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Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo Conselho deliberativo Elizete Sherring Siqueira Luiz Paulo de Souza Pinto Luiz Son Paulo de Marco Junior Sérgio Lucena Mendes Conselho fiscal Marcelo Passamani Roberta Fassarela Valéria Fagundes Equipe técnica Andressa Gatti Deusdedet Ale Son Monica Toniato Edição Linda Kogure Projeto gráfico e editoração Frederico Vescovi Leão Catalogação Ana Maria de Mattos Mariani CRB 12/ES, n. 425. Impressão Gráfica JEP E773 Espécies da flora ameaçadas de extinção no estado do Espírito Santo / Marcelo Simonelli, Claudio Nicoletti de Fraga, organizadores. – Vitória : Ipema, 2007. 144 p. : il. mapas color.; retrs. color. tabs., 29,7cm. 1. Plantas – Extinção – Espírito Santo (Estado). 2. Espécies em extinção – Espíri- to Santo (Estado). 3. Manguezais – Espírito Santo (Estado). 4. Restinga – Espírito Santo (Estado). I. Simonelli, Marcelo. II. Fraga, Cláudio Nicoletti de. CDD: 581.98152 CDU: 577.4(815.2) Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo Organizadores Marcelo Simonelli - Claudio Nicoletti de Fraga Vitória 2007 A todos que apoiaram a execução deste projeto sobretudo aos funcionários do IPEMA. À Conservação Internacional (CI), ao Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, Seama, Incaper, Idaf, Ibama e aos institutos de pesquisas que cederam seus pesquisadores para a elaboração da lista. Aos pesquisadores do Workshop e participantes das análises pela internet. À Companhia Vale do Rio Doce por patrocinar esta publicação. Agradecimentos Em 2003 fomos convidados – juntamente com os colegas Hélio Queiroz Boudet Fernandes e Ivanor Weiler Junior – pelo Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica (IPEMA) para participarmos do projeto denominado “Conservação da Biodiversi- dade da Mata Atlântica no Espírito Santo mais especificamente incumbidos da ár- dua, porém prazerosa tarefa de coordenarmos a elaboração da lista das espécies ameaçadas de extinção da flora do Estado do Espírito Santo, feita com base metodo- lógica nos critérios e análises de categorias relativas ao Estado de conservação da IUCN – The World Conservation Union. Essa ação consistia, em um primeiro momento, montar um banco de dados com as espécies da flora capixaba que, posteriormente, deveriam ser triadas e analisadas pelos mais qualificados botânicos por grupos de especialidades do Brasil e do mun- do, o que foi feito de 2003 a 2004. Em outubro de 2004, o IPEMA realizou, em Vitória, um workshop que contou com a participação de 88 especialistas, dentre eles 25 botânicos. A difícil tarefa era de analisar 3.285 espécies candidatas da flora capixaba nas 20 horas de trabalho, o que significava avaliar ca. 3 espécies por minu- to, com o objetivo de decidir quais deveriam compor a lista de espécies ameaçadas. Como resultado do evento foram eleitas 776 espécies entre ameaçadas (753) e extin- tas (23). Para muitos, este número parece ser exagerado, mas temos a plena convic- ção de que ele reflete, por um lado, a nossa elevada diversidade vegetal e, por outro, o estado de conservação em que se encontram os ecossistemas do nosso Estado. Para a sua oficialização, a lista foi encaminhada em março de 2005 para o Con- sema e o decreto estadual de homologação nº 1499-R foi assinado pelo governador em 11 de junho de 2005, no Museu de Biologia Prof. Mello Leitão e, em 14 de junho daquele mesmo ano, foi publicado no Diário Oficial Estadual. A partir de então, o Espírito Santo passou a ser um dos seletos Estados do Brasil a ter uma lista oficial de espécies ameaçadas de extinção. No entanto, faltava o último passo: a elaboração de uma publicação que discu- tisse os aspectos ligados à conservação de nossas espécies e dos nossos ecossiste- Apresentação mas, além das causas e conseqüências da extinção no Espírito Santo. Este último passo agora está sendo dado, com a publicação do presente livro. Trata-se de uma obra que, com certeza, será ferramenta essencial para a adoção de políticas públi- cas voltadas à conservação da nossa biodiversidade. Esta obra está dividida em duas partes: a primeira, com sete artigos, aborda os ecossistemas existentes no Espírito Santo, suas características, estado de conserva- ção e flora. A segunda parte sintetiza os aspectos relativos à metodologia e aos resultados obtidos na confecção da lista, além de discutir as espécies ameaçadas por grupo de plantas, apresentando ao final de cada capítulo a listagem e o status de conservação para cada uma das espécies. Para a elaboração desta obra foram convidados alguns pesquisadores de diver- sas instituições do Estado e do Brasil que, apesar dos seus inúmeros compromissos, logo que convidados se prontificaram a escrever os artigos. A eles, os nossos since- ros agradecimentos, assim como aos pesquisadores que responderam a consulta prévia e/ou participaram do workshop. Sem dúvida, eles foram os principais res- ponsáveis pela elaboração da lista de espécies ameaçadas de extinção no Espírito Santo. Gostaríamos de agradecer também ao patrocinador que possibilitou que to- das essas informações viessem à luz do conhecimento dos leitores que, assim como você, irá se deleitar com as características da flora do Espírito Santo e se instruir ainda mais sobre as espécies ameaçadas no Espírito Santo, podendo auxiliar para que elas venham a ser, uma a uma, retiradas dessa listagem. Marcelo Simonelli e Claudio Nicoletti de Fraga Organizadores Para os padrões brasileiros, o Espírito Santo é um Estado pequeno situado discreta- mente no nordeste da Região Sudeste, circundado pelo imenso oceano Atlântico e por três dos mais notórios Estados brasileiros. Mas essa discrição capixaba não consegue ocultar uma imensa riqueza paisagística, representada por uma variedade de ecossistemas, como as formações marinhas, os manguezais, as restingas das planícies costeiras, as matas de tabuleiros, as matas da encosta atlântica, as matas de altitude, a vegetação rupestre dos pães de açúcar e os campos de altitude acima dos 2.000 metros, na Serra do Caparaó. A exuberância dessa vegetação já chamava a atenção de viajantes naturalistas do século XIX, como do francês Auguste Saint-Hilaire e do príncipe alemão Maximiliano de Wied-Neuwied, que não só se encantaram com a riqueza da flora e da fauna, mas também testemunharam grandes impactos antrópicos, como o uso do fogo para destruir a vegetação nativa. O que esses naturalistas presenciaram no início do século XIX em nada se compara ao que se sucedeu no século XX. A expansão dos bananais, cafezais, eucaliptais e, de uma forma ainda mais devastadora, das pastagens, reduziu a Mata Atlântica – que antes cobria mais de 80% da superfície do Estado –, a menos de 10% de sua área original. Esse impacto alarmante dizimou os habitats naturais da flora e fauna nativas, deixando isolados pequenos fragmentos de ecossistemas nativos. O que restou é ainda mais vulnerável a antigos impactos, como a exploração madeireira, a coleta de plantas ornamentais, os incêndios florestais, a crescente urbanização e a poluição ambiental. Todo esse impacto certamente levaria a uma das principais conseqüências da ocu- pação desordenada do território estadual: a extinção prematura de espécies. Preocupa- do com esse fenômeno e seguindo as diretrizes do Programa Nacional de Biodiversidade, o IPEMA – Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica – buscou financiamento externo e parceria com instituições públicas estaduais para executar o projeto “Conservação da Biodiversidade da Mata Atlântica no Estado do Espírito Santo”. Prefácio Com recursos do CEPF (Critical Ecosystems Partnership Fund) e apoio do IEMA (Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos), INCAPER (Instituto Capixaba de Pesquisa, AssistênciaTécnica e Extensão Rural), IDAF (Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal) e IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), o IPEMA viabilizou três subprojetos envolven- do um diagnóstico de manejo de 20 unidades de conservação do Espírito Santo, a definição das áreas prioritárias para a conservação da Mata Atlântica no Estado e a lista de flora e fauna ameaças de extinção em nível estadual. O presente livro traz os resultados de um workshop que contou com a partici- pação de 25 botânicos de vários Estados brasileiros que conhecem a flora capixaba. O trabalho de alto nível realizado por esses cientistas teve um papel fundamental na organização dos dados existentes sobre a flora do Estado, mas trouxe também um resultado altamente preocupante: 753 espécies de plantas ameaçadas de extinção e 23 consideradas extintas. Espécies que levaram milhões de anos para evoluir, desa- parecem rapidamente por causa de impactos antrópicos dos últimos 100 anos. As listas de espécies ameaçadas de extinção, entretanto, não são elaboradas para que fiquemos lamentando. Ao contrário, nos cobram atitudes e são importan- tes ferramentas de planejamento e gestão para a conservação da biodiversidade e uso territorial. A presença de espécies ameaçadas deve ser um critério essencial na avaliação e mitigação de impactos ambientais. Além disso, as listas nos permitem priorizar atividades de pesquisa, bem como estratégias de manejo de paisagens, fundamentados nos elos mais frágeis dos ecossistemas. Mais do que um livro apresentando os principais ecossistemas do Espírito San- to e uma lista de espécies ameaçadas, a presente obra tem um papel histórico rele- vante. É o resultado do esforço conjunto de instituições públicas e privadas e de um grupo notável de cientistas, que, pela primeira vez, se uniram para diagnosticar e fornecer bases técnico-científicas para um programa de conservação biológica do Espírito Santo. A oficialização da lista de espécies ameaçadas pelo governo do Estado repre- sentou um passo importante na consolidação de seu papel nas políticas públicas. Entretanto, não podemos parar aqui. Temos que ir a campo, aumentar e difundir nosso conhecimento e estabelecermos estratégias de curto, médio e longo prazos, que possibilitem a conservação e a recuperação de nossa preciosa biodiversidade. Sérgio Lucena Mendes Presidente do Conselho Deliberativo do IPEMA Parte I Vegetação e flora do Estado do Espírito Santo Capítulo 1 ................................................................................................................ 17 A cobertura vegetal no Estado do Espírito Santo Oberdan José Pereira Capítulo 2 ................................................................................................................ 21 Formações pioneiras: manguezais Renato de Almeida e Claudia Câmara do Vale Capítulo 3 ................................................................................................................ 27 Formações pioneiras: restingas Oberdan José Pereira Capítulo 4 ................................................................................................................ 33 Florestas de tabuleiro Ariane Luna Peixoto e Marcelo Simonelli Capítulo 5 ................................................................................................................ 45 Floresta ombrófila densa submontana, montana e alto-montana Luiz Fernando Silva Magnago, André Moreira de Assis Hélio Queiroz Boudet Fernandes Capítulo 6 ................................................................................................................ 51 Floresta estacional semidecidual de terras baixas, submontana e montana André Moreira de Assis, Luiz Fernando Silva Magnago Hélio Queiroz Boudet Fernandes Capítulo 7 ................................................................................................................ 55 Refúgio ecológico Hélio Queiroz Boudet Fernandes, André Moreira de Assis Luiz Fernando Silva Magnago S u m á r i o Parte II Flora ameaçada no Estado do Espírito Santo Capítulo 8 ................................................................................................................ 59 Metodologia utilizada na elaboração da lista da flora ameaçada de extinção no Estado do Espírito Santo. Claudio Nicoletti de Fraga, Marcelo Simonelli Hélio Queiroz Boudet Fernandes Capítulo 9 ................................................................................................................ 73 Situação atual da flora ameaçada no Estado do Espírito Santo. Marcelo Simonelli, Claudio Nicoletti de Fraga Hélio Queiroz Boudet Fernandes Capítulo 10 .............................................................................................................. 81 As briófitas ameaçadas de extinção no Estado do Espírito Santo. Olga Yano e Denilson Fernandes Peralta Capítulo 11 .............................................................................................................. 89 As pteridófitas ameaçadas de extinção no Estado do Espírito Santo. Lana da Silva Sylvestre Capítulo 12 .............................................................................................................. 97 As gimnospermas ameaçadas de extinção no Estado do Espírito Santo. Ingrid Koch, Leonardo Dias Meireles, Claudio Nicoletti de Fraga Marcos Sobral Capítulo 13 ............................................................................................................ 105 As angiospermas ameaçadas de extinção no Estado do Espírito Santo. Ludovic Jean Charles Kollmann, André Paviotti Fontana, Marcelo Simonelli e Claudio Nicoletti de Fraga Ficha Técnica ........................................................................................................ 141 Relação dos Participantes na Elaboração da Lista da Flora Ameaçada de Extinção do Espírito Santo S u m á r i o Parte I Vegetação e flora do Espírito Santo 17 IPEMA 2007 A cobertura vegetal do Espírito Santo Capítulo 1 Oberdan José Pereira Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) A vegetação que cobre o ter-ritório do Espírito Santo se de-senvolve em diferentes tipos de solos, enquadrados por Brasil (1978) em pelo menos 13 classes, em terrenos pertencentes a períodos geo- lógicos distintos, estando os mais an- tigos do Pré-Cambriano (Costa, 1997) em nível topográfico acima dos 100 metros do nível do mar, principalmen- te nos municípios serranos; do Terci- ário, nos municípios costeiros em ter- renos planos, os denominados Tabu- leiros, em cotas inferiores aos 100 metros (Rizzini, 1997); e do Quaterná- rio (Holoceno e Pleistoceno) represen- tado por sedimento arenoso (Martin et al. 1997) e lodoso que vem sendo de- positado no período atual em cotas muito próximas ao nível do mar, em- bora sua formação tenha início no Ter- ciário (Yokoya, 1995). Na classificação das regiões fi- toecológicas apresentada pelo IBGE (1992) e, considerando as diferen- tes cotas altitudinais e de solo do Bioma Mata Atlântica, as fisionomi- as da vegetação do Espírito Santo são constituídas por formações flo- restais e não florestais, que o IBGE (1983) enquadrou como Floresta Ombrófila Densa Sub-Montana, Montana, Alto-Montana e de Terras Baixas; Floresta Estacional Semide- cidual, Refúgios Ecológicos, Sava- nas e Formações Pioneiras (Restin- ga e Manguezal). A cobertura vegetal do Espírito San- to foi originalmente constituída pela Mata Atlântica (sentido amplo), que co- bria aproximadamente 90% do territó- rio e o restante por outras fisionomias como restingas, mangues, brejos, campos de altitude e rupestres (Fundação SOS Mata Atlântica et al., 1993). Entretanto, a devastação das florestas vem ocorren- do praticamente desde o período do des- cobrimento, diminuindo drasticamentesua cobertura vegetal original. Da área pri- mitiva, resta um percentual muito peque- no: em torno de 8,95% (Fundação SOS Mata Atlântica et al., 1998) que ainda pode ser encontrado em diferentes pon- tos desta Unidade da Federação. A erradicação de grandes extensões das diferentes fisionomias vegetais e os contatos entre estas causa a fragmenta- ção dos habitats, o que se constitui num dos mais graves problemas ecológicos da atualidade (Bourlegat, 2003). Esta si- tuação tem como conseqüência uma série de fatores, dentre eles, a perda de diversidade específica, ampliação da borda florestal e seus efeitos, limitação de uma espécie para dispersão e colo- nização, redução de oferta de alimen- tos para animais nativos, declínio e ex- tinção de populações (Primack & Rodri- gues, 2001). 18 Espécies da Flora ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo IPEMA 2007 A diminuição da cobertura vege- tal e suas conseqüências sobre a di- versidade vegetal têm motivado no Brasil publicações de listas de espéci- es ameaçadas com base científica para que possam orientar os governos em suas políticas públicas. Neste sentido, o Espírito Santo tem se colocado en- tre os primeiros Estados que elabo- rou uma listagem que se encontra dis- ponível na publicação do Diário Ofi- cial Estadual, de 14 de junho de 2005, no Decreto nº 1.499-R. O conjunto das formações vegetais no Espírito Santo e, mesmo quando considerada uma parte delas, é consti- tuído por uma grande diversidade que vem sendo atestada por diferentes pes- quisadores, seja em base quantitativa (Thomaz & Monteiro, 1997) ou pelas constantes publicações de novas espé- cies (Amorim, 2002; Kollmann, 2003; Assis, 2003; Chautems et al., 2004; Pro- fice, 2005; Sales et al., 2006) e mesmo gêneros (Lima, 1983; Delprete, 1999), muitas destas sendo endêmicas a este Estado (Giullieti, 1992; Thomaz & Mon- teiro, 1997). Apesar dos recentes avanços da ciência no sentido de utilização de ferramentas computacionais para pro- posição de áreas para conservação, estas são dependentes de informações precisas de coleções (Pimm & Jenkins, 2006). Neste sentido, estudos visan- do ampliar os conhecimentos da flo- ra do Espírito Santo devem ser incen- tivados e implementados, possibili- tando aos órgãos públicos e à socie- dade organizada formular propostas visando a conservação dos remanes- centes vegetais que, apesar de peque- nos, continuam revelando uma gran- de diversidade ainda não conhecida pelo homem. A caracterização de diferentes fi- sionomias vegetais do Espírito Santo, aqui apresentadas, não tem como obje- tivo esgotar o assunto, mas antes de tudo fornecer uma visão ampla de sua ocorrência, de maneira que possa in- centivar pesquisas nestas áreas, aten- dendo a uma demanda cada vez mais premente à conservação, possibilitan- do, assim, como discutido por Pinto et al. (2006), a manutenção dos proces- sos ecológicos e evolutivos destes ecos- sistemas. Referências Amorim, A. M. 2002. Five new spe- cies of Heteropterys (Malpighiaceae) from Central and South America. Brit- tonia 54 (4):217-232. Assis, M. C. 2003. Duas novas espé- cies de Alstroemeria L. (Alstroeme- riaceae) para o Brasil. Acta Botanica Brasilica, 17 (2):179-182. Bourlegat, C. A. 2003. A fragmenta- ção da vegetação natural e o paradig- ma do desenvolvimento rural. In: Costa, Reginaldo Brito (org.) Frag- mentação florestal e alternativas de desenvolvimento rural na região Centro-Oeste, p. 1-25. UCDB, Cam- po Grande. Brasil. 1978. Levantamento de reco- nhecimento dos solos do estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Embra- pa-SNLCS, Ministério da Agricultu- ra. (Boletim Técnico, 45): Brasília. Chautems, A.; Lopes, T. C. C.; Peixo- to, M. & Rossini, J. 2004. Five new species of Nematanthus Schrad. (Gesneriaceae) from Eastern Brazil with a revised key to the genus. Sel- byana 25 (2):210-224. 19 IPEMA 2007 Costa, J. P. O. 1997. Avaliação da re- serva da biosfera da Mata Atlântica. Série Cadernos da Reserva da Bios- fera da Mata Atlântica. Caderno 9. Conselho Nacional da Reserva da Bi- osfera da Mata Atlântica, São Paulo. Delprete, P. G. 1999. Riodocea (Ru- biaceae, Gardenieae), a new genus from the Brazilian Atlantic forest. Brittonia, 51 (1):15-23. Fundação SOS Mata Atlântica, Ins- tituto Nacional de Pesquisas Espa- ciais (INPE) & Instituto Sócioambi- ental (ISA). 1993. Atlas da evolução dos remanescentes florestais e ecos- sistemas associados no domínio da Mata Atlântica no período 1985- 1990. Fundação SOS Mata Atlânti- ca, São Paulo. Fundação SOS Mata Atlântica, Ins- tituto Nacional de Pesquisas Espa- ciais (INPE) & Instituto Sócioambi- ental (ISA) 1998. Atlas da evolução dos remanescentes florestais e ecos- sistemas associados no domínio da Mata Atlântica no período 1990- 1995. Fundação SOS Mata Atlânti- ca, São Paulo. Giulliete, A. M. 1992. Biodiversida- de da região sudeste. Revista do Ins- tituto Florestal, 4:125-130. IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 1992. Ma- nual Técnico da Vegetação Brasilei- ra. Série Manuais Técnicos em Geo- ciências, 1. IBGE, Rio de Janeiro. IBGE (Fundação Instituto Brasilei- ro de Geografia e Estat íst ica) . 1983. Folhas SF. 23/24. Rio de Ja- neiro/Vitória: geologia, geomorfo- logia, pedologia, vegetação e uso potencial da terra. Projeto Radam- brasil, Rio de Janeiro. Kollmann, L. J. C. 2003. Begonia rus- chii L. Kollmann (Begoniaceae), uma nova espécie da Mata Atlântica do Espírito Santo, Brasil. Boletim do Museu de Biologia Mello Leitão (Nov. Ser.) 15: 29-33. Lima, H. C. 1983. Novos taxa de Le- guminosae Papilionoideae. Bradea 3 (45): 399-405. Martin, L.; Suguio, K; Dominguez, J. M. L. & Flexor, J. M. 1997. Geologia do Quaternário costeiro do litoral norte do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. CPRM, Belo Horizonte. Pimm, S. L. & Henkins, C. N. 2006. Definindo prioridades de conser- vação em um hotspot de biodiver- sidade global. In: Rocha, C.; Ber- galo, H. G.; Sluys, M. & Alves, M. A. S. (org.). Biologia da conserva- ção: essências. p. 41-52. Rima, São Carlos. Pinto, L. P.; Bedê, L. Paese, A.; Fonseca, A.; Paglia, A. & Lamas, I. 2006. Mata Atlântica Brasileira: os desafios para conservação da bio- diversidade de um hotspot mundi- al. In: Rocha, C.; Bergalo, H. G.; Sluys, M. & Alves, M.A.S. (org.) Biologia da conservação: essênci- as. p. 90-118. São Carlos, Rima. Primack, R. B. & Rodrigues, E. 2001. Biologia da Conservação. E. Rodrigues, Londrina. Profice, R. S. 2005. Três novas es- pécies de Aphelandra R . Br. (Acanthaceae) para o Brasil. Acta Botanica Brasilica 19 (4): 769-774. Cap.1 - A cobertura vegetal do Espírito Santo Oberdan José Pereira 20 Espécies da Flora ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo IPEMA 2007 Rizzini, C. T. 1997. Tratado de fitoge- ografia do Brasil: aspectos ecológicos, sociológicos e florísticos. Âmbito Cul- tural Edições, Rio de Janeiro. Sales, M. F.; Kinoshita, L. S. & Simões, A. O. 2006. Eight new species of Man- devilla Lindley (Apocynaceae, Apocy- noideae) from Brazil. Novon, 16 (1): 112-128. Thomaz, L. D & Monteiro, R. 1997. Composição florística da Mata Atlân- tica de encosta da Estação Biológica de Santa Lúcia, município de Santa Teresa-ES. Boletim do Museu de Bio- logia Mello Leitão (Nov. Ser.) 7: 3-48. Yokoya, N. S. 1995. Distribuição e ori- gem. In: Schaeffer-Novelli, Y. (coord.) Manguezal: ecossistema entre a terra e o mar. p. 9-12. Caribbean Ecological Research, São Paulo. 21 IPEMA 2007 Capítulo 2 Formações pioneiras: manguezais Renato de Almeida Instituto BiomaBrasil Claudia Câmara do Vale Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) O manguezal é um ecossistemacosteiro tropical, típico dafaixa do entremarés. Presente em todo o litoral capixaba ocupa cer- cade 70,35 km² (Vale & Ferreira, 1998). Coloniza depósitos sedimentares (vasas lamosas, argilosas ou arenosas) até o li- mite superior das preamares equinociais e pode apresentar estrutura caracteriza- da por um continuum de feições: “lava- do”, “mangue” e “apicum” (Schaeffer- Novelli, 2005). O “lavado” é a feição exposta à maior freqüência de inunda- ção, apresentando substrato lodoso ex- posto desprovido de cobertura vegetal. O “mangue” apresenta cobertura vege- tal típica, constituída por espécies arbóreas que lhe conferem fisionomia peculiar. A feição “apicum” limita-se ao aspecto mangue, e é atingido nas prea- mares de sizígia, equinociais ou devido a eventos meteorológicos. O “apicum” pode apresentar-se hipersalino, limitan- do a ocorrência de espécies arbóreas e dando falsa impressão de que não faz parte do manguezal e que nele não há vida. A ocorrência de apicuns está as- sociada, em parte, com a existência de déficit hídrico. Os fatores geológico- geomorfológicos referem-se à disponi- bilidade de sítios para o estabeleci- mento dos manguezais. Dos vários ambientes propostos por Thom (1982), os estuários alimentados por rios, ca- racterizados por sedimentos terrígenos em ambientes intermarés, são os habitats por excelência para os manguezais. Carências de reentrâncias, de baixios praiais, de costas abrigadas, protegidas do emba- te das ondas e marés, restringem a ex- pansão dos manguezais, os quais, muitas vezes ocupam uma estreita fai- xa costeira e são, freqüentemente, alvo da energia das ondas e não conseguem desenvolver-se. O estabelecimento das plântulas requer lugares abrigados, li- vres da ação das ondas. De outro modo, não há tempo hábil para a co- lonização dos sítios, a despeito da viviparidade. A fisionomia e as características funcionais dos bosques de mangue refletem respostas das espécies a fato- res ecofisiológicos locais. Lugo & Snedaker (1974) reconheceram seis tipos fisiográficos para os manguezais, cada qual compartilhando fontes si- milares (intensidade e periodicidade) de energias subsidiárias e conseqüen- te similar ao desenvolvimento estru- 22 Espécies da Flora ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo IPEMA 2007 tural. A revisão de Cintrón et al. (1985) sugere apenas três tipos (fran- ja, ribeirinho e bacia), mas há tendên- cia atual de se reconhecer apenas os tipos franja e bacia (Schaeffer-Novelli et al., 2000). Os bosques de franja e bacia podem ocorrer em todos os es- tuários capixabas (Figura 2.1). São as forçantes ambientais locais (topogra- fia, amplitude de maré, morfologia, aporte fluvial de água doce e sedi- mentos) que condicionam sua exis- tência, estrutura e funcionamento. Os principais critérios usados para descrever os tipos fisiográficos são o fluxo de água, a composição de espé- cies e características do sedimento (Schaeffer-Novelli et al., 2005). Bos- ques de franja ocupam áreas sujeitas a inundações freqüentes. Podem atingir elevado desenvolvimento estrutural, principalmente sob influência de aportes fluviais (prevalecendo baixa salinidade e considerável aporte de nutrientes). Bosques de bacia ocupam áreas mais internas, com menor fre- qüência de inundação pelas marés. Normalmente, a bacia somente é inun- dada pelas marés de sizígia, elevações sazonais do nível do mar ou pulsos recorrentes de água doce. Podem per- manecer alagadas por longo período, pois a água move-se lentamente em fluxo laminar. A cobertura vegetal apresenta-se bastante homogênea por conter espé- cies oriundas de famílias evolutivamente convergentes, com adaptações e características fisiológi- cas especiais, que possibilitam sua ocorrência em áreas alagada, salina, de substrato siltoso pouco consolidado e com baixo teor de oxigênio (Tomlinson, 1986). O número total de espécies para o manguezal é bastante questionável, mas estudos biogeográficos apontam para maior número de espécies no He- misfério Leste (pelo menos 50 espéci- es). Na América são registradas ape- nas oito espécies arbóreas (Tomlinson, 1986). Os mangues capixabas são repre- sentados por quatro espécies vegetais típicas, todas halófitas facultativas: a Rhizophoraceae Rhizophora mangle L. (mangue-vermelho); a Combretaceae Laguncularia racemosa (L.) Gaetern. f. (mangue-branco); e as Acanthaceae Avicennia schaueriana Stapf. & Leech e A. germinans Learn. (mangue-preto). No “apicum” podem ser encontradas as espécies associadas, como Conocarpus erectus L. (mangue de botão); Acrostichum aureum L. e A. danaeifolium Langsd. & Fisch. (sa- mambaia do mangue); e Hibiscus pernambucensis Arruda (algodão da praia). Espécies graminóides também são comuns, como Sesuvium portulacastrum L. (Aizoaceae); Figura 2.1 – Manguezais do delta do rio Santa Maria da Vitória onde podem ser observados diferentes tipos fisiográficos. Fonte: Maplan, 2000 23 IPEMA 2007 Salicornia gaudichaudiana Mog. (Amaranthaceae); Sporobolus virginicus (L.) Kunth. (Poaceae); Eleocharis mutata R. Br. (Cyperaceae). Pouco se conhece sobre as microorquídeas existentes nos manguezais, estando sua diversidade provavelmente relacionada à proximi- dade de outros ecossistemas. Nenhuma das espécies arbóreas é classificada como ameaçada de extinção. Obviamente, poucas espé- cies toleram variações de salinidade e alagamento. Além do mais, os man- gues apresentam características de es- pécies pioneiras, sobretudo quanto aos aspectos de sua biologia reprodutiva (Cintrón-Molero & Schaeffer-Novelli, 1992). Constata-se, portanto, que a ve- getação apresenta baixa diversidade de espécies quando comparada a ou- tras florestas tropicais. Por outro lado, a diversidade em espécies passa a ser de menor significância quando se considera a diversidade funcional, formas estruturais e funções ecológi- cas desempenhadas pelas espécies vegetais típicas do ecossistema (Snedaker, 1989). O manguezal, enquanto importan- te produtor de matéria orgânica, con- tribui para o enriquecimento das águas estuarinas e costeiras adjacentes. En- quanto os bosques de franja tendem a contribuir com predomínio de maté- ria orgânica particulada, os bosques de bacia tendem a contribuir com maté- ria orgânica dissolvida. Abaixo são apresentados alguns dados estruturais disponíveis para os manguezais do Espírito Santo. Ressal- ta-se ainda a existência de estudos es- truturais desenvolvidos por Vale (2000) e Vale (2006). Nem sempre os valores foram identificados em função do tipo fisiográfico, o que dificulta uma análise mais detalhada dos da- dos. Mesmo assim, é possível consta- tar que, apesar da baixa diversidade de espécies, observa-se grande varia- bilidade quanto ao desenvolvimento estrutural (Tabela 2.1). Mesmo sendo Área de Preserva- ção Permanente (Lei Federal nº 4.771/ 65) alguns manguezais do Espírito Santo encontram-se inseridos em Uni- dades de Conservação (UC’s). Existem cerca de nove UC’s com ocorrência de manguezais ao longo da costa capixaba. Destacam-se: Parque Estadu- al de Itaúnas, APA de Conceição da Cap.2 - Formações pioneiras: manguezais Renato de Almeida - Claudia Câmara do Vale Local DAP médio Altura média Área basal Fonte cm m m².ha-1 Rio São Mateus 8,1 – 29,6 5,5 – 14,8 7,2 – 30,9 Silva et al. (2000) Rio Reis Magos 6,5 – 10,0 3,8 – 5,1 9,4 – 17,9 Carmo et al. (1998a) Baía de Vitória 2,9 – 26,3 2,0 – 17,0 1,5 – 66,3 Ferreira (1989) Baía de Vitória 4,2 – 18,9 5,0 – 17,0 5,4 – 26,0 Carmo et al. (1995) Baía de Vitória 7,2 – 12,6 4,4 – 9,6 4,9 – 10,7 Carmo et al. (1998b) Baía de Vitória 6,8 6,0 18,8 Carmo et al. (2000) Tabela 2.1 - Parâmetros estruturais de alguns manguezais capixabas 24 Espécies da Flora ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo IPEMA 2007 Barra, Estação Ecológica Municipal da Ilha do Lameirão, Estação Ecológica Municipal do Papagaio e APA Lagoa de Guanandy. Oestudo do IPEMA (2005) revela que a maior parte dessas UC’s carece de infra-estrutura e seus respectivos planos de manejo. Tam- bém foram protocoladas solicitações para criação da Reserva de Vida Sil- vestre de Santa Cruz. O Ministério do Meio Ambiente tem empenhado esforços para a “Atu- alização das Áreas e Ações Prioritárias para a Conservação, Uti- lização Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade da Zona Costeira e Marinha”. Reunião técni- ca com participação de pesquisado- res do Sudeste, incluindo o Espírito Santo, apontou a necessidade de atentar para a presença de mangues em substrato sub-horizontal recoberto com concreções lateríticas entre Praia Mole e Santa Cruz, tendo em vista a singularidade desse tipo de associa- ção ao longo do litoral do Espírito Santo. Os manguezais dos rios Piraquê-Açú e Mirim também des- pontam para a necessidade de estu- dos. Tais iniciativas se coadunam com a criação da APA Costa das Al- gas e a REVIS de Santa Cruz. Vale & Ferreira (1998) constataram diversos impactos para os manguezais capixabas. Ao Norte, Vale (2000) ava- liou respostas dos mangues ao proces- so de erosão/sedimentação na foz do Rio São Mateus. Na baía de Vitória, até pouco tempo, os manguezais sofriam desmatamentos, aterros, invasões, e disposição de lixo (Carmo et al., 1995). Ainda hoje, observam-se a retirada da casca do mangue-vermelho para extra- ção do tanino (Carmo et al., no prelo), pesca predatória, e forte expansão portuária. É crescente a preocupação com saneamento e metais pesados (Barroso & Dias, 1997; Barroso et al., 1997; Jesus et al., 2004). No Sul do Estado, Soffiati (2000) verificou res- postas dos mangues a variações de drenagem e vazão dos rios, basica- mente em função da construção de estradas e pontes. O desafio futuro será conciliar a conservação dos manguezais e os no- vos ciclos econômicos que se apresen- tam para o Espírito Santo. Destacam- se: expansão do turismo, redimensionamento da malha viária e estrutura portuária e aumento do in- teresse pela carcinicultura marinha. Ressalta-se que os manguezais repre- sentam a última fronteira para muitas famílias e expressões culturais. Proje- tos de desenvolvimento comunitário deverão estar associados a iniciativas educacionais, com vistas ao conheci- mento e conservação dos manguezais capixabas. Agradecimentos à Profª. Dra. Yara Schaeffer Novelli pela avaliação crí- tica desse texto. Referências Barroso, G. F. & Dias JR, C. 1997. Avaliação preliminar da qualidade da água do Canal da Passagem/ Manguezal do Lameirão, Vitória (ES). In: UFSCAR (org.) VIII Semi- nário Regional de Ecologia, p. 221- 232. São Carlos, Programa de Pós- Graduação em Ecologia e Recursos Naturais. Barroso, G. F., Dias Jr, C. & Guntzel, A. 1997. Preliminary assessment of the eutrophication potential from sewage effluents of the wastewater 25 IPEMA 2007 treatment plants in Espírito Santo (Brazil). Verh. Internet. Verein. Limnol. 26: 666-670. Carmo, T. M. S.; Brito-Abaurre, M. G.; Senna-Melo, R. M.; Zanotti-Xavier, S.; Costa, M. 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Águas de Lindóia, São Paulo.27 IPEMA 2007 Formações pioneiras: restingas Capítulo 3 Oberdan José Pereira Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) A restinga é aqui entendidacomo sendo o conjunto davegetação litorânea sobre de- pósitos arenosos marinhos do Quaternário (Suguio & Tessler, 1984), depositados tanto no Pleistoceno como no Holoceno (Martin et al., 1997), estando também, segundo Pe- reira (2003), associados em alguns pontos da costa a sedimentos fluviomarinhos. No Espírito Santo a restinga tem sua ocorrência por quase toda a exten- são da costa, sendo interrompida em alguns trechos pela foz de rios, algu- mas vezes associados a estes o manguezal, como na Barra do Jucu, em Vila Velha. Em outros pontos, a restinga não tem sua ocorrência, hoje, em função do avanço do mar sobre a costa que chega até o Terciário (Perei- ra, 2002), formando as denominadas falésias, encontradas no litoral Sul, entre Guaraparí e Marataízes. A diversidade de fisionomias nas restingas foi reconhecida no Espírito Santo por Pereira (1990) para uma restinga em Guarapari, sendo denomi- nadas com base em Araujo & Henriques (1984) como formação halófila, psamófila reptante, pós-praia, Palmae, mata seca, brejo herbáceo, flo- resta periodicamente inundada, flores- ta permanentemente inundada, aber- ta de Clusia e aberta de Ericaceae. A classificação das comunidades da restinga tem sofrido adaptações ao longo desses anos, sendo que Thomaz & Monteiro (1997) estabeleceram, por fusão, a formação halófila-psamófila, por considerarem difícil a delimitação entre estes ambientes, em função de suas espécies serem tolerantes aos for- tes ventos, com conseqüente soterramento de suas porções aéreas, assim como a alta salinidade, portan- to, psamófilas e halófilas, respectiva- mente. Outro agrupamento estabeleci- do é o de Assis et al., (2004) que pro- põem a denominação formação flores- tal não inundável, baseados nos estu- dos de Sandro Menezes da Silva, em 1998 (Silva & Britez, 2005), por enten- derem que a fisionomia na floresta de Myrtaceae, em Guarapari, não se deve unicamente a esta família que se en- contra também com grande representatividade na mata seca. Considerando as diferentes pro- postas relacionadas à nomenclatura para as formações vegetais da restinga, Pereira (2003) propõe as terminologi- as Herbácea não inundável, inundável e inundada; Arbustiva fechada não inundável e inundável; Arbustiva aberta não inundável e inundada; Flo- 28 Espécies da Flora ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo IPEMA 2007 restal não inundável, inundável e inundada. Com conotações muito pró- ximas a estas Menezes & Araujo (2005) ampliam a discussão, informando – para cada formação – sua situação geomorfológica, descrição fitofisionômica e as denominações equivalentes no litoral brasileiro que, apesar de ser uma descrição para uma área específica da Restinga da Marambaia, no Rio de Janeiro, pode- ria ser adotada para outros pontos do litoral brasileiro. No Espírito Santo, os estudos re- lacionados à flora e à vegetação abran- gem restingas desde o Sul do Estado, em Guarapari, até o Norte, em Concei- ção da Barra (Pereira, 1990; Fabris et al., 1990; Assis et al., 2004; Pereira & Zambom, 1998; Pereira & Assis, 2000; Pereira et al., 2000; Pereira et al., 1998; Pereira & Assis, 2004; Pereira et al., 2004 e Pereira & Gomes, 1994). A flora das restingas do Espírito Santo está discriminada no trabalho de Pereira & Araujo (2000). Ele apon- ta que as maiores riquezas se encon- tram nas famílias Leguminosae, Myrtaceae, Orchidaceae, Bromeliaceae, Rubiaceae, Cyperaceae, Asteraceae, Poaceae, Melastomataceae e Euphorbiaceae. Em trabalhos quantitativos, as es- pécies dominantes na formação halófila-psamófila, considerando o parâmetro valor de importância são: Panicum racemosum (Beauv.) Spring., Ipomoea pes-capre (L.) Sweet e Blutaparon portulacoides St. A.-Hil. (Pereira et al., 1992); na formação pós- praia Schinus terebinthifolius Raddi, Quesnelia quesneliana (Br.) L. B. Smith, Scutia arenicola Reiss. (Fabris et al., 1990); formação aberta de Ericaceae, na sua porção de entre moi- tas, Chamaecrista ramosa (Vogel) Irwing & Barneby, Lagenocarpus verticillatus (Spreng.) Koyama & Maguire, Cuphea flava Spreng. (Perei- ra & Araujo, 1995); formação arbustiva fechada inundável Lagenocarpus rigidus Ness, Marcetia taxifolia (A. St.- Hil.) DC., Hymenolobium alagoanum Ducke (Pereira & Assis, 2004); arbustiva aberta não inundável Chamaecrista ramosa (Vogel) Irwing & Barneby, Panicum trinii Kunth, Stygmaphyllon paralias A. Juss. (Pe- reira et al., 2004) e na formação flo- restal não inundável Pouteria coelomatica Rizzini, Myrciaria floribunda (H.West. ex Willd.) O. Berg, Oxandra nitida R. E. Fr. (Assis et al., 2004). Considerando a formação flores- tal não inundável Assis et al. (2004) encontraram para o índice de diversi- dade de Shannon-Weaver o valor de 3,73, o maior registrado para este tipo de formação de restinga no litoral bra- sileiro. Na formação aberta de Ericaceae, na entre moitas (formação arbustiva aberta não inundável), onde as espécies são herbáceas, este valor foi de 2,43 (Pereira & Araujo, 1995); na arbustiva fechada inundável, 2,88 (Pereira & Assis, 2004) e, na arbustiva aberta não inundável, 3,043 (Pereira et al., 2004). A descaracterização da restinga, por diversos meios antrópicos, tem proporcionado situações que levam a um grande risco às espécies com am- pla distribuição geográfica mas, sobre- tudo àquelas de distribuição restrita, muitas vezes, endêmicas a este Esta- do. A lista oficial de espécies ameaçadas contempla um número muito grande de famílias, representa- 29 IPEMA 2007 das, entre outras espécies, por Ditassa arianeae Fontella & E. A. Schwarz (Macroditassa melantha ssp. arianeae (Fontella & E. A. Schwarz) Fontella & T.U.P. Konno); Aechmea blanchetiana (Baker) L. B. Sm., Pilosocereus brasiliensis (Britton & Rose) Backer. subsp. brasiliensis, Scaevola plumieri (L.) Vahl, Axonopus pressus (Ness ex Steud.) Parodi, Rhodostemonodaphne capixabensis Baitello & Coe-Teixeira, Heteropteris oberdanii Amorim, Cattleya guttata Lindl., Piper sprengelianum C.DC. e Jacquinia armillaris Jacq. No Espírito Santo, a vegetação de restinga encontra-se conservada ao Sul de Vitória, no município de Guarapari, representada pelo Parque Estadual Paulo César Vinha e, em Vila Velha, o Parque Natural Municipal de Jacarenema. Em Vitória, a Reserva Ecológica Municipal Restinga de Camburi. Ao norte se destacam, em Linhares, a Reserva Biológica de Com- boios e, em Conceição da Barra, o Parque Estadual de Itaúnas. Em www.iema.es.gov.br é discriminada a totalidade das Unidades de Conser- vação e áreas protegidas, sendo que o IPEMA (2005) faz uma breve descri- ção de algumas delas. As áreas elencadas como prioritárias para conservação da ve- getação de restinga podem ser acessadas em www.ipema-es.gov.br, abrangendo grande parte do litoral do Espírito Santo, como na Foz do Rio Doce, no município de Linhares, Con- ceição da Barra, Praia das Neves, Setiba, Guanandy e Anchieta. Em CIB et al. (2000), as áreas para conserva- ção delimitadas são o delta do Rio Doce e os remanescentes florestais na Lagoa do Juparanã, e as bacias dos rios Itapemirim e São Mateus. A Reserva Biológica de Sooretama e a Reserva Natural da Vale do Rio Doce também incluem diversidade de ambientes, ocorrendo restinga apenas na Reser- va da CVRD, resultante de deposição no Quaternário (Pleistoceno) (Martin et al. 1997). Na história da devastação das flo- restas do Espírito Santo, os relatos de Saint-Hilaire (1974) entre os anos de 1816 e 1822, indicam quanto os ecossistemas litorâneos vinham sen- do substituídos, principalmente por culturas de subsistência. Na atualida- de, os impactos sobre a vegetação da restinga são, principalmente,extração de areia, madeira como combustível e ocupação urbana (CCREMAD, 1992). A expansão imobiliária volta a se acelerar na região Norte e ao Sul, em antigas cidades, como Guarapari e Vila Velha. Impactos, como a extra- ção de areia e drenagem como repor- tado por Pereira & Assis (2000), in- terferem nas comunidades de manei- ra a alterar sua composição florística ou mesmo substituição total da vege- tação natural na restinga por exóticas a este ecossistema. A situação de ocupação da pla- nície quaternária no Espírito Santo para os próximos anos tende a não ser diferente do que vem ocorrendo até o momento. Entretanto, esta pressão antrópica deverá ser ampliada em função do desenvolvimento deste es- tado, aumentando áreas de cultivo (principalmente de coco e abacaxi), estabelecimento de novos empreen- dimentos imobiliários e industriais nos balneários até então pouco ocu- pados, como os extremos Norte e Sul da costa. Cap.3 - Formações pioneiras: restingas Oberdan José Pereira 30 Espécies da Flora ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo IPEMA 2007 São muitos os desafios a serem enfrentados no sentido de conservar as Unidades já estabelecidas e pro- posição de novas. Técnicas dispo- níveis indicam a transformação des- tas em “sistemas de áreas protegi- das” (Bensunan, 2006). Para tal, o autor loc. cit. propõe a inclusão de elementos que possibilitem a preser- vação de processos biológicos, am- pliação da conectividade, diminui- ção do efeito de borda, dentre ou- tros requisitos. Neste caso, terras in- dígenas, reservas legais e áreas de preservação permanente seriam fun- damentais no processo visando à conservação da biodiversidade no Estado do Espírito Santo. Agradecimentos ao biólogo Luiz Fernando Silva Magnago pelo auxí- lio na localização de bibliografias e leitura do manuscrito. Referências Araujo, D. S. D. & Henriques, R. P. B. 1984. Análise florística das restingas do Estado do Rio de Janeiro. In; Lacerda, L. D.; Araujo, D. S. D.; Cerqueira, R. & Turcq, B. (org.) Restingas: origem, estrutura, proces- sos, p.159-193. CEUFF, Niterói. Assis, A. M.; Pereira, O, J . & Thomaz, L. D. 2004. 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Fitossociologia da vege- tação de ante-dunas da restinga de Setiba/Guarapari e Interlagos/Vila Ve- lha, ES. Boletim do Museu de Biolo- gia Mello Leitão (Nov. Sér.), 1:65-75. Saint-Hilaire, A. 1974. Viagem ao Es- pírito Santo e Rio Doce. Tradução de Milton Amado. Ed. Itatiaia, Ed. da Universidade de São Paulo: Belo Ho- rizonte e São Paulo. Silva, M. S. & Britez, R. M. 2005. A vegetação da planície costeira. In: Marques, M. C. M. & Britez, R. M. (orgs.); Alexandre Salino et al. (col.) História natural e conservação da Ilha do Mel, p. 49-84. Editora UFPR, Curitiba. Suguio, K. & Tessler, M.G. 1984. Pla- nícies de cordões litorâneos quaternários do Brasil: origem eno- menclatura. In: L. D. Lacerda, D. S. D. Araujo, R. Cerqueira & B. Turcq (eds.). Restingas: origem, estrutura, proces- sos, p. 15-25. CEUFF, Niterói. Thomaz, L. D & MONTEIRO, R. 1997. Composição florística da Mata Atlân- tica de encosta da Estação Biológica de Santa Lúcia, município de Santa Teresa-ES. Boletim do Museu de Bio- logia Mello Leitão (Nov. Ser.), 7: 3-48. 33 IPEMA 2007 Capítulo 4 Florestas de tabuleiro Ariane Luna Peixoto Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) Marcelo Simonelli Faculdades Integradas São Pedro (FAESA) No Espírito Santo são expres-sivas as áreas cobertas por Flo-restas de Tabuleiros ao Norte do Rio Doce. Estas florestas encon- tram-se estabelecidas sobre os Tabu- leiros Terciários da série Barreiras e estão localizados entre a região serra- na e a planície quaternária. O conta- to com a planície quaternária é feito através de pequenas escarpas ou de maneira gradativa e, neste contato, têm início os terraços marinhos pleis- tocênicos formados por sedimentos, que são os mais antigos da planície quaternária (Martin et al., 1993). Os Tabuleiros Terciários se caracteri- zam por uma seqüência de colinas tabu- lares, com altitude entre 28 e 65 m, entrecortados por vales amplos e rasos pontilhados de lagoas e brejos. Os vales, em sua maioria, apresentam-se com fun- dos chatos e colmatados por sedimentos quaternários, por onde correm os rios e riachos. Os sedimentos são de caráter ar- giloso, argilo-arenoso ou arenoso e as áre- as de quaternário distribuem-se em alu- viões, atuais ou antigos, ao longo dos va- les e vias fluviais (Martin et al., 1993). O clima, na área de ocorrência destas florestas, é ‘Awi’ na classificação de Köppen, tropical quente e úmido, com estação chuvosa no verão e seca no inver- no. Com base em dados dos anos de 1975 a 2000, recolhidos na estação meteorológica instalada na Reserva Na- tural da Vale do Rio Doce, Jesus & Rolim (2005) informam que a precipitação pluviométrica média anual é de 1.202 mm, a temperatura média de 23,3o C, sen- do a média das mínimas de 14,8o C e a média das máximas de 34,2o C. Informam ainda que a precipitação total tem uma forte variabilidade anual, com valores abaixo de 1.000 mm, em alguns anos com- pensados por outros, com precipitação de até 1.640 mm. A Floresta de Tabuleiros do Norte do Espírito Santo está inserida na Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas no sis- tema de classificação apresentado por Veloso et al. (1991). Entretanto, este posicionamento é contestado por diferen- tes autores que a classificam como Flo- resta Estacional Semidecídua de Terras Baixas. Engel (2001), embasado no acom- panhamento de fenofases envolvendo 41 espécies do dossel florestal, onde encon- trou 43,9% de espécies sempre-verdes, 43,9% como brevi-decíduas e 12% como caduciflolias, a denominou como Floresta Tropical Estacional 34 Espécies da Flora ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo IPEMA 2007 Perenifólia, uma classificação basea- da em Longman e Jenik (1987), ca- racterizando-a assim como intermedi- ária entre as duas tipologias do siste- ma de Veloso et al. (1991). Na Floresta de Tabuleiro podem ser identificadas quatro formações ve- getais naturais denominadas de Flo- resta Alta, Floresta de Muçununga, Áreas Inundadas e Inundáveis e Cam- pos Nativos. A Floresta Alta ou Floresta Densa está estabelecida em terrenos argilo- sos ou areno-argilosos, sendo a forma- ção mais representativa da floresta de tabuleiro. Quando comparada com as outras formações da floresta de tabu- leiro, a Floresta Alta destaca-se por apresentar árvores de maior porte e sombreamento mais intenso do sub- bosque, que é ralo. É também a forma- ção de maior riqueza específica. As árvores do dossel atingem até 40 m de altura e ocorrem de forma adensada e as lianas, fortemente lenhosas, se des- tacam pela espessura. Peixoto & Gentry (1990) amostrando espécimes com diâmetro a altura do peito (DAP) igual ou superior a 2,5cm em 0,1 ha, encontraram 443 indivíduos perten- centes a 216 espécies. Das 95 lianas amostradas, 14 apresentaram diâme- tro igual ou superior a 10 cm. A rique- za em espécies encontrada está acima de qualquer outro local com índice de precipitação similar e amostrado, se- guindo a mesma metodologia. Nunes (1996), analisando o potencial de re- generação da mata de tabuleiro, con- siderando trechos de floresta e de ca- poeira, encontrou no banco de plântulas e jovens 7.815 indivíduos pertencentes a 326 espécies. Neste contingente, as lianas representaram 19,5% dos indivíduos. Árvores, arbus- tos e palmeiras foram representadas, respectivamente, por 69%; 7,5% e 4% dos indivíduos. A composição florística da Flores- ta Alta tem em comum, com quase to- das as florestas tropicais úmidas de baixada, a riqueza em Leguminosae e a presença de Annonaceae, Sapotaceae, Rubiaceae e Bignoniaceae entre as famílias com grande número de espécies. Também a predominância de lianas da família Bignoniaceae é uma característica co- mum a estas florestas. Myrtaceae é a família mais rica em número de espé- cies, na área como um todo, caso se considere Leguminosae como três fa- mílias distintas. Mori et al. (1983) en- contraram o mesmo padrão em rela- ção a Myrtaceae na costa Sul da Bahia. Em 1 ha de Floresta Alta, incluin- do árvores com 5 cm ou mais de DAP, Peixoto et al. (no prelo) encontraram um total de 1.359 indivíduos perten- centes a 271 espécies e 55 famílias. Neste mesmo trecho foram encontra- das 21 árvores com DAP acima de 50 cm e 18 árvores com altura superior a 30 m. Entre as espécies com maiores diâmetros e alturas encontram-se Diplotropis incexis Rizzini & A. Mattos (dap de 125.70 cm e altura de 30 m), Hidrogaster trinervis Kuhlm. (90 cm e 34 m), Virola gardneri (A.DC) Warb. (90 cm e 36 m), Micropholis crassipedicellata (Mart & Eichl.) Pierre (87 cm e 30 m), Couratari asterotricha Prance (76 cm e 35 m). As dez espéci- es com maior valor de importância foram Rinorea bahiensis (7,54), Dialium guianense (7,02), Hidrogaster trinervis Kuhlm. (6,53), Stephanopodium blanchetianum Baill. (4,95) e Helicostyles tomentosa (Poepp. & Endl.) Rusby (4,65). 35 IPEMA 2007 Myrtaceae, com 253 indivíduos em 43 espécies, e Sapotaceae, com 105 indi- víduos em 16 espécies, foram as famí- lias mais amostradas. Jesus & Rolim (2005) no mais ex- tenso estudo sobre a estrutura da Flo- resta de Tabuleiros, envolvendo 250 parcelas de 40 ha, encontraram 20.688 árvores com DAP igual ou superior a 10 cm. Foram identificadas 406 espé- cies, sendo as famílias Leguminosae (67), Myrtceae (58) e Sapotaceae (29) as mais ricas em espécies. Rinorea bahiensis (Moric.) Kuntze, classifica- da por estes autores como espécie clí- max, foi a espécie de maior densida- de e também aquela que apresentou melhor distribuição entre os estratos verticais da floresta. Este mesmo es- tudo mostrou que as espécies pionei- ras, além de poucas quando compara- das com os outros grupos ecológicos, têm baixa abundância (número de in- divíduos): 9.611 indivíduos perten- centes a 22 espécies pioneiras. Do gru- po ecológico clímax foram encontra- dos 9.959 indivíduos, distribuídos em 150 espécies; de secundárias tardias, 5.123 indivíduos em 107 espécies, e secundárias iniciais, 4.995 em 127 es- pécies. Estes dados demonstram que os trechos estudados na Reserva Na- tural da Companhia Vale do Rio Doce se constituem de florestas tropicais maduras e diferem do padrão encon- trado em florestas tropicais mais alte- radas, onde predominam espécies pi- oneiras e secundárias iniciais. O contingente de hemiepífitos e epífitos da floresta alta são notórios, principalmente pela diversidade de Araceae e de Bromeliaceae. O último grupo, na maioria das vezes, ocupa a copa das árvores em grandes alturas e abriga uma rica faunanos espaços en- tre folhas, cheios d’água. Um grupo que também sobressai nesta sinúsia é o de Cactaceae, representado prin- cipalmente pelos gêneros Rhypsalis e Hariotta que, com ramos longos, pendentes, cilíndricos ou angulosos produzem abundantes floradas e fru- tos utilizados como alimento pela fauna local. O solo da floresta alta é coberto por serapilheira mais ou menos den- sa, não deixando espaço desnudo. O contingente de árvores em crescimen- to é muito grande. As herbáceas do solo, principalmente Marantaceae e Rubiaceae, não chegam a formar po- pulações densas, embora estejam dis- tribuídas (diferentes espécies) por toda a floresta. A dinâmica da floresta alta pode ser avaliada de diversos modos. Esti- mando a mortalidade, o recrutamento e o crescimento de populações de es- pécies arbóreas, tomando como parâmetro exemplares com DAP igual ou superior a 10 cm, Rolim et al. (1999) encontraram um incremento médio anual de 0,256 cm/ano. As espécies que obtiveram maiores valores de in- cremento em crescimento foram Sterculia speciosa K. Schum. (0,74cm/ ano), Astronium concinnum (Engl.) Schott (0,545 cm/ano) e Joannesia princeps Vell. (0,405 cm/ano). As maiores taxas de mortalidade e maio- res projeções de meia-vida foram para populações de Dialium guianensis (Aubl.) Sandwith (0,3% e 255 anos), Terminalia aff. kuhlmannii Alwan & Stace (0,4% e 182 anos) e Sorocea guilleminiana Gaudich. (0,4% e 172 anos). Três das populações com as maiores porcentagens de recrutamen- to estão entre as que mais aumenta- ram em abundância no período: Cap.4 - Floresta de tabuleiro Ariane Luna Peixoto - Marcelo Simonelli 36 Espécies da Flora ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo IPEMA 2007 Sorocea guilleminiana Gaudich. (64,7%), Eugenia excelsa Berg (58,3%) e Lonchocarpus cultratus (Vell.) Az. Tozzi & H.C.Lima (46,2%). As maio- res reduções na abundância foram en- contradas em Eriotheca candolleana (K.Schum.) A. Robyns (-40,0%), Brosimum gaudichaudii Trécul (- 30,0%) e Myrcia racemosa (-27,3%). A Floresta de Muçununga reveste áreas da Floresta de Tabuleiros acom- panhando depósitos de solos areno- sos, não marinhos, ácidos e relativa- mente pobres em nutrientes (Simonelli, 1998). As árvores são de menor porte do que aquelas da Flo- resta Alta, os troncos de modo geral são mais claros, e há maior penetra- ção de luz para o solo. As árvores do estrato superior alcançam entre 7 e 10 m de altura, havendo, entretanto, ár- vores emergentes de 15 a 18 m. É mais raro de até 25 m. Na área da Reserva Natural da Vale do Rio Doce foram coletadas 392 espécies em áreas cobertas por Muçununga, pertencentes a 79 famí- lias, sendo as mais ricas Orchidaceae (53), Leguminosae (35), Myrtaceae (35), Bromeliaceae (15) e Araceae (14). Das espécies coletadas na Flo- resta de Muçununga, 164 foram coletadas apenas nestas formações. Algumas destas espécies são típicas de vegetação sobre solos arenosos, como as restingas (Couepia schottii Fritsch e Rhodostemonodaphene capixabensis Baitello & Coe-Teixeira, p. ex). Outras parecem endêmicas desta formação (Simira eliezeriana Peixoto, p. ex). Fisionomicamente, as áreas cober- tas por floresta de Muçununga possu- em pouca variação entre si, porém, os parâmetros estruturais parecem vari- ar bastante entre diferentes trechos. Simonelli (1998) inventariando 0,93 ha de Floresta de Muçununga, envol- vendo indivíduos com DAP igual ou superior a 5 cm, encontrou 79 espéci- es em 29 famílias, sendo as mais ricas Myrtaceae e Lauraceae. O índice de diversidade (H’) encontrado foi de 3,37 e mostra-se inferior aos obtidos para a Floresta Alta, porém próximo àqueles encontrados em restingas (Simonelli et al., no prelo). As espéci- es de maior porcentagem de VI foram Guapira opposita (Vell.) Reitz (14,4); Chamaecrista ensiformis var. ensiformis (Vell.) H. S. Irwin & R. C. Barneby (9,1); Manilkara subsericea (Mart.) Dubard. (8,8); Eugenia sulcata Spring ex Mart. (6,6) e Tapirira guianensis Aubl. (5,0). Áreas Inundadas e Inundáveis na Floresta de Tabuleiros apresentam di- ferentes fisionomias, principalmente em função do regime hídrico e são, de modo geral, referidas como brejo, flo- resta de brejo ou floresta de várzea. No acervo do herbário CVRD encontram- se documentadas 64 espécies coletadas em áreas inundadas ou inundáveis. As Áreas Inundadas Herbáceas, de modo geral, são associadas aos Cam- pos Nativos ou a cursos d’água. Apre- sentam como componentes principais espécies de Cyperaceae, que ocorrem adensadamente, além de representan- tes de Onagraceae, Melastomataceae, Poaceae e Asteraceae. A Pteridophyta Blechnum serrulatum Rich. (samam- baia-do-nativo) é freqüente no entor- no destas áreas, bem como Lygodium volubile Sw. (samambaia-abre-cami- nho). Na transição destas áreas para a floresta é notória a presença de algu- 37 IPEMA 2007 mas espécies arbóreas, entre as quais tem destaque Symphonia globulifera L. f. (guanandi) e Jacaranda puberula Cham. (carobinha). As Áreas Inundadas Lenhosas es- tão mais freqüentemente associadas à Floresta de Muçununga ou à Floresta Alta. Nelas podem sobressair plantas arbustivo-arbóreas ou plantas arbóreas. No primeiro caso, arbustos ou pequenas árvores com cerca de 3 m de altura, mais raro até 5 m (Tapirira guianensis Aubl., Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll. Arg., Ilex sp. e Cecropia. spp., principalmente), crescem isoladamente, entremeados por uma densa malha de indivíduos herbáceos – com sistema caulinar e radicular muito entrelaçados –, for- mando uma camada orgânica flutuan- te. No segundo caso, os indivíduos do estrato superior são árvores que podem alcançar até 12 m de altura. Ocorrem afastados uns dos outros, permitindo a penetração de luz até o solo. Peixoto et al. (no prelo) estudando a estrutura de um trecho de 0,1 ha, com inclusão de indivíduos de DAP igual ou maior a 5 cm, encontraram como espécies de maiores valores de importância (VI) Tabebuia cassinoides (Lam.) DC., Annona glabra L., Calophyllum brasiliense Cambess., Myrtaceae 2 e Tapirira guianensis Aubl.. São áreas de baixa diversidade, sendo o H’ re- gistrado para o trecho igual a 1,33. No interior da floresta inundada, encon- tram-se inúmeros canais onde ocorrem espécies de Nymphaeaceae e Cabombaceae. No estrato inferior, so- bressaem várias espécies de Cyperaceae, entre as quais, predomina Scleria latifolia Sw. (tiririca-do-brejo). As Áreas Inundáveis estão repre- sentadas principalmente por floresta ciliar. Os espécimes arbóreos que aí se desenvolvem atingem cerca de 20 m de altura. O dossel é contínuo, impe- dindo a entrada de grande quantida- de de luz, favorecendo o desenvolvi- mento de espécies de ambientes som- breados, como as Maranthaceae (Monotagma plurispicatum (Körn.) K. Shum., p. ex.) que chegam a cobrir grandes extensões do solo. Dentre as Pteridophyta destacam-se fetos arborescentes. A presença de Arecaceae neste ambiente é marcante não só em número de indivíduos, mas também em espécies, destacando-se Euterpe aff. edulis Mart. pela densi- dade. Esta espécie apresenta rebrota constante, formando assim agrupa- mentos com grande número de estipes. O epifitismo é reduzido. No entanto, podem ser constatadas inúmeras espé- cies de Araceae nesta sinúsia. Em um trecho de 0,1 ha em que foram incluídos todos os indivídu- os com DAP igual ou superior a 5 cm, as espécies que mais se destacaram em VI foram Pithecellobium pedicellare (DC.) Benth., Euterpe aff.. edulis Mart., Maprounea guianensis Aubl. e Tapirira guianensis Aubl. A diversidade (H’) encontrada foi de 2,14 (Peixoto et al, no prelo). Comparando a mata inun- dada com a inundável (floresta ciliar), o número de indivíduos da- quela é superior. No entanto, os de- mais valores são inferiores ao da mata inundável, destacando-se prin- cipalmente o volume. OsCampos Nativos - Destacam- se pelo predomínio de herbáceas e lenhosas não arbóreas. Estes campos, estabelecidos sobre substrato areno- so, ocorrem no Sul da Bahia e Norte do Espírito Santo, sempre como Cap.4 - Floresta de tabuleiro Ariane Luna Peixoto - Marcelo Simonelli 38 Espécies da Flora ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo IPEMA 2007 enclaves na Floresta Alta ou na Floresta de Muçununga. Araújo et al. (no prelo.) afirmam que os campos nativos são de dois tipos: as autênticas restingas, ou se- jam, aqueles campos estabelecidos sobre terraços pleistocênicos mari- nhos, justapostos no bordo do tabu- leiro, na parte mais interna da pla- nície quaternária, com até 9 m de altitude, e aqueles estabelecidos nos tabuleiros, em solos arenosos, acima de 28 m de altitude. Reconhecem, entretanto, grandes semelhanças florísticas e fisionômicas entre as duas formações. As condições edáficas levam a uma grande simila- ridade quando considerados parâmetros tais como profundidade do lençol freático, substrato arenoso e disponibilidade de matéria orgâni- ca sobre o solo ou incorporado à ca- mada superior do mesmo. Considerando tanto a localização geomorfológica quanto a fisionomia e composição florística, Araújo et al. (no prelo) caracterizaram quatro ti- pos de Campos Nativos: Graminóide Denso; Graminóide; Arbustivo e Em Moitas. A composição florística des- ses quatro tipos é muito semelhan- te, não sendo possível diferenciá-los apenas com base na lista de espéci- es, com exceção dos campos sobre a planície quaternária ocorrem espéci- es tipicamente de restinga, entre as quais citam-se Allagoptera arenaria (Gomes) Kuntze, Agarista revoluta (Spreng.) Hook. F. ex Nied., Cereus fernambucensis Lem. e Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byles & G.D. Rowley. Entretanto, pela dominância de espécies-chave e pela fisionomia é perfeitamente possível distinguir os quatro diferentes tipos. Quando os campos nativos sofrem algum impacto que altera a cobertura vegetal, esse desequilíbrio é percebi- do pelo aparecimento de populações densas de Pteridium aquilinum (L.) Kuhn, associando-se a elas espécies tipicamente invasoras tais como Imperata brasiliensis Trin., Lantana camara L., Vernonia scorpioides (Lam.) Pers., entre outras. Como conseqüência de diversos fatores, entre os quais têm destaque a exploração madeireira e a expansão da fronteira agrícola, a Floresta de Tabu- leiro no Espírito Santo, hoje, está qua- se restrita a um importante núcleo flo- restal constituído pela Reserva Bioló- gica de Sooretama e a Reserva Natural da Companhia Vale do Rio Doce, nos municípios de Sooretama e Linhares, respectivamente. Juntas, estas unida- des somam aproximadamente 46.000 ha. A primeira é de propriedade do governo federal, gerenciada pelo Ibama e, a segunda, pertence à Com- panhia Vale do Rio Doce. Com a antropização da paisagem, a área florestada em Sooretama e Linhares se constitui no mais importante corpo florestal entre o Norte do Rio de Ja- neiro e o Sul da Bahia, que vem rece- bendo a atenção de diversos estudio- sos, sendo Aguirre (1950), Egler (1951) e Heinsdijk et al. (1965) os precurso- res. Estão circundadas por uma matriz na qual predominam pastagens, cul- turas agrícolas (principalmente cana- de-açúcar, mamão, café, maracujá e pimenta-do-reino) e florestais (princi- palmente eucalipto). Entretanto, ain- da há muitos fragmentos florestais re- manescentes, isolados, alguns consti- tuindo unidades de conservação ad- ministradas pelo governo federal (Ta- bela 4.1). Agarez (2002) analisou a es- trutura do componente arbóreo de al- 39 IPEMA 2007 guns fragmentos florestais no interi- or de propriedades agrícolas e reafir- ma a importância biológica e social da conservação de tais fragmentos. A Figura 4.1 mostra a distribui- ção original dos domínios das Flores- tas de Tabuleiros (considerando aqui os depósitos do grupo Barreiras e tam- bém os colúvio-aluvionares), o que daria um total de 1.046.876,1 hecta- res (aproximadamente 23% da área do estado). Atualmente, usando como base o mapeamento feito pela Fun- dação SOS Mata Atlântica eINPE (www.sosmatatlantica.org.br), exis- tem 7.814 fragmentos neste domínio. Somando-se as áreas destes fragmen- tos, tem-se o total de 187.039,1 ha, ou seja, 17,9% da cobertura original das Florestas de Tabuleiro. Vale des- tacar que somente o núcleo florestal constituído pela Reserva Biológica de Sooretama e pela Reserva Natural da Vale do Rio Doce (aproximadamente 46.000 ha) é responsável por 24,6% da cobertura atual (4,4% da cobertu- ra original), demonstrando a impor- tância destas áreas para a conserva- ção da biodiversidade das Florestas de Tabuleiro. Além dos núcleos florestais já ci- tados, outro bastante importante si- tua-se às margens do Rio Doce, no município de Linhares. Grande par- te desta área florestal é ocupada por florestas sobre terrenos aluvionares, freqüentemente usadas para o plan- tio de cacau, constituindo as chama- das matas de cabruca. A cultura de cacau sombreado, localizada próxi- ma à foz do Rio Doce, em Linhares, é responsável pela manutenção de cer- ca de 29.000 ha de cobertura flores- tal nativa e, ainda que alterada em sua estrutura, constitui um impor- tante remanescente da Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas (IPEMA, 2005). É importante destacar a ausên- cia quase total de fragmentos flores- tais nas áreas de depósitos do grupo Barreiras no Sul do estado. Nesta re- gião, praticamente toda a floresta foi retirada para dar lugar a projetos agropastoris. A Floresta de Tabuleiro tem, en- tre seus atributos, a alta diversidade específica, sendo também rica em endemismos e biotipos distintos para Nome da unidade Área (ha) Município Ano de criação Floresta Nacional de Goytacazes* 1.350 Linhares 2002 Floresta Nacional Rio Preto 2.830 Conceição da Barra 1990 Reserva Biológica Córrego do Veado 2.383 Pinheiros 1982 Reserva Biológica Córrego Grande 1.489 Conceição da Barra 1989 Reserva Biológica de Sooretama 24.250 Sooretama 1949 * A maior parte da área está sobre depósitos aluvionares Tabela 4.1 - Unidades de conservação presentes na área de domínio das Florestas de Tabuleiro no Estado do Espírito Santo. Cap.4 - Floresta de tabuleiro Ariane Luna Peixoto - Marcelo Simonelli 40 Espécies da Flora ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo IPEMA 2007 espécies de distribuição mais ampla (Peixoto & Silva, 1997). Possui, hoje, uma das floras mais bem conhecidas ao longo do domínio atlântico. Se, considerado o valor estimado de 13.000 espécies de Angiospermas para a Floresta Atlântica (Gentry et al., 1997), com base em dados oriun- dos da listagem florística de exem- plares depositados no herbário CVRD, a floresta de tabuleiro detém cerca de 12% deste contingente. A área núcleo da Floresta de Tabulei- ro, formada pela Reserva Natural da Vale do Rio Doce (Figura 4.2) e a Re- serva Biológica de Sooretama, foi ca- racterizada como um dos 14 Centros de Alta Diversidade Biológica e Endemismo do Brasil (Peixoto & Sil- va, 1997) e é considerada pelo Mi- nistério do Meio Ambiente como área de Extrema Importância Bioló- gica para a conservação da flora e de quase todos os grupos de fauna (MMA, 2000). Devido a diversos fatores, entre os quais se destacam o padrão de dis- tribuição gregário ou esparso, a rari- dade de ocorrência e, provavelmen- te a capacidade de crescimento ape- nas em determinados ambientes, há espécies de ocorrência muito espo- rádica. O gênero Erisma, tipicamen- te da Amazônia, apresenta uma es- pécie disjunta no Sudeste brasilei- ro, Erisma arietinum M.L.Kawasaki (carneiro) espécie arbórea de grande porte, endêmica da área e de distri- buição gregária. Qualea magna Kuhlm. (vermelhinha), Andradea floribunda Allemão (ganassaia) Trigoniodendrum espiritusanctense
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