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Trabalho de aproveitamento de Aspectos de literatura grega I: hino de Deméter

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Considerações iniciais
	Os Hinos Homéricos compõe uma coleção de 33 poemas que datam do século VII ao VI ou V a.C. Aqui trataremos de um dos quatro maiores hinos que chegaram até nós: O Hino Homérico II à Deméter, que foi preservado em apenas um manuscrito e seria datado de aproximadamente 640 a.C.
	A figura de Deméter no hino homérico que lhe é oferecido é no mínimo instigante, ora benfazeja, ora terrível aos homens, ora súplice ora indiferente aos deuses. Estas mudanças, como veremos adiante, nem sempre contam com uma ligação clara que lhe justifique a passagem de um estado a outro, o que causa problemas para a coesão e coerência do hino como um todo, dando origem a diferentes vias e soluções de interpretação.
	Veremos, portanto, o que as cenas que tratam com maior vagar da postura da deusa podem nos mostrar, buscando assinalar-lhe os pontos de desarmonia sem no entanto aspirar alguma significação definitiva ou algum tipo de resposta que resolva as questões que nos soam suspensas.
Deméter: Uma mãe que sofre
	Os Hinos Homéricos compartilham elementos tradicionais não apenas na forma - o metro hexâmetro datílico, a dicção épica, a estrutura tripartite (abertura, parte média, conclusão) - mas também no conteúdo pois buscam destacar os feitos, a aparência, as prerrogativas do deus e um fato único, como por exemplo o nascimento da divindade, que constitui a parte narrativa do hino.�
	No caso do hino à Deméter, a parte média narra o rapto de sua filha Perséfone, com o consentimento de Zeus, por Hádes quando esta brincava de colher flores na companhia das belas Oceaníades; o consequente sofrimento da deusa Mãe por ter tido sua jovem filha raptada e os desdobramentos disso como sua ida a Elêusis, a grande fome que imputa aos humanos e a instituição de seus Mistérios. 
	Portanto, dado o contexto, contraditório seria se esperássemos que a deusa não aparecesse entristecida e mergulhada em mágoas. Por outro lado, Deméter por vezes tem atitudes que dificilmente se explicariam apenas pela dor padecida por ela em detrimento do rapto da filha, como veremos mais adiante.
	Esquadrinhando o comportamento da deusa, podemos perceber ao menos quatro esferas de relações das quais ela participa: retira-se e passa períodos sozinha, relaciona-se com os deuses, com os homens, e com sua filha quando esta retorna. Destas todas, é na esfera de relação com os humanos que aparecem as atitudes que pouco se explicam pelo mote do sofrimento da Olímpica.
Deméter por si
	Deméter figura sozinha no hino em algumas cenas. Nos versos 38 a 50 a deusa ouve o clamor da filha e é tomada por uma terrível dor que a descompostura – não prova da ambrosia e do néctar, não se banha – e a põe solitária a busca da moça por toda parte durante nove dias sem sucesso. Nos versos 90 a 104, depois de saber da parte de Hélios o paradeiro de Perséfone, irada, abandona o Olimpo e disfarçada de velha vai até Elêusis sem ser reconhecida por ninguém onde fica à beira da estrada junto a uma fonte envolvida em grande tristeza. Nos versos 302 a 304 vemos novamente a deusa colocar-se à parte, agora no templo que lhe fora construído por Celeu segundo as ordens divinas à Metanira, a fim de padecer sozinha as dores da saudade da filha.
	Como podemos constatar, Deméter aparece em diversos momentos do hino de maneira muito coerente e completamente esperada pelo enredo mítico. São momentos de dor, saudade e ira por ter sua filha levada à força pelo Cronida ctônico. A mãe lamenta perder a filha para o mundo inferior do qual não se sai. Seu carpir e sua solidão são frutos da consciência de uma separação perpétua entre ela e aquela que é seu duplo, sua parte, sua progênie amada.
	Por outro lado, a cena que se desenvolve dos versos 305 a 309 não parece ter uma relação direta com o rapto. Perséfone é sequestrada por Hádes no verso 19 e Deméter toma conhecimento do que aconteceu à filha à altura dos versos 78-81. Por que então apenas a partir do verso 305 ela decide reter as sementes da terra tornando-a estéril: grande aflição aos homens e aos deuses? 
Deméter e os deuses
	As primeiras cenas que retratam o relacionamento de Deméter com os deuses relacionam-se à procura de Perséfone. Nos versos 51 a 61 temos o encontro da deusa Mãe com Hecate que lhe conta o pouco que sabe: alguém sequestrou a jovem e ela ouvira o clamor mas não pudera ver quem a arrebatava. Nesta cena, depois de ouvir calada tudo o que lhe dizia aquela deusa, Deméter parte ao encontro de Hélios a fim de obter notícias. Não há, nestes versos, um maior desenvolvimento da relação entre as duas, até porque a relação mais estreita de Hecate será com Perséfone por volta do versos 438-440 , mas é possível perceber que aqui há, ao menos, um grande respeito entre ambas. 
	Nos versos 64 a 73 Deméter pede a Hélios que lhe informe o que sabe a respeito do rapto de sua filha. Esse pedido, uma vez que a deusa se encontra em posição de necessidade, de suplicante, obedece uma estrutura formal e tradicional� de reverência: 1) invocação: ela o chama pelo nome; 2) apelo à memória: o faz lembrar se alguma vez ela o alegrou o coração por meio de palavras ou atitudes (versos 64 e 65); 3) reconhecimento de prerrogativas: menciona a capacidade de observação superior a qualquer outro deus (versos 69 -70); 4) pedido: pede notícias da filha. Hélios, por sua vez, responde referindo-se a sua interlocutora com belos epítetos; conta que não fora um mortal mas sim Hades com a permissão de Zeus que lhe sequestrara a amada progênie e que isso não era motivo para desespero porque Hades não lhe seria “genro indigno”. 
	Nos versos 90 a 93, irada, Deméter decide abandonar o Olimpo, passa à esfera de relação com os homens e deixa o convívio divino. Sua relação com os olímpicos é, a partir de então, inexistente até que em razão do transtorno gerado pela grande fome – fruto do desejo de Deméter, deusa da agricultura, que impede que a terra produza – Zeus tenha de interferir. 
	Os versos 310 a 313 configuram uma passagem interessante e surpreendente: os deuses seriam atingidos de alguma maneira pela fome imputada, não porque dependessem dos cereais como alimentação mas porque, morrendo os humanos, estes ficariam destituídos de sacrifícios. O hino demonstra uma dependência da parte dos eternos pelos humanos, o que não é recorrente na tradição e confere à Deméter um controle delicado sobre seus semelhantes.
	Dos versos 314 a 333 vemos as tentativas de embaixada enviadas por Zeus: todas frustradas. A primeira enviada é Iris que vai a Elêusis encontrar Deméter retirada em seu templo. Súplice a transmite a ordem do Cronida sem nenhum êxito sendo-lhe Deméter irredutível. Posteriores à Íris, Zeus envia, um a um, todos os deuses rogando e oferecendo dons e privilégios, todos sem sucesso, permanecendo ela impassível às súplicas e às ofertas.
	Estas cenas de embaixada encontram próximo paralelo com a cena de embaixada que encontramos na Ilíada: semelhantemente irado e sentindo-se injustiçado, Aquiles abandona o exército dos aqueus causando-lhes grande dano. Escolhidos em assembleia, Odisseu, Ájax, Fênix e dois arautos compõe a embaixada que é enviada pelo rei de muitos homens – Agamenon – ao Peleide a fim de persuadi-lo a tornar ao convívio dos aqueus e principalmente à guerra.
	Tanto Deméter quanto Aquiles recebem os embaixadores e lhes dão ouvido, no entanto, com equivalente ira, são irredutíveis em sua postura de se pôr a parte, do grêmio olímpico para aquela (verso 330-332) e do exército grego para este (Il�. IX. Versos 425-426; 430-431). Mesmo com ofertas de belos presentes, grandes dons e muitas honras, nada pôde mover o coração tanto da deusa quanto do herói. Os versos 327-328 mostram, mesmo que sintetizadamente – e nem por isso deixando de tornar clara a opulência da proposta –, as ofertas à Deméter que no verso seguinte são imperativamente recusadas. Pelo mesmo caminho, nos versos Il. IX. 120-135 vemos listados os presentes oferecidos por Agamenon através de Odisseu a Aquiles queos recusará com rispidez.
	Deméter apenas reata suas relações de maneira pacífica com o Olimpo quando recupera sua filha e um acordo adequado é estabelecido entre ela, Perséfone e Hades debaixo da autoridade de Zeus. Fica estabelecido à moça passar um terço do ano junto ao esposo e os demais dois terços sobre a terra junto à mãe. Somente depois do consenso estabelecido ela retorna ao grêmio celeste na companhia da jovem à altura dos versos 483 a 486.
	O percurso vivido por Deméter é, em linhas gerais, bastante coerente. A deusa é suplicante quando isso se faz necessário, ira-se quando é esperado e sustenta sua indignação até o momento da volta da filha. O que chama atenção, além do referido deslocamento da instituição da fome, é a fragilidade atribuída aos deses todos que aparecem dependentes dos humanos e precisam suplicar à Deméter que mude de postura estando ela sempre irredutível. Seria o caso de entender que Deméter não considerava a gravidade de sua atitude? Não calculava que também seria lesada pela desaparição dos homens? Ou ela não precisaria dos sacrifícios e honras dos mortais como os outros? Se não, por que institui os mistérios e pede um templo? Se sim, por que sustenta a situação sem parecer dar importância a isso? Seria possível imaginarmos que ela tinha tudo sob controle e daria uma solução no último instante mesmo sem ter sua filha de volta - o que seria incoerente com os versos 310 e 313?
Deméter e os homens
	O hino tem maior concentração de tempo e de versos no desenvolvimento da relação entre Deméter e os humanos. É um bloco uno que se estende dos versos 105 a 302 sem interrupção, dando conta de uma narrativa linear que possui alguns elementos problemáticos quanto a coerência e coesão do hino como um todo. Para uma análise mais cuidadosa podemos ainda subdividir esta parte em quatro momentos de acordo com o comportamento de Deméter que segue um percurso da tristeza, passando pela ira, à bondade.
	O primeiro momento compreende o encontro com as filhas de Celeu: quando ela abandona o Olimpo, parte disfarçada para Elêusis onde é encontrada por essas moças que acreditam estar diante de uma velha senhora. A cena do primeiro encontro entre a deusa e as jovens, que não a reconhecem como Deméter, constrói-se por cerca de 64 versos (105-169) nos quais dialogam de forma tenra e agradável, apesar da tristeza da deusa que vem se tornando maior. 
	As moças interrogam a anciã a fim de saber de onde vem e o que faz ali sozinha e a resposta dela, como é esperado, não pode ser verdadeira porque não está na condição de disfarce e por isso, tal qual Odisseu na Odisseia por seus motivos, ela cria uma história a seu respeito com piratas, sequestro e fuga ardilosa que lhe justifica a presença ainda que por hora não tenha sabido onde está. A “velha” aproveita para pedir acolhimento e menciona suas habilidades de ama e orientadora de aias. Positivamente, as filhas de Celeu, bastante empolgadas com a ideia de tê-la como ama de seu irmão mais novo, prometem que vão ter com sua mãe, Metanira, a fim de alcançar a permissão de tê-la a cuidar do caçula amado.
	Neste primeiro contato a tristeza de Deméter não é um problema para a comunicação entre ela e as jovens que lhe interpelam. Um possível semblante sofrido fica por conta da história que conta como fora ela parar ali. Isso é perceptível pelo conforto da parte das moças que vem durante a resposta de Calídice – uma das filhas de Celeu: nos versos 147-148 encontramos uma afirmação que é bastante relevante para pensarmos a postura dos homens frente aos deuses: devemos suportar o que os deuses nos dão, ainda que seja sofrido, porque são mais fortes do que nós. Essa condição de completa submissão e sujeição assumida pela moça reaparece novamente em uma fala de Metanira. Os versos 216 e 217 proferidos por ela são praticamente idênticos aos da filha:
		(versos 216-217 de Metanira)					 (versos 147-148 de)
	O segundo momento abarca dos versos 174 a 211: com a permissão da mãe, as moças voltam correndo felizes para buscar a “anciã”. Esta as segue a passos lamentosos de saudade de Perséfone até que cheguem à morada de Celeu. Se no momento anterior a dor da deusa não interferiu na sua comunicação, este segundo momento é no entanto um período caracterizado pelo silêncio da olímpica: não pronuncia uma palavra e resguarda-se gravemente entristecida.
	É na chegada ao palácio que Deméter tem sua primeira epifania, ainda que parcial e não compreendida por Metanira e pelas moças. Ao passar os umbrais da porta, sua cerviz toca o teto e tudo resplandece, causando terror aos presentes. Deméter, porém, mantém-se silenciosa e ensimesmada e recusa o assento oferecido pela matriarca que temia à face do que vira. 
	Jambe então aparece solícita a oferecer-lhe um acento e a divertir-lhe até conseguir um sorriso. Esse episódio localizado entre o verso 195 e o 211 está na base de muitos estudos dentre os quais os de Lírica ao tratar da origem do jambo e os dos Mistérios ao perceber nesta cena possíveis elementos dos cultos de mistério de Elêusis.
	O terceiro momento parte da quebra do silêncio divino. Metanira saúda a estrangeira e propõe que cuide de seu filho pois para isso seu bom trabalho seria reconhecido com invejosas honras e ela lhe responde positivamente prometendo tratar do menino para que nada lhe faça mal.	A partir de então nos versos 231 a 241 o hino apresenta os cuidados de Deméter com o pequenino, que o têm feito crescer qual um deus: unta-o de ambrosia, dá-lhe o seio e à noite, escondida de todos, guarda-o no fogo a fim de imortalizá-lo.
	Tudo teria saído à vontade da deusa não fosse um dia ser surpreendida por Metanira quando outra vez levava Demofonte ao fogo. Essa cena marca o final do terceiro momento que tinha por característica principal o abrandamento da dor de Deméter com sua atenção voltada para o bebê e abre o quarto momento que encerra os elementos mais contraditórios do hino.
	Horrorizada ao ver o filho no fogo , Metanira geme e é ouvida pela deusa que fica gravemente irada e por isso a repreende a imprudência e atira o menino no chão. A cena que transcorre dos versos 251 a 262 mostra uma Deméter violenta e temível que atemoriza Metanira a qual, silente, fica prostrada temendo a fúria da deusa. O choro da criança atrai as irmãs de Demofonte que correm para o quarto a fim de saber o que se passa e se deparam com a cena de terror.
	O mais curioso é que imediatamente após essa demonstração de ira e violência Deméter promete honras à memória do menino que já não poderá mais escapar à morte, revela sua identidade e apresenta-se como “aquela que a máxima Graça e benesse” dá “aos imortais e aos mortais” e ao ordenar a construção de um templo para si, promete os mistérios.
	Não parece muito adequado abençoar quando se está cheio de ira; então o que justificaria essa combinação paradoxalmente justaposta de violência e benfeitorias?
	Por fim, há ainda um último momento que mostra a relação da deusa com os humanos: depois do retorno de Perséfone e de Deméter restituir a fertilidade à terra, apenas ai, à altura dos versos 473 a 482 há de fato a instituição dos mistérios onde a olímpica ensina seu culto aos reis e encontra-se no apogeu de bondade.
	Assim como com o episódio da fome encontra-se deslocado e dificulta uma associação direta entre causa e consequência, assim também a instituição dos mistérios que se encontra bem distante dos versos em que é prometida causando ao menos um estranhamento.
	Dessa esfera guardamos questionamentos interessantes: por que Deméter quer cuidar do bebê? Por que quer imortalizá-lo? Seria uma compensação pela perda de Perséfone? Seria uma imagem para o funcionamento do culto de mistério? Por que promete benefícios no apogeu de sua ira? Por que promete os mistérios nos versos 273-274 e os dá lá pelos versos 476 em diante, com a narrativa interrompida para que se complete a história de Perséfone?
Deméter e Perséfone
	De todas as esferas vistas, esta é a que ocupamenos versos mas que tem maior influência por todo o hino porque é o mote de “tudo”�. Deméter passa todo o hino à busca da filha amada mas ambas apenas aparecerão juntas à altura dos versos 385 em diante.
	Uma vez que as embaixadas foram todas frustradas, Zeus envia Hermes ao Hades a fim de trazer de volta a moça para aplacar a ira de Deméter. Ele a traz até o templo da olímpica onde esta lamentava sozinha. Ao ver a filha, salta de alegria e corre para ter com ela e a moça ao ver a mãe faz o mesmo.
	Entre muitos carinhos a mãe pressente que há algo de errado e pelos versos 390 a 433 ambas conversam a respeito da estada de Perséfone no Hades e tomam conhecimento de que, uma vez que a jovem provou de uma romã� que lhe dera o Cronida ctônico isso lhe implicaria ter de passar um terço do ano junto ao esposo.
	Os versos 434 a 440 mostram a alegria de ambas, mãe e filha, que passam o dia inteiro aos carinhos curando as dores da saudade. Vemos aqui uma Deméter finalmente alegre que tendo curado suas mágoas retorna na companhia da filha e de Hecate – que se torna uma espécie de dama de companhia de Perséfone – ao Olimpo para se juntarem novamente ao deuses.
	E assim se completa o percurso dos sentimentos de Deméter: do desespero à dor profunda, à tristeza, à ira, à bondade e à felicidade.
	
�	Tipologia de Frohder para a parte média dos hinos: a narrativa.
�	Estrutura semelhante a do Hino Clético.
�	As citações são retiradas da tradução de Haroldo de Campos.
�	Deixo entre aspas a afirmação tudo porque como temos visto através das cenas, existem elementos que não estão diretamente ligados à Perséfone e seu sumiço, ao menos pelas leituras até agora feitas. Do momento que Deméter passa com os humanos em Elêusis várias cenas podem estar por símbolos e imagens de elementos do culto de mistério da deusa e portanto, não se ligam à deusa filha a não ser pelo fato externo de se saber que ambas formavam uma unidade na religião grega: eram invocadas juntas como as duas deusas, sendo uma o duplo da outra.
�	A cena que se desenvolve dos versos 371 a 374 bem como toda a história do rapto de Perséfone podem ser lidos como uma bela imagem para a passagem da obsolescência da menina para a fase adulta onde se torna mulher. A ida ao Hades estaria por alegoria de que uma fase “morre” - a moça - para dar lugar a outra - a mulher. Outro elemento importante a se notar é que ninguém que vai ao Hades volta (se conseguir voltar) da mesma maneira. Por toda a tradição encontramos expedições de heróis como Odisseu, Enéias, Héracles e ainda outros que vivos baixam ao Hades de uma maneira e tornam de lá maduros e diferentes em algum aspecto. Assim também se dá com Perséfone; ainda que inocente, baixa ao Hades ainda moça e torna de lá transformada em mulher. Isso não fica expresso no seu físico ou em suas atitudes, uma vez que o hino não lhe guarda tanto destaque ativo, mas sim pelo fato de agora ser a Senhora do Hades, esposa do deus Ctônico, honrada por todos.
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