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Algumas formas primitivas de classificação. Durkhein( Resenha do texto, retirado de um blog)

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FORMAS PRIMITIVAS DE 
CLASSIFICAÇÃO 
Durkheim, ao estudar os sistemas de classificação das tribos australianas - considerados por 
ele os mais primitivos - operacionaliza o seu conceito de fato social. Ao explicar como estão 
divididas as sociedades australianas, ele efetua não uma mera descrição de sua estrutura 
organizacional, mas demonstra a generalidade do fato social, bem como a sua exterioridade e 
coercitividade. 
Ele procede a análise do sistema totêmico australiano ampliando a classificação realizada 
pelos estudos antropológicos até aquele momento, considerando não somente as fratrias, mas 
as classes – subgrupos das fratrias - em que estariam divididas as tribos. Utilizando essa 
classificação, Durkheim, ao longo do texto demonstra certa preocupação em desvendar as 
origens do totemismo australiano, as suas causas. Com esse intuito, toma o cuidado 
metodológico de privilegiar a observação empírica na comprovação de suas hipóteses: 
"Os fatos não nos autorizam a afirmar que tal classificação seja 
encontrada em toda a Austrália, nem que tenha extensão igual à da 
organização tribal, em fratrias, em classes matrimoniais e em clãs 
totêmicos. Estamos convencidos de que se procurássemos bem, a 
encontraríamos sem dúvida alguma completa ou alterada, em muitas 
sociedades australianas, nas quais até hoje passou desapercebida; mas 
não podemos pré-julgar resultados de observações que não foram 
feitas." (p. 186) 
Ao radicar a origem da estrutura social das tribos australianas na classificação dos grupo em 
fratrias e classes, Durkheim assinala que as mudanças ocorridas nos sistemas totêmicos das 
várias tribos são também prova da anterioridade dos mesmos. A sociedade seria a fonte 
geradora dessas classificações, pois é dela que parte o modelo organizador desses sistemas. 
Sendo assim, cabe a ela a manutenção e a mudança dos mesmos. Ao destacar que as 
mudanças verificadas na sociedade são produto de algo anterior, a exterioridade do fato social 
é reafirmada. 
É necessário enfatizar que o texto explora a distinção entre causa e função de um fenômeno 
de forma exaustiva (vide páginas 190-192, 195, 197), pois ao longo do mesmo vemos a 
recorrência frequente ao argumento de que a classificação originária, "primitiva" das tribos, 
sobrevive durante o processo de segmentação social que se verifica no decorrer do tempo de 
desenvolvimento dos grupos derivados do totem original. Durkheim, tomado de todo o ímpeto 
objetivista que lhe é peculiar, assim descreve o processo de mudança nas sociedades 
totêmicas: 
"Desde que, tornando-se muito volumosos, tenda a segmentar-se, será 
segundo as linhas marcadas pela classificação que se processará a 
segmentação. Não se deve crer que estas divisões sejam 
necessariamente o produto de movimentos revolucionários e 
tumultuosos. Parece, as mais das vezes, que eles têm lugar segundo um 
processo perfeitamente lógico. Foi assim que, em muitos casos, se 
constituíram as fratrias, que se dividiram os clãs." (p. 190) 
Durkheim demarca a origem dessas classificações na sociedade, contrapondo-se àqueles que 
concebiam a vida social como fruto de uma operação lógica, intencionalmente 
regulamentadora ou justificadora das condutas humanas. Isso não significa, contudo, que não 
houvesse uma lógica comum ao modo de classificação totêmica dessas tribos às sociedades 
em geral. 
"As classificações primitivas não constituem, pois, singularidades 
excepcionais, sem analogia com as que estão em uso entre os povos os 
mais cultivados; parecem, ao contrário, se ligar sem solução de 
continuidade às primeiras classificações científicas. Com efeito, 
embora difiram profundamente destas últimas sob certos aspectos, não 
deixam todavia de possuir todos os caracteres essenciais das mesmas." 
(p. 197) 
O autor refere-se à evolução da classificação científica como um desdobramento das 
classificações primitivas, sendo que o elemento da última que teria sido acrescentado à 
primeira seria a hierarquia - na qual as coisas classificadas mantêm entre si uma relação de 
interdependência, formando um todo. A classificação verificada na Austrália seria uma função 
e não uma causa da organização social, pois atende à necessidades criadas no seio da 
sociedade. Visando clarificar a confusão existente entre causa e função, nos diz Durkheim: 
"Segundo Frazer, os homens teriam se dividido em clãs de acordo com 
uma classificação prévia das coisas; ora, muito ao contrário, os homens 
classificaram as coisas porque estavam divididos em clãs. (...) As 
primeiras categorias lógicas foram categorias sociais; as primeiras 
classes de coisas foram classes de homens nas quais as coisas foram 
integradas. Foi porque os homens estavam agrupados e se concebiam a 
si mesmos sob a forma de grupos, que agruparam outros seres, e as 
duas modalidades de agrupamento começaram por se confundir a ponto 
de serem indistintas. (...) Também as relações que unem as classes 
umas às outras, e não somente sua forma exterior, são de origem social. 
Foi porque os grupos humanos continham uns nos outros, o subclã no 
clã, e clã na fratria, a fratria na tribo, que os grupos de coisas se 
dispuseram segundo a mesma ordem. " (p. 198) 
Nesse sentido, Durkheim explica a prevalência do social sobre as outras coisas, ao mesmo 
tempo que advoga um caráter sistêmico para a sociedade, dando um caráter universal ao 
fenômenos classificatório observados nas diversas sociedades. 
"E se a totalidade das coisas é concebida como um sistema único é 
porque a sociedade, ela própria, é concebida como tal. Ela forma um 
todo, ou melhor, ela é o todo único, ao qual tudo se liga. Assim a 
hierarquia lógica não é senão um outro aspecto da hierarquia social e a 
unidade do conhecimento não é outra coisa senão a própria unidade da 
coletividade, estendida ao universo." (p. 199) 
Ao mesmo tempo em que postula a generalidade dos fatos sociais, o autor mantém 
resguardadas as diferenças entre os "primitivos" e os "civilizados" ao referir-se às sociedades 
dos primeiros como tendo a predominância do elemento afetivo. Ele nos diz: 
"...para esses que chamamos primitivos, uma espécie de coisas não é 
simples objeto de conhecimento, mas corresponde antes de mais nada a 
uma certa atitude sentimental.(...) As coisas, antes de mais nada, são 
sagradas ou profanas, puras ou impuras, amigas ou inimigas, favoráveis 
ou desfavoráveis; isto é, seus caracteres fundamentais não fazem mais 
do que exprimir a maneira pela qual elas afetam a sensibilidade social. 
Diferenças e semelhanças mais afetivas que intelectuais determinam a 
maneira pela qual elas se agrupam. É por isso – porque afetam 
diferentemente os sentimentos dos grupos -, que as coisas, de certo 
modo, mudam de natureza, segundo as sociedades. O que aqui é 
concebido como perfeitamente homogêneo, adiante é representado 
como essencialmente heterogêneo." (p. 201) 
O que é demonstrado por Durkheim no decorrer do texto, ou seja, a predominância do social 
no modo que o homem se situa no mundo, pode ser melhor percebido neste trecho do texto: 
"Afirmou-se frequentemente que o homem começou por conceber as 
coisas que se relacionavam com ele próprio. O que foi exposto atrás 
permite compreender melhor em que consiste este antropocentrismo, 
que seria chamado com mais propriedade de sociocentrismo. O centro 
dos primeiros sistemas da natureza não é o indivíduo, é a sociedade. É 
ela que se objetiva e não mais o homem." (p. 201-202) 
É esse caráter eminentemente social que enseja os fenômenos ocorridos no seio da sociedade. 
No caso das sociedades "primitivas", essa predominância do social é afirmada por Durkheim 
como sendo fruto de um processo em que a lógica dela emergente não poderiater sido 
apreendida tão facilmente devido à presença de elementos emocionais em sua gênese, o que 
denuncia a imprecisão dos termos nela presentes. 
"...a força criadora do universo e de tudo o que aí se encontra foi 
concebida primeiramente como antepassado mítico, gerador da 
sociedade. Eis porque a noção de uma classificação lógica foi tão difícil 
de se formar, como mostramos no início deste trabalho. É que uma 
classificação lógica é uma classificação de conceitos. Ora, o conceito é 
a noção de um grupo de seres nitidamente determinado; os limites 
desse grupo podem ser marcados com precisão. A emoção, ao 
contrário, é qualquer coisa de vago e de inconsistente. Sua influência 
contagiosa se irradia muito além do ponto em que se originou, estende-
se a tudo quanto a cerca, sem que se possa dizer onde termina seu 
poder de propagação. Os estados de natureza emocional participam 
necessariamente do mesmo caráter. Não se pode dizer nem onde 
começam, nem onde acabam; perdem-se uns nos outros, misturam suas 
propriedades de tal maneira que não podem ser categorizados com 
rigor." (p. 202) 
É justamente esse caráter emocional, que não permite aos integrantes das sociedades 
"primitivas" perceberem de forma consciente certas noções que dela fazem parte, que dificulta 
a identificação de uma lógica subjacente a essa sociedade. Durkheim situa esse estágio como 
fazendo parte de uma fase constituinte do processo que culminou na classificação científica, 
em que os elementos emocionais, apesar de ainda presentes, podem ser percebidos como 
muito menor vigor. 
"A pressão exercida pelo grupo social sobre cada um de seus membros 
não permite aos indivíduos julgar com liberdade de noções que a 
própria sociedade elaborou, e em que colocou qualquer coisa de sua 
personalidade. Tais construções são sagradas para os particulares. 
Desse modo, a história da classificação científica é, em definitivo, a 
própria história das etapas no curso das quais este elemento de 
afetividade social se enfraqueceu progressivamente, deixando cada vez 
mais o lugar livre para o pensamento refletido dos indivíduos. Todavia, 
faltam muito ainda para que estas influências longínquas, que 
acabamos de estudar, tenham cessado de se fazer sentir." (p. 202-203) 
 
DURKHEIM, Émile. "Algumas formas primitivas de classificação". In : RODRIGUES, José 
Albertino Rodrigues (org.). 
Durkheim. São Paulo : Ática, 1995. Coleção Grandes Cientistas Sociais. p. 182-203.

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