, partindo da sua própria expe- riência clinica, a autora relaciona com muita objetividade os prin- cípios básicos da Psicoterapia Centrada na Criança. E, ao fazê-lo, ela se antecipa às formulações mais precisas de Cari R. Rogers VII sobre as condições necessárias e suficientes para que ocorra o pro- cesso terapêutico descrito na Psicoterapia Centrada no Cliente. Por tudo isso, sinto-me por demais honrada em ter sido escolhida pela INTERLIVROS, para prefaciar um livro tão signi-ficativo como este. Aproveito o ensejo para recomendar sua leitura não só aos estudantes de Psicologia e luduterapeutas, como também a todas as pessoas que lidam com crianças. Particularmente àque-las que trabalham como professoras, orientadoras educacionais, e- ducadoras, pedagogas, diretoras de grupos escolas e de outras es- colas infantis e enfermeiras de hospitais psiquiátricos para cri-anças. Tenho certeza que, a cada uma delas, os ensinamentos contidos nesse livro trarão novas perspectiva; alargando os hori- zontes e facilitando a tarefa de proporcionar às nossas crianças o melhor que elas possam obter e alcançar, em termos de amadure- cimento e realizações pessoais. Belo Horizonte, novembro de 1972 RELO/SA DE RESENDE PIRES MIRANDA Psicóloga do Instituto de Aconsahamento . e Pacoterapia INACOP PREFÁCIO Foi uru privilégio para a autora estudar com o Dr. Carl R. Rogers e trabalhar com ele na pesquisa e desenvolvi- mento das imensas possibilidades da técnica terapêutica não-di- retiva — ou técnica Rogeriana como é comumente chamada en- tre os que trabalham com o Dr. Rogers. O Dr. Rogers é um professor que nos entusiasma, e a autora acha-se em débito para com ele por havê-la encorajado a explorar mais profundamente as possibilidades da técnica não- diretiva e a publicar os resultados do trabalho experimental que foi realizado sob sua supervisão. A autora deseja expressar aqui sua gratidão e reco- nhecimento ao Dr. Rogers, uma vez que foi devido à sua leitura paciente do manuscrito e às suas criticas construtivas que este livro surgiu como uma apresentação das implicações do proces- so não-diretivo na ludoterapia e no campo da educação. A autora estende ainda seu reconhecimento aos mé- dicos, pais, diretores e funcionários das escolas, cuja cooperação tornou possível a participação das crianças cujos casos são re- latados aqui. Finalmente, a autora deseja expressar sua gratidão às crianças, que aceitaram a experiência terapêutica como um desafio, e dela se aproveitaram tão plenamente. VIRGINIA MÃE AXLINE Universidade de Chicago VIII IX INTRODUÇÃO Virginia Mae Axline escreveu um livro penetrante e útil sobre as possibilidades terapêuticas dos jogos e ãtividades de grupo. Este livro destina-se principalmente a professores e orientadores escolares; entre- tanto, psicólogos, psiquiatras, terapeutas que trabalham com grupos ou casos individuais, terão muito a ganhar com um estudo profundo dos princípios e técnicas que ela defende. São vários os níveis em que este livro pode ser analisado. Super- ficialmente, é o relato de como um professor veio a atuar como terapeu- ta com o intuito de libertar as forças terapêuticas que existem em cada pessoa. Conta como, através de ludoterapia e terapia de grupo bem ori- enta/1m, jovens deformados e desajustados tomam-se capazes de olhar honestamente para si próprios, de se aceitarem e de elaborarem um ajus- tamento construtivo à difícil realidade na qual vivem. Mostra como bone- cas, fantoches, mamadeiras de brinquedo, revólveres, massa de modela- gem, tintas e água podem tornar-se participantes ativos nesse drama do crescimento. Trata-se de um livroessencialmente prático, nunca se contentando com afirmações genéricas, fornecendo sempre exemplos e ilustrações es- pecíficos do modo como atitudes e princípios podem ser postos em• prá- tica durante as sessões de ludoterapia. O profissional que deseja saber "Como você faz isto?", encontrará nestas páginas grande quantidade de material que responde a esta pergunta. Contudo, o livro vai muito além, é muito mais do que uma análise Iria de um processo terafiêntico, muito mais do que um conjunto de su- gestões práticas. A medida que o leitor for conhecendo Ema, Tom, Er- nest e os demais jovens reais que nabitarn este livro, irá crescendo em sua mente a suspeita de que encontrou a porta de entrada para o mundo interior da infância, sobre o qual tanto tem sido escrito, mas que rara- mente é desvendado. Aqui as crianças são vistas de dentro, seus temores, suas necessidades mais profundas, seus ódios mais amargos, suas emoções mais remotas, seu desejo de crescer em espirito tanto quanto no físico — aqui encontramos crianças como elas são. A impressão preponderante que surge da leitura da grande variedade de casos literalmente transcritos, á que aqui é desvendado, vagarosamente em alguns casos, mais rapidamen- te em outros, o eu real da criança. Se o leitor for capaz de ler todo este material sem sentir, por vezes, um estranho nó na garganta, é porque ele não foi feito da mesma argila que o autor desta introdução. A fortaleza dian- te das dificuldades, a honestidade ao olhar para si próprios, o desejo vi- tal de alcançar a maturidade que estas "crianças-problema" demonstram, representam um desafio para todos nós. Deve:se observar que o objetivo básico da autora não é revelar, des- ta forma, a dinâmica interna da infância, ou a dinâmica da vida adulta- que também fica evidenciada. E é justamente porque surge como subpro. duto, que isto se torna mais convincente. Embora o livro seja escrito em uma linguagem simples, onde vários trechos constituem citação literal das próprias crianças, embora ainda os ternios técnicos sejam agradavel- mente poucos e um delicioso senso de humor impregne todo o livro, ele é, não obstante, um livro profundo. Fará o leitor meditar seriamente, le- vantando perguntas Perturbadoras e graves. Por que nossa educação é - tão embrutecedora e cega, se nossas crianças são tão ricas? Por que a humanidade teme tanto a espontaneidade, se a atitude espontânea con- duz tão rapidamente ao crescimento responsável? Como se pode ajudar professores e pais a perceberem os dotes de personalidade que existem em cada criança? Por que nos falta confiança no futuro, se forças sociais intensas e construtivas podem ser liberadas no indivíduo através da acei- tação de alguns poucos princípios básicos? Estes são alguns dos itens que leitor atento se verá levado a considerar. mo sendo a terapia levada a efeito desajeitadamente devido ao ceticismo, podem-se esperar experiências altamente compensadoras. A escola se tornaria uma instituição muito diferente, com uni efei- to radicalmente diverso sobre a criança, se pelo menos alguns professo- res se decidissem a lidar com os jovens do modo descrito nos capítulos que se seguem. Gari R. Rogers Universidade de Chicago Alguns lerão este livro e dirão: "Não pode ser verdade As crianças não são assim. Crianças más não têm dentro de si as forças positivas que são apontadas aqui. É muito bom para ser verdade!" A estes céticos posso apenas responder que os resultados descritos neste livro realmen- te ocorrem quando os princípios aqui expostos são fielmente seguidos Passo afiançar, não apenas que Virgínia Mae 'Axline obteve tais resul- tados, mas que muitos outros, mesmo sem tanta tolerância natural e sem tanta compreensão intuitiva, podem também alcançá-los. Sugiro também teste final e conclusivo — que o nosso cético tente ele mesmo colocar em prática estes princípios e observe atentamente os resultados. Mes- XIII XII 1. ALGUMAS CRIANÇAS SÃO ASSIM "É BRIGÀ, BRIGA BRIGA, . O DIA INTEIRO" A professora perturbada descia rapidamente para o gabinete da di- retoria, alguns passos -à frente de Tom, que a seguia com obstinado res- sentimento. "Espere ai fora", disse-lhe rispidamente enquanto entrava, valen- do-se de sua prioridade de professora, para apresentar a queixa ao di- retor. Esse menino de doze anos, provocador e desobedienteNestava le- vando-a ao desespero •. Ele mantinha a classe em constante estado de tu- multo. Estava continuamente lembrando-a de que ela era "apenas urna professora substituta" e insistindo que "ninguém podia controlá-lo." Tom era inteligente bastante para fazer satisfatoriamente o traba- lho escolar, mas recusava-se a fazer os deveres marcados. Se fizesse co- mo queria, ficaria lendo o tempo todo. Não aceitava criticas. 'Tratava hostilmente as outras crianças, quencandn-se de que elas "amolavam-no". E agora a turma tinha voltado do Intervalo e houvera outra briga. Tom afirmava que os meninos o haviam atacado em turma; e os meni- nos diziam que Tom havia cuspido na bandeira americana. Quando voltaram para a sala de aula, ele mostrava sinais de ter sido severamente espancado pela turma e a professora repreendeu-os por brigarem no pátio. Os outros meninos poliram desculpas e contaram o episódio da bandeira. Mas Tom olhou-a fixamente, com provocação, atirou 3 seu livro fora da cart:eira, num gesto de desprezo e raiva, e disse: "Eu faço o que eu quero! Eles começaram a briga. Eles me atacaram em tur- ma. Detesto todo o bando. Tenho ódio mortal deles e vou me vingar. Pro diabo com eles todos." Seus olhos pretos ardiam. Sua voz tremia. Sim, ele até chorou — ele que era tão duro — e cenas como essa eram tão perturbadoras para a turma e deixavam a professora tão nervosa que ela estava toda trémula e a ponto de chorar! Não agüentaria isso mul- to tempo. Não agüentaria tnesino. Então, depois que ela terminou sua queixa, Tom foi convocado pa- ra o santuário do diretor. "A senhora Mardi contou-me que você esteve brigando de novo." "Sim, vieram todos em cima de mim." "Ela contou-me que você foi desrespeitoso cona-‘ii hal:doira amerir cana " "Eu não cuspi nela não, só falei que tinha cuspido." "Ela disse que você foi desrespeitoso na sala de aula, atirou seu li- vro no chão e xingou." "Eu não aguento mais ficar neste lugar." Tom grita e uma vez mais seus olhos encheram-se de lágrimas. "Todo mundo me amola e mente a meinespeito e. •• tl.`Chega! Estou ficando bastante cansado .com esse trabalho todo que temoi'cii7rn você. Todo dia trazem você ao gabinete. Todo dia apresentam queixa de você por mau comportamento. É briga, briga, briga — o dia in- teiro. Palavras não parecem lhe fazer nenhum bem. Pois talvez isso faça!" O diretor pega na palmatória e bate, cansada e desesperançadamente, mas de maneira eficaz, onde pensa que ela fará melhor efeito. 'Tom e sua professora voltam para a sala de aula. O diretor conti- sua tarefa de ser diretor. .A tarde, a professora comunica que Tom es- tá ausente. O diretor telefona para a casa dele. Sua mãe não sabe on- de ele está. Pensava que ele tivesse voltado para a escola. Faz três dias que ele não vai em casa nem à escola.. Todo mundo. relacionado com o caso sente-se insuficiente e inade- quado. Isso não parece a solução para esse tipo de problema, mas o que é que se pode fazer? Deve haver ordem, disciplina e controle, ou o lugar se tornaria logo um hospício. Certamente Tom é uma criança-problema, um caso muito difícil. • 4 "QUER DIZER QUE VOCÊ ESTÁ INDO PARA CASA?" A diretora do Jardim de Infância parou no portão lateral de uma das dependências do alojamento e Observou Ema e as outras crianças, pa- radas no pátio. Ema estava vestida para deixar o lugar. Sua malinha, já pronta, estava esperando no portão. As outras crianças estavam separadasdela. Faziam-lhe caretas e ela fazia caretas para elas. Havia uma tensão, uma atitude quase austera nela, enquanto esperava. Seu lenço, de tão tor- cido, tinha virado um cordão. Ela se firmava, ora num pé, ora no outro. "Olhe pessoal, Ema acha que é esperta s6 porque tá indo embora", gritou um dos meninos, com voz de provOcação. "Feche a matraca, seu gato pelado", grita Ema. "Seu rato sujo, im- becil, cretino!" "Nãci me Angue", grita raivosamente a primeira criança. Ema se volta para os meninos que a atormentam. "Eu cuspo n'ocês, viu? E o faz. "Crianças! Crianças!" chama a diretora. Todos se separam. Ema atira a cabeça para trás desafiadoramente. Olha a estrada ansiosa pela chegada de um carro. Sua mãe tinha prometido buscá-la e levá-la para um passeio. Uma porta do alojamento se abre e sai outra das diretoras. As duas mulheies conversam por uns minutos, em seguida a primeira toma a ma- linha de Ema e a chama. "Ema. Ema, querida. Sua mãe telefonou. Ela não poderá vir para este fim de semana." Ema vira-se para a diretora como se tivesse levado um choque. Seus olhos verdes parecem se incendiar. Ela olha fixamente para a diretora. "Venha, Ema. Tire sua roupa nova." 'As outras crianças gritam com alegria. "Ah! Ah! Esperta! Quer dizer que você está indo prá casa, nó?" "Crianças! Crianças!" gritam as duas senhoras. Ema vira-se e com a rapidez de um gatinho corre através dos cam- pos até chegar a um lugar isolado. Atira-se no chão, e ali fica, tensa e si- lenciosa. A diretora a encontra lá, finalmente, e a leva carinhosamente de volta. Isso tudo vem acontecendo há muito, muito tempo. A mãe promete 5 1 _4 vir e levar Ema Ela desaponta a criança e nunca- cumpre sua promessa. Depois destes acontecimentos, Ema não consegue comer, não dor- , . Me, não 'consegue nem mesmo chorar. Adoece e vai paia a enfermaria. Quando se recupera — o que se dá logo -- e volta para junto das Outras crianças, está raivosa, mesquinha e insociável: Ela, também, é uma criança-problema. 'MSS& MENINO NÃO PRECISA DE REMÉDIO" Timmy e Bobby não tinham o chão firme sob seus pés desde que seus pais se separaram e as crianças foram postas numa casa adotiva. . Quando sua mãe veio levá-lo para casa, para . uma_ pequena visita, Timmy relutou em ir, mas ela insistiu. Timmy estava tendo problemas de apetite e não conseguia reter o que comia. Não parecia natural para um menino de oito anos estar sem apetite e ser tão infantil. Chorava com facilidade, era difícil o relacionamento com ele, brigava- com Bobby, seu irmão mais novo. Parecia tenso e nervoso.. Sua mãe levou-o ao médico e este diagnosticou como "uma doença :de nervos". TimMY roia Rias Unhas enquanto a mãe discutia com o mé- dico. Então, em um Momento de 'silêncio, Timniy. falou. rapidareente, em Voz alta e estridente: "Eu vi o papai ontem. Ele foi lá em casa. Eles vão se divorciar. Eles não vão viver mais juntos. Meu pai não gosta de mi- nha mãe e minha mãe não gosta- -de meu pai e talvez ele case outra vez e Mamãe disse que -nós-quase, não vamos ver ele,: porque ela disse que não Ia deixar ele ficar comigo nem com Bobby e ele Ídisse que•ia mostrar lira eia" • "Suponho que isso foi discutido na frente de Timmy, não é mesmo?", perguntou o médico. Desanimado, o médico prescreveu a receita e acrescentou secamen- te, ao estendê-la à mãe: "Ele precisa de um lar e de pais equilibrados, mais do que de um sedativo." Timmy voltou para a casa adotiva. Ele procurou por Bobby: "Ma- mãe e papai vão se divorciar, e ela disse que ele não ficaria conosco se ela pudesse evitar isto e..." Tinuny e Bobby são crianças-problema. Tom, Ema, Timmy e Bobby são descritos todos eles como "crianças- problema." São crianças tensas, infelizes e completamente desajustadas, que às vezes acham suas vidas difíceis dema:s de suportar. Aqueles que estão interessados no ajustamento pessoal de tais crianças, olham-nas com preo- cupação autêntica. As forças ambientais são desfavoráveis, quase nenhuma ajuda pode ser esperada dos pais ou outras pessoas responsáveis por elas. O que é que pode ser feito, se é que há alguma coisa que se pode fazer, para ajudá-las a se ajudarem? Há um método de ajudar tais crianças a vencer suas dificuldades — um método que foi bem sucedido com Tom, Ema, Timmy e Bobby e com muitas outras crianças como elas. Este método é chamado ludoterapia. A finalidade deste livro é explicar exatamente o que é a ludoterapia e apresentar a estrutura da teoria da personalidade sobre a qual ela é ba- seada; descrever detalhadamente o processo da ludoterapia e os que dele participam; apresentar os princípios fundamentais para que ela seja conduzida com sucesso; relatar casos de nossos arquivos que Mostram sua eficácia na ajuda ha assim chamadas crian- ças-problema, auxiliando-as a construir seu ajustamento pessoal, e final- mente, apontar as implicações da ludoterapia na educação. "Bem", disse a mãe, defensivamente, "ele terá que saber de tudo mais cedo ou mais tarde. 2 melhor saber agora!" "Bobby e eu estamos morando em agora", disse Timmy. Ele estava gritando com o médico. "Nós moramos com mamãe It. Nós gostamos de lá!" "O senhor pode me dar uma receita ou qualquer outra coisa?", disse a mãe de Timmy. "Ele não dorme bem à noite. Vomita quase tudo que come. A mulher que toma conta dele diz que ele está nervoso e comp0o, tando-se violentamente. . "Vou lhe dar uma receita", responde o médico, "mas esse menino não precisa de remédio." 6 7 2. LUDOTERAPIA UM MÉTODO DE AJUDAR AS CRIANÇAS A SE AJUDAREM A ludoterapla é baseada no fato de que o jogo é o meio natural de auto-expressão da criança. É urna oportunidade dada à criança de se li bertar de seus sentimentos e problemas através do brinquedo, da mesma forma que, em certas formas de terapia para adultos, o indivíduo resolve suas dificuldades falando. A ludoterapia, quanto h sua forma, pode ser _diretiva — isto é, o tera- peuta pode assumir a responsabilidade de orientação e de interpretação, ou não-diretiva: a responsabilidade e a direção são deixadas às crianças. Com esse último tipo• de terapia é que nos preocuparemos. No entanto, antes de prosseguir com a descrição real da ludoterapia, devemos formular o ponto de vista de cada indivíduo, observando os po- tenciais de cada um; isto é, a teoria da estrutura da personalidade, sobre a qual ela está baseada. Há muitas fontes de informação a respeito da estrutura básica da personalidade do indivíduo, porque este é um dos mais intrigantes, senão desconcertantes aspectos do ser humano. Muitas teorias da personalidade foram desenvolvidas, abandonadas, reexaminadas, alteradas e estudadas de novo. Tentativas foram feitas para "testar", "prever" traços e explicar a estrutura da personalidade. No entanto, todo o assunto ainda está em aberto, e as teorias que foram desenvolvidas até agora não parecem in- teiramente adequadas para explicar satisfatoriamente tudo o que foi obser- vado a respeito da dinâmica interior do indivíduo. Por isso, para organizar um quadro de referências dentro do qual prosseguir, a seguinte explanação da teoria da personalidade é desenvolvi- da, como uma tentativa de teoria, aberta à critica e avaliação, mas basea- da na observação e estudo de crianças e adultos durante e depois de urna experiência terapêutica não-diretiva. A TEORIA DA ESTRUTURA DA PERSONALIDADE SOBRE A QUAL SE BASEIA A LUDOTERAPIA NÃO-DIRETIVA Parece haver uma força poderosa dentro de cada indivíduo que luta continuamente para urna completa auto-realização. Esta força pode ser ca- racterizada como urna corrida para a maturidade, independência e auto dire- ção. Tal corrida vai inexoravelmente alcançar a consumação, Mas necessita de bOm"terreno" para que se desenvolva urna estruturabem equilibrada. Como uma planta precisa de sol, chuva e terreno rico e bom para atingir seu crescimento máximo, assim também o indivíduo, para atingir a satiS 'fação direta desse Impulso. de; crescimento, necessita de 'permissividade pa- ra ser ele mesmo; da completa aceitação de si — tanto por ele mesmo quanto pelos outros — e atingir a dignidade, direito nato de todo ser hu- mano. Crescimento é um processo de mudança em espiral L- relativo e dinâmico. Experiências mudam a perspectiva e o foco do indivíduo. Tu- do está constantemente mudando, desenvolvendo-se, intercambiando-se, e assumindo vários graus de importância para o indivíduo h..lus da reor- ganização e integração de suas atitudes, pensamentos e sentimentos. O impacto das forças da vida, a interação dos indivíduos e a pró- pria natureza do ser humano põem em pauta essa integração constante- mente mutável que se processa dentro do individu9.• Tudo é, relativo, e o padrão é urna espécie de coisa cambiável, reorganizável --: como o de- senho que se vê num calidoscópio, um tubo pelo qual se olha, através de um buraquinho, para pedacinhos de vidro coloridos de forma variada; quando se gira o tubo, o desenho se desmancha e reorganizase de ma- neira bastante diferente. Quando as diversas partes do desenho se tocam, formam uma nova configuração. Não importa de que maneira se gire o tu- bo, o desenho mantém seu equilíbrio, estando a diferença no próprio de- senho que, às vezes, é compacto e indica força e, às vezes, espalha-se e é aparentemente frágil, e não muito encorpado. Há sempre ritmo e harmo- nia no desenho. Cada modelo é diferente do outro e a • diferença é can- sada pela maneira pela qual a luz o atravessa e riela firmeza da mão que segura o calidoscópio, assim como pelas posições interriambiáveis dos pedaços de vidro colorido. ..... L. Assim, ao que parece, é a personalidade. O organismo vivo tem dentro de si os "pedaços de vidro colorido" e a personalidade é estrutu- rada pela organização desses "nedaços". A dinâmica da vida é tal que qualquer experiência, atitude ou pen- samento de todo individUo está constantemente mudando em relação à interação das forças psicológicas e ambientais sobre todos .e cada um dos indivíduos, de maneira que o que aconteceu ontem não tenha para, ele o mesmo sentido que tinha quando sucedeu, por causa do impacto das for- ças da vida e da interação dos indivíduos; da mesma forma, amanhã a experiência será integrada diferentemente. Essa característica de mudança aplica-se também às respostas de comportamento. Respostas que parecem bastante semelhantes dia após dia, são as vezes descritas como hábitos, mas os hábitos parecem desa- parecer subitamente quando o indivíduo hão mais sente a necessidade deles, ou quando um tipo mais satisfatório de comportamento é encon- trado. Foi essa flexibilidade, observável na personalidade e no comporta- mento, que abriu a porta para que se admitisse o elemento de esperança e uma maneira positiva de considerar os indivíduos que desde o inicio pareciam derrotados. Quando o indivíduo toma consciência do papel que pode desempenhar na direção de sua própria vida, e quando aceita a res- poxisabilidode que acompanha a liberdade dessa autoridade — é ai que está capacitado a fixar seu curso de ação com mais perfeição. For que Ema espera, espera sempre, apesar das continuas desilu- sões e desapontamentos? O que alimenta sua fé e a anima após cada ex- periência chocante? Seria o acúmulo dentro dela de "sabedoria" e "ex- periência", mais uma crescente consciência de sua capacidade de enfren- tar essa situação? Estará ela ganhando confiança em seu poder de supor- tar desapontamentos e manter-se nos próprios pés? Estará construindo uma aceitação de sua mãe, que lhe possibilite continuar encontrando-se com ela cada vez que a Chame, através de forte fé na humanidade? Uma criança geralmente perdoa depressa e esquece as experiên- cias negativas. A Menos que as condições sejam extremamente ruins, ela aceita a vida como a encontra, tanto quanto às pessoas com quem vive. Manifesta, por todas as maneiras, uma avidez, uma curiosidade, um gran- de amor pela vida que a excita e encanta nos seus mais simples praze- res. Normalmente, uma criança gosta de crescer e lutar por isso cons- tantemente — algumas vezes, mesmo, ultrapassando-se em sua avidez. E ao mesmo terripo nunuide e orgulhosa, corajosa e temerosa, dominadora e submissa, curiosa e satisfeita, ávida e indiferente. Ama e odeia, luta e faz a paz, fica encantadoramente feliz e desesperadamente triste. Por quê? Alguns psicólogos podem explicar essas reações como exemplos de res- postas a estímulos dados. A autora prefere explica-las como reações de uma criança que está crescendo, crescendo, crescendo em experiência, crescendo em compreensão, crescendo na aceitação de si mesma e do seu 10 11 objetivamente dirigir seu comportamento através da avaliação, seleção e aplicação, a fim de alcançar sua meta definitiva na vida — uma com- pleta auto-realização — então parece estar ajustado. Por outro lado, quando falta essa confiança ao indivíduo para que ele possa dirigir abertamente o seu plano de ação, quando ele parece con- tentasse em crescer tortuosamente, em vez de diretamente, em auto-rea- lização, e faz pouco ou nada para que seus anseios sejam canalizados em direções mais construtivas e produtivas, diz-se então que é um desajus‘— tado. Os vários tipos de comportamento desajustado, tais como devaneio, fuga, compensação, identificação, projeção, regressão, repressão -- e to- dos os outros mecanismos desenvolvidos por este tipo de comportamen- to — parecem ser uma prova das tentativas interiores do indivíduo de aproximar-se de uma realização completa do conceito de si próprio Mas essa realização é alcançada de maneira "distorcida". O comportamento do indivíduo não está de acordo com o conceito interior de si mesmo que ele criou em sua tentativa de alcançar a completa auto-realização. Quan- to mais separados estão o comportamento e o conceito, maior é o grau de desajustamento. Quando o comportamento e o conceito se equivalem, este, que se constrói dentro do indivíduo, encontra expressão exterior adequada, então se diz que o indivíduo é ajustado. Não há mais um fo- co distorcido. Não há mais conflito interior. • Por exemplo, Ema quer ser um indivíduo respeitado e reconhe- cido como alguém de importância. Quer sentir que é uma Pessoa ama- da, útil e capaz. Seu meio ambiente coloca a numa situação em que lhe são negadas as condições necessárias para demonstrar exteriormente seus anseios interiores para afirmar-se a si mesma ou ã sua personalidade consciente. Por isso, tente adquirir isto de maneira tortuosa. Ela men- te, luta e se recolhe ao mundo de seus sonhos, onde pode realizes seu . auto-conceito. O mesmo acontece com Tom, Timmy e Bobby. Parece que estas-1 crianças — como qualquer outra — precisam for o sentimento de auto- estima. Esse sentimento é algumas vezes criado na criança por amor e se- gurança e uma consciência de que pertence a alguém; mas, esses fatores („ parecem ser provas, para a criança, de que está sendo aceita como i um indivíduo de valor, em vez de apenas satisfazer a sua necessidade de amor e de segurança. As crianças, cujos casos são descritos nesse livro, não possuem, em sua maioria relacionamentos que lhes forneçam amor, se- gurança e o sentimento de pertencerem a alguém, No entanto, através do processo terapêutico, adquiriram o necessário sentimento de valor pessoal, sentimento de serem capazes de dirigir a si mesmas, uma consciência crescente de que tinham dentro de si a capacidade de se manterem sobre 13 inundo. Está assimilando todos os ingredientes que se integram na con- figuração, exclusivamente sua, a que se dá o nome de personalidade. • Já foi ditomuitas vezes que há certas necessidades básicas dentro de cada indivíduo e que o organismo está lutando constantemente para as satisfazer. Quando há uma satisfação relativamente direta, diz-se que indivíduo é bem ajustado. Quando o esforço de busca de satisfação das necessidades é bloqueado, tomam-se caminhos tortuosos para se chegar a esta satisfação. Neste caso, o indivíduo é considerado desajustado. Es- sa é uma explicação muito 'superficial de ajustamento e de desajusta- mento. Não parece adequado deter-nos em aplicações das complexas ati- vidades do organismo humano. Certamente foi d-to pouco a respeito do comportamento humano, nesta explicação, para justificar as expressões "respeito paio indivíduo" e "a dignidade que é um direito nato do homem". De fato, inclinamo-nos a admirar o "tipo de comportamento desa- justado" porque parece mais complexo, mais engenhoso e mais seletivo do que aquele que é baseado na satisfação direta das necessidades. A personalidade parece desafiar a classificação, a estereotipia e os compartimentos estanques. Um indivíduo que é rígido e temeroso em uma determinada situação, ou com uma determinada pessoa, freqüente- mente reage de maneira muito diferente sob outras circunstâncias e em outros relacionamentos. O comportamento do indivíduo parece ser sem- pre causado por um objetivo: pela completa auto-realização Quan- do esse objetivo é bloqueado por pressões exteriores, a sua bus- ca não pára, mas continua com seu "momentum" intensificado por causa da força geradora de tensões, que é criada pelas frustrações. Quando um indivíduo encontra uma barreira que torna mais difícil - -ft para ele conseguir a completa realização de si mesmo, é formada uma área de resistência, atrito e tensão. O anseio pela auto-realização continua e o comportamento do indivíduo demonstra que ele está satisfazendo sua as- piração interior através de luta exterior para estabelecer seu conceito próprio no mundo da realidade, ou que ele o está satisfazendo de forniu artificiosa, confinando o em seu mundo interior, onde pode construi-10 com menor esforço. Quanto mais se volta para o interior, mais perigoso se toma; e quanto mais ele se separa do mundo da realidade, mais difícil é ajudá-lo. As manifestações do comportamento exterior dependem da integra- ção de todas as experiências passadas e presentes, condições e relaciona-- mentos e se prestam à realização dessa aspiração interior, que continua enquanto houver vida. Possivelmente, a di'erença entre o comportamento ajustado e o desajustado pode ser explicada assim: quando o indivíduo desenvolve confiança suficiente em si para arrancar o conceito que tem de próprio da terra das sombras e levá-lo até a luz do sol, e, ainda, consciente 12 seus próprios pés, de se aceitarem e de assumirem a responsabilidade de suas personalidades conscientes. Assim fazendo, foi-lhes possível sincronizar as duas projeções de suas personalidades — o que o indivíduo é dentro de si de que maneira manifesta exteriormente esse eu-interior. O indivíduo reage desse modo por causa da configuração total de todas as suas experiências. Sua reação é algo denso e complexo, que pede clarificação, objetividade, aceitação e a responsabilidade de fazer alguma coisa para isso. TERAPIA NÃO-DIRETIVA A terapia não-diretiva é baseada no pressuposto de que o indiví- duo tem dentro de si mesmo não só a capacidade de resolver os seus -1> problemas satisfatoriamente, mas também esse impulso de crescimento que faz o comportamento maduro mais satisfatório do que o comporta- mento imaturo. Esse tipo de terapia começa no ponto em que o indivíduo está e ai baseia seu processo, permitindo mudanças de minuto a minuto. du; rente o contato terapêutico; a velocidade da reorganização dep_enda_das experiências atitudes pensamentos e sentimentos que provocam o "ia_ sight", o qual é um pré-requisito para uma terapia bem suceslida. „— A terapia não-diretiva permite ao indivíduo ser ele mesmo, acel‘ -4" ter-se completamente, sem avaliação ou pressão para mudança: reconhe- ce e esclarece as atitudes emocionais expressas pela reflexão do que o cliente expressou; é por esse processo de terapia que se oferece ao In- divíduo a oportunidade de ser ele mesmo, de aprender a se conhecer, de traçar seu próprio curso abertamente e às claras — de rodar o calidos. cópia, por assim dizer, de maneira que ele forme um desenho mais sa- tisfatório para sua vida. Quando alguém considera o problema de Tom, Ema, Timmy e Bobby e as provas evidentes de que essas crianças estão desenvolvendo personalidades "deformadas", esse alguém é desafiado a fazer algo -para ajudar a cada uma delas a se entender, a se libertar de suas tensões e frustrações e a se conscientizar das poderosas forças que tem dentro de si e que estão lutando continuamente para seu crescimento, maturidade realização. LUDOTERAPIA A ludoterapia não-diretiva, como foi dito antes, pode ser descrita como uma oportunidade que se oferece à criança de poder- crescer sob melhores condições. Sendo o brinquedo seu meio natural de auto-expres, são lhe é dada a oportunidade de, brincando, mpandir seus sentimentos acumulados de tensão frustração, insegurança, agressividade, medo, es- panto e confusão. Libertando-se desses sentimentos através do brinquedo, ela se cons- cientiza deles, esclarece-os, enfrenta-os, aprende a controlá-los, ou os es- quece. Quando ela atinge uma certa estabilidade emocional, percebe sua capacidade para se realizar como um Indivíduo, pensar por si mesma, to- a— mar suas próprias decisões, tomar-se psicologicamente mais madura e, assim sendo, tornar-se pessoa. ..FA sala de ludoterapia é um bom lugar de crescimento. Na segu- faina, dessa sala, onde a "criança" é a pessoa mais importante, onde ela está no comando da situação e de si mesma, onde ninguém lhe diz o que deve fazer, ninguém critica o que faz, ninguém a importuna, faz su- gestões, estimula-a ou intromete-se em seu mundo particular, subitamen- te ela sente que pode abrir suas asas, pode olhar diretamente para den- tro de si mesma, pois é aceita completamente. Pode pôr à prova suas Idéias; pode expressar-se completamente, pois esse é seu mundo e não tem que competir mais com outras forças, tais como a autoridade adul- ta, rivais contemporâneos ou situações onde ela é um penhor humano no jogo entre pais contendores, ou onde é o alvo das frustrações e agres- sões de outras pessoas. Ela é um indivíduo dentro do seu próprio direi- to. É tratada com dignidade e respeito. Pode dizer qualquer coisa que sinta da maneira que quiser — e é aceita completamente. Pode brincar com os brinquedos do modo que gostar — e é aceita completamente. Po- de odiar e amar e ser tão indiferente quanto uma estátua — e ainda é aceita completamente. Pode ser rápida como um furacão ou lenta como uma tartaruga — e não é nem contida nem apressada. urna experiência única para a criança descobrir de repente que as sugestões, ordens, recriminações, restrições, criticas, desaprovações, aju- das e intrusões dos adultos desapareceram . Tudo isso é substituído pe- la aceitação completa e pela situação permissiva que lhe possibilita ser ela mesma. Não é de se estranhar que a criança, durante seu primeiro contato terapêutico, frequentemente demonstre espanto. O que vem a ser isso? Pica desconfiada e curiosa. Durante toda a sua vida, sempre houve al- guém para ajudá-la a viver. É possível que houvesse até quem tivesse determinado viver a sua vida por ela. De repente, essa interferência de- saparece, e ela não vive mais à sombra de alguém que a obscureça. Vê- se, de repente, à luz do sol e as únicas sombras são as que ela própria quer lançar. um desafio. E algo profundamente enraizado na criança respon- de a esse desafio claramente sentido para "ser" — para exercitar essepo- der de vida dentro de si mesma, dirigi-lo, torná-lo mais útil, decisivo e in- dividual. 14 15 Tente fazê-lo — primeiramente de maneira hesitante — depois, medida que sente liberdade e segurança na situação terapêutica, avan- ça com mais firmeza na exploração das possibilidades dessa experiência. Não está mais bloqueada por forças exteriores e o impulso dentro de si mesma para crescer não tem barreiras a contornar. A resistência psico- lógica que anteriormente encontrava, desapareceu. A presença na sala de brinquedos de uma terapeuta compreensiva amigável, que a aceite, dá-lhe essa sensação de segurança, fortalecida pelo pequeno número de limitações. A participação da terapeuta, duran- te o contato terapêutico, reforça também o seu sentimento de segurança. A terapeuta é sensível ao que a criança está sentindo e expressando atra. vês de seu brinquedo e de sua verbalização. Ela reflete essas atitudes emo- cionalmente expressas, de tal 'maneira que a ajude a compreender-se me- lhor. Ela respeita a criança, sua capacidade de manter-se sobre seus pró- prios pés e de tornar-se um indivíduo mais maduro, independente, se lhe é dada uma oportunidade para isso. Além disso, para ajudar a criança a obter uma melhor compreen- são de si mesma, através do reflexo de suas atitudes emocionais, a tera- peuta também lhe proporciona o sentimento de que a está compreenden- do e aceitando, sempre independentemente do que ela diga ou faça As-1F_ sim a terapeuta dá-lhe a coragem para aprofundar-se no seu mundo in- terior e de lá trazer o seu eu verdadeiro. Para a criança, a terapia é realmente um desafio a este impulso interior que está constantemente lutando pela realização. Um desafio que nunca foi ignorado na experiência da autora com crianças. A velocidade com que elas utilizam essa oportunidade varia de pessoa para pessoa, mas o fato de que essa variação nos graus de crescimento vem a ocorrer durante a experiência de ludoterapia, já foi demonstrado muitas vezes. Para a terapeuta, é uma oportunidade de testar a hipótese de que, se lhe é dada uma chance, a criança pode e realmente torna-se madura, mais positiva em suas atitudes, e mais construtiva na maneira pela qual expressa esse impulso interior. A autora acredita que é essa mesma força interior para a auto rea- lização, maturidade e independência que cria também as condições para o que chamamos desajustamento, que parece ser ou uma determinação agressiva da parte da criança para ser ela mesma, seja de que modo for, ou uma grande resistência ao bloqueio de sua completa auto-expressão. Por exemplo, quando Tom é repreendido por seus pais, professores, amigos, porque Sua atitude e comportamento tornaram-no inaceitável para eles, então ele teima em conservar-se assirt, embora eles o ataquem. Lutará contra eles. Ficará emburrado. Há de desafiá-los. Fingirá que cuspiu na bandeira. E. em sua completa frustração e conflito, chorará desespera- do. Isso parece ser também verdadeiro quanto às outras crianças men- cionadas neste livro. Estão lutando pela maturidade, pela independência e pelo di- reito de serem elas mesmas. Se o leitor examinar todo o material ilustrativo desse livro, tendo em mente uma pergunta — Na realidade que aconteceu a essa criança du- rante a hora de terapia? — a resposta parece saltar diante dele. Deu-se criança a oportunidade de canalizar esse crescimento interior para um modo de vida poiitivo e construtivo. Ela se agarrou avidamente a essa oportunidade, e é capaz de resolver seus próprios problemas, de fazer suas próprias escolhas, de assumir responsabilidades pelo que faz, muito mais do que lhe é usualmente permitido. Citações do que as crianças disseram ao descreverem a experiên- cia de ludoterapia, levando-se em conta que foram observações feitas espontaneamente, são mais conclusivas do que essa experiência represen- ta para elas do que qualquer coisa que a terapeuta possa dizer. Três meninos de oito anos estavam tendo sessões de lu- doterapia de grupo. Durante a oitava entrevista, Herby, de repente, per- guntou h terapeuta: "Você tem de fazer isso? Ou você gosta de fazer is- so?" E acrescentou: "Eu não saberia como fazê-lo". Ronny perguntou: "Que quer dizer com isso? É só brincar, e pronto. Só brincar." E Owen concordou com Ronny: "Claro que sim." Mas Herby continuou a dis- cutir: "Quero dizer que não saberia fazer como ela faz. Nem sei bem o que ela faz. Ela parece não fazer nada. Só que, de repente, estou livre. Dentro de mim, estou livre." (Abre largamente os braços) "Sou Herby, Frankenstein e Tojo, e um diabo." (Ri e -bate no peito) "Sou um gran- de gigante e um herói. Sou maravilhoso e• terrível. Sou bobo e esperta- lhão. Sou duas, quatro, seis, oito, dez pessoas ao mesmo tempo, e luto e mato." Terapeuta: "Você é várias pessoas numa só" Ronny: "E você fede também." Herby (lançando um olhar a Ronny): "Se eu fedo, você fede tam- bém." Terapeuta: "Você é varios tipos de pessoa quando está aqui. E maravilhoso e terrível, bobo e espertalhão..." Herby (interrompendo-a, exultante): "Sou bom e ruim e ainda con- tinuo sendo Herby. Estou lhes dizendo que sou maravilhoso. Posso ser qualquer coisa que quiser." 16 17 Aparentemente, Herby sentiu que durante a hora de terapia podia exprimir livremente todas as atitudes e sentimentos que eram uma ex- pressão de sua personalidade. Sentiu a perrnissividade e a aceitação que lhe '"permitiam ser ele mesmo. Pareceu reconhecer o poder .de auto-direção que tinha dentro de si. Outro menino de doze anos comentou durante a primeira sessão de terapia: "É tudo tão estranho. Tão diferente. Aqui você diz que eu posso fazer o que eu quiser. Não me diz o que devo fazer. Posso fazei- um bonequinho de argila Com a cara de minha professora de trabalhos manuais, e dar ela pro jacaré comer." Riu. "Posso fazer qualquer coisa. Posso ser eu!" Billy, de cinco anos de idade, sempre se referia a si próprio na se- gunda ou na terceira pessoa. Quando queria fazer. alguma coisa, como tirar seu casaco, por exemplo, ele diria: "Você vai tirar seu casaco", ao invés de "Vou tirar meu casaco." Ou "Você vai pintar", em vez de "Vou pintar." Gradativamente, durante as sessões de terapia, Billy tornou-se "eu" e, no fim de uma sessão, disse: "Eu achei a areia interessante hoje." Du- rante o sexto contato, finalmente, entrou na caixa de areia, sentou-se e correu os dedos pela areia branca e limpa, e disse com uma nota de en- cantamento na voz: "Hoje, eu entrei na caixa de areia. Aos poucos eu entrei na areia? Era bem verdade. Semana após semana, fora chegando cada vez mais perto da areia, até que, como dissertti "Hoje; eu entrei na caixa de areia." Descobrir seu caminho, testar• a si próprio, deixar revelar sua per- --,N sonalidade, tomar a responsabilidade por seus próprios atos — isso é o que acontece durante a terapia. Dúzias de exemplos semelhantes poderiam ser citados. Cada expe- riência terapêutica demonstra essa manifestação típica: a criança adqui- re a coragem de seguir em frente e de se tornar um indivíduo mais ma- duro e independente. Desde que o elemento de completa aceitação da criança parece ser de tão vital importância, vale a pena um estudo mais profundo. Aceita- ção de quê? A resposta parece ser — aceitação da criança e a firme cren- ça de que esta seja capaz de auto-determinação — respeito por sua ca- pacidade de tomar se um ser humano pensante, independente e constru- tivo. A aceitação parece também implicar numa compreensão desse mo- vimento ininterrupto em direção à completa auto-realização, como um indivíduo psicologicamente livre e que, portanto, pode funcionar com sua capacidade máxima. Uma pessoa ajustada é aquela que não encontra 18 excesso de obstáculos em seu caminho — e a quem se deu a oportuni- dade de se libertar e dese fazer independente e dona de si. A desajustada é aquela a quem, de uma maneira ou de outra, negou-se o direito de coa- seguir tudo isso sem ter de Inter../ Um exame de nossos arquivos demons- tra-o repetidamente. As vezes o indivíduo é rejeitado e posto de lado. As vezes, é sufocado por cuidados que, ao mesmo tempo que o amparam, tornam mais difícil para ele romper as barreiras. Os indivíduos não ma- nifestariam os sintomas de seu comportãmento, a menos que estivessem lutando para conseguir um status individual. Os caminhos que buscam para isso são muitos e variados, mas têm em comum a resistência do indivíduo contra o bloqueio de sua maturidade e independência. Mesmo-1 a criança dominada, que se torna rigidamente dependente, consegue in- dependência deste modo. A criança mimada, que se recusa a aprender a ler na escola, parece, à primeira vista, estar lutando por independência e maturidade. Este poderia ser o caminho mais eficaz que descobriu para manter-se no controle da situação, e é por isso uma satisfação para ela, já que que isso expressa seu poder de dirigir-se e de individualizar-se. Esta é uma hipótese que traz controvérsia e é apresentada apenas como uma interpretação de observações primárias feitas em relatórios de ludotera- 1 pia: o crescimento interior do indivíduo ocorre algumas vezes, mim es- 1, paço de tempo inacreditavelmente pequeno, mas está sempre presente, 1 i seja em grau maior ou menor. —.., ? [—Muitos casos comprovam que a única necessidade do indivíduo é Ls. . viver sem amarras, ser libertado e poder expandir-se completamente, sem e desgastar numa luta frustrante, para que seu impulso interior possa ser satisfeito. Isso não significa que ele tenha se preocupado tanto consigo mesmo, que o resto do mundo cesse de existir para ele. Significa que ele aspira à liberdade de realizar naturalmente esse impulso interior, sem que seja necessário fazer disso o objetivo central de sua vida; e, ainda, cana- lizar todas as suas energias para uma luta contra barreiras que impedem sua maturidade e que tornam sua atenção voltada para o interior de si mesmo. Quando esse impulso interior é satisfeito natural e constantemen- te — desde que crescimento é um processo contínuo, tanto quanto a vi- da — isso é excelente. O indivíduo adquire maturidade física e precisa adquirir maturidade psicológica, para equilibrar a balança. Assim como o indivíduo utiliza sua crescente independência física para estender os limites de seu potencial físico, ele usa sua crescente Independência psicológica para alargar as fronteiras de sua capacidade mental. A criança que sabe correr, anda mais depressa do que a que só sa- be engatinhar. A que aprendeu a falar pode comunicar-se de maneira 19 ..4,[ Muito mais eficaz do que a que apenas sabe balbuciar. Com a maturi- dade, vem o crescimento do Indivíduo para abarcar o mundo, na medida em que lhe é possível incorporá-lo . ao seu esquema de vida. E é assim durante a vida inteira. A criança psicologicamente livre pode obter mui- to mais, de urna maneira construtiva e criadora, do que outra que gasta todas as suas energias numa batalha tensa e frustrante para se libertar e tingir o seu status como indivíduo. Ela será um indivíduo. Se não o conseguir por um meio legitimo, procurá-lo-á através de ações substitutas. É assim que a criança tem acessos de mau-humor, faz pirraças, fica emburrada, sonha acordada, bri- ga e tenta chocar os outros com seu comportamento. Os professores di- zem muitas vezes, quando tentam "manobrar" uma dessas exibições: "Dê- em-lhe alguma responsabilidade dentro da sala!" — e têm usado outros artifícios semelhantes, tentando vir de encontro à necessidade da criança de ser reconhecida como uma pessoa de valor. Similarmente, durante a ludoterapia, clã-se à criança a possibilidade de realizar .esse poder que tem, dentro de si, de tornar-se ela mesa Os brinquedos auxiliam o processo porque são o meio natural de auto-expressão da criança. É o material geralmente concedido à criança como propriedade sua. Brincar livremente é para ela uma expressão do que quer fazer. Eia pode orientar O seu muncTõ essa a razão pela qual Io terapeuta não deve dirigir o brinquedo de maneira alguma' Ele coloca nas mãos da criança o que lhe pertence — nesse caso, os brinquedos e a seu uso não-dirigido. Quando ela brinca livremente e sem ser dirigida, es- tá expressando a sua personalidade. Está experimentando um período de pensamento e ação independentes. Está liberando os sentimentos e atitudes que desde há algum tempo vêm lutando para sair em campo aberto. i _... Por isso é que não parece necessário dar à criança a consciência de que ela tem um problema para que ela possa usufruir das vantagens da sessão de terapia. Muitas cripnçoq. utilizaram a experiência terapêutica e emergiram dela com sinais visíveis de atitudes mais maduras, e mesmo assim, nunca chegaram a tomar consciência de que isso era mais do que um período de brinquedo livre. A ludoterapia não-diretiva não pretende ser um meio de substituir um tipo de comportamento "pouco desejável", por outro que é conside- rado mais desejável pelos padrões adultos. Não é uma tentativa de impor à criança a voz da autoridade, que diz: "Você tem um problema. Eu que- ro que você o corrija". Quando isso acontece, a criança o recebe com re- sistência — seja ela ativa ou passiva. Ela não quer ser manipulada. Aci- ma de tudo, luta para ser ela mesma. Padrões de comportamento que não foram escolhidos por ela são coisas inconsistentes que não valem a pena o tempo e o esforço requeridos para forçar sua assimilação. O tipo de terapia que estamos descrevendo é baseado numa teoria positiva das capacidades individuais. Não está limitado a nenhum cresci- mento do indivíduo. É, antes de tudo, um ponto de partida. Começa de o indivíduo está e deixa-o ir tão longe quanto ele é capaz de ir. Por is- so é que não há entrevistas de diagnóstico antes da ludoterapia. Sem levar em conta o comportamento sintomático, o indivíduo é encontrado pelo te-. rapeuta no ponto em que está É essa a razão porque a interpretação de- ve ser evitada o mais possível. O que aconteceu no passado, é fato passa- do. Já que a dinâmica da vida está constantemente mudando a relativi- dade das coisas, uma experiência passada é colorida pelas interações da vi- da e está também constantemente mudando. Tudo que tente impedir o crescimento do indivíduo é uma experiência bloqueadora. Trazer à tara- pia o seu passado, elimina a possibilidade de que ele tenha crescido nesse meio tempo, e, conseqüentemente, o passado não tem mais o mesmo sen- tido que tivera anteriormente. Perguntas de sondagem são também elimi- nadas pela mesma razão. O Indivíduo selecionará as coisas que, para ela, são mais importantes, quando estiver pronto para fazê-lo. Quando o tara- - pauta não-diretivo diz que a terapia está centrada no cliente, realmente quer dizer isso, porque, para ele, o cliente é a fonte de poder vivo que di- rige o crescimento de dentro para fora. Durante uma experiência de ludoterapia, esse tipo de relacionamen- to é feito entre o terapeuta e a criança, o que permite à última revelar seu verdadeiro eu e, -- conseguindo a sua aceitação — e através dessa acei- tação, tendo crescido sua auto-confiança — ela é mais capaz de estender as fronteiras da sua personalidade. A criança mora num mundo todo seu e poucos são os adultos que a compreendem realmente. A vida moderna é tão agitada e opressora, que fica difícil, para a criança, estabelecer com os adultos o relacionamento intimo e delicado que é necessário à compreensão do que se passa em seu interior. Muitas pessoas tentam explorar a sua personalidade e, assim ela defende a sua identidade. Mantém-se de lado, divertindo-se com coi- sas que para ela são muito mais interessantes eimportantes. Inclinada atentamente sobre uma coisa qualquer, a criança satil.P faz sua insaciável curiosidade e seus interesses sensoriais. O adulto acha graça ou a critica, quando ela anuncia, tendo na voz a emoção de j uma verdadeira descoberta: "Olha, essa areia é áspera, grossa e não tem gosto de nada Gosto de nada é assim?" Ou: "Esaa tinta de dedo está suan- do — suando como lama vermelha ou lama verde — êta laminha suada!" Ou a observação: "Gente indo do trabalho pra casa, do trabalho pra casa, do trabalho pra casa. Indo pro leste quando vão do trabalho pra casa — indo jantar. Amanhã vão voltar de novo. Vão voltar de novo. VãoS voltar de novo pro oeste. Virão pro oeste de manhãzinha e voltarão pro traba- lho." Ou, no caso do menininho de cinco anos que está olhando pela ja- 4— 20 21 nela, para uma grande igreja que há na vizinhança: "Olha lá a igreja, o igrejão. A igreja que sobe até lá no céu. A igreja que toca música. A igre- ja que toca unia, duas, três, quatro vezes quando são quatro horas. Uni igrejão com estacas em volta e onde todo o pessoal vai." E após uma. longa pausa: "E céu! Um montão de céu, lá em cima. E um passarinho. E um avião. E fumaça." E depois de uma pausa mais longa: "E Dibs na janelinha, olhando pr'aquele trenhão." "Daqui aquilo ali parece enorme pra você", disse-lhe a terapeuta, tran- qüilamente. "É verdade. Grandãp. Muito grandão." "Tudo parece grande, muito grande", disse a terapeuta. Dibs sai da janela. Ele suspira. "Mas Dibs não", disse ele. "Dibs não é do tamanho da igreja." Há ritmo, poesia e agudeza nessa observação. Os adultos estão as vezes tão apressados, que não têm tempo para apreciar as crianças. O menininho de cinco anos que fez essa observação, três meses antes fora classificado como "estranho, lento, incapaz de comunicação com os ou- tros." Nossa cultura impõe a dependência na criança — mas ela continua a crescer independente em seu mundo interior. Na hora da terapia — uma vez que a criança tenha adquirido confiança no terapeuta e o tenha acei- tado tanto quanto ele a aceitou — passa a compartilhar • com ele seu mun- do interior e, através dessa participação, alargam os horizontes de seus mundos. TERAPIA NÃO-DIRETIVA EM GRUPO Falamos até agora, em nossa discussão, somente da terapia indivi- dual. Atualmente as técnicas de ludoterapia não-diretiva podem ser apli- cadas também em grupo. A terapia de grupo é uma experiência tera- pêutica não-diretiva acrescida dos elementos da avaliação simultânea do comportamento e das reações das personalidades urnas sobre as outras. A experiência em grupo insere na terapia um elemento bastante realista, porque a criança convive com outras crianças, tendo, portanto, que con- siderar as reações delas e desenvolver um respeito aos sentimentos de cada uma. Entretanto, o grupo que participa da terapia não-diretiva não é como um "clube", um "grupo recreativo" ou "grupo educacional"; nem é considerado como substituto para uma "situação familiar." óbvio que em casos onde os problemas das crianças são centra- lizados em torno do ajustamento social, a terapia em grupo .pode ser me- lhor sucedida que o tratamento individual. Por outro lado, em casos on- de os problemas giram em tomo de uma dificuldade emocional, profun- 22 damente lorali7ada, a terapia individual parece ser melhor para a crian- ça. Uma vez que freqüentemente é impossível determinar exatamente o que é o elemento fundamental dos problemaa da criança, talvez seja a melhor política lhe oferecer ambos os contatos — individual e em gru- po — quando tal arranjo é possível. . Os problemas de terapia em grupo são melhor discutidos na tercei- ra parte, onde a aplicação dos princípios não-diretivos é discutida data- lhadamente; também no capitulo 18, onde um registro completo da te- rapia em grupo é apresentada e avaliado e, no capítulo 19, no qual é apresentado o caso de Ema, em que se fez uma combinação dos dois ti- pos de contatos. SEMELHANÇAS COM O ACONSELHAMENTO NÃO-DIRETIVO Os princípios da ludoterapia não-diretiva, que são discutidos neste livro, são baseados na técnica de aconselhamento não-diretivo, a qual foi desenvolvida pelo Dr. Carl R. Rogers, e é explicada- detalhadamente no 4 r" seu livro Councpling and 1Psychotherapv (1) O aconselhamento não-diretivo é, em verdade, mais que uma técnica. É uma filosofia das potencialidades humanas que realça a capacidade in- terior de cada indivíduo se dirigir: E unia experiência que envolve duas pessoas e que dá unidade de propósito àquela que está procurando ajuda — tomar consciência da maneira mais completa possível do concei- to que tem de si mesma,' emergir num todo integrado sem conceitos con- flitantes entre o "eu" e o "mim", ou seja, entre o auto-conceito interior e o comportamento exterior. Considerando-se a ênfase fundamentalmente localizada na partici- pação ativa do individuo nesta experiência evolutiva, o termo "não-dire- tivo" parece não ser adequado. Enquanto esse - termo descreve acurada- mente o papel do conselheiro o qual é mantido por suficiente auto-disci- plina para freiar qualquer impulso que possa tirar a responsabilidade do cliente, é certamente inadequado quando se refere ao papel do cliente. Ao invés deste, o termo "terapia auto-diretiva" parece dar uma descrição mais honesta e acurada. O relacionamento estabelecido entre o conselheiro e o cliente, neste tipo de terapia, é um resultado das atitudes básicas do terapeuta, as quais lhe tornam possível aceitar, sem reservas, os direitos inalienáveis do in- divíduo se auto-dirigir. O conselheiro não põe ou tira estas atitudes como um paletó; elas são parte integrante de sua personalidade. — Baseada nestas atitudes do terapeuta, a estrutura da terapia auto-di- ii.--- retiva abrange: completa aceitação do cliente como ele é e permissividade (1) — Boston: llonghton 111IfflIn Company, 1042 23- c ra que este use a hora de aconselhamento da maneira que . pa achai: apro- priada. Ele é quem indica o caminho que a entrevista deve seguir. Sele- dona o que lhe é importante. Assume a responsabilidade de tomar de- cisões. Faz as interpretações. E supera seu problema na atmosfera de .--a, mútuo respeito que caracteriza este relacionainento. Traça o seu curso de ação — um curso positivo que corresponde ao seu impulso interno em ireção à maturidade. . Embora tenhamos enfatizado bastante a parte do cliente, o conse- lheiro não é um agente passivo nesta experiência. De certa forma ele é o desencadeador da reação, que habilita o cliente a discernir suas atitudes emocionais e, pela avaliação intelectual delas, o faz aceitá-las ou não na reorientação de seus pontos de vista. O conselheiro obtém este resultado pelo desenvolvimento de uma com- preensão de seu cliente, a qual o sensibiliza para as atitudes emocionais que vão sendo expressas por ele. Através de clarificações acuradas e seletivas c dessas atitudes expressas, o terapeuta as isola da torrente de emoções, de forma que o cliente possa identificá-las e conhecê-las pelo que são: e, conseqüentemente, constrói um consistente código de valores, que lhe dá força e estabilidade para manter um honesto relacionamento com os k...outros. O conselheiro é modesto em, sua conduta e, em momento algum, precede seu cliente, uma vez que sabe que este é seu próprio condutor que "ele", não o terapeuta, é o fator determinante de seu comportamento. No cálido e amigável relacionamento que o conselheiro estabelece, cliente é capacitado a se enfrentar honestamente, a sentir-se seguro neste relacionamento genuinamente cooperativo e a experimentar uma absoluta conjunção neste esforço de obter um completo auto-conheci- mento e auto aceitação. Como resultado de um bem sucedido aconselha- mento não-diretivo, o cliente parece adquirir uma sólidafilosofia de vi- da, a qual é resumida nos seguintes termoe: ele ganha respeito por si mesmo como um indivíduo de valor, aprende a aceitar-se, concede a si mesmo a permissividade para utilizar todas as suas capacidades, assume responsabilidades por si mesmo. Além disso aplica esta filosofia no seu re- lacionamento com os outros 'já que ele tem o verdadeiro respeito e aceitação deles como são, e acredita em suas capacidades, ele acaba por lhes conceder permissividade para utilizarem-se delas, deixando-os assumir suas próprias responsabilidades e tomar suas próprias decisões. Quando as técnicas não-diretivas ou auto-diretivas são aplicadas ao tratamento de crianças, seus resultados são .grandemente significativos. Se uma criancinha rejeitada, insegura, Sem amo; sem suceiso, sem qual- quer sentimento de posse, encontra este desafio para realizar, plenamente os seus mais íntimos potenciais, pode opor-se às ignominiosas humilha- 24 ções de sua sorte e mostrar sinais positivos de um comportamento mais maduro e responsável. Se isso acontece, então os 'edueadores e assisten- tes sociais e industriais deveriam considerar valioso reexaminar como são empregams suas contribuições para o desenvolvimento do indivíduo e reconhecer a capacidade potencial de cada um, contribuindo para uni me- lhor relacionamento humano. Aqui, também, a responsabilidade do indi- viduo para com os outros está na razão direta da quantidade de Liber- dade que lhe é confiada. • • Quando a pessoa aprende a se conhecer completamente, então tor- na-se seu próprio guia e é uru homem verdadeiramente livre. Se o acon- selhamento — ou• psicoterapia (chame-o domo quiser) .7-- não-diretivo é . um meio de libertação •individual que pode tornar o indivíduo mais es- pontãneo, criador e feliz, então é necessário maior estudo e sua aplica- ção em maior escala. Se isto parece ser um meio de oferecer hospitalidade emociona \ para as crianças atribuladas e confusas, então parece muito _justo que seja tentado. Agora- que já tivemos-umaS introdução geral à ludoterapia, antes que nos dediquemos a um estudo mais detalhado da situação terapêutica e dos princípios que governam sua conduta, .voltemos a um caso atual pa- ra ver como a ludoterapia não-diretiva funciona. Vamos ao caso de Tom. aquela criança-problema que encontramos no capítulo 1. • COMO FUNCIONA- A LUDOTERAPIA? O CASO DE TOM Tom tinha 12 anos, inteligência acima da média, boa aparência, mas era seriamente desajustado em casa e na escola Foi levado à ludoterapa porque era anti-social, agressiva e se desculpava dizendo que todo mundo tratava mal. Tinha um padrasto e uma meia-irmã muito mais nova, que era a preferida da familia. Passara a maior parte de sua vida com a avó materna, mas, dois anos antes de ter sido levado à ludoterapia, sua mãe o havia trazido para morar com ela, o padrasto e a meia-irmã. Tom não se deu bem com eles. Nem com as outras crianças na escola, porque nunca lhe haviam permi- tido brincar com outras crianças até aquela idade, tendo, portanto, pro- blemas de ajustamento à vida em comum. Nesse caso o leitor notará como o menino rápida e nitidamente ex- primiu seus problemas, principalmente através do uso de fantoches co- mo meio de expressão. interessante notar como as atuações dos fanto- ches representaram seus relacionamentos. O pai e o diretor da escola re 25 presentavam uma autoridade ditatorial para ele. Seus sentimentos ambi- valentes em relação ao pai mostravam-se através de dois papéis diferen- tes, representados pelos fantoches: primeiro ele batia no "pai" e depois, defendiam. A brincadeira da criança estava definitivamente relacionada com seus sentimentos, atitudes e problerrias. PRIMEIRO CONTATO Tom veio para a sala de brinquedos de paletó e chapéu e assPntou- se à mesa. Tinha nas mãos um apito de metal e ficou mexendo com ele o tempo todo em que esteve sentado. Evitava os olhos da terapeuta. Tom: Bem, aqui estou eu. Vim justamente porque... por curiosi- dade. Eu não conseguia entender o que minha mãe estava falando. Ela me disse que você ia me ajudar com meus problemas, mas eu não tenho nenhum problema. Terapeuta: Você acha que não tem nenhum problema, mas sua curio- sidade faz você querer examinar isto. Tom: Oh! Sim! Eu sou curioso, sempre meto meu nariz em tudo. Achei que deveria vir e ver. Terapeuta: você gostaria de ver como é o aconselhamento. Tom: Aconselhamento. Esta é a palavra que eu não conseguia lem- brar. Ah! Eu não tenho problema nenhum. (Pausa.) Faceto que... Bem... Munmm... Meu pai... Padrasto realmente... Eu não posso ficar mo- rando com ele e nem ele comigo, e, quando ele está em casa e eu também, há problemas, problemas, problemas. Eu faço muito barulho. Eu estou atrapalhando. Só sei que nós não podemos ficar juntos. A única hora em que eu consigo aguentar minha casa é quando ele não está. Terapeuta: Você e seu pai não conseguem ficar juntos. Tom: meu padrasto Terapeuta: Seu padrasto. Tom: Mas eu não tenho nenhum problema. Terapeuta: Você acha que o fato de você e seu padrasto não pode- rem ficar juntos não seja um problema. Tom: Não, isso mesmo. Todos os meninos me perseguem. Eles não gostam de mim. (Pausa.) Acho que nada tenho a dizer. Mamãe disse que eu ia falar sobre meus problemas, mas eu não tenho nenhum. Terapeuta: Vamos esquecer o que sua mãe disse. Vam- os falar sobre qualquer coisa que você queira, ou não conversar sobre coisa alguma, se você prefere. 26 Tom: Como o episódio da bandeira na semana passada, por pio? Você quer ouvir sobre isto? A turma me atacou porque eu disse que cuspi na bandeira e disse "Hen Hitler!" A turma toda avançou em mirn, mas eu não cuspi de verdade, não, eu só falei para fazer raiva neles. Acre- dite. E consegui. Terapeuta: Você queria enfurecê-los e na verdade o fez. Tom: Eu não sei porque fiz isso. Eu, na verdade não cuspiria na bandeira. Eu sou um bom americano. Eu tenho respeito bastante pela bandeira para não cuspir nela. Mas é isto que eu fiz. Eles rne atacaram em turma e me bateram. Tinha muitos contra mim. " Terapeuta: Você não consegue entender porque às vezes faz coisas como esta. Tom: Nem porque eu brigo às vezes. Eu só... mas eu nãO tenho nenhum problema. Terapeuta: Você não gosta de admitir que tem problema. Tom (rindo): Depende do tamanho dele. Eu tenho coisas maiores que problemas. Meu pai adotivo. Nossa professora substituta, caramba, ela é danada. E ninguém gosta de mim. Não sei por quê. Eu acho que não existe nenhuma pessoa que não tenha problemas. Terapeuta: Você acredita que todo mundo tem problemas e que na verdade você não é diferente de ninguém. Tom: Somente eu é que tenho que admitir que tenho problemas. Mas os outros não. Terapeuta: Você está pronto para começar a admitir que tem pro- blemas. Tom: Minha vida não é nenhum piquenique. Terapeuta: Você não é muito feliz. Tom: Alguém vai ficar sabendo o que eu digo? Mamãe ou alguém mais? Você está escrevendo o que eu estou desabafando? Terapeuta: Estou tomando algumas notas. Mas a qualquer pessoa, jamais será dito qualquer coisa que você disser aqui. Tom (num suspiro profundo): Você sabe que isto é uma situação bastante estranha. Você está escrevendo tudo? Terapeuta: Só um pouco. Somente para minha própria orientação. To.-n: Está bem. (Longa pausa.) Tom: As professoras não importam com o que acontece. Ninguém toma conhecimento do que está se passando com o "cara" e, agora, aqui, 27 já é depois da aula e você nem mesmo é minha professora. Eu não vou te Incomodar. Não vou te esquentar a cabeça. E também... (Sacode os ombros.) Terapeuta: Você não acha que os Outros se importam bastante com o que acontece a um "cara" e também... Tom: Eu estava curioso. Terapeuta: Você estavacurioso. Tom: De certo! Bem.., eu... não há nada que realmente me inco- mode. Não mesmo, eu acho. Não vou me importar com isto. Terapeuta: Você acha que está tudo hem, sob controle. Tom: Bem... Ah... Somente eu... eu não consigo pensar nada pra dizer. Não tenho nada a dizer. Terapeuta: Se você não tem nada a dizer, então não tem que dizer nada. (Pausa.) Se você quiser voltar na próxima quinta-feira, eu estarei aqui. Se não quiser também, eu gostaria que me dissesse isso na próxima quinta-feira às três horas. Tom: Sim Tá certo. Terapeuta: Se você quiser ir embora agora, você pode ir. Se quiser ficar mais, também pode. Você pode usar este tempo do modo que você quiser. Tom: Sim. (Tirando o paletó e O chapéu.) Eu não estou com pressa. Terapeuta: Você acha que pode ficar um pouco mais. Tom: Sim. Eu quero dar unia olhada nisso por aqui. Você não im- porta, né? Terapeuta: Olhe o que quiser. Tom (olhando tudo o que há na sala): Eu aposto que as criancinhas gostam é de pintar. Terapeuta: Você acha isto? Tom: Eu também gosto. Mas só na minha sala de aula... Digo... Só que na minha sala de aula... Olha, se eu já tive algum problema, é esta professora substituta. Eu te garanto que se ela te desse uma caixa de bombons, você morreria de indigestão. Terapeuta: Você não gosta da substituta. Tom: Ainda bem que você entendeu. (Examina a argila.) Isto se- ria divertido também. (Pega uni fantoche.) Eu poderia fazer uni punhado de poças engraçadas só com as embrulhadas em que •me meto. Minha au- tobiografia dá pra chorar. 28 Terapeuta: Você acha que sua vida é triste. Tom: Bem, eu acho que ela é cheia de coisas. Estou sempre em con- fusão. (Coloca o fantoche na mão.) Agora olha aqui. Eu vou te matar se você não fizer como eu estou falando, tá vendo? (A voz é completamen- te mudada — baixa, profunda, ameaçadora.) Terapeuta: Ele sente como se estivesse matando alguém. Tom: Eu também, às vezes. Só que eu não faço de verdade (Rindo) Respeito pela lei e tudo o mais, você sabe, não é? Eu vou te contar o quê. Da próxima vez que eu vier eu vou fazer um teatrinho. Ato I: Minha vi- da e meus problemas. Terapeuta: Combinado. Da próxima vez que você vier você vai re- presentar sua vida e seus problemas. Tom (brincando com vários fantoches): Tenho certeza que consigo fazer um desses. Terapeuta: Você acha que é capaz de fabricar fantoches. (Ele con- tinua a brincar com eles.) Seu tempo por hoje acabou-se, Tom. Tom: Bem, até logo. Volto amanhã. Desde o inicio Tom usou os fantoches durante a maior parte de seu tempo na sala de brinquedos. Ele dramatizou seus problemas familiares e externou seus sentimentos agressivos Cdrigidos ao pai, irmã e escola. TRECHO DO SEGUNDO CONTATO Tom chega e faz a montagem de um teatrinhO de fantoches. Pega um fantoche-menino. Tom (segurando o fantoche): Este é FiOnny, o mau menino. Rapaz! Ele é mau Ele agora está em casa e na cama. Seu pai está no andar de baixo. Ele quer que o pai suba. O pai de Ronny está sempre mandando nele. (Ri.) Mas ele não vai muito longe com Ronny não, conforme você vai ver. Tom dirige esta fala inicial à terapeuta. Durante a "peça" ele ma- nipula todos os fantoches e muda completamente seu tom de voz, cada vez que um personagem diferente fala. Pai (num horrível tom de voz): "Ronny, saia da cama". Ronny (sonolento): "Não quero." Pai: "Você me ouviu? Você sai da cama ou eu..." Ronny: "Ou eu... o quê?" Pai: "Ou eu subo ai e te faço sair." Ronny: "Não precisa fazer este escândalo todo." Pai: "Se apronte e vai para a escola." Ronny: "Eu não quero ir para a escola. Eu não gosto da escola. Além disso eu... eu... estou com dor de barriga." Pai: "Dor de barriga? Você é um mentiroso. Você é burro. Não aprende nada na escola." lionnY: "Por que é que eu não aprendo?" Pai: "Porque você é burro. Você é o branco mais burro que eu já vi." Ronny: "Eu não sou burro. Eu vou te mostrar. Eu vou... Eu vou... Eu vou... Bem, eu vou..." (O pai espanca Ronny.) Ronny: "Ai, ai. Você é desgraçado, homem miserável." Pai: "Agora você faz o que eu disse." Ronny: "Eu vou fugir de casa. Eu vou." (O fantoche é lançado ao chão.) Pai: "Por que seu cachorrinho? Eu vou atras de você." (O pai de- saparece.) O palhaço encontra Ronny.) Palhaço: "MÓ. Aonde você está indo? Eu sou Dopey, o Palhaço". Ronny: "Eu sou Ronny, o Menino Mau. E tou fugindo de casa." Palhaço: "Oh! Venha comigo. Vamos achar alguma coisa engreçada para fazer." (Unta bonequinha.fantoche vem no lugar do palhaço A me- nininha está gritando.) Menina: "Eu quero minha mamãe. Eu perdi minha mamãe." Ronny: "Vai embora. Eu não gosto de pirralhos." Menina: "Eu perdi minha mamãe." Ronny: "Isto é mesmo mal! Isto é uma calamidade." (A menini- nha grita mais alto que antes.) "Aonde você mora?" Menina: "Eu... Eu... Eu... Eu não sei." Ronny: "Como é que sua mãe chama?" Menina: "Mamãe". Ronny: "O primeiro nome?" Menina: "Mamãe." Ronny: "O nome do melo?" Menina: "Mamãe." Ronny: ao Último nome?" Menina: "Mamãe." Ronny: "Agora eu quero saber quem que é o burro." (A menina chora e grita Ronny sal de cena e entra o pai.) Pai: "O que houve? O que aconteceu?" Menina: "Aquele menino me bateu." (A menina desaparece e Ron- ny retorna à cena.) Ronny: "Não fui eu não. Não fui eu não. Eu bem que queria mas não tinha feito isto ainda." Pai: "Qual é o seu nome?" Ronny: "Ronny." Pai: "Ronny de quê?" Ronny: "Roony Gooseberry." Pai: "Você é um espertalhão." Ronny: "Eu sou um espertalhão? Eu odeio a mira mesmo por ser um espertalhão." Pai: "Escute!" Ronny "Escuta você" Pai: "Porque eu vou te matar." Ronny: "Vamos ver se vai mesmo." (O pai e Ronny se engalfinham. Ronny bate no pai e este pede clemência.) Pai: "Eu vou mandar meu filho te bater." (Ronny desaparece e retorna, desta vez significando o filho.) Ronny: "Está precisando de mim, Pai?" Pai: "Você vai pegar aquele menino. Ele me bateu." (O pai sai de 'cena. Outro menino-fantoche aparece no lugar do pai.) Ronny (para o garoto): "Eu vou te passar uma esfrega Você bateu no meu pai." (Dá-se uma lata terrível. Ronny vence.) "Isto é de cansar qualquer um." (A menina volta à cena. Emmy bate nela. A garota grita e desapa- rece. O pai volta.) Pai: "Alô seu velhaco. Se você bater nela de novo eu vou te espan- car." 30 31 Ronny: "Aposto que você não consegue." Pai: "Quer ver?" (O pai bate nele. Ronny grita. O pai desaparece.) Ronny: "Eu deveria ter ido para a escola. Estou com fome. Mas às vezes eu acho que a escola é mais segura." Palhaço: "Sanduíches! Sanduíches! Dez centavos! Sanduíches!" Ronny: "Eu s6 tenho uni níquel." Palhaço: "Eu vou vender um para você pelo preço camarada de um níquel." _ (Tom aparece subitamente e interrompe o teatro neste momento.) Tom: Agora são cachorros-quentes. A gente não consegue às vezes controlar o espetáculo. (Tom desaparece de novo ) Ronny: "Eu vou para casa. Seria melhor não ir. Meu pai, ele vai me matar. Eu vou entrar às escondidas no meu quarto." Palhaça: "Sanduíches! Dez centavos." Diretor: "Não." Ronny: "Então não permito que me acuse." Diretor: "Eu vou dar uma surra em você." Ronny: "Vai?" Diretor: "Por que você não vai para casa?" Ronny: "Porque eu não quero ir." Diretor: "Seria melhor que você fosse." Ronny: "Eu não vou lá hoje. Eu vou matar aula." Diretor: "Você não deve fazer isso." Tom: Fora! (Os fantoches desaparecem.) (Fora de cena, Tom grita e geme.) Voz fora de cena: "Oh! Eu cai no lago. Oh! Socorro! Socorro! So- corro!" (O pai e Ronny aparecem.) Ronny: "Aqui, me dá um." Ronny: "Alô pai." Palhaça (grita): "Por que você... seu falsificador! Eu quero dinhei- ro de verdade." (Ronny bate
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