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SOL 250 CONSTITUIÇÃO, PROPRIEDADES E CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS QUÍMICA DO SOLO NOTAS DE AULA JUNHO / 2006 2 ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................4 2. COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO SOLO ......................................................................................................5 3. FRAÇÕES GRANULOMÉTRICAS DO SOLO........................................................................................8 3.1. COMPOSIÇÃO MINERALÓGICA DAS FRAÇÕES GRANULOMÉTRICAS DO SOLO..............8 4. SISTEMA COLOIDAL DO SOLO...........................................................................................................10 4.1. Propriedades de um Sistema Coloidal ....................................................................................................10 5. COMPOSIÇÃO QUÍMICA, ESTRUTURA E ORIGEM DAS CARGAS DO SOLO .........................12 5.1. ARGILAS SILICATADAS...........................................................................................................................12 5.1.1. Argilas do tipo 2:1......................................................................................................................133 5.1.2. Argilas do tipo 1:1......................................................................................................................155 5.2. ÓXIDOS E HIDRÓXIDOS DE FERRO E ALUMÍNIO .....................................................................................166 5.3. MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO ...................................................................................................177 5.3.1. Aspectos gerais.............................................................................................................................17 5.3.2. Compartimento da matéria orgânica do solo (MOS)...................................................................19 5.3.2.1. Matéria orgânica viva ............................................................................................................19 5.3.2.2. Matéria orgânica morta ..........................................................................................................22 5.3.3. Rotas de formação e características das substâncias húmicas ....................................................27 5.3.3.1. Características químicas e estruturais das substâncias húmicas.............................................30 5.3.4. Mecanismos de estabilização da MOS .........................................................................................38 5.3.4.1. Estabilização química ou coloidal..........................................................................................38 5.3.4.2. Estabilização física ................................................................................................................42 5.3.4.3. Estabilização bioquímica .......................................................................................................43 5.3.5. Propriedades do solo influenciadas pela matéria orgânica do solo (MOS) ................................45 5.3.5.1. Propriedades químicas ...........................................................................................................45 5.3.5.1.1. Capacidade tampão.........................................................................................................45 5.3.5.1.2. Capacidade de troca catiônica........................................................................................46 5.3.5.1.3. Complexação de metais...................................................................................................47 5.3.5.2. Características físicas do solo ................................................................................................51 5.3.5.2.1. Agregação .......................................................................................................................51 5.3.5.2.2. Retenção de água ............................................................................................................55 5.3.5.3. Propriedades biológicas do solo.............................................................................................56 5.3.5.3.1. Compartimentos e nutrientes na forma orgânica............................................................56 6. ORIGEM E FORMAÇÃO DAS CARGAS ELÉTRICAS DO SOLO ...................................................67 6.1. ORIGEM DAS CARGAS NEGATIVAS.........................................................................................................67 6.2. CARGAS POSITIVAS ................................................................................................................................69 6.3. DENSIDADE DE CARGA...........................................................................................................................69 7. INTERAÇÕES COLÓIDE/SOLUÇÃO: FENÔMENOS DE ADSORÇÃO E TROCA DE ÂNIONS E CÁTIONS.....................................................................................................................................................70 7.1. CAPACIDADE DE TROCA CATIÔNICA (CTC)...........................................................................................72 7.2. FATORES QUE AFETAM A CAPACIDADE DE TROCA CATIÔNICA..............................................................74 7.3. DUPLA CAMADA DIFUSA .......................................................................................................................75 7.4. CARACTERÍSTICAS DA CTC DO SOLO.....................................................................................................76 7.4.1. Valor T .....................................................................................................................................7777 7.4.2. Soma de Bases (SB) .....................................................................................................................78 7.4.3. Saturação por Bases (V) ...............................................................................................................79 7.4.4. Saturação por Alumínio (m).........................................................................................................79 7.4.5. Acidez Trocável ...........................................................................................................................80 7.4.6. Acidez Potencial.......................................................................................................................8080 7.5. CAPACIDADE DE TROCA ANIÔNICA........................................................................................................80 8. REAÇÃO DO SOLO ..................................................................................................................................82 8.1. ACIDEZ DO SOLO....................................................................................................................................82 8.1.1. Fontes de Acidez do Solo .............................................................................................................83 8.1.1.1. Minerais de Argila .................................................................................................................................. 83 3 8.1.1.2. Matéria Orgânica .................................................................................................................................... 84 8.1.1.3. Ácidos Solúveis ...................................................................................................................................... 84 8.1.2. Fontes de Alcalinidade no Solo................................................................................................8484 8.1.3. Capacidade Tampão da Acidez do Solo .......................................................................................858.1.4. Causas da Acidificação Progressiva dos Solos.........................................................................8686 8.1.5. Problemas Causados pela Acidez do Solo....................................................................................86 8.2. CALAGEM...............................................................................................................................................87 9. REAÇÕES DE OXIDAÇÃO E REDUÇÃO NO SOLO ..........................................................................88 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA................................................................................................................89 4 QUÍMICA DO SOLO 1. Introdução O solo é um corpo natural formado pela interação da atmosfera, hidrosfera e biosfera com os materiais da litosfera (Figura 1). Sua constituição química reflete, portanto, a contribuição de cada fator de formação (tempo, material de origem, clima, atividade biológica, relevo) e pode variar bastante em função das diferenças destes. Influência da litosfera Influência da atmosfera/hidrosfera Influência da biosfera Figura 1. Influência dos fatores de formação. Os solos são sistemas trifásicos compostos pelas fases sólida, líquida e gasosa, sendo que, um solo mineral, próximo à superfície, com condições físicas ótimas para o crescimento vegetal, apresenta, aproximadamente, a seguinte composição volumétrica: 50% de espaço poroso, ocupados por partes iguais de ar e de água, 45 - 48% de sólidos minerais e 2 a 3 e, por vezes, 5% de matéria orgânica. Têm-se, normalmente, então, 50 % constituídos pela fase sólida, 25% pela fase líquida e 25% pela fase gasosa. 5 Minerais 45 - 48% Ar 25% Água 25% 50% de poros 50% de partículas sólidas M.O. 2 a 5% Figura 2. Composição volumétrica de um solo com boa estrutura (Murphy ,1980). A fase sólida é constituída por materiais minerais derivados das rochas ou sedimentos associados a compostos orgânicos. A composição desta fase é relativamente estável num intervalo de tempo curto, mudando apenas pelas adições ou remoções por erosão e deposição hídrica e eólica e por atividade biológica. A fase líquida, denominada solução do solo, é formada pela água proveniente da atmosfera ou corpos d’água e lençol freático. Esta solução contém íons dissolvidos, podendo também conter compostos orgânicos solúveis e materiais coloidais (argila) em suspensão. A fase gasosa ou atmosfera do solo é composta pelos gases presentes no espaço poroso. A fase gasosa do solo apresenta composição distinta da do ar atmosférico em função dos gases produzidos pela atividade biológica (e.g. respiração de raízes) e reações químicas do solo. A estrutura, textura e a porosidade do solo, assim como a presença de água, afetam as taxas de difusão destes gases para a atmosfera. 2. Composição química do solo A composição química da fase sólida é em grande medida determinada pelos materiais de origem do solo. A fase sólida é proveniente dos materiais derivados das rochas e /ou sedimentos, associados aos compostos de origem orgânica (Figura 3). A constituição química das rochas ou sedimentos é variável em função de sua origem e natureza, afetando as características do solo formado. Esta influência tende a se reduzir na medida em que o intemperismo atua, podendo levar solos derivados de materiais de origem diferentes a apresentarem feições e composição química similares. 6 O intemperismo provoca a desagregação física e a decomposição química dos minerais primários das rochas e sua transformação em minerais secundários. O intemperismo é acelerado em condições de temperaturas elevadas, associadas a precipitações abundantes e intensa atividade biológica, como ocorre nos trópicos úmidos. Nestas condições os minerais primários de fácil intemperismo são destruídos, restando apenas aqueles de elevada resistência ao intemperismo. O Quadro 1 apresenta os teores dos principais elementos químicos encontrados nos solos. A análise deste quadro indica a predominância do silício e do alumínio na composição dos solos, refletindo a predominância destes elementos nas rochas da superfície (litosfera). Os altos teores de ferro e alumínio em alguns solos são resultantes de materiais de origem mais ricos e da concentração residual destes elementos pela perda gradativa decorrente do processo de intemperismo que acarreta a lixiviação dos demais elementos. Os teores dos nutrientes essenciais (N, P, K, Ca, Mg, S) são geralmente baixos nos solos, seja pelos baixos teores verificados nos materiais de origem, seja pelo progressivo empobrecimento pelo intemperismo e lixiviação. A maior fertilidade química está associada a materiais de origem mais ricos, solos pouco intemperizados ou condições locais de acumulação. Figura 3. Perfil do solo. Como comentado anteriormente, a influência dos materiais de origem na composição do solo decresce à medida que estes se intemperizam. Solos pouco intemperizados preservam ainda minerais primários, fontes de nutrientes para o Fragmentos do material de origem Horizonte A com acúmulo de M. O. Horizonte B com maior expressão de desenvolvimento pedogenético Material de origem 7 solo. Os solos tropicais muito intemperizados praticamente não contêm minerais primários intemperizáveis, sendo constituídos quase exclusivamente por minerais secundários (argilas silicatadas, óxidos) e quartzo (Quadro 2). Quadro 1. Composição química dos solos. Adaptado de LINDSAY (1979). Elemento químico Peso atômico Concentração na litosfera Faixa de Concentração comum nos solos g ----------------- mg/kg --------------------------- mg/kg -------------------------------- Alumínio Carbono Cálcio Ferro Potássio Magnésio Manganês Nitrogênio Oxigênio Fósforo Enxofre Silício Titânio 26,98 12,01 40,08 55,85 39,10 24,31 54,94 14,01 16,00 30,97 32,06 28,09 47,90 81.000 950 36.000 51.000 26.000 21.000 900 - 465.000 1.200 600 276.000 6.000 10.000 - 300.000 - 7.000 - 500.000 7.000 - 550.000 400 – 30.000 600 – 6.000 20 – 3.000 200 – 4.000 - 200 – 5.000 30 – 10.000 230.000 – 350.000 1000 – 10.000 Quadro 2. Relação entre materiais de origem e minerais do solo. Minerais na Rocha Presença nas frações do solo ELEMENTOS PREDOMINANTES pouco intemperizado ------------------------- muito intemperizado ------------------------- Quartzo Areia Areia Silício, Oxigênio Feldspatos Areia/silte - Silício, Oxigênio, Alumínio, Cálcio/Sódio. Areia/silte - Silício, Oxigênio, Alumínio, K, Mg, Fe, H. Micas Argila Argila - Piroxênio Areia/silte - Silício, Oxigênio, Alumínio, (Mg, Fe)/Ca. Olivina Areia/silte - Silício, Oxigênio, Alumínio, Mg, Fe. 8 3. Frações Granulométricas do Solo A fase sólida é constituída de agregados que se apresentam, até certo ponto, individualizados. Os agregados são formados de partículas unitárias, cimentadas entre si por matéria orgânica, óxidos de Fe e Al, sílica etc. As partículas individuais são obtidas após a dispersão dos agregados. Limites de tamanho definem as partículas como pertencentes a diferentes frações. Esses limites são estabelecidos pela classificação de Atterberg ou classificação internacional (Quadro 3). Quadro 3. Limites dos tamanhos das partículas dos solos. --------------------------------------------- Terra Fina ---------------------------------------------- Argila Silte Areia muito fina Areia fina Areia médiaAreia grossa Areia muito grossa Cascalh o ----------------------------------- -------------- mm -------------------------------------------------- 0 0,002 0,02 0,05 0,2 0,5 1 2 3.1. Composição mineralógica das frações granulométricas do solo A composição mineralógica das frações granulométricas está relacionada ao o grau de intemperismo dos solos. O processo do intemperismo leva à fragmentação física e decomposição química do material de origem, dando origem a minerais secundários, mais estáveis no ambiente da superfície. A fração areia pode conter minerais primários, originados do material de origem do solo, no caso dos solos pouco intemperizados. Com o avanço do intemperismo, apenas o quartzo se mantém nesta fração (figura 4). Os minerais de menor resistência ao intemperismo, como os feldspatos, piroxênios, olivinas e biotita, se decompõem em minerais secundários, formando as frações menores. Na fração grosseira podem ser também encontrados nódulos e concreções formados pedogeneticamente pela cimentação por óxidos de ferro presentes nas frações mais finas. A fração silte é composta por fragmentos dos minerais de origem e/ou microagregados formados por partículas de argila cimentadas. Nos solos altamente intemperizados, predomina a segunda situação, sendo freqüentemente observados teores significativos de silte nos resultados analíticos. Isto se deve à forte estabilidade dos microagregados, impossibilitando aos procedimentos de dispersão na análise textural uma perfeita separação das frações. 9 Figura 4. Fotomicrografia de secção fina de latossolo, observada em microscópio ótico. A fração argila é composta por minerais secundários originados do intemperismo dos minerais primários. O processo de formação dos minerais primários se dá pelo rompimento da rede cristalina destes e pela remoção dos íons pela água que atravessa as fraturas nas rochas. Em condições de intemperismo pouco acentuado, quando a remoção de cátions e sílica não é muito drástica, formam-se os minerais de argila silicatados do tipo 2:1. O ferro contido nos minerais primários vai se precipitar como óxido/hidróxido. O avanço do intemperismo proporciona progressiva perda de cátions e sílica, desestabilizando os minerais 2:1 e favorecendo a formação das argilas 1:1. A transformação de minerais 2:1 em 1:1 também depende das condições locais de drenagem e da razão remoção/acumulação dos produtos de decomposição, podendo ocorrer reversão desse processo em locais de acúmulo, como depressões e áreas mal drenadas. No final do intemperismo ocorrem condições favoráveis à transformação das argilas 1:1 em hidróxidos de alumínio (gibbsita). Os solos mais intemperizados são oxídicos, como alguns Latossolos, nos quais se verifica uma concentração relativa dos óxidos de ferro e alumínio, após a remoção dos demais elementos pelo intemperismo. Certas condições de intemperismo podem levar os minerais primários diretamente ao último estágio de intemperismo, a gibbsita. Isto se verifica em Fração areia: Solos pouco intemperizados: quartzo e fragmentos de materiais de origem (minerais primários) Solos muito intemperizados: quartzo Fração silte: Solos pouco intemperizados: fragmentos de materiais de origem (minerais primários) Solos muito intemperizados: microagregados Fração argila: Solos pouco intemperizados: argilas 2:1, argilas1:1 e óxidos Solos muito intemperizados: argilas 1:1 e óxidos 10 condições de lixiviação elevadas, como no caso de regiões tropicais úmidas. A argila é a fração mais importante do solo. Suas propriedades físicas e químicas, como a retenção de umidade, capacidade de troca de cátions e ânions e as propriedades como a friabilidade, plasticidade e pegajosidade são derivadas de sua natureza coloidal. 4. Sistema coloidal do solo O solo pode ser considerado como um sistema disperso, pois é constituído de mais de uma fase, sendo que a fase sólida está em estado de acentuada subdivisão. Há, portanto, um sistema coloidal1/ no solo, constituído de partículas diminutas, de tamanho coloidal (inferior a 2 µm), minerais ou orgânicas, ou organo-minerais, como fase dispersa na solução (ou no ar) do solo, como meio de dispersão. Nesse sistema ocorrem reações químicas, físico-químicas e microbiológicas da maior importância no estudo dos solos. Neste tamanho, os materiais adquirem propriedades particulares, relacionadas ao aumento relativo da superfície específica e ao pequeno tamanho das partículas. 4.1. Propriedades de um Sistema Coloidal a) Grande Superfície Específica O termo superfície específica refere-se à área pela unidade de peso do material considerado (solo como um todo, fração argila apenas, matéria orgânica etc.) e é, usualmente, expressa em metros quadrados por grama. Deve-se, esperar grandes variações entre solos quanto às suas superfícies específicas. Entre os fatores responsáveis por essas variações, encontram-se: . Textura ou granulometria. . Tipos de minerais de argila. . Teor de matéria orgânica. Em virtude do menor tamanho da fração argila do solo, em relação às outras frações, pode-se deduzir que esta fração, de natureza coloidal, contribui em maior proporção com o valor da superfície específica do solo. 1/ Nos sistemas coloidais, um ou mais componentes constituindo a fase dispersa (a fase constituída pelas partículas) apresentam, pelo menos, uma de suas dimensões entre 1 µm e 1 nm (1 nm = 10-9 m), e encontram-se em uma segunda fase, o meio de dispersão (água e ar, o meio pelo qual as partículas se distribuem). 11 Quanto ao tipo de mineral de argila presente, sabe-se, por exemplo, que a caulinita apresenta superfície específica de 10 a 30 m2/g, os óxidos de Fe de 100 a 400 m2/g, e a montmorilonita, no outro extremo, de 700 a 800 m2/g, segundo citações de Grohmann (1975). É de se esperar, portanto, que solos tropicais, que têm nos óxidos e na caulinita os maiores constituintes da fração argila, tenham menor superfície específica, em geral, que solos de regiões temperadas, onde há predominância de montmorilonita e de outras argilas silicatadas mais ativas (Quadro 4). Quanto à matéria orgânica presente, embora ocorra na maioria dos solos em proporções relativamente pequenas, contribui, significativamente, para o valor da superfície específica do solo, devido ao seu alto grau de subdivisão. Um solo com maior teor de matéria orgânica deverá ter maior superfície específica que outro com menor teor, se outras características, como tipo e quantidade de argila, forem mantidas constantes. b) Cargas Elétricas Propriedade muito importante de uma dispersão coloidal é a presença de cargas elétricas. As partículas coloidais do solo, as argilas de modo geral, são eletronegativas. Embora possam, também, possuir cargas positivas, estas são, normalmente, em menor número que as negativas. Em alguns solos, com um grau de intemperismo bastante adiantado, pode-se encontrar um maior número de cargas positivas do que negativas, entretanto, tal situação não é representativa do normalmente observado. Quadro 4. Área superficial específica (ASE) e Capacidade de Troca Catiônica (CTC) de constituintes da fração argila do solo. PARTÍCULA ASE m2g-1 CTC cmolckg-1 Caulinita Óxidos Micas Vermiculita Montmorilonita Matéria orgânica 7 – 30 - 40 – 150 500 – 800 600 – 800 800 – 900 0 – 1 2 – 4 10 – 40 100 – 150 80 – 150 200 – 300 12 c) Cinética As partículas dispersas em meios líquidos apresentam movimentos (Shaw, 1975). O movimento browniano é caracterizadopelo movimento brusco, irregular e em zigue-zague de partículas individuais no meio de dispersão. Esse movimento deve-se à energia cinética das partículas. O movimento de difusão é conseqüência da migração de partículas de uma região de maior concentração para outra de menor concentração. Há, também, o movimento ocasionado pela força gravitacional, responsável pela sedimentação de partículas. 5. Composição química, estrutura e origem das cargas em colóides do solo Os colóides podem ser divididos quanto à sua origem em inorgânicos e orgânicos. No solo, entretanto, ambos estão associados, podendo formar complexos organominerais estáveis. Estes complexos podem estar unidos por ligações químicas relativamente fortes, protegendo a matéria orgânica e retardando sua decomposição. Os colóides inorgânicos se dividem em dois grupos: - Argilas silicatadas. - Argilas não silicatadas (óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio). 5.1. Argilas silicatadas As argilas silicatadas do solo são, em sua maioria, minerais secundários originados da decomposição de minerais primários. As argilas silicatadas são constituídas de duas unidades estruturais básicas. Uma é o tetraedro de sílica, formado por ligações de um átomo de Si a 4 átomos de oxigênio. A outra unidade é constituída pelo octaedro de alumina, formado por um átomo de Al e seis átomos de oxigênio (Figura 5). 13 Figura 5. Tetraedro de silício e octaedro de alumínio. Os tetraedros podem ligar-se entre si, formando uma camada contínua, seguindo duas direções no espaço, constituindo a estrutura dos filossilicatos. A ligação dos octaedros entre si também dá origem a uma camada semelhante à anterior. O número de camadas de tetraedros para camadas de octaedros, por unidade componente de um cristal de argila silicatada, é uma característica básica de identificação dos principais grupos de argilas silicatadas (Pinto, 1967; ANDA, 1975; Moniz, 1975). Sendo estas subdivididas em dois grupos: 2:1 e 1:1. 5.1.1. Argilas do tipo 2:1. São formadas por unidades básicas constituídas de duas camadas de tetraedros de silício separadas por uma de octaedros de alumínio (Figura 6). Estas argilas se formam em estágios iniciais do intemperismo, necessitando de um pH próximo à neutralidade e abundância de íons como cálcio e magnésio para sua estabilidade no meio. Estas argilas podem ser expansivas ou não expansivas. As argilas 2:1 são caracterizadas por terem uma grande superfície específica. Apresentam predominância de cargas permanentes, derivadas de substituições isomórficas ocorridas na estrutura da argila. Em virtude de sua disponibilidade de carga, de sua forma e de sua capacidade de absorção de água, estas argilas podem conferir grande plasticidade e pegajosidade ao solo. Também provocam o aparecimento de fendilhamento (trincas) acentuado devido à retração da massa de solo ao secar. 14 Os principais grupos de argilas 2:1 são: a) Montmorilonita: Caracteriza-se por unidades constituídas por um arranjo com duas camadas de tetraedros para uma de octaedros, ligadas rigidamente pelos átomos de oxigênio comuns às lâminas. São também denominadas argilas do tipo 2:1. As unidades são frouxamente ligadas entre si por moléculas d'água e cátions presentes na solução, o que permite que a distância entre elas seja variável. Como conseqüência, cátions e moléculas podem se mover entre essas unidades, o que proporciona tanto uma superfície total (a interna mais a externa) como uma superfície específica bem maior do que para a caulinita (Figura 3.4). Com a hidratação deste material, há aumento da distância entre as unidades, o que justifica a classificação desta argila como expansiva. Com a desidratação, ocorre o inverso: aquela distância diminui, havendo uma contração do material. Solos que apresentam conteúdo significativo de argilas expansivas apresentam, geralmente, quando secos, superfície trincada, com fendas que contornam diferentes formas geométricas. Com a reidratação, tais fendas desaparecem devido à expansão do material. Como toda a sua superfície apresenta cargas negativas, este colóide possui elevada capacidade de adsorção de cátions. Seus representantes mais importantes são a esmectita, a nontronita e beidelita Figura 6. Representação esquemática das argilas do grupo da montmorilonita (tipo 2:1). b) Ilitas: O grupo da ilita, ou mica hidratada, apresenta a mesma organização estrutural que a montmorilonita (tipo 2:1), exceto no que diz respeito às ligações entre as unidades cristalográficas. A existência de "déficit" de carga positiva na camada de tetraedro conduz à existência de excesso de cargas negativas que são neutralizadas, geralmente por íons de K, 15 fortemente retidos entre duas unidades. Essas ligações diminuem intensamente a expansão do material quando sujeito à hidratação. A superfície de adsorção catiônica é, conseqüentemente, menor do que a da montmorilonita. c) Vermiculita: argila silicatada semelhante à montmorilonita, embora não tão expansiva como esta, em solos de regiões temperadas, diz sobre sua menor resistência ao intemperismo, do que a caulinita, por exemplo, tão freqüente em solos de regiões tropicais. A clorita difere das demais estudadas por apresentar, além do grupo 2:1 de talco (com unidade cristalográfica similar à da montmorilonita, mas com Mg dominando a camada de octaedros), uma camada adicional de brucita (Mg(OH)2). A superfície específica e a capacidade de troca catiônica são semelhantes às da ilita. d) Minerais 2:1 com hidroxi entre camadas (VHE, EHE) (2:1:1 ou 2:2): Semelhantes às anteriores, porém contendo polímeros de alumínio (ou magnésio no caso da clorita) entre suas camadas, que estabilizam sua estrutura e impedem sua expansão. São mais resistentes aos intemperismo e podem ser encontrados em pequenas quantidades em Latossolos. 5.1.2. Argilas do tipo 1:1 Caracteriza-se por um arranjo com uma camada de tetraedros e uma de octaedros, ligadas entre si, rigidamente, pelos átomos de oxigênio comuns ás duas camadas, constituindo uma unidade cristalográfica. Unidades assim formadas e rigidamente ligadas entre si por pontes de hidrogênio constituem o grupo das caulinitas (Figura 7 e 8), podendo ser originadas a partir da decomposição das argilas 2:1 ou pela perda de uma camada de tetraedros de silício, ou ainda por intemperismo direto dos minerais primários. 16 Figura 7. Estrutura de uma argila 1:1 (caulinita). Figura 8. Caulinita de depósito. Fonte: COSTA (1988). Possuem uma superfície específica menor que as argilas 2:1, uma vez que não expandem sua estrutura por adsorção de água. Apresentam baixa CTC e predominância de cargas dependentes de pH. Seu tamanho e forma fazem com que a expressão de plasticidade e pegajosidade seja muito inferior às argilas 2:1. Estas argilas são denominadas como o grupo da caulinita, tendo também como exemplos a haloisita, diquita e nacrita. 5.2. Argilas não silicatadas (óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio) São minerais originados da precipitação dos íons liberados e oxidados após a 17 destruição do retículo cristalino dos minerais primários, no caso dos óxidos de ferro, ou do intemperismo das argilas ou minerais primários sob condições severas, no caso do óxidos de alumínio. Podem ter tamanho e grau de cristalinidade variados, podendo ser encontrados como cristais isolados, como recobrimento de agregados e partículas, formando cimentantes, ou ainda associados à matéria orgânica. Os principais óxidos de ferro e alumínio encontrados no solo são: a) Hematita. Óxido de ferro (α-Fe2O3), responsávelpela cor vermelha dos solos. b) Goetita. Oxi-hidróxido de ferro (α-FeOOH), responsável pela coloração amarelada dos solos. c) Ferridrita. Óxido de ferro de baixa cristalinidade, resultante da precipitação de ferro re-oxidado; considerado precursora da hematita. d) Gibbsita. Hidróxido de alumínio (Al(OH)3). Esses óxidos, de maneira geral, são os principais responsáveis pela adsorção aniônica dos solos. O efeito desses óxidos sobre a adsorção de fosfatos em solos tem sido intensivamente estudado. 5.3. Matéria orgânica do solo (ATENÇÃO !!!!!! nem toda MOS é coloidal) 5.3.1. Aspectos gerais A fração orgânica corresponde à matéria orgânica do solo (MOS), constituída basicamente por carbono (C), hidrogênio (H), oxigênio (O), nitrogênio (N), enxofre (S) e fósforo (P). O C compreende cerca de 58 % da MOS, o H cerca de 6 %, o O cerca de 33 %, enquanto o N, o S e o P contribuem cerca de 3 %, respectivamente. Os teores de C do solo estão diretamente ligados à interação do solo com a biosfera. É por meio dos produtos da fotossíntese (6CO2 + 6H2O + energia → C6H12O6 + 6O2) que grande parte do C entra no solo. A entrada de C no solo está relacionada com o aporte de resíduos da biomassa aérea e radicular das plantas, liberação de exsudados radiculares, lavagem de constituintes solúveis da planta pela água da chuva, e a transformação desses materiais carbonados pelos macrorganismos e microrganismos do solo. Todos esses processos fazem parte da biosfera. No Quadro 1 são apresentados os teores de C na vegetação e no solo em diferentes biomas terrestres. 18 Quadro 1. Estoques de carbono em ecossistemas terrestres Bioma Área Densidade de C (Mg/ha) Estoque (Pg) Tempo de Ciclagem Mha-1 Vegetação Solo Vegetação Solo Anos Tundra 927 9 105 8 97 2080 Boreal/Taiga 1372 64 343 88 471 16 Temperada 1038 57 96 59 100 - Tropical 1755 121 123 212 216 6 Solos Inundados 280 20 723 6 202 - Total 5672 Média 54 Média 189 373 1086 Fonte: dados compilados por Lal, 2005; Bolin, 1983. No ambiente de tundra, caracterizado por temperaturas baixas, e até negativas, a relação C vegetação/C solo é extremamente pequena (0,08) quando comparada com o ecossistema tropical (1,0), caracterizado por temperaturas elevadas, próximo dos 35-40 oC. Esses números ilustram a dinâmica mais rápida do C em ecossistemas tropicais e apontam para a fragilidade desses, em caso de alterações em sua cobertura vegetal, visto que a produtividade do sistema é muito dependente das taxas de ciclagem do C. Em termos globais, o C está armazenado nos compartimentos: oceânico (38.000 Pg); geológico, principalmente petróleo, gás natural e carvão mineral (5.000 Pg); biosfera, solo (2.500 Pg) + biota terrestre (560 Pg); e atmosférico (760 Pg) (Lal, 2004). O solo é o maior reservatório de C do ecossistema terrestre. Essa acumulação é possível em grande parte em solos minerais devido ao fato desse C estar associado a formas estáveis da MOS. As transformações por que passa o C do solo compreendem essencialmente a fase de fixação do C-CO2 e a fase de regeneração. A fixação do C-CO2 é efetuada pelos organismos fotossintéticos, finalizando-se na síntese de compostos hidrocarbonados de complexidade variável (amidos, hemiceluloses, celuloses, ligninas, proteínas e outros). Estes compostos retornam ao solo com os resíduos vegetais, e são utilizados pelos organismos que regeneram o C-CO2 durante as reações de oxidação respiratória, utilizando a energia que lhe é indispensável para a manutenção e crescimento. 19 A diversidade de materiais orgânicos que entram no solo, do ambiente, das rotas de decomposição/mineralização e humificação, e das interações dos compostos orgânicos com a fração mineral, resultam na formação de uma MOS heterogênea. Devido essa complexidade, para facilitar seu estudo e melhor compreender sua dinâmica a MOS pode ser divida em diferentes compartimentos que se distinguem entre si quanto a função, a natureza, a reatividade, distribuição espacial, biodisponibilidade, entre outros aspectos (Stevenson, 1994). Uma divisão mais geral pode ser feita separando-a em dois componentes: matéria orgânica viva e morta. Assim, o conceito de matéria orgânica do solo incorpora vida e dinamismo. Diante disso, a tendência é que os estudos tornem-se cada vez mais refinados, e passem a se basear também na quantificação e do C nos diferentes compartimentos da MOS, indo além de um componente químico do solo que constantemente é relacionado com o teor de C orgânico total determinado nos laboratórios de fertilidade do solo. 5.3.2. Compartimentos da matéria orgânica do solo (MOS) Num sentido bem amplo a MOS pode ser entendida como a fração que compreende todos os organismos vivos e todos os restos de organismos vivos que se encontram no solo nos mais variados graus de decomposição. Em algumas situações (Stevenson, 1994) até mesmo os resíduos vegetais presentes na superfície do solo são tidos como componentes da MOS. 5.3.2.1. Matéria orgânica (MO) viva Corresponde a MO associada ás células de organismos vivos que se encontra temporariamente imobilizado, mas que apresenta potencial de mineralização. A MO viva raramente ultrapassa o teor de 4% do C orgânico total do solo (COT) e pode ser subdividida em três compartimentos: raízes (5-10%), fauna do solo (15-30%), e microrganismos (60-80 %). As raízes atuam como fonte de MOS uma vez que as espécies vegetais imobilizam temporariamente C em sua biomassa radicular, durante o seu ciclo de vida, retornando-os ao solo por ocasião da sua senescência. Contribuem ainda com 20 a exsudação de uma série de compostos orgânicos, os quais vão constituir em parte o compartimento da MOS morta (substâncias não húmicas). Em torno de 30-60 % do C fixado fotossinteticamente por plantas anualmente é liberado para as raízes, dos quais cerca de 70% pode ser liberado na rizosfera (Neumann & Romheld, 2001). Estimativas indicam que em culturas anuais tal como o milho a contribuição do sistema radicular para a MOS é maior que aquela da parte aérea (Almaras et al., 2004). As funções de destaque da fauna do solo na transformação dos compostos orgânicos são: redução do tamanho do material orgânico; separação dos componentes do material orgânico; mistura dos componentes orgânicos e inorgânicos; formação e manutenção dos poros do solo; regulação e dispersão da microflora no solo. A ação de misturar e deslocar o material orgânico e mineral do solo da superfície e do subsolo pela fauna é fundamental na dispersão de nutrientes ao longo do perfil de solo. Alguns organismos (ex: térmitas e anelídeos) tem grande capacidade de concentrar nutrientes nos ninhos. A comparação entre as características químicas de excrementos de minhoca e amostras de um Latossolo Vermelho escuro-álico sob cultivo de E. grandis (Quadro 2), permitiu observar que houve uma diminuição no pH, na saturação por Al e, incrementos dos cátions trocáveis (Ca, Mg), dos teores disponíveis de K e P, CTC e COT. De modo que se pode inferir sobre a grande capacidade atividade das minhocas possuem em alterar a ciclagem da MOS e dos nutrientes no solo, em razão da composição de seus excrementos (Quadros et al., 2000). Quadro 2. Características químicas dos excrementos de minhoca e do solo (Quadros et al., 2000). Amostras pH Al Ca Mg Na K CTC P C m CaCl ……………mmolc kg-1………………. mg kg-1 g kg-1 % Excremento 3,4 20,5 12,5 10 0,6 1,8 45,4 19 33,1 45 0-5 (cm) 4,1 7,5 1 1 0,2 0,6 10,3 17 11,7 73 5-10 (cm) 4,1 6,0 0,5 2 0,1 0,4 9 6 13,2 67 10-20 (cm) 4,2 6,5 0,5 1 0,1 0,4 8,4 3 12,4 77 20-30 (cm) 4,2 5,5 0,5 1,5 0,1 0,3 7,9 3 8,6 70 A redução do tamanhodos componentes orgânicos leva ao aumento da superfície de contato, favorecendo a ação microbiana no processo de 21 decomposição/mineralização do material aportado ao solo e na transformação da MOS e, conseqüentemente, na formação das substâncias húmicas. A biomassa microbiana (BM), representada pelos microrganismos do solo, é a principal constituinte da MOS viva. Cerca de 1-3 % do COT em solos tropicais estão associados a BM. Atua como agente decompositor e como reserva lábil de C e nutrientes, e no fluxo de energia no solo, com uma tendência de a BM ser maior em camadas mais superficiais pela maior disponibilidade de MO, água e outros nutrientes (Catellazi et al., 2004). Os microrganismos, objetivando a obtenção de nutrientes e energia, têm ação predominante nos processos de oxidação, redução, e complexação de compostos orgânicos e minerais do solo. A contribuição da biota do solo na ciclagem de nutrientes, imobilizados em sua biomassa, pode ser predita através das proporções em relação as formas totais desses nutrientes. A percentagem de contribuição do N-BM e P-BM em relação ao total de N e P total, variou de 0,93 a 1,8% e de 4,8 a 7,6, respectivamente em solos de ecossistemas florestais (Devi & Yadava, 2006). O S-BM representa de 1-3 % do S org (Moreira & Siqueira, 2002). Assim como a relação C:N, as relações C:P, C:S e P:S da BM podem ser utilizadas para indicar como essa afeta a disponibilidade de P e S no solo. As relações mais estreitas resultam em uma maior mineralização desses nutrientes, enquanto relações mais largas levam a imobilização dos mesmos. He et al. (1997) obtiveram relações C:P, C:S, e P:S que variaram de 9-276:19, 50-149:1 e 0,3-14:1, respectivamente, com a estação do ano e adubação. O C-BM representa um dos compartimentos da MOS com menor tempo de ciclagem, o que o torna sensível à mudança de sua qualidade, sendo proposto como um indicador das mudanças da MOS (Tótola & Chaer, 2002). A BM responde rapidamente as práticas que levam ao decréscimo da MOS. Esse fato foi observado por Matsuoka et al. (2003) em um Latossolo vermelho amarelo sob cultura perene (videira) e anual (soja). Esses sistemas, uma vez comparados à área de Cerradão apresentaram uma redução média no C-BM de 70 %, enquanto a redução dos teores totais de MOS foram de no máximo 47 % em relação ao Cerradão. A influência da BM na disponibilidade de P foi avaliada em um Latossolo Vermelho-Amarelo sob diferenciados sistemas de manejo (SPD, PC) e plantas de cobertura. No SPD com 2 anos de implantação P-BM foi em média 11,4 µg g-1, significativamente superior ao P-BM no PC, o qual foi em média de 8,3 µg g-1. No SPD com 6 anos de implantação houve efeito da cultura de cobertura, o cultivo de nabo forrageiro em comparação ao milheto resultou em redução no P-BM (Carneiro 22 et al.,2004). Uma vez que a MOS constitui-se na fonte energética dos organismos, além da quantidade, comumente alterada pelas práticas de manejo, a qualidade do material orgânico adicionado, influenciada pelas diversas espécies que compõem o sistema, terá uma forte influência na no tamanho da população e na atividade dos organismos do solo. 5.3.2.2 Matéria orgânica morta A MO morta contribui, em média, com 98% do COT, podendo ser subdividida em matéria macrorgânica (3-20%) e húmus. O húmus é um compartimento que consiste de substâncias húmicas (SH), 70% e não-húmicas (SNH), 30%. Um outro compartimento que tem recebido mais atenção apenas mais recentemente é aquele composto por carvão, originado da queima (natural ou antrópica) de resíduos vegetais. A matéria macrorgânica, ou matéria orgânica leve ou particulada, dependendo do método de fracionamento, geralmente é a fração da MO morta que se encontra em menor proporção, contribuindo com cerca de 3-20 % do COT e trata-se de uma MOS não complexada, composta principalmente por restos vegetais em vários estádios de alteração. Seu conteúdo está principalmente ligado ao aporte orgânico, pelo aumento e manutenção dos resíduos orgânicos. Logo o tipo de solo, a vegetação, o clima e as práticas de manejo adotadas, irão afetar a magnitude desse compartimento. A MOS leve pode ser dividida em MO leve livre (interagregados) e leve oclusa (intragregado). A MOS leve livre é quimicamente parecida com os restos vegetais (ex: serapilheira) e tem, em geral, uma taxa de decomposição muito alta, enquanto a MOS oclusa apresenta um grau mais avançado de decomposição (Roscoe et al., 2004) e uma ciclagem mais lenta, podendo conter ainda resíduos do metabolismo microbiano (Golchin et al., 1997). A MOS leve é caracterizada, em razão da sua composição química, pela sua alta disponibilidade aos microrganismos do solo e pela sensibilidade as alterações do meio, como foi verificado por Roscoe & Buurman (2003) um forte decréscimo na fração leve da MOS livre após a conversão do Cerrado em área cultivada. De fato, observar-se que sob condições de vegetação natural, encontram-se maiores valores de C e N associados à MOS leve, cerca de 18 % de C e 12 % de N quando 23 comparados à sistemas cultivados, os quais apresentam valores inferiores, de 4-5 % de C e 2-3 % de N (Roscoe & Buurman, 2003). O processo de oclusão da MO nas típicas estruturas de latossolos (granular forte muito pequena) leva à uma intensa transformação dessa fração, preservando-a seletivamente. Entretanto tem-se constatado uma pequena capacidade de oclusão da MO em solos com alto teor de óxidos, os teores nessa fração para latossolos brasileiros foi de 1-2 de C e N % (Roscoe et al., 2004). Essas frações podem ser determinadas por meio de fracionamento físico por diferença de densidade. O uso desse fracionamento permite separar frações orgânicas cuja composição e localização física no solo são diferenciadas. Com o uso do método densimétrico, são separados os restos vegetais parcialmente decompostos e de baixa densidade dos compostos orgânicos mais resistentes à decomposição, sendo utilizadas, para isso, soluções de sais orgânicos e inorgânicos com densidades compreendidas na faixa de 1,6 a 2,0 g cm-3 (Christensen, 1996) O iodeto de sódio e o politungstato de sódio são algumas das substâncias utilizadas mais freqüentemente com esse propósito. Tendo em vista que essas frações da MOS possuem densidade menor que 1,6 g cm-3, por meio da utilização dessas soluções promove-se a flotação do material mais leve, conforme pode ser observado na Figura 1. Na MOS que fica associada ao material sedimentado (frações areia, silte e argila), comumente denominada de fração pesada, está associada a maior parte do húmus do solo. A MOS associada às frações pesada (areia, silte, argila) geralmente correspondem a mais de 80% do COT e do NT. Figura 1. Esquema de separação da MO leve por flotação. O húmus é o compartimento que inclui SH e SNH. Esses dois grupos de compostos encontram-se fortemente associados no ambiente edáfico e não são totalmente separados um dos outros pelos processos tradicionais de fracionamento, sendo difícil definir seus limites. As SNH podem chegar a contribuir com 10 à 15 % do COT dos solos minerais. São grupos de compostos orgânicos muito bem MO LEVE MO PESADA 24 definidos como carboidratos, lignina, lipídios, ácidos orgânicos, polifenóis, ácidos nucléicos, pigmentos e proteínas. Esses compostos são provenientes da ação e transformação da MO viva sobre o material orgânico que é aportado ao solo, ou ainda adicionado via exsudação das raízes. Os mono e dissacarídeos são dificilmente encontrados no solo, são rapidamente oxidados e transformados em outros compostos (principalmente substâncias húmicas) pela microflorado solo. As proteínas, os polifenóis solúveis e os núcleos polifenólicos da lignina são grandes fontes de N e C na forma aromática, respectivamente, para a síntese de substâncias húmicas. A lignina, por exemplo, é considerada uma das principais precursora das SH nas rotas de humificação e a sua degradação é realizada em sua maioria por um grupo específico de organismos, os fungos de podridão branca (Sylvia et al., 2005).A composição do compartimento das SNH é influenciada pela proporção dos componentes químicos das plantas. A composição química das plantas varia com sua natureza e idade, podendo também ser influenciada pelo tipo de solo e, até adubação. As SH contribuem com cerca de 85 à 90 % do COT dos solos minerais. São constituídas de macromoléculas humificadas amorfas, com variação de cor de amarelo a castanho. Esse compartimento é o principal componente da MOS, consistindo a grande reserva orgânica do solo. Sendo assim, muitos autores se referem à MOS como húmus e grande parte da pesquisa com MOS está voltada para o estudo dessas frações. Essas substâncias são formadas por reações secundárias de síntese, e têm propriedades distintas dos biopolímeros de organismos vivos, incluindo a lignina das plantas superiores. Não existe atualmente um método de extração ideal para as substâncias húmicas. Esse método ideal deveria: possibilitar o isolamento do material orgânico na forma não alterada; permitir a extração dos compostos orgânicos sem contaminação com contaminantes inorgânicos, tais como argilas e cátions, levar a extração completa, garantindo assim a representatividade do material extraído em relação a todas as demais frações de diferentes tamanhos, e, finalmente, ser universalmente aplicável a todos os solos. Percebe-se assim, que certamente não existe um esquema ideal de extração, purificação e fracionamento das substâncias húmicas. A escolha de um ou outro método deve, preferencialmente, estar calcada nos objetivos do estudo. Deve-se ressaltar que devido à complexidade e gama de estruturas apresentadas pelas substâncias húmicas, o seu fracionamento atualmente é puramente operacional e 25 baseia-se na sua solubilidade em diferentes soluções. Assim, as SH podem ser operacionalmente subdivididas em: fração ácidos fúlvicos-AF (solúvel em álcali e solúvel em ácido), fração ácidos húmicos-AH (solúvel em álcali e insolúvel em ácido) e fração huminas-HU (insolúvel em álcali e ácido) (Figura 2). O aspecto puramente operacional desse esquema de fracionamento não garante que cada fração seja composta por compostos orgânicos com composição e estruturas semelhantes. Dentre os vários extratores empregados na extração e fracionamento das SH, o mais comumente têm sido empregada uma solução diluída de NaOH (0,1 ou 0,5 mol L-1 NaOH) a solução mais diluída embora tenha menor poder de extração é preferida pela menor probabilidade de alterar a composição/estrutura das SH. Também têm se tentado utilizar uma mistura de reagentes, tais como 0,1 mol L-1 NaOH e 0,1 mol L-1 Na4P2O7 em solução ou reagentes mais brandos, tais como Na4P2O7 a pH neutro. Independente do extrator, são necessárias extrações sucessivas para se obter o máximo de MO humificada. Entretanto um número diferente de extrações sucessivas pode levar a recuperação de frações com características bastante distintas. Figura 2. Esquema de fracionamento químico baseado na solubilidade diferencial das frações húmicas em ambiente alcalino ou ácido (Dias, 2006, comunicação pessoal). Precipitado de coloração escura: Ácido húmico (AH) Solúvel de coloração amarela: Ácido fúlvico (AF) Alcalinização 26 Devemos considerar que o uso de soluções alcalinas para extração de substâncias húmicas do solo tem sido muito criticado. As principais críticas ao uso das soluções alcalinas são: a) se o material que é extraído da MOS realmente representa a composição do material que não é extraído e de toda a fração orgânica do solo; b) a dificuldade em relacionar a função biológica do C org do solo com o material orgânico extraído; c) as diferenças químicas encontradas entre as moléculas orgânicas extraídas em relação aos mesmos materiais que estão retido no solo (por exemplo, conformação, capacidade de complexação de cátions, hidrofobicidade, etc.); d) criação de artefatos durante o processo de extração. Detalhes sobre os procedimentos de extração de substâncias húmicas são fornecidos pela Sociedade Internacional de Substancias Húmicas (IHSS, 2005). A composição das SH é extremamente variada, desde polímeros de peso molecular relativamente baixo, em torno de 1.000 daltons, até substâncias complexas de peso molecular de algumas centenas de milhares. A grande variação no grau de polimerização e no número de cadeias laterais e radicais que podem ser encontrados nas SH faz com que não existam duas moléculas húmicas idênticas. Considerando que as SH constituem o compartimento da MOS de maior reatividade, elas encontram-se envolvida na maioria das reações químicas no solo. Por apresentar complexidade química, essas substâncias não são facilmente atacadas pelos microrganismos do solo, decompondo-se lentamente e acumulando-se na natureza como MOS (Meurer, 2000). Comumente discuti-se na literatura aspectos relacionados ao carbono lábil (CL) e carbono solúvel (COS). Essas formas de C podem englobar constituintes orgânicos de diferentes compartimentos. Formas de CL podem incluir desde a MO macrorgânica, C-BM, o próprio COS, as SNH em formas que não estão estabilizadas. Enfim, o C lábil corresponde as formas que seriam de fácil mineralização pela biota do solo e pode ser determinado seguindo-se várias metodologias (Lefroy et al.,1993; Blair et al., 1995; Shang & Tiessen, 1997; Chan et al., 2001). O COS por definição operacional, consiste na fração menor que 0,45 µm, solúvel em água, e é uma forma de CL. Pode ser oriundo da decomposição de resíduos orgânicos, litter (Don & Kalbitz, 2005), resíduos culturais (Ciotta, et al., 2004; Ellerbrock & Kaiser, 2005) de origem microbiana, exsudados de raiz (Lu et al., 2003; Souza & Melo, 2003). O COS é constituído por ácidos orgânicos de baixo 27 peso molecular, incluindo-se os ácidos fúlvicos, ácidos graxos, ésteres, polissacrídeos e materiais proteináceos (Stevenson, 1994). O C-carvão é originado do processo da queima incompleta da biomassa. E se considerarmos o fato do fogo fazer parte de alguns dos nossos ecossistemas, como por exemplo nos solos do Cerrado, Terra Preta (solos da amazônia), a perspectiva é que haja uma grande contribuição dessa fração para a MOS em nossos solos. Constituindo-se em um importante reservatório de C no solo, em virtude do longo tempo de residência no solo, com capacidade de armazenar água e cátions, ou seja, não são inertes no ambientes. Interferindo grandemente na dinâmica da MOS, assumindo um papel importante na predeterminação de muitas propriedades físicas e químicas da MOS observada nos solos tropicais, bem como nos caminhos e taxas de ciclagem do C (Skjemstad & Graetz, 2003). Em solos de Terra Preta na região amazônica a contribuição do C-carvão para o COT cerca de 20% (Glaser et al., 2001). Nesses solos de Terra Preta a contribuição do C-carvão em relação às frações leve e pesada da MOS, diminuiu com o aumento da densidade das frações, 75,2 % do C-FL era C-carvão, enquanto na fração de densidade intermediária, o C- carvão representou 52,4 %, e na fração pesada valores acima de 19,3 % (Glaser et al., 2000). Contribuições acima de 45 % do COT foram constatadas para solos da Alemanha com propriedades de solos chernozemicos (Schmidtet al., 1999), solos com uso agrícola do EUA essa contribuição variou de 10-35 % do COT (Skjemstad et al., 2002). O carvão tem estrutura altamente condensada, aromática e resistente à oxidação química e biológica. Apesar disso, mesmo com uma considerável taxa anual de formação o C-carvão não é a forma predominante de COT, o que é um indicativo de que não se trata de um material completamente inerte (Skjemstad). 5.3.3. Rotas de formação e características das substâncias húmicas As substâncias húmicas (SH) são formadas a partir do processo denominado humificação, para o qual diferentes rotas têm sido propostas (Figura 3). Em seguida são descritas brevemente quatro possíveis rotas de formação das SH. Rota 1 - Trata-se de teoria pioneira em que se propunha que as SH eram exclusivamente produtos residuais da degradação da lignina. Acreditava-se que a lignina seria incompletamente degradada pelos microrganismos, passando então a 28 fazer parte do húmus do solo. A lignina sofreria modificações com a perda de grupos -OCH3 e formação de o-hidroxifenóis, além de passar pela oxidação de cadeias alifáticas para a formação dos grupos COOH. Pelo fato de as SH serem consideradas polímeros, o produto inicial formado por meio dessa rota de humificação seria a humina (HU), que após oxidações e fragmentações daria origem inicialmente aos ácidos húmicos (AH), que por sua vez seriam submetidos a fragmentações adicionais e oxidação de cadeias laterais para dar origem aos ácidos fúlvicos (AF). Portanto, conforme essa teoria polímeros mais complexos e condensados, e de maior tamanho, são os primeiros componentes da rota de humificação. Como será visto posteriormente, essa fração HU difere daquela formadas via demais rotas por ser considerada uma fração herdada, contrastando com as demais que são consideradas HU de síntese. Rota 2 - Nesta teoria de formação considera-se que a lignina também é uma precursora das SH. Porém, neste caso considera-se que a lignina é degradada pelos microrganismos, liberando ácidos e aldeídos fenólicos, os quais são convertidos em quinonas por meio de ação enzimática. Estas quinonas se polimerizam na presença ou ausência de compostos amínicos, dando origem às macromoléculas húmicas. Rota 3 - É semelhante à rota anterior, mas considera-se que os polifenóis são sintetizados a partir de fontes que não contenham lignina, como a celulose, por exemplo. Alguns poucos gêneros de fungos do solo são capazes de utilizar carboidratos simples em seu metabolismo e produzir substâncias de natureza aromática. Stevenson (1994), sumarizando alguns resultados ressalta o fato de que fungos do grupo imperfeito degradam a celulose e outros constituintes orgânicos além da lignina e nesse processo, os fungos sintetizam macromoléculas de fenóis de coloração escura. Rota 4 - De acordo com esta rota as SH são formadas a partir da redução de açúcares e aminoácidos, resíduos do metabolismo microbiano, que passam por polimerização não enzimática (reação de Maillard) formando polímeros nitrogenados. 29 Rota Degradativa Transformação microbiana Produtos da biodegradação Au m en to d a bi od eg ra da çã o e ox id aç ão d os b io pi lim er os Rotas de Polimerização A um enta a condensação Polifenois Biopolimeros recalcitrantes: Lignina cutina, suberina, melanina Humina parcialmente modificada Ácido húmico Ácido fúlvico Resíduos de plantas e microbianos Açucares Produtos da degradação da lignina Quinonas Quinonas Compostos nitrogenados Ácido fúlvico Ácido húmico Humina CO2, H2O, NH4+, etc 1 2 3 4 Rota Degradativa Transformação microbiana Produtos da biodegradação Au m en to d a bi od eg ra da çã o e ox id aç ão d os b io pi lim er os Rotas de Polimerização A um enta a condensação Polifenois Biopolimeros recalcitrantes: Lignina cutina, suberina, melanina Humina parcialmente modificada Ácido húmico Ácido fúlvico Resíduos de plantas e microbianos Açucares Produtos da degradação da lignina Quinonas Quinonas Compostos nitrogenados Ácido fúlvico Ácido húmico Humina CO2, H2O, NH4+, etc 1 2 3 4 Figura 3. Rotas de formação de substâncias húmicas. Fonte: adaptado de Hedges, 1988; Hatcher & Spiker, 1988; Stevenson, 1994. As rotas que envolvem a síntese de SH a partir da condensação de polifenóis e compostos aminados são as mais aceitas atualmente. No entanto, é importante ser ressaltado que a ocorrência de uma rota de humificação não exclui a ocorrência de qualquer uma das outras. Todas podem estar ocorrendo ao mesmo tempo, ou uma pode estar predominando sobre a outra, dependendo principalmente do tipo de substrato e condições ambientais. Independente da rota predominante, a humificação é um processo onde ocorre a estabilização do C anteriormente encontrado em formas mais lábeis, contribuindo para fixar o COT. Obviamente, nos solos ocorrem concomitantemente os processos de degradação de compostos orgânicos mais complexos em componentes mais simples (ex: quebra de proteínas com liberação de aminoácidos) e processos de humificação onde geralmente ocorre a síntese de compostos mais complexos a partir de substâncias relativamente mais simples. Outra característica importante a ser salientada é que durante o processo de humificação, como pode ser observado no esquema apresentado anteriormente (Figura 3), compostos orgânicos nitrogenados (aminoácidos, amino-açúcares) podem ser incorporados às SH em todas as rotas. Do mesmo modo formas inorgânicas de N podem ser incorporadas, particularmente o NH4+ e o NO2-. Dessa forma, atualmente, a incorporação de N na estrutura das SH vêm sendo objetivo de vários estudos em razão do possível favorecimento do N na estabilização do C em componentes mais humificados e estáveis do solo. 30 5.3.3.1. Características químicas e estruturais das substâncias húmicas As SH são quimicamente muito parecidas, mas as frações podem ser diferenciadas uma das outras pela cor, massa molecular, presença de grupos funcionais, grau de polimerização, e composição elementar - teores de C, O, H, N e S (Stevenson, 1994). Em relação a essa última propriedade das SH, existe uma tendência geral de os ácidos húmicos (AH) apresentarem maior teor de C, menos O, e teor similar de H em relação aos ácidos fúlvicos (AF). De fato, isso pode ser exemplificado com os dados obtidos para um Argissolo Amarelo, apresentados no Quadro 3. Quadro 3. Composição elementar, relações atômicas de ácidos húmicos e fúlvicos. Fonte: Canellas & Façanha (2004) A partir da composição elementar, podem ser obtidas relações utilizadas na diferenciação do grau de humificação dessas frações. Valores de maior magnitude para a relação O/C podem refletir maior teor de grupamentos carboxílicos e carboidratos, bem como ao contrário, menor relação O/C sugere um incremento da condensação da MOS. Ussiri & Johnson (2003) constataram na fração AH menor teor de O, menor relação O/C e menor concentração de grupamentos carboxílicos em relação aos AF. Ao compararmos a relação O/C obtida por Canellas & Façanha (2004), os AH apresentaram um valor médio (1,93) menor que os AF (3,32). O decréscimo na relação O/C com a profundidade é sugerido pelos autores, como sendo resultante de uma MOS mais humificada na camada superficial, onde se tem, geralmente, maior intensidade dos processos biológicos. E como foi visto Prof C H N O H/C O/C ---m--- -----------------------g/kg----------------------AH AF AH AF AH AF AH AF AH AF AH AF 0-0,05 32 21 30 32 1,2 1,4 37 45 0,9 1,5 1,1 2,1 0,05-0,1 24 18 33 31 0,6 1,2 42 49 1,4 1,7 1,7 2,6 0,1-0,2 22 14 30 28 1 0,9 47 57 1,4 1,9 2,1 3,9 0,2-0,4 19 13 26 27 0,8 0,8 53 60 1,4 2,1 2,7 4,6 31 anteriormente, as rotas de humificação são intermediadas via ação microbiana, por meio de processos degradativos, de síntese e ressíntense, imprescindíveis à transformação da MOS e conseqüentemente da humificação. A relação H/C mais alta indica maior alifaticidade, menor proporção de anéis aromáticos. E o incremento dessa relação reflete o aumento da alifaticidade da MOS em profundidade (Canellas & Façanha, 2004) de que a MOS na camada superficial seria mais humificada. Quanto ao teor de N nas SH, é esperada a seguinte ordem: AF<AH<HU. Ussiri & Johnson (2003) constataram aumento na concentração de N nos AH e redução da relação C:N em comparação aos AF. A relação C:N variou de 27,3 a 57,2 e de 18,3 a 26,2 para AF e AH, respectivamente. O estreitamento da relação C:N com o avanço do grau de humificação é observado com a crescente perda de CO2 Figura 4. Esquema de decomposição/humificação da matéria orgânica do solo. Os principais grupamentos funcionais das SH são: carboxílicos (COOH), alcoólico (-OH), fenólico (-OH), carbonil (C=O), quinona (anel C=O), metoxil (OCH3), e amínico (-NH2). Figura 5. Grupamentos funcionais da MOS Os grupamentos funcionais são determinados tomando-se como base as propriedades acídicas das SH. A chamada acidez total dos grupamentos funcionais das SH pode ser calculada por meio do somatório dos grupamentos carboxílicos e fenólicos. Deve-se considerar que as cargas negativas superficiais são dependentes de pH. 32 Com a elevação do pH ocorre incremento significativo das cargas superficiais das SH. Em AH e AF extraídos de um solo orgânico os incrementos foram verificados na faixa de pH 4-6 (Figura 6). Constatando-se maior contribuição dos AF, que de AH, na geração de cargas. Esse comportamento deve-se à menor constante de dissociação e abundância dos grupamentos carboxílicos. O valor de log K1 (referente aos grupamentos carboxílicos) foi, em média para dois horizontes, 4,3, para os AF e para 5,23, para AH, resultando em uma diferença de aproximadamente uma unidade, conferindo aos AF maior tendência de ionização. O log K2 (referente aos grupamentos fenólicos) foi em média 8,7 para ambos, AH e AF, e a relação entre grupos carboxílicos de HA: FA foi de, aproximadamente, 4:6 (Gondar et al., 2005), o que reforça a premissa de que a diferença nas cargas geradas pelos AF e AH, está principalmente relacionada com a presença de grupamentos carboxílicos. Entre pH 3 e 6,5 ocorre aumento linear nas cargas superficiais, representando a dissociação dos grupamentos R-COOH. Após este ponto, o gradiente reduz devido à redução do poder tampão do ácido, representando a dissociação de grupamentos fenólicos. Dessa forma, como grande parte dos R-COOH dissocia-se para ânion carboxilato nos valores de pH encontrados na maioria dos solos ácidos, são esses grupamentos que têm grande influência sobre a CTC dos solos. Figura 6. Curvas de cargas em função do pH, em AH e AF extraídos de um solo orgânico. Os grupamentos fenólicos também têm participação, uma vez que substituições dos componentes dos anéis benzênicos podem reduzir os valores de pKa dos grupamentos fenólicos, permitindo que eles dissociem em valores de pH mais baixos. Entretanto, grande parte deles não está dissociada quando o pH esta abaixo de 9. Os AF possuem maior número de prótons dissociáveis por unidade de massa do que os AH devido à maior quantidade de grupamentos R-COOH e maior acidez total (Quadro 4). 33 Quadro 4. Acidez dos grupamentos COOH e fenólicos de AH e AF e fúlvicos de Latossolos. Ácidos Húmicos Ácidos Fúlvicos Solo Horizonte Acidez Total COOH Fenólicos Acidez Total COOH Fenólicos ------------------------------ cmolc kg-1 --------------------------------------- ------ A1 671 360 311 1064 782 282 LV A3 688 368 320 1117 819 298 B1 694 371 323 1139 836 303 B2 882 473 409 1127 827 300 DMS(0,05) - 201 92 82 63 44 35 A1 654 351 303 1083 794 289 A3 718 386 332 1066 780 286 LE B1 762 411 351 1005 736 269 B21 836 449 386 973 715 258 B22 914 489 425 1080 794 286 DMS(0,05) - 240 127 107 97 60 29 GH - 878 471 407 872 635 237 LV = Latossolo Vermelho-Amarelo; LE = Latosso Vermelho-Escuro; GH = Glei Húmico; DMS = diferença mínimo significativa. Fonte: Mendonça e Rowell (1996). Em média os grupamentos carboxílicos corresponderam a cerca de 73 % da acidez total nos AF enquanto nos AH, correspondem à apenas cerca de 54 % da acidez total. A acidez total foi em média 733 cmolc kg-1 para AH, inferior àquela observada para AF, em média 1111 cmolc kg-1. Contudo, ambas as frações, AH e AF, possuem mais cargas do que a capacidade de troca típica de uma argila 2:1 (< 2 molc kg-1). Visto que grande parte dos grupamentos acídicos das SH se dissociam entre pH 5 e 7, espera-se que elas tenham carga líquida negativa nos solos. Na realidade, esses compostos possuem caráter anfótero, possuindo além das cargas negativas, cargas positivas, dependendo do pH do solo e do PCZ dos compostos orgânicos. Em geral, as cargas positivas estão associadas a protonação do grupamento amino: NH3+ - CH – COOH ↔ NH2 – CH - COOH ↔ NH2 – CH – COO- Meio ácido Ponto isoelétrico (PCZ) Meio básico Além dos grupamentos funcionais, a maior contribuição das substâncias húmicas na geração de cargas passíveis de reação de troca é aumentada em razão da alta superfície específica das substâncias húmicas (que pode chegar a 900 m2 g- 1). Alvarez-Puebla et al. (2005) determinaram a área superficial aparente (AS) de SH, constatando um aumento da AS com a diminuição da complexidade molecular 34 do AF>AH>HU. Os AF, AH e HU foram extraídos de SH comerciais, sendo os valores obtidos para AF 79 e 97,7 m2 g-1, para AH, os valores variaram de 52,4-89,9 m2 g-1 e na HU a As foi de 43,1 e 57,3 m2 g-1. De acordo com esses autores, essa diminuição na AS com o aumento da complexidade estrutural é devida à agregação intramolecular, com o conseqüente aumento do tamanho da molécula e decréscimo da polaridade. Devido a essas duas propriedades, a MO pode reter grandes quantidades de água por meio de pontes de H+ dos grupamentos reativos, podendo reter até 4 a 6 vezes o seu peso em água. Contudo, os compostos aromáticos, que predominam no núcleo das SH, são hidrofóbicos e, por esta razão, o núcleo encontra-se condensado, tendendo a reduzir sua superfície de contato com o meio aquoso, adotando forma esférica. São os grupamentos funcionais, com cargas elétricas não compensadas, que formam as cadeias alifáticas hidrofílicas. Sendo assim, a capacidade de retenção de água também será influenciada pela proporção das moléculas de anéis aromáticos (hidrofóbicos) e dos radicais laterais (hidrofílicos). O aumento da relação C/H (como ocorrido dos AF para a fração HU) resulta em diminuição da capacidade de hidratação das SH. Essas microrregiões de natureza hidrofóbica, conforme mencionado anteriormente, são importantes para a retenção de muitos pesticidas e contaminantes de natureza apolar. Na realidade, as SH apresentariam um peso molecular relativamente baixo, inferior à 2000 Da (Simpson et al., 2002). Em estudos usando técnica de cromatografia por exclusão de tamanho, o peso molecular de SH extraídas de diferentes solos variou de 9-14 kDa para AF e de 15-20,4 kDa para AH (Perminova et al., 2003). Os AF são o grupo de menor peso molecular e, maior densidadede grupamentos carboxílicos, possuem maior solubilidade e polaridade que os AH, conferindo-lhes uma maior mobilidade no solo. Assim, o tamanho e a natureza das diferentes SH têm implicações práticas. Por exemplo, a complexação de metais pesados por moléculas de AF pode acarretar sua maior mobilidade no solo (maior risco de lixiviação e contaminação do lençol freático) em comparação com a complexação por AH e HU que são maiores, menos solúveis e menos móveis no solo. Isso é exemplificado pela redução do fluxo difusivo de Cu em dois em Latossolos Vermelho-Amarelo de textura média e argilosa tratados com doses crescentes de AH, mas não com doses crescentes de ácido cítrico (altamente polar e de pequeno tamanho) (Figura 7). 35 Figura 7. Fluxo difusivo de Cu para resina catiônica (negativamente carregada) e resina aniônica (positivamente carregada) em solos submetidos a doses crescentes de AH. Analisando-se as propriedades da MOS até aqui discutidas pode-se inferir que durante o processo de transformação da MOS, dá-se origem a substâncias orgânicas mais humificadas, do sentido AF → AH → HU (Figura 8). Figura 8. Propriedades químicas e coloidais das substâncias húmicas. Fonte: adaptado de Stevenson & Elliott (1989). Dados de pesquisa indicam que as substâncias húmicas são micelas de natureza polimérica, com formado de espirais estendidas irregularmente com as R esin a catiôn ica 0,00 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08 0,09 0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 Do se d e ác id o h ú mico , g /kg Fl ux o di fu si vo d e C u, n m ol /c m2 /d Tex tura m édia A rgilos o R esina an iôn ica 0,00 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08 0,09 0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 D ose de ácido húmico, g/kg Fl ux o di fu si vo d e C u, n m ol /c m2 /d 36 características: estrutura básica de anéis aromáticos de fenol di-ou-trihidróxidos interligados por pontes de -O-, -CH2-, -NH-, -N=, -S- e outros grupos contendo grupos -OH livres e ligações duplas de quinona, obtendo na sua estrutura grupamentos carboxílicos, hidroxilas, carbonilas e alcanos; grandes número das cadeias de alcanos C1-C20 substituídas ou não por grupamentos contendo O ligados a cadeias menores de C; grupos aromáticos e alcanos conectados principalmente por ligações C-C para formar a estrutura básica das moléculas húmicas; podem ser encontradas proteínas e carboidratos não ligados covalentemente a estrutura principal (core), associados à superfície das substâncias húmicas; formam uma estrutura muito estável, havendo ligações cruzadas entre as diferentes partes das moléculas. Pesquisadores têm tentado desenvolver modelos químicos para representar a estrutura média dessas substâncias como os apresentados para AH por Shulten e Schnitzer (1993) e por Alvarez-Puebla et al. (2006) (Figura 9). Embora as SH possuam proporção substancial de seu C associado a núcleos de natureza aromática, o grau de aromaticidade delas é bem menor do que se acreditava há algumas décadas. Assim, os modelos de estrutura moleculares passam a levar em consideração que estruturas alifáticas são de maior importância do que previamente pensado. O uso de técnicas espectroscópicas tem possibilitado a verificação da presença de maior proporção de compostos mais alifáticos na fração argila (Schmidt et al., 2000; Dick et al., 2004; Rumpel et al., 2004). a) 37 b) Figura 9. Modelo molecular de AH (a) e AF (b). Fonte: por Shulten e Schnitzer (1993) e por Alvarez-Puebla et al. (2006) Apesar de se esperar uma maior aromaticidade da MOS em razão da rápida taxa de ciclagem em regiões tropicais úmidas, ocorre estabilização coloidal da MOS quando da sua associação com a fração argila, de forma que há um retardamento na sua ciclagem, dando origem à uma MOS com predominância de compostos mais alifáticos (Dick et al., 2004). Essa MOS de natureza mais alifática pode ser oriunda de substâncias parafínicas (ceras, suberinas, etc) do material vegetal aportado ao solo em razão de sua preservação seletiva no processo de decomposição e da contribuição das raízes (Stevenson, 1994; Buurmann et al., 2005). No entanto, estudos mais recentes indicam que uma parte substancial dos compostos mais alifáticos associados à fração argila pode também ser de origem microbiana (Wattel- Koekkoek et al., 2001; Chefetz et al., 2002; Rumpel et al., 2004;Dieckow et al.,2005) ou seja, são metabólitos intermediários da decomposição de resíduos vegetais ou componentes da estrutura microbiana que têm sido seletivamente preservados em função de suas características físicas/químicas. Kiem & Kogel-Knabner (2003) encontraram evidências da estabilização de açúcares de origem microbiana nas frações mais finas do solo. Dieckow et al. (2005) atribuíram a diferença na composição da MOS associada à fração de tamanho silte e argila de Argissolos brasileiros cultivados e sob campo nativo, às mudanças na população na comunidade microbiana do solo, alterando, portanto, a qualidade de seus produtos bioquímicos. Simpson et al. (2004) ressaltam a contribuição de aminoácidos derivados de fungos e bactérias na acumulação do C de origem microbiana na fração silte+argila, provavelmente estabilizados por meio da superfície reativa 38 dessas partículas, principalmente argila. Verificando-se uma acumulação preferencial de C aminoácidos derivados de fungos (glucosamina) em relação aos de origem microbiana (galactosamina e ácido murâmico) na fração <53 �m em amostras de macroagregados oriundas de solo sob sistema plantio direto. Portanto, estudos que visem caracterizar a composição da MOS são de grande importância, em razão do papel que esta fração possui principalmente nos solos mais intemperizados. Adicionalmente, o melhor entendimento de sua natureza e dos fatores que governam sua estabilização auxiliará na busca de práticas de manejo que contribuam para sua preservação. 5.3.4. Mecanismos de estabilização da MOS Grande parte da estabilidade da MOS ainda não é completamente entendida. Sabemos que, além da proteção coloidal e física, parte da proteção da MOS advém de sua estabilidade bioquímica. No que se refere ao mecanismo de proteção física, a agregação atua protegendo compostos orgânicos não seletivos da decomposição microbiana, enquanto a interação com a fase mineral pode favorecer a proteção de moléculas específicas (Six et al., 2002; Rumpel et al., 2004). A estabilização bioquímica está relacionada com a resistência estrutural ao ataque de uma ou um grupo específico de enzimas. A estabilização da MOS é especialmente importante nos trópicos, em razão de que nessas condições climáticas a decomposição é acelerada. Portanto, a manutenção e elevação dos teores de MOS dependem grandemente dos fatores que controlam o tamanho dos diferentes compartimentos que a compõe, como descrito no item anterior, bem como da estabilização da MOS durante o processo de humificação. 5.3.4.1. Estabilização química ou coloidal A proteção química ou coloidal é atribuída a associação da MOS com as frações argila e silte do solo, formando complexos argilo-orgânicos. Fortes correlações têm sido referenciadas na literatura entre o teor C e teor de argila ou teor de silte + argila (Zinn et al., 2005). Vários mecanismos podem interagir no processo de complexação da MOS com as argilas. Stevenson (1994) destaca os principais mecanismos como sendo: a) ligação eletrostática; b) força de van der Waals; c) ponte de hidrogênio e d) coordenação comóxi-hidróxidos e argilas 39 silicatadas. Dois ou mais mecanismos podem operar simultaneamente, dependendo das propriedades da espécie orgânica, da natureza da troca catiônica da argila, acidez e umidade do sistema (Stevenson, 1994). Ligação eletrostática: a atração se dá entre cargas opostas; pode ocorrer diretamente entre a superfície de argilas silicatadas carregadas negativamente e grupamentos que apresentam carga líquida positiva como os grupamentos amina. Considerando que uma grande parte dos grupamentos reativos da MOS também apresenta, em razão do seu baixo PCZ, carga líquida negativa sob as condições de pH da maioria dos solos, deveria ocorrer a repulsão das moléculas orgânicas pelas partículas de argila negativamente carregadas, se não fosse a atuação das pontes catiônicas, conforme esquema abaixo. Grupamentos carboxílicos e fenólicos podem ainda se ligar diretamente a superfícies de óxidos (carregados positivamente). Os óxidos por apresentarem alto PCZ desenvolvem cargas positivas, de modo que a adsorção se dá diretamente via troca aniônica, principalmente com os grupos carboxílicos (Zech et al., 1997): ARGILA OH2+ ... -OOC-R ARGILA - ... +H3N-R ARGILA - ... + M + ... -OOC-R Força de van der Waals: força resultante na flutuação da densidade de carga elétrica dos átomos. É considerada importante na adsorção de moléculas polares neutras e não polares: - ... ... A R G I L A H U M U S- + + - - + +... ... Pontes de hidrogênio: Assim como os outros cátions, o H+ atua como ponte, ligando o grupamento orgânico à superfície da argila, ambos negativamente carregados. Esse processo é muito importante nos solos ácidos onde se verifica uma grande protonação de grupamentos reativos, tanto nas argilas como na MOS. A ponte de H2O é de grande importância nos solos se considerarmos que ambos os 40 colóides orgânicos e inorgânicos encontram-se hidratados pela solução do solo na maior parte do tempo: ARGILA OH ... O = R ARGILA - ... + M + ... O = RO - H H Coordenação: Ocorre uma troca de ligantes. Anions orgânicos ligados a oxi- hidróxidos podem ser trocados por outros anions, mas grande parte é ligada de forma especifica por meio de troca de ligantes. No esquema abaixo podem ser observadas as trocas aniônica e de ligantes. O oxigênio dos grupamentos funcionais da MOS (carboxílicos, fenólicos, alcoólicos, etc) entram em coordenação (ligação covalente) principalmente com Fe e Al da estrutura dos oxi-hidróxidos. Ânions orgânicos ligados dessa forma dificilmente serão deslocados por outros anions: Superfície de ArgilaSuperfície de Argila Superfície do OxihidróxidoSuperfície do Oxihidróxido 41 Essa forma de ligação libera uma molécula de água para a solução, pela seguinte reação: R-Al-OH + HOOCR ⇔ R-Al-OOCR + H2O A presença de pontes de cátion entre as argilas silicatadas do tipo 2:1 e do tipo 1:1 e os radicais orgânicos é um mecanismo comum de estabilização da MOS, destacando-se o Ca como um dos cátions de grande importância no estabelecimento de pontes catiônicas (Muneer & Oades 1989). Entretanto, em razão do processo de intemperismo avançado da maioria de nossos solos, o cátion predominante no complexo sortivo é o Al, de modo que ele deve ser o cátion mais atuante na estabilização da MOS. Esmectitas são mais efetivas protetoras que a caulinita em razão desta última não apresentar propriedade de expansão (Zech et al., 1997). O fator que mais contribui para explicar o TMR da MOS foi a CTC efetiva das argilas (Wattel- Koekkoek & Buurman, 2004). Grande parte dessa MOS associada à fração argila pôde se extraída com NaOH, e continha quantidade substancial de polisacarídeos, indicando ser esta de ciclagem relativamente rápida (Wattel-Koekkoek et al. (2001). A maioria dos solos tropicais possui abundância de oxi-hidróxidos na fração argila, as quais possuem um importante papel na estabilização da MOS (Wiseman & Putmann, 2005; Kleber et al., 2005). Os principais mecanismos de ligação da MOS aos oxi-hidróxidos de Fe e Al são a atração eletrostática, pontes de H, e troca de ligantes (Zech et al., 1997). Parte da estabilização da MOS pode ser devido à influência da argila na atividade microbiana. As argilas mudam o ambiente para os microrganismos, influencia o pH, força iônica, disponibilidade de substrato, bem como a produção e atividade de enzimas (Zech et al., 1997). Esses complexos orgânicos formados com o Fe e o Al são de baixa solubilidade e acessibilidade a microbiota (Zech et al., 1997). Em estudo em que se avaliaram as interações entre minerais de argila no armazenamento de COT de diferentes solos da Alemanha, somente amostras de um solo de cinco perfis analisados exibiu correlação entre a área de superfície especifica das partículas < 63 mm (silte + argila) e o teor de COT (r=0,459; P< 0,01), enquanto que para o COT e o Fe extraído por oxalato foram obtidas correlações em torno de 0,893 (P<0,01) para os perfis analisados (Wiseman & Putmann, 2005). A proteção exercida por formas amorfas não está apenas restrita a solos alofânicos. Kleber et al.(2005) constataram que a combinação de Fe e Al extraídos com oxalato 42 explicou a maior variação do C estável (r = 0,78), sugerindo que em solos ácidos a MOS é preferencialmente protegida por minerais pobremente cristalizados. A interação de oxi-hidróxidos de Fe e Al com os argilominerais formando complexos e, ou, agregados, desempenha um importante papel na estabilização da MOS. 5.3.4.2. Estabilização física Os agregados do solo atuam fisicamente diminuindo o acesso a microbiota e seu sistema enzimático, bem como reduzindo a difusão de O2 para microporos. Em solo arenoso com predomínio de poros entre 6 e 30 µm microrganismos são encontrados tanto na superfície como dentro dos agregados, mas em solo argiloso com diâmetro de poro <0,2 µm os microrganismos são encontrados apenas na superfície dos agregados (Chenu et al., 2001). Esse mecanismo de proteção pela agregação do solo permite a proteção não seletiva de compostos orgânicos (Rumpel et al., 2004), de modo que pode resultar em estabilização de formas mais lábeis de COT. Sob condições de solos tropicais ácidos o cátion que domina o complexo de troca é o Al3+. No entanto, em solos cultivados, as práticas de manejo da fertilidade, como a calagem, fazem com que o Ca2+ predomine no complexo sortivo. O Ca2+ atua na estabilização física, permitindo uma maior floculação das partículas do solo (Figura 16a), conseqüentemente melhorando a agregação, bem como leva a um aumento na condensação das moléculas orgânicas devido ao contra-balanceamento de cargas negativas em grupamentos funcionais da MOS (Figura 13b). Adicionalmente, o Ca2+ participa de pontes metálicas entre a MOS e os minerais das frações mais finas do solo (Muner & Oades, 1988). a) b) 43 Figura 10. Modelo de floculação das partículas do solo (a) e de condensação de moléculas orgânicas. Fonte: Muner & Oades (1988). O efeito protetor dos agregados é tido como efetivo na preservação da MOS oclusa. Porém, deve ser lembrado que os mecanismos de estabilização não são mutuamente excludentes, e que esta proteção física é aditiva à proteção química conferida a maioria das substâncias húmicas. 5.3.4.3. Estabilização bioquímica A estabilização bioquímica deve-se a complexa composição química dos compostos orgânicos. Essa complexidade pode ser inerente ao próprio resíduo vegetal adicionado ao solo (ex: alto teor de compostos fenólicos, lignina, taninos, etc) ou devido aos processos de condensação e polimerização que ocorrem durante a decomposição dosresíduos vegetais (humificação), tornando-os mais resistentes à decomposição. Uma grande variedade de compostos fenólicos é encontrada nos tecidos vegetais e solos (Martens, 2002). As plantas são a principal fonte de material orgânico para os solos e, depois da celulose, a lignina é o segundo constituinte mais abundante na maioria dos resíduos vegetais. A lignina é composta por monômeros de ácidos fenólicos altamente “cross-linked” a carboidratos e proteínas. Devido a sua complexidade química, a lignina é apenas biodegradada parcialmente e, portanto, pode contribuir para a MOS. A conversão microbiana desses ácidos fenólicos derivados de plantas (ou sintetizados por determinados fungos a partir de açúcares simples), seguida de sua complexação com aminoácidos, leva à formação de polímeros complexos, polidispersos e de coloração escura (SH), contribuindo para a estabilização do C no solo (Stevenson, 1994). Essa estrutura complexa com uma grande diversidade de componentes das SH dificulta a ação das enzimas. Por exemplo, num período de um ano 12,7% do AH, 29,2% do AF foram decompostos, enquanto de 44,3 a 51,3 % de outras frações hidrofílicas contendo carboidratos e ácidos orgânicos de baixa massa molecular foram decompostos. Sob condições semelhantes 66 % da glicose adicionada foi convertida em CO2 (Qualls, 2003). O tempo de meia vida estimado para os AH foi de 10 anos, suportando a hipótese que SH são difíceis de serem decompostas por microrganismos do solo, e contribuem para a estabilização do C no solo (Qualls, 2003). Embora os compostos fenólicos pareçam ter papel importante na formação da MOS, pouco se sabe em que magnitude eles contribuem para o processo de 44 humificação. A MOS associada a agregados > 250 µm de um solo mediterrâneo, cultivado por longo período com culturas anuais (principalmente milho), era mais nova, seus AH possuíam abundância de compostos derivados da lignina e sua origem estava fortemente ligada aos biopolímeros de plantas. Com o decréscimo do tamanho das partículas do solo os AH continham mais unidades derivadas da lignina em estádios finais de oxidação, possuíam mais ácidos graxos originários de atividade microbiana, e maior conteúdo de estruturas aromáticas que não eram derivadas da lignina (Chefetz et al., 2002). O incremento no teor de N em estádios mais avançados de decomposição pode resultar em incremento das taxas de acumulação C em horizontes orgânicos de solos sob floresta por meio do decréscimo da respiração e decréscimo do COS (Michel & Matzner, 2002). A qualidade do material é alterada de um litter mais fresco para outro mais decomposto, reduzindo assim as taxas de decomposição e o incremento da recalcitrância do material. No início da degradação do litter a taxa de decomposição de compostos mais lábeis como a celulose pode ser positivamente correlacionada com o teor de N. Com a redução da celulose a concentração de compostos mais recalcitrantes como a lignina aumenta, e o efeito do N na taxa de decomposição muda completamente. O N passa a atuar de forma a retardar a degradação da lignina. O efeito proporcionado pelo N varia dentre diferentes espécies. Cada espécie possui um limite máximo de contribuição de massa remanescente para constituição do húmus do solo (Berg et al., 2000). O efeito de retardamento da degradação pelo N pode ser explicado, principalmente, por dois mecanismos: o N reage com moléculas de baixo peso molecular e ligninas remanescentes, dando origem a compostos aromáticos mais recalcitrantes (inclui substâncias húmicas) e, posteriormente, o N ligado a moléculas de baixa massa molecular pode suprimir a síntese de enzimas lignolíticas (Berg et al., 2000). Espécies como milho contribuíram mais para acumulação de compostos fenólicos (um dos principais precursores das SH) no estudo com grande número de espécies vegetais realizado por Martens (2002). Esses autores realizaram a extração de AH no solo tratado com diferentes resíduos culturais, observando incremento nos AH em relação ao solo sem resíduo nenhum (2,8 g kg-1). No milho o teor foi de 3,3 g kg-1 aos 29 dias e 3,6 g kg-1 aos 84 dias de incubação do resíduo. A canola (baixo teor de ácidos fenólicos) apresentou um teor de 2,8 g kg-1 aos 29 dias e de 2 aos 84 dias, indicando a ocorrência da degradação da MOS nativa (efeito “priming”). 45 5.3.5. Propriedades do solo influenciadas pela matéria orgânica do solo (MOS) Apesar de sua pequena proporção em relação à massa total de solos minerais tropicais, a MOS desempenha grande influência sobre várias propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, e suas funções nos ecossistemas terrestres. Muito das variações das propriedades de um determinado solo é mais influenciada pelo visto não é somente efeito direto da quantidade e qualidade da MOS, mas sim, produto das interações entre os diversos componentes do sistema. 5.3.5.1. Propriedades Químicas 5.3.5.1.1. Capacidade Tampão No ambiente, a matéria orgânica funciona como ácido fraco, agindo como par conjugado ácido/base. A diversidade química dos componentes da MOS está relacionada com sua diversidade de grupamentos funcionais, fazendo com que a MOS tenha ação tamponante numa grande faixa de pH do solo. Mendonça et al. (2005) avaliaram a capacidade tampão de solos do cerrado brasileiro por meio de equações de regressão obtidas com dados de titulação do solo com solução de NaOH e Ca(OH)2. A maior capacidade tampão medida com solução de Ca(OH)2 foi decorrente da reação do Ca2+ com os grupamentos carboxílicos dos AF e que, no solo argiloso, os AH e AF são igualmente importantes, e no solo textura média, os AF são mais importantes como componente da capacidade tampão desses solos. A diferença foi fortemente correlacionada com os teores de COT (r=0,99). Nesse estudo a capacidade tampão da MOS quando medida com Ca(OH)2 foi de 0,11 cmolc kg-1 pH-1.Dessa forma, a adição de MO resultará em aumento ou redução do pH do solo, dependendo da predominância dos processos que consomem ou liberam H+. O aumento do pH pode ocorrer em decorrência de processos de: redução da atividade de H+ resultante, principalmente, da liberação de cátions metálicos; mineralização de formas orgânicas de N; denitrificação; descarboxilação dos ácidos orgânicos (Yan et al., 1996; Pocknee & Sumner, 1997). Em solos alcalinos espera-se que o efeito seja o contrário, ou seja, ocorra redução do pH em decorrência da influência da MOS sobre o aumento na concentração do CO2 durante o processo de decomposição/mineralização contribuindo para aumentar a 46 concentração de ácido carbônico (CO2 + H2O ⇌ HCO3− + H+), e sua subseqüente dissociação do ácido carbônico (H2CO3 ⇌ HCO3− + H+). Em solos ácidos, tem-se observado o aumento do pH com a adição de materiais orgânicos, tais como esterco fresco e camas de aviário, adubos verdes. Espécies de adubos verdes efetivas apresentam maiores teores de cátions, e ácidos orgânicos de baixa massa molecular na fração COS. Estes últimos são capazes de consumir íons H+ da solução do solo devido a protonação dos grupamentos funcionais, refletindo em potencial efetivo em minimizar a acidez do solo (Franchini et al., 1999; Miyazawa et al. 2000). Resíduos de nabo forrageiro foram mais eficientes em aumentar o pH na camada de solo de 0-25 cm em comparação aos resíduos de ervilhaca e aveia, o que foi atribuído à capacidade de neutralização do H+ e, ainda, ao incremento dos teores de Ca e Mg no solo, provenientes dos resíduos (nabo forrageiro> aveia=ervilhaca) (Amaral et al. (2004). 5.3.5.1.2. Capacidade de troca catiônica A contribuição da MOS para a CTC dos solos, pode chegara até 90 % da CTC. Nos solos tropicais, comcargas predominantemente variáveis dependentes de pH, em estágio avançado de intemperismo, com a fração argila dominada por caulinita e oxi-hidróxidos de Fe e Al, a contribuição da MOS é maior, principalmente em solos com baixos teores de argila. Se considerarmos que grande parte dos sítios de reação da MOS estão ocupados por metais e ligação com os colóides inorgânicos do solo, a contribuição da MOS para a CTC efetiva do solo é freqüentemente menor do que a contribuição teoricamente possível quando comparamos com as cargas totais de grupamentos carboxílicos e fenólicos podem contribuir. Mesmo nessas condições, quando estimamos a CTC de Latossolos em função do teor de COT e da fração argila por meio de equações de regressão, decorrente da insignificante contribuição da fração argila, seu coeficiente pode ser negativo: ŷ = 0,482 + 0,363X1 – 3x10-3X2, r2 = 0,82; ŷ = CTC (cmolc kg-1); X1 = COT (dag kg-1); X2 = argila (dag kg-1). Comparando-se os coeficientes dessa equação pode-se determinar que o COT é 121,0 vezes mais importante que a fração argila para se determinar a CTC do solo (Mendonça & Rowell, 1996). A CTC do solo pode ser aumentada em solos sob sistemas de manejo que proporcionem o incremento dos estoques de COT, o que pode ser verificado por meio das correlações positivas 47 entre esses atributos (Figura 11). Conseqüentemente, sistemas que contribuem com o aporte e manutenção da MOS tais como o sistema plantio direto (Ciotta et al. 2003; Bayer et al., 2003) (Figura 11) e sistemas cultivados com cana de açúcar com aplicação de vinhaça e/ou manutenção do resíduo de cana em cobertura (Canellas et al., 2003) são os que apresentam maior CTC em comparação ao mesmo solo com sistemas de manejo menos conservacionistas Figura 11. Relação entre o COT e CTC (Fonte: Ciotta et al., 2003). 5.3.5.1.3 Complexação de metais A presença de vários grupamentos funcionais na MOS possibilita sua reação com os metais. Os principais sítios de complexação são os grupamentos carboxílicos e fenólicos. As interações possíveis entre o complexante e os metais podem ter a forma de uma reação de adsorção catiônica via atração eletrostática (esfera interna), como as entre os grupamentos carboxílicos carregados negativamente (dissociados) e um cátion monovalente, ou interações mais complexas onde ligações de coordenação (esfera interna) com os ligantes orgânicos são formadas (Figura 12). Com o aumento do pH ocorre dissociação dos grupamentos funcionais do composto orgânico, acarretando aumento da estabilidade do complexo organo- metálico. carbo n ila é te r ca rb o x ila to N ane l A zo A m in o A lcó o lico C = O > -O -> -C O O -> = N -N = N ->-N H 2> -O - > carbo n ila é te r ca rb o x ila to N ane l A zo A m in o A lcó o lico C = O > -O -> -C O O -> = N -N = N ->-N H 2> -O - > 48 Compostos orgânicos simples, com apenas um grupamento reativo, dificilmente conseguirão formar complexos estáveis, visto que a principal reação a ser envolvida é por meio do efeito ácido (H+) ou atração eletrostática. Figura 12. Modelo estrutural de complexo de esfera interna (adsorção iônica - eletrostática) e esfera externa (ligação covalente – troca de ligantes) (Fonte: Sparks, 1995). Cátions monovalentes são ligados aos compostos orgânicos por ligações muito fracas (Figura 13a). Como as reações ocorrem na solução do solo, em geral, os metais se apresentam na forma hidratada, ligações de co-adsorção são muito comuns na natureza (Figura 13b). 49 Figura 13. Mecanismos de interação entre compostos orgânicos e metais. Ligação eletrostática (A), co-adsorçãos (B), complexação (C) e formação de quelato (D). A diferença entre as Figuras 13c e 13 são marcantes quanto à estabilidade dos compostos. Apesar de estarem presentes apenas ligações covalentes (Figura 13c), há formação de complexo e a 13d indica que há formação de dois tipos de quelatos. A formação de quelatos pode ser descrita como uma reação de equilíbrio entre um íon metal e um agente complexante, no nosso caso, orgânico, caracterizada por mais de uma ligação (exemplo, eletrostática ou covalente), resultando na formação de uma estrutura de anel, onde o metal está incorporado a estrutura. A ordem decrescente da habilidade do íon metálico de formar quelato é aproximadamente a seguinte: Fe3+>Al3+>Cu2+>Ni2+>Co2+>Zn2+>Fe2+>Mn2+. As reações de complexação e quelação de metais pela MOS têm papel importante em vários processos no solo (intemperismo, disponibilidade de nutrientes e aspectos ambientais do solo). Quando a relação metal/substância húmica é baixa, o complexo é solúvel em água. Dessa forma, por meio da dissolução da fração mineral há liberação de mais íons metálicos. Uma outra conseqüência pode ser o aumento da disponibilidade de um determinado metal. Contudo, quando a relação metal/substância húmica é elevada, o complexo não fica solúvel em água, diminuindo sua disponibilidade para as plantas. As frações de C que interagem com os metais constituem-se numa gama de ácidos orgânicos de baixo peso molecular (AOBMM) como polifenóis, ácidos alifáticos, aminoácidos, ácidos cítricos, oxálico, M R C OH O O (C) OHM R C OH O O (C) OH R C OH O O MM+ R C OH O O MM+ (A) R C OH OH O O H H M (B) M+M R C O O (D) O M+M R C O O (D) O OU M R C O O (D) O M+ O O C O M R C O O (D) O M+ O O C O 50 málico, além de ácidos fúlvicos e húmicos. O tamanho da molécula orgânica é muito importante nesse processo. Isso fica evidente no transporte de micronutrientes catiônicos no solo por fluxo difusivo (FD): enquanto AOBMM, como citrato, são capazes de formar complexos com Cu, Fe, Zn e Mn e favorecer sua difusão no solo (Pegoraro et al., 2005), a presença de concentrações mais elevadas de ácidos húmicos (elevada massa molecular) reduz o FD de Cu, por exemplo. Dessa forma, é evidente que sob condições de uso e, ou, manejo do solo onde a adição de resíduos é mais freqüente e em maior quantidade (Sá et al., 2001; Dieckow et al. 2006), e, ou, onde a MOS se encontra num estádio menos avançado de decomposição (Bayer et al., 2003), tal como é frequentemente observado no SPD com rotação de culturas, esta pode contribuir para melhorar a disponibilidade de micronutrientes. Ácidos orgânicos e compostos fenólicos solúveis participam em reações de oxi-redução, contribuindo para aumentar a solubilidade de Mn no solo (Hue et al., 2001), o que favorece o aumento do gradiente de concentração e o FD. Têm sido demonstrado que vários adubos verdes possuem concentrações significativas de AOBMM (Franchini et al., 1999; Carvalho, 2003; Amaral et al., 2004) e que estes quando liberados no solo são capazes de formar complexos solúveis, estimulando a movimentação de cátions básicos, como Ca e Mg em profundidade, melhorando o ambiente químico para o crescimento radicular (Franchini et al., 2003). Tal fato é ilustrado na figura 14, onde se observa que ocorreu maior crescimento radicular do milho quando a calagem foi associada à aplicação de extratos de aveia e nabo, em razão do aumento do pH e do teor de Ca e diminuição do teor de Al até, aproximadamente, 20 cm (Franchini et al., 2001). AOBMM formam complexos estáveis com formas monoméricas de Al na solução do solo, principalmente Al3+ (Franchini et al., 1999), embora sendo solúveis estes complexos têm se mostrado não tóxicos às plantas (Ma et al., 1997; Kochian et al., 2004). Dessa forma,a participação ativa dos compostos orgânicos em solos sob SPD pode ser uma das razões pela qual as respostas a calagem não se têm sido observadas e, quando ocorrem, são de pequena magnitude (Caíres et al., 2004; 2006). Adicionalmente, deve-se ter em mente que esses compostos orgânicos envolvidos em fenômenos de complexação de metais são tanto oriundos da decomposição de resíduos vegetais, bem como da exsudação via sistema radicular, de modo que as reações ocorrem em maior magnitude na rizosfera. 51 Figura 14. Efeito da aplicação do calcário na superfície do solo no crescimento de raiz (a) e no Al trocável (b).Fonte: Franchini et al., 2001 Como exemplo, a redução da fitotoxidez do Al3+ é mais intensa na rizosfera, onde se observa elevada concentração de AOBMM advindos da exsudação pelo ápice radicular (Ryan et al., 2001; Silva et al., 2002; Kochian et al., 2003; 2004). Os ácidos orgânicos são importantes na mobilização de compostos de Fe3+ na rizosfera, e em resposta à sua deficiência algumas plantas elevam as taxas de exsudação radicular de compostos fenólicos e aminoácidos não protéicos (fitosideróforos). Esses compostos irão quelatar o Fe, favorecendo a dissolução dos óxi-hidróxidos de Fe, resultando em maior concentração de formas solúveis na solução do solo que, por sua vez, irá facilitar seu transporte por difusão até a superfície das raízes onde serão absorvidos (Kochian et al., 2004). Em solos calcários, os ácidos orgânicos auxiliam na liberação do P nos fosfatos de Ca. Em solos com aporte de resíduos vegetais, deve-se considerar ainda que vários compostos de baixa massa molecular podem ser produzidos durante o processo de decomposição pela microbiota do solo. De fato, Guppy et al. (2005) encontraram que determinados compostos orgânicos com comportamento similar a AF eram produzidos durante o processo de decomposição de resíduos vegetais e foram eficientes na redução da adsorção específica de P por solos altamente intemperizados. 5.3.5.2. Características físicas do solo 5.3.5.2.1. Agregação O fenômeno de agregação é resultante da reorganização, floculação e ação das partículas cimentantes sobre as partículas primárias do solo. Os agregados 52 protegem fisicamente a MOS por formar uma barreira física aos microrganismos e suas enzimas aos substratos, por controlar interações entre cadeias alimentares e, por influenciar o “turnover” microbiano. Para solos de clima temperado com mineralogia dominada por argilas do tipo 2:1 a seguinte dinâmica (Figura 15) pode ser hipotetizada: os restos vegetais são rapidamente colonizados pelos microrganismos que os decompõem e formam materiais humificados. Ao redor desses materiais são formados núcleos de macroagregação pelas hifas de fungos que se enovelam com as partículas mais finas do solo. Simultaneamente, os exsudatos (mucilagens constituídas principalmente por polissacarídeos) produzidos por fungos e bactérias durante o processo de decomposição se aderem às partículas de argila, de forma que a MOS é encapsulada pelos microagregados. Raízes vivas de plantas crescendo no solo também contribuem para formar macroagregados, da mesma forma que as hifas fúngicas. Além do aumento da pressão mecânica que contribui para aproximar as partículas de solo, elas enovelam essas partículas e também produzem exsudatos com capacidade cimentante. Esses exsudatos podem servir de substrato para microrganismos, estimulando sua atividade, levando à produção de novos agentes cimentantes. Durante o processo de estabilização dos macroagregados a MO particulada encapsulada dentro dos agregados pela atividade biológica vai sendo decomposta e fragmentada em partículas de menor tamanho. Essa MO particulada fina continua a ser decomposta pelos microrganismos e é encapsulada por minerais e produtos microbianos formando agregados de 53-250 µm dentro dos macroagregados maiores que 250 µm. Dessa forma, a MOS e os microrganismos dentro desses agregados encontram-se protegidos e a biodegradação é reduzida. Pelo esgotamento da fonte de energia, a população microbiana decresce, o macroagregado perde estabilidade e pode ser rompido. A MO residual (substâncias húmicas) é então liberada, podendo ser novamente degradada. Esses macroagregados inicialmente mostram-se pouco estáveis em água, mas os seguidos ciclos de umedecimento e secagem, especialmente na superfície das raízes juntamente com a produção de agentes cimentantes por raízes, macro (especialmente minhocas) e microorganismos contribuem para aumentar sua estabilidade (Golchin et al., 1994; Balesdent et al., 2000; Six et al., 2002). Assim, a maior parte do C que se acumula em sistemas mais conservacionistas se deve ao seqüestro de C preferencialmente nos agregados pequenos dentro dos macroagregados (Kong e tal. 2005). Esses agregados menores são mais estáveis 53 de modo que em solos cultivados com diversas espécies e diferentes sistemas de manejo o C associado a eles possui um tempo médio de residência (TMR) mais longo (Six et al., 2002), provavelmente devido a presença de material orgânico humificado. Ao contrário dos solos de clima temperado, onde os compostos orgânicos são os principais agentes estabilizantes dos agregados solo, nos solos muito intemperizados os óxidos são os principais agentes estabilizantes, se sobrepondo ao efeito dos materiais orgânicos (Six et al., 2002). Figura 15. Mecanismos de formação e degradação de agregados em solos temperados e tropicais (UA-agregados instáveis e WSA-agregados estáveis em água). Fonte: Six et al. (2002) De fato, Zotarelli et al. (2006) não encontraram diferenças nos teores de C entre agregados de diferentes tamanhos para dois Latossolos (um de Passo Fundo- RS e outro de Londrina-PR) cultivados em sistema convencional e plantio direto (SPD). Segundo esses autores o SPD leva a um aumento na estabilidade de agregados de solos mais intemperizados da mesma forma que aquela observada para solos menos intemperizados, mas que a maior estabilidade agregados nos 54 solos sob SPD não necessariamente resulta em maior teor de MOS (Zotarelli et al., 2006). Dessa forma, em solos mais jovens com mineralogia dominada por argilas 2:1 a formação dos agregados é um processo mais biológico, enquanto nos solo mais intemperizados com a fração argila dominada por argilas 1:1, óxidos e oxi- hidróxidos, esse processo é mais dependente de interações físico-químicas (Six et al., 2002) (Figura 15). Em tais condições, a MOS passa a ter um papel secundário na formação e estabilização de agregados. Contudo, o papel da MOS adiciona-se à estabilização conferida pela fração mineral do solo, atuando fortemente em fases posteriores da agregação e na formação de agregados de tamanho maior. Além do papel cimentante, a MOS retarda a entrada de água nos agregados, aumentando a resistência deles quando umedecidos. A fração húmica interage por meio de seus grupamentos funcionais de diversas formas com a fração mineral do solo, principalmente a fração argila. A associação pode ser tão grande que podem formar um plasma onde dificilmente pode ser diferenciada a fração orgânica da mineral. Na formação dos macroagregados existe um papel preponderante da microbiota do solo, que é influenciada pela quantidade e qualidade de MOS. O compartimento ativo, principalmente bactérias e fungos, interage intensamente com a fração argila, que também atua na estabilização de seus metabólitos e produtos de decomposição. Muito desses compostos possuem grupamentos carboxílicos e têm carga superficial negativa, sendo atraídos às cargas positivas dos oxi-hidróxidos e por meio de pontede cátions. Outros podem interagir diretamente, por meio dos grupamentos amínicos protonados, com as cargas negativas das argilas. Essas interações, no entanto, ainda são pouco compreendidas. Em geral, esses organismos interagem por meio de ligações fracas, influenciando diretamente a formação de macroagregados. Bossuyt et al. (2001) encontraram correlação positiva entre a formação de macroagregados e a atividade de fungos, e não observaram influência da qualidade do resíduo e da atividade de bactérias sobre a formação de macroagregados. De modo geral, sistemas conservacionistas sem revolvimento de solo, com rotação de culturas, adubação orgânica, favorecem o incremento na BM (cada vez mais por fungos) (Six et al., 2006). 55 Na região da rizosfera, a estabilidade de agregados é maior que no solo não rizosférico (Caravaca et al., 2002) o que pode ser devido à atuação das raízes, importante componente da MOS viva, na rizodeposição de compostos orgânicos, por meio da contribuição de material orgânico oriundo da biomassa radicular, além da associação com fungos micorrízicos, maior atividade microbiana, que também resulta em produção de polissacarídeos extracelulares, glomalina (glicoproteina produzida por fungos micorrízicos) que atuam ligando os agregados (Sylvia et al., 2005). Conforme discutido anteriormente, a absorção de água do solo pelas raízes potencializa os ciclos de umedecimento e secagem, favorecendo o processo de agregação. Deve se ter em mente que as diferentes frações da MOS são importantes no processo de estabilização de agregados, melhorando assim sua agregação, mas em contrapartida, a estrutura do solo contribui para a estabilização da MOS no solo, o movimento e a retenção de água, redução do encrostamento, a ciclagem e biodisponibilidade de nutrientes, penetração de raízes e por sua vez a produtividade das culturas. O COT e as diferentes frações que compõem a MOS, incluindo a biota (fração viva) influenciam a agregação do solo (Bronick & Lal, 2005), freqüentemente avaliada por meio de índices de aferição da agregação do solo, tais como diâmetro médio geométrico (DMG), percentagem de agregados estáveis em água e índice de estabilidade de agregados. 5.3.5.2.2. Retenção de água A água é uma molécula polar, que é retida por pontes de hidrogênio pelos grupamentos funcionais que contém unidades de OH e NH2 e é repelida pelas cadeias orgânicas apolares da MOS De forma geral, a MOS pode reter até 20 vezes sua massa em água (Stevenson, 1994), sendo parte retida na sua estrutura interna, tendo baixa disponibilidade para as plantas. O aumento da polimerização das SH e de sua interação com a fração mineral do solo podem diminuir a capacidade do solo em reter água. Muitas vezes, altos teores de MOS refletem em grande caráter hidrofóbico do solo, visto que a porção hidrofílica da MOS orienta-se na direção do interior do agregado, enquanto a porção hidrofóbica direciona-se para a face externa, formando uma camada repelente a água. As substâncias húmicas também podem ser divididas, conforme sua afinidade com água, em: hidrofílicas, constituídas principalmente por carboidratos neutros ou ácidos de origem microbiana e derivados 56 de plantas; e hidrofóbicas, formadas por cadeias carbônicas longas, alifáticas e ricas em polifenóis oriundos principalmente da oxidação da lignina e da celulose (Kaiser & Zech, 2000). A exposição do solo a intensos ciclos de umedecimento e secagem (por exemplo, solos de áreas quentes irrigadas e com baixo aporte orgânico) pode favorecer a decomposição/mineralização da MOS mais ativa, com maior proporção de grupamentos funcionais e com menor interação com a fração mineral do solo. Isso faz com que a capacidade do solo em reter água seja drasticamente reduzida em decorrência do aumento da proporção de compostos hidrofóbicos/hidrofílicos da MOS e do aumento proporcional da MOS fortemente complexada pela fração mineral do solo. Onde parte significativa dos grupamentos funcionais da MOS estão envolvidos nas ligações com a fração mineral. A MOS também pode reter água na estrutura da matéria orgânica ativa e da matéria macrorgânica. Essa água é importante para manter o equilíbrio biológico do solo, tendo papel importante em regiões secas, com grande déficit hídrico. A importância relativa da MOS na retenção de água depende da textura do solo. Em solos de textura mais arenosa a retenção de água é mais sensível à quantidade de MOS quando comparado a solos de textura fina. Adicionalmente, a retenção de água a -33 kPa é afetada mais fortemente pelo COT que à -1500 kPa (Rawls et al., 2003), o que pode estar relacionado ao fato que o efeito na estruturação desses solos afeta mais a retenção de água à um teor próximo à capacidade de que próximo ao ponto de murcha permanente. O fato do teor e, a composição da MOS afetarem a estrutura e propriedades adsortivas do solo, a retenção de água também é afetada quando ocorrem mudanças na MOS devido às modificações nas práticas de manejo (Rawls et al., 2003). 5.3.5.3. Propriedades biológicas do solo 5.3.5.3.1. Compartimentos e nutrientes na forma orgânica O processo de decomposição é fundamental na liberação dos nutrientes que encontram-se como constituintes das estruturas dos compostos orgânicos. Os nutrientes liberados nesses processos poderão ser imobilizados pelos organismos e utilizados na síntese de novos compostos orgânicos, ou mineralizados e liberados 57 para a solução do solo. Apesar dessas vias serem criticas para a ciclagem dos macronutrientes, ela também tem papel importante na ciclagem de alguns micronutrientes como Cu, Zn, Ni, e B. Para compreendermos melhor esses processos há necessidade de se avaliar as formas orgânicas que esses nutrientes se encontram no solo. Nitrogênio Cerca de 95 % do N do solo está associado à matéria orgânica. O ciclo do N envolve a transferência do N atmosférico para compostos orgânicos, os quais são convertidos em N amoniacal, que por sua vez é transformado em N nítrico e, finalmente, o N retorna à atmosfera na forma gasosa (Figura 16). As principais reações no solo, nas quais as formas orgânicas de N estão envolvidas são: a) fixação biológica do N2; b) Mineralização ou amonificação do N orgânico à amônio; c) Imobilização ou assimilação de amônio à N orgânico e, d) assimilação ou imobilização de nitrato à N orgânico (Schulten & Schnitzer, 1998). As formas de N associadas a materiais proteináceos (aminoácidos, peptídeos e proteínas) correspondem a aproximadamente 40 % e amino-açúcares de 5-6 %. O N em compostos heterocíclicos perfaz cerca de 35 % e o NH4+, 19 % (Schulten & Schnitzer, 1998). Figura 16. Ciclo do nitrogênio. Para melhor compreender os diferentes componentes do N orgânico do solo, este é freqüentemente fracionado via hidrólise ácida. Com base nesses métodos o N 58 orgânico é então enquadrado nas frações não-hidrolisável e fração hidrolisável, que por sua vez, é subdividida em N-amida, N-hexosamina, N-α-amino e N-não identificado (Stevenson, 1982; Yonebayashi & Hattori, 1980). Para solos do Rio Grande do Sul, Camargo et al. (1997) encontraram que, pelo método de Yonebayashi & Hattori (1980), em média, a fração N-não hidrolisável contribuiu com 63,9 % do N-total. Na fração hidrolisada, o N-amida, N-hexosamina, N-α-amino e N- não identificado contribuíram com 17,9, 31,6, 34,0 e 16,4%, respectivamente. Uma considerável proporção do N não identificado é N heterocíclico presente nas substâncias húmicas. Os compostos heterocíclicos entram no solo predominantemente na forma de material vegetal em anéis pirrólicos de clorofilas ecitocromos e nas bases nitrogenadas purina e pirimidina, integrantes dos ácidos nucléicos. Embora pareçam ser muito resistentes, estes anéis podem passar por várias transformações, fazendo com que o N heterocíclico se acumule no solo (Mengel, 1996). Por essa razão, somente pequena percentagem das formas orgânicas de N do solo é facilmente mineralizável - aquela oriunda principalmente de aminoácidos e polímeros de amino-açúcares da biomassa microbiana do solo. Estimativas do N potencialmente mineralizável em Latossolos e Neossolo de Goiás indicam que esta fração representa menos que 2% do N total dos solos. Essa fração está correlacionada positivamente com os teores de argila, COT e N total, sendo maior em solo sob vegetação nativa, seguido por solo sob plantio direto e finalmente pelo solo sob plantio convencional (Kliemann & Buso, 2002). O efeito de sistemas de manejo e das culturas sobre as frações e formas de N em solos do Sul do Brazil foi investigado por Dieckow et al. (2005). O cultivo de leguminosas sob SPD resultou em maior teor de N nas formas N-não hidrolisável, N-hidrolisável, N-aminoácidos e de N-não identificado, o que foi atribuído à alta adição de biomassa anual constatada nesse sistema, que foi de 8,89 Mg ha-1 de C e 312 kg ha-1 de N. Em relação ao N total, o N-não hidrolisável variou de 21-30 %, com maior proporção para o solo sem cobertura vegetal (30,0%) e menor para o sistema com leguminosa (21,1 %); o N associado aos aminoácidos variou de 35,6–38,3 % e não respondeu às alterações nos sistemas de manejo e de culturas. O N-hidrolisável foi menor no solo sem cobertura (70,8%) e mais elevado no sistema com leguminosa (78,9%). A variação no N-hidrolisável correspondeu principalmente ao N não identificado. Com base em espectros de 15N-RMN, sugeriu-se que o N-amida em estruturas de peptídeos é a principal forma de N orgânico, o que sugere que proteínas e peptídeos de origem microbiana, vegetal ou animal são estabilizados por associação com 59 outros constituintes orgânicos ou minerais, preterindo assim o mecanismo de estabilização via recalcitrância das estruturas aromáticas heterocíclicas, de forma que a fração não hidrolisável pode ser constituída tanto de formas de N recalcitrantes, bem como de formas lábeis encapsuladas, estabilizadas nas SH como proteínas (Dieckow et al., 2005). A idade desses materiais proteináceos estabilizados no solo é difícil de ser determinada com base no uso de radiocarbono (14C) devido à possibilidade de produção de novos peptídeos e proteínas a partir de C antigo do solo. Fósforo Devido ao fato de ser muito reativo, o P combina com oxigênio e, portanto, não é encontrado na forma elementar na natureza. Assim, o P do solo, água e seres vivos se encontra associado a quatro oxigênios, formando o ortofosfato (PO43-). Em solos ácidos uma grande parte do ortofosfato encontra-se fortemente associado aos óxidos e oxi-hidróxidos de ferro e alumínio, enquanto nos solos alcalinos os fosfatos de Ca são as formas predominantes. Dessa forma, a concentração de íons ortofosfato na solução do solo são bastante baixas. Na solução do solo, o ortofosfato é encontrado na forma de H2PO4- em solos ácidos, e como HPO42- em solos com pH alcalino. Essas formas iônicas de P são absorvidas por plantas e microrganismos. A maior parte desse P é incorporado à estrutura de compostos orgânicos (Po). As plantas podem ser consumidas por animais, que retornarão o P ao solo na forma de dejetos orgânicos. No solo, o ortofosfato será liberado para a solução pelo processo de mineralização do Po mediada por microrganismos. O Po também poderá ser incorporado em compostos orgânicos mais estáveis que farão parte da matéria orgânica humificada do solo (Figura 17). Aproximadamente 50% do P na biosfera encontra-se em formas orgânicas. O Po inclui o P de organismos vivos e MO morta. Os teores de Po nos solos são bastante variáveis, indo de 15 a 80 %. Em solos tropicais sob diferentes usos a participação do Po para o P total variou de 16 a 65 % (Nziguheba & Bünemann, 2005). Na camada superficial de solos sob cerrado a contribuição variou de 21 a 34 %, com a maior proporção observada em solo arenoso (Neufeldt et al., 2000; Lilienfein et al., 2000). Em solos sob caatinga da região Nordeste a contribuição foi 60 de 22 %, e chegou a 65 % em um Latossolo muito argiloso sob floresta amazônica (Lehmann et al., 2001). Figura 17. Ciclo do fósforo. Fonte: Adaptado do International Phoshate Institute. Os fungos e as bactérias contêm a maior parte do P nos organismos do solo. Esses microrganismos podem mineralizar Po, mas também imobilizar P a partir da solução do solo. O P da solução do solo pode ser absorvido pelas plantas para produzir biomassa. Assim, a adição de P ao solo via queda de litter, decomposição de raízes e resíduos de culturas, excreções animais e morte de organismos do solo constituem o ponto inicial de formação do Po do solo (Nziguheba & Bünemann, 2005). Grande parte do P aplicado via fertilizantes minerais pode ser incorporada na fração orgânica do P. O P aplicado na forma mineral ou o ortofosfato liberado na solução do solo via excreção ou lise celular, pode ser utilizado imediatamente pela biomassa ou estabilizado pelos componentes do solo (Magid et al., 1996). O P é um componente estrutural de macromoléculas tais como ácidos nucléicos (DNA e RNA), fosfolipídios das membranas. Alguns organismos ainda são capazes de armazenar P na forma de ortofosfato inorgânico ou polifosfatos (Magid et al., 1996). A estabilização do Po no solo se deve principalmente à atuação de mecanismos de adsorção envolvendo o grupamento fosfato (Celi & Barberis, 2005), embora interações com grupamentos funcionais de C (ex: COOH) sejam possíveis. A forma com que o P se liga à matéria orgânica é similar à forma com que o P é adsorvido pelos oxi-hidróxidos de Fe e Al. Assim, sistemas de manejo que 61 privilegiem o aporte orgânico contínuo podem aumentar a ciclagem do P e aumentar sua disponibilidade para as plantas pelos seguintes mecanismos: a) Bloqueando os sítios de adsorção de P dos óxi-hidróxidos de Fe e Al; b) Competindo com os sítios de adsorção da fração mineral pelo P solúvel; c) Deslocando parte do P adsorvido pela fração mineral (Guppy et al., 2005). Recentemente, Randhawa et al. (2005) demonstraram que a taxa de mineralização do Po num período de 21 dias foram de 0,06 e 0,27 mg kg−1 dia−1 de P, respectivamente, em solo sem e com aplicação de adubo verde, sugerindo que a presença de adubo verde também pode melhorar a disponibilidade de P para as plantas por incrementar a taxa de mineralização de Po do solo. Em um dos poucos estudos que envolveram a caracterização do Po em solos brasileiros, foi encontrado que em Latossolos da Zona da Mata mineira cultivados com café no sistema convencional ou sob sistemas agroflorestais, aqueles sob esse último sistema de cultivo mantinham teores mais elevados de Po, os quais decresciam menos abruptamente em profundidade em relação aos solos sob café convencional. O P orgânico contribuiu, em média, com 47 % do P total, sendo que destes 95 % eram ortofosfatos de monoésteres e 5 % ortofosfatos de diésteres. Os teores de ortofosfatos de diésteres não diferiram entre os dois sistemas, mas a maior proporção desse grupo de compostos em relação ao sinal total do espectro de 31P RMN e o seu menor decréscimo em profundidade no sistema agroflorestal, levou aos autores a sugerir que os sistemas mais conservacionistas podem contribuir para conversão de Pi para formas lábeis de Po, especialmente em camadas mais profundas do solo, reduzindo a transformação do P em formasmenos disponíveis para as plantas (Cardoso et al., 2003). Assim, sistemas onde se favorece a manutenção de maior proporção de P na BM, como naqueles onde são aplicados fertilizantes fosfatados solúveis + adubos orgânicos, parecem ser uma alternativa para manter o P do solo e do fertilizante mais disponível para as plantas, particularmente em solos com alta CMAP (Ayaga et al., 2006). A importância relativa do Po na nutrição das plantas aumenta sob condições de deficiência de P, resultante dos baixos teores totais de P e, ou, forte adsorção de P pelos óxidos de Fe e Al no solo. Nessas condições, a ciclagem de formas orgânicas mais lábeis é acelerada, sendo mais importante em solos tropicais altamente intemperizados (Magid et al., 1996). Em ambientes naturais a mineralização do Po pode constituir a principal fonte de P para as plantas, mas para que a mineralização seja de máximo benefício às plantas ela deve ocorrer próximo a 62 superfície das raízes. Isso oferece vantagens com relação a competição com os microrganismos pelo P e reações que reduzem a disponibilidade de P (ex: fixação de P), especialmente em solos mais intemperizados. Além de vários outros mecanismos que contribuem para a aquisição de P do solo (ex: secreção de ácidos orgânicos, alteração do pH da rizosfera, etc), as plantas podem aumentar a produção de fosfatases na rizosfera para aumentar a disponibilidade de P sob condições de deficiência. As fosfatases são separadas em dois grandes grupos: fosfatases ácidas e fosfatases alcalinas, conforme o pH ideal para sua atividade. Enxofre Em regiões de clima mais seco (árido, semi-árido) as formas inorgânicas (ex: gesso) são o principal compartimento de S no solo, mas nos solos das regiões húmidas e sub-húmidas o S na matéria orgânica geralmente contribui com mais de 90 % do S total (Stevenson & Cole, 1999; Itanna, 2005). O S orgânico do solo tem sido separado em três frações com reatividade diferenciada: a) S reduzível por ácido hidroiódico (HI), composta por ésteres de SO42-; b) S reduzível pelo método Raney- Níquel, composta principalmente por aminoácidos, e; c) S residual ligado a C, composta por sulfonatos e S heterocíclico (Kertesz & Mirleau, 2004; Solomons et al., 2005). A maior proporção do S-compostos orgânicos no solo está presente na estrutura dos aminoácidos, contribuindo com cerca de 30 % (Freney, 1986). Em 18 solos florestais dos EUA avaliados por Autry & Fitzgerald (1990), o S- sulfonato foi maior que 40 % do S total no horizonte O1 e maior que 50 % no horizonte O2 da grande maioria dos solos. Os teores de S-aminoácido foram menores que os de S- sulfonato nesses horizontes orgânicos e também foram menores que aqueles de S- sulfonato e ésteres de sulfato nos horizontes minerais. A participação do S- aminoácidos geralmente não ultrapassou 25 % do S total. Cerca de 30 a 70 % das formas orgânicas de S do solo podem ser reduzidas para H2S, sendo que grande parte do S reduzido está na forma de éster (C-O-S) ou C-N-S. O S ligado diretamente ao C não é reduzido. Dessa forma, sua dinâmica pode ser semelhante à do N e do P. Geralmente, os teores de S orgânico são menores em solos com cultivos intensivos em comparação àqueles sob vegetação nativa ou pastagens melhoradas Em solos de pradaria da América do Norte observou-se que 96 % do S dos solos encontrava-se na forma orgânica, sendo que o S ligado ao C era o principal compartimento (Wang et al., 2005). 63 A dinâmica do S no solo é ditada por processos de imobilização e mineralização, ambos mediatos pela atividade microbiana. Embora parte do S orgânico do solo possa ser derivado diretamente de compostos de planta e animais (ex: aminoácidos sulfurados, sulfolipídeos, etc), evidências recentes indicam que grande parte do S orgânico do solo é sintetizado in situ. A mineralização ocorre concomitantemente ao processo de imobilização (Zhang et al., 2001). O compartimento de S orgânico que mineraliza mais rapidamente é aquele que foi imobilizado mais recentemente. O S é inicialmente imobilizado no compartimento S éster sulfato, o qual é mais susceptível à hidrólise enzimática, e então é lentamente convertido em S ligado ao C, mais resistente à hidrólise enzimática, por intermédio da atividade microbiana (Castellano & Dick, 1991). As sulfatases são as enzimas envolvidas na mineralização do S orgânico no solo. Na maioria dos solos a principal fonte de S para as plantas advém da mineralização da MOS. Relações C/N, C/P e C/S A mineralização do N, P e S da MOS ocorre simultaneamente com a do C. De modo geral, haverá mineralização líquida desses nutrientes quando as relações C/N, C/P e C/S forem, respectivamente, menores que 30, 200 e 300. Isso indica que o requerimento relativo de N pelos microrganismos é muito maior que o de P, que por sua vez é maior que o de S, bastando apenas que o resíduo orgânico adicionado ao solo tenha uma relação C/N > 30 para que o processo de imobilização de N predomine em relação a mineralização desse nutriente. Considerando as formas orgânicas de N, P e S conclui-se que durante o processo de mineralização da MO a taxa de liberação desses elementos será distinta, fazendo com que os processos de acúmulo e mineralização de C e N sejam distintos do P e S. Assim, a relação C/N, C/P e C/S têm função diferenciada e, potencialmente, uma grande variabilidade. Quando os processos de mineralização predominam em relação aos de imobilização, a MOS funcionará como fonte desse nutriente e, conseqüentemente, aumentará sua disponibilidade para as plantas. Do contrário, quando sua imobilização prevalece sobre a mineralização, a MOS passa a atuar como dreno desse nutriente, diminuindo sua disponibilidade para as plantas. O caráter dreno ou fonte da MOS depende de outros fatores, tais como tempo de conversão da área de vegetação natural para área agrícola, estádio de degradação do solo e tempo de 64 adoção de sistemas agrícolas com aporte constante de matéria orgânica (Figura 17). (Mendonça & Oliveira, 2002). Relação mineralização/ imobilização Tempo de adoção do plantio direto Dreno Fonte G ra nd ez a Figura 17. Relação fonte-dreno entre os nutrientes e a MOS. Fonte: Mendonça & Oliveira (2002). A dinâmica das diferentes frações da MOS é especialmente importante para se entender as mudanças na disponibilidade de nutrientes, especialmente de N em solos após a adoção do SPD, como ilustrado por Sá (1999) (Figura 18).O fato é que os diferentes compartimentos da MOS atuam de forma diferenciada na liberação de nutrientes, visto que apresentam diferentes taxas de ciclagem. Por apresentarem maiores tempos de ciclagem, os compartimentos física e quimicamente protegidos da MOS funcionam mais como drenos do que como fontes de nutrientes para as plantas. O tempo de ciclagem do compartimento composto pela BM é pequeno (dias) e a relação fonte-dreno entre os nutrientes e a MOS nesse compartimento é muito variável e dependente dos teores de nutrientes na solução do solo e, principalmente, dos teores de nutrientes nos resíduos vegetais. Quando as relações entre o C e os demais nutrientes (ex.: relações C/N, C/P, C/S, etc.) nos resíduos vegetais são muito superiores às encontradas na BM, os microrganismos imobilizam temporariamente esses nutrientes em sua biomassa, expressando o caráter dreno do compartimento biológico da MOS. Quando a disponibilidade de substratos orgânicos facilmente decomponíveis fica escassa ou cessa, boa parte dos microrganismos morrem e a decomposição de suas células liberam os nutrientes que foram imobilizados anteriormente, fazendo com que o compartimento biológicoda MOS passe a atuar como fonte. O tempo de duração do caráter dreno ou fonte do compartimento biológico da MOS é fortemente relacionado com a disponibilidade de substratos orgânicos facilmente decomponíveis e com o teor de nutrientes nesses substratos. 65 Figura 28. Incremento do COT e predominância de processos de mineralização e imobilização do N com o tempo de adoção do sistema plantio direto. Fonte: Sá et al. (1999). O compartimento lábil da MOS é formado basicamente pela MO leve, que é composta por resíduos vegetais em diferentes estádios de decomposição. Esse compartimento da MOS se comporta tipicamente como fonte que, mediante a ação decompositora dos microrganismos, libera nutrientes na solução do solo aumentando a disponibilidade deles para as plantas. Em geral, resíduos orgânicos contendo menos que 1,2 % de N e 0,2 % de P e S promoverão imobilização líquida desses nutrientes durante sua decomposição (Siqueira, 1993). A imobilização do N pode ocorrer, também, em resíduos ricos em polifenóis (compostos com grande capacidade de retenção de N) que terão influência marcante nos estádios iniciais de decomposição dos resíduos orgânicos e poderão acarretar deficiência de N na fase inicial da cultura a ser plantada após a adição desses resíduos orgânicos ao solo. O retorno dos nutrientes imobilizados em plantas e resíduos orgânicos ao solo é iniciado a partir do processo de decomposição, e sua conseqüente transformação no solo. Cabe salientar que se trata de um contínuo e tão logo os resíduos orgânicos entrem em processo de transformação, passam a integrar a MOS. Em solos altamente intemperizados com alta capacidade de fixação de P, a taxa de decomposição pode ser mais influenciada pela disponibilidade de P do que daquela de N. A baixa disponibilidade de P limita a atividade microbiana e isso é particularmente importante na decomposição de resíduos e ciclagem da MOS em florestas tropicais sobre solos deficientes em P (Cleveland et al., 2002). Em solos com baixos teores de P a incorporação de materiais vegetais pode levar à imobilização temporária de P, principalmente em estruturas fúngicas, a qual pode 66 constituir até 30 % do P na MO particulada (Salas et al., 2003). Ilstedt & Singh (2005) observaram que a máxima respiração microbiana era limitada quando havia um bom suprimento de CL, enquanto a taxa inicial de respiração foi mais limitada pelo P. Por outro lado, quando se aplicou material compostado, a ausência de N levou às menores taxas de respiração. Assim, materiais vegetais com maior teor de P resultam em menor relação P/C na BM e podem ser vantajosos na reposição do P disponível em solos pobres no nutriente (Kwabiah et al., 2003). A liberação de P, em espécies de adubos verdes foi mais gradual, quando realizou-se consórcios com a ervilhaca em relação ao cultivo isolado da ervilhaca. Aos 29 dias iniciais, no cultivo da ervilhaca isolada, o P remanescente na biomassa foi de aproximadamente 40%, no consórcio com 15% aveia preta + 85% ervilhaca, aumentou para 60 %, no consórcio com 45 % AP+ 55% EC, o aumento foi de 67%. Entretanto, o maior potencial de acumular P (3,77 g kg-1 de MS) foi obtido no sistema composto por 15% aveia preta + 85% ervilhaca. Nesse estudo os indicadores do potencial em liberar o P acumulado na biomassa vegetal, foram obtidos por meio das correlações do P residual e P solúvel (-0,903**) e com a lignina/P (0,874*) aos 29 dias de decomposição. Com o decorrer de 82 dias da decomposição o P residual passou a se correlacionar com a concentração de P total no resíduo (-0,959***) e com a relação C/P (0,866*). E por fim, aos 182 dias de decomposição o P residual continuou se correlacionando com P total no resíduo (-0,903**) (Giacomini et al., 2003). Após a aplicação de 16 resíduos vegetais com teores de S variando de 0,08 a 0,81 %, observou-se que a taxa de ciclagem variou de 58 % de imobilização no trevo da Pérsia (Trifolium resupinatum) e 76% de mineralização no “winter cress” (Barbarea verna). A mineralização líquida de S esteve relacionada com a relação C/S dos materiais e foi maior para materiais com menor teor de lignina. Materiais com maior relação C/S apresentaram maior imobilização. A imobilização bruta correlacionou-se com a relação C/N do material vegetal. A mineralização líquida, medida pela absorção por plantas, ocorreu para materiais com relação C/S abaixo de 230. A imobilização pareceu ser ditada pela quantidade de C lábil disponível logo após a incorporação dos resíduos, enquanto a mineralização dependeu mais da hidrólise bioquímica dos compostos orgânicos contendo S (Eriksen, 2005). 67 6. ORIGEM E FORMAÇÃO DAS CARGAS ELÉTRICAS DO SOLO A presença de cargas na superfície dos colóides do solo é responsável por sua capacidade de retenção de íons (capacidade de troca catiônica e aniônica). As cargas são também responsáveis pelas ligações entre os constituintes do solo, dadas pela ação de agentes cimentantes (que estabelecem ligações químicas que estabilizam os agregados) e pela interação das partículas com a água e compostos químicos adicionados ao solo. Às cargas também estão associadas a várias propriedades do solo, como coesão, plasticidade e a dinâmica floculação/dispersão. Como já foi dito, há no solo, em geral, predominância de cargas negativas sobre positivas. Essa predominância, bastante significativa em solos de regiões temperadas, devido à presença de argilas silicatadas mais ativas, tende a diminuir e, em alguns casos extremos, desaparecer ou mesmo inverter, especialmente nos horizontes subsuperficiais de solos mais intemperizados de regiões tropicais. As cargas podem ser permanentes, como no caso dos minerais de argila 2:1, ou dependentes de pH, como nos demais componentes da fração coloidal do solo. Os principais mecanismos de formação de cargas são: 6.1. Cargas Negativas 1- Cargas permanentes: Resultam da troca de um elemento por outro de raio iônico semelhante, mas de valência diferente (substituição isomórfica). Especialmente em argilas do tipo 2:1, alguns átomos de Si dos tetraedros podem ser substituídos por Al, bem como o Al dos octaedros pode ser substituído por Mg ou por outros cátions. A substituição do Si4+ (que se encontrava, inicialmente, neutralizando 4 cargas negativas) por Al3+ irá condicionar sobra de uma carga negativa. De maneira semelhante, uma carga negativa será gerada pela substituição de um Al3+ de um octaedro por um cátion Mg2+. Deve-se ressaltar que o número de cargas geradas por este processo não é variável com alterações do pH do meio. 2- Cargas dependentes de pH: originárias da protonação ou desprotonação de grupamentos OH- em função do pH do meio. Ocorre 68 principalmente nos óxidos e argilas 1:1. i. Bordas quebradas: resultante das descontinuidades das lâminas de argila. É mais importante nas argilas não expansivas. Verifica-se que com elevação do pH do meio (solo) o equilíbrio é deslocado para a direita em razão da neutralização dos íons H+ liberados na dissociação do grupo - OH (H+ + OH- → H2O). ii. Superfície dos óxi-hidróxidos: esses colóides apresentam superfície com grupamentos (por ex: Fe-OH e Al-OH) expostos e que podem desenvolver cargas de acordo com o pH do meio iii. Sítios de troca bloqueados: ocorre nas argilas do tipo VHE, onde, com a elevação do pH, surgem cargas anteriormente bloqueadas pelos polímeros de alumínio. iv. Colóides orgânicos: O principal mecanismo de formação de cargas na matéria orgânica é a dissociação de grupamentos funcionais carboxílicos, alcoólicos e fenólicos, dependentes de pH (Figura 11). Estes gruposse dissociam com maior facilidade que os grupos OH das argilas 1:1 por seu menor PCZ, sendo esta a razão da dominância a matéria orgânica como fonte de sítios de troca na CTC dos solos tropicais mais intemperizados. 69 Figura 11. Formação de cargas elétricas pH-dependentes em colóides orgânicos do solo 6.2. Cargas Positivas As cargas eletropositivas do solo têm sua origem nos óxidos e hidróxidos (óxidos hidratados) de Fe e de Al, preferencialmente. Tal situação se dá de maneira mais significativa em condições mais ácidas de solo (Jarward e Reisenauer, 1966). Esse esquema mostra que os óxidos hidratados de Fe e de Al podem dar origem a cargas eletropositivas, eletronegativas ou permanecer com carga neutra na superfície, dependendo do pH do solo. 6.3. Densidade de Carga A densidade de cargas negativas é a quantidade destas cargas por unidade de superfície de um material. Pode ser expressa em molc/m2 ou em C/m2. O molc negativa corresponde a 9,6485 x 104C (Coulomb). Por exemplo, a caulinita tem 1,93 x 10-3C/m2. 70 7. Interações colóide/solução: fenômenos de adsorção e troca de ânions e cátions. As propriedades de adsorção iônica do solo são devidas, quase que totalmente, aos minerais de argila e à matéria orgânica coloidal do solo, materiais de elevada superfície específica. Essas partículas coloidais do solo apresentam cargas elétricas negativas e positivas, podendo adsorver ou "reter", por diferença de carga, tanto cátions como ânions. As cargas negativas são neutralizadas por íons eletropositivos, ou seja, pelos cátions, o que se denomina adsorção catiônica. Na neutralização de cargas positivas pelos ânions tem-se a adsorção aniônica. Os íons envolvidos nesse processo de adsorção ligam-se por eletrovalência ou por covalência às partículas coloidais do solo. Os cátions mais envolvidos quantitativamente nesse processo são: Ca2+, Mg2+, Al3+, H+, K+, Na+ e NH4+, sendo o Ca2+, comumente, o mais abundante em alguns solos, enquanto que, em outros, é o Al3+. Alguns micronutrientes estão, também, sujeitos ao mesmo processo, embora em quantidades muito pequenas, se comparadas aos listados inicialmente. Os íons adsorvidos às partículas coloidais (também as partículas maiores podem apresentar cargas elétricas, embora em número limitado devido às suas pequenas superfícies específicas) podem ser deslocados e substituídos, estequiometricamente, por outros íons de mesmo tipo de carga, dando-se uma troca iônica. Como as cargas da fase sólida se manifestam na superfície das partículas (micelas) do solo, há estreita relação entre o fenômeno de troca e a área superficial dessas micelas. Essa área, expressa em m2/g, é a superfície específica do solo (Quadro 5). Assim, o fenômeno de troca iônica do solo, que é basicamente a expressão de suas propriedades físico-químicas, é função de sua superfície específica e da densidade de cargas elétricas que se manifestam nesta superfície. Quadro 5. Superfície específica de alguns materiais de solo Classe de Solo Horizonte Profundidade Superfície Específica (cm) (m2/g) Podzólico Vermelho-Amarelo B1 32 - 46 44,0 B2 46 - 58 61,0 Latossolo Roxo Ap 0 - 13 90,3 A3 13 - 43 68,3 B21 43 - 70 82,3 71 Latossolo Vermelho B21 32 - 52 72,0 B22 52 - 80 98,0 FONTE: Grohmann (1975) Esquematicamente, o fenômeno de adsorção e troca iônica pode ser representado pela equação: a) Troca Catiônica b) Troca Aniônica Embora ânions como NO3-, SO4= e Cl- possam se comportar como os cátions, sendo trocáveis e obedecendo às mesmas condições discutidas para a CTC, alguns ânions importantes como os fosfatos e molibdatos sofrem uma adsorção aniônica (Figura 12). Nestes últimos ocorre a formação de complexos de esfera interna, onde o íon perde a camada de hidratação ao se ligar diretamente ao sítio de troca, o que resulta em uma ligação mais forte e estável (uma combinação de ligações covalentes e iônicas). As principais características desta ligação são: a. Especificidade. b. Influência das características da superfície e do ânion. c. Não obediência aos princípios de estequiometria e reversibilidade. 72 Figura 12. Representação da adsorção aniônica no solo 7.1. Capacidade de Troca Catiônica (CTC) A CTC do solo é responsável pela retenção e liberação dos cátions dos colóides para a solução do solo, permitindo sua maior permanência no sistema de forma a serem absorvidos pelos microorganismos e plantas, e reduzindo sua progressiva lixiviação. Estas ligações se dão pela formação de complexos de esfera externa (interação onde o cátion mantém sua camada de hidratação e se liga por forças eletrostáticas) entre os cátions, como Ca+2, Mg+2, K+, NH4+, e a superfície dos colóides. Suas principais características são: a. Estequiometria: as reações sempre ocorrem de forma estequiométrica, ou seja, para cada mol de carga (molc) adsorvido há um molc dessorvido. Assim, um íon Ca2+ na solução do solo pode trocar com dois íons K+ que se encontram adsorvidos à superfície do colóide. È importante lembrar que valência molmolc = b. Velocidade: as reações são rápidas. c. Independência de temperatura: Mudanças de temperatura dentro 73 de uma faixa estreita não afetam de forma expressiva seu comportamento. d. Reversibilidade: as reações são prontamente reversíveis, permitindo o deslocamento de íons para a solução e a adsorção de novos cátions. Na determinação de CTC do solo é importante considerar o pH em que a troca catiônica se verifica. Isto porque, além das cargas negativas de caráter eletrovalente, existem também cargas de caráter covalente. Estas se manifestam, ou não, de acordo com o pH do meio. A um dado pH, parte das cargas dependentes estará bloqueada por H: (ligações covalentes). Desta forma, a CTC do solo nesse pH será dada pelas cargas permanentes mais àquelas dependentes de pH, porém livres do hidrogênio covalente, constituindo a CTC efetiva do solo, a esse valor de pH. E, quando se aumenta o pH do sistema, mais íons H+ ligados a cargas dependentes do pH são neutralizados, resultando num conseqüente aumento da CTC efetiva do solo. Dentre os cátions que neutralizam as cargas negativas da CTC efetiva do solo, incluem-se, principalmente, as bases (Ca2+, Mg2+, K+, Na+ e NH4+), o Al3+ e, também, cátions H+ ligados a cargas negativas da CTC de caráter mais eletrovalente (tipo ácido forte). Ao conjunto dos cátions que estão ocupando a CTC do solo, saturando-a, juntamente com as cargas negativas dos colóides denomina-se complexo sortivo do solo. Quando se usa uma solução salina não tamponada, como KCl 1 mol/L ou CaCl2 0,5 mol/L, para a determinação da CTC do solo, o valor obtido corresponderá à CTC efetiva. Por outro lado, se a solução salina for tamponada a um definido pH, o valor obtido corresponderá à CTC total do solo naquele pH, englobando a CTC permanente e a CTC dependente do pH. Para determinar a CTC a pH 7,0, usa-se uma solução tamponada de acetato de cálcio 0,5 mol/L, ou de acetato de amônio 1 mol/L, pH 7,0. Na Figura 13 é apresentado um esquema que ilustra os conceitos discutidos: pH do solo pH 7,0 |← CTC permanente →|← ↓ CTC dependente de pH →| Al3+ −H −H −H K Ca+ +2 74 Ca2+ −H −H −H −H H+ Al3+ H+ −H −H −H NH Mg4 2+ + Mg2+ −H −HH+ −H −H ← CTC efetiva →| ← CTC "bloqueada" → Figura 13. Representação esquemática da CTC de um solo de região tropical. 7.2. Fatores que Afetam a Capacidade de Troca Catiônica Muitas condições do solo têm influência sobre a CTC, dentre as quais: pH, natureza dos cátions trocáveis, concentração da solução e natureza da fase sólida. O efeito do pH se verifica, principalmente, sobre as cargas dependentes de pH, como já se discutiu. A natureza dos cátions trocáveis afeta a preferencialidade de troca no solo, de acordo com a densidade de carga dos cátions, isto é, Z/r, onde Z é a carga do íon e r é o raio do íon hidratado. Os cátions que têm maior densidade de carga são mais retidos nas cargas negativas do solo. Por isso, os cátions polivalentes são geralmente mais fortemente retidos no solo. A seqüência de preferencialidade de troca de cátions para uma mesma concentração foi estabelecida por Hofmeister, sendo conhecida como seqüência de Hofmeister (Mengel & Kirkby, 1982), ou série liotrópica (Russel & Russel, 1973). Esta seqüência é a seguinte: Li+ < Na+ < K+ < Rb+ < Cs+ < Mg2+ < Ca2+ < Sr2+ < Ba2+ A diferença na preferencialidade de troca entre cátions da mesma carga se deve à diferença existente entre os raios iônicos hidratados (espessura da camada de hidratação do íon), que faz com que o Cs+ seja mais fortemente retido, em forma eletrostática, que o Li+ (Cs+ apresenta menor espessura da sua camada de hidratação). A diferença entre mono e bivalentes deve-se à Lei de Coulomb, que diz que a atração entre cargas é diretamente proporcional ao número de cargas e inversamente proporcional ao quadrado da distância que as separa. O alumínio, sendo trivalente, é mais fortemente retido que os divalentes. O hidrogênio, em razão de suas propriedades específicas, não se comporta como 75 monovalente, quanto à preferencialidade de troca. Seu papel depende, também, da natureza do material trocador. A concentração dos cátions na solução do solo afeta a preferencialidade de troca, interagindo com a carga dos cátions envolvidos. Assim, à medida que se dilui a solução, mantendo constantes as quantidades dos cátions presentes, verifica-se um aumento na preferencialidade de troca pelos cátions de menor valência, como o Na+. Em razão disso, em solos de regiões úmidas as bases vão sendo lixiviadas e o cátion que acaba predominando no complexo é o Al3+; por outro lado, em solos de regiões áridas e semi-áridas a tendência é de acúmulo de cátions monovalentes, principal-mente o Na+ A natureza do material trocador influi, principalmente, na densidade de cargas negativas responsáveis pela CTC do solo, que pode ser expressa em cmolc/kg. Em solos de regiões tropicais, como na maior parte do território brasileiro, a matéria orgânica apresenta, geralmente, a maior participação no valor da CTC. Além, disso, em função do arranjo estrutural do material trocador e de sua interação com os cátions, pode haver alguma preferencialidade nas regiões de troca. Por exemplo, os minerais de argila do tipo 2:1 retêm, preferencialmente, o potássio e o amônio, enquanto que, na matéria orgânica, o cálcio é o cátion normalmente mais retido, depois do hidrogênio. 7.3. Dupla Camada Difusa Dupla camada difusa é a denominação dada ao conjunto dos íons que circundam as partículas coloidais em suspensão. Nas argilas silicatadas predominam as cargas elétricas negativas. Estas atraem os íons carregados positivamente, formando uma camada mais concentrada próxima às partículas. Em função da concentração e das características do íon presente, esta camada pode ser mais ou menos espessa permitindo, respectivamente, menor ou maior aproximação entre partículas. Dentre as características do íon que são importantes na definição da espessura da dupla camada estão a valência do íon e o raio iônico hidratado. Maior valência para um mesmo raio iônico produz compressão da dupla camada. De forma análoga, maior raio iônico hidratado para uma mesma valência permite a expansão da dupla camada. A dispersão do solo, efetuada no procedimento de rotina para a determinação dos teores de areia, silte e argila, utiliza os conceitos de dupla camada difusa. No 76 solo, estes conceitos ajudam a compreender fenômenos como a dispersão das argilas, que podem se movimentar no perfil causando o bloqueio de poros e mudanças importantes nas propriedades físicas. A representação gráfica de DCD é dada na Figura 14. Figura 14. Distribuição de íons a partir da superfície de colóide eletronegativo, de acordo com o conceito de dupla camada difusa (DCD) (Mitchell, 1976). 7.4. Características da CTC do Solo Dada a importância da CTC no solo, as características relacionadas com esta propriedade são constantemente determinadas e utilizadas em interpretações e em cálculos de necessidades de corretivos e de fertilizantes. Essas características são a própria CTC, também representada por T para a CTC a pH 7 e por t para CTC efetiva, no pH do solo, a soma de bases (SB), o índice de saturação por bases (V), a acidez trocável (alumínio trocável), a acidez total (H + Al) e a saturação por alumínio (m). Esses valores, à exceção da saturação por alumínio, são conhecidos como valores de Hissink. Uma idéia da amplitude da variação das características relacionadas com a CTC do solo, bem como a divisão dessas características em classes, de acordo com a magnitude da mesma, para solos de regiões tropicais, como os do Estado de Minas Gerais, é dada no Quadro 6. Quadro 6. Classes de características relacionadas com a CTC de solos do Estado de Minas Gerais. Características Classes C on ce nt ra çã o C on ce nt ra çã o 77 Muito Baixo Baixo Médio Alto Muito Alto SB cmolc/dm3 ≤ 0,60 0,61–1,80 1,81–3,60 3,61– 6,00 > 6,00 Al3+ cmolc/dm3 ≤ 0,20 0,21–0,50 0,51–1,00 1,01– 2,00 > 2,00 t cmolc/dm3 ≤ 0,80 0,81–2,30 2,31–4,60 4,61– 8,00 > 8,00 (H + Al) cmolc/dm3 ≤ 1,00 1,01–2,50 2,51–5,00 5,01– 9,00 > 9,00 T cmolc/dm3 ≤ 1,60 1,61–4,30 4,31–8,60 8,61– 15,00 > 15,00 m % ≤ 15,0 15,1–30,0 30,1–50,0 50,1– 75,0 > 75,00 V % ≤ 20,0 20,1–40,0 40,1–60,0 60,1– 80,0 > 80,0 FONTE: Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais (1999). 7.4.1. Valor T A capacidade de troca catiônica (T) é geralmente determinada a pH 7,0, ou a pH 8,2 (para solos alcalinos e salinos). Ultimamente, tem sido mais usado o valor T a pH 7,0 que é calculado somando-se as bases e a acidez total (SB + H + Al). Além dessas duas expressões, pode-se ainda citar o valor t ao pH do solo (CTC efetiva), que é calculado somando-se as bases com a acidez trocável (SB + Al3+). Os princípios básicos do fenômeno de troca são usados no processo de determinação da CTC de um solo ou de um material qualquer. 1) Agita-se uma amostra de solo, de peso ou volume conhecidos, com uma solução de KCl 1 mol/L: 2) Os cátions deslocados, bem como o excesso de KCl em solução são eliminados da amostra, por meio de filtração e lavagens. No filtrado, podem ser determinadas as bases Na+, Ca2+ e Mg2+, que, adicionadas ao K+, determinado em outra extração, dão a soma de bases (SB). 78 Também nesse filtrado determina-se Al3+. Outra alternativa é continuar com a lavagem do excesso de KCl e os seguintes passos: 3) Agita-se a amostra agora com uma solução que contenha outro cátion, CaCl2 0,5 mol/L, por exemplo: 4) Filtra-se a suspensão e analisa-se, quantitativamente, o K+ em solução, deslocado pelo Ca2+. A quantidade de K+ analisada, em cmol/kg de amostra do solo quandoa medida foi em peso e cmol/dm3 quando a medida foi em volume, corresponde à sua CTC (cmolc/kg ou cmolc/dm3). Para separar as contribuições de CTC permanente e CTC dependente de pH, utilizam-se solucões extratoras (caso do KCl 1 mol/L no 1o passo), em diferentes valores de pH. Historicamente, foi Schofield (1949) que verificou que a CTC de uma argila caulinítica eleva-se de 4 para 10 cmolc/kg com a elevação do pH da solução extratora de 6,0 para 7,0. O acréscimo no valor da CTC com a elevação do valor do pH foi denominado CTC dependente de pH (CTC pH-dependente). No pH da solução extratora correspondente ao do solo, tem-se a CTC efetiva, que é a CTC permanente mais o aumento do valor da CTC com a elevação do pH de extração correspondente à CTC pH-dependente até o pH do solo. 7.4.2. Soma de Bases (SB) A soma de bases (SB) é calculada somando-se os teores de Ca2+, Mg2+, K+, Na+ e NH4+ trocáveis. Nos solos ácidos de regiões tropicais, como os do Estado de Minas Gerais, os cátions trocáveis Na+ e NH4+ geralmente têm magnitude desprezível. 79 7.4.3. Saturação por Bases (V) A participação das bases no complexo sortivo do solo, expressa em porcentagem, é conhecida como saturação por bases (V). V SB T = . 100 Para este cálculo, usa-se o valor T (CTC a pH 7,0). OBS: Eutrofismo e Distrofismo: um solo é considerado Eutrófico ou Distrófico se sua saturação por bases é superior ou inferior a 50%, respectivamente. 7.4.4. Saturação por Alumínio (m) A saturação por alumínio, representada por m, é calculada pela expressão: 100 . )Al(SB Alm 3 3 + + += Observa-se que m é a percentagem de alumínio trocável na CTC efetiva do solo. Se o valor de m for maior que 50 % o solo é considerado Álico. Informações sobre os valores de T, SB e V de um solo podem indicar o tipo de mineral presente na fração argila e possíveis problemas na sua utilização, bem como sobre o procedimento adequado a ser tomado para otimizar sua utilização. O Quadro 7 mostra dados que possibilitam tirar algumas destas conclusões. Quadro 7. Valores de pH, Al3+, SB, t, (H + Al), T, V e m de três solos. Solos pH Al3+ SB t (H + Al) T V m --------------------- cmolc/kg ----------------------- % A 5,4 0,1 1,9 2,0 1,4 3,3 58 5 B 4,5 1,7 1,0 2,7 5,0 6,0 17 63 C 6,5 0,0 10,0 10,0 1,0 11,0 91 0 O solo A, com valor baixo de T, deve ter sua fração argila constituída de caulinita e óxido de Fe e de Al, argilas pouco ativas, se o conteúdo total de argila do solo não for muito baixo (solo arenoso). Um outro aspecto provável é a existência de baixo teor de matéria orgânica neste solo. A adição de matéria orgânica a este solo para aumentar pelo menos temporariamente seu valor T, seria recomendada. O 80 valor de V é médio, e a percentagem de saturação de Al3+ é baixa, em razão dos baixos valores de Al3+, presente em níveis não tóxicos. O solo B, muito ácido, tem baixo V; logo, alta participação da acidez (H + Al) no complexo de troca, podendo apresentar alta percentagem de saturação por Al. Para uso agrícola, deverá ter o seu pH elevado por meio de calagem, o que irá causar aumento dos valores de SB e V, aumentando, conseqüentemente, o seu pH. O seu valor de T e valor de SB indicam que o material constituinte da fração argila é ativo, ou que o teor de matéria orgânica deste solo é elevado, mas apresenta poucas bases no seu complexo de troca. O solo C apresenta-se em boas condições quanto ao seu complexo de troca e características a ele relacionadas. 7.4.5. Acidez Trocável A acidez trocável é representada pelo Al3+ mais o H+ que faz parte da CTC efetiva. Como, em geral, a participação do H+ é pequena em relação ao Al3+, este valor é também chamado de alumínio trocável. O alumínio é considerado como acidez porque, em solução, por hidrólise, gera acidez, de acordo com a seguinte equação simplificada: 7.4.6. Acidez Potencial A determinação da acidez total ou potencial é feita usando-se como extrator uma solução tamponada de acetato de cálcio 0,5 mol/L, pH 7,0. Esta acidez inclui H + Al (H+ trocável, H de ligações covalentes que é dissociado com a elevação do pH, Al3+ trocável e outras formas de Al). A maior parte do H provém das cargas negativas dependentes do pH. Esta fração é chamada acidez dependente do pH. A participação do H em geral é maior do que a do alumínio trocavél. 7.5. Capacidade de Troca Aniônica A capacidade de troca aniônica é definida como o poder do solo de reter ânions na fase sólida, numa forma trocável com outros ânions da solução. Entretanto, a manifestação desta propriedade não é tão característica quanto à troca catiônica, isto é, não são atendidas tão perfeitamente as condições de rapidez, 81 reversibilidade e estequiometria. Por esta razão, a troca aniônica é mais freqüente e convenientemente denominada adsorção aniônica, sendo a adsorção um processo mais complexo do que a simples troca. Um aspecto particular do comportamento de certos ânions no solo é a adsorção específica. Por este processo os ânions são retidos pela fase sólida, por meio de ligações fortes (covalentes), passando a fazer parte da estrutura da micela, em sua superfície. Este tipo de adsorção é de baixa reversibilidade e é bem conhecido para o fósforo, sendo o principal responsável pela fixação de fósforo no solo, principalmente nos solos ricos em óxidos de ferro e alumínio. Uma reação desta natureza é aqui apresentada de forma simplificada (Mengel & Kirkby, 1982): O ânion que pode deslocar o fósforo da fase sólida do solo com maior eficiência é o silicato (H3SiO4-). Em segundo lugar. vem o sulfato. O nitrato e o cloreto praticamente não têm poder de substituir o fosfato. Pode-se dizer que a retenção de nitrato e cloreto no solo se dá por adsorção não específica, que tem caráter reversível. Da mesma forma que a CTC, a capacidade de adsorção de ânions dos solos também pode ser determinada experimentalmente em laboratório. Para tanto utilizam-se, usualmente, curvas de adsorção conhecidas como "isotermas de adsorção". Uma das mais utilizadas para ânions do solo, de interesse na nutrição das plantas, é a isoterma de Langmuir, a qual permite determinar a capacidade máxima de adsorção do ânion em estudo, como por exemplo a capacidade máxima de adsorção de fósforo (CMAP) e de sulfato (CMAS). A capacidade máxima de adsorção de ânions varia com as características do solo, notadamente seu teor e tipo de argila, podendo atingir valores bastantes elevados para solos muito intemperizados com altos teores de argila. As cargas positivas do solo, responsável pela adsorção aniônica, são, normalmente, dependentes do pH do meio. Diminuindo o pH, aumentam as cargas positivas do solo e a adsorção aniônica também aumenta. 82 8. Reação do Solo 8.1. Acidez do Solo A acidez é definida como a concentração de íons hidrogênio em solução. As moléculas de água se dissociam em H+ e OH-, de acordo com sua constante de dissociação: [ ] [ ] [ ] 142 10 − −+ =⋅= OH OHHK w Na água pura, [ ] [ ] 710−−+ == OHH O pH é definido como o logaritmo do valor de concentração do hidrogênio, com o sinal trocado. Na água pura o pH é, portanto, igual a 7. O aumento da atividade de H+ em solução determina valores de pH menores que 7,0, e o aumento dos íons OH- eleva o pH a valores maiores do que 7,0. pH = -log [H+] A água presente no solo apresenta sais dissolvidos, colóides minerais e orgânicos e seres vivos em constante atividade. Estes elementos são capazes de alterar direta ou indiretamente o pH. O solo pode também apresentar minerais primárioscapazes de liberar elementos que afetam o pH. Além disto a superfície do solo está em contato com a atmosfera, recebendo sua influência. Em se tratando de um sistema aberto, está constantemente recebendo fluxos de matéria, especialmente pelas soluções percolantes ou água que ascende dos lençóis subterrâneos. O balanço final da ação destes diversos contribuintes determina o pH final do solo. Em função de seu pH, os solos podem ser separados em ácidos, neutros e alcalinos. Em geral, a grande maioria dos solos nas condições tropicais úmidas é ácida. Os solos, com o avanço do intemperismo, tornam-se progressivamente mais ácidos, em função da perda dos cátions alcalinos e alcalino-terrosos (p.e. cálcio e potássio) e da progressiva liberação de alumínio pela degradação das argilas. Solos sob florestas temperadas de coníferas também se acidificam pela natureza ácida do material orgânico depositado na serrapilheira. Os solos alcalinos podem ocorrer em 83 regiões áridas ou semi-áridas, onde as condições climáticas impedem a perda dos cátions e permitem seu acúmulo. A acidez afeta todos os fenômenos químicos e biológicos que ocorrem no solo. Aliada à constituição química, A acidez determina a capacidade produtiva e as limitações nutricionais ao crescimento das plantas. O pH afeta a solubilidade e disponibilidade dos nutrientes e de elementos tóxicos aos vegetais, afetando também as condições de decomposição da matéria orgânica e de sobrevivência e proliferação de organismos. 8.1.1. Fontes de Acidez do Solo A acidez do solo é proveniente do balanço entre os grupamentos químicos capazes de gerar H+ e aqueles capazes de gerar OH-. Dentre os principais grupos geradores de acidez podem ser destacados: 8.1.1.1. Minerais de Argila (a) íons H+ trocáveis adsorvidos na superfície do argilomineral e que são dissociados a pH baixo (4,0). Esquematicamente a dissociação pode ser representada por: (b) íons Al3+ trocáveis adsorvidos na superfície do mineral de argila que passam à solução do solo. O caráter ácido deve-se às reações de hidrólise do Al3+ hidratado em solução, conforme mostram as reações: ++ +⇔+ 3H Al(OH) O3H Al 323 (c) dissociação dos íons H+ dos grupos Si-OH e Al-OH estruturais dos minerais de argila a valores de pH maiores que 5,5. 84 8.1.1.2. Matéria Orgânica Os grupamentos da superfície dos colóides orgânicos, como os grupos carboxílicos, alcoólicos e fenólicos liberam prótons (H+) na solução do solo, de acordo com as reações: De modo geral, os grupos carboxílicos são ácidos mais fortes do que os fenólicos. 8.1.1.3. Ácidos Solúveis A decomposição microbiológica da matéria orgânica pode conduzir à formação de ácidos orgânicos solúveis, como os ácidos acético, málico e oxálico, que contribuem para a acidificação do solo. Além disso, a mineralização de compostos orgânicos libera compostos de N e S reduzidos que, ao sofrerem oxidação, liberam prótons na solução, de acordo com as reações: A oxidação de amônio a nitrato se dá em duas etapas: A oxidação biológica de compostos orgânicos também produz CO2, o qual reage com água para formar ácido carbônico, que se dissocia rendendo prótons (H+), de acordo com as reações: 8.1.2. Fontes de Alcalinidade no Solo Os compostos químicos capazes de originar íons OH- por reação com a água 85 constituem as fontes da alcalinidade no solo. Este é o caso dos minerais que contêm os metais alcalinos e alcalino-terrosos. Quando cátions metálicos como K+, Na+, Ca++ e Mg++ predominam no complexo de troca, eles podem influenciar a concentração de íons H+ (ou OH-) na solução do solo, de acordo com o equilíbrio: De um modo geral, quanto maior for a participação dos elementos alcalinos e alcalino-terrosos no complexo de troca, maior será o pH do solo. As condições que levam a um aumento da participação desses elementos (também denominados de "bases trocáveis") no complexo de troca também determinam, via de regra, um aumento no pH do solo. Entretanto, isto não significa que a adição desses elementos ao solo deverá aumentar o pH. Nessa situação, a reação do solo dependerá do ânion acompanhante. No caso da utilização de carbonatos, o pH tende a aumentar. Já ânions como sulfatos, cloretos e nitratos praticamente não alteram o pH do solo. No caso do sulfato e do nitrato pode ocorrer um abaixamento de pH se houver adsorção deste ânion e o deslocamento em quantidades apreciáveis de íons H+ da superfície das argilas pelo cátion adicionado. Os solos geralmente se comportam como ácidos fracos e os metais alcalinos tendem a formar bases fortes. Portanto, em condições de pH neutro, sais formados por esses cátions com ânions provenientes de ácidos fracos tendem a se dissociar para recompor parcialmente o ácido, com o ânion capturando prótons do meio. A fração coloidal do solo, negativamente carregada, comporta-se como o ânion de um ácido fraco.. Ex: Os metais alcalinos e alcalino-terrosos são constituintes dos minerais primários, cujo intemperismo consome prótons do meio liberando esses cátions (bases trocáveis) na solução, os quais podem, então, ser adsorvidos pela fase sólida. 8.1.3. Capacidade Tampão da Acidez do Solo A capacidade tampão da acidez dos solos (CTH) é função das características 86 do complexo de troca catiônica, sendo definida como a "resistência que os solos apresentam a mudanças de pH". O poder tampão, também pode ser definido como sendo a quantidade de base necessária para elevar em uma unidade o pH do solo, por exemplo, para elevar de 5 para 6 o pH do solo. Este, porém, não varia linearmente, em função das diferenças de comportamento componentes do solo. Os solos se comportam como ácidos muito fracos, cujo potencial de reposição dos íons H+ na solução é muito superior à atividade desses íons em solução. Este fato permite compreender os conceitos de acidez ativa, acidez trocável e acidez potencial dos solos, expressos mais adiante. 8.1.4. Causas da Acidificação Progressiva dos Solos A acidificação dos solos ocorre em função do intemperismo, que acarreta a perda progressiva de cátions básicos em condições de drenagem adequada. A água das precipitações percola pelo perfil, carreando os produtos da solubilização dos minerais primários, e, em condições mais avançadas de intemperismo, da destruição das argilas silicatadas. A progressiva perda de cátions básicos proporciona o abaixamento do pH, o qual, por sua vez, desestabiliza as argilas, favorecendo a liberação do silício, que é perdido por lixiviação, e do alumínio, que pode ser precipitado como gibbsita ou adsorvido e, posteriormente, retornar à solução gerando acidez por hidrólise. Os íons H+ são continuamente produzidos no solo pela mineralização de compostos orgânicos e produção de CO2 e pelo intemperismo dos silicatos de alumínio, que libera Al3+ em solução. As plantas produzem acidez via extrusão de prótons no processo de absorção de cátions básicos, se constituindo em outra importante fonte de acidificação progressiva dos solos. Os ácidos HNO3 e H2SO4 podem ser produzidos no solo pelo uso de certos sais como fertilizantes. O conjunto desses fatores conduz à acidificação progressiva dos solos, particularmente em regiões tropicais com precipitações que favoreçam a percolação e condições de drenagem que permitam a lixiviação. 8.1.5. Problemas Causados pela Acidez do Solo 87 A acidez pode trazer problemas diretos e indiretos às plantas, seja pela toxidez direta às plantas ou por afetar a disponibilidade de nutrientes e elementos tóxicos. O alumínio, conforme já discutido, constituicomponente importante da acidez dos solos. O Al+3 em altas concentrações pode ser tóxico às plantas, constituindo uma das principais limitações agrícolas em solos ácidos. O Al+3 em concentração elevada, além de causar toxidez às plantas, interfere na disponibilidade de outros nutrientes. O exemplo mais típico desse efeito refere-se à solubilidade do fosfato no solo. O fosfato tende a reagir com o Al solúvel, formando fosfatos de Al de baixa solubilidade em solos ácidos. 8.2. Calagem A calagem é a prática mais comum para correção da acidez dos solos. Consiste na aplicação de carbonatos de cálcio e/ou magnésio que se dissociam e reagem produzindo íons OH-. Estes neutralizam a acidez e, secundariamente, fornecem cálcio e magnésio como nutrientes, elevando a soma de bases. A necessidade de calagem não está somente relacionada ao pH do solo, mas também à sua capacidade tampão (CTH) e à sua capacidade de troca de cátions (CTC). Solos com maior CTH necessitam de mais calcário para aumentar o pH que aqueles de menor CTH . A capacidade tampão relaciona-se diretamente com as quantidades totais de argila e de matéria orgânica no solo, assim como com o tipo de argila. A neutralização de um solo ácido com calcário (CaCO3) pode ser representada pela reação: O calcário neutraliza a acidez representada por H + Al, sendo o Ca++ e o Mg++ adsorvidos aos colóides do solo no lugar dos cátions de caráter ácido. O alumínio é precipitado como hidróxido de baixa solubilidade e o gás carbônico é perdido para a atmosfera. 88 9. Reações de oxidação e redução no solo Na superfície terrestre predominam as condições oxidantes, em virtude da abundância de oxigênio. Os solos, em sua maioria refletem esta condição, apresentando condições oxidantes. O meio oxidante também favorece a rápida decomposição da matéria orgânica, uma vez que a respiração aeróbia é mais eficiente e rápida que a respiração anaeróbia. Por outro lado, um ambiente redutor pode ocasionar mudanças no comportamento de alguns componentes do solo. Isto ocorre em condições ligadas, principalmente, ao acúmulo de água no solo, decorrente de problemas de drenagem, posição do solo na paisagem ou condições especiais, como a irrigação por inundação permanente. Microsítios de redução podem ainda ocorrer em solos bem drenados, relacionados a porções onde o oxigênio tem sua difusão limitada ou seu consumo é rápido, como camadas compactadas ou grandes massas de matéria orgânica em decomposição. Em conseqüência disto, o potencial redox se reduz, e elementos de maior facilidade de redução se reduzem. Os principais envolvidos neste processo são o ferro e o manganês. Ao se reduzirem, estes elementos se tornam mais solúveis, podendo ser lixiviados e removidos do sistema. Esta é a causa das cores pálidas e acinzentadas dos solos de baixadas e regiões mal drenadas (processos de “gleisação”). O ferro e o manganês podem, posteriormente, se precipitar ao atingirem zonas mais oxidantes, formando crostas de óxidos de baixa cristalinidade. A matéria orgânica tende a se acumular nestas condições redutoras, pois a decomposição em condições anaeróbicas é mais lenta. Podem surgir assim horizontes superficiais enriquecidos em matéria orgânica ou mesmo horizontes orgânicos. A redução do potencial redox produz também outras importantes modificações, como elevação do pH e alterações na disponibilidade de vários elementos. Além do ferro e manganês solubilizados com a redução, ocorre redução do nitrato, liberação do fósforo ligado ao ferro e liberação de cátions da CTC para a solução do solo, deslocados do complexo de troca pelo ferro e manganês. 89 Bibliografia Consultada ALVAREZ V., V.H. Avaliação da fertilidade do solo. Viçosa. UFV (Notas de aula) 1986. ALVAREZ-PUEBLA, R.A.; GOULET, P.J.G..; GARRIDO, J.J. Characterization of the porous structure of different humic fractions Colloids and Surfaces A: Physicochem. Eng. Aspects 256 (2005) 129–135. ALVAREZ-PUEBLA, R.A.; VALENZUELA-CALAHORRO, C.; GARRIDO, J.J. Theoretical study on fulvic acid structure, conformation and aggregation A molecular modelling approach Science of the Total Environment 358 (2006) 243– 254 AMARAL, A. S.; I. ANGHINONI, R. HINRICHS & I. BERTOL Movimentação de partículas de calcário no perfil de um cambissolo em plantio direto. R. Bras. Ci. Solo, 28:359-367, 2004 ASSOCIAÇÃO NACIONAL PARA DIFUSÃO DE ADUBOS. Manual de adubação. E. 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