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RESENHA CRÍTICA: ITINERÁRIO TEÓRICO EM PSICOPATOLOGIA DO TRABALHO

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Acadêmicas: Maria Carolina Schmitz Rambo e Valquiria Jung Rosa
Componente Curricular: Psicopatologia do Trabalho
RESENHA CRÍTICA: ITINERÁRIO TEÓRICO EM PSICOPATOLOGIA DO TRABALHO
	O artigo "Itinerário Teórico em Psicopatologia do Trabalho", de Dejours (1994), busca explicar as origens e noções sobre a psicopatologia do trabalho, iniciando com o que Freud trazia como definição disto: "psicopatologia da vida cotidiana". Segundo o autor, ao falar sobre psicopatologia, deve-se entender algo além do físico e da doença, como algo que restringe. Para tanto, utiliza o termo psicopatologia da normalidade. 
	Sabe-se que no passado a questão psicológica não era levada em consideração, e na psicopatologia do trabalho não foi diferente. Era vista como algo física, que começou a mudar na década de 70, onde foram iniciadas pesquisas referentes às pressões no trabalho e o trabalho repetitivo. Como não foi encontrada nenhuma doença mental específica com essa pesquisa, passaram a acreditar que os comportamentos dos trabalhadores eram organizados pelos mesmos, nos quais eles buscavam a forma de lidar com o sofrimento, estando sujeitos ao trabalho.
	Não foi possível encontrar uma psicopatologia de massa, pois o privado (história e experiências de vida individuais) tem uma importância, se sobressaindo sobre o social. Ou seja, cada indivíduo busca uma forma de se defender do sofrimento, podendo ter o adoecimento como consequência ou não, variando com sua história e suas singularidades. Para tanto, entrevistas em grupo foram julgadas como mais eficientes neste caso do que entrevista individual.
	A partir daí, compreendeu-se que existem estratégias coletivas, que o grupo cria como forma de lidar com as pressões, que na maioria das vezes não são do conhecimento da direção da empresa. Grande parte deste desconhecimento da empresa do real sofrimento de seus trabalhadores pode ser decorrente da forma como a mesma é organizada, que é a divisão de homens, gerando sentimentos de amor, ódio, inveja, amizade, entre outros.
	Várias pessoas com vivências diferentes, trabalhando em um mesmo local, se unem e criam suas formas de lidar com o sofrimento, e esta forma precisa ser aceita por todos, existindo, portanto, regras. Em contrapartida, a estratégia coletiva também é criticada, pois ela pode passar a alienar o trabalhador, unindo forças e maneiras de continuar no mesmo trabalho que mais tarde podem desencadear em doenças.
	Por outro lado, sabe-se que em qualquer ocasião da vida o sofrimento existe, seja um sofrimento dentro da normalidade, ou seja, que não impeça a pessoa de realizar suas funções diárias, ou um sofrimento em que o único desejo é a morte ou a impossibilidade de realizar qualquer tarefa. Exemplificando o que foi citado, o stress é uma forma de sofrimento que todos algum dia enfrentarão, e nem por isso podem desistir. Pensando assim, a estratégia coletiva é importante, pois não leva o homem a pulsão de morte, mas pelo contrário, a vida.
	Para a psicopatologia do trabalho, há dois tipos de sofrimentos: o criador e o patogênico. O sofrimento patogênico acontece quando o trabalhador já não tem mais liberdade e autonomia em seu trabalho, apenas possui pressões e regras, ocasionando frustração, medo ou sentimento de impotência. Este sofrimento patogênico pode estar ligado diretamente na relação entre o colaborador e seu superior, nas condições de trabalho ou na relação coletiva. 
	Para reverter o quadro de sofrimento do trabalhador é necessário criar ações que alteram o destino do sofrimento e que favoreça, portanto, a transformação. Se o sofrimento for transformado em criatividade, ele contribui para a formação da identidade, fazendo com que o trabalhador encontre um sentido para o seu trabalho e que, sobretudo, favoreça sua saúde. Este pode ser um exemplo no qual a estratégia coletiva modifica o sofrimento, trazendo benefícios ao trabalhador.
	Outro exemplo citado no artigo é que para o sujeito conseguir utilizar sua inteligência na situação de trabalho, é preciso que a tarefa tenha um sentido para ele, considerando sua história individual. Além disso, é necessário estar em harmonia com as condições sociais. Estas condições passam por um processo de validação social (reconhecimento). O reconhecimento pode ser de utilidade e de habilidade, que trazem também um registro na identidade de cada trabalhador tornando-os únicos. Evidenciando assim, mais uma relação entre o privado e social.
	Concluindo, é importante que os locais de trabalho levem em consideração as singularidades de cada trabalhador, criando estratégias para que eles possam ter um ambiente facilitador, explorando sua criatividade e autonomia. Favorecendo assim sua saúde e consequentemente, contribuir para a lucratividade e sucesso da empresa, pois serão trabalhadores motivados e realizados. Ao contrário, como já visto em empresas, se não houver a possibilidade de autonomia e liberdade, e trabalho repetitivo em excesso, os trabalhadores se sentirão infelizes, rendendo menos e causando malefícios tanto para a empresa tanto quanto para a sociedade em geral (família, vizinhos), como visto na empresa France Telecom, na qual 60 funcionários se suicidaram.

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