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Livro Flora Ameaçada ES

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Prévia do material em texto

Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção
no Estado do Espírito Santo
Conselho deliberativo
Elizete Sherring Siqueira
Luiz Paulo de Souza Pinto
Luiz Son
Paulo de Marco Junior
Sérgio Lucena Mendes
Conselho fiscal
Marcelo Passamani
Roberta Fassarela
Valéria Fagundes
Equipe técnica
Andressa Gatti
Deusdedet Ale Son
Monica Toniato
Edição
Linda Kogure
Projeto gráfico e editoração
Frederico Vescovi Leão
Catalogação
Ana Maria de Mattos Mariani
CRB 12/ES, n. 425.
Impressão
Gráfica JEP
E773 Espécies da flora ameaçadas de extinção no estado do Espírito Santo / Marcelo
Simonelli, Claudio Nicoletti de Fraga, organizadores. – Vitória : Ipema, 2007.
144 p. : il. mapas color.; retrs. color. tabs., 29,7cm.
1. Plantas – Extinção – Espírito Santo (Estado). 2. Espécies em extinção – Espíri-
to Santo (Estado). 3. Manguezais – Espírito Santo (Estado). 4. Restinga – Espírito
Santo (Estado). I. Simonelli, Marcelo. II. Fraga, Cláudio Nicoletti de.
CDD: 581.98152
CDU: 577.4(815.2)
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção
no Estado do Espírito Santo
Organizadores
Marcelo Simonelli - Claudio Nicoletti de Fraga
Vitória
2007
A todos que apoiaram a execução deste projeto
sobretudo aos funcionários do IPEMA.
À Conservação Internacional (CI),
ao Museu de Biologia Prof. Mello Leitão,
 Seama, Incaper, Idaf, Ibama e aos
institutos de pesquisas que cederam seus
 pesquisadores para a elaboração da lista.
Aos pesquisadores do Workshop e
participantes das análises pela internet.
À Companhia Vale do Rio Doce
por patrocinar esta publicação.
Agradecimentos
Em 2003 fomos convidados – juntamente com os colegas Hélio Queiroz Boudet
Fernandes e Ivanor Weiler Junior – pelo Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica
(IPEMA) para participarmos do projeto denominado “Conservação da Biodiversi-
dade da Mata Atlântica no Espírito Santo mais especificamente incumbidos da ár-
dua, porém prazerosa tarefa de coordenarmos a elaboração da lista das espécies
ameaçadas de extinção da flora do Estado do Espírito Santo, feita com base metodo-
lógica nos critérios e análises de categorias relativas ao Estado de conservação da
IUCN – The World Conservation Union.
Essa ação consistia, em um primeiro momento, montar um banco de dados com
as espécies da flora capixaba que, posteriormente, deveriam ser triadas e analisadas
pelos mais qualificados botânicos por grupos de especialidades do Brasil e do mun-
do, o que foi feito de 2003 a 2004. Em outubro de 2004, o IPEMA realizou, em
Vitória, um workshop que contou com a participação de 88 especialistas, dentre
eles 25 botânicos. A difícil tarefa era de analisar 3.285 espécies candidatas da flora
capixaba nas 20 horas de trabalho, o que significava avaliar ca. 3 espécies por minu-
to, com o objetivo de decidir quais deveriam compor a lista de espécies ameaçadas.
Como resultado do evento foram eleitas 776 espécies entre ameaçadas (753) e extin-
tas (23). Para muitos, este número parece ser exagerado, mas temos a plena convic-
ção de que ele reflete, por um lado, a nossa elevada diversidade vegetal e, por outro,
o estado de conservação em que se encontram os ecossistemas do nosso Estado.
Para a sua oficialização, a lista foi encaminhada em março de 2005 para o Con-
sema e o decreto estadual de homologação nº 1499-R foi assinado pelo governador
em 11 de junho de 2005, no Museu de Biologia Prof. Mello Leitão e, em 14 de junho
daquele mesmo ano, foi publicado no Diário Oficial Estadual. A partir de então, o
Espírito Santo passou a ser um dos seletos Estados do Brasil a ter uma lista oficial
de espécies ameaçadas de extinção.
No entanto, faltava o último passo: a elaboração de uma publicação que discu-
tisse os aspectos ligados à conservação de nossas espécies e dos nossos ecossiste-
Apresentação
mas, além das causas e conseqüências da extinção no Espírito Santo. Este último
passo agora está sendo dado, com a publicação do presente livro. Trata-se de uma
obra que, com certeza, será ferramenta essencial para a adoção de políticas públi-
cas voltadas à conservação da nossa biodiversidade.
Esta obra está dividida em duas partes: a primeira, com sete artigos, aborda os
ecossistemas existentes no Espírito Santo, suas características, estado de conserva-
ção e flora. A segunda parte sintetiza os aspectos relativos à metodologia e aos
resultados obtidos na confecção da lista, além de discutir as espécies ameaçadas
por grupo de plantas, apresentando ao final de cada capítulo a listagem e o status
de conservação para cada uma das espécies.
Para a elaboração desta obra foram convidados alguns pesquisadores de diver-
sas instituições do Estado e do Brasil que, apesar dos seus inúmeros compromissos,
logo que convidados se prontificaram a escrever os artigos. A eles, os nossos since-
ros agradecimentos, assim como aos pesquisadores que responderam a consulta
prévia e/ou participaram do workshop. Sem dúvida, eles foram os principais res-
ponsáveis pela elaboração da lista de espécies ameaçadas de extinção no Espírito
Santo. Gostaríamos de agradecer também ao patrocinador que possibilitou que to-
das essas informações viessem à luz do conhecimento dos leitores que, assim como
você, irá se deleitar com as características da flora do Espírito Santo e se instruir
ainda mais sobre as espécies ameaçadas no Espírito Santo, podendo auxiliar para
que elas venham a ser, uma a uma, retiradas dessa listagem.
Marcelo Simonelli e Claudio Nicoletti de Fraga
Organizadores
Para os padrões brasileiros, o Espírito Santo é um Estado pequeno situado discreta-
mente no nordeste da Região Sudeste, circundado pelo imenso oceano Atlântico e por
três dos mais notórios Estados brasileiros. Mas essa discrição capixaba não consegue
ocultar uma imensa riqueza paisagística, representada por uma variedade de
ecossistemas, como as formações marinhas, os manguezais, as restingas das planícies
costeiras, as matas de tabuleiros, as matas da encosta atlântica, as matas de altitude, a
vegetação rupestre dos pães de açúcar e os campos de altitude acima dos 2.000 metros,
na Serra do Caparaó.
A exuberância dessa vegetação já chamava a atenção de viajantes naturalistas do
século XIX, como do francês Auguste Saint-Hilaire e do príncipe alemão Maximiliano
de Wied-Neuwied, que não só se encantaram com a riqueza da flora e da fauna, mas
também testemunharam grandes impactos antrópicos, como o uso do fogo para destruir
a vegetação nativa.
O que esses naturalistas presenciaram no início do século XIX em nada se compara
ao que se sucedeu no século XX. A expansão dos bananais, cafezais, eucaliptais e, de
uma forma ainda mais devastadora, das pastagens, reduziu a Mata Atlântica – que
antes cobria mais de 80% da superfície do Estado –, a menos de 10% de sua área
original. Esse impacto alarmante dizimou os habitats naturais da flora e fauna nativas,
deixando isolados pequenos fragmentos de ecossistemas nativos. O que restou é ainda
mais vulnerável a antigos impactos, como a exploração madeireira, a coleta de plantas
ornamentais, os incêndios florestais, a crescente urbanização e a poluição ambiental.
Todo esse impacto certamente levaria a uma das principais conseqüências da ocu-
pação desordenada do território estadual: a extinção prematura de espécies. Preocupa-
do com esse fenômeno e seguindo as diretrizes do Programa Nacional de Biodiversidade,
o IPEMA – Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica – buscou financiamento externo e
parceria com instituições públicas estaduais para executar o projeto “Conservação da
Biodiversidade da Mata Atlântica no Estado do Espírito Santo”.
Prefácio
Com recursos do CEPF (Critical Ecosystems Partnership Fund) e apoio do IEMA
(Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos), INCAPER (Instituto
Capixaba de Pesquisa, AssistênciaTécnica e Extensão Rural), IDAF (Instituto de
Defesa Agropecuária e Florestal) e IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis), o IPEMA viabilizou três subprojetos envolven-
do um diagnóstico de manejo de 20 unidades de conservação do Espírito Santo, a
definição das áreas prioritárias para a conservação da Mata Atlântica no Estado e a
lista de flora e fauna ameaças de extinção em nível estadual.
O presente livro traz os resultados de um workshop que contou com a partici-
pação de 25 botânicos de vários Estados brasileiros que conhecem a flora capixaba.
O trabalho de alto nível realizado por esses cientistas teve um papel fundamental
na organização dos dados existentes sobre a flora do Estado, mas trouxe também um
resultado altamente preocupante: 753 espécies de plantas ameaçadas de extinção e
23 consideradas extintas. Espécies que levaram milhões de anos para evoluir, desa-
parecem rapidamente por causa de impactos antrópicos dos últimos 100 anos.
As listas de espécies ameaçadas de extinção, entretanto, não são elaboradas
para que fiquemos lamentando. Ao contrário, nos cobram atitudes e são importan-
tes ferramentas de planejamento e gestão para a conservação da biodiversidade e
uso territorial. A presença de espécies ameaçadas deve ser um critério essencial na
avaliação e mitigação de impactos ambientais. Além disso, as listas nos permitem
priorizar atividades de pesquisa, bem como estratégias de manejo de paisagens,
fundamentados nos elos mais frágeis dos ecossistemas.
Mais do que um livro apresentando os principais ecossistemas do Espírito San-
to e uma lista de espécies ameaçadas, a presente obra tem um papel histórico rele-
vante. É o resultado do esforço conjunto de instituições públicas e privadas e de um
grupo notável de cientistas, que, pela primeira vez, se uniram para diagnosticar e
fornecer bases técnico-científicas para um programa de conservação biológica do
Espírito Santo.
A oficialização da lista de espécies ameaçadas pelo governo do Estado repre-
sentou um passo importante na consolidação de seu papel nas políticas públicas.
Entretanto, não podemos parar aqui. Temos que ir a campo, aumentar e difundir
nosso conhecimento e estabelecermos estratégias de curto, médio e longo prazos,
que possibilitem a conservação e a recuperação de nossa preciosa biodiversidade.
Sérgio Lucena Mendes
Presidente do Conselho Deliberativo do IPEMA
Parte I
Vegetação e flora do Estado do Espírito Santo
Capítulo 1 ................................................................................................................ 17
A cobertura vegetal no Estado do Espírito Santo
Oberdan José Pereira
Capítulo 2 ................................................................................................................ 21
Formações pioneiras: manguezais
Renato de Almeida e Claudia Câmara do Vale
Capítulo 3 ................................................................................................................ 27
Formações pioneiras: restingas
Oberdan José Pereira
Capítulo 4 ................................................................................................................ 33
Florestas de tabuleiro
Ariane Luna Peixoto e Marcelo Simonelli
Capítulo 5 ................................................................................................................ 45
Floresta ombrófila densa submontana, montana e alto-montana
Luiz Fernando Silva Magnago, André Moreira de Assis
Hélio Queiroz Boudet Fernandes
Capítulo 6 ................................................................................................................ 51
Floresta estacional semidecidual de terras baixas, submontana e montana
André Moreira de Assis, Luiz Fernando Silva Magnago
Hélio Queiroz Boudet Fernandes
Capítulo 7 ................................................................................................................ 55
Refúgio ecológico
Hélio Queiroz Boudet Fernandes, André Moreira de Assis
Luiz Fernando Silva Magnago
S u m á r i o
Parte II
Flora ameaçada no Estado do Espírito Santo
Capítulo 8 ................................................................................................................ 59
Metodologia utilizada na elaboração da lista da flora ameaçada
de extinção no Estado do Espírito Santo.
Claudio Nicoletti de Fraga, Marcelo Simonelli
Hélio Queiroz Boudet Fernandes
Capítulo 9 ................................................................................................................ 73
Situação atual da flora ameaçada no Estado do Espírito Santo.
Marcelo Simonelli, Claudio Nicoletti de Fraga
Hélio Queiroz Boudet Fernandes
Capítulo 10 .............................................................................................................. 81
As briófitas ameaçadas de extinção no Estado do Espírito Santo.
Olga Yano e Denilson Fernandes Peralta
Capítulo 11 .............................................................................................................. 89
As pteridófitas ameaçadas de extinção no Estado do Espírito Santo.
Lana da Silva Sylvestre
Capítulo 12 .............................................................................................................. 97
As gimnospermas ameaçadas de extinção no Estado do Espírito Santo.
Ingrid Koch, Leonardo Dias Meireles, Claudio Nicoletti de Fraga
Marcos Sobral
Capítulo 13 ............................................................................................................ 105
As angiospermas ameaçadas de extinção no Estado do Espírito Santo.
Ludovic Jean Charles Kollmann, André Paviotti Fontana,
Marcelo Simonelli e Claudio Nicoletti de Fraga
Ficha Técnica ........................................................................................................ 141
Relação dos Participantes na Elaboração da Lista da Flora Ameaçada de
Extinção do Espírito Santo
S u m á r i o
Parte I
Vegetação e flora do Espírito Santo
17
IPEMA 2007
A cobertura vegetal do Espírito Santo
Capítulo 1
Oberdan José Pereira
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
A vegetação que cobre o ter-ritório do Espírito Santo se de-senvolve em diferentes tipos
de solos, enquadrados por Brasil
(1978) em pelo menos 13 classes, em
terrenos pertencentes a períodos geo-
lógicos distintos, estando os mais an-
tigos do Pré-Cambriano (Costa, 1997)
em nível topográfico acima dos 100
metros do nível do mar, principalmen-
te nos municípios serranos; do Terci-
ário, nos municípios costeiros em ter-
renos planos, os denominados Tabu-
leiros, em cotas inferiores aos 100
metros (Rizzini, 1997); e do Quaterná-
rio (Holoceno e Pleistoceno) represen-
tado por sedimento arenoso (Martin et
al. 1997) e lodoso que vem sendo de-
positado no período atual em cotas
muito próximas ao nível do mar, em-
bora sua formação tenha início no Ter-
ciário (Yokoya, 1995).
Na classificação das regiões fi-
toecológicas apresentada pelo IBGE
(1992) e, considerando as diferen-
tes cotas altitudinais e de solo do
Bioma Mata Atlântica, as fisionomi-
as da vegetação do Espírito Santo
são constituídas por formações flo-
restais e não florestais, que o IBGE
(1983) enquadrou como Floresta
Ombrófila Densa Sub-Montana,
Montana, Alto-Montana e de Terras
Baixas; Floresta Estacional Semide-
cidual, Refúgios Ecológicos, Sava-
nas e Formações Pioneiras (Restin-
ga e Manguezal).
A cobertura vegetal do Espírito San-
to foi originalmente constituída pela
Mata Atlântica (sentido amplo), que co-
bria aproximadamente 90% do territó-
rio e o restante por outras fisionomias
como restingas, mangues, brejos, campos
de altitude e rupestres (Fundação SOS
Mata Atlântica et al., 1993). Entretanto,
a devastação das florestas vem ocorren-
do praticamente desde o período do des-
cobrimento, diminuindo drasticamentesua cobertura vegetal original. Da área pri-
mitiva, resta um percentual muito peque-
no: em torno de 8,95% (Fundação SOS
Mata Atlântica et al., 1998) que ainda
pode ser encontrado em diferentes pon-
tos desta Unidade da Federação.
A erradicação de grandes extensões
das diferentes fisionomias vegetais e os
contatos entre estas causa a fragmenta-
ção dos habitats, o que se constitui num
dos mais graves problemas ecológicos
da atualidade (Bourlegat, 2003). Esta si-
tuação tem como conseqüência uma
série de fatores, dentre eles, a perda de
diversidade específica, ampliação da
borda florestal e seus efeitos, limitação
de uma espécie para dispersão e colo-
nização, redução de oferta de alimen-
tos para animais nativos, declínio e ex-
tinção de populações (Primack & Rodri-
gues, 2001).
18
Espécies da Flora ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo
IPEMA 2007
A diminuição da cobertura vege-
tal e suas conseqüências sobre a di-
versidade vegetal têm motivado no
Brasil publicações de listas de espéci-
es ameaçadas com base científica para
que possam orientar os governos em
suas políticas públicas. Neste sentido,
o Espírito Santo tem se colocado en-
tre os primeiros Estados que elabo-
rou uma listagem que se encontra dis-
ponível na publicação do Diário Ofi-
cial Estadual, de 14 de junho de 2005,
no Decreto nº 1.499-R.
O conjunto das formações vegetais
no Espírito Santo e, mesmo quando
considerada uma parte delas, é consti-
tuído por uma grande diversidade que
vem sendo atestada por diferentes pes-
quisadores, seja em base quantitativa
(Thomaz & Monteiro, 1997) ou pelas
constantes publicações de novas espé-
cies (Amorim, 2002; Kollmann, 2003;
Assis, 2003; Chautems et al., 2004; Pro-
fice, 2005; Sales et al., 2006) e mesmo
gêneros (Lima, 1983; Delprete, 1999),
muitas destas sendo endêmicas a este
Estado (Giullieti, 1992; Thomaz & Mon-
teiro, 1997).
Apesar dos recentes avanços da
ciência no sentido de utilização de
ferramentas computacionais para pro-
posição de áreas para conservação,
estas são dependentes de informações
precisas de coleções (Pimm & Jenkins,
2006). Neste sentido, estudos visan-
do ampliar os conhecimentos da flo-
ra do Espírito Santo devem ser incen-
tivados e implementados, possibili-
tando aos órgãos públicos e à socie-
dade organizada formular propostas
visando a conservação dos remanes-
centes vegetais que, apesar de peque-
nos, continuam revelando uma gran-
de diversidade ainda não conhecida
pelo homem.
A caracterização de diferentes fi-
sionomias vegetais do Espírito Santo,
aqui apresentadas, não tem como obje-
tivo esgotar o assunto, mas antes de
tudo fornecer uma visão ampla de sua
ocorrência, de maneira que possa in-
centivar pesquisas nestas áreas, aten-
dendo a uma demanda cada vez mais
premente à conservação, possibilitan-
do, assim, como discutido por Pinto et
al. (2006), a manutenção dos proces-
sos ecológicos e evolutivos destes ecos-
sistemas.
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Cap.1 - A cobertura vegetal do Espírito Santo
Oberdan José Pereira
20
Espécies da Flora ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo
IPEMA 2007
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21
IPEMA 2007
Capítulo 2
Formações pioneiras: manguezais
Renato de Almeida
Instituto BiomaBrasil
Claudia Câmara do Vale
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
O manguezal é um ecossistemacosteiro tropical, típico dafaixa do entremarés. Presente
em todo o litoral capixaba ocupa cer-
cade 70,35 km² (Vale & Ferreira, 1998).
Coloniza depósitos sedimentares (vasas
lamosas, argilosas ou arenosas) até o li-
mite superior das preamares equinociais
e pode apresentar estrutura caracteriza-
da por um continuum de feições: “lava-
do”, “mangue” e “apicum” (Schaeffer-
Novelli, 2005). O “lavado” é a feição
exposta à maior freqüência de inunda-
ção, apresentando substrato lodoso ex-
posto desprovido de cobertura vegetal.
O “mangue” apresenta cobertura vege-
tal típica, constituída por espécies
arbóreas que lhe conferem fisionomia
peculiar. A feição “apicum” limita-se ao
aspecto mangue, e é atingido nas prea-
mares de sizígia, equinociais ou devido
a eventos meteorológicos. O “apicum”
pode apresentar-se hipersalino, limitan-
do a ocorrência de espécies arbóreas e
dando falsa impressão de que não faz
parte do manguezal e que nele não há
vida. A ocorrência de apicuns está as-
sociada, em parte, com a existência de
déficit hídrico.
Os fatores geológico-
geomorfológicos referem-se à disponi-
bilidade de sítios para o estabeleci-
mento dos manguezais. Dos vários
ambientes propostos por Thom (1982),
os estuários alimentados por rios, ca-
racterizados por sedimentos terrígenos
em ambientes intermarés, são os
habitats por excelência para
os manguezais. Carências de
reentrâncias, de baixios praiais, de
costas abrigadas, protegidas do emba-
te das ondas e marés, restringem a ex-
pansão dos manguezais, os quais,
muitas vezes ocupam uma estreita fai-
xa costeira e são, freqüentemente, alvo
da energia das ondas e não conseguem
desenvolver-se. O estabelecimento das
plântulas requer lugares abrigados, li-
vres da ação das ondas. De outro
modo, não há tempo hábil para a co-
lonização dos sítios, a despeito da
viviparidade.
A fisionomia e as características
funcionais dos bosques de mangue
refletem respostas das espécies a fato-
res ecofisiológicos locais. Lugo &
Snedaker (1974) reconheceram seis
tipos fisiográficos para os manguezais,
cada qual compartilhando fontes si-
milares (intensidade e periodicidade)
de energias subsidiárias e conseqüen-
te similar ao desenvolvimento estru-
22
Espécies da Flora ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo
IPEMA 2007
tural. A revisão de Cintrón et al.
(1985) sugere apenas três tipos (fran-
ja, ribeirinho e bacia), mas há tendên-
cia atual de se reconhecer apenas os
tipos franja e bacia (Schaeffer-Novelli
et al., 2000). Os bosques de franja e
bacia podem ocorrer em todos os es-
tuários capixabas (Figura 2.1). São as
forçantes ambientais locais (topogra-
fia, amplitude de maré, morfologia,
aporte fluvial de água doce e sedi-
mentos) que condicionam sua exis-
tência, estrutura e funcionamento.
Os principais critérios usados para
descrever os tipos fisiográficos são o
fluxo de água, a composição de espé-
cies e características do sedimento
(Schaeffer-Novelli et al., 2005). Bos-
ques de franja ocupam áreas sujeitas a
inundações freqüentes. Podem atingir
elevado desenvolvimento estrutural,
principalmente sob influência de
aportes fluviais (prevalecendo baixa
salinidade e considerável aporte de
nutrientes). Bosques de bacia ocupam
áreas mais internas, com menor fre-
qüência de inundação pelas marés.
Normalmente, a bacia somente é inun-
dada pelas marés de sizígia, elevações
sazonais do nível do mar ou pulsos
recorrentes de água doce. Podem per-
manecer alagadas por longo período,
pois a água move-se lentamente em
fluxo laminar.
A cobertura vegetal apresenta-se
bastante homogênea por conter espé-
cies oriundas de famílias
evolutivamente convergentes, com
adaptações e características fisiológi-
cas especiais, que possibilitam sua
ocorrência em áreas alagada, salina, de
substrato siltoso pouco consolidado e
com baixo teor de oxigênio
(Tomlinson, 1986).
O número total de espécies para o
manguezal é bastante questionável,
mas estudos biogeográficos apontam
para maior número de espécies no He-
misfério Leste (pelo menos 50 espéci-
es). Na América são registradas ape-
nas oito espécies arbóreas (Tomlinson,
1986).
Os mangues capixabas são repre-
sentados por quatro espécies vegetais
típicas, todas halófitas facultativas: a
Rhizophoraceae Rhizophora mangle
L. (mangue-vermelho); a
Combretaceae Laguncularia racemosa
(L.) Gaetern. f. (mangue-branco); e as
Acanthaceae Avicennia schaueriana
Stapf. & Leech e A. germinans Learn.
(mangue-preto). No “apicum” podem
ser encontradas as espécies associadas,
como Conocarpus erectus L. (mangue
de botão); Acrostichum aureum L. e
A. danaeifolium Langsd. & Fisch. (sa-
mambaia do mangue); e Hibiscus
pernambucensis Arruda (algodão da
praia). Espécies graminóides também
são comuns, como Sesuvium
portulacastrum L. (Aizoaceae);
Figura 2.1 – Manguezais do delta do rio
Santa Maria da Vitória onde podem ser
observados diferentes tipos fisiográficos.
Fonte: Maplan, 2000
23
IPEMA 2007
Salicornia gaudichaudiana Mog.
(Amaranthaceae); Sporobolus
virginicus (L.) Kunth. (Poaceae);
Eleocharis mutata R. Br. (Cyperaceae).
Pouco se conhece sobre as
microorquídeas existentes nos
manguezais, estando sua diversidade
provavelmente relacionada à proximi-
dade de outros ecossistemas.
Nenhuma das espécies arbóreas
é classificada como ameaçada de
extinção. Obviamente, poucas espé-
cies toleram variações de salinidade
e alagamento. Além do mais, os man-
gues apresentam características de es-
pécies pioneiras, sobretudo quanto
aos aspectos de sua biologia
reprodutiva (Cintrón-Molero &
Schaeffer-Novelli, 1992).
Constata-se, portanto, que a ve-
getação apresenta baixa diversidade
de espécies quando comparada a ou-
tras florestas tropicais. Por outro lado,
a diversidade em espécies passa a ser
de menor significância quando se
considera a diversidade funcional,
formas estruturais e funções ecológi-
cas desempenhadas pelas espécies
vegetais típicas do ecossistema
(Snedaker, 1989).
O manguezal, enquanto importan-
te produtor de matéria orgânica, con-
tribui para o enriquecimento das águas
estuarinas e costeiras adjacentes. En-
quanto os bosques de franja tendem a
contribuir com predomínio de maté-
ria orgânica particulada, os bosques de
bacia tendem a contribuir com maté-
ria orgânica dissolvida.
Abaixo são apresentados alguns
dados estruturais disponíveis para os
manguezais do Espírito Santo. Ressal-
ta-se ainda a existência de estudos es-
truturais desenvolvidos por Vale
(2000) e Vale (2006). Nem sempre os
valores foram identificados em função
do tipo fisiográfico, o que dificulta
uma análise mais detalhada dos da-
dos. Mesmo assim, é possível consta-
tar que, apesar da baixa diversidade
de espécies, observa-se grande varia-
bilidade quanto ao desenvolvimento
estrutural (Tabela 2.1).
Mesmo sendo Área de Preserva-
ção Permanente (Lei Federal nº 4.771/
65) alguns manguezais do Espírito
Santo encontram-se inseridos em Uni-
dades de Conservação (UC’s). Existem
cerca de nove UC’s com ocorrência de
manguezais ao longo da costa
capixaba. Destacam-se: Parque Estadu-
al de Itaúnas, APA de Conceição da
Cap.2 - Formações pioneiras: manguezais
Renato de Almeida - Claudia Câmara do Vale
Local DAP médio Altura média Área basal Fonte
cm m m².ha-1
Rio São Mateus 8,1 – 29,6 5,5 – 14,8 7,2 – 30,9 Silva et al. (2000)
Rio Reis Magos 6,5 – 10,0 3,8 – 5,1 9,4 – 17,9 Carmo et al. (1998a)
Baía de Vitória 2,9 – 26,3 2,0 – 17,0 1,5 – 66,3 Ferreira (1989)
Baía de Vitória 4,2 – 18,9 5,0 – 17,0 5,4 – 26,0 Carmo et al. (1995)
Baía de Vitória 7,2 – 12,6 4,4 – 9,6 4,9 – 10,7 Carmo et al. (1998b)
Baía de Vitória 6,8 6,0 18,8 Carmo et al. (2000)
Tabela 2.1 - Parâmetros estruturais de alguns manguezais capixabas
24
Espécies da Flora ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo
IPEMA 2007
Barra, Estação Ecológica Municipal da
Ilha do Lameirão, Estação Ecológica
Municipal do Papagaio e APA Lagoa
de Guanandy. Oestudo do IPEMA
(2005) revela que a maior parte dessas
UC’s carece de infra-estrutura e seus
respectivos planos de manejo. Tam-
bém foram protocoladas solicitações
para criação da Reserva de Vida Sil-
vestre de Santa Cruz.
O Ministério do Meio Ambiente
tem empenhado esforços para a “Atu-
alização das Áreas e Ações
Prioritárias para a Conservação, Uti-
lização Sustentável e Repartição de
Benefícios da Biodiversidade da Zona
Costeira e Marinha”. Reunião técni-
ca com participação de pesquisado-
res do Sudeste, incluindo o Espírito
Santo, apontou a necessidade de
atentar para a presença de mangues
em substrato sub-horizontal recoberto
com concreções lateríticas entre Praia
Mole e Santa Cruz, tendo em vista a
singularidade desse tipo de associa-
ção ao longo do litoral do Espírito
Santo. Os manguezais dos rios
Piraquê-Açú e Mirim também des-
pontam para a necessidade de estu-
dos. Tais iniciativas se coadunam
com a criação da APA Costa das Al-
gas e a REVIS de Santa Cruz.
Vale & Ferreira (1998) constataram
diversos impactos para os manguezais
capixabas. Ao Norte, Vale (2000) ava-
liou respostas dos mangues ao proces-
so de erosão/sedimentação na foz do
Rio São Mateus. Na baía de Vitória, até
pouco tempo, os manguezais sofriam
desmatamentos, aterros, invasões, e
disposição de lixo (Carmo et al., 1995).
Ainda hoje, observam-se a retirada da
casca do mangue-vermelho para extra-
ção do tanino (Carmo et al., no prelo),
pesca predatória, e forte expansão
portuária. É crescente a preocupação
com saneamento e metais pesados
(Barroso & Dias, 1997; Barroso et al.,
1997; Jesus et al., 2004). No Sul do
Estado, Soffiati (2000) verificou res-
postas dos mangues a variações de
drenagem e vazão dos rios, basica-
mente em função da construção de
estradas e pontes.
O desafio futuro será conciliar a
conservação dos manguezais e os no-
vos ciclos econômicos que se apresen-
tam para o Espírito Santo. Destacam-
se: expansão do turismo,
redimensionamento da malha viária e
estrutura portuária e aumento do in-
teresse pela carcinicultura marinha.
Ressalta-se que os manguezais repre-
sentam a última fronteira para muitas
famílias e expressões culturais. Proje-
tos de desenvolvimento comunitário
deverão estar associados a iniciativas
educacionais, com vistas ao conheci-
mento e conservação dos manguezais
capixabas.
Agradecimentos à Profª. Dra. Yara
Schaeffer Novelli pela avaliação crí-
tica desse texto.
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Lindóia, São Paulo.27
IPEMA 2007
Formações pioneiras: restingas
Capítulo 3
Oberdan José Pereira
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
A restinga é aqui entendidacomo sendo o conjunto davegetação litorânea sobre de-
pósitos arenosos marinhos do
Quaternário (Suguio & Tessler, 1984),
depositados tanto no Pleistoceno
como no Holoceno (Martin et al.,
1997), estando também, segundo Pe-
reira (2003), associados em alguns
pontos da costa a sedimentos
fluviomarinhos.
No Espírito Santo a restinga tem
sua ocorrência por quase toda a exten-
são da costa, sendo interrompida em
alguns trechos pela foz de rios, algu-
mas vezes associados a estes o
manguezal, como na Barra do Jucu, em
Vila Velha. Em outros pontos, a
restinga não tem sua ocorrência, hoje,
em função do avanço do mar sobre a
costa que chega até o Terciário (Perei-
ra, 2002), formando as denominadas
falésias, encontradas no litoral Sul,
entre Guaraparí e Marataízes.
A diversidade de fisionomias nas
restingas foi reconhecida no Espírito
Santo por Pereira (1990) para uma
restinga em Guarapari, sendo denomi-
nadas com base em Araujo &
Henriques (1984) como formação
halófila, psamófila reptante, pós-praia,
Palmae, mata seca, brejo herbáceo, flo-
resta periodicamente inundada, flores-
ta permanentemente inundada, aber-
ta de Clusia e aberta de Ericaceae.
A classificação das comunidades
da restinga tem sofrido adaptações ao
longo desses anos, sendo que Thomaz
& Monteiro (1997) estabeleceram, por
fusão, a formação halófila-psamófila,
por considerarem difícil a delimitação
entre estes ambientes, em função de
suas espécies serem tolerantes aos for-
tes ventos, com conseqüente
soterramento de suas porções aéreas,
assim como a alta salinidade, portan-
to, psamófilas e halófilas, respectiva-
mente. Outro agrupamento estabeleci-
do é o de Assis et al., (2004) que pro-
põem a denominação formação flores-
tal não inundável, baseados nos estu-
dos de Sandro Menezes da Silva, em
1998 (Silva & Britez, 2005), por enten-
derem que a fisionomia na floresta de
Myrtaceae, em Guarapari, não se deve
unicamente a esta família que se en-
contra também com grande
representatividade na mata seca.
Considerando as diferentes pro-
postas relacionadas à nomenclatura
para as formações vegetais da restinga,
Pereira (2003) propõe as terminologi-
as Herbácea não inundável, inundável
e inundada; Arbustiva fechada não
inundável e inundável; Arbustiva
aberta não inundável e inundada; Flo-
28
Espécies da Flora ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo
IPEMA 2007
restal não inundável, inundável e
inundada. Com conotações muito pró-
ximas a estas Menezes & Araujo (2005)
ampliam a discussão, informando –
para cada formação – sua situação
geomorfológica, descrição
fitofisionômica e as denominações
equivalentes no litoral brasileiro que,
apesar de ser uma descrição para uma
área específica da Restinga da
Marambaia, no Rio de Janeiro, pode-
ria ser adotada para outros pontos do
litoral brasileiro.
No Espírito Santo, os estudos re-
lacionados à flora e à vegetação abran-
gem restingas desde o Sul do Estado,
em Guarapari, até o Norte, em Concei-
ção da Barra (Pereira, 1990; Fabris et
al., 1990; Assis et al., 2004; Pereira &
Zambom, 1998; Pereira & Assis, 2000;
Pereira et al., 2000; Pereira et al., 1998;
Pereira & Assis, 2004; Pereira et al.,
2004 e Pereira & Gomes, 1994).
A flora das restingas do Espírito
Santo está discriminada no trabalho
de Pereira & Araujo (2000). Ele apon-
ta que as maiores riquezas se encon-
tram nas famílias Leguminosae,
Myrtaceae, Orchidaceae, Bromeliaceae,
Rubiaceae, Cyperaceae, Asteraceae,
Poaceae, Melastomataceae e
Euphorbiaceae.
Em trabalhos quantitativos, as es-
pécies dominantes na formação
halófila-psamófila, considerando o
parâmetro valor de importância são:
Panicum racemosum (Beauv.) Spring.,
Ipomoea pes-capre (L.) Sweet e
Blutaparon portulacoides St. A.-Hil.
(Pereira et al., 1992); na formação pós-
praia Schinus terebinthifolius Raddi,
Quesnelia quesneliana (Br.) L. B.
Smith, Scutia arenicola Reiss. (Fabris
et al., 1990); formação aberta de
Ericaceae, na sua porção de entre moi-
tas, Chamaecrista ramosa (Vogel)
Irwing & Barneby, Lagenocarpus
verticillatus (Spreng.) Koyama &
Maguire, Cuphea flava Spreng. (Perei-
ra & Araujo, 1995); formação arbustiva
fechada inundável Lagenocarpus
rigidus Ness, Marcetia taxifolia (A. St.-
Hil.) DC., Hymenolobium alagoanum
Ducke (Pereira & Assis, 2004);
arbustiva aberta não inundável
Chamaecrista ramosa (Vogel) Irwing
& Barneby, Panicum trinii Kunth,
Stygmaphyllon paralias A. Juss. (Pe-
reira et al., 2004) e na formação flo-
restal não inundável Pouteria
coelomatica Rizzini, Myrciaria
floribunda (H.West. ex Willd.) O.
Berg, Oxandra nitida R. E. Fr. (Assis
et al., 2004).
Considerando a formação flores-
tal não inundável Assis et al. (2004)
encontraram para o índice de diversi-
dade de Shannon-Weaver o valor de
3,73, o maior registrado para este tipo
de formação de restinga no litoral bra-
sileiro. Na formação aberta de
Ericaceae, na entre moitas (formação
arbustiva aberta não inundável), onde
as espécies são herbáceas, este valor
foi de 2,43 (Pereira & Araujo, 1995);
na arbustiva fechada inundável, 2,88
(Pereira & Assis, 2004) e, na arbustiva
aberta não inundável, 3,043 (Pereira
et al., 2004).
A descaracterização da restinga,
por diversos meios antrópicos, tem
proporcionado situações que levam a
um grande risco às espécies com am-
pla distribuição geográfica mas, sobre-
tudo àquelas de distribuição restrita,
muitas vezes, endêmicas a este Esta-
do. A lista oficial de espécies
ameaçadas contempla um número
muito grande de famílias, representa-
29
IPEMA 2007
das, entre outras espécies, por Ditassa
arianeae Fontella & E. A. Schwarz
(Macroditassa melantha ssp.
arianeae (Fontella & E. A. Schwarz)
Fontella & T.U.P. Konno); Aechmea
blanchetiana (Baker) L. B. Sm.,
Pilosocereus brasiliensis (Britton &
Rose) Backer. subsp. brasiliensis,
Scaevola plumieri (L.) Vahl,
Axonopus pressus (Ness ex Steud.)
Parodi, Rhodostemonodaphne
capixabensis Baitello & Coe-Teixeira,
Heteropteris oberdanii Amorim,
Cattleya guttata Lindl., Piper
sprengelianum C.DC. e Jacquinia
armillaris Jacq.
No Espírito Santo, a vegetação de
restinga encontra-se conservada ao
Sul de Vitória, no município de
Guarapari, representada pelo Parque
Estadual Paulo César Vinha e, em Vila
Velha, o Parque Natural Municipal de
Jacarenema. Em Vitória, a Reserva
Ecológica Municipal Restinga de
Camburi. Ao norte se destacam, em
Linhares, a Reserva Biológica de Com-
boios e, em Conceição da Barra, o
Parque Estadual de Itaúnas. Em
www.iema.es.gov.br é discriminada a
totalidade das Unidades de Conser-
vação e áreas protegidas, sendo que o
IPEMA (2005) faz uma breve descri-
ção de algumas delas.
As áreas elencadas como
prioritárias para conservação da ve-
getação de restinga podem ser
acessadas em www.ipema-es.gov.br,
abrangendo grande parte do litoral do
Espírito Santo, como na Foz do Rio
Doce, no município de Linhares, Con-
ceição da Barra, Praia das Neves,
Setiba, Guanandy e Anchieta. Em CIB
et al. (2000), as áreas para conserva-
ção delimitadas são o delta do Rio
Doce e os remanescentes florestais na
Lagoa do Juparanã, e as bacias dos rios
Itapemirim e São Mateus. A Reserva
Biológica de Sooretama e a Reserva
Natural da Vale do Rio Doce também
incluem diversidade de ambientes,
ocorrendo restinga apenas na Reser-
va da CVRD, resultante de deposição
no Quaternário (Pleistoceno) (Martin
et al. 1997).
Na história da devastação das flo-
restas do Espírito Santo, os relatos de
Saint-Hilaire (1974) entre os anos de
1816 e 1822, indicam quanto os
ecossistemas litorâneos vinham sen-
do substituídos, principalmente por
culturas de subsistência. Na atualida-
de, os impactos sobre a vegetação da
restinga são, principalmente,extração
de areia, madeira como combustível
e ocupação urbana (CCREMAD,
1992). A expansão imobiliária volta
a se acelerar na região Norte e ao Sul,
em antigas cidades, como Guarapari
e Vila Velha. Impactos, como a extra-
ção de areia e drenagem como repor-
tado por Pereira & Assis (2000), in-
terferem nas comunidades de manei-
ra a alterar sua composição florística
ou mesmo substituição total da vege-
tação natural na restinga por exóticas
a este ecossistema.
A situação de ocupação da pla-
nície quaternária no Espírito Santo
para os próximos anos tende a não ser
diferente do que vem ocorrendo até o
momento. Entretanto, esta pressão
antrópica deverá ser ampliada em
função do desenvolvimento deste es-
tado, aumentando áreas de cultivo
(principalmente de coco e abacaxi),
estabelecimento de novos empreen-
dimentos imobiliários e industriais
nos balneários até então pouco ocu-
pados, como os extremos Norte e Sul
da costa.
Cap.3 - Formações pioneiras: restingas
Oberdan José Pereira
30
Espécies da Flora ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo
IPEMA 2007
São muitos os desafios a serem
enfrentados no sentido de conservar
as Unidades já estabelecidas e pro-
posição de novas. Técnicas dispo-
níveis indicam a transformação des-
tas em “sistemas de áreas protegi-
das” (Bensunan, 2006). Para tal, o
autor loc. cit. propõe a inclusão de
elementos que possibilitem a preser-
vação de processos biológicos, am-
pliação da conectividade, diminui-
ção do efeito de borda, dentre ou-
tros requisitos. Neste caso, terras in-
dígenas, reservas legais e áreas de
preservação permanente seriam fun-
damentais no processo visando à
conservação da biodiversidade no
Estado do Espírito Santo.
Agradecimentos ao biólogo Luiz
Fernando Silva Magnago pelo auxí-
lio na localização de bibliografias e
leitura do manuscrito.
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Cap.3 - Formações pioneiras: restingas
Oberdan José Pereira
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Espécies da Flora ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo
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33
IPEMA 2007
Capítulo 4
Florestas de tabuleiro
Ariane Luna Peixoto
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ)
Marcelo Simonelli
Faculdades Integradas São Pedro (FAESA)
No Espírito Santo são expres-sivas as áreas cobertas por Flo-restas de Tabuleiros ao Norte
do Rio Doce. Estas florestas encon-
tram-se estabelecidas sobre os Tabu-
leiros Terciários da série Barreiras e
estão localizados entre a região serra-
na e a planície quaternária. O conta-
to com a planície quaternária é feito
através de pequenas escarpas ou de
maneira gradativa e, neste contato,
têm início os terraços marinhos pleis-
tocênicos formados por sedimentos,
que são os mais antigos da planície
quaternária (Martin et al., 1993).
Os Tabuleiros Terciários se caracteri-
zam por uma seqüência de colinas tabu-
lares, com altitude entre 28 e 65 m,
entrecortados por vales amplos e rasos
pontilhados de lagoas e brejos. Os vales,
em sua maioria, apresentam-se com fun-
dos chatos e colmatados por sedimentos
quaternários, por onde correm os rios e
riachos. Os sedimentos são de caráter ar-
giloso, argilo-arenoso ou arenoso e as áre-
as de quaternário distribuem-se em alu-
viões, atuais ou antigos, ao longo dos va-
les e vias fluviais (Martin et al., 1993).
O clima, na área de ocorrência destas
florestas, é ‘Awi’ na classificação de
Köppen, tropical quente e úmido, com
estação chuvosa no verão e seca no inver-
no. Com base em dados dos anos de 1975
a 2000, recolhidos na estação
meteorológica instalada na Reserva Na-
tural da Vale do Rio Doce, Jesus & Rolim
(2005) informam que a precipitação
pluviométrica média anual é de 1.202
mm, a temperatura média de 23,3o C, sen-
do a média das mínimas de 14,8o C e a
média das máximas de 34,2o C. Informam
ainda que a precipitação total tem uma
forte variabilidade anual, com valores
abaixo de 1.000 mm, em alguns anos com-
pensados por outros, com precipitação
de até 1.640 mm.
A Floresta de Tabuleiros do Norte do
Espírito Santo está inserida na Floresta
Ombrófila Densa de Terras Baixas no sis-
tema de classificação apresentado por
Veloso et al. (1991). Entretanto, este
posicionamento é contestado por diferen-
tes autores que a classificam como Flo-
resta Estacional Semidecídua de Terras
Baixas. Engel (2001), embasado no acom-
panhamento de fenofases envolvendo 41
espécies do dossel florestal, onde encon-
trou 43,9% de espécies sempre-verdes,
43,9% como brevi-decíduas e 12%
como caduciflolias, a denominou
como Floresta Tropical Estacional
34
Espécies da Flora ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo
IPEMA 2007
Perenifólia, uma classificação basea-
da em Longman e Jenik (1987), ca-
racterizando-a assim como intermedi-
ária entre as duas tipologias do siste-
ma de Veloso et al. (1991).
Na Floresta de Tabuleiro podem
ser identificadas quatro formações ve-
getais naturais denominadas de Flo-
resta Alta, Floresta de Muçununga,
Áreas Inundadas e Inundáveis e Cam-
pos Nativos.
A Floresta Alta ou Floresta Densa
está estabelecida em terrenos argilo-
sos ou areno-argilosos, sendo a forma-
ção mais representativa da floresta de
tabuleiro. Quando comparada com as
outras formações da floresta de tabu-
leiro, a Floresta Alta destaca-se por
apresentar árvores de maior porte e
sombreamento mais intenso do sub-
bosque, que é ralo. É também a forma-
ção de maior riqueza específica. As
árvores do dossel atingem até 40 m de
altura e ocorrem de forma adensada e
as lianas, fortemente lenhosas, se des-
tacam pela espessura. Peixoto &
Gentry (1990) amostrando espécimes
com diâmetro a altura do peito (DAP)
igual ou superior a 2,5cm em 0,1 ha,
encontraram 443 indivíduos perten-
centes a 216 espécies. Das 95 lianas
amostradas, 14 apresentaram diâme-
tro igual ou superior a 10 cm. A rique-
za em espécies encontrada está acima
de qualquer outro local com índice de
precipitação similar e amostrado, se-
guindo a mesma metodologia. Nunes
(1996), analisando o potencial de re-
generação da mata de tabuleiro, con-
siderando trechos de floresta e de ca-
poeira, encontrou no banco de
plântulas e jovens 7.815 indivíduos
pertencentes a 326 espécies. Neste
contingente, as lianas representaram
19,5% dos indivíduos. Árvores, arbus-
tos e palmeiras foram representadas,
respectivamente, por 69%; 7,5% e 4%
dos indivíduos.
A composição florística da Flores-
ta Alta tem em comum, com quase to-
das as florestas tropicais úmidas de
baixada, a riqueza em Leguminosae e
a presença de Annonaceae,
Sapotaceae, Rubiaceae e
Bignoniaceae entre as famílias com
grande número de espécies. Também
a predominância de lianas da família
Bignoniaceae é uma característica co-
mum a estas florestas. Myrtaceae é a
família mais rica em número de espé-
cies, na área como um todo, caso se
considere Leguminosae como três fa-
mílias distintas. Mori et al. (1983) en-
contraram o mesmo padrão em rela-
ção a Myrtaceae na costa Sul da Bahia.
Em 1 ha de Floresta Alta, incluin-
do árvores com 5 cm ou mais de DAP,
Peixoto et al. (no prelo) encontraram
um total de 1.359 indivíduos perten-
centes a 271 espécies e 55 famílias.
Neste mesmo trecho foram encontra-
das 21 árvores com DAP acima de 50
cm e 18 árvores com altura superior a
30 m. Entre as espécies com maiores
diâmetros e alturas encontram-se
Diplotropis incexis Rizzini & A. Mattos
(dap de 125.70 cm e altura de 30 m),
Hidrogaster trinervis Kuhlm. (90 cm e
34 m), Virola gardneri (A.DC) Warb.
(90 cm e 36 m), Micropholis
crassipedicellata (Mart & Eichl.) Pierre
(87 cm e 30 m), Couratari asterotricha
Prance (76 cm e 35 m). As dez espéci-
es com maior valor de importância
foram Rinorea bahiensis (7,54),
Dialium guianense (7,02), Hidrogaster
trinervis Kuhlm. (6,53),
Stephanopodium blanchetianum
Baill. (4,95) e Helicostyles tomentosa
(Poepp. & Endl.) Rusby (4,65).
35
IPEMA 2007
Myrtaceae, com 253 indivíduos em 43
espécies, e Sapotaceae, com 105 indi-
víduos em 16 espécies, foram as famí-
lias mais amostradas.
Jesus & Rolim (2005) no mais ex-
tenso estudo sobre a estrutura da Flo-
resta de Tabuleiros, envolvendo 250
parcelas de 40 ha, encontraram 20.688
árvores com DAP igual ou superior a
10 cm. Foram identificadas 406 espé-
cies, sendo as famílias Leguminosae
(67), Myrtceae (58) e Sapotaceae (29)
as mais ricas em espécies. Rinorea
bahiensis (Moric.) Kuntze, classifica-
da por estes autores como espécie clí-
max, foi a espécie de maior densida-
de e também aquela que apresentou
melhor distribuição entre os estratos
verticais da floresta. Este mesmo es-
tudo mostrou que as espécies pionei-
ras, além de poucas quando compara-
das com os outros grupos ecológicos,
têm baixa abundância (número de in-
divíduos): 9.611 indivíduos perten-
centes a 22 espécies pioneiras. Do gru-
po ecológico clímax foram encontra-
dos 9.959 indivíduos, distribuídos em
150 espécies; de secundárias tardias,
5.123 indivíduos em 107 espécies, e
secundárias iniciais, 4.995 em 127 es-
pécies. Estes dados demonstram que
os trechos estudados na Reserva Na-
tural da Companhia Vale do Rio Doce
se constituem de florestas tropicais
maduras e diferem do padrão encon-
trado em florestas tropicais mais alte-
radas, onde predominam espécies pi-
oneiras e secundárias iniciais.
O contingente de hemiepífitos e
epífitos da floresta alta são notórios,
principalmente pela diversidade de
Araceae e de Bromeliaceae. O último
grupo, na maioria das vezes, ocupa a
copa das árvores em grandes alturas e
abriga uma rica faunanos espaços en-
tre folhas, cheios d’água. Um grupo
que também sobressai nesta sinúsia
é o de Cactaceae, representado prin-
cipalmente pelos gêneros Rhypsalis
e Hariotta que, com ramos longos,
pendentes, cilíndricos ou angulosos
produzem abundantes floradas e fru-
tos utilizados como alimento pela
fauna local.
O solo da floresta alta é coberto
por serapilheira mais ou menos den-
sa, não deixando espaço desnudo. O
contingente de árvores em crescimen-
to é muito grande. As herbáceas do
solo, principalmente Marantaceae e
Rubiaceae, não chegam a formar po-
pulações densas, embora estejam dis-
tribuídas (diferentes espécies) por toda
a floresta.
A dinâmica da floresta alta pode
ser avaliada de diversos modos. Esti-
mando a mortalidade, o recrutamento
e o crescimento de populações de es-
pécies arbóreas, tomando como
parâmetro exemplares com DAP igual
ou superior a 10 cm, Rolim et al. (1999)
encontraram um incremento médio
anual de 0,256 cm/ano. As espécies
que obtiveram maiores valores de in-
cremento em crescimento foram
Sterculia speciosa K. Schum. (0,74cm/
ano), Astronium concinnum (Engl.)
Schott (0,545 cm/ano) e Joannesia
princeps Vell. (0,405 cm/ano). As
maiores taxas de mortalidade e maio-
res projeções de meia-vida foram para
populações de Dialium guianensis
(Aubl.) Sandwith (0,3% e 255 anos),
Terminalia aff. kuhlmannii Alwan &
Stace (0,4% e 182 anos) e Sorocea
guilleminiana Gaudich. (0,4% e 172
anos). Três das populações com as
maiores porcentagens de recrutamen-
to estão entre as que mais aumenta-
ram em abundância no período:
Cap.4 - Floresta de tabuleiro
Ariane Luna Peixoto - Marcelo Simonelli
36
Espécies da Flora ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo
IPEMA 2007
Sorocea guilleminiana Gaudich.
(64,7%), Eugenia excelsa Berg (58,3%)
e Lonchocarpus cultratus (Vell.) Az.
Tozzi & H.C.Lima (46,2%). As maio-
res reduções na abundância foram en-
contradas em Eriotheca candolleana
(K.Schum.) A. Robyns (-40,0%),
Brosimum gaudichaudii Trécul (-
30,0%) e Myrcia racemosa (-27,3%).
A Floresta de Muçununga reveste
áreas da Floresta de Tabuleiros acom-
panhando depósitos de solos areno-
sos, não marinhos, ácidos e relativa-
mente pobres em nutrientes
(Simonelli, 1998). As árvores são de
menor porte do que aquelas da Flo-
resta Alta, os troncos de modo geral
são mais claros, e há maior penetra-
ção de luz para o solo. As árvores do
estrato superior alcançam entre 7 e 10
m de altura, havendo, entretanto, ár-
vores emergentes de 15 a 18 m. É mais
raro de até 25 m.
Na área da Reserva Natural da
Vale do Rio Doce foram coletadas 392
espécies em áreas cobertas por
Muçununga, pertencentes a 79 famí-
lias, sendo as mais ricas Orchidaceae
(53), Leguminosae (35), Myrtaceae
(35), Bromeliaceae (15) e Araceae
(14). Das espécies coletadas na Flo-
resta de Muçununga, 164 foram
coletadas apenas nestas formações.
Algumas destas espécies são típicas
de vegetação sobre solos arenosos,
como as restingas (Couepia schottii
Fritsch e Rhodostemonodaphene
capixabensis Baitello & Coe-Teixeira,
p. ex). Outras parecem endêmicas
desta formação (Simira eliezeriana
Peixoto, p. ex).
Fisionomicamente, as áreas cober-
tas por floresta de Muçununga possu-
em pouca variação entre si, porém, os
parâmetros estruturais parecem vari-
ar bastante entre diferentes trechos.
Simonelli (1998) inventariando 0,93
ha de Floresta de Muçununga, envol-
vendo indivíduos com DAP igual ou
superior a 5 cm, encontrou 79 espéci-
es em 29 famílias, sendo as mais ricas
Myrtaceae e Lauraceae. O índice de
diversidade (H’) encontrado foi de
3,37 e mostra-se inferior aos obtidos
para a Floresta Alta, porém próximo
àqueles encontrados em restingas
(Simonelli et al., no prelo). As espéci-
es de maior porcentagem de VI foram
Guapira opposita (Vell.) Reitz (14,4);
Chamaecrista ensiformis var.
ensiformis (Vell.) H. S. Irwin & R. C.
Barneby (9,1); Manilkara subsericea
(Mart.) Dubard. (8,8); Eugenia sulcata
Spring ex Mart. (6,6) e Tapirira
guianensis Aubl. (5,0).
Áreas Inundadas e Inundáveis na
Floresta de Tabuleiros apresentam di-
ferentes fisionomias, principalmente
em função do regime hídrico e são, de
modo geral, referidas como brejo, flo-
resta de brejo ou floresta de várzea. No
acervo do herbário CVRD encontram-
se documentadas 64 espécies
coletadas em áreas inundadas ou
inundáveis.
As Áreas Inundadas Herbáceas, de
modo geral, são associadas aos Cam-
pos Nativos ou a cursos d’água. Apre-
sentam como componentes principais
espécies de Cyperaceae, que ocorrem
adensadamente, além de representan-
tes de Onagraceae, Melastomataceae,
Poaceae e Asteraceae. A Pteridophyta
Blechnum serrulatum Rich. (samam-
baia-do-nativo) é freqüente no entor-
no destas áreas, bem como Lygodium
volubile Sw. (samambaia-abre-cami-
nho). Na transição destas áreas para a
floresta é notória a presença de algu-
37
IPEMA 2007
mas espécies arbóreas, entre as quais
tem destaque Symphonia globulifera
L. f. (guanandi) e Jacaranda puberula
Cham. (carobinha).
As Áreas Inundadas Lenhosas es-
tão mais freqüentemente associadas à
Floresta de Muçununga ou à Floresta
Alta. Nelas podem sobressair plantas
arbustivo-arbóreas ou plantas
arbóreas. No primeiro caso, arbustos
ou pequenas árvores com cerca de 3
m de altura, mais raro até 5 m (Tapirira
guianensis Aubl., Alchornea
triplinervia (Spreng.) Müll. Arg., Ilex
sp. e Cecropia. spp., principalmente),
crescem isoladamente, entremeados
por uma densa malha de indivíduos
herbáceos – com sistema caulinar e
radicular muito entrelaçados –, for-
mando uma camada orgânica flutuan-
te. No segundo caso, os indivíduos do
estrato superior são árvores que podem
alcançar até 12 m de altura. Ocorrem
afastados uns dos outros, permitindo
a penetração de luz até o solo. Peixoto
et al. (no prelo) estudando a estrutura
de um trecho de 0,1 ha, com inclusão
de indivíduos de DAP igual ou maior
a 5 cm, encontraram como espécies de
maiores valores de importância (VI)
Tabebuia cassinoides (Lam.) DC.,
Annona glabra L., Calophyllum
brasiliense Cambess., Myrtaceae 2 e
Tapirira guianensis Aubl.. São áreas
de baixa diversidade, sendo o H’ re-
gistrado para o trecho igual a 1,33. No
interior da floresta inundada, encon-
tram-se inúmeros canais onde ocorrem
espécies de Nymphaeaceae e
Cabombaceae. No estrato inferior, so-
bressaem várias espécies de
Cyperaceae, entre as quais, predomina
Scleria latifolia Sw. (tiririca-do-brejo).
As Áreas Inundáveis estão repre-
sentadas principalmente por floresta
ciliar. Os espécimes arbóreos que aí se
desenvolvem atingem cerca de 20 m
de altura. O dossel é contínuo, impe-
dindo a entrada de grande quantida-
de de luz, favorecendo o desenvolvi-
mento de espécies de ambientes som-
breados, como as Maranthaceae
(Monotagma plurispicatum (Körn.) K.
Shum., p. ex.) que chegam a cobrir
grandes extensões do solo. Dentre as
Pteridophyta destacam-se fetos
arborescentes. A presença de
Arecaceae neste ambiente é marcante
não só em número de indivíduos, mas
também em espécies, destacando-se
Euterpe aff. edulis Mart. pela densi-
dade. Esta espécie apresenta rebrota
constante, formando assim agrupa-
mentos com grande número de estipes.
O epifitismo é reduzido. No entanto,
podem ser constatadas inúmeras espé-
cies de Araceae nesta sinúsia.
Em um trecho de 0,1 ha em que
foram incluídos todos os indivídu-
os com DAP igual ou superior a 5 cm,
as espécies que mais se destacaram
em VI foram Pithecellobium
pedicellare (DC.) Benth., Euterpe
aff.. edulis Mart., Maprounea
guianensis Aubl. e Tapirira
guianensis Aubl. A diversidade (H’)
encontrada foi de 2,14 (Peixoto et al,
no prelo). Comparando a mata inun-
dada com a inundável (floresta
ciliar), o número de indivíduos da-
quela é superior. No entanto, os de-
mais valores são inferiores ao da
mata inundável, destacando-se prin-
cipalmente o volume.
OsCampos Nativos - Destacam-
se pelo predomínio de herbáceas e
lenhosas não arbóreas. Estes campos,
estabelecidos sobre substrato areno-
so, ocorrem no Sul da Bahia e Norte
do Espírito Santo, sempre como
Cap.4 - Floresta de tabuleiro
Ariane Luna Peixoto - Marcelo Simonelli
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Espécies da Flora ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo
IPEMA 2007
enclaves na Floresta Alta ou na
Floresta de Muçununga.
Araújo et al. (no prelo.) afirmam
que os campos nativos são de dois
tipos: as autênticas restingas, ou se-
jam, aqueles campos estabelecidos
sobre terraços pleistocênicos mari-
nhos, justapostos no bordo do tabu-
leiro, na parte mais interna da pla-
nície quaternária, com até 9 m de
altitude, e aqueles estabelecidos nos
tabuleiros, em solos arenosos, acima
de 28 m de altitude. Reconhecem,
entretanto, grandes semelhanças
florísticas e fisionômicas entre as
duas formações. As condições
edáficas levam a uma grande simila-
ridade quando considerados
parâmetros tais como profundidade
do lençol freático, substrato arenoso
e disponibilidade de matéria orgâni-
ca sobre o solo ou incorporado à ca-
mada superior do mesmo.
Considerando tanto a localização
geomorfológica quanto a fisionomia
e composição florística, Araújo et al.
(no prelo) caracterizaram quatro ti-
pos de Campos Nativos: Graminóide
Denso; Graminóide; Arbustivo e Em
Moitas. A composição florística des-
ses quatro tipos é muito semelhan-
te, não sendo possível diferenciá-los
apenas com base na lista de espéci-
es, com exceção dos campos sobre a
planície quaternária ocorrem espéci-
es tipicamente de restinga, entre as
quais citam-se Allagoptera arenaria
(Gomes) Kuntze, Agarista revoluta
(Spreng.) Hook. F. ex Nied., Cereus
fernambucensis Lem. e Pilosocereus
arrabidae (Lem.) Byles & G.D.
Rowley. Entretanto, pela dominância
de espécies-chave e pela fisionomia
é perfeitamente possível distinguir
os quatro diferentes tipos.
Quando os campos nativos sofrem
algum impacto que altera a cobertura
vegetal, esse desequilíbrio é percebi-
do pelo aparecimento de populações
densas de Pteridium aquilinum (L.)
Kuhn, associando-se a elas espécies
tipicamente invasoras tais como
Imperata brasiliensis Trin., Lantana
camara L., Vernonia scorpioides
(Lam.) Pers., entre outras.
Como conseqüência de diversos
fatores, entre os quais têm destaque a
exploração madeireira e a expansão da
fronteira agrícola, a Floresta de Tabu-
leiro no Espírito Santo, hoje, está qua-
se restrita a um importante núcleo flo-
restal constituído pela Reserva Bioló-
gica de Sooretama e a Reserva Natural
da Companhia Vale do Rio Doce, nos
municípios de Sooretama e Linhares,
respectivamente. Juntas, estas unida-
des somam aproximadamente 46.000
ha. A primeira é de propriedade do
governo federal, gerenciada pelo
Ibama e, a segunda, pertence à Com-
panhia Vale do Rio Doce. Com a
antropização da paisagem, a área
florestada em Sooretama e Linhares se
constitui no mais importante corpo
florestal entre o Norte do Rio de Ja-
neiro e o Sul da Bahia, que vem rece-
bendo a atenção de diversos estudio-
sos, sendo Aguirre (1950), Egler (1951)
e Heinsdijk et al. (1965) os precurso-
res. Estão circundadas por uma matriz
na qual predominam pastagens, cul-
turas agrícolas (principalmente cana-
de-açúcar, mamão, café, maracujá e
pimenta-do-reino) e florestais (princi-
palmente eucalipto). Entretanto, ain-
da há muitos fragmentos florestais re-
manescentes, isolados, alguns consti-
tuindo unidades de conservação ad-
ministradas pelo governo federal (Ta-
bela 4.1). Agarez (2002) analisou a es-
trutura do componente arbóreo de al-
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IPEMA 2007
guns fragmentos florestais no interi-
or de propriedades agrícolas e reafir-
ma a importância biológica e social
da conservação de tais fragmentos.
A Figura 4.1 mostra a distribui-
ção original dos domínios das Flores-
tas de Tabuleiros (considerando aqui
os depósitos do grupo Barreiras e tam-
bém os colúvio-aluvionares), o que
daria um total de 1.046.876,1 hecta-
res (aproximadamente 23% da área
do estado). Atualmente, usando como
base o mapeamento feito pela Fun-
dação SOS Mata Atlântica eINPE
(www.sosmatatlantica.org.br), exis-
tem 7.814 fragmentos neste domínio.
Somando-se as áreas destes fragmen-
tos, tem-se o total de 187.039,1 ha,
ou seja, 17,9% da cobertura original
das Florestas de Tabuleiro. Vale des-
tacar que somente o núcleo florestal
constituído pela Reserva Biológica de
Sooretama e pela Reserva Natural da
Vale do Rio Doce (aproximadamente
46.000 ha) é responsável por 24,6%
da cobertura atual (4,4% da cobertu-
ra original), demonstrando a impor-
tância destas áreas para a conserva-
ção da biodiversidade das Florestas
de Tabuleiro.
Além dos núcleos florestais já ci-
tados, outro bastante importante si-
tua-se às margens do Rio Doce, no
município de Linhares. Grande par-
te desta área florestal é ocupada por
florestas sobre terrenos aluvionares,
freqüentemente usadas para o plan-
tio de cacau, constituindo as chama-
das matas de cabruca. A cultura de
cacau sombreado, localizada próxi-
ma à foz do Rio Doce, em Linhares, é
responsável pela manutenção de cer-
ca de 29.000 ha de cobertura flores-
tal nativa e, ainda que alterada em
sua estrutura, constitui um impor-
tante remanescente da Floresta
Ombrófila Densa de Terras Baixas
(IPEMA, 2005).
É importante destacar a ausên-
cia quase total de fragmentos flores-
tais nas áreas de depósitos do grupo
Barreiras no Sul do estado. Nesta re-
gião, praticamente toda a floresta foi
retirada para dar lugar a projetos
agropastoris.
A Floresta de Tabuleiro tem, en-
tre seus atributos, a alta diversidade
específica, sendo também rica em
endemismos e biotipos distintos para
Nome da unidade Área (ha) Município Ano
de criação
Floresta Nacional de Goytacazes* 1.350 Linhares 2002
Floresta Nacional Rio Preto 2.830 Conceição da Barra 1990
Reserva Biológica Córrego do Veado 2.383 Pinheiros 1982
Reserva Biológica Córrego Grande 1.489 Conceição da Barra 1989
Reserva Biológica de Sooretama 24.250 Sooretama 1949
* A maior parte da área está sobre depósitos aluvionares
Tabela 4.1 - Unidades de conservação presentes na área de domínio das Florestas de
Tabuleiro no Estado do Espírito Santo.
Cap.4 - Floresta de tabuleiro
Ariane Luna Peixoto - Marcelo Simonelli
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Espécies da Flora ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo
IPEMA 2007
espécies de distribuição mais ampla
(Peixoto & Silva, 1997). Possui, hoje,
uma das floras mais bem conhecidas
ao longo do domínio atlântico. Se,
considerado o valor estimado de
13.000 espécies de Angiospermas
para a Floresta Atlântica (Gentry et
al., 1997), com base em dados oriun-
dos da listagem florística de exem-
plares depositados no herbário
CVRD, a floresta de tabuleiro detém
cerca de 12% deste contingente. A
área núcleo da Floresta de Tabulei-
ro, formada pela Reserva Natural da
Vale do Rio Doce (Figura 4.2) e a Re-
serva Biológica de Sooretama, foi ca-
racterizada como um dos 14 Centros
de Alta Diversidade Biológica e
Endemismo do Brasil (Peixoto & Sil-
va, 1997) e é considerada pelo Mi-
nistério do Meio Ambiente como
área de Extrema Importância Bioló-
gica para a conservação da flora e de
quase todos os grupos de fauna
(MMA, 2000).
Devido a diversos fatores, entre
os quais se destacam o padrão de dis-
tribuição gregário ou esparso, a rari-
dade de ocorrência e, provavelmen-
te a capacidade de crescimento ape-
nas em determinados ambientes, há
espécies de ocorrência muito espo-
rádica. O gênero Erisma, tipicamen-
te da Amazônia, apresenta uma es-
pécie disjunta no Sudeste brasilei-
ro, Erisma arietinum M.L.Kawasaki
(carneiro) espécie arbórea de grande
porte, endêmica da área e de distri-
buição gregária. Qualea magna
Kuhlm. (vermelhinha), Andradea
floribunda Allemão (ganassaia)
Trigoniodendrum espiritusanctense

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