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PROF. KARAM 2017/2 HELENA FABRICIO CONTRATOS EM ESPÉCIE • Bibliografia: Gonçalves (plano de ensino) • P1 = 27/10 P2 = ? APRESENTAÇÃO = 03/11 • Trabalho consiste na elaboração de um artigo a respeito de um contrato (no caso, prestação de serviços). Deve conter 7 páginas, sem contar capa e anexos, e ser entregue na data da P2. Ele deve se basear em 2 outros artigos sobre o tema. Deve ser feita a apresentação de seminário deste artigo. AULA 1 SUMÁRIO I. REGIMES JURÍDICOS CONTRATUAIS DE DIREITO PRIVADO A) UNIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES B) CONTRATOS TÍPICOS E ATÍPICOS C) EXCLUSÃO DA DISCIPLINA D) REGIMES CONTRATUAIS (ESPECIALIZAÇÃO) II. CONTRATOS DE COMPRA E VENDA E PLANOS JURÍDICOS A) TROCAS ECONÔMICAS B) CLASSIFICAÇÃO (PARADIGMA) C) CONTRATO E DOMÍNIO I. REGIMES JURÍDICOS CONTRATUAIS DE DIREITO PRIVADO Existe uma pluralidade de regimes jurídico-contratuais. É a identificação do tipo contratual que determina qual regime incidirá no contrato, produzindo efeitos diversos. a) Unificação das Obrigações Essa qualificação do fato jurídico não é tão simples, e fica ainda mais difícil devido à unificação das obrigações cíveis e comerciais. EX: Compra e venda – a base estrutural pode ser a mesma para vários casos, mas as ramificações de identificação têm efeitos diversos. Uma relação fornecedor X consumidor e fornecedor X fornecedor são diferentes daquelas que envolvem civis nos dois polos. b) Contratos Típicos e Atípicos Contratos típicos e atípicos são os nominados e o nominados, embora a primeira nomenclatura seja melhor. Essa divisão tem a ver com a previsão do contrato, ou seja, com o fato de o contrato estar previsto normativamente. PROF. KARAM 2017/2 HELENA FABRICIO c) Exclusão da Disciplina O objeto do nosso estudo são os contratos de direito civil, ou seja, os que regulam a relação entre não profissionais, chamados de “iguais” ou “civis”. Excluem-se, então, do estudo os contratos regidos pelo CDC (consumo) e os empresariais (entre profissionais). Para compreender, porém, quais devem ser excluídos, devemos analisa-los brevemente. d) Regimes Contratuais (Especialização) São três os regimes a serem analisados: Os critérios, então, para identificar a qual regime pertence uma relação são a qualificação das partes (consumidor, profissional ou civil) e a função econômica dos contratos. Na legislação, porém, com a unificação de obrigações comerciais e civis, as normas empresariais e cíveis tendem a estar no mesmo diploma, o Código Civil. Isso vale tanto para contratos de compra e venda quanto para os demais. Os contratos cíveis, porém, são aqueles que servem de base para os demais. • Consumidor é aquele que adquire como destinatário final. Também é caracterizado pela vulnerabilidade • Fornecedor é aquele que produz ou põe em circulação bens e serviços, profissionalmente. • Função econômica: circulação de bens para utilização do destinatário final. • Regido pelo CDC. Relação Consumidor vs Fornecedor • São profissionais os que exercem atividade empresária. • Função econômica: insumo, "giro econômico", para produção e revenda. • Regido pelo Direito Empresarial. Relação Profissional vs Profissional • São civis os não profissionais e os que não integram relação de consumo. Ou seja, essa qualificação se dá por exclusão. • Função econômica: transferência de propriedade. • Regido pelo Direito Civil. Relação Civil vs Civil PROF. KARAM 2017/2 HELENA FABRICIO II. COMPRA E VENDA E PLANOS JURÍDICOS a) Trocas Econômicas A alternância de propriedade só ocorre porque existe um contrato que serve de instrumento para isso. O regime nacional de ordem econômica define que o Brasil é capitalista, inserindo-se em uma ordem de mercado, seguindo os valores da igualdade, liberdade e segurança jurídica. Esses valores marcam dois institutos: a liberdade de contratar e a função social. Ambos estão no Código Civil no art. 421. A alternância da propriedade baseia-se diretamente na ideia capitalista de sociedade privada. No direito, porém, precisamos verificar os planos jurídicos e compreender quando ocorre a efetiva transferência. Existem dois planos jurídicos: o do direito obrigacional e o do direito das coisas. Na realidade brasileira estes dois planos são separados. O contrato de compra e venda é obrigacional, enquanto a propriedade está no direito das coisas. Então, seria correto dizer que o contrato de compra e venda transfere a propriedade? Não! O que o contrato de compra e venda faz é instrumentalizar a aquisição da propriedade, sendo uma “ponte” entre o mundo das obrigações e das coisas. • “Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro.” – Ele não transfere, mas obriga a transferir. A transferência de propriedade efetiva só ocorre de dois modos: para imóveis através do Registro de Imóveis, e para bens móveis pela tradição (entrega do bem). Relação credor - devedor; interpartes Eficácia relativa, entre os contratantes Gera direito de indenização em caso de inadimplemento - e não direito sobre a coisa. Direito Obrigacional Relação proprietário - coisa Relação absoluta, "ex res", "erga omnes". Direito das Coisas PROF. KARAM 2017/2 HELENA FABRICIO • “Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com a tradição.” • “Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos expressos neste Código.” • “Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis.” • “Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição. Parágrafo único. Subentende-se a tradição quando o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório; quando cede ao adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico.” Nosso sistema de transmissão de propriedade tem como base o direito germânico e o BGB, divergindo do direito francês. O artigo 1345 do CC determina que as dívidas antes da compra e venda passam para o adquirente – o que é uma exceção, pois é uma responsabilidade existente em razão da coisa. É possível, porém, restituição em alguns casos. • “Art. 1.345. O adquirente de unidade responde pelos débitos do alienante, em relação ao condomínio, inclusive multas e juros moratórios.” Já o art. 1361 fala de outra exceção: a propriedade fiduciária, que constitui-se com o registro do contrato. O registro do contrato torna, então, o comprador o proprietário. Essa propriedade é, porém, resolúvel (condicional, se não pagar o vendedor pode retomar). Essa regra também pode aplicar-se aos bens imóveis. • “Art. 1.361. Considera-se fiduciária a propriedade resolúvel de coisa móvel infungível que o devedor, com escopo de garantia, transfere ao credor. § 1o Constitui-se a propriedade fiduciária com o registro do contrato, celebrado por instrumento público ou particular, que lhe serve de título, no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor, ou, em se tratando de veículos, na repartição competente para o licenciamento, fazendo-se a anotação no certificado de registro. § 2o Com a constituição da propriedade fiduciária, dá-se o desdobramento da posse, tornando-seo devedor possuidor direto da coisa. § 3o A propriedade superveniente, adquirida pelo devedor, torna eficaz, desde o arquivamento, a transferência da propriedade fiduciária.” O art. 1417 fala da promessa de compra e venda, que é um contrato preliminar. Em casos de pagamento em prestações, sem direito de arrependimento e com registro da promessa, há eficácia real do pré-contrato. Isso significa que a responsabilidade pelo inadimplemento recai sobre o bem. • Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à aquisição do imóvel. Em resumo, então, a compra e venda não transfere, mas obriga a transferir. A obrigação não recai sobre a coisa, mas sobre o adimplemento, podendo gerar indenização. Nossos planos baseiam-se no BGB, só havendo transferência com o registro ou tradição. Esse sistema, porém, não é absoluto, havendo exceções. PROF. KARAM 2017/2 HELENA FABRICIO b) Classificação (Paradigma) O contrato de compra e venda é oneroso, consensual, bilateral e sinalagmático. Por bilateral entenda-se aquele em que há reciprocidade nas obrigações. Tudo isso serve de paradigma para contratos com a mesma estrutura. • TEXTO MOODLE SOBRE ESSA AULA – COUTO E SILVA OBRIGAÇÃO COMO PROCESSO – CLÓVIS COUTO E SILVA - Transferência de bens: não há atribuição sem causa. - Direito Germânico: * Transmissão de bens é abstrata, a causa é irrelevante. * O direito das obrigações é rigidamente separado do direito das coisas. O acordo de transmissão é abstrato, no plano do direito das coisas. Já o contrato de compra e venda é causal. * O poder de disposição é essencial no direito das coisas para que seja possível a produção de efeitos. AULA 2 SUMÁRIO – Contrato de Compra e Venda I. CONCEITO (CC/481) II. ELEMENTOS ESSENCIAIS DA COMPRA E VENDA (CC/482) A) CAPACIDADE + ELEMENTOS DE VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO B) LEGITIMAÇÃO III. CASOS DE LEGITIMAÇÃO/CONSENSO A) VENDA DE ASCENDENTE A DESCENDENTE (CC/496) B) AUSÊNCIA DE LEGITIMAÇÃO (CC/497) C) VENDA ENTRE CÔNJUGES (CC/499) D) VENDA DE COISA INDIVISÍVEL EM CONDOMÍNIO (CC/504) E) ALIENAÇÃO DE BENS POR UM DOS CÔNJUGES (CC/1647) F) BENS DE MENOR EM CURATELA (CC/1750) I. CONCEITO (CC/481) O art. 481 determina que há uma obrigação de transferir, ou seja, de cumprir a prestação, e não transfere em si. Fala, ainda, da troca de dinheiro pelo bem. Isso é importante para caracterização da compra e venda (se não, seria uma permuta). PROF. KARAM 2017/2 HELENA FABRICIO • Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro. Em que medida, porém, o dinheiro caracteriza a compra e venda? Vale discutir, pois é comum dar dinheiro + algum bem (apartamento, carro) em dação. Não há como fazer, na verdade, um pré- estabelecimento de quanto seria necessário. Vai depender do caso: as cláusulas negociais vão determinar. II. ELEMENTOS ESSENCIAIS DA COMPRA E VENDA (CC/482) Os elementos essenciais são assim chamados, pois também existem os acidentais, que não se confundem com eles. Sem esses elementos, o contrato não existe. O negócio jurídico deve ter agente capaz, objeto lícito e determinado – ou determinável, com forma prescrita. Esses são elementos de validade. A capacidade é vinculada aos artigos iniciais do Código Civil. Já sobre a forma, a regra no direito brasileiro é a não formalidade – ou seja, forma não defesa. Na compra e venda exige-se forma só quando for bem imóvel em valor maior a 30 salários mínimos, exigindo escritura pública. Uma coisa é a formalidade, outra é a solenidade do registro (sempre há registro público). A compra e venda é, então, um contrato solene, mas informal. Dentre os elementos essenciais da compra e venda, temos o consenso, a coisa (bem) e o preço. O consenso parte de uma aproximação, negociação entre as partes. Essas tratativas ocorrem na fase pré-contratual. Com a conclusão das tratativas, ou seja, conclusão do contrato, inicia-se a eficácia do contrato. Esses sujeitos devem enfrentar a questão da legitimação – que não se relaciona à capacidade. III. CASOS DE LEGITIMAÇÃO A) VENDA DE ASCENDENTE A DESCENDENTE (CC/496) A venda de ascendente a descendente é anulável, salvo se os demais descendentes e cônjuge expressamente tiverem consentido de modo expresso. Há, então, uma limitação, conforme o art. 496. • Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido. • Parágrafo único. Em ambos os casos, dispensa-se o consentimento do cônjuge se o regime de bens for o da separação obrigatória. Vale ressaltar que o direito de propriedade tem eficácia real e erga omnes, gerando o direito de sequela: de buscar o bem de quem o injustamente possua. O direito de propriedade é pleno, mas deve atender à função social. A limitação é outra restrição à plena liberdade de disposição da propriedade. O interesse tutelado aqui é o direito à legítima dos herdeiros (50% do patrimônio dos pais é dos filhos). O que os filhos devem considerar é a sobra dos bens para uma possível sucessão. PROF. KARAM 2017/2 HELENA FABRICIO Além disso, é anulável, mas qual o prazo decadencial? Havia súmulas do STF (152 e 494) que foram superadas. Hoje, aplica-se o prazo de 2 anos do art. 179 do CC. B) AUSÊNCIA DE LEGITIMAÇÃO (CC/497) O art. 497 trata de casos de ausência total de legitimidade. Essa ausência dá-se a fim de evitar uma quebra da boa-fé objetiva, sendo uma restrição plena. • Art. 497. Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em hasta pública: • I - pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados à sua guarda ou administração; • II - pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa jurídica a que servirem, ou que estejam sob sua administração direta ou indireta; • III - pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros serventuários ou auxiliares da justiça, os bens ou direitos sobre que se litigar em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde servirem, ou a que se estender a sua autoridade; • IV - pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens de cuja venda estejam encarregados. • Parágrafo único. As proibições deste artigo estendem-se à cessão de crédito. C) VENDA ENTRE CÔNJUGES (CC/499) A venda entre cônjuges está diretamente vinculada aos regimes de casamento. A regra atual é a comunhão parcial dos bens (aquilo que for adquirido após o casamento pertence a ambos). São outras hipóteses: separação total, comunhão total, participação nos aquestros e separação legal. O art. 499 trata, indiretamente, da comunhão total, caso no qual não podem vender um para o outro, pois os bens pertencem a ambos. Além disso, em caso de comunhão parcial, também não seria possível vender ao outro os bens que estão em comunhão. • Art. 499. É lícita a compra e venda entre cônjuges, com relação a bens excluídos da comunhão. D) VENDA DE COISA INDIVISÍVEL EM CONDOMÍNIO (CC/504) A coisa indivisível é aquela que pertence a mais de um, e não se pode dividir. Se fosse divisível, cada um exerceria pleno direito de propriedade sobre sua parte. No condomínio todos são proprietários do todo, não há distinção da área. Haverá, aqui, direito de preferência. É uma hipótese de preferência legal. • Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua parte a estranhos, se outro consortea quiser, tanto por tanto. O condômino, a quem não se der conhecimento da venda, poderá, depositando o preço, haver para si a parte vendida a estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de decadência. • Parágrafo único. Sendo muitos os condôminos, preferirá o que tiver benfeitorias de maior valor e, na falta de benfeitorias, o de quinhão maior. Se as partes forem iguais, haverão a parte vendida os comproprietários, que a quiserem, depositando previamente o preço. Ofertar aos demais condôminos é, então, um requisito de validade do negócio jurídico. Essa oferta faz-se por uma notificação formal, com indicativo de preço e condições do negócio. Dá-se o prazo e, se não houver manifestação dos demais, o condômino se libera para vender a terceiros. PROF. KARAM 2017/2 HELENA FABRICIO Caso seja feita a venda sem notificação, e o outro descobrir em 180 dias pode depositar o valor e tomar para si a coisa. É um direito real. Também pode ser utilizado quando o valor de venda seja menor do que estava na notificação de preferência. E) ALIENAÇÃO DE BENS POR UM DOS CÔNJUGES (CC/1647) Os bens que são comuns precisam de autorização do outro cônjuge. Há, porém, exceção para os empresários, conforme o art. 978, já que separa-se os bens do empresário dos da pessoa natural. • Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta: • I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; • II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos; • III - prestar fiança ou aval; • IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação. • Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando casarem ou estabelecerem economia separada. • Art. 1.648. Cabe ao juiz, nos casos do artigo antecedente, suprir a outorga, quando um dos cônjuges a denegue sem motivo justo, ou lhe seja impossível concedê-la. • Art. 978. O empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real. F) BENS DE MENOR EM CURATELA (CC/1750) • Art. 1.750. Os imóveis pertencentes aos menores sob tutela somente podem ser vendidos quando houver manifesta vantagem, mediante prévia avaliação judicial e aprovação do juiz. Conforme o art. 1750, só podem ser vendidas quando houver vantagem, avaliação e autorização. AULA 3 SUMÁRIO – Contrato de Compra e Venda (continuação) I. CASOS DE LEGITIMAÇÃO/COISA A) BEM B) ATUAL/FUTURA o Contratos comutativos X Aleatórios o Emptio Spei (CC/458) o Empio rei Sperate (CC/459) C) DÉBITOS. “Propter rem” (CC/502) D) AMOSTRAS/PROTÓTIPOS/MODELOS (CC/404) E) RISCOS DA COISA (CC/492) F) TRADIÇÃO: LOCAL DA VENDA (CC/493) (CC/327) G) RISCOS DA EVICÇÃO (CC/447 E 457) PROF. KARAM 2017/2 HELENA FABRICIO H) COISA LITIGIOSA (CC/457) I) PACTO DOS CORVOS II. CASOS DE LEGITIMAÇÃO/PREÇO A) DINHEIRO B) FIXAÇÃO C) SERIEDADE D) CC/491 e 476 – EXCEÇÃO E) RISCOS DO PREÇO (CC/492) F) PREÇO: AD CORPUS VS AD MENSURAM G) DESPESAS (CC/490) I. CASOS DE LEGITIMAÇÃO/COISA São elementos essenciais da compra e venda: sujeitos e consenso (aula passada), coisa e preço. A coisa nada mais é do que o objeto do contrato de compra e venda. Pode ser qualquer bem, desde que este se transforme em algo comercializável. Os bens públicos, por exemplo, não são comercializáveis (mas não são, necessariamente, inalienáveis). Podem ser objeto de compra e venda bens móveis, imóveis e direitos. Cabe, aqui, diferenciar cessão contratual da venda de direitos: muitas vezes eles se misturam, pois a compra e venda de direitos pode afetar terceiros que estejam envolvidos naquela relação. Apesar disso, nem toda cessão de crédito deriva de uma compra e venda (a exemplo de uma sucessão). Além disso, nem toda compra e venda gera alternância de posição contratual. Dependerá, então, do caso. Ressalta-se, aqui, que órgãos não podem ser vendidos, conforme a Lei dos Transplantes. Isso a fim de garantir a igualdade de chance de todos receberem os órgãos, e não apenas os ricos. O bem objeto de compra e venda pode ser coisa atual ou futura. No contrato comutativo o bem deve existir, mas pode ser agora ou no futuro. Deve, aqui, haver equilíbrio (sinalagma) no momento de formação e execução. Se a coisa não for entregue no prazo, ou não existir no futuro determinado, há inadimplemento contratual que dá ensejo à reparação. As partes buscam retornar ao status anterior com uma resolução. Já os contratos aleatórios estarão sempre relacionados a coisas futuras. Na formação do contrato já há bem determinado que aquele objeto pode ou não existir no futuro. É a álea. • Emptio Stei – relaciona-se à existência da coisa. Por exemplo, um comprador propõe a um pescador, dizendo que vai dar mil reais pelas lagostas que trouxer do mar. Pode ser 1 lagosta ou 200, há comprometimento integral do preço, ainda que a coisa não venha a existir. É um risco para ambos os lados, a chamada “venda da esperança”. • Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir. PROF. KARAM 2017/2 HELENA FABRICIO • Emptio rei sperate – muito usada para bens futuros que dependem de fatores naturais. É venda da coisa esperada. Por exemplo, pago 1 milhão pela safra: aqui, exige-se que a safra exista, mas não determina-se a quantidade. • Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada. • Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante restituirá o preço recebido. Sobre os débitos que incidem sobre a coisa: até a tradição o vendedor responde. São exemplos o IPVA, IPTU, etc. Podem ser débitos pecuniários ou comportamentais (ex: proteção de bem tombado). Com a tradição elas se transferem ao comprador, salvo determinação em sentido contrário. É uma obrigação que segue a coisa, propter rem. Já sobre amostras, protótipos e modelos: no caso de divergência entre esses exemplificadores e a coisa em si, prevalecem os primeiros. A amostra é a reprodução de coisa determinada. O protótipo é o primeiro exemplar de uma invenção. O modelo é uma reprodução exemplificativa. Quando chega a coisa em si, o comprador vê que é diferente, há causa de inadimplemento. Além disso, os riscos da coisa devem ser suportados pelo proprietário até a transferência. “A coisa perece para o dono” (res perit domino). Posso, porém, determinar que o comprador seja responsável desde a origem (ex: transporte). A tradição e a entrega do bem ocorrem no local da venda, conforme os arts. 493 e 327. • Art. 493. A tradição da coisa vendida, na falta de estipulação expressa, dar-se-á no lugar onde ela se encontrava, ao tempo da venda. • Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias. • Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles. A evicção é a perda do direito de propriedadepor uma decisão judicial. Pelos riscos da evicção, responde o vendedor, pois ele não poderia ter alienado um bem do qual não era proprietário. O comprador acaba perdendo o bem também, mas o vendedor vai ter de restituir ou indenizar. É, ainda, possível, alienar um bem envolvido em litígio. Devo, porém, informar àquele que está adquirindo, caso contrário ele poderá reclamar. Caso não informe, a responsabilidade é do alienante. Em caso de bens imóveis, porém, o comprador deve tomar certas medidas acautelatórias (verificando que a coisa é litigiosa), motivo pelo qual a responsabilidade será sua. Por fim, tratamos aqui do pacto dos corvos. Há uma restrição à liberdade contratual com relação ao objeto de alienação. Não pode ser objeto de compra e venda a herança de pessoa viva. Por isso chama-se “pacto dos corvos”. Só é possível alienar direitos sucessórios após a morte. PROF. KARAM 2017/2 HELENA FABRICIO II. CASOS DE LEGITIMAÇÃO/PREÇO O preço sempre tem dinheiro envolvido. Não precisa ser a totalidade, mas sim a grande parte Isso porque, se não houvesse dinheiro, trataríamos de permuta. Além disso, não é possível estabelecer valor em dólar ou outra moeda estrangeira. A exceção são contratos de câmbio e internacionais. Alguns decretos tratam disso (857/69 e 8880/94). A fixação do valor pode ser um acordo vendedor-comprador, pode ser por um terceiro ou por um árbitro. É, porém, vedada a fixação unilateral. O preço deve, também, ser sério – e não vil. O art. 491 fala que, não sendo a venda a crédito, o vendedor não precisa entregar a coisa antes de receber o preço. O preço tem precedência em relação a coisa. O art. 476, porém, fala do exceptio non adimpleti. • Art. 491. Não sendo a venda a crédito, o vendedor não é obrigado a entregar a coisa antes de receber o preço. • Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro. Ressalta-se, aqui, que os riscos do preço correm pelo vendedor. O preço fixado “ad corpus”, conforme o parágrafo terceiro do art. 500, quer dizer pelo todo. A área é meramente enunciativa, e se houver diferença não há inadimplemento contratual. Já o preço “ad ensuram”, nos parágrafos primeiro e segundo, é em razão da medida: pago X reais por X metros. Se me der menor, há ação “ex emptio”, para complementação ou devolução do valor. • Art. 500. Se, na venda de um imóvel, se estipular o preço por medida de extensão, ou se determinar a respectiva área, e esta não corresponder, em qualquer dos casos, às dimensões dadas, o comprador terá o direito de exigir o complemento da área, e, não sendo isso possível, o de reclamar a resolução do contrato ou abatimento proporcional ao preço. • § 1o Presume-se que a referência às dimensões foi simplesmente enunciativa, quando a diferença encontrada não exceder de um vigésimo da área total enunciada, ressalvado ao comprador o direito de provar que, em tais circunstâncias, não teria realizado o negócio. • § 2o Se em vez de falta houver excesso, e o vendedor provar que tinha motivos para ignorar a medida exata da área vendida, caberá ao comprador, à sua escolha, completar o valor correspondente ao preço ou devolver o excesso. • § 3o Não haverá complemento de área, nem devolução de excesso, se o imóvel for vendido como coisa certa e discriminada, tendo sido apenas enunciativa a referência às suas dimensões, ainda que não conste, de modo expresso, ter sido a venda ad corpus. Por fim, sobre o preço, ressalta-se que as despesas correm pelo vendedor, conforme o art. 490. • Art. 490. Salvo cláusula em contrário, ficarão as despesas de escritura e registro a cargo do comprador, e a cargo do vendedor as da tradição. PROF. KARAM 2017/2 HELENA FABRICIO AULA 4 SUMÁRIO – Cláusulas Especiais de Compra e Venda I. RETROVENDA A) NOÇÃO B) NATUREZA JURÍDICA – DIREITO POTESTATIVO C) PRAZO: 3 ANOS D) EFICÁCIA: REAL E) CESSÃO: DIREITO DE RETRATO II. VENDA A CONTENTO OU SUJEITA A PROVA A) VENDA A CONTENTO: ASPECTO SUBJEITO B) VENDA SUJEITA A PROVA: ASPECTO OBJETIVO C) CONDIÇÃO SUSPENSIVA D) “RES PERIT DOMINO” E) PRAZO: RAZOÁVEL III. PREEMPÇÃO OU PREFERÊNCIA A) NOÇÃO B) NATUREZA JURÍDICA: PROMESSA UNILATERAL C) PRAZOS: VIGÊNCIA (MÓVEL = 180, IMÓVEL = 2 ANOS) E EXERCÍCIO (MÓVEL = 3 ANOS, IMÓVEL = 60 DIAS) D) EFICÁCIA: OBRIGACIONAL E) ESPÉCIES: CONVENCIONAL (ART. 513) E LEGAL (ART. 519) IV. COMPRA E VENDA COM RESERVA DE DOMÍNIO (CC/521) A) NOÇÃO B) NATUREZA JURÍDICA: CONDIÇÃO SUSPENSIVA C) PRESSUPOSTOS: BEM MÓVEL, INFUNGÍVEL, PAGAMENTO EM PARCELAS D) ENTREGA VS TRADIÇÃO E) REGISTRO DE CLÁUSULA F) RISCOS DA COISA G) INADIMPLEMENTO V. VENDA SOBRE DOCUMENTO Até agora, vimos as cláusulas essenciais a compra e venda. A seguir, veremos cláusulas acessórias, adjetas, que podem ou não ser utilizadas na compra e venda. PROF. KARAM 2017/2 HELENA FABRICIO Essas espécies de cláusulas não são novidade no CC, à exceção da reserva de domínio. No CC/16 existiam outras: o pacto de melhor comprador e o pacto comissório, que nada mais é do que a caracterização de resolução automática do contrato – mas o nosso CC trouxe a cláusula resolutiva expressa, que tem a mesma finalidade. i. RETROVENDA • Art. 505. O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o direito de recobrá-la no prazo máximo de decadência de três anos, restituindo o preço recebido e reembolsando as despesas do comprador, inclusive as que, durante o período de resgate, se efetuaram com a sua autorização escrita, ou para a realização de benfeitorias necessárias. A retrovenda garante que o vendedor possa readquirir um bem ou reverter sua posse em um determinado prazo. O vendedor pode recuperar o bem devolvendo o dinheiro. Essa cláusula busca permitir que o vendedor adquira recursos para outro fim (capitalização do devedor), sendo que no futuro poderá reaver seu bem. É uma venda sob condição suspensiva. Ele fica na posse do comprador e, após o prazo estabelecido, este ganha a propriedade. O direito potestativo é do devedor, e repassa a seus herdeiros. Não é possível cessão desse direito, ainda que onerosa – ou seja, não cabe alienação. Alguns dizem que não seria direito potestativo, mas apenas uma condição suspensiva. O prazo máximo da retrovenda é de 3 anos. • Art. 506. Se o comprador se recusar a receber as quantias a que faz jus, o vendedor, para exercer o direito de resgate, as depositará judicialmente. • Parágrafo único. Verificada a insuficiência do depósito judicial, não será o vendedor restituído no domínio da coisa, até e enquanto não for integralmente pago o comprador. • Art. 507. O direito de retrato, que é cessível e transmissível a herdeiros e legatários, poderá ser exercido contra o terceiro adquirente. Essa cláusula de retrovenda tem eficácia real, pois o adimplemento se busca direto no bem, e não com conteúdo indenizatório. Aplica-se aos bens imóveis, pela lei, mas também aos móveis (devido a autonomia privada e a liberdade contratual, segundo o professor Venosa). ii. VENDA A CONTENTO OU SUJEITA A PROVA Essas duas cláusulas estão baseadas na satisfação do comprador, mas são distintas. Na a contento, o comprador faz exame subjetivo (gosto ou não). Se ele gostar, a compra e venda se consolida. A condição é evidentemente suspensiva. São exemplo objetos de decoração: se a pessoa afirma que gostou, está concluído o contrato. Discute-se, porém, se isso seria aplicável a bens consumíveis: acredita-se que sim, mas somente para compras em quantidade (vou comprar 100, posso experimentar um). Já na sujeitaa prova exige-se um confronto objetivo em relação à características ou especificações mínimas do objeto ou produto. Por exemplo, em contratações com o poder público, especifica-se o que será comprado. Também há, então, condição suspensiva. O aspecto do “res perit domino” – a coisa perece para o dono, é ressaltada já que a entrega para teste não implica transferência. PROF. KARAM 2017/2 HELENA FABRICIO O prazo para manifestação é o “razoável”. Depende, então, do caso concreto. iii. PREEMPÇÃO OU PREFERÊNCIA Essa cláusula está no art. 513. • Art. 513. A preempção, ou preferência, impõe ao comprador a obrigação de oferecer ao vendedor a coisa que aquele vai vender, ou dar em pagamento, para que este use de seu direito de prelação na compra, tanto por tanto. • Parágrafo único. O prazo para exercer o direito de preferência não poderá exceder a cento e oitenta dias, se a coisa for móvel, ou a dois anos, se imóvel. O vendedor originário exerce um direito de recompra, caso o comprador quiser vender. Se for vender, então, deve oferecer para aquele com preferência antes de oferecer a terceiros. Ele oferecerá as mesmas condições que oferecia a terceiros. Caso seja vendido para outro por valor menor, aquele com preferência pode depositar o preço e reclamar seu direito. Cada vez que o preço baixar, deve ser enviada nova proposta àquele com preferência. Aqui o efeito é, então, obrigacional: não posso buscar diretamente a coisa. Deve ser feito depósito pelo preço. A natureza dessa cláusula é uma promessa unilateral. O prazo de vigência é o prazo da cláusula, e o de exercício é vinculado ao uso dela após a notificação. Manuais dizem que o exercício deve ser dentro da vigência, mas na verdade pode ir além. São duas espécies de preferência: a convencional, em que as partes estipulam a inserção dessa cláusula; e a legal, em que a lei estabelece. São exemplos a coisa indivisível em condomínio (que tem, porém, eficácia real) e a lei de locações. iv. RESERVA DE DOMÍNIO (CC/521) É específica para uso de instituições financeiras e serve como garantia da aquisição do bem. Nessa compra e venda, o comprador tem a posse, mas não é proprietário. Ele passa, porém, a ser responsável pelos riscos da coisa (há, aqui, uma inversão da regra geral). São pressupostos para a reserva de domínio que o bem da compra e venda seja móvel, infungível e individualizado. Além disso, o pagamento deve ser em parcelas. A entrega aqui não gera a tradição, ou seja, não transfere o bem. O registro dessa cláusula pode ser feito no cartório. Sua eficácia é erga omnes, e para isso exige-se registro. O inadimplemento dessa cláusula abre dupla possibilidade: cobrança das parcelas não pagas ou execução específica (retomada do bem + resolução contratual). Nesse último caso as parcelas já recebidas são retidas a título de perdas e danos, mas ao fim do processo verifica-se o real valor, podendo haver devolução. A reserva de domínio é “parente” da alienação fiduciária. PROF. KARAM 2017/2 HELENA FABRICIO v. VENDA SOBRE DOCUMENTO É uma compra e venda empresarial em que a representação do bem comprado é feita por um documento. Compro toneladas de grãos, mas é apenas um papel que indica que aquele direito é meu. AULA 5 SUMÁRIO I. CONTRATO DE PERMUTA E TROCA A) NOÇÃO B) ELEMENTOS C) EXCEÇÕES A C/V II. CONTRATO ESTIMATÓRIO/VENDA EM CONSIGNAÇÃO A) CONCEITO B) PRAZO C) RISCOS III. CONTRATO DE DOAÇÃO (CC/538) A) CONCEITO B) CLASSIFICAÇÃO C) ESPÉCIES: PURA VS COM ENCARGO D) ELEMENTOS: “ANIMUS DONANDI”, CONSENSO E BEM E) MODALIDADES • MERECIMENTO (540) • REMUNERATÓRIA (540, PARTE FINAL) • AO NASCITURO (542) • “MORTIS CAUSA” • ASCENDENTE À DESCENDENTE E ENTRE CÔNJUGES (544) i. CONTRATO DE PERMUTA E TROCA O contrato de troca é como uma extensão da compra e venda, havendo alternância de bens entre os permutantes. Ele se difere da compra e venda justamente por não haver comprador e vendedor, mas sim permutantes. É um contrato bilateral, oneroso, sinalagmático, consensual, informal e não solene. Isso, claro, em regra. PROF. KARAM 2017/2 HELENA FABRICIO A estrutura básica é como a compra e venda: consenso, legitimidade, dentre outros elementos são exigidos. Em relação ao bem, também: aqueles que podem ser objeto de compra e venda também podem ser da troca. O elemento preço, porém, não existe na troca. Essa é a principal diferença. Se não há preço, como avalia-se a proporcionalidade no valor? Não exige-se, na permuta, proporção. Isso porque a regra é autonomia privada, então se as partes quiserem trocar bens de valores diversos, elas podem. Também é possível trocar bem futuro. Se o bem não existir e o contrato for comutativo, há resolução. Se for aleatório, dependerá do caso. O Código traz alguns pontos em que se difere da compra e venda: a) Troca entre descendente e ascendente: anulável se não houver consentimento e o valor for desigual. Ou seja, deve haver desproporção para anular. b) Despesas: na troca e permuta são rateadas entre os permutantes. Na compra e venda a previsão é outra. ii. CONTRATO ESTIMATÓRIO Também chamado de venda em consignação. É uma relação entre o civil (privado) e aquele que exerce atividade empresarial. Em regra, o civil coloca um bem seu à disposição do empresário, para que este empresário aliene a terceiros. O bem objeto da consignação deve ser móvel. O consignante passa esse bem para o consignatário. O consignatário tenta vender o bem e, se o fizer, repassa um determinado valor, já estimado, para o consignante. Ele não repassa tudo que ganhou na venda, mas sim o que foi determinado no contrato. É muito comum na venda de carros. O risco da compra e venda pertence ao consignatário e seu comprador. O consignante entrega o bem, faz uma espécie de tradição, mas ela não transfere a propriedade. O risco da coisa, então, seria do consignante – mas há uma inversão do res perit domino após a tradição, de modo que o risco da coisa é do consignatário. O consignatário pode ter muito lucro, e o consignante não tem ação contra isso. Ele recebe o que foi estipulado. O prazo do contrato pode ser fixado entre as partes. Se não estipularem livremente, será o “tempo razoável”. Não fixado, o consignante pode pedir o bem a qualquer tempo. Consignante • Proprietário do bem móvel Consignatário • Aliena a terceiros, fazendo uma compra e venda. PROF. KARAM 2017/2 HELENA FABRICIO Existem casos em que o consignante permanece na posse do bem. Aqui, pode relativizar-se a própria característica de contrato estimatório. iii. CONTRATO DE DOAÇÃO (CC/538) É a transferência de um bem do patrimônio do doador para o donatário por mera liberalidade, gratuitamente. • Art. 538. Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra. Classifica-se como unilateral, gratuito. Essa unilateralidade está relacionada à execução do contrato. Pode ser objeto de doação qualquer bem objeto de comércio. Pode, inclusive, ser bem futuro. Existem duas espécies de doação: a pura, que não exige nada do donatário. Já a com encargo exige do donatário uma determinada conduta. Ele só tem direito a receber se realizar a conduta exigida. Posso colocar uma condição ou termo, por exemplo. Além disso, são elementos fundamentais da doação o animus donandi (intenção manifestada pelo doador de desvincular-se do bem, passando para o donatário) e o consenso (donatário aceita a doação para a formação do vínculo contratual, expressamente ou de modo presumido/tácito). Há umafixação de prazo para que o donatário diga que não quer: se não disser, presume-se que aceitou. A aceitação tácita é o comportamento que implica na aceitação. Devemos falar aqui, também, da aceitação ficta: é aquela feita pelo representante ou assistente do incapaz. • Art. 539. O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita ou não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça, dentro dele, a declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação não for sujeita a encargo. O bem para doação pode ser qualquer um: móvel, imóvel, presente, futuro e até direitos. Pode, inclusive, estar penhorado. São modalidades de doação: 1) Por merecimento: nada mais é do que uma exposição da causa da doação. Explica a motivação do doador: o donatário mereceu. 2) Remuneratória: linha muito tênue com uma prestação de serviço. São, porém, distintas. É uma contrapartida por algo que o donatário fez, mas que não caracteriza uma contraprestação por parte deste. É uma doação por reconhecimento ao serviço prestado. • Art. 540. A doação feita em contemplação do merecimento do donatário não perde o caráter de liberalidade, como não o perde a doação remuneratória, ou a gravada, no excedente ao valor dos serviços remunerados ou ao encargo imposto. 3) Ao nascituro: É uma doação ao que não nasceu ainda, originalmente condicional. A condição é o nascimento com vida. • Art. 542. A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal. PROF. KARAM 2017/2 HELENA FABRICIO 4) Mortis causa: doação em que a transferência se faz após a morte do doador. É o legado, disposição de última vontade. É a doação condicional, que só se oficializa após a morte: o plano da eficácia é condicionado. 5) Ascendente à descendente: é adiantamento de herança. Não é necessária a anuência dos demais descendentes. A dispensa da colação deve estar expressa na doação. Além disso, descendente pode doar para ascendente. • Art. 544. A doação de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamento do que lhes cabe por herança. AULA 6 SUMÁRIO I. CONTRATO DE DOAÇÃO (CC/538) A) MAIS MODALIDADES • DOAÇÃO DO CÔNJUGE ADÚLTERO (550) • INAFICIOSA (549) • UNIVERSAL (548) • SUBVENÇÃO PERIÓDICA (545) • COM CÁUSULA DE REVERSÃO (547) • CONJUNTIVA (551) • À ENTIDADE FUTURA (554) B) REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO Na última aula estávamos analisando as modalidades. Vimos as 5 primeiras, agora seguiremos. 6) Do cônjuge adúltero: É anulável. Normalmente são bens móveis. • Art. 550. A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal. 7) Inaficiosa: É aquela que ultrapassa a parte disponível do doador. É anulável. A nulidade incide só sobre a parte excedente. É na data da doação que deve verificar-se se há esse excesso. 8) Universal: Doa-se todo o patrimônio. A doação universal pressupõe a inexistência de herdeiros necessários. Deve haver, porém, renda para que o doador assegure sua manutenção. Seria impedida por interesse moral (não teria condições de viver) ou de garantia (não teria como pagar seus credores). PROF. KARAM 2017/2 HELENA FABRICIO 9) Subvenção Periódica: ocorre quando o doador constitui uma renda (ex: mesada) em favor do donatário (545). Essa renda é personalíssima, e nem a obrigação se transmite aos filhos do doador, e nem o benefício aos filhos do donatário. • Art. 545. A doação em forma de subvenção periódica ao beneficiado extingue-se morrendo o doador, salvo se este outra coisa dispuser, mas não poderá ultrapassar a vida do donatário. 10) Com cláusula de reversão: é a doação com condição resolutiva, para caso o donatário morra, o bem não vá para seus herdeiros, mas sim retorne ao doador. Nesta espécie de doação, a propriedade do donatário é resolúvel, ou seja, não é plena, podendo ser resolvida (= extinta) caso o donatário morra antes do doador. Morrendo o doador primeiro, a propriedade torna-se plena para o donatário (547).Caso doador e donatário morram ao mesmo tempo, o bem integra o patrimônio do donatário. • Propriedade resolúvel • Doador sobrevive ao donatário • Reversão a terceiro: não • Aquisição de bem por terceiro • Morte doador antes do donatário. 11) Conjuntiva: é feita a mais de uma pessoa, distribuindo-se em geral por igual (551, ex: se João doa um barco a José e Maria presume-se que foi 50% para cada um, mas o doador pode estipular uma fração maior para um ou outro donatário). Há uma pluralidade de donatários e o direito de acrescer (pode ser deliberada, mas não existe forma automática). • Art. 551. Salvo declaração em contrário, a doação em comum a mais de uma pessoa entende-se distribuída entre elas por igual. • Parágrafo único. Se os donatários, em tal caso, forem marido e mulher, subsistirá na totalidade a doação para o cônjuge sobrevivo. 12) Doação à entidade futura: condicionada à constituição dessa entidade, quando ela passar a ter personalidade jurídica. • Art. 554. O proprietário, ou inquilino de um prédio tem o direito de impedir que o mau uso da propriedade vizinha possa prejudicar a segurança, o sossego e a saúde dos que o habitam. Por fim, devemos tratar da revogação da doação. A revogação se dá por coisas supervenientes. São causas para essa revogação a ingratidão do donatário e a inexecução do encargo. A ingratidão está no art. 557, e a revogação deve ser judicial (pronunciada), no prazo máximo de 1 ano, com efeitos ex tunc (não retroage). O rol do artigo é aberto (exemplificativo) e não prejudica terceiros. O art. 564 fala, ainda, de situações em que há ingratidão, mas não podem ser declaradas. Art. 557. Podem ser revogadas por ingratidão as doações: I - se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de homicídio doloso contra ele; II - se cometeu contra ele ofensa física; III - se o injuriou gravemente ou o caluniou; IV - se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este necessitava. Art. 564. Não se revogam por ingratidão: PROF. KARAM 2017/2 HELENA FABRICIO I - as doações puramente remuneratórias; II - as oneradas com encargo já cumprido; III - as que se fizerem em cumprimento de obrigação natural; IV - as feitas para determinado casamento. Já a inexecução do encargo é baseada na teoria do inadimplemento. Possui efeitos ex tunc. Com prazo, a mora ex ré (397, caput) e sem prazo é mora ex persona (397, parágrafo único).
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