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Estafilococcias 1. INFECÇÕES ESTAFILOCÓCICAS Os estafilococos são cocos Gram-positivos que se dispõem em cachos de uva na coloração de Gram. Esses microorganismos são catalase-positivos (diferentemente das espécies de estreptococos), sendo também imóveis, aeróbios e anaeróbios facultativos. Dentre os estafilococos, o S. aureus se destaca como um patógeno mais virulento que àqueles denominados de estafilococos coagulase- negativos (CoNS); entretanto, estes ainda são patógenos importantes em infecções que estão principalmente associadas a dispositivos protéticos. 1.1. INFECÇÕES MEDIADAS PELO STAPHYLOCOCCUS AUREUS Epidemiologia Aproximadamente 30% dos indivíduos sadios são colonizados pelo S. aureus, e uma menor porcentagem (10%) apresenta colonização persistente. A parte inferior das narinas e a orofaringe constituem locais frequentes de colonização, embora a pele (particularmente quando lesionada), a vagina, axilas, e períneo também possam ser colonizados. A taxa de colonização apresenta-se elevada em indivíduos diabéticos usuários de insulina, infectados pelo HIV, pacientes submetidos à hemodiálise, usuários de drogas injetáveis e indivíduos com lesões cutâneas. Os indivíduos que adquirem infecções por S. aureus são infectados, em sua maioria, por uma cepa que já constitui parte de sua própria flora comensal. A infecção é iniciada através de rupturas da pele ou das mucosas. Além disso, constitui também a principal causa de infecções de feridas cirúrgicas, sendo superado apenas pelos CoNS como causa de bacteremia primária. Diagnóstico As infecções estafilocócicas são facilmente diagnosticadas pela coloração de Gram e pelo exame microscópico do conteúdo de um abscesso ou dos tecidos infectados. A cultura rotineira do material infectado fornece resultados positivos, e as hemoculturas podem ser positivas mesmo quando as infecções são extravasculares. Relembrando do primeiro seminário: os S. aureus raramente são contaminantes de hemoculturas. Entretanto, ainda há dificuldade de se diferenciar se pacientes com bacteremia documentada também possuem endocardite. As hemoculturas persistentemente positivas indicam a infecção do endocárdio. O PCR tem sido cada vez mais utilizado para a detecção rápida de infecções ou colonização por MRSA. feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa Tratamento e resistência A resistência dos estafilococos à maioria das famílias de antibióticos, incluindo beta-lactâmicos, aminoglicosídeos, fluoroquinolonas e (em menor grau) glicopeptídeos, aumentou. Essa tendência é mais evidente com os CoNS: > 80% das cepas hospitalares são resistentes à meticilina e a maioria dos outros antibióticos. As opções de tratamento para as infecções pelo S. aureus e por CoNS são, habitualmente, semelhantes. Em 5% dos casos, os S. aureus serão sensíveis às penicilinas. Nesses casos, a penicilina G cristalina deverá ser utilizada quando o laboratório pode realizar o teste de sensibilidade com segurança. As cepas resistentes à penicilina são tratadas com penicilinas semissintéticas resistentes à penicilinase (SPRP). São os chamados MSSA (S. aureus sensíveis à meticilina). As primeiras opções utilizadas são a oxacilina ou a nafcilina; as cefalosporinas de primeira geração (p.ex., cefazolina) servem como alternativa. Os MRSA são S. aureus resistentes à meticilina. Essa resistência decorre da produção de uma nova proteína de ligação à penicilina (PBP2a), sintetizada pelo gene mecA. Nas infecções graves que necessitam de antibioticoterapia parenteral, a vancomicina ou daptomicina (não atua em infecções respiratórias) são os antimicrobianos de escolha; a linezolida pode ser utilizada como alternativa. Em infecções cutâneas a escolha pode variar. Os VISA são os S. aureus com resistência intermediária à vancomicina. O mecanismo de resistência deve-se, em parte, a uma parede celular anormalmente espessa. A vancomicina é retida pela ligação cruzada anormal dos peptidoglicanos, sendo incapaz de acessar o seu sítio-alvo. Posteriormente, surgiram cepas totalmente resistentes à vancomicina. Isso ocorre devido a presença do gene vanA, passado a partir dos Enterococcus faecalis através de conjugação. Tal gene sintetiza um dipeptídeo alterado, impedindo a atuação da vancomicina no sítio modificado. A daptomicina (1x ao dia) é o antibiótico de escolha em infecções que necessitam de tratamento parenteral; a linezolida e ceftarolina são alternativas. Profilaxia A prevenção primária das infecções por S. aureus no ambiente hospitalar envolve a lavagem de mãos e uma atenção cuidadosa para os procedimentos apropriados de isolamento. A descolonização utilizando abordagens universais e específicas (p. ex., mupirocina para descolonização nasal ou clorexidina para descolonização cutânea), têm sido bem sucedidas em unidades de terapia intensiva. Intoxicação alimentar O S. aureus está entre os agentes etiológicos mais comuns dos surtos de infecção alimentar. A infecção resulta da inoculação do S. aureus produtor de toxinas nos alimentos pelas mãos colonizadas das pessoas que preparam os alimentos. Em seguida, a toxina é produzida nos alimentos que favorecem o crescimento bacteriano, como creme de ovos, salada de batata ou carnes industrializadas. O O início da doença é rápido, ocorrendo 1-6 horas depois da ingestão. A intoxicação alimentar caracteriza-se por náuseas e vômitos, embora possa haver diarreia, hipotensão e desidratação. feitosa feitosa feitosa O início rápido, a ausência de febre e a natureza epidêmica da apresentação clínica produz suspeita de intoxicação alimentar estafilocócica. Os sintomas regridem dentro de 8-10 horas. O diagnóstico diferencial inclui diarreias de outras etiologias, em especial aquela causada por toxinas semelhantes (p. ex., toxinas do Bacillus cereus, E. coli etc). O tratamento consiste em medidas de suporte. Osteomielite – clínica O S. aureus está entre os agentes etiológicos mais comuns das infecções ósseas, principalmente a osteomielite hematogênica que acomete principalmente os ossos longos em crianças. A clínica consiste principalmente em febre, dor óssea e perda de sustentação do peso sobre o membro. Em adultos, a osteomielite vertebral é uma das apresentações clínicas mais frequentes, cursando com febre e dor lombar intensa; mas também pode cursar com dor lombar crônica e febre baixa. É mais comum em indivíduos com endocardite, em hemodiálise, diabéticos e usuários de drogas injetáveis. Pode complicar com abscesso epidural, culminando com manifestações neurológicas. Osteomielite – laboratório e diagnóstico Os exames laboratoriais revelam leucocitose e elevação do VHS. As hemoculturas são positivas em cerca de 50% dos casos. A cultura a partir da biópsia óssea e o exame histopatológico geralmente confirmam o diagnóstico. Em relação aos exames de imagem, as radiografias de rotina podem ser normais por até 14 dias depois do início dos sintomas. A cintilografia e a ressonância magnética (RM) demonstram alterações mais precoces, sendo a RM o exame mais sensível para o diagnóstico. Osteomielite – tratamento O tratamento empírico da osteomielite pode ser feito com a associação de Vancomicina, IV, 12-12h + Cefepime, IV, 12-12h. A vancomicina é usada para cobrir MRSA, MSSA e CoNS. Já o cefepime visa proporcionar cobertura para bactérias Gram-negativas, como Pseudomonas aeruginosa, por exemplo. A duração do tratamento é de 4-8 semanas. Pneumonia – clínica e diagnóstico O Staphylococcus aureus pode causar infecções graves do trato respiratório em recém-nascidos e lactentes;tais infecções produzem dispneia, febre e insuficiência respiratória. A pneumonia pelo S. aureus possui um achado característico na radiografia de tórax: a presença de pneumatoceles, que são cavidades irregulares de paredes finas. Todavia, a apresentação clínica não é diferente das infecções pulmonares causadas por outras bactérias. Nos adultos, a pneumonia associada ao S. aureus é comum entre pacientes intubados internados no CTI. Além disso, outros fatores que fazem pensar em pneumonia por S. aureus consistem em: a presença de cocos Gram-positivos em feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa cachos presentes no aspirado traqueal ou no escarro; a presença de doença renal em fase terminal; usuários de drogas endovenosas; infecção prévia por Influenza e tratamento prévio com fluoroquinolonas. Bacteremia e sepse – clínica e diagnóstico A bacteremia por S. aureus pode levar a diversas complicações, como sepse, endocardite, vasculite ou disseminação metastática – mais comum em articulações, rins, ossos e pulmões. Pacientes portadores de diabetes melito, infecção pelo HIV, insuficiência renal e dispositivos de materiais protéticos apresentam maior risco de complicações. Clinicamente, a sepse cursa com alterações hemodinâmicas, como alcalose respiratória, hipotensão e febre. Quando a hipotensão não é resolvida em pelo menos 1 hora após a administração de volume, necessitando de administração de noradrenalina para manter PAS > 90mmHg, trata-se de choque séptico. O diagnóstico microbiológico pode ser obtido através da realização de hemoculturas. Bacteremia e sepse – complicações A presença de bacteremia associada ou não ao uso de cateteres intravasculares já indica a realização de ecocardiografia transesofágica, já que se verificou a presença de endocardite infecciosa em até 25% destes indivíduos. O risco é maior na vigência do uso de drogas injetáveis, hemodiálise, presença de dispositivos protéticos intravasculares por ocasião da bacteremia e imunossupressão. Bacteremia e sepse – tratamento O tratamento empírico é feito para cobrir cepas de MRSA, tendo em vista a sua grande prevalência hospitalar e na comunidade. A primeira opção consiste na utilização de vancomicina (IV, 12-12h) ou daptomicina (IV, 24-24h). Geralmente se inicia com vancomicina; porém, caso haja resposta reduzida, pode-se fazer substituição por daptomicina. A duração mínima do tratamento para bacteremia isolada é de 14 dias. Nesses casos, o tratamento consiste em remover a fonte de infecção (cateteres intravasculares, drenagem de coleção purulenta etc) e lançar mão de antibioticoterapia adequada. A vancomicina IV, 12-12h é o agente de escolha, tendo em vista a grande experiência em relação ao seu uso para o tratamento de bacteremia por MRSA; já a daptomicina IV, 24-24h, é uma boa alternativa, principalmente na vigência de cepas com resistência intermediária ou moderada à vancomicina (MIC > 1ug/mL), ou quando há necessidade de monitorização da sua concentração sérica. A combinação daptomicina IV, 24-24h + ceftarolina IV, 12-12h; ou vancomicina IV, 12-12h + ceftarolina é indicada em casos de cepas com MIC da vancomicina próximo de 2 ug/mL. feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa 1.2. INFECÇÕES CAUSADAS POR ESTAFILOCOCOS COAGULASE- NEGATIVOS Infecções de próteses e cateteres vasculares O S. epidermidis é a espécie de CoNS mais associada a infecções de dispositivos protéticos, já que possui a capacidade de elaborar um polissacarídeo extracelular que facilita a formação de um biofilme protetor na superfície de tais dispositivos. Na endocardite de valvas protéticas (EVP) adquirida nos primeiros 12 meses de cirurgia, os principais patógenos envolvidos são: estafilococos coagulase-negativos (32%), como o S. epidermidis; Staphylococcus aureus (22%); bacilos gram- negativos (13%), enterococos e candida spp. Após 12 meses, as etiologias da EVP são mais semelhantes às EVN associadas a comunidade. As infecções de próteses necessitam de duração mínima de 4 semanas de tratamento, que é feito com Vancomicina, IV, 12-12h + Rifampicina, VO, 8-8h, Infecções do trato urinário A capacidade do S. saprophyticus de causar cistite em mulheres jovens parece estar relacionada com sua maior capacidade de aderir às células do epitélio urinário. A taxa de progressão da doença é lenta e com frequência há poucas manifestações; a exceção se faz pelo S. lugdunensis, que causa um quadro de endocardite aguda, com maior mortalidade e rápida destruição valvar com formação de abscesso. O tratamento é feito com cefalexina, VO, 6-6h por 7 dias. Também podemos lançar mão de sulfametoxazol-trimetropim, VO, 12-12h por 5 dias. Diagnóstico Embora a detecção de CoNS nos focos infecciosos ou na corrente sanguínea não seja difícil pelos métodos convencionais de cultura microbiológica, a interpretação desses resultados costuma ser problemática, já que, pelo fato de estarem presentes em grandes quantidades na pele, eles frequentemente contaminam as culturas. Apenas 10-25% das hemoculturas positivas para CoNS realmente revelam bacteremia. As alterações laboratoriais sugestivas de bacteremia verdadeira consistem em múltiplos isolamentos da mesma cepa (ou seja, da mesma espécie com teste de sensibilidade igual ou um fingerprint de DNA semelhante) em culturas separadas; crescimento da cepa em 48 horas; e crescimento bacteriano em frascos de cultura aeróbia e anaeróbia. 2. ENDOCARDITE INFECCIOSA Clínica A endocardite por S. aureus é encontrada em quatro situações clínicas: (1) endocardite das câmaras direitas associada ao uso de drogas injetáveis; (2) endocardite das valvas esquerdas naturais; (3) endocardite de próteses valvares; e feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa (4) endocardite hospitalar. A endocardite por S. aureus é, na maioria das vezes, aguda, cursando com rápida evolução dos sintomas (prostração intensa, febre alta, sopros cardíacos) e complicações, tais como insuficiência das valvas cardíacas, embolia periférica, disseminação metastática e acometimento do SNC. Nos casos de endocardite aguda de valva tricúspide em usuários de drogas injetáveis, além da febre alta e toxemia, também pode cursar com dor torácica pleurítica e expectoração de secreção purulenta ou sanguinolenta. As radiografias de tórax ou a tomografia computadorizada revelam evidências de êmbolos pulmonares sépticos. Nos pacientes com endocardite de valva nativa (EVN) esquerda pelo S. aureus, as particularidades são (1) idade mais avançada; (2) prognóstico mais reservado; (3) maior incidência de complicações sistêmicas (êmbolos periféricos, descompensação cardíaca e disseminação metastática). Já nas endocardites de próteses valvares causadas pelo S. aureus, a mortalidade é elevada no pós-operatório imediato, e o tratamento clínico não costuma ser suficiente, necessitando de reoperação em caráter de urgência para substituir a valva acometida. Para mais detalhes a respeito da epidemiologia, clínica e diagnóstico, consultar a aula de ‘Estreptococcias’. Tratamento antimicrobiano Para curar a endocardite, todas as bactérias na vegetação devem ser erradicadas. Contudo, é difícil erradica-las, porque as bactérias, em sua maior parte, não estão se multiplicando e se encontram em um estado de inatividade metabólica. O tratamento específico para cada microrganismo está indicado na tabela a seguir: TABELA 1. Tratamento de endocardite causadapor Estreptococos. Microrganismo Antimicrobiano Comentários Estreptococos sensíveis à penicilina Penicilina G cristalina, IV, 4-4h, 4 semanas; Ceftriaxona IV, 1x ao dia, 4 semanas; Vancomicina IV, 12-12h, 4 semanas + Gentamicina, IV, 8-8h, 2 semanas; Opção de escolha; Alergia não imediata à penicilina; Alergia grave ou imediata à penicilina; Associação com gentamicina fica à critério; Estreptococos Penicilina G cristalina, IV, Em casos de EVP, utilizar feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa relativamente resistentes à penicilina (CIM < 0,1 ug/mL) 4-4h ou Ceftriaxona, IV, 1x ao dia, 4 semanas + Gentamicina, IV ou IM, 8- 8h, 2 semanas penicilina G cristalina por 6 semanas associada à gentamicina; Estreptococos moderadamente resistentes a penicilina (CIM > 0,1 ug/mL) Penicilina G cristalina, IV, 4-4h ou Ceftriaxona, IV, 24-24h por 6 semanas + Gentamicina, IV, 8-8h por 6 semanas O esquema é preferido por alguns profissionais. TABELA 2. Tratamento da endocardite causada por Estafillococos. Microrganismo Antimicrobiano Comentários MSSA infectando valvas nativas (não há dispositivos implantados) • Nafcilina, Oxacicilina, ou Flucloxacilina IV, 4-4h, 4- 6 semanas • Cefazolina, IV, 8-8h, 4-6 semanas • Vancomicina, IV, 12- 12h, 4-6 semanas; Penicilina pode ser usada em caso de sensibilidade; Cefazolina é uma alternativa para pacientes com alergia não imediata à penicilina; do contrário, utiliza-se vancomicina MRSA infectando valvas nativas (não há dispositivos implantados) MRSA com CIM de vancomicina > 1,0 ou bacteremia persistente durante terapia com vancomicina • Vancomicina, IV, 12- 12h, 4-6 semanas MSSA infectando valvas protéticas Nafcilina ou Oxacilina, ou Flucloxacilina, IV, 4-4h, 6- 8 semanas O uso de rifampicina deve ser feito após determinar sensibilidade à gentamicina; se o + Gentamicina, IV, 8-8h, 2 semanas + Rifampicina, VO, 8-8h, 6- 8 semanas paciente for altamente alérgico à penicilina, usar esquema pera MRSA; do contrário, usar cefazolina MRSA infectando valvas protéticas Vancomicina, IV, 12-12h, 6-8 semanas + Gentamicina, IM ou IV, 8- 8h, 2 semanas + Rifampicina, 8-8h, 6-8sem Em casos de suspeita de endocardite aguda estafilocócica, o tratamento empírico deve ser iniciado com um esquema para MRSA, tendo em vista a alta prevalência destas cepas. TABELA 3. Tratamento de endocardite causada por Enterococos, HACEK e outras espécies menos comuns. Microrganismo Antimicrobiano Comentários Enterococos Penicilina G cristalina, IV, 4-4h + Gentamicina, IV, 8- 8h, por 4-6 semanas Ampicilina, IV, 4-4h + Gentamicina, IV, 8-8h, por 4-6 semanas HACEK Ceftriaxona, IV, 24-24h, 4 semanas Ampicilina-Sulbactam, IV, 6-6h, 4 semanas Coxiella burnetii Doxicilina, VO, 12-12h + Hidroxicloroquina, VO, 8- 8h, por 18 (valva nativa) ou 24 meses (valva Acompanhar sorologia para monitorar resposta durante o tratamento protética) Bartonella spp. Ceftriaxona, IV, 24-24h ou ampicilina (IV, 4-4h) ou doxicilina (12-12h, VO) durante 6 semanas + Gentamicina, IV, 8-8h, 3 semanas Se o paciente for alérgico a beta-lactâmicos, usar doxicilina. Tratamento cirúrgico A abordagem cirúrgica está indicada nas seguintes situações: 1) insuficiência cardíaca; 2) infecção perivalvar; 3) infecção sem controle; 4) endocardite por S. aureus (acometimento de valva mitral ou aórtica com vegetações que permanecem sépticos durante a semana inicial do tratamento; a endocardite de valva tricúspide não indica cirurgia); 5) prevenção de êmbolos sépticos. 3. INFECÇÕES CUTÂNEAS Os fatores predisponentes para a infecção cutânea por S. aureus incluem afecções crônicas da pele (p, ex., eczema), lesões cutâneas (p. ex., picadas de insetos, traumatismos mínimos), injeções (p. ex., diabéticos usuários de insulina e usuários de drogas injetáveis) e higiene pessoal precária. Furúnculo – Clínica Os furúnculos são lesões dolorosas e extensas que tendem a ocorrer nas regiões pilosas e úmidas do corpo, espalhando-se a partir dos folículos pilosos. Há formação de abscesso com área de purulência central associado a sinais flogísticos intensos, como hiperemia e dor. Os furúnculos podem coalescer e formar os carbúnculos, que são mais dolorosos e se localizam mais comumente na região inferior do pescoço. Furúnculo – Diagnóstico O diagnóstico é clínico, não necessitando de exames adicionais. A realização da cultura do aspirado de material purulento pode ser feita para fins de vigilância epidemiológica, sendo útil para documentar infecções pelo MRSA. feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa Furúnculo – Tratamento O tratamento pode ser feito apenas com medidas conservadoras ou pode-se lançar mão de antibioticoterapia. O tratamento conservador é feito com a aplicação de compressas úmidas no local da lesão para facilitar a drenagem espontânea. Também é importantíssimo orientar o paciente a evitar mexer ou tentar “espremer” a lesão, explicando os possíveis riscos, que disseminação do foco infecioso, podendo culminar até mesmo em sepse, endocardite e pneumonia estafilocócica. A antibioticoterapia é realizada quando: 1) lesão > 2,5cm; 2) halo eritematoso e edemaciado > 5cm (indica celulite) ; 3) presença de febre; 4) localização em face e regiões de atrito, tais como mão, genitália, axilas, nádegas ou região posterior da coxa. O anbiótico de escolha pode ser Cefalexina, VO, 6-6h por 7-10 dias, ou SMX- TMP, VO, 12-12h, por 5-7 dias. Segundo os guidelines americanos, a Clindamicina, VO, 8-8h pode ser utilizada como primeira escolha. Celulite – Clínica A celulite é um distúrbio inflamatório agudo da pele que se caracteriza por dor, eritema e calor localizados. Ela pode ser causada pela flora nativa que coloniza a pele e os apêndices cutâneos (p. ex, S. aureus e S. pyogenes) ou por uma grande variedade de bactérias endógenas. Celulite – Diagnóstico Quando existe drenagem, uma ferida aberta ou uma porta de entrada óbvia, a coloração de Gram e a cultura fornecem um diagnóstico definitivo. Entretanto, na ausência destes achados, é difícil estabelecer etiologia bacteriana da celulite. A cultura a partir de um aspirado por agulha da borda em expansão ou de uma biópsia com punção do próprio tecido com celulite, assim como na erisipela, possui positividade em apenas 20% dos casos. Alguns dos fatores predisponentes a infecção, são aqueles que levam a uma ruptura da camada epidérmica e facilitam a penetração bacteriana, como: cortes, queimaduras, picadas de insetos, incisões cirúrgicas e catetes IV. Celulite – Etiologia A celulite causada por MSSA ou MRSA está geralmente associada a uma infecção focal, como furúnculo, carbúnculo, ferida cirúrgica ou abscesso, sendo denominada de celulite purulenta. Já a celulite causada pelo S. pyogenes se dissemina mais rapidamente em um processo difuso, frequentemente associado a linfangite e febre, e deve ser chamada de celulite não purulenta. Também se associa a linfedema crônico, dissecção de linfonodos, estase venosa crônicaou safenectomia, geralmente possuindo caráter de repetição nestes casos. O Streptococcus agalactiae (estreptococos do grupo B) está associado a celulites em idosos e em portadores de diabetes melito ou doença vascular periférica. Já o Haemophilus influenzae causa celulite periorbitária associada à rinossinusite, otite média ou epiglotite em crianças. feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa Celulite – Tratamento O tratamento primário da celulite estafilocócica ou estreptocócica em pacientes hospitalizados consiste na utilização de naficilina ou oxacilina, IV, a cada 4-6h. O tratamento alternativo pode ser feito com ampicilina-sulbactam, IV, 6-6h; ou eritromicina, IV, 6-6h; ou clindamicina, IV, 8-8h. A antibioticoterapia parenteral deve durar de 1-3 dias até a estabilização clínica, devendo-se instituir a antibioticoterapia oral posteriormente, com duração de 5-7 dias. Nesse caso, pode-se utilizar dicloxacilina, 6-6h, VO; cefalexina, 6-6h, VO; e amoxicilina-clavulanato, VO, 12- 12h. Em caso de celulite associada a drenagem purulenta ou abscesso, o tratamento deve cobrir MRSA. Portanto, recomenda-se vancomicina, IV, 12-12h ou linezolida, IV, 12-12h. A duração da terapia é de 7-14 dias. Infecções cutâneas pelo MRSA em adultos Empiricamente, o tratamento das infecções cutâneas e de partes moles precisa cobrir o MRSA na vigência de: 1) história de infecção anterior pelo MRSA; 2) infecção recorrente com fatores predisponentes; 3) infecção de pele e partes moles não piogênicas que apresentam má resposta clínica à antibioticoterapia sem cobertura para MRSA. Nesses casos, a antibioticoterapia oral é indicada para pacientes portadores de infecções cutâneas moderadas, sem sinais de acometimento sistêmico. O tratamento empírico de escolha é a Clindamicina, VO, 8-8h, pois ela é ativa contra S. pyogenes. A segunda opção se faz pela utilização do Sulfametoxazol- Trimetropim, VO, 12-12h ou Doxiciclina, VO, 12-12h. Os pacientes devem ser avaliados após 48 horas de início da terapia: se a resposta for adequada, o tempo de tratamento é por 5 dias; do contrário, caso a resposta for baixa e/ ou a infecção for severa, o tratamento pode ser prolongado por até 14 dias. O tratamento parenteral é indicado em indivíduos imunocomprometidos; com progressão ou persistência dos sintomas após 48-72 horas de terapa oral; presença de proximidade da lesão a próteses e enxertos; e progressão rápida ou doença extensa. Lembrar que a indicação não se encaixa para os casos de bacteremia, apenas para lesões que estão restritas ao tecido cutâneo e partes moles. A primeira linha de tratamento se faz com o uso de Vancomicina, IV, 12-12h; ou Daptomicina, IV, 24-24h. Como já mencionado previamente, o raciocínio para a daptomicina vale o mesmo para o tratamento de bacteremias: ela é mais utilizada na vigência de cepas de MRSA com MIC para vancomicina > ou próximos à 2 ug/mL. Outras alternativas consistem em: linezolida, IV, 12-12h ou ceftarolina, IV, 12-12h. O tratamento varia entre 5 e 14 dias. Assim que houver melhora clínica, o tratamento poderá ser feito pela via oral. Em infecções de repetição, a abordagem clínica é a mesma para aqueles com infecção inicial. No entanto, buscar tratar comorbidades, condições predisponentes e avaliar estabilidade hemodinâmica para escolher tratamento empírico. Em pacientes que tiveram MRSA isolado em cultura e foram tratados com Vancomicina e estão apresentando instabilidade hemodinâmica, o tratamento empírico deverá ser a Daptomincina ou a Ceftarolina. Na ausência de instabilidade hemodinâmica, a duração da terapia para infecção recorrente é o mesmo do episódio inicial. feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa SEMINÁRIO II – ESTAFILOCOCIAS 1) a) R: O paciente apresenta um furúnculo na região posterior da coxa, pois apresenta lesão com halo eritematoso e centro purulento, localizada em área de atrito com concentração de pêlos. Os possíveis diagnósticos diferenciais são: foliculite e hidradenite. Neste caso, a hidradenite não parece ser uma opção, já que ela geralmente é profunda e grave, o que não é o caso. O principal agente etiológico é o Staphylococcus aureus. 1) b) R: Não há necessidade de realização de exames complementares neste caso, já que o diagnóstico é clínico. A relevância da realização de exames complementares seria para a documentação de infecção por MRSA, contribuindo com dados para a vigilância epidemiológica. 1) c) R: O paciente apresenta indicação para antibioticoterapia, já que a lesão se localiza em área de atrito (região posterior da coxa), sendo dolorosa para o paciente devido à sua profissão (motorista de UBER), já que permanece a maior parte do dia sentado. Portanto, a conduta terapêutica consiste em: 1) orientar o paciente a evitar de mexer na lesão ou de tentar espreme-la; 2) orientar aplicação de compressa morna; 3) prescrever Cefalexina, VO, 6-6h, 7-10 dias. 2) a) R: Paciente apresenta um quadro de sepse e pneumonia por S. aureus por disseminação hematogenica – presença de infiltrados bilaterais. Os exames que podem ser solicitados são: • Hemocultura – finalidade de confirmar a etiologia e avaliar susceptibilidade antimicrobiana; espera-se encontrar cultura positiva para S. aureus. • Radiografia ou TC de tórax – avaliar a pneumonia, presença de derrame pleural ou êmbolos sépticos (TC); • Ecotransesofágico – avaliar presença de vegetações valvares, abscessos perivalvares ou alterações de contratilidade, o que seria compatível com endocardite; • US ou TC de membro inferior (coxa) – avaliar a extensão da lesão que, dessa vez, encontra-se maior; • Cultura do aspirado da lesão furuncular – isolamento do agente; espera-se encontrar a presença do S. aureus. feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa 2) b) R: Sim. Podemos utilizar Vancomicina + Oxacilina. A oxacilina possui maior capacidade bactericida que a vancomicina para o tratamento de infecções por MSSA, reduzindo a bacteremia mais rapidamente e, consequentemente, o tempo de internação hospitalar. Já a vancomicina é utilizada para cobertura de MRSA, que é resistente a oxacilina. 3) a) R: Os exames solicitados são: • Hemocultura – serve como critério maior para o diagnóstico de endocardite pelos critérios de Duke. É útil para o isolamento do agente etiológico, avaliando também a sua suceptibilidade aos antimicrobianos; • Ecocardiograma transesofágico – serve como critério maior para o diagnóstico de endocardite pelos critérios de Duke. É útil para avaliar o grau de acometimento cardíaco da lesão; • Radiografia de tórax – útil para avaliar a presença de pneumonia. 3) b) R: A conduta terapêutica adequada seria: 1) providenciar internação hospitalar; 2) providenciar suporte hemodinâmico (hidratação venosa e noradrenalina caso choque séptico); 3) tratar porta de entrada; 4) tratar sintomas de ICC caso presentes; 5) colher hemoculturas e fazer antibioticoterapia empírica com Vancomicina, IV, 12-12h + Oxacilina, IV, 4-4h. Como a paciente apresenta um quadro de endocardite aguda, não há como esperar o resultado das hemoculturas para iniciar a terapêutica. 4) a) R: Exame apresenta relevância, pois a presença de cocos Gram-positivos em cachos, em hemocultura de usuário de drogas, sugere infecção por S. aureus. Tratamento: vancomicina, IV, 12-12h + oxacilina, IV, 4-4h, por no mínimo 2 semanas. Caso haja endocardite, o tempo mínimo é de 4 semanas. 4) b) R:Exame apresenta relevância, pois a presença de cocos Gram-positivos em cachos na urina de paciente com sintomas de cistite, sugere infecção por Staphylococcus saprophyticus. O tratamento: Cefalexina, VO, 6-6h, 7 dias; ou SMX-TMP, VO, 12-12h, 5 dias. Nessa questão quase qualquer droga poderia ser utilizada, exceto amoxicilina. feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa feitosa 4) c) R: O exame não pode ser valorizado, pois: 1) presença de cocos Gram-positivos em cachos em apenas 1 hemocultura sugere contaminação por S. epidermidis; 2) paciente apresenta quadro compatível com pielonefrite, que é uma infecção muito raramente causada por S. saprophyticus (o S. epidermidis não causa); 4) d) R: A presença de cocos Gram-positivos em cachos no líquido sinovial sugere infecção por S. epidermidis ou S. aureus, sendo mais provável ser por S. epidermidis, já que é a principal causa de infecção em próteses. Tratamento: Vancomicina, IV, 12-12h + Rifampicina, VO, 8-8h, por no mínimo 4 semanas. feitosa feitosa feitosa
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