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EMPRESAS TRANSNACIONAIS E BLOCOS ECONÔMICOS
Professora: Fabiana Rita Dessotti Pinto
�
UNIDADE I – COMÉRCIO INTERNACIONAL�
O objetivo dessa unidade é apresentar as principais argumentações sobre o comércio internacional e o desenvolvimento dos países. Para isso, na primeira parte, se apresentará a teoria clássica de comércio internacional e seus desenvolvimentos teóricos. 
A segunda parte discutirá o comércio internacional e os países em desenvolvimento, destacando-se as argumentações críticas dos modelos clássicos de comércio internacional para as economias menos desenvolvidas. 
Na terceira parte são traçados os desenvolvimentos teóricos de política comercial, delimitando-se as discussões sobre livre comércio e políticas protecionistas. 
Finalizando-se com uma discussão sobre o processo de integração econômica e sobre as negociações internacionais no âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio).
1.1 Teorias de Comércio Internacional
As formalizações teóricas sobre comércio internacional se iniciam no trabalho de Adam Smith “A Riqueza das Nações: Investigação sobre sua Natureza e suas Causas”, em 1776. O modelo desenvolvido por Smith é chamado de Vantagens Absolutas. 
Adam Smith via o comércio internacional como uma possibilidade de ampliação do mercado e de maior divisão do trabalho. O que permite a divisão do trabalho é exatamente o fato das pessoas poderem efetuar trocas entre si. O fato de saber que pode trocar o seu excedente de produção que ultrapassa seu consumo estimula o indivíduo a se especializar em determinada atividade em que se considera mais hábil. “Como é o poder de troca que leva à divisão do trabalho, assim a extensão dessa divisão deve sempre ser limitada pela extensão do mercado” (SMITH, 1996, p. 77).
A divisão do trabalho seria essencial para o aperfeiçoamento da força produtiva e, consequentemente, para maior destreza do trabalhador. A especialização permitiria uma produção maior do que no caso em que cada um tivesse que produzir os bens necessários para sua subsistência. O mesmo aconteceria com os países, se cada país tivesse que produzir todos os bens necessários para sua sociedade perderia a oportunidade de aproveitamento da divisão internacional do trabalho e da especialização.
 Se um país pode produzir um determinado bem melhor que outro país, ao passo que esse segundo país tem condições de produzir outro produto melhor que o primeiro, seria melhor que cada país se concentrasse no bem no qual tem vantagem absoluta e o exportasse para seu parceiro comercial. 
Se um país estrangeiro estiver em condições de fornecer uma mercadoria a um preço menor do que se a mercadoria fosse fabricada nacionalmente, o melhor seria comprá-la com uma parcela da produção doméstica.
David Ricardo inicia, em 1817, a abordagem que é considerada a base da teoria pura do comércio internacional, a Teoria das Vantagens Comparativas. De acordo com essa teoria, em situação de livre comércio, cada país se especializará na produção dos bens que possa fazer relativamente mais barato.
No Capítulo VII da sua obra “Princípios de Economia Política e Tributação” Ricardo apresenta sua teoria usando o exemplo do comércio entre Portugal e Inglaterra. 
Supondo-se que a Inglaterra precise de 100 homens por ano para fabricar tecidos e 120 homens ano para fabricar vinho, haveria interesse desse país em importar vinho, mediante a exportação de tecido. Se em Portugal para a produção de vinho fossem necessários 80 homens por ano e para a produção de tecido fossem necessários 90 homens por ano, o interesse de Portugal seria pela exportação de vinho em troca de tecidos. Apesar de em Portugal se precisar de menos homens tanto para produção de tecido quanto de vinho, quando comparado à Inglaterra, seria vantajoso para Portugal importar tecido da Inglaterra e utilizar esses homens para produção de vinho do que se desviasse parte desses homens para a produção de tecido internamente.
Para Ricardo os salários no interior de uma economia seriam sempre iguais. Levando-se em conta que o custo de se produzir uma unidade de vinho ou tecido em Portugal, assim como na Inglaterra, seria igual à quantidade de trabalho necessária para sua produção vezes o salário, as diferenças nos preços relativos no interior dos países dependeriam apenas da quantidade de trabalho necessária para produzir cada bem. 
Sem intercâmbio, a relação interna dos preços do vinho e do tecido seria proporcional a seus custos de produção, isto é, 120:100 na Inglaterra e 80:90 em Portugal. Assim, o tecido é comparativamente barato na Inglaterra e o vinho comparativamente barato em Portugal. 
Depois de aberto o comércio entre os dois países, a Inglaterra exportará tecido e importará vinho. Supondo que a taxa de troca de equilíbrio seja 100:100, se a Inglaterra se especializar na produção de tecido e transferir trabalho para sua produção, poderá produzir 1,2 unidades de tecido por unidade de vinho, que já não produz. Estas unidades de tecido poderiam se trocadas por 1,2 unidades de vinho importado de Portugal, resultando em um ganho líquido de 0,2 unidades de vinho para cada unidade de tecido exportada.
Segundo as teorias clássicas, pela aceitação da teoria do valor trabalho, o valor ou preço de uma mercadoria depende exclusivamente da quantidade de mão-de-obra necessária para sua produção. Isto implica que a mão-de-obra é o único fator de produção, ou que a mão-de-obra é utilizada na mesma proporção fixa na produção de todas as mercadorias e que a mão-de-obra é homogênea.
A aceitação da premissa do valor trabalho impede a confirmação do modelo na realidade, isto porque não há um, mas diversos fatores de produção e alguns fatores são utilizados para fins específicos. O fator trabalho não é móvel nem homogêneo entre ocupações ou localidades, especialmente no curto prazo.
A solução é aplicar ao problema do comércio internacional o conceito dos custos de oportunidade e a moderna teoria do equilíbrio geral.
Conforme SALVATORE, coube a Haberler�, em 1936, explicar a teoria das vantagens comparativas a partir da teoria do custo de oportunidade. “De acordo com a teoria do custo de oportunidade, o custo de uma mercadoria é a quantidade de uma segunda mercadoria da qual se deve abrir mão para prover os recursos necessários para produzir uma unidade adicional da primeira mercadoria” (SALVATORE, op. cit., p.23). O país terá vantagem comparativa no bem em que apresentar o menor custo de oportunidade.
O exemplo de Ricardo a respeito do comércio entre a Inglaterra e Portugal poderia ser interpretado em termos da teoria de custos de oportunidade. A finalidade de demonstrar que os dois bens podem substituir-se entre si em proporção a seus custos, mediante a transferência dos meios de produção, pode ser apresentada pelo custo de oportunidade da Inglaterra e de Portugal na produção de vinho ou tecido.
Outras contribuições à teoria pura do comércio internacional são apresentadas nos trabalhos de Heckscher� e Ohlin�.
OHLIN (1967) buscou aplicar ao comércio internacional os métodos de equilíbrio geral. A determinação final das quantidades e preços relativos nesse modelo de equilíbrio geral dependia, em primeiro lugar, da dotação dos fatores; em segundo, da tecnologia, na forma de coeficientes de insumo-produto; e em terceiro, das preferências dos consumidores.
Cada região se especializaria na produção dos bens que possa fazer mais barato em termos monetários. Sua principal discordância à teoria clássica era com relação à teoria do valor trabalho. Supunha um modelo de dois países, dois produtos, sem mobilidade dos fatores de produção entre os países, mas com mobilidade interna, diferindo da teoria clássica, em função de admitir a existência de vários fatores de produção. 
	Ohlin, inspirado em Heckscher, alterou sua abordagem, postulando que os países diferiam apenas na dotação dos fatores de produção, tendo, portanto, tecnologia e preferências similares. O objetivo era mostrar que adiferença entre os preços relativos dos produtos nos países era explicada pela diferença na dotação de fatores nos países.
Essa hipótese está expressa no modelo que recebeu o nome dos autores, Teorema Heckscher-Ohlin: um país exporta as mercadorias produzidas com quantidade relativamente grande de seu fator relativamente abundante. A idéia é que o país onde o trabalho é relativamente abundante será capaz de produzir o bem intensivo em trabalho a um custo relativamente baixo, assim terá vantagem comparativa em sua produção. �
As novas considerações sobre o comércio internacional discutem as diferenças entre o comércio de produtos primários e manufaturados e os efeitos da economia de escala e da concorrência imperfeita sobre o comércio internacional. 
LINDER (1961) introduz na discussão do comércio internacional a diferenciação de comportamento quando se trata do comércio de produtos primários e do comércio de produtos manufaturados. Para o autor a produção para exportação dos produtos manufaturados depende de uma demanda interna por esse produto, enquanto a produção para exportação dos bens primários pode ocorrer independentemente dessa demanda.
Como os produtos primários caracterizam-se por uma particular intensidade de fator, o teorema de proporções de fatores pode ser utilizado para explicar o comércio em tais produtos. Uma condição importante para que as dotações de recursos naturais determinem o comércio de produtos primários é que tais produtos consumam relativamente muito do fator recurso natural, independentemente dos preços relativos do fator.
As proporções de fatores não são tão importantes na indústria manufatureira como na produção de bens primários, portanto, deve-se incluir outras variáveis quando se investiga a exportação de produtos manufaturados.
O comércio de produtos industrializados ocorre mais intensamente� entre países que têm a mesma estrutura de demanda. Entre todos os fatores que determinam o nível de demanda, o principal é o nível de renda média, e assim, a similaridade das estruturas de demanda pode ser verificada pela semelhança dos níveis médios de renda.
Embora se tenha claro que outros fatores, tais como língua, cultura, religião e clima influenciem o perfil da demanda, o autor trabalha com a hipótese de que a amplitude para comércio é potencialmente maior entre países com os mesmos níveis de renda per capita. As diferenças de renda per capita são, portanto, um obstáculo potencial ao comércio. 
As teorias de comércio internacional apresentadas até aqui sustentam que o comércio internacional é benéfico para os países envolvidos e que existe uma diferenciação quando estamos falando do comércio de produtos primários e produtos manufaturados.
A diferença na dotação de fatores entre os países pode ser uma explicação plausível para demonstrar o comércio dos bens primários, principalmente aquelas mercadorias intensivas em recursos naturais, mas não seria suficiente para explicar o comércio de produtos manufaturados.
Essas argumentações são importantes quando estamos falando dos ganhos obtidos no comércio entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento. A próxima parte do capítulo tentará sintetizar as discussões sobre a importância do comércio internacional para o desenvolvimento econômico dos países.
1.2 Comércio Internacional e o desenvolvimento dos países
Na abordagem mercantilista o comércio internacional permitiria aos países o acúmulo de riqueza, mas para isso seria necessário que o país exportasse mais do que importasse, ou seja, apresentasse superávit na balança comercial. Na abordagem clássica não seria por meio do superávit comercial que o comércio internacional traria os benefícios aos países e sim pela possibilidade de ampliação de mercado e, consequentemente, dos ganhos de produtividade. 
Para Adam Smith a riqueza das nações era determinada pela produtividade do trabalho. A expansão dos mercados, que permite maior grau de divisão do trabalho, aumenta a produtividade. O comércio internacional aumenta o mercado. 
Enquanto Smith considerava o comércio internacional como uma possibilidade de utilização de recursos antes não utilizados, Ricardo considerava o comércio internacional como uma possibilidade de realocação dos fatores de produção de forma mais eficiente, uma vez que sua abordagem baseava-se no pleno emprego dos recursos. 
Além de o comércio internacional permitir a alocação mais eficiente dos recursos de produção, baseado nas vantagens absolutas ou vantagens comparativas, possibilita a utilização dos recursos ociosos.
MYINT (1979) faz uma análise da discussão desenvolvida por Adam Smith, mais especificamente de como o comércio internacional pode representar uma “saída para excedentes” e como a ampliação do mercado elevaria o nível geral da produtividade.
 Na interpretação da “saída para excedentes” o comércio internacional proporcionaria uma saída para o produto excedente às necessidades domésticas. Diferente da teoria de custos comparativos onde a especialização e produção para exportação significariam uma transferência dos recursos da produção doméstica para a produção para exportação, face ao pleno emprego dos fatores de produção, a teoria do comércio internacional como “saída para excedentes” supõe que a função do comércio não é realocar os recursos dados, mas prover uma demanda efetiva para a produção feita com recursos excedentes.
Diferentemente da teoria dos custos comparativos, em que a especialização se construiria a partir dos recursos e das técnicas disponíveis no país, a teoria da produtividade via o comércio internacional como uma força dinâmica. A ampliação do mercado, advinda do comércio internacional, permitiria também melhora da divisão do trabalho, elevaria a perícia e a destreza dos trabalhadores, encorajaria as inovações técnicas e permitiria ao país desfrutar de rendimentos crescentes e de desenvolvimento econômico.
A discussão dos efeitos do comércio internacional sobre o desenvolvimento dos países deve então levar em consideração duas questões: i) para um país anteriormente isolado, com uma capacidade produtiva excedente que pode ser adequada ao mercado exportador, o comércio representa o meio adequado de expandir a sua atividade econômica; ii) já um país comercialmente firmado, que se defronta com um mercado mundial flutuante, uma apreciável capacidade produtiva excedente, que não pode ser facilmente transferida da exportação para produção doméstica, estaria mais vulnerável às perturbações econômicas externas.
Na avaliação especifica dos países em desenvolvimento da América Latina, PREBISCH (1949) apresenta algumas questões importantes sobre o comércio internacional e o processo de desenvolvimento da região.
As discussões de Prebisch foram elaboradas a partir do diagnóstico do período de transição pelo qual passavam as economias subdesenvolvidas latino-americanas, que evoluíam de um modelo de crescimento primário-exportador, “para fora”, ao modelo urbano-industrial, “para dentro”. Tratava-se de examinar o modo como estava se dando essa transição nos países latino-americanos, transição que se supunha marcada pela condição de subdesenvolvimento desses países.� Com esses atributos específicos, as economias latino-americanas mereciam estudos e análises também específicas, uma vez que a teoria econômica da forma apresentada até então só poderia ser empregada com algumas reservas. A oposição entre centro e periferia expressa bem essa argumentação.
Enfim, pode-se resumir a avaliação da CEPAL quanto ao processo de transição porque passavam os países da América Latina nos seguintes itens: i) como decorrência do modelo primário exportador, os países latino-americanos se confrontavam com uma potencial incapacidade de importar; ii) as flutuações de preços das matérias primas e dos outros produtos colocados no mercado externo proporcionavam uma receita cambial insuficiente para os programas de desenvolvimento; iii) em conseqüência da própria composição das suas exportações,os países latino-americanos se confrontavam com uma evidente deterioração na relação de trocas com o exterior; iv) o próprio esforço de desenvolvimento econômico reflete a tendência de crescimento das importações; v) as doutrinas de livre comércio só concorreriam para distribuir de maneira desigual os benefícios do comércio entre os países industriais do centro e os países em desenvolvimento da periferia; e vi) qualquer incremento da produção industrial que, nos países em desenvolvimento, possa ser estimulado por medidas protecionistas, será uma adição líquida ao produto total.�
A industrialização mediante a substituição de importações teve um papel central no desenvolvimento econômico da América Latina. Os países asiáticos optaram por estratégias de desenvolvimento “para fora”, tendo as exportações como motor de crescimento econômico. As economias em desenvolvimento da Ásia, voltadas para o exterior, têm apresentado resultados melhores do que as economias da América Latina, podendo-se questionar se os melhores resultados dizem respeito ao regime de comércio externo adotado.
A análise dos regimes de comércio ou das políticas de comércio internacional dos países é o que se pretende fazer no próximo tópico.
Políticas Comerciais
O atual processo de internacionalização produtiva aparece como um indicativo de que não caberia aos países a utilização de regimes comerciais protecionistas que inibissem a livre circulação de mercadorias. As negociações comerciais no âmbito da OMC – Organização Mundial do Comércio� representam um movimento para o livre comércio de bens e serviços. Neste contexto, parece não existir espaço nem justificativas para a utilização de instrumentos protecionistas, mas mesmo assim, o que se observa é a utilização por parte tanto dos países em desenvolvimento como dos países desenvolvidos de barreiras ao livre comércio.
Desde as teorias clássicas de comércio internacional o livre comércio vem sendo defendido como mecanismo gerador de ganhos de bem-estar e de difusão do desenvolvimento econômico. Entretanto, a posição contrária, ou seja, aqueles que não acreditam que há evidências claras de que o livre comércio acarrete ganhos de bem-estar, principalmente para os países em desenvolvimento�, encontram argumentações dentro das teorias de comércio internacional para utilização de políticas protecionistas. Em alguns casos essas argumentações são aceitas pelos próprios defensores do livre comércio. 
O principal argumento para o livre comércio é o da eficiência, que tem como base a avaliação dos custos incorridos pela utilização das barreiras tarifárias. Uma restrição comercial, como uma tarifa, leva às distorções da produção e do consumo.� 
Uma tarifa eleva o preço de um bem nos países que importam. O resultado dessa mudança no preço é a perda dos consumidores correspondente à redução do consumo do produto. Os produtores domésticos desse produto ganham pelo aumento da produção. O governo ganharia com o aumento de sua receita tributária. A tarifa redistribui a renda dos consumidores para os produtores domésticos e do fator mais abundante para o fator mais escasso, isto leva à ineficiência.
Uma vez que esses ganhos e perdas cabem a diferentes pessoas, a avaliação total do custo-benefício de uma tarifa depende de quanto avaliamos ser o benefício monetário de cada grupo. Se, por exemplo, o ganho do produtor cabe mais aos proprietários mais ricos dos recursos, enquanto os consumidores são mais pobres que a média, a tarifa será vista diferentemente do que no caso em que o bem de luxo é comprado pelos ricos, mas fabricado por trabalhadores de baixos salários. Outra ambigüidade é apresentada pelo papel do governo: ele utilizará sua receita para financiar serviços públicos necessários ou a desperdiçará [...] (KRUGMAN, op. cit., p. 200).
Apesar das exceções apresentadas anteriormente, o argumento sobre a eficiência do livre comércio é ainda muito forte, não só pelas perdas referentes às distorções de produção e consumo, mas também pelas perdas em função de escalas de produção ineficientes. 
Os mercados protegidos inibem, em algumas situações, os ganhos provindos de economias de escala. Muitas indústrias entrarão no setor protegido, pela inibição da concorrência e aumento do lucro, sendo que a escala de produção de cada uma pode se tornar ineficiente.
Outro argumento para o livre comércio é que, ao incentivar as empresas a concorrerem com as importações, obriga a inovação.�
As argumentações contrárias ao livre comércio têm como base principal as falhas de mercado. Como no mundo real existem formas diversas de imperfeições nos mercados de bens, serviços e fatores de produção, começa-se a admitir a possibilidade de afastamento do livre comércio.
 A análise de custo-benefício, referente ao custo de proteção, utilizando o conceito do excedente do consumidor e do produtor, pode não medir exatamente os custos e benefícios. O modelo ignora ganhos sociais que o aumento da produção doméstica pode acarretar. Estes podem ser, por exemplo, a absorção de mão-de-obra, antes empregada fora da economia de mercado em um setor de subsistência, ou, ainda, o efeito multiplicador do aumento da produção doméstica.� Ganhos sociais como esses podem servir como justificativa para políticas protecionistas.
A idéia de que há falhas de mercado pressupõe duas situações em que se admitiria a intervenção governamental: a situação de indústria nascente e a de uma política comercial estratégica.
A política comercial estratégica pressupõe a aceitação da idéia de que há falhas de mercado que podem ser corrigidas pela intervenção governamental. A escolha dos instrumentos de política econômica depende dos objetivos que se pretende atingir com esses instrumentos.
Se um país julga necessário desenvolver uma indústria doméstica de bens de consumo duráveis, como ocorreu no Brasil, é razoável o uso de instrumentos de política econômica para alcançar tais objetivos. Seriam utilizados instrumentos protecionistas e neste caso a argumentação da indústria nascente se encaixaria em uma política comercial estratégica.
De acordo com o argumento da indústria nascente, o país em desenvolvimento tem uma vantagem comparativa potencial na indústria, mas as novas indústrias manufatureiras não podem concorrer inicialmente com as indústrias já estabelecidas nos países desenvolvidos. Para que essas indústrias possam se estabelecer, os governos precisam apoiar temporariamente as novas indústrias, até que elas tenham condições para concorrer internacionalmente, o governo utilizaria tarifas ou cotas de importação como medidas temporárias para o início da industrialização.
A argumentação sobre a indústria nascente está intimamente ligada às idéias cepalinas de que o padrão de desenvolvimento consoante, no plano teórico, com as indicações do modelo neoclássico de vantagens comparativas, e, no plano prático, com a defesa do livre comércio, tendia a manter entre os países latino-americanos um modelo de especialização comercial que levaria a deterioração dos termos de trocas.
 Para Nassif, ao utilizar o argumento da indústria nascente como justificativa para a industrialização dos países latino-americanos, Prebisch incorporava a idéia de que as vantagens comparativas podem ser modificadas dinamicamente mediante mudança tecnológica. Além disso, Prebisch procurava atribuir à mudança tecnológica o fator mais relevante para explicar o dinamismo do fluxo de comércio internacional� e defendia a idéia de que o setor industrial tinha maior potencial de difusão das inovações tecnológicas, bem como de operar sob retornos crescentes de escala, do que o setor primário.
As recomendações da CEPAL quanto à proteção eram de que esta fosse limitada ao período necessário para viabilizar o crescimento da indústria nascente e que esse não fosse estendido a um número excessivo de setores industriais, impedindo com isso, que um número grande de setores operasse com níveis reduzidos de eficiência.
Os exemplos tradicionaisde política comercial estratégica para o desenvolvimento industrial são: o da América Latina, modelo “para dentro”, ou de industrialização substituidora de importação; e o da Ásia, modelo “para fora”, ou de industrialização para exportação.
Conforme GONÇALVES op. cit., as características principais da industrialização latino americana eram as seguintes: i) a industrialização latino-americana seria destinada essencialmente ao atendimento do mercado interno; ii) a dinâmica das exportações latino-americanas estava necessariamente limitada devido ao menor crescimento do mercado mundial de produtos primários e à grande concorrência internacional em produtos manufaturados tradicionais, baseados no processamento de recursos naturais; e iii) o objetivo final da industrialização deveria ser reproduzir em menor escala a estrutura industrial dos países lideres mundiais, em especial dos EUA.
Os principais instrumentos de política utilizados foram: tarifas protecionistas e controles cambiais, preferências especiais para as empresas que importassem bens de capital para as novas indústrias, crédito barato por meio de bancos governamentais de desenvolvimento em favor de determinadas indústrias, pioneirismo governamental em determinados setores industriais e a construção da infra-estrutura necessária à industrialização.
A industrialização dos países asiáticos se deu por meio da produção de bens manufaturados para exportações, principalmente para as nações avançadas. Os países asiáticos aplicaram uma política de fomento ativo das exportações e de substituição de importações. A proteção das importações não foi incompatível com o fomento às exportações.�
Especificamente na Coréia do Sul, um exemplo de sucesso da industrialização asiática, a articulação do desenvolvimento industrial inicia-se nos anos 50, com as seguintes características: i) incentivos à industrialização de bens de consumo não-duráveis, por meio de créditos favorecidos e de licenças de importação; ii) criação de grupos capitalistas nacionais, por meio de operações subsidiadas e da privatização de várias empresas que haviam sido encampadas pelo governo como herança da colonização japonesa; iii) início de uma ampla reforma agrária; e iv) esforços de alfabetização e de desenvolvimento do ensino básico.
A partir de 1961 desenvolve-se uma ativa política industrial, combinando promoção das exportações e substituição de importações. O governo estabeleceu incentivos que compreendiam os seguintes instrumentos: políticas creditícias, incentivos fiscais, apoio administrativo direto, aplicação de câmbio favorável, imposição de restrições às importações e de níveis tarifários elevados.
Nas duas regiões, apesar das estratégias diferentes, o objetivo de industrialização foi atingido com uma grande intervenção do Estado. O planejamento, intervenção, escolha e dirigismo estatal estiveram presentes nos dois casos. 
Conforme visto até aqui, a discussão sobre a indústria nascente, e consequentemente a argumentação de falhas de mercado, estaria restrita aos países em desenvolvimento. Qual seria, então, a justificativa para os países desenvolvidos utilizarem instrumentos protecionistas? A resposta estaria nos argumentos sofisticados para as políticas comerciais estratégicas.
O debate sobre política comercial estratégica não é mais desenvolvido no campo do instrumental teórico das teorias clássica e neoclássica e sim sob os argumentos das novas teorias de comércio internacional. Um mundo de concorrência perfeita e de rendimentos constantes de escala, com produtividade marginal decrescente, não é compatível com interações estratégicas entre firmas. No capitalismo contemporâneo existem indústrias fortemente oligopolizadas, cujas firmas operam, à escala internacional, sob condições de retornos crescentes e impondo barreiras à entrada de outros produtores.
	O argumento básico é que a ação do governo pode alterar o jogo estratégico entre firmas nacionais e estrangeiras. Como nesses setores as rendas pagas aos fatores de produção superam significativamente seus custos de oportunidade, políticas comerciais poderiam ser, em princípio, eficazes para transferir lucros extraordinários de firmas estrangeiras para as nacionais. 
Com concorrência imperfeita as empresas domésticas podem ter um melhor desempenho se os concorrentes estrangeiros forem induzidos a contrair sua produção, ou a expandi-la de forma mais lenta do que normalmente fariam. Tais políticas podem aumentar a competitividade de empresas nacionais na medida em que o governo contribui para deter seus maiores concorrentes.
A eficácia da política comercial estratégia fica condicionada ao fato de se escolherem os setores verdadeiramente estratégicos, isto é, algumas indústrias oferecem maior probabilidade de gerar rendas expressivamente elevadas, com retornos superiores aos demais setores da economia. Os países que adotarem políticas para promover setores desejáveis ganharão à custa de países que não o fizerem.
KRUGMAN op. cit. apresenta três critérios destacados pelos analistas para escolha dos setores desejáveis: as indústrias devem possuir um alto valor adicionado por trabalhador, pagar altos salários e usar alta tecnologia.
Enquanto as novas teorias de comércio internacional dão embasamento para políticas comerciais estratégicas no sentido de compensar eventuais perdas na posição de vantagens comparativas de indústrias consideradas estratégicas, decorrente da concorrência oligopolística internacional. Nos modelos de comércio neo-schumpeterianos, o pressuposto fundamental é que, além de serem os principais fatores determinantes do desenvolvimento econômico, as inovações tecnológicas produzem e reproduzem, simultaneamente, as diferenças absolutas e relativas entre capacitações técnicas e produtividades do trabalho entre os países.�
Considerando que a visão neo-schumpeteriana privilegia a importância da eficiência dinâmica, do desenvolvimento da infra-estrutura e da geração e assimilação eficiente de tecnologia, a recomendação seria de que as políticas seletivas recaíssem sobre as indústrias de alta tecnologia e de que os governos incentivassem os investimentos de P & D, principalmente para os países em desenvolvimento, que pretendem eliminar ou mesmo atenuar os gaps tecnológicos que apresentam.�
As argumentações não seriam mais se as intervenções governamentais são necessárias, mas sim como essas políticas afetariam as atividades inovadoras. A política industrial não deve se restringir apenas aos mecanismos seletivos de firmas e indústrias com maior potencial de desenvolvimento tecnológico e de difusão de externalidades positivas, mas sim envolver todos os mecanismos necessários para garantir a competitividade em termos sistêmicos.
Não basta a utilização somente dos instrumentos clássicos de política comercial, como tarifas, quotas ou subsídios, mas também se deve prover a economia de um ambiente no qual as empresas sejam continuamente disciplinadas pela pressão da concorrência. Fazendo-se necessário um sistema de infra-estrutura material, educacional e de ciência e tecnologia que gere externalidades para a economia como um todo, além de um ambiente político-institucional que assegure o crescimento com estabilidade. �
A discussão sobre as teorias e os regimes de comércio internacional não pode se encerrar sem uma tratativa do processo de integração econômica, uma vez que esse representa uma política comercial em que se reduzem ou eliminam as barreiras comerciais entre países de uma determinada região. As justificativas e os custos e benefícios desse processo serão apresentados na próxima seção.
Integração Econômica
“A integração econômica pode ser definida como o processo de criação de um mercado integrado, a partir da progressiva eliminação de barreiras ao comércio, ao movimento de fatores de produção e da criação de instituições que permitam a coordenação, ou unificação, de políticas econômicas em uma região geográfica contígua ou não” (GONÇALVEZ, op. cit., p. 81).O grau de integração entre os países varia desde acordos comerciais preferenciais até áreas de livre comércio, uniões aduaneiras, mercados comuns e uniões econômicas.�
Na situação de acordos comerciais preferenciais, permite-se, entre os países participantes, a utilização de barreiras comerciais menos elevadas do que aquelas relativas ao comércio com os países não participantes. 
Na área ou zona de livre comércio, os membros acordam a redução ou eliminação recíproca das barreiras comerciais, porém cada país mantém sua própria política perante os países não membros. 
A opção de se formar uma união aduaneira difere da área de livre comércio, uma vez que os países membros estabelecem uma tarifa externa comum frente a terceiros países. 
Já o mercado comum representa um processo de integração maior, onde os países eliminam os controles sobre os movimentos de capital e de trabalho, assim sendo, existe a livre movimentação tanto de bens quanto de fatores de produção.
A união econômica é um mercado comum onde há unificação das políticas monetárias e fiscais. Trata-se da categoria mais avançada de integração econômica, além dela, somente a integração total, que pressupõe a unificação das políticas econômicas e sociais e requer o estabelecimento de uma autoridade supranacional.
De acordo com BALASSA (1964) a teoria de integração econômica investiga os efeitos econômicos da integração, nas diversas formas estabelecidas, e os problemas advindos das divergências nas políticas nacionais.
Viner� mostrou que a formação de uma união aduaneira poderia aumentar ou reduzir o bem-estar dos países participantes, assim sendo, a união aduaneira seria válida como uma segunda melhor alternativa na impossibilidade do livre comércio, que seria a melhor alternativa. O autor investigou o impacto de uma união aduaneira sobre o comércio exterior, destacando os efeitos de “criação e desvio do comércio” dentro de uma união.
Os efeitos criadores de comércio se referem ao comércio criado entre os países membros da união, a partir da unificação dos preços dos produtos após a redução das tarifas. Os produtores domésticos menos eficientes em cada país participante são trocados por produtores mais eficientes em outros países participantes. 
A criação de comércio normalmente traz benefícios aos países integrantes, isto em função do aumento das exportações e da aquisição de importações a custos menores, promovendo assim uma utilização de recursos mais eficiente.
Os efeitos desviadores de comércio tratam do desvio de comércio de um país estrangeiro para um país membro. Os produtos importados de fora da região passam a ser trocados por produtos produzidos na região, em função da estrutura da tarifa externa comum e da abolição das tarifas.
O desvio do comércio implica em uma perda de bem-estar, pela importação de produtos mais caros que os produzidos fora da área de integração. Por outro lado, o desvio do comércio pode beneficiar os países que aumentam suas exportações.
Os efeitos benéficos da união serão predominantes em situações em que a criação de comércio supere o desvio de comércio e dependerão, ainda, das diferenças entre os custos unitários. Os efeitos da união aduaneira podem ser estimados como a diferença entre: a soma do comércio criado, multiplicando cada mercadoria pela diferença nos custos unitários; e a soma de comércio desviado, multiplicando cada mercadoria pela diferença nos custos unitários. Se as diferenças nos custos unitários são maiores para mercadorias em que se criou comércio, é possível que a união aduaneira produza um efeito benéfico, mesmo quando o desvio de comércio, medido em termos de trocas ou volume comercial, seja mais importante que a própria criação do comércio.
O desvio de comércio pode ser acompanhado, também, por movimentos indesejáveis nos investimentos. Os investidores estrangeiros aplicarão seus recursos em países com menores tarifas sobre matérias-primas e produtos intermediários, assim como, as fábricas poderão ser implantadas em países com baixo custo de mão-de-obra, sempre e quando as vantagens inerentes às tarifas elevadas tornarem essa operação rentável.
Existem dois instrumentos que podem amenizar os problemas inerentes ao desvio de comércio, da produção e dos investimentos, são eles: as regras de origem e o uso de impostos compensatórios no comércio internacional.
As regras de origem podem se dar por meio de normas baseadas no cálculo do valor agregado a cada produto ou na caracterização dos diversos níveis de produção. Os bens cujos preços contém um percentual predeterminado de valor agregado dentro da união, serão negociados livres de tarifas. Já a norma baseada nos níveis de produção estabelece que o país de origem do bem é aquele onde o processo de produção mais relevante foi desenvolvido. 
Enquanto as regras de origem são utilizadas para determinar a procedência do produto, ou seja, se é originário de um país da área ou de fora dela, o uso dos impostos compensatórios eliminam as diferenças de tarifas sobre os bens negociados.
Outra linha de investigação inclui, além da comparação entre as formas de integração e dos resultados obtidos em termos de criação e desvio de comércio, a análise dos benefícios dinâmicos obtidos com a integração econômica.
A avaliação do aspecto dinâmico da integração econômica representa o exame do impacto da ampliação do mercado sobre o crescimento das economias.
Se o nível de produtividade depende do tamanho do mercado, como estabelecido em grande parte da literatura econômica�, uma ampliação deste, como conseqüência da integração econômica, contribuirá para o crescimento da produtividade. A relação entre a magnitude do mercado e a produtividade sugere, ainda, que os ganhos decorrentes da produção em grande escala acompanharão a integração econômica. 
Outro benefício dinâmico da integração econômica é a concorrência mais acentuada. O desaparecimento das posições de monopólios e oligopólios irá contribuir para a utilização mais eficiente dos recursos e proporcionará incentivos de melhoria nos métodos de produção. Quando se eliminam as barreiras comerciais entre os países integrantes, os produtores de cada país têm de se tornar mais eficientes para competir com outros produtores integrantes da união, unir-se ou deixar o negócio.
A integração reduz o risco e a insegurança dos membros da união sobre as trocas comerciais. Os riscos e inseguranças estão associados às complexas regras do comércio, à possibilidade de mudanças unilaterais de tarifas e outras formas de restrições, mudanças nas regras sobre a troca de moedas estrangeiras e às políticas econômicas em geral.
Por último, a integração econômica pode estimular novos investimentos para aproveitar as vantagens do mercado expandido e fazer face à crescente concorrência. Além disso, a integração econômica tende à estimular aqueles que dela não fazem parte a estabelecer novas fábricas no âmbito da união para evitar as barreiras impostas aos produtos de terceiros países.
Os pensadores da CEPAL desenvolveram estudos, especificamente para os países em desenvolvimento latino-americanos, sobre os efeitos dinâmicos da integração econômica na região. O diagnóstico que fundamentava a necessidade da integração econômica era baseado nas argumentações de oposição centro/periferia, nas restrições externas e na escassez de capital e de tecnologia, eixo central do pensamento da CEPAL.
A integração econômica regional era concebida como um meio estratégico de romper o quadro prevalecente de dinamismo insuficiente e baixa produtividade da economia latino-americana.� Ela representaria um esforço negociado e racional de especialização e reciprocidade industrial orientado para os objetivos fundamentais de “melhorar o intercâmbio tradicional de produtos primários” e “assegurar a industrialização racional dos países latino-americanos”.�
A ampliação do mercado e da base dos recursos produtivos, advinda da integração, permitiria aproveitar as economias de escala e asvantagens da especialização e complementação industrial, criando condições para aumentar a produtividade e dinamizar o processo de industrialização. A partir disso, se expandiria o comércio na região e fora dela e revitalizaria o crescimento econômico.
A integração econômica faria parte, em conjunto com reformas estruturais e um processo de expansão e diversificação do comércio com outras economias, de uma política integral de desenvolvimento.
Negociações Internacionais
O aprofundamento das negociações em termos dos acordos multilaterais de comércio e a intensificação do processo de integração das economias, na forma de acordos preferenciais, zonas de livre comércio, uniões aduaneiras etc. configuram mudanças no perfil atual das economias, que podem afetar positiva ou negativamente a inserção internacional das empresas e o desenvolvimento econômico dos países.
Em 1944, em Bretton Woods, em New Hampshire, ocorreu uma reunião entre 44 países com o objetivo de discutir a cooperação internacional no pós-guerra. Nesta reunião, foi proposta a criação de três organizações dentro do sistema da ONU (Organização das Nações Unidas): o FMI (Fundo Monetário Internacional), o BIRD (Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento), também conhecido como Banco Mundial e uma Organização Internacional do Comércio (OIT). A proposta de criação de uma Organização Internacional de Comércio não vingou, por falta de aprovação pelo Congresso americano.
A Organização das Nações Unidas representa o “local para as negociações voltadas para assegurar a paz mundial”; o Fundo Monetário Internacional surge com o objetivo “de prover liquidez internacional e evitar crise nas contas externas dos países associados” e o Banco Mundial se incumbiria “de prover os recursos para os projetos relacionados ao desenvolvimento econômico” (BAUMANN, 2004, p. 134). 
Com o fracasso na criação da OIT, os países resolvem iniciar um processo de negociações com o objetivo de reduzir as tarifas comerciais, assinando em 1947 o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), este acordo assumiu o papel que seria destinado a Organização Internacional do Comércio, mas de forma menos formal.�
				
O GATT é considerado uma organização internacional peculiar, uma vez que tem um duplo caráter. De um lado, é um conjunto de normas de procedimentos para as relações comerciais entre as partes contratantes. Essas normas são essencialmente de tipo jurídico e regulamentam a elaboração, a prática e o controle das regras conveniadas. De outro, o GATT é um fórum para negociação comercial, em que ressalta o aspecto essencialmente político (SEINTENFUS apud BAUMANN, 2004, p. 134).
O GATT apresenta algumas características relevantes, uma delas é a Cláusula da Nação Mais Favorecida (NMF), conforme esta cláusula, o tratamento dado a uma nação por outra deveria ser estendido a todas as outras nações, sendo assim, não podem ser concedidos benefícios para uma nação sem concedê-los às demais nações. Existe no âmbito do GATT uma excepcionalidade relacionada aos acordos regionais.
Outra característica diz respeito à proibição da utilização de restrições quantitativas aos produtos importados, que também podem ser aceitas no caso dos países apresentarem dificuldades para fechar suas contas externas. Além disso, os produtos importados depois de ingressarem no território nacional devem receber o mesmo tipo de tratamento que os nacionais. 
Até a atualidade, ocorreram nove rodadas de negociações do GATT: i) Genebra (1947); ii) Annecy (1949); iii) Torquay (1951); iv) Genebra (1956); v) Genebra – Rodada Dillon (1960-1961); vi) Genebra – Rodada Kennedy (1964-1967); vii) Genebra – Rodada Tóquio (1973-1979); viii) Genebra – Rodada Uruguai (1986-1994); ix) Doha (2001 - ?). Nas cinco primeiras rodadas as discussões giraram em torno da redução das tarifas. 
No período mais recente as negociações em termos de acordos multilaterais fluíram da seguinte forma: redução das barreiras tarifárias e discussões sobre o novo protecionismo; e criação de uma Organização Mundial do Comércio – OMC.
Com o passar do tempo, os baixos níveis das tarifas médias dos países industrializados, principalmente depois da Rodada Tóquio, demonstraram que o protecionismo havia se tornado mais complexo e sofisticado. Foram lançados os instrumentos tarifários conhecidos como novo protecionismo: restrições voluntárias às exportações; ações anti-dumping; subsídios às exportações; regulamentações técnicas e administrativas etc.
A oitava rodada do GATT, a Rodada Uruguai, resultou na criação de uma Organização Mundial do Comércio – OMC. A partir da Rodada do Uruguai caminhou-se nas discussões sobre a regulação de políticas domésticas dos governos nacionais que tivessem efeitos sobre o comércio internacional.
Os tratados da Rodada do Uruguai dizem respeito: i) à organização da OMC; ii) à agricultura; iii) ao comércio em serviços compreendendo telecomunicações, construção, transportes, turismo, serviços financeiros e serviços profissionais; iv) às medidas anti-dumping; v) aos subsídios e medidas compensatórias; vi) às salvaguardas; vii) às regras de origem; viii) valoração aduaneira; ix) aos têxteis e vestuário; x) às inspeções de pré-embarque; xi) à propriedade intelectual; xii) à resolução de disputas; xiii) às barreiras técnicas ao comércio; xiv) às medidas de investimento relacionadas com o comércio; xv) ao mecanismo de revisão de política comercial; e xvi) às medidas sanitárias e fitossanitárias.� 
A Rodada Uruguai não trouxe aos países em desenvolvimento os benefícios pretendidos em termos de acesso a mercados, nem sua integração ao fluxo do comércio internacional. Os benefícios da Rodada concentraram-se apenas nos países desenvolvidos.�
Apesar de intensamente discutidos, temas como anti-dumping, subsídios, têxteis, medidas de investimentos relacionadas ao comércio, estão sendo bloqueados pelos países desenvolvidos, principalmente os Estados Unidos, argumentando que tais temas só podem ser negociados no âmbito de uma nova rodada.
Durante a 4ª Conferência Ministerial da OMC, os países membros decidiram lançar uma nova rodada de negociações, a Rodada Doha, chamada de Agenda Doha para o Desenvolvimento. A Agenda Doha incluiu os seguintes temas: i) abertura de mercado; ii) capacitação tecnológica; iii) investimentos; iv) solução de controvérsias; v) endividamento mundial; vi) anti-dumping; vii) transparência comercial; viii) TRIPs (Acordo sobre Aspectos da Propriedade Intelectual Relativos ao Comércio); ix) GATS (Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços); x) agricultura e biodiversidade. Entre 2001 e 2008 aconteceram seis encontros, sem avanços na negociação em face dos impasses no que diz respeito, principalmente, as questões no setor agrícola. Os países ricos querem maior acesso aos mercados de bens e serviços dos países em desenvolvimento e os países em desenvolvimento querem mais acesso para seus produtos agrícolas dos países ricos.
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UNIDADE II – GLOBALIZAÇÃO�
Algumas considerações sobre o termo globalização
Ianni (2007) considera os aspectos do sistema de produção mundial como um movimento relevante do processo de globalização.
A globalização do mundo expressa um novo ciclo de expansão do capitalismo, como modo de produção e processo civilizatório de alcance mundial. Um processo de amplas proporções envolvendo nações e nacionalidades, regimes políticos e projetos nacionais, grupos e classes sociais, economias e sociedades, culturas e civilizações. Assinala a emergência da sociedade global, como uma totalidade abrangente, complexa e contraditória (IANNI, 2007, p.11).
O autor utiliza o termo globalismo para identificar as relações, os processos e as estruturas que configuram o contexto histórico-social atual. “São realidades sociais, econômicas, políticas e culturais que emergem e dinamizam-se com a globalização do mundo, ou a formação da sociedade global” (IANNI, 2007, p. 183).
Borja e Castells (1997) caracterizam a nova economia a partir de dois processos denominados: economia global e economia informacional.
Por economia global entendemos uma economia em que as atividades estrategicamente dominantes funcionam como unidade a nível planetário em tempo real ou potencialmente real [...] A economia global é também uma economia informacional. Quer dizer, uma economia na qual o incremento da produtividade não depende do incremento quantitativo dos fatores de produção e sim da aplicação de conhecimento e informação à gestão, produção e distribuição, tanto em processos, como em produtos. A geração e processamento estratégico de informação têm-se convertido em fatores essenciais de produtividade e competitividade na nova economia (BORJA e CASTELLS, 1997, p. 24).
Especificando melhor a economia global, Castells (2005, p. 143 e 173) a apresenta como:
Uma economia cujos componentes centrais têm a capacidade institucional, organizacional e tecnológica de trabalhar em unidade e em tempo real, ou em tempo escolhido, em escala planetária. [...] Ela não é planetária. [...] A economia global não abarca todos os processos econômicos do planeta, não abrange todos os territórios e não inclui todas as atividades das pessoas, embora afete direta ou indiretamente a vida de toda a humanidade.
Já Hirst e Thompson (1998) questionam a utilização dos termos globalização ou economia global para descrever a economia atual e preferem apresentá-la como uma economia altamente internacionalizada. Os autores contestam, entre outras, a argumentação de que as empresas são transnacionais, uma vez que, as empresas multinacionais ainda têm um vínculo muito forte com o país de origem, tanto em termos de produção como de comércio. 
Alguns autores, como Chesnais (1996, p. 24) consideram o termo mundialização melhor para caracterizar as transformações no sistema mundial. Considera que o termo globalização, que surgiu nas escolas americanas de administração de empresas, tem um conteúdo ideológico. “A palavra ‘mundial’ permite introduzir, com muito mais força do que o termo ‘global’, a idéia de que, se a economia se mundializou seria importante construir depressa instituições políticas mundiais capazes de dominar seu movimento”.
Wanderley (2003) apresenta uma discussão sobre os termos mundialização, globalização e internacionalização, destacando que existe uma interligação entre eles e que, em alguns momentos, eles são utilizados como sinônimos e em outros indicam realidades diferentes. Segundo o autor, a mundialização
Pode ser entendida como um processo de aumento gradativo de relações, contatos e fluxos que se estabeleceram entre povos os mais variados, ocupando regiões dispersas pelo mundo, nos campos econômico, político, cultural e religioso. Desde sempre esse processo foi tenso, repleto de tensões e conflitos. Pois, geralmente, tratava-se da imposição de uma civilização ou cultura à outra, com momentos, recorrentemente limitadíssimos, de aproximação e respeito às culturas diferentes. Neste sentido, a história da humanidade é um imenso repositório de tentativas dessa natureza, e os impérios de todos os matizes sempre o perpetraram. Certamente, sem esquecer as condicionantes de tempo e espaço, de conhecimento e tecnologia, que os atores em cada conjuntura histórica propiciaram, trazendo outros horizontes, visões de mundo, práticas que modificaram com intensidade as realidades circundantes (WANDERLEY, 2003, p. 1).
A internacionalização corresponde a um 
Processo de intensificação gradual ou acelerada das relações, contatos e fluxos, de toda a natureza, que se estabeleceram entre os Estados-nação, após o surgimento e legitimação do Estado moderno, potencializado pelo avanço do capitalismo. E, num segundo momento, pelo próprio socialismo. [...] A internacionalização pode ser entendida como o conjunto de relações interestatais e como o surgimento de instâncias supranacionais nas quais as decisões são tomadas fora do âmbito nacional (WANDERLEY, 2003, p. 4).
Quanto à globalização, o autor acrescenta ao conceito de Souza Santos (2005), a discussão de Beck (1999), de que “Globalização significa os processos, em cujo andamento os Estados nacionais vêem a sua soberania, sua identidade, suas redes de comunicação, suas chances de poder e suas orientações sofrerem a interferência cruzada de atores transnacionais”. O autor salienta ainda que a globalização “não é um processo de teor natural, mas se trata de uma política de globalização, delineada originalmente no espaço norte-americano [...]. Visa-se uma ditadura do mercado” (WANDERLEY, 2003, p. 11). 
Esta apresentação já demonstra o quanto o tema globalização é controverso e passível de diversas construções analíticas. A globalização (economia global, mundialização, entre outros termos utilizados para nomear o contexto atual) é considerada, pela maioria dos autores citados anteriormente, como um sistema em construção, um processo em marcha, sóisso, já demonstra a necessidade de certo cuidado na tentativa de atribuir conclusões definitivas sobre o tema. Sendo assim, optou-se nesta tese pela caracterização desse sistema mundial em construção, nomeando-o globalização, apesar das implicações inerentes ao termo.
Para Chesnay (1996) e Souza Santos (2005) o termo globalização não é neutro e sim é um termo carregado de conteúdo ideológico. Lança-se a idéia de, como se trata de um processo irreversível, é necessário adaptar-se o mais rápido possível a ele para ter a garantia de seus benefícios, aqueles que não vêem os benefícios é porque não se adaptaram. 
Wanderley (2009, p. 88-89) salienta que as próprias interpretações da globalização apresentam as contradições do termo. “Para alguns” a globalização “se constitui numa ‘nebulosa’, outros salientam a polêmica existente entre os céticos, para os quais ela não traz nada de novo e apenas acompanha um fenômeno histórico de longa duração e representa apenas uma fase do capitalismo, e os transformacionistas, para quem ela trouxe mutações na economia capitalista”. Para o autor, a globalização é um fenômeno relativamente novo, argumento reforçado por outros autores.
[...] Trata-se de um processo historicamente novo (distinto da internacionalização e da existência de uma economia mundial) porque somente na última década se constituiu um sistema tecnológico (telecomunicações, sistemas de informação interativos, transporte de alta velocidade em âmbito mundial para as pessoas e mercadorias que faz possível essa globalização). A informacionalização da sociedade, a partir da revolução tecnológica que se constituiu como novo paradigma operante na década de setenta, é a base da globalização da economia (CASTELLS apud WANDERLEY, 2009, p. 85).
Outra implicação na discussão sobre globalização é o fato dela assumir diversas dimensões: econômicas, sociais, políticas, culturais, entre outras, apresentando-se ainda de forma interligada. 
Apresentando uma caracterização da globalização hegemônica�, Wanderley (2009, p. 84) destaca que a globalização
compreende fenômenos multifacetados, com dimensões econômicas, políticas, culturais, sociais, religiosas e jurídicas e resulta, dentre múltiplas causas, da intensificação das interações transnacionais derivadas das mudanças robustas na divisão social do trabalho e na dinâmica do capitalismo das últimas décadas. E se, por um lado, ela universaliza o mercado, os meios de comunicação social, as transferências financeiras, as mudanças tecnológicas, as imigrações, o turismo, por outro lado, ela acentua nacionalismos, fundamentalismos, particularismos, divisões étnicas.
As discussões sobre a globalização vão desde a sua natureza e caracterização até as suas principais conseqüências no que diz respeito às relações de produção e financeiras, às relações sociais e do trabalho, ao papel do Estado nação. Nos aspectos gerais, Wanderley (2009, p. 87) apresenta algumas das principais conseqüências da globalização.
Para um grupo de especialistas, em oposição a umas poucas virtualidades positivas que essa globalização vem trazendo – rapidez no transporte, difusão da internet, avanços na biotecnologia e na medicina, contatos culturais -, constatam-se efeitos perversos (alguns dos quais no interior dos próprios países ricos e desenvolvidos), tais como: aumento da pobreza e da exclusão social; aumento das desigualdades sociais (entre as classes e os setores sociais em geral e entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos); desemprego estrutural; desindustrialização; etc.[...].
Não desconsiderando a importância da análise crítica destas dimensões, a proposta deste texto é discutir as principais características econômicas e políticas do processo de globalização. Para tanto, o texto apresenta descrições do conjunto de políticas adotadas pelos Estados nacionais e das práticas interestatais e capitalistas globais.
A dimensão econômica da globalização
Uma característica relevante da atualidade é que o sistema capitalista de produção mundializou-se. “[...] Pela primeira vez na história, todo o planeta é capitalista ou dependente de sua ligação às redes capitalistas globais” (CASTELLS, 2005, p. 202). Ao que parece quase todo o mundo está se transformando em capitalista, invadindo inclusive as economias centralmente planificadas. Um capitalismo com caráter global. 
Isto não significa que tudo o mais se apaga ou desaparece, mas que tudo o mais passa a ser influenciado, ou a deixar-se influenciar, pelas instituições, padrões e valores sócio-culturais característicos do capitalismo. Aos poucos, ou de maneira repentina, os princípios de mercado, produtividade, lucratividade e consumismo passam a influenciar as mentes e os corações de indivíduos, as coletividades e os povos (IANNI, 2003a, p. 184). 
Um fator central, em meio às características econômicas da globalização, é a internacionalização do capital. A movimentação internacional do capital se amplia, mas também muda a sua forma de reprodução. “[...] A mundialização deve ser pensada como uma fase específica do processo de internacionalização do capital e de sua valorização, à escala do conjunto das regiões do mundo onde há recursos ou mercados, e só a elas” (CHESNAIS, 1996, p. 32). 
O que parecia ser uma espécie de virtualidade do capitalismo como modo de produção mundial, tornou-se cada vez mais uma realidade do século XX; e adquiriu maior vigência e abrangência depois da Segunda Guerra Mundial. Sob certos aspectos, a Guerra Fria, nos anos 1946-89, foi uma época de desenvolvimento intensivo e extensivo do capitalismo pelo mundo. Com a nova divisão internacional do trabalho, a flexibilização dos processos produtivos e outras manifestações do capitalismo em escala mundial, as empresas, corporações e conglomerados transnacionais adquirem preeminência sobre as economias nacionais. Elas se constituem nos agentes e produtos da internacionalização do capital. Tanto é assim que as transnacionais redesenham o mapa do mundo, em termos geoeconômicos e geopolíticos muitas vezes bem diferentes daqueles que haviam sido desenhados pelos mais fortes Estados nacionais. [...] A dinâmica do capital, sob todas as formas, rompe ou ultrapassa fronteiras geográficas, regimes políticos, culturas e civilizações. Está em curso um novo surto de mundialização do capitalismo como modo de produção, em que se destacam a dinâmica e a versatilidade do capital como força produtiva (IANNI, 2003a, p.56 e 58).
Como o capitalismo se torna um modo de produção global e, conseqüentemente, a acumulação do capital depende de novas formas de organização das relações de produção e de trabalho desenvolve-se o que Ianni (2003a, 2003b e 2007) denomina “sociedade global”. “[...] Uma espécie de sociedade civil global em que se constituem as condições e as possibilidades de contratos sociais, formas de cidadania e estruturas de poder de alcance global” (IANNI, 2003a, p. 205). “A idéia central é a de que existe um sistema global com vida própria, independentemente das sociedades nacionais [...]” (BERGESEN apud IANNI, 2003a, p. 247). 
Nos seus aspectos econômicos, a globalização apresenta as seguintes características principais: forte intervenção do sistema financeiro na economia, as decisões de investimento se dão em escala global, “processos de produção flexíveis e multilocais”, redução dos custos de transportes, revolução tecnológica de informação e comunicação, desregulamentação das economias nacionais, domínio das agências financeiras multilaterais, “emergência de três grandes capitalismos transnacionais”: o americano (EUA e suas relações), o japonês (Japão e suas relações) e o europeu (União Européia e suas relações) (SOUSA SANTOS, 2005, p. 29).
[...] A globalização mudou a importância relativa dos fatores causadores de interdependência. A internacionalização é dominada mais pelo investimento internacional do que pelo comércio exterior, e portanto molda as estruturas que predominam na produção e no intercâmbio de bense serviços. Os fluxos de intercâmbio intracorporativo adquiriram importância cada vez maior. O investimento internacional é evidentemente acomodado pela globalização das instituições bancárias e financeiras, que têm o efeito de facilitar as fusões e aquisições transnacionais (OCDE apud CHESNAY, 1996, p. 26). [...] Essa definição é precedida pela observação de que os dois fatores principais que [...] aceleraram as mudanças nas formas de internacionalização [...] seriam, em primeiro lugar, “a desregulamentação financeira e o desenvolvimento, cada vez mais acentuado, da globalização financeira” e, em segundo lugar, “o papel das novas tecnologias que funcionam, ao mesmo tempo, como condição permissiva e como fator de intensificação dessa globalização” (CHESNAY, 1996, p. 26). 
Nos próximos itens serão tratados com mais detalhes as duas principais características da globalização econômica: a internacionalização financeira e a internacionalização produtiva.
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A internacionalização financeira
Uma particularidade do capitalismo global é o predomínio da esfera financeira no sistema econômico internacional. “A globalização dos mercados financeiros é a espinha dorsal da nova economia global” (CASTELLS, 2005, p. 147). “O mundo contemporâneo apresenta uma configuração específica do capitalismo, na qual o capital portador de juros� está localizado no centro das relações econômicas e sociais” (CHESNAIS, 2005, p. 35).
Os atores-chaves da internacionalização financeira� são instituições financeiras não bancárias, intituladas investidores institucionais�. “São fundos de pensão, fundos de aplicação coletivos e sociedades seguradoras, assim como empresas financeiras especializadas que gravitam em torno delas,” e “[...] bancos que administram sociedades de investimento. [...] Os investidores institucionais mais poderosos são norte-americanos” (CHESNAIS, 2005, p. 27 e 28).
A internacionalização financeira representa uma das características econômicas da globalização e é resultado da: i) desregulamentação dos mercados financeiros; ii) criação de uma infra-estrutura tecnológica e de telecomunicações; iii) inovação em produtos financeiros (desintermediação financeira)�; iv) movimentação de capitais especulativos, em busca de valorização ou, em alguns casos, procurando evitar perdas; v) classificação dos mercados pela firmas de avaliação de risco, certificando as economias nacionais (CASTELLS, 2005).
O principal impacto da internacionalização financeira é o aumento da vulnerabilidade externa dos países receptores desses capitais. As políticas monetárias e a taxa de juros destas economias ficam condicionadas a movimentação deste tipo de capital, cuja movimentação não está necessariamente relacionada às condições reais das economias.
[...] É o desempenho do capital nos mercados globalmente interdependentes que decide, em grande parte, o destino das economias em geral. Esse desempenho não depende inteiramente de normas econômicas. Os mercados financeiros são mercados, mas tão imperfeitos que só atendem parcialmente às leis da oferta e da procura. Os movimentos nos mercados financeiros são o resultado de uma combinação complexa de leis de mercado, estratégias empresariais, regulamentos de motivação política, maquinações de bancos centrais, ideologia de tecnocratas, psicologia de massa, manobras especulativas e informações turbulentas de diversas origens (SOROS apud CASTELLS, 2005, p. 147).
Conforme IANNI (2003a), organiza-se um sistema financeiro internacional, a partir de pressões das economias dominantes e sob a direção do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) ou Banco Mundial.
O curso da mundialização financeira foi marcado por uma sucessão de crises financeiras cujos efeitos econômicos e sociais se agravaram a cada vez. É impossível ter uma compreensão correta e completa a não ser que as vinculemos ao incessante movimento da finança para tentar forçar o ritmo da apropriação da riqueza suscetível de ser drenada para os centros financeiros. A raiz das crises financeiras, mas também de forma mais geral do que chamamos fragilidade sistêmica, encontra-se no volume extremamente elevado dos créditos sobre a produção futura que os possuidores de ativos financeiros consideram poder pretender, assim como na “corrida por resultados” que os administradores dos fundos de pensão e de aplicação financeira devem praticar (CHESNAY, 2005, p. 62).�
Esta primeira abordagem tratou das características da internacionalização do capital financeiro, aquele que busca retorno nos mercados financeiros dos países. Concomitante a este processo, ocorre a internacionalização do capital produtivo, aquele que busca retorno na atividade produtiva. Como são capitais com características diferentes os seus determinantes também são diferentes, mas nos dois casos, o aumento da vulnerabilidade externa dos países receptores destes capitais parece ser uma constante.
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A internacionalização da produção
Uma segunda característica econômica da globalização é a internacionalização do capital. “[...] O processo de internacionalização do capital é, simultaneamente, um processo de formação do capital global, entendido como uma forma nova e desenvolvida do capital em geral” (IANNI, 2003a, p. 68).
O capitalismo como forma de produção deixa de ser somente internacional para se tornar efetivamente global. “Intensificou-se e generalizou-se o processo de dispersão geográfica da produção, ou das forças produtivas, compreendendo o capital, a tecnologia, a força de trabalho, a divisão do trabalho social, o planejamento e o mercado” (IANNI, 2003a, p. 57). 
A internacionalização da produção pode ser entendida como a intensificação das relações comerciais entre os países e dos investimentos diretos� efetuados pelas empresas transnacionais, movimentos que viabilizam o acesso a uma maior diversidade de bens produzidos em diferentes países. Para Chesnay (1996), a fase atual da internacionalização se caracteriza pelo predomínio do investimento estrangeiro direto em relação ao comércio internacional e, quando se qualifica o comércio internacional de manufaturados, observa-se o predomínio do comércio intra-indústria�. Neste contexto, as empresas transnacionais destacam-se como os atores promotores do processo de internacionalização da produção, uma vez que são elas as responsáveis pela maior parte do comércio intra-indústria e pela mobilização dos investimentos produtivos em escala global.
O fato de o comércio internacional ter sido suplantado pelo investimento direto não elimina a importância desta atividade. O comércio ainda representa um elemento “fundamental da nova economia global”. O comércio internacional cresceu “tanto em volume quanto em percentagem do PIB, tanto para países desenvolvidos quanto para países em desenvolvimento”. A dimensão comercial da nova economia global pode ser caracterizada a partir dos seguintes elementos: i) apesar da concentração nos países desenvolvidos, há uma representatividade cada vez maior dos países em desenvolvimento; ii) “transformação setorial”; iii) combinação entre políticas de livre comércio e integração regional; iv) “formação de uma rede de relações comerciais entre firmas, atravessando regiões e países” (CASTELLS, 2005, p. 147 e 148).
Durante a década de 1990, houve um processo acelerado de internacionalização de produção, da distribuição e da administração de bens e serviços. Esse processo compreendia três aspectos inter-relacionados: o aumento do investimento estrangeiro direto, o papel decisivo dos grupos empresariais multinacionais como produtores na economia global e a formação de redes internacionais de produção (CASTELLS, 2005, p. 158).
O investimento direto se tornou mais importante que o comércio de bens e serviços. “Em 1992, o estoque de investimento externo direto era de 2 trilhões de dólares. As multinacionais que controlavam esse estoque eram responsáveis por vendas de 5,5 trilhões de dólares.Isto era muito mais do que o total do comércio mundial equivalente a 4 trilhões, em 1992” (HIRST e THOMPSON, 1996, p. 90 e 91). Entre 1983 e 1990, os fluxos de investimento externo direto cresceram a uma taxa anual de 34%, enquanto o comércio cresceu 9% ao ano (OCDE apud HIRST e THOMPSON, 1996).
Quanto à distribuição do investimento direto entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento, observa-se o crescimento da participação relativa dos países em desenvolvimento, mas o maior volume encontra-se nos países desenvolvidos. Estas informações não eliminam a constatação de que existe uma concentração geográfica do investimento externo direto em um grupo de poucos países. “A América do Norte, a Europa e o Japão dominam tanto as origens quanto os destinos dos investimentos internacionais”� (HIRST e THOMPSON, 1998, p. 106). 
A maioria das ações das (FDI)� estão concentradas em economias desenvolvidas, ao contrário dos períodos anteriores, e essa concentração cresceu com o passar do tempo: em 1960, as economias desenvolvidas representavam dois terços das ações dos FDI; em fins da década de 1990, sua fatia crescera para três quartos. Contudo, o padrão dos fluxos dos FDI (ao contrário das ações) diversifica-se cada vez mais, com os países em desenvolvimento recebendo uma fatia cada vez maior desses investimentos, embora ainda significativamente menor que a das economias desenvolvidas (CASTELLS, 2005, p. 158 e 159).
A maior representatividade do investimento direto estrangeiro tem como paralelo a proeminência das empresas transnacionais, que são as principais responsáveis por este tipo de investimento.
A internacionalização produtiva repercute na emergência de uma classe capitalista transnacional, “cujo campo de reprodução social é o globo”. A principal representante desta classe capitalista transnacional é a empresa multinacional. “Esta nova classe é composta por um ramo local e por um ramo internacional”. O ramo local é composto pelos “diretores de empresas, altos funcionários do Estado, líderes políticos e profissionais influentes”, uma “elite empresarial”. Já o ramo internacional é composto “pelos gestores das empresas multinacionais e pelos dirigentes das instituições financeiras internacionais” (SOUZA SANTOS, 2005, p. 32). 
Os FDI estão associados à expansão das empresas multinacionais como principais produtoras da economia global. Os FDI costumam assumir a forma de fusões e aquisições nas economias desenvolvidas e, cada vez mais, também no mundo em desenvolvimento. [...] As multinacionais (MNC) são a principal fonte de FDI. [...] As subsidiárias internacionais das MNC financiam seus investimentos com verbas de diversas fontes, entre elas empréstimos em mercados locais e internacionais, subsídios de governos e co-financiamentos de empresas locais. As MNC, e suas redes vinculadas, são o vetor da internacionalização da produção, da qual a expansão dos FDI é apenas uma manifestação. De fato, a expansão do comércio mundial é, em geral, resultado da produção das MNC, já que elas representam cerca de dois terços do comércio mundial, incluindo-se nessa fração um terço do comércio mundial entre filiais do mesmo grupo empresarial (CASTELLS, 2005, p. 159-160).
Esta constatação lança uma questão fundamental em relação às empresas multinacionais - o questionamento sobre se estas empresas realmente são transnacionais ou se na realidade, apesar da nova configuração econômica, continuam sendo empresas multinacionais.
Até que ponto essas empresas multinacionais são nacionais? Existe uma marca persistente de sua matriz nacional no pessoal do alto escalão, na cultura empresarial e na relação privilegiada com o governo de seu país-natal. Contudo, há inúmeros fatores que configuram o caráter cada vez mais multinacional dessas empresas. As vendas e os lucros das afiliadas estrangeiras representam uma proporção substancial dos ganhos totais de cada empresa, em especial das empresas estadunidenses. O pessoal de alto nível não raro é recrutado tendo-se em mente sua familiaridade com cada ambiente específico. E os melhores talentos são promovidos dentro da cadeia de comando da empresa, seja qual for sua origem nacional, contribuindo assim para uma mistura multicultural cada vez maior nos mais altos escalões. Os contatos empresariais e políticos ainda são fundamentais, porém são específicos do contexto nacional onde a empresa opera. Assim, quanto maior a globalização da empresa, maior será seu espectro de contatos empresariais e conexões políticas, segundo as condições de cada país. Nesse sentido, são empresas multinacionais, e não transnacionais. Isto é, têm múltiplos vínculos nacionais, em vez de serem indiferentes à nacionalidade e aos contextos nacionais (CASTELLS, 2005, p. 162-163).
A defesa de que estas empresas não são transnacionais, principalmente porque mantêm vínculos com os seus países de origem, é reforçada por outros autores. 
Hirst e Thompson (1998) levantaram informações sobre a extensão e a natureza dos negócios internacionais, para saber onde as multinacionais desenvolvem suas atividades e se existem características diferentes entre os países e entre as empresas do setor industrial e do setor de serviços. A partir das análises, os autores concluíram que:
A natureza da atividade multinacional em todas as dimensões observadas, orientada para o país de origem, parece dominante. Assim, as multinacionais ainda contam com sua “base de origem” como o centro de suas atividades econômicas, apesar de todas as especulações sobre globalização. A partir desses resultados estamos certos de que, no conjunto, as empresas internacionais ainda são predominantemente multinacionais e não transnacionais. [...] Apesar da centralidade comum no país de origem [...], a atividade remanescente dos agrupamentos de países é bem diversa. Ou seja, as multinacionais de diferentes países realmente operam em diferentes áreas em medidas diversas. As multinacionais não são todas iguais em termos de expansão geográfica de sua atividade em territórios fora do país de origem (HIRST e THOMPSON, 1998, p. 146 e 149).
Chesnay (1996) apresenta um levantamento das definições de multinacionais, destacando a definição de Michalet, para quem as empresas transnacionais correspondem a empresas (ou grupos) de grande porte que possuem filiais em vários países e que desenvolvem estratégias globais e se organizam em escala mundial.
Esta definição permanece útil em vários aspectos; ela lembra que a companhia multinacional invariavelmente começou por se constituir como grande empresa no plano nacional, o que implica, ao mesmo tempo, que ela é resultado de um processo, mais ou menos longo e complexo, de concentração e centralização do capital, e que, freqüentemente, se diversificou, antes de começar a se internacionalizar; que a companhia multinacional tem uma origem nacional, de modo que os pontos fortes e fracos de sua base nacional e a ajuda que tiver recebido de seu Estado serão componentes de sua estratégia e de sua competitividade; que essa companhia é, em geral, um grupo�, cuja forma jurídica contemporânea é a de holding internacional; e por fim, que esse grupo atua em escala mundial e tem estratégias e uma organização estabelecidas para isso (CHESNAY, 1996, p. 73).
Outra característica marcante da internacionalização da produção é o fato de que as empresas multinacionais organizam-se em rede. “Cada vez mais, a produção global de bens e serviços não é realizada por empresas multinacionais, porém por redes transnacionais de produção, das quais as empresas multinacionais são componentes essenciais, porém componentes que não funcionariam sem o resto da rede”� (CASTELLS, 2005, p. 163).
Na base da internacionalização do capital estão a formação, o desenvolvimento e a diversificação do que se pode denominar “fábrica global”. [...] A fábrica global [...] expressa não só a reprodução ampliada do capital em escala global, compreendendo a generalização das forças produtivas, mas expressa também

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