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600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 1 www.cursoenfase.com.br Sumário Sumário ........................................................................................................................... 1 1. Diferenças entre Sociedades de Economia Mista e Empresas Públicas ................ 2 2. Agências Reguladoras ............................................................................................. 5 3. Poderes Administrativos....................................................................................... 11 3.1 Poder Regulamentar ......................................................................................... 11 3.2 Poder Discricionário X Poder Vinculado ........................................................... 13 3.3 Poder Discricionário X Poder Vinculado ........................................................... 14 3.4 Poder Disciplinar ............................................................................................... 16 3.5 Poder de Polícia ................................................................................................ 21 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 2 www.cursoenfase.com.br 1. Diferenças entre Sociedades de Economia Mista e Empresas Públicas Há três diferenças essenciais: a) Quanto à composição do capital social: O particular não participa do capital social de uma empresa pública. As empresas públicas unipessoais são aquelas integradas por único sócio ou acionista e as empresas públicas pluripessoais cujo capital social é formado por diversos acionistas. O Decreto Lei 200/1967, que dispõe sobre a organização da Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras providências, define a empresa pública unipessoal: Art. 5º (...) II - Emprêsa Pública - a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, com patrimônio próprio e capital exclusivo da União, criado por lei para a exploração de atividade econômica que o Govêrno seja levado a exercer por fôrça de contingência ou de conveniência administrativa podendo revestir-se de qualquer das formas admitidas em direito. (Redação dada pelo Decreto-Lei nº 900, de 1969) Atente-se que a lei autoriza a criação, não criando diretamente (o dispositivo não foi recepcionado pela Constituição Federal). O artigo 5º do Decreto Lei nº 900/1969 dispõe sobre a empresa pública pluripessoal: Art . 5º Desde que a maioria do capital votante permaneça de propriedade da União, será admitida, no capital da Emprêsa Pública (artigo 5º inciso II, do Decreto-lei número 200, de 25 de fevereiro de 1967), a participação de outras pessoas jurídicas de direito público interno bem como de entidades da Administração Indireta da União, dos Estados, Distrito Federal e Municípios. Não há menção, conforme se observa na leitura dos dispositivos acima, acerca da participação de capital privado na composição de empresas públicas. A lei nº 13.303/2016, que dispõe sobre o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, definiu empresa pública no artigo 3º. Leia-se: Art. 3o Empresa pública é a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, com criação autorizada por lei e com patrimônio próprio, cujo capital social é integralmente detido pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios. Parágrafo único. Desde que a maioria do capital votante permaneça em propriedade da União, do Estado, do Distrito Federal ou do Município, será admitida, no capital da 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 3 www.cursoenfase.com.br empresa pública, a participação de outras pessoas jurídicas de direito público interno, bem como de entidades da administração indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Em relação à sociedade de economia mista, o particular participa do seu capital social. Veja-se a definição contida no Decreto Lei 200/1967: Art. 5º (...) III - Sociedade de Economia Mista - a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, criada por lei para a exploração de atividade econômica, sob a forma de sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em sua maioria à União ou a entidade da Administração Indireta. (Redação dada pelo Decreto-Lei nº 900, de 1969) Mais uma vez, atualize-se que a lei apenas autoriza a criação, conforme dispõe a Lei nº 13.303/2016: Art. 4o Sociedade de economia mista é a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, com criação autorizada por lei, sob a forma de sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em sua maioria à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios ou a entidade da administração indireta. b) Quanto ao tipo societário: A sociedade de economia mista terá de adotar o tipo societário de sociedade anônima. Conforme se leu acima, a empresa pública poderá revestir-se de qualquer das formas admitidas em direito. Quando o artigo 3º da Lei das Estatais (Lei 13.303/16) definiu empresa pública, repetiu quase todo o texto anterior, não mencionando a parte final acerca da possibilidade de ação de qualquer tipo societário. O artigo 5º do Decreto Lei nº 200 não foi revogado, no entanto. O artigo 7º da Lei das Estatais dispõe: Art. 7o Aplicam-se a todas as empresas públicas, as sociedades de economia mista de capital fechado e as suas subsidiárias as disposições da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e as normas da Comissão de Valores Mobiliários sobre escrituração e elaboração de demonstrações financeiras, inclusive a obrigatoriedade de auditoria independente por auditor registrado nesse órgão. Logo, a Empresa Pública deve seguir à risca à Lei de Sociedades Anônimas, independentemente do tipo que se resolva adotar. Isso reduz a importância dessa diferença. c) Foro competente: 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 4 www.cursoenfase.com.br As empresas públicas têm seus conflitos dirimidos pela Justiça Federal. A Constituição Federal em seu artigo 109, I, nada estipula no sentido de que a Justiça Federal possuiria competência para apreciar uma causa na qual uma sociedade de economia mista federal figurasse como parte. Leia-se: CF/88 Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; Dessa forma, a Justiça Estadual é competente para julgar as causas nas quais figurem as sociedades de economiamista federais. Além do mais, o Supremo Tribunal Federal editou as seguintes súmulas: Súmula 517 As sociedades de economia mista só têm foro na Justiça Federal, quando a União intervém como assistente ou opoente.1 Outra súmula, ainda do Supremo Tribunal Federal: Súmula 556 1Nota do Monitor: Importante julgado demonstra a aplicação da súmula no STF: Jurisprudência posterior ao enunciado ● Conflito negativo de atribuições entre Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal Ementa: "Agravo regimental na ação cível originária. Conflito negativo de atribuições. Ministério Público Federal e Ministério Público Estadual. Ação de improbidade administrativa por atos de dirigente de sociedade de economia mista da qual a União é acionista majoritária. Interesse da União que não se caracteriza por si só. Conflito resolvido para assentar a atribuição do Ministério Estadual do Espírito Santo para atuar no caso sub examine, ressalvado o deslocamento para a Justiça Federal, e, consectariamente, para o Ministério Público Federal, no caso de eventual interesse superveniente da União. Súmula nº 517/STF. Agravo a que se nega provimento. 1. A ação de improbidade administrativa que se volta contra dirigente de sociedade de economia mista da qual a União é acionista majoritária não acarreta, por si só, a presunção de violação de interesse, econômico ou jurídico, da União. 2. In casu, não se vislumbra, a priori, interesse jurídico direto da União apto a fixar a competência da Justiça Federal, e por conseguinte, a atribuição do Parquet Federal. 3. Agravo regimental a que se nega provimento." (ACO 2.438 AgR, Relator Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, julgamento em 24.2.2015, DJe de 10.3.2015). No mesmo sentido: ACO1213 AgR, Relator Ministro Roberto Barroso, Primeira Turma, julgamento em 7.10.2014, DJe de 30.10.2014; ACO 987, Relatora Ministra Ellen Gracie, Tribunal Pleno, julgamento em 4.8.2011, DJe de 23.8.2011. 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 5 www.cursoenfase.com.br É competente a Justiça Comum para julgar as causas em que é parte sociedade de economia mista. É relevante a leitura do acórdão abaixo: "Tal como constatou a decisão agravada, as peças que compõem o presente caderno processual não evidenciam nenhum concreto interesse da União que possa justificar a atuação do Ministério Público Federal, nos termos dos arts. 37 e 39 da LC nº 75/1993 e do art. 109 da CF/88. Ao menos no atual estágio das apurações, portanto, incumbe ao Ministério Público estadual prosseguir no esclarecimento de eventual irregularidade praticada pelo Banco do Brasil S/A, nos termos das Súmulas 517 e 556/STF: (...)" (ACO 1213 AgR, Relator Ministro Roberto Barroso, Primeira Turma, julgamento em 7.10.2014, DJe de 30.10.2014) Pergunta-se: A quem compete apreciar mandado de segurança impetrado contra ato decisório de dirigente do Banco do Brasil em um determinado concurso público para ingresso na entidade? Resposta: À justiça federal. CF/88 Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais; 2. Agências Reguladoras Agências reguladoras são autarquias de regime especial. São pessoas de direito público que possuem regime muito específico. São criadas por lei para o desempenho de uma função regulatória. As agências reguladoras têm origem no regime norte-americano, contempladas nas figuras das independent agencies e independent regulatory agencies, destinadas à regulação econômica ou social. Atente-se que a administração pública direta também pode desempenhar a função reguladora. Interessam as seguintes características: a) Mandato fixo – seus dirigentes são submetidos à sabatina. CF/88 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 6 www.cursoenfase.com.br Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: (...) III - aprovar previamente, por voto secreto, após argüição pública, a escolha de: (...) f) titulares de outros cargos que a lei determinar; A ADI 1949-0/RS examinou a constitucionalidade de dispositivos da legislação gaúcha que criou a Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (AGERGS). Em sede de Ação Direta de Inconstitucionalidade, o STF assim se manifestou: EMENTA Ação direta de inconstitucionalidade. Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (AGERGS). Necessidade de prévia aprovação pela Assembleia Legislativa da indicação dos conselheiros. Constitucionalidade. Demissão por atuação exclusiva do Poder Legislativo. Ofensa à separação dos poderes. Vácuo normativo. Necessidade de fixação das hipóteses de perda de mandato. Ação julgada parcialmente procedente. 1. O art. 7º da Lei estadual nº 10.931/97, quer em sua redação originária, quer naquela decorrente de alteração promovida pela Lei estadual nº 11.292/98, determina que a nomeação e a posse dos dirigentes da autarquia reguladora somente ocorra após a aprovação da indicação pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. A Constituição Federal permite que a legislação condicione a nomeação de determinados titulares de cargos públicos à prévia aprovação do Senado Federal, a teor do art. 52, III. A lei gaúcha, nessa parte, é, portanto, constitucional, uma vez que observa a simetria constitucional. Precedentes. 2. São inconstitucionais as disposições que amarram a destituição dos dirigentes da agência reguladora estadual somente à decisão da Assembleia Legislativa. O voluntarismo do legislador infraconstitucional não está apto a criar ou ampliar os campos de intersecção entres os poderes estatais constituídos sem autorização constitucional, como no caso em que se extirpa a possibilidade de qualquer participação do governador do estado na destituição do dirigente da agência reguladora, transferindo-se, de maneira ilegítima, a totalidade da atribuição ao Poder Legislativo local. Violação do princípio da separação dos poderes. 3. Ressalte-se, ademais, que conquanto seja necessária a participação do chefe do Executivo, a exoneração dos conselheiros das agências reguladoras também não pode ficar a critério discricionário desse Poder. Tal fato poderia subverter a própria natureza da autarquia especial, destinada à regulação e à fiscalização dos serviços públicos prestados no âmbito do ente político, tendo a lei lhe conferido certo grau de autonomia. 4. A natureza da investidura a termo no cargo de dirigente de agência reguladora, bem como a incompatibilidade da demissão ad nutum com esse regime, haja vista que o art. 7º da legislação gaúcha prevê o mandato de quatro anos para o conselheiro da agência, exigem a fixação de balizas precisas quanto às hipóteses de demissibilidade dos dirigentes dessas entidades. Em razão do vácuo normativo resultante da inconstitucionalidade do art. 8º da Lei estadual 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudênciados Tribunais. 7 www.cursoenfase.com.br nº 10.931/97 e tendo em vista que o diploma legal não prevê qualquer outro procedimento ou garantia contra a exoneração imotivada dos conselheiros da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (AGERGS), deve a Corte estabelecer, enquanto perdurar a omissão normativa, as hipóteses específicas de demissibilidade dos dirigentes dessa entidade. 5. A teor da norma geral, aplicável às agências federais, prevista no art. 9º da Lei Federal nº 9.986/2000, uma vez que os dirigentes das agências reguladoras exercem mandato fixo, podem-se destacar como hipóteses gerais de perda do mandato: (i) a renúncia; (ii) a condenação judicial transitada em julgado e (iii) o procedimento administrativo disciplinar, sem prejuízo de outras hipóteses legais, as quais devem sempre observar a necessidade de motivação e de processo formal, não havendo espaço para discricionariedade pelo chefe do Executivo. 6. Ação julgada parcialmente procedente para declarar a inconstitucionalidade do art. 8º da Lei estadual nº 10.931/97, em sua redação originária e naquela decorrente de alteração promovida pela Lei estadual nº 11.292/98, fixando-se ainda, em razão da lacuna normativa na legislação estadual, que os membros do Conselho Superior da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (AGERGS) somente poderão ser destituídos, no curso de seus mandatos, em virtude de renúncia, de condenação judicial transitada em julgado, ou de processo administrativo disciplinar, sem prejuízo da superveniência de outras hipóteses legais, desde que observada a necessidade de motivação e de processo formal, não havendo espaço para discricionariedade pelo chefe do Executivo. (ADI 1949, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 17/09/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-224 DIVULG 13-11-2014 PUBLIC 14-11-2014) Em discussão na ADI 1949, a constitucionalidade de dispositivos de Lei do estado do Rio Grande do Sul (artigos 7º e 8º da Lei Estadual 10.931/1997, com redação conferida pelo artigo 1º da Lei Estadual 11.292/1998) que estabelecem, como requisito para nomear, empossar e destituir conselheiros da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do estado, prévia autorização da Assembleia Legislativa. O Plenário suspendeu a vigência do artigo 8º em novembro de 1999, que versa sobre a destituição do cargo. O relator Dias Toffoli fixou premissas sobre a regulação estatal e o regime de ingresso e saída dos dirigentes das agências. Em seu voto ficou assentado que a participação do chefe do Executivo na exoneração dos conselheiros das agências reguladoras não pode ficar a critério discricionário, pois, “tal fato poderia subverter a própria natureza da autarquia especial, destinada à regulação e à fiscalização dos serviços públicos prestados no âmbito do ente político, tendo a lei lhe conferido certo grau de autonomia”. Para o relator, “a razão de ser das [agências] reguladoras é criar um ambiente de estabilidade no estado fora das influências dos Poderes Executivo e Legislativo”. 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 8 www.cursoenfase.com.br Com esse precedente do STF as hipóteses de perda de mandato pelos dirigentes das agências reguladoras se limitam à renúncia, condenação judicial transitada em julgado e procedimento administrativo disciplinar, sem prejuízo de outras hipóteses legais. b) Recurso hierárquico impróprio – é o recurso dirigido contra a decisão de uma agência reguladora a ser apreciado pelo órgão à qual está vinculada. Recorde-se que a independência da agência reguladora não a torna desvinculada da administração pública direta. Há controle finalístico, não sendo seres estranhos à administração. A esse respeito, Advocacia Geral da União, no parecer nº AC – 051: PORTO DE SALVADOR. THC2. DECISÃO DA ANTAQ. AGÊNCIA REGULADORA. CONHECIMENTO E PROVIMENTO DE RECURSO HIERÁRQUICO IMPRÓPRIO PELO MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES. SUPERVISÃO MINISTERIAL. INSTRUMENTOS. REVISÃO ADMINISTRATIVA. LIMITAÇÕES. I - -O Presidente da República, por motivo relevante de interêsse público, poderá avocar e decidir qualquer assunto na esfera da Administração Federal- (DL nº 200/67, art. 170). II - Estão sujeitas à revisão ministerial, de ofício ou por provocação dos interessados, inclusive pela apresentação de recurso hierárquico impróprio, as decisões das agências reguladoras referentes às suas atividades administrativas ou que ultrapassem os limites de suas competências materiais definidas em lei ou regulamento, ou, ainda, violem as políticas públicas definidas para o setor regulado pela Administração direta. III - Excepcionalmente, por ausente o instrumento da revisão administrativa ministerial, não pode ser provido recurso hierárquico impróprio dirigido aos Ministérios supervisores contra as decisões das agências reguladoras adotadas finalisticamente no estrito âmbito de suas competências regulatórias previstas em lei e que estejam adequadas às políticas públicas definidas para o setor. IV - No caso em análise, a decisão adotada pela ANTAQ deve ser mantida, porque afeta à sua área de competência finalística, sendo incabível, no presente caso, o provimento de recurso hierárquico impróprio para a revisão da decisão da Agência pelo Ministério dos Transportes, restando sem efeito a aprovação ministerial do Parecer CONJUR/MT nº 244/2005. V - A coordenação das Procuradorias Federais junto às agências reguladoras pelas Consultorias Jurídicas dos Ministérios não se estende às decisões adotadas por essas entidades da Administração indireta quando referentes às competências regulatórias desses entes especificadas em lei, porque, para tanto, decorreria do poder de revisão ministerial, o qual, se excepcionalmente ausente nas circunstâncias esclarecidas precedentemente, afasta também as competências das Consultorias Jurídicas. O mesmo ocorre em relação à vinculação das agências reguladoras aos pareceres ministeriais, não estando elas obrigadas a rever suas decisões para lhes dar cumprimento, de forma também excepcional, desde que nesse mesmo âmbito de sua atuação regulatória. VI - Havendo disputa entre os Ministérios e as agências reguladoras 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 9 www.cursoenfase.com.br quanto à fixação de suas competências, ou mesmo divergência de atribuições entre uma agência reguladora e outra entidade da Administração indireta, a questão deve ser submetida à Advocacia-Geral da União. VII - As orientações normativas da AGU vinculam as agências reguladoras. VIII - As agências reguladoras devem adotar todas as providências para que, à exceção dos casos previstos em lei, nenhum agente que não integre a carreira de Procurador Federal exerça quaisquer das atribuições previstas no artigo 37 da MP nº 2.229-43/2001. O parecer foi aprovado pelo Presidente da República, possuindo efeitos vinculantes no âmbito da administração pública federal. Para a interposição do recurso hierárquico impróprio, portanto, só pode ser interposto quando a decisão da agência for ilegal ou quando se afastar das políticas públicas criadas e definidas pelo governo. c) Possuem maior autonomia técnica – especialmentequando se comparam as agências reguladores com outras autarquias. Fala-se em discricionariedade técnica. O Princípio da Deferência informa que em matéria eminentemente técnica, que envolve aspectos multidisciplinares (telecomunicações, concorrência, direito de usuários de serviços públicos), convém que o Judiciário atue com a maior cautela possível - cautela que não se confunde com insindicabilidade, covardia ou falta de arrojo.2 As agências reguladoras atuam, com muita frequência com fundamento na deslegalização de matérias de sua competência. Deslegalização é um instituto de origem estrangeira e é, também, chamada de delegificação, significa a retirada, pelo próprio Legislador, de certas matérias do domínio da lei (domaine de la loi) passando-se ao domínio do regulamento (domaine de l´ordonnance). 2 Lastreado nos princípios da separação dos poderes e da legalidade, o princípio da deferência não significa nem tolerância nem condescendência para com a ilegalidade. Mas impõe o devido respeito às decisões discricionárias proferidas por agentes administrativos aos quais foi atribuída essa competência privativa. Os órgãos de controle externo podem controlar o devido processo legal e a consistência da motivação nas decisões discricionárias, mas não podem se imiscuir no núcleo duro daquela competência. Precisam respeitá-la e garantir aos administradores públicos a segurança jurídica de suas decisões. MOREIRA, Bockmann Moreira. Crescimento econômico, discricionariedade e o princípio da deferência. Disponível em: http://www.direitodoestado.com.br/colunistas/egon-bockmann-moreira/crescimento-economico- discricionariedade-e-o-principio-da-deferencia. Acesso em: 01 set. 2016. 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 10 www.cursoenfase.com.br Ocorre deslegalização quando o Legislativo rebaixa hierarquicamente determinada matéria (que antes era tratada por lei) para que ela possa vir a ser tratada por regulamento, por exemplo. O Supremo Tribunal Federal tem aceitado o fenômeno, como se pode ler no exemplo abaixo: EMENTA: CONSTITUCIONAL. VALOR DO SALÁRIO MÍNIMO. ART. 3. DA LEI N. 12.382, de 25.2.2011. VALOR NOMINAL A SER ANUNCIADO E DIVULGADO POR DECRETO PRESIDENCIAL. DECRETO MERAMENTE DECLARATÓRIO DE VALOR A SER REAJUSTADO E AUMENTADO SEGUNDO ÍNDICES LEGALMENTE ESTABELECIDOS. OBSERVÂNCIA DO INC. IV DO ART. 7. DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE. 1. A exigência constitucional de lei formal para fixação do valor do salário mínimo está atendida pela Lei n. 12.382/2011. 2. A utilização de decreto presidencial, definida pela Lei n. 12.382/2011 como instrumento de anunciação e divulgação do valor nominal do salário mínimo de 2012 a 2015, não desobedece o comando constitucional posto no inc. IV do art. 7o. da Constituição do Brasil. A Lei n. 12.382/2011 definiu o valor do salário mínimo e sua política de afirmação de novos valores nominais para o período indicado (arts. 1o. e 2o.). Cabe ao Presidente da República, exclusivamente, aplicar os índices definidos legalmente para reajuste e aumento e divulgá-los por meio de decreto, pelo que não há inovação da ordem jurídica nem nova fixação de valor. 3. Ação julgada improcedente. (ADI 4568 / DF - DISTRITO FEDERAL) O decreto que será emitido não conterá inovação legislativa pelo Poder Executivo. Ele teria natureza administrativa/enunciativa/declaratória. O que houve foi a criação de um diálogo institucional entre os dois Poderes: o Legislador contribui com sua representatividade plural, delimitando regras gerais e o Executivo implementa e concretiza essas normas com seu conhecimento técnico. d) Exercem Poder Regulatório – não é o mesmo que o Poder Regulamentar. Regulação é palavra que denota preocupação com organização, ordem, consenso, harmonia. Poder Regulamentar possui origem no direito e é exercido para o detalhamento de previsões legais genéricas. O Poder regulatório possui como papel central detalhar previsões legais genéricas, mas não somente isso. Através da regulação exerce o Poder de polícia, fiscalizar, aplicar sanções, editar regras que são capazes de delimitar a liberdade dos destinatários do poder regulatória. Pode exercer função adjudicatória, dirimindo conflitos entre as pessoas por ela fiscalizadas. O fundamento constitucional do Poder Regulatório é o Artigo 174 do texto magno: 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 11 www.cursoenfase.com.br Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. 3. Poderes Administrativos 3.1 Poder Regulamentar O Poder Regulamentar possui fundamento constitucional em artigo diferente: Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; Eis os famosos regulamentos de execução ou decretos regulamentares. Nessa perspectiva, da leitura da parte final do inciso IV, depreende-se que o fundamento de validade dos chamados regulamentos de execução, previstos nesse inciso, é a lei. Esses são atos administrativos voltados para o detalhamento do que a lei não esmiuçou. Assim, a lei é o fundamento de validade dos regulamentos, mas também seu limite. Tais atos não podem inovar no ordenamento jurídico ou criar obrigação não prevista em lei. Poder regulamentar é privativo do presidente da república? Para Carvalho Filho, não. Para a maioria dos autores, no entanto, sim. Observação: A expressão “poderes administrativos” é muito criticada na doutrina por ser considerada inadequada. Isso porque quando se fala em “poderes” da administração, não se está falando propriamente em poderes, mas em atividades, funções de incumbência da administração pública que devem ser levadas a cabo com o propósito específico de concretizar o interesse da coletividade. Por conta dessa ideia de que os poderes administrativos são instrumentais para a defesa do interesse público, a doutrina define que eles têm natureza jurídica de poderes- deveres e não exclusivamente de poderes. A doutrina e o ordenamento brasileiro historicamente não aceitavam como regra a existência dos chamados “regulamentos autônomos” ou “independentes”, os quais criariam obrigações não previstas em lei, por entender que haveria violação ao princípio constitucional da legalidade. 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 12 www.cursoenfase.com.br Maria Zanella di Pietro aceita a excepcional hipótese de edição de regulamentos autônomos para tratar apenas das hipóteses com previsão específica na Constituição. Leia- se o exemplo mais claro, segundo a autora: Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) VI – dispor, mediante decreto, sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) O Plenário do Supremo Tribunal Federal manteve, por maioria (9 x 1), a validade da Resolução nº 7/2005 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que vedou a contratação de parentes de magistrados, até o terceiro grau, para cargos de chefia, direção e assessoramento no Poder Judiciário. EMENTA: AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE, AJUIZADA EM PROL DA RESOLUÇÃO Nº 07, de 18.10.05, DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. ATO NORMATIVO QUE "DISCIPLINA O EXERCÍCIO DE CARGOS, EMPREGOS E FUNÇÕES POR PARENTES, CÔNJUGES E COMPANHEIROS DE MAGISTRADOS E DE SERVIDORES INVESTIDOS EM CARGOS DE DIREÇÃO E ASSESSORAMENTO, NO ÂMBITO DOS ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS". PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. 1. Os condicionamentos impostos pela Resolução nº 07/05, do CNJ, não atentam contra a liberdade de prover e desprover cargos em comissão e funções de confiança. As restrições constantes do ato resolutivo são, no rigor dos termos, as mesmas já impostas pela Constituição de 1988, dedutíveis dos republicanos princípios da impessoalidade, da eficiência, da igualdade e da moralidade. 2. Improcedência das alegações de desrespeito ao princípio da separação dos Poderes e ao princípio federativo. O CNJ não é órgão estranho ao Poder Judiciário (art. 92, CF) e não está a submeter esse Poder à autoridade de nenhum dos outros dois. O Poder Judiciário tem uma singular compostura de âmbito nacional, perfeitamente compatibilizada com o caráter estadualizado de uma parte dele. Ademais, o art. 125 da Lei Magna defere aos Estados a competência de organizar a sua própria Justiça, mas não é menos certo que esse mesmo art. 125, caput, junge essa organização aos princípios "estabelecidos" por ela, Carta Maior, neles incluídos os constantes do art. 37, cabeça. 3. Ação julgada procedente para: a) emprestar interpretação conforme à Constituição para deduzir a função de chefia do substantivo "direção" nos incisos II, III, IV, V do artigo 2° do ato normativo em foco; b) declarar a constitucionalidade da Resolução nº 07/2005, do Conselho Nacional de Justiça. (ADC 12 / DF - DISTRITO FEDERAL) 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 13 www.cursoenfase.com.br Na avaliação do ministro Carlos Ayres Britto, o CNJ “não invadiu seara reservada ao Poder Legislativo, mas limitou-se a exercer as competências constitucionais que lhe foram reservadas”. O ministro fez uma comparação com as medidas provisórias, ao lembrar que elas também têm força de lei, com aplicação imediata, e destacou que, em respeito aos princípios da moralidade, da eficiência, da impessoalidade e da igualdade “deve-se tomar posse nos cargos, e não dos cargos”. 3.2 Poder Discricionário X Poder Vinculado Poder Vinculado é o exercido pelo administrador com fiel observância do espaço de conformação autorizado pelo administrador de maneira vinculada. O administrador não possui liberdade para apreciar conveniência e oportunidade. Exemplo: ato de licença (preenchidos os requisitos legais, o administrador deve atuar de acordo com os parâmetros estabelecidos na lei). Poder Discricionário é aquele conferido por lei ao administrador público para que, nos limites nela previstos e com certa parcela de liberdade, adote, no caso concreto, a solução mais adequada satisfazer o interesse público através de uma avaliação de conveniência e oportunidade. Diferentemente da arbitrariedade, a discricionariedade pressupõe uma atuação compatível com o interesse público. Em alemão, a expressão que designa o espaço para a margem de apreciação discricionária é “Ermessensspielraum”. O fundamento desse Poder é o princípio constitucional da separação dos Poderes, que prevê a existência de atos reservados a cada um dos Poderes, havendo a reserva judicial (Judiciário), a reserva legislativa (Legislativa) e a reserva administrativa (Executivo). O Poder Judiciário controla atos vinculados e discricionários. No exercício dos atos discricionários não adentra no mérito (conveniência e oportunidade), mas controla a legalidade e a legitimidade do ato, a proporcionalidade da medida, a eficiência, compatibilidade com a moralidade. Alguns autores de vanguarda anotam que se deu ao Poder Judiciário maior atribuição para imiscuir-se no âmago do ato administrativo, a fim de, mesmo nesse íntimo campo, exercer o juízo de legalidade, coibindo abusos ou vulnerações aos princípios constitucionais. 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 14 www.cursoenfase.com.br 3.3 Poder Discricionário X Poder Vinculado O Poder Hierárquico foi apresentado e defendido por Hely Lopes Meirelles e passou a ser aceito como tal pela doutrina, em que pese a resistência de alguns autores. Definição apresentada por Hely Lopes: Poder hierárquico é o de que dispõe o executivo para distribuir e escalonar as funções de seus órgãos, ordenar e rever a atuação de seus agentes, estabelecendo a relação de subordinação entre os servidores de seu quadro de pessoal. Assim, ser um poder interno e permanente da administração pública são características do Poder Hierárquico. Tal poder autoriza a ocorrência de algumas situações importantes, como a delegação e a avocação de competências e a possibilidade de a administração exercer permanentemente uma supervisão dos atos praticados pelos subordinados. Por isso, o superior hierárquico na administração pode exercer permanentemente uma supervisão dos atos praticados por seus subordinados. A delegação independe de relação hierárquica. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial. Esta regra aplica-se à delegação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos presidentes. O Poder Hierárquico, em regra, caminha junto com o poder de punir o subordinado. Esta regra nem sempre se verifica. É possível que a punição seja aplicada por órgão que não seja hierarquicamente superior. É muito natural que ocorram situações em que a punição disciplinar é aplicada pelo superior hierárquico daquele que está recebendo a punição. Porém, apesar de se aproximarem em alguns momentos, os poderes hierárquico e disciplinar são diferentes. O Poder Disciplinar é o poder de apurar as faltas cometidas por determinado servidor ou pessoa que possua relação especial com a administração. Pode ser exercido por alguém que não seja superior hierárquico daquele que está sendo investigado. Então, o poder disciplinar não está necessariamente imbricado com o poder hierárquico. A Lei nº 9.784 (Lei do Processo Administrativo Federal) traz alguns dispositivos importantes que irão normatizar a questão de delegação de competência. Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de delegação e avocação legalmente admitidos. 600.06 Direito Administrativo IO presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 15 www.cursoenfase.com.br A avocação de competências corresponde à hipótese em que um indivíduo que está em posição de superioridade hierárquica recolhe algumas competências daquele que está em uma posição hierarquicamente inferior e passa a exercê-las. É um ato que depende dessa relação de hierarquia daquele que recolhe as competências em relação ao que deixa de exercê-las. Assim, a avocação é fundada no poder hierárquico. Por sua vez, a delegação não depende do poder hierárquico. A autoridade delegante pode realizar a delegação de suas competências para uma autoridade de hierarquia inferior, hipótese mais comum, ou para alguém que não seja seu subordinado, que estará em posição semelhante ao delegante. Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial. Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos presidentes. Ademais, a autoridade para qual foi delegada a competência ou a autoridade que avoca a competência para si, ou seja, aquela que recebe as competências, irá agir e responderá pelos atos que praticar durante o período em que estiver no exercício da competência. Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publicados no meio oficial. § 1o O ato de delegação especificará as matérias e poderes transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e os objetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva de exercício da atribuição delegada. § 2o O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela autoridade delegante. § 3o As decisões adotadas por delegação devem mencionar explicitamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo delegado. Tanto o ato de delegação quando a revogação do ato precisam ser publicados no meio oficial. O art. 13 traz as restrições, tratando dos atos que não podem ser objeto de delegação. Art. 13. Não podem ser objeto de delegação: I - a edição de atos de caráter normativo; 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 16 www.cursoenfase.com.br II - a decisão de recursos administrativos; III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade. Quando um administrador, fundado supostamente no exercício do seu poder hierárquico, atuar fora de suas competências haverá um vício de excesso de poder. É uma espécie do gênero, abuso de poder do qual a outra espécie é o desvio de finalidade. Logo, quando o ato é praticado fora dos poderes daquele agente, o exame da finalidade do ato acaba se tornando irrelevante mesmo que esteja tutelando o interesse público. 3.4 Poder Disciplinar O Poder Disciplinar é um poder interno da administração, por só poder se aplicado aqueles que detêm uma relação especial com a administração, e consiste na possibilidade de a administração pública aplicar punições, sanções aos agentes que cometam infração funcional. Então, um particular que não se relaciona de nenhuma forma diferenciada com a administração não poderá ser objeto do Poder Disciplinar, o que o diferencia do Poder de Polícia que pode atingir qualquer pessoa. Além disso, a doutrina destaca que tal poder tem também a característica de não ser permanente, pois só será exercido se houver suspeita, notícia ou informação de que o agente público cometeu uma infração funcional. No que tange à característica da “discricionariedade” do poder disciplinar, existe certa divergência. 1ª corrente: A doutrina afirma que o Poder Disciplinar é discricionário em razão da existência de certa discricionariedade do administrador para a definição da pena do agente público. 2ª corrente: O poder disciplinar seria vinculado quanto ao seu exercício, mas discricionário com relação à sanção aplicada. Havendo a notícia de uma falta, o poder deve ser exercido e, caso a falta seja constatada, a punição deverá ocorrer, havendo discricionariedade quando a sanção aplicada. 3º corrente: Adotada pelos Tribunais superiores, rechaça-se a ideia de que o Poder Disciplinar seja uma atividade discricionária. Este seria vinculado vez que só existiria uma 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 17 www.cursoenfase.com.br pena adequada a cada conduta. Assim, a atuação do administrador no exercício de tal poder é vinculada. Aqui considera-se o “princípio da adequação punitiva”, segundo qual haveria apenas uma pena adequada para a punir cada uma das condutas. Ademais, o Poder Disciplinar pode ser aplicado aos agentes públicos e, em algumas situações, a particular, como no caso daqueles que contratam com a administração pública. Logo, a regra geral é que os particulares não podem ser atingidos por esse poder que é interno à administração pública. A Lei nº 8.112 prevê seis penalidades diversas para as faltas cometidas por servidores públicos estatutários federais. É importante destacar que a administração pública não pode inventar punição não prevista em lei. Art. 127. São penalidades disciplinares: I - advertência; II - suspensão; III - demissão; IV - cassação de aposentadoria ou disponibilidade; V - destituição de cargo em comissão; VI - destituição de função comissionada. O poder judiciário pode controlar as questões afetas à legalidade das sanções aplicadas, utilizando parâmetros, como a proporcionalidade da sanção aplicada. O exame de proporcionalidade é um exame de legalidade e não consiste no exame de mérito da questão. Analisada a adequação, a necessidade e a proporcionalidade em sentido estrito da sanção aplicada, o poder judiciário poderá anulá-la caso perceba que houve um vício de legalidade na aplicação da mesma. Porém, não pode revogar a sanção ou substituir o exame do administrador pelo seu. A sanção de cassação de aposentadoria ou disponibilidade pela prática de um ilícito punível com demissão enquanto o agente estava na atividade. A pena de cassação de aposentadoria como manifestação do Poder Disciplinar tem sido questionada, inclusive no Supremo Tribunal Federal. 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 18 www.cursoenfase.com.br O Artigo 142 da Lei 8.112 trata do prazo prescricional para a aplicação da pena disciplinar. Art. 142. A ação disciplinar prescreverá: I - em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e destituição de cargo em comissão; II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão;III - em 180 (cento e oitenta) dias, quanto à advertência. § 1o O prazo de prescrição começa a correr da data em que o fato se tornou conhecido. § 2o Os prazos de prescrição previstos na lei penal aplicam-se às infrações disciplinares capituladas também como crime. § 3o A abertura de sindicância ou a instauração de processo disciplinar interrompe a prescrição, até a decisão final proferida por autoridade competente. § 4o Interrompido o curso da prescrição, o prazo começará a correr a partir do dia em que cessar a interrupção. Importante: O STJ entende que a prescrição começa a correr na ocasião da ciência de qualquer autoridade da administração pública, não apenas a partir da ciência da autoridade com competência para aplicar a punição. A prescrição da punição disciplinar será regida pela regra prescricional do direito penal quando o ilícito administrativo também configurar crime e o ilícito penal estiver sendo apurado na seara própria. Ainda, deve-se atentar ao fato de que não se deve reenviar o tema da prescrição ao Direito Penal para se aplicar prazo prescricional inferior ao previsto na Lei 8.112. O prazo prescricional fica interrompido durante a sindicância ou o processo disciplinar até a decisão final proferida por autoridade competente. Nos casos em que os procedimentos demoram demasiadamente (tendo em vista que, de acordo com a Lei 8.112, os processos disciplinares devem demorar, no máximo, cento e quarenta dias), o STJ entende que a prescrição resta interrompida a partir da instauração de um processo por meio de uma portaria válida até o julgamento final ou até 140 dias, caso o processo seja concluído após esse prazo. 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 19 www.cursoenfase.com.br Outro ponto importante está contido no artigo 128 da Lei 8.112. Leia-se: Art. 128. Na aplicação das penalidades serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela provierem para o serviço público, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes funcionais. Parágrafo único. O ato de imposição da penalidade mencionará sempre o fundamento legal e a causa da sanção disciplinar. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) O Artigo 132 é um exemplo de caso no qual se prevê pena específica para uma determinada conduta (especificamente prevista): Art. 132. A demissão será aplicada nos seguintes casos: I - crime contra a administração pública; II - abandono de cargo; III - inassiduidade habitual; IV - improbidade administrativa; V - incontinência pública e conduta escandalosa, na repartição; VI - insubordinação grave em serviço; VII - ofensa física, em serviço, a servidor ou a particular, salvo em legítima defesa própria ou de outrem; VIII - aplicação irregular de dinheiros públicos; IX - revelação de segredo do qual se apropriou em razão do cargo; X - lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional; XI - corrupção; XII - acumulação ilegal de cargos, empregos ou funções públicas; XIII - transgressão dos incisos IX a XVI do art. 117. 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 20 www.cursoenfase.com.br Pode ocorrer, em um determinado caso concreto, que a pena de demissão se torne desproporcional. Observe-se que no inciso XIII, a remissão que se faz é às transgressões abaixo: Art. 117. Ao servidor é proibido: (Vide Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001) (...) IX - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade da função pública; X - participar de gerência ou administração de sociedade privada, personificada ou não personificada, exercer o comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou comanditário; (Redação dada pela Lei nº 11.784, de 2008 XI - atuar, como procurador ou intermediário, junto a repartições públicas, salvo quando se tratar de benefícios previdenciários ou assistenciais de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou companheiro; XII - receber propina, comissão, presente ou vantagem de qualquer espécie, em razão de suas atribuições; XIII - aceitar comissão, emprego ou pensão de estado estrangeiro; XIV - praticar usura sob qualquer de suas formas; XV - proceder de forma desidiosa; XVI - utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em serviços ou atividades particulares; Ao servidor é proibido participar de gerência ou administração de sociedade privada, personificada ou não personificada, exercer o comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou comanditário. É possível, a partir do acervo probatório, que reste demonstrado que a aplicação da pena de demissão seja exagerada. Na aplicação das penalidades serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela provierem para o serviço público, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes funcionais. O Artigo nº 128 da Lei 8.112 se aplica mesmo nos casos em que o legislador já escolheu determinada sanção para condutas 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 21 www.cursoenfase.com.br específicas. O caso concreto irá definir se há espaço para que se invoque o disposto no artigo nº 128. O tema da comunicabilidade das instâncias é relevante e deve ser comentado. Observe-se o disposto no Código Civil: Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal. Na esfera disciplinar, haverá a incidência do artigo acima. Se o servidor for condenado pela prática de corrupção vincula a administração pública que deverá demitir o servidor. Na absolvição penal em que o magistrado reconhece a inexistência da autoria e materialidade haverá repercussão na esfera administrativa impedindo a punição. Se a absolvição na esfera criminal ocorrer por ausência de provas, a punição poderá ocorrer na esfera disciplinar pelo resíduo administrativo. STF SÚMULA 18 Pela falta residual, não compreendida na absolvição pelo juízo criminal, é admissível a punição administrativa do servidor público. Recorde-se que a aplicação da sanção administrativa pode ser aplicada provisoriamente (sem necessidade de preclusão administrativa) e, após recurso, é possível ainda a reformatio in pejus. O que é inadmissível é agravar a situação do servidor pelo mesmo fato. Exemplo: servidor punido com suspensão de 15 dias tem sua pena revista e aumentada pela própria administração. Quando a administração pública aplica uma sanção ao servidor, ainda que esta sanção esteja errada, se ela já foi cumprida não pode substituir por outra porque isso seriadupla punição pelo mesmo fato. A Constituição Federal, no entanto, previu que o CNJ e o CNMP podem rever sanções aplicadas pelos tribunais locais ou pelos Ministérios Públicos locais. 3.5 Poder de Polícia O poder administrativo mais importante é o Poder de Polícia. Vai além de um poder, tornando-se uma função da administração pública, uma obrigação. Destina-se a delimitar a 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 22 www.cursoenfase.com.br liberdade e/ou a propriedade do administrado. Não restringe, atente-se, não há diminuição ou supressão da liberdade ou propriedade. Delimita. Não há direito a indenização em razão do regular exercício do poder de polícia. O que o Estado faz através do Poder de Polícia é apenas esclarecer qual o alcance da liberdade individual e do direito de propriedade. Para a doutrina, o Poder de Polícia possui dois sentidos, o amplo e o restrito. Sentido amplo: expressão equiparada a “Poder de Polícia” em si, engloba qualquer intervenção estatal, inclusive aquelas oriundas do poder legislativo, destinadas a delimitar a liberdade ou propriedade privada. Aqueles que adotam tal conceito, como a professora Maria Zanella di Pietro, entendem que tanto restrições impostas pela administração pública, portanto, pelo Poder Executivo, como restrições impostas pelo Poder Legislativo, através de lei, poderiam ser englobadas no poder de polícia. Sentido restrito: expressão equipara a “polícia administrativa”. Engloba apenas as limitações impostas à liberdade e à propriedade pela administração pública corresponderiam ao exercício do Poder de Polícia. Esse conceito afasta como forma de exercício de tal poder as limitações impostas por lei. Assim, são consideradas como Poder de Polícia apenas limitações administrativas, ou seja, atos praticados pela administração, com fundamento em lei, como atos da vigilância sanitária ou da polícia de trânsito, por exemplo. Para quem adota o conceito restrito, a fonte do Poder de Polícia não será diretamente a lei, mas sim um ato administrativo normativo ou o ato concreto, embora indiretamente seja a lei, vez que toda a atuação administrativa deve nela estar fundada. Existe um conceito de poder de polícia previsto em lei, mais especificamente no art. 78 do CTN. O CTN apresentou tal definição para explicar a taxa que se funda no exercício de polícia, visto que a taxa é um tipo de tributo que irá se fundar ou no exercício de Poder de Polícia ou na prestação de serviço público. Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interêsse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de intêresse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. (Redação dada pelo Ato Complementar nº 31, de 1966) 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 23 www.cursoenfase.com.br Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder. Importante anotar que o Poder de Polícia regula a prática de ato ou abstenção de fato. Isso demonstra que obrigações de não fazer (caráter negativo) ou mesmo de fazer (caráter positivo) podem ser impostas. Atributos do Poder de Polícia: discricionariedade, autoexecutoriedade e coercibilidade. Discricionariedade – Poder de Polícia é exercido, em regra, com caráter discricionário. O administrador possui liberdade para avaliar a conveniência e oportunidade para a prática de um ato administrativo. Exemplo: emissão de autorização. Excepcionalmente, o poder de polícia poderá ser exercido com caráter vinculado. Exemplo: edição de ato de licença. Autoexecutoriedade – Também denominada de executoriedade é a aptidão que o ato administrativo possui de produzir efeitos no mundo independentemente da anuência do poder judiciário. A realização de ato de poder de polícia e sua concretização pode se dar de maneira manu militari, não necessitando, em regra, da autorização do Poder Judiciário. Exemplo: destruição de alguma mercadoria, interdição de um estabelecimento, etc. A lei que disciplina determinado ato pode autorizar seus efeitos independentemente de manifestação judicial. Porém, é possível a autoexecutoriedade ainda que não haja previsão legal, mas a situação fática justifique a medida (especialmente em situações de urgência e emergência). Exemplo: Multa não é dotada de autoexecutoriedade. A multa é fruto de fiscalização do poder de polícia que faz insurgir a sanção ao que ofendeu a ordem. Só pode produzir efeitos concretos em razão de processo judicial (execução fiscal). Logo, a autoexecutoriedade não está presente em todas as manifestações do poder de polícia. Coercibilidade – é a aptidão que a manifestação do poder de polícia possui de produzir efeitos independentemente da concordância do administrado. A obrigação, criada unilateralmente pela administração, deverá ser satisfeita pelo administrado. A autoexecutoriedade e a coercibilidade são intrinsecamente ligadas, inexistindo uma distinção que seja muito precisa entre elas. É como se fossem fossem as duas faces da 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 24 www.cursoenfase.com.br mesma moeda. Enquanto a coercibilidade significa que o particular não precisa anuir para a administração atuar, a autoexecutoriedade significa que a administração pode atuar sem recorrer ao Poder Judiciário. Hely Lopes escreve acerca de cinco condições de validade do exercício do poder de polícia: Competência; Forma; Finalidade; Proporcionalidade da sanção; Legalidade dos meios empregados. Segundo Hely Lopes, a Constituição reparte a competência entre as pessoas políticas com base no Princípio da Predominância do Interesse, cujo conteúdo afirma que os assuntos de interesse nacional devem ser de competência da União, que é quem deve tutelar o interesse nacional; os assuntos de interesse predominantemente regional devem ser entregues a competência dos Estados e os assuntos de interesse meramente local devem ser entregues aos Municípios. Vicio de competência do ato administrativo pode ser sanado. Basta que a autoridade competente ratifique o ato. Vício de forma também pode ser sanado. Finalidade remete à necessidade de obtenção do interesse público. Todo ato administrativo deve possuir como objetivo mediato alcançar o interesse público. Vício de finalidade (desvio de finalidade ou desvio de poder) não pode ser sanado (trata-se de nulidade absoluta). A legalidade dos meios empregados importa na conclusão de que a validade do exercício do poder de políciadependerá da legalidade dos meios empregados pelo administrador público. A proporcionalidade da sanção define ser imprescindível que a sanção possua proporcionalidade e relação de justa adequação com a conduta praticada pelo administrado. Exemplo: o STJ reconheceu como proporcional o rodízio de veículos na cidade de São Paulo. O Poder de Polícia que o Estado exerce pode incidir em duas esferas diversas da atuação estatal, na esfera administrativa e na judiciária. A doutrina diferencia as atividades da chamada Polícia Administrativa das atividades da Polícia Judiciária, apontando quatro distinções. 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 25 www.cursoenfase.com.br A Polícia Administrativa é regida pelo direito administrativo, possuindo atuação predominantemente preventiva, em regra, antes da prática do ilícito. Exemplo: As proibições do porte de arma e de condução de veículos por menores são proibições de polícia administrativa. A Polícia Administrativa também pode atuar repreensivamente. Exemplo: Apreensão da licença do motorista infrator ou da arma utilizada indevidamente. Além do mais, é exercida de por diversos órgãos, como a Polícia Militar, por desenvolver policiamento ostensivo, e vários órgãos fiscalizadores, como a ANVISA e o PROCON. A possibilidade de ser exercida por vários órgãos diferentes dos que irão aplicar a norma administrativa é a maior característica da Polícia Administrativa. É exercida sobre atividades privadas, bens ou direitos. A Polícia Judiciária é regida pelo direito processual penal, possuindo atuação predominantemente repressiva, que começa após a prática do ilícito, seja ele corresponde a um crime ou a uma contravenção. É exercida apenas pela Polícia Civil em âmbito estadual ou pela Polícia Federal, em âmbito federal. Além disso, é exercida apenas sobre pessoas. A Polícia Administrativa se esgota no exercício da função administrativa. A Polícia Judiciária prepara a atuação da função jurisdicional penal. Assim, se existir um ilícito penal e a busca pela punição dos responsáveis, estar-se-á tratando de atividade da Polícia Judiciária. A Lei Nº 9.873, de 23 de novembro de 1999 estabelece prazo de prescrição para o exercício de ação punitiva pela Administração Pública Federal, direta e indireta. Importante a leitura dos dispositivos abaixo: Art. 1o Prescreve em cinco anos a ação punitiva da Administração Pública Federal, direta e indireta, no exercício do poder de polícia, objetivando apurar infração à legislação em vigor, contados da data da prática do ato ou, no caso de infração permanente ou continuada, do dia em que tiver cessado. § 1o Incide a prescrição no procedimento administrativo paralisado por mais de três anos, pendente de julgamento ou despacho, cujos autos serão arquivados de ofício ou mediante requerimento da parte interessada, sem prejuízo da apuração da responsabilidade funcional decorrente da paralisação, se for o caso. § 2o Quando o fato objeto da ação punitiva da Administração também constituir crime, a prescrição reger-se-á pelo prazo previsto na lei penal. Art. 1o-A. Constituído definitivamente o crédito não tributário, após o término regular do processo administrativo, prescreve em 5 (cinco) anos a ação de execução da 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 26 www.cursoenfase.com.br administração pública federal relativa a crédito decorrente da aplicação de multa por infração à legislação em vigor. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) (...) Art. 5o O disposto nesta Lei não se aplica às infrações de natureza funcional e aos processos e procedimentos de natureza tributária. O Poder de Polícia se fundamenta em um poder de supremacia geral que a administração possui, não sendo necessária uma relação de vínculo especial (como no caso do Poder Disciplinar) com o administrado. Quando o fato objeto da ação punitiva da Administração também constituir crime, a prescrição reger-se-á pelo prazo previsto na lei penal, se a apuração estiver sendo realizada no âmbito penal. Ciclo de Polícia Administrativa é um conceito desenvolvido pelo professor Diogo de Figueiredo Moreira Neto que permite o entendimento de todas as atividades envolvidas no exercício do Poder de Polícia. Ordem de Polícia; Consentimento de Polícia; Fiscalização de Polícia; Sanção de Polícia. Ordem de polícia - É a 1ª etapa do ciclo. Ordem de polícia é o nome dado ao comando estatal que delimitará a liberdade ou propriedade, ou seja, que estabelecerá a obrigação de fazer, de não fazer ou de tolerar. Como a lei é o único veículo que pode limitar liberdade ou propriedade do particular, a ordem de polícia terá base legal ou em um ato administrativo fundado em uma lei. Esse ato normativo que limita a liberdade ou propriedade pode trazer duas situações diferentes, uma negativa absoluta ou uma negativa relativa. A limitação de liberdade pode consistir em uma negativa absoluta, ou seja, a atividade não pode ser exercida. Não existe situação em que seja liberada no ordenamento jurídico. Exemplo: Vender cocaína na farmácia. Se houver uma negativa absoluta, o Estado irá fiscalizar para ver se a negativa está sendo respeitada e, caso não esteja, aplicará a sanção devida. Nesse caso, o ciclo pula para a etapa de fiscalização e sanção. Porém, quando determinada atividade for proibida, mas o 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 27 www.cursoenfase.com.br consentimento estatal puder permitir seu desenvolvimento existirá uma negativa relativa. Exemplo: Para vender acarajé em uma praça é necessária uma autorização municipal. Na negativa relativa, o ciclo de polícia ocorre em sua inteireza, passando-se para a segunda fase, o chamado consentimento de polícia. Consentimento de Polícia - É a segunda fase do ciclo que só existirá se a negativa for relativa, hipótese em que o Estado pode consentir que a atividade seja desenvolvida desde que atendidas algumas condições. Esse consentimento pode ser vinculado ou discricionário. Quando o consentimento é vinculado, preenchidos os requisitos previstos em lei, surge o direito subjetivo do particular e a administração pública é obrigada a consentir. Esse ato da administração consentindo a partir de uma análise vinculada de licença. Assim, licença é o nome dado para esse ato de consentimento da administração pública, quando todos os requisitos estiverem previstos em lei e o ato tiver natureza jurídica vinculada. De forma diversa, em algumas hipóteses, o consentimento da administração poderá ser discricionário. Mesmo que estabelecidos alguns requisitos para a prática de determinada atividade em lei, seu preenchimento não é o suficiente para conferir ao particular direito subjetivo a exercer determinada atividade. A lei ainda confere à administração pública uma margem de escolha no ato que a de fazer o exame discricionário de autorização. Assim, o melhor uso da palavra autorização é para fazer referência às hipóteses de consentimentodiscricionário. A fase do consentimento de Polícia não ocorre quando a negativa for absoluta ou quando existir uma ordem de polícia, uma lei ou regulamento que trate daquela atividade, mas não se exija uma autorização estatal prévia. Nessas duas hipóteses, passa-se direto para as etapas de fiscalização e sanção. É possível que uma lei regulamente determinada atividade e não exija uma autorização estatal prévia, seja licença ou autorização, para seu desenvolvimento. Nesse caso, passa-se para a fase de fiscalização em que a administração vai aferir se o particular está atendendo aqueles ditames legais ou do regulamento. Fiscalização de polícia - Terceira etapa do ciclo de polícia, a fiscalização de polícia corresponde à aferição pela administração pública da compatibilidade da conduta do administrado com a ordem de polícia. Pode ser preventiva, realizada antes da prática do ilícito, e repressiva quando praticada após a prática do ilícito. 600.06 Direito Administrativo I O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 28 www.cursoenfase.com.br Sanção de Polícia - A etapa final do ciclo de polícia pode corresponder aquilo que é chamado de pena ou de constrangimento. Nessa etapa, caso seja verificado que o particular não atende às condições presentes na ordem de polícia, ocorrerá sua punição com a aplicação de pena ou de um constrangimento. Enquanto a pena busca punir, o constrangimento visa evitar a perpetuação da ofensa à ordem de polícia. A pena de polícia corresponde à punição pelo descumprimento da ordem de polícia, como uma multa. Por sua vez, a natureza jurídica do constrangimento é de medida cautelar. Exemplo1: A apreensão de veículo em blitz da Lei Seca não é propriamente uma pena, mas sim uma medida de natureza cautelar que tem como objetivo evitar a perpetuação da violação à norma que veda que as pessoas dirijam embriagadas. Nesse exemplo, vale destacar que caso exista alguém que não tenha bebido, a pessoa pode levar o carro. Exemplo2: A apreensão de mercadoria também é um constrangimento e evita a perpetuação daquela ofensa a ordem jurídica já que a ordem impede que as pessoas vendam mercadorias que não estejam adequadas para o consumo humano.
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