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CCJ0041-WL-D-AMMA-12-Teoria Geral dos Recursos

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AULA Nº 12 – TEORIA GERAL DOS RECURSOS
PROCESSO PENAL II
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 12
Recursos – Conceito, fundamento constitucional, 
pressupostos objetivos e subjetivos,
efeitos, princípios: vedacão à reformatio in pejus,
vedação à reformatio in pejus indireta e 
reformatio in mellius.
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1- Definição
O recurso é a extensão do direito de ação. Ele é exercido 
quando uma das partes, inconformada com a decisão 
proferida, novamente pede que o Estado aprecie o conflito, na 
expectativa de ver alterada a decisão que não lhe foi 
favorável.
Dessa forma, o recurso é o mecanismo processual através do 
qual se provoca o reexame de uma decisão.
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2- Pressupostos recursais
(1) pressuposto lógico:
É a existência de uma decisão em sentido amplo. 
Os atos jurisdicionais podem ser classificados em despacho 
ordinatório (apenas provê a marcha processual, sem qualquer 
natureza decisões), em decisão interlocutória (resolve uma 
questão incidente que não se confunde com o mérito do 
conflito de interesses) e em sentença (resolve o mérito do 
conflito de interesses).
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Só é possível recorrer contra uma decisão em sentido amplo, 
ou seja, contra uma decisão interlocutória ou contra uma 
sentença. A rigor inexiste recurso a ser interposto contra um 
despacho ordinatório.
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Observação: o CODJERJ (arts. 219 – 225) prevê 
excepcionalmente a chamada reclamação, também 
conhecida como correição parcial, que pode ser interposta 
contra algum despacho ordinatório que cause tumulto 
processual.
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(2) pressuposto fundamental:
É a sucumbência, que significa desconformidade entre aquilo 
que se pede e aquilo que se obtém. 
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Observações:
(a) O MP pode recorrer em favor do réu?
Para a minoria, o MP atua apenas como parte no processo 
penal e, por isso, o seu interesse se contrapõe ao interesse 
da defesa. Ora, se a condenação foi injusta ou a pena foi 
excessiva, cabe à defesa recorrer, e não ao MP.
Para a maioria, o MP atua como fiscal da lei, razão pela qual 
não lhe interessa uma sentença injusta ou nula. Amparando 
esta tese há um argumento forte: o art. 654 do CPP permite 
que o MP impetre habeas corpus em favor do réu. 
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(b) A defesa pode recorrer contra a absolvição?
A defesa pode recorrer contra a absolvição buscando a 
mudança do seu fundamento.
(c) Havendo discordância entre o réu e o seu defensor, qual 
opinião deve prevalecer?
Para a doutrina majoritária, deve prevalecer a opinião do réu 
porque ele é que irá sofrer as consequências da condenação, 
e não o seu defensor.
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Para a jurisprudência majoritária – enunciado nº 705, da 
súmula do STF -, deve prevalecer a opinião do defensor 
porque ele é que tem preparo técnico suficiente para 
examinar a viabilidade do recurso
Há um terceiro entendimento (Afrânio Silva Jardim) que 
afirma que deve prevalecer a opinião de quem quer recorrer, 
seja o réu, seja o defensor. É que o recurso exclusivo da 
defesa não pode prejudicar a situação do réu. Logo, o réu não 
corre risco na interposição do recurso, havendo sempre a 
possibilidade de êxito, ainda que mínima.
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(3) Pressupostos objetivos:
A doutrina elenca os seguintes pressupostos objetivos.
(a) autorização legal: cada decisão enseja a interposição de 
um recurso; assim como cada conduta criminosa se 
adequa a um tipo penal, cada decisão se adequa a um 
recurso; logo, só é possível recorrer quando o legislador 
prevê um determinado recurso para o caso.
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Caso concreto da semana 10:
Tício foi condenado à pena privativa de liberdade de 06 (seis) 
anos de reclusão por violação ao artigo 157, parágrafo 2, 
incisos I e II do Código Penal. Da sentença condenatória, 
Tício foi intimado em 09/05/2008 (sextafeira), oportunidade 
em que manifestou o interesse de não recorrer da decisão 
condenatória. O advogado de Tício, defensor devidamente 
constituído, fora intimado da decisão condenatória em 
08/05/2008 (quinta-feira). No dia 16/05/2008, o advogado de 
Tício interpôs recurso de apelação. O recurso é tempestivo ou 
não? Justifique a sua resposta.
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(b) tempestividade: cada recurso tem um prazo de 
interposição; no processo penal, os prazos variam, havendo 
recurso de dois dias (embargos de declaração), cinco dias 
(apelação), dez dias (embargos infringentes), quinze dias 
(recurso especial).
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(c) observância das formalidades legais: cada recurso tem 
suas peculiaridades; às vezes, o recurso é interposto para o 
próprio juiz que proferiu a sentença recorrida; noutros casos, 
ele é interposto para o tribunal; às vezes, é preciso 
apresentar razões recursais; noutros casos, as razões são 
dispensáveis; por isso, é necessário estudar cada um dos 
recursos, para que sejam vistas as suas peculiaridades.
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Pressupostos subjetivos:
A doutrina elenca os seguintes pressupostos subjetivos.
(a) legitimidade: decorre da sucumbência; só tem legitimidade 
a parte sucumbente, ou seja, aquela que não obteve tudo que 
pediu.
(b) interesse: também decorre da sucumbência; o interesse 
na interposição do recurso surge exatamente da 
desconformidade entre aquilo que foi pedido e aquilo que foi 
obtido.
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Observação importante:
A análise dos pressupostos recursais (lógico, fundamental, 
objetivos e subjetivos) constitui o chamado juízo de 
admissibilidade ou juízo de prelibação, o qual, se positivo, 
permite o exame do mérito do recurso. Dessa forma, é feito o 
juízo de mérito ou juízo de delibação.
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3- Princípios 
Exercício Suplementar da semana 10:
Quantos aos recursos em geral, dispõe o Código de Processo 
Penal, dentre outras hipóteses, que:
a) no caso de concurso de agentes, a decisão do recurso 
interposto por um dos réus, se fundado em motivo de caráter 
exclusivamente pessoal, aproveitará aos outros;
b) excetuando-se dentre outros o da sentença que denegar 
habeas corpus, hipótese em que deverá ser interposto, de 
ofício, pelo juiz, os recursos serão voluntários;
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c) salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada 
pela interposição de um recurso por outro e se o juiz, desde 
logo, reconhecer a impropriedade do recurso interposto pela 
parte, mandará processá-lo de acordo com o rito do recurso 
cabível;
d) a qualquer tempo, o Ministério Público poderá desistir de 
recurso que haja interposto;
e) interposto por termo o recurso, o escrivão, sob pena de 
suspensão por 05 a 60 dias, fará conclusos os autos ao juiz, 
até o quinto dia seguinte ao último do prazo.
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Dentre os princípios aplicáveis à teoria geral dos recursos, 
dois merecem o máximo destaque neste momento.
(1) princípio da unirrecorribilidade:
Em regra, cada decisão desafia um único recurso. Entretanto, 
há uma exceção que deve ser ressaltada.
O art. 26 da Lei 8038/90 determina que contra o acórdão do 
TJ, em tese, é possível interpor simultaneamente o recurso 
especial para o STJ (art. 105 da CF) e o recurso 
extraordinário para o STF (art. 102 da CF).
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Observação: a doutrina minoritária (Paulo Rangel) entende 
que o caso acima não é uma exceção ao princípio da 
unirrecorribilidade, alegando que, em verdade, é interposto 
um único recurso contra cada parte da sentença ou do 
acórdão, embora haja mais de um recurso na totalidade. 
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(2) Princípioda fungibilidade recursal:
O art. 579 do CPP dispõe que o recurso interposto de forma 
equivocada deve ser recebido como se fosse o recurso 
adequado, salvo se houver má-fé da parte recorrente.
O que se entende como má-fé?
Para a doutrina, há dois critérios para o exame da má-fé.
(a) critério objetivo: entende-se que há má-fé quando o 
recurso equivocado é interposto fora do prazo do recurso 
adequado.
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(b) critério subjetivo: entende-se que há má-fé quando há um 
erro grosseiro na interposição do recurso.
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4- Efeitos dos recursos
(1) efeito devolutivo: o efeito devolutivo significa que a 
matéria recorrida será levada de novo ao Poder Judiciário, 
muito embora o órgão que apreciará o recurso seja distinto 
daquele que proferiu a sentença recorrida.
(2) efeito regressivo: trata-se de uma variação do efeito 
devolutivo porque significa que a matéria será novamente 
levada ao Poder Judiciário, justamente para o órgão que 
proferiu a sentença recorrida, e não para outro órgão.
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(3) efeito suspensivo: a interposição do recurso suspende a 
execução da sentença recorrida.
No caso de sentença absolutória, a atual redação do art. 596 
do CPP, de forma expressa, afasta o efeito suspensivo. Isso 
significa que, uma vez absolvido, o réu será colocado em 
liberdade, ainda que a acusação recorra. 
(4) efeito extensivo: é previsto no art. 580 do CPP; havendo 
mais de um réu, a decisão relativa ao recurso interposto por 
um deles estende-se ao outro, desde que não seja embasado 
em motivos exclusivamente pessoais.
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5- Classificação dos recursos
(a) recurso voluntário: é a regra geral; a sua interposição 
depende da vontade da parte, a qual decide pela sua 
interposição ou não.
(b) recurso obrigatório: trata-se de exceção; na verdade, o juiz 
deve enviar os autos ao tribunal, ainda que as partes não 
interponham recurso; isso ocorre nos seguintes casos: art. 
574, I e II, do CPP; art. 746 do CPP; art. 7º, da Lei 1521/51; o 
recurso obrigatório também é chamado de recurso de ofício.
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Alguns autores entendem que a expressão “recurso de ofício” 
é imprópria porque o recurso pressupõe o inconformismo do 
recorrente e o seu desejo de ver a decisão recorrida alterada. 
Ora, é óbvio que o juiz não está inconformado com a sua 
própria decisão, nem pretende alterá-la. Ele apenas envia os 
autos ao tribunal de justiça porque a lei obriga. Tecnicamente, 
o caso é de “duplo grau obrigatório de jurisdição”.
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6- Desistência recursal
Inexiste qualquer dúvida quanto ao fato da defesa desistir do 
recurso que tenha interposto. Entretanto, o art. 576 do CPP, 
de forma expressa, dispõe que o MP não pode desistir do 
recurso que tenha interposto.
A doutrina majoritária prestigia tal dispositivo, sustentando 
que o art. 576 do CPP adota o princípio da indisponibilidade, 
segundo o qual o MP não pode abandonar o processo. 
Entretanto, há uma corrente minoritária que critica tal 
dispositivo.
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7- Deserção
A deserção é uma causa atípica de extinção do recurso. Em 
regra, o recurso e extinto com a própria apreciação do mérito 
da pretensão recursal. A deserção pode ocorrer no seguinte 
caso:
O art. 806, § 2º, do CPP: a falta de pagamento das custas, no 
caso de ação de iniciativa privada, se o recorrente não for 
pobre, acarreta a deserção, impedindo o julgamento do mérito 
da pretensão recursal.
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8- Vedação à reformatio in pejus
O recurso exclusivo da defesa não pode prejudicar o réu (art. 
617 do CPP).
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Observação importante:
A doutrina majoritária também sustenta a vedação à chamada 
reformatio in pejus indireta, a qual impede que o réu seja 
prejudicado pela nova sentença proferida em decorrência do 
recurso interposto pelo réu que acarretou o reconhecimento 
da nulidade da sentença inicialmente proferida.
A doutrina minoritária (Paulo Rangel) sustenta que a sentença 
inicialmente proferida, uma vez declarada nula, não pode 
servir de parâmetro para a nova sentença, a qual poderá ser 
mais prejudicial ao recorrente.
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Outra observação importante:
O tribunal do júri garante a soberania dos jurados integrantes 
do conselho de sentença (art. 5º, XXXVIII, da CF). Por isso, a 
questão da reformatio in pejus ganha um colorido especial. A 
nova sentença provocada pelo recurso do réu pode lhe 
prejudicar? E a soberania dos veredictos?
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9- Permissão à reformatio in melius
O recurso exclusivo do MP pode melhorar a situação do 
acusado.

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