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J Rodolfo S Martins Estruturas de Descarga 1/15 CAPÍTULO 4 VERTEDOUROS E ESTRUTURAS DE DESCARGA 1 INTRODUÇÃO Os termos ‘vertedouro’ ( ou vertedor), ‘sangradouro’ e ‘descarregador’ são genericamente utilizados para designar as estruturas de condução das vazões excedentes que afluem à uma barragem. Podem ser considerados como estruturas que contribuem com a finalidade principal da obra, mas são é essenciais para garantir sua segurança. Como mencionado no capítulo anterior, os vertedouros são projetados para descarregar a vazão de projeto da estrutura (CMP ou cheia máxima de projeto) de forma a impedir o galgamento da crista quando da ocorrência de cheias extremas. Os descarregadores para barragens podem assumir diferentes formas, de acordo com o principio de funcionamento esperado, conforme ilustra a Tabela 1 e as fotografias comentadas nas próximas páginas. Tabela 1: Principais estruturas utilizadas como descarregadores em barragens Tipo Características Superfície Soleira delgada linear Soleira delgada estendida Soleira ogival retilínea Soleira curvilínea seguida de poço De fundo Adufa Galeria Misto Parte do escoamento se dá pela soleira livre e parte pelo fundo. Figura 1: Vertedouro seguido do canal rápido da UHE de Itaipu Figura 2:Vertedouro com comportas da UHE Chavantes Figura 3: Extravasor em soleira circular seguido de poço (Barragem do Biritiba) Figura 4: Vertedouro com soleira orival retilínea da Barrage do Rio Claro Figura 5: Descarregador com soleira tipo tulipa seguida de poço da Barragem Euclides da Cunha Figura 6: Vertedouros com e sem comportas na UHE Salto Grande PHD2416 Notas de Aula 2/15 Estruturas de Descarga Figura 7: Vertedouro em soleira livre retiínea com ogiva do tipo normal Figura 8: Vertedouro com paramento inclinado seguido de ogiva e comorta – Barragem Euclides da Cunha Figura 9: Vertedouro de Superfície e descarregador de fundo na Barragem Edgard de Souza (2001) Figura 10: Soleira estendida tipo labirinto de múltiplos ciclos Figura 11: Vertedouro livre com ogiva tipo normal seguida de escada dissipadora – Barragem do Peão Figura 12: Descarregador tipo adufa Uso de comportas em barragens O uso de comportas em descarregadores apresenta nítidas vantagens econômicas e operacionais, acrescentando também ônus e obrigações operacionais e de manutenção, que muitas vezes implicam em importantes custos. As comortas em geral permitem reduzir ou eliminar a parcela da altura de passagem da cheia de projeto (carga sobre a soleira quando é descarregada a vazão correspondente à cheia de projeto ou CMP), uma vez que a comporta pode ser operada para manutenção do nível d água máximo normal. Pode-se dizer que uma barragem com comportas pode até mesmo ter seu nível máximo normal igualado ao nível máximo maximorum, situação esta que ocorre quando as comportas estiverem totalmente abertas. Na Figura 13 pode-se observar que para o mesmo NA máximo normal, a barragem com comportas resulta menor em altura (cota da crista pode ser mais baixa) e na base, o que resulta em economia em termos estruturais. A dissipação de energia quando feita por bacia de dissipoção pode ser alterada em função dos efeitos provocados pela abertura parcial das comportas, como será comentado no próximo capítulo. J Rodolfo S Martins Estruturas de Descarga 3/15 O uso de comportas implica, no entanto, em diversas imposições operativas, como a necessidade de que a estrutura seja permanentemente assistida, com operadores sempre disponíveis, além de rotinas de testes e manutenções preventivas frequentes. Tais aspectos devem sempre ser ponderados antes da opção pelo uso de comportas. Figura 13: Comparação da barragem com e sem comportas Em geral, a grande preocupação dos projetistas e órgãos de licenciamento e gestão se dá com as bacias pequenas, sujeitas aos flash floods (cheias rápidas) nas quais o tempo de resposta operacional da estrutura possa não ser suficientemente ou então que a estrutura apresente problemas mecânicos, falta de alimentação de energia ou mesmo algum impedimento de acesso que limite o comando da comporta. As principais recomendações objetivas sobre o uso de comportas podem ser encontradas no Manual de Inventário Hidrelétrico (MME, 2007) e no manual de ‘Critérios de Projeto’ (ELETROBRÁS, 1995). O Vertedouro será projetado de maneira a conduzir as vazões de cheia restituindo as a jusante em condições de segurança para a barragem e sem perturbações de nível prejudiciais à operação da usina. Seu dimensionamento será fruto de análise econômica que considere alternativas com e sem comportas e suas quantidade e dimensões mais adequadas. Nos vertedouros controlados por comportas, serão previstas no mínimo duas comportas. O manual recomenda a aplicação da Eq. 1, na qual R é a velocidade de subida do nível no reservatório em m/h, Q é a vazão de pico da cheia (m3/s) e A a área do reservatório em m². Eq. 1 A QR 3600= Nos aproveitamentos onde R seja maior do que 2 m/h deverá ser adotado vertedouro livre sem comportas ou, mediante justificativa, um sistema de comportas automático ou ampliada a borda livre da barragem, considerando o tempo limitado para decisões de operações de correção das panes. Deve-se observar ainda que a legislação de alguns países obriga todas as barragens a disporem de descarga de fundo de forma a permitir o manejo do reservatório para fins de controle de suas condições ambientais (circulação para troca da água) e eventualmente permitir o esvaziamento do mesmo em caso de necessidade. Estas imposições devem ser levadas em conta na decisão sobre o emprego de comportas. Seleção do tipo de vertedouro A escolha do tipo de vertedouro depende basicamente do tipo de arranjo adotado para as estruturas, sendo o caso genérico o posicionamento do vertedouro em uma das ombreias com a aproximação e a restituição na forma de canal apoiado sobre o terreno (Figura 15, CORTE A-A NA res. h máx. canal p h sol. 1 1,5 Lsol. hc 1,5 1 L pedra h NA rio Figura 14) . Vales largos com ombreiras suáveis permite a utilização de canais laterais com o vertedouro em forma de crista posicionado nas ombreiras. Vales estreitos sugerem muitas vezes a utilização de vertedouros com crista seguida de poço, como as tulipas. Estruturas de concreto quase sempre permitem o posicionamento do vertedouro sobre a estrutura principal, como é muito frequente nas barragens em concreto compactado a rolo (CCR), mas o mesmo também pode ser feito sobre aterros compactados. Em geral o uso de descarregadores de fundo é mais frequente nos reservatórios que precisam ser esvaziados em suas operações normais, sendo o caso das barragens cuja finalidade principal é o controle das inundações nos valões situados a jusante. A melhor solução dependerá das condições topográficas e geológico-geotécnicas de cada local, as quais condicionam a definição do arranjo geral das obras e da vazão de projeto do vertedouro CORTE A-A NA res. h máx. canal p h sol. 1 1,5 Lsol. hc 1,5 1 L pedra h NA rio Figura 14: Vertedouro em canal lateral seguido de escada dissipadora (ELETROBRÁS, 2000) canal extravasor soleira afogada escada de pedra barragem A A PLANTA PHD2416 Notas de Aula 4/15 Estruturas de Descarga Figura 15: Arranjo esquemático genérico de uma barragem com vertedouro de superfície em canal lateral (DAEE, 2005) Figura 16:Vertedouro em canal Lateral típico em vales estreitos (Foz do Areia) (MME, 2007) Figura 17: Vertedouro livre sobre a crista do barramento em CCR (MME, 2007)Figura 18: Vertedouro em vale largo (Tucurui) (MME, 2007) Figura 19: Arranjo típico em vale estreito ‘inspirador de Itaipu’. (USBR, 1987) Figura 20: Descarregador em soleira lateral posicionado na ombreira (USBR, 1987) Figura 21: Descarregador em poço tipo ‘tulipa’ seguido de galeria de concreto sob a barragem e bacia de dissipação. J Rodolfo S Martins Estruturas de Descarga 5/15 Figura 22:Vertedouro posicionado ao lado da casa de força (Tamada, 1994) Para arranjos com que tenham trechos de vazão reduzida entre a barragem e a descarga das estruturas principais de vertimento ou do canal de fuga devem ser previstos descarregadores ou válvulas de fundo para garantir as vazões ecológicas, ambientais ou sanitárias. A utilização de descarregadores de fundo somente deve ser considerada se condicionamentos de jusante requererem descargas em condições que não possam ser atendidas pelo vertedor de superfície.(MME, 2007) De acordo com as recentes diretivas brasileiras para construção e segurança de barragems (ANA, 2015), nas barragens de aterro e enrocamento, o vertedouro deve ser implantado independente do corpo da barragem quando o mesmo for em canal ou em túnel, devendo garantir-se que a descarga e dissipação de energia seja efetuada suficientemente afastada do corpo da barragem. Em barragens de concreto, os vertedouros podem ser incorporados no corpo da barragem, sendo classificados em: superfície, de meio-fundo ou de fundo, em função da sua posição relativamente ao reservatório. Nos vertedouros controlados por comportas, devem ser previstas, no mínimo, duas comportas. No caso de barragens de aterro, o recurso a comportas ou a túneis em vertedouros só se justifica, quando tal conduza a uma significativa economia. Os vãos dos vertedouros com soleira livre ou controlado por comportas devem ter dimensões amplas, que reduzam o risco de obstrução por objetos flutuantes de grande dimensão, em especial quando as zonas da bacia hidrográfica mais próximas do reservatório se apresentem significativamente florestadas. 2 ASPECTOS HIDRÁULICOS Sob o ponto de vista hidráulico, os vertedouros podem ser considerados como: • Superfície (livre frontal com ou sem ou comportas) • Descarregadores em poço seguido de galeria • Fundo Soleira Livre Frontal A soleira livre frontal é aplicada geralmente sobre o paramento da barragem ou ao final de um canal de aproximação e presta-se a qualquer tipo de vale. Pode-se afirmar que é a estrutura mais utilizada pela sua relativa simplicidade construtiva e operacional, além de fácil manutenção. Figura 23:Vertedouro posicionado no topo da estrutura de CCR (Barragem Itans-RN) Figura 24: Vertedouro de superfície posicionado sobre um maciço compactado (Barragem Paraitinga-SP) A geometria da soleira segue a forma denominada de ‘ogiva normal’, por basear-se na curva formada pela queda do jato a partir de uma parede plana e no qual a vazão é função da carga h sobre a soleira. A face inferior do jato é substituída pela estrutura de concreto que forma a ogiva, daí o nome soleira normal. A geometria mais famosa é a denominada Creager (USBR, 1987) composta por três arcos de círculo a montante da crista e uma curva exponencial a jusante até a concordância com o paramento retilíneo que forma o canal de descarga ou ‘rápido’. Figura 25: Geometria típica da soleira normal (USBR, 1987) PHD2416 Notas de Aula 6/15 Estruturas de Descarga Figura 26: Detalhe do perfil vertente tipo Creager (USACE, 1987) Figura 27: Soleira normal com paramento vertical A capacidade de descarga das soleiras livres é dada pela expressão da Eq. 2, na qual Hd é a carga de projeto e L é comprimento ou extensão da crista. O coeficiente CQ é obtido em função da geometria da crista, sendo detalhadamente documentado nos manuais de hidráulica do USBR ou USACE. Em geral o coeficiente CQ é função da relação H/Hd. A Carga de projeto é aquela obtida pela diferença entre o nível d’água máximo maximorum e a crista da soleira, definidos na etapa de cálculo da altura da barragem. Eq. 2 5,1 5,12 d dQ CLHQ HgLCQ = = Figura 28: Coeficiente de Descarga para soleira normal USBR (Creager) Figura 29: Coeficientes de descarga para soleiras normais (USBR, 1987) A prática tem mostrado que este tipo de soleira, por apresentar mudanças bruscas de curvatura, pode induzir à criação de zonas de baixas pressões que favorecem a ocorrência dos fenômenos de cavitação o surgimento de condições favoráveis para erosões nas estruturas, como ilustrado adiante.Por conta deste fato mais recentemente foram estudadas geometrias para a ogiva vertente que mantem uma variação de curvatura constante, como o perfil leminiscata, que tem equação da forma J Rodolfo S Martins Estruturas de Descarga 7/15 Eq. 3 Figura 30: Perfil leminsicata baseado no perfil Creager (Kanashiro, 1989 apud (Kohn, 2006) O efeito dos pilares existentes sobre a crista deve ser considerado, em função do descolamento do fluido que, na prática, reduz a extensão útil da crista. Eq. 4 Nesta expressão L é a largura efetiva, L' a largura útil (m); Ka, o coeficiente de contração das ombreiras, Kp, o coeficiente de contração dos pilares, n é o número de pilares; e He a carga sobre a crista. Os valores de Kp e Ka podem ser estimados a partir das curvas indicadas nos gráficos da Figura 33. Figura 31: Pilares na crista do vertedouro (Belo Jardim _PE) Figura 32: Efeito dos pilares no vertedouro (de Arauz, 2005) Figura 33: Coeficientes de contração dos pilares para geometria circular (USACE, 1987) Quando o vertedouro tem comportas, a descarga através das aberturas parciais podem ser estimada pela expressão da Eq. 5, onde Cd é o coeficiente de descarga , G0 a abertura da comporta (ver figura) L’ a largura geométrica útil (definida anteriormente) e He a carga sobre a crista. Observa-se que nesta equação há uma mudança na lei típica de controle, que passa a ser função da carga ao expoente ½ (Figura 34) Eq. 5 ed gHLGCQ 2 ' 0= PHD2416 Notas de Aula 8/15 Estruturas de Descarga Figura 34: Curva de descarga para aberturas parciais e total de um vertedouro de superfície Figura 35: Coeficientes de descarga para aberturas parcials de comportas tipo segmento (USACE, 1987) Em muitos casos pode ser interessante o uso do paramento de montante inclinado, por questões construtivas ou de estabilidade (Figura 36). Nestas situações, os coeficientes de descarga são afetados em função da alteração do comportamento das pressões no contato entre a face inferior do jato e o perfil vertente (Figura 38). A ocorrência de pressões negativas pode ser prejudicial à estrutura de concreto, uma vez que valores instantâneos muito baixos podem aproximar-se da pressão de vapor da água e ocasionar a formação de bolhas de vapor que tenderão a desaparecer nas regiões de alta pressão. Como este efeito pode ocorrer próximo ao contato com o concreto, as elevadas tensões de tração geradas podem ocasionar o chamado efeito de erosão por cavitação (Figura 39). Figura 36: Configurações do paramento inclinado a montante (USBR, 1987) Figura 37: Diagrama de pressões sub atmosféricas (negativas) sobre o perfil vertente J Rodolfo S Martins Estruturas de Descarga 9/15 Figura 38: Correção dos coeficientes de descarga em função da inclinação do paramento de montante (USBR, 1987) Figura 39: Erosões a jusante dos blocos dissipadores na UHE Porto Colombia Soleira Livre Estendida (Labirinto) A possibilidade de expandir a crista da soleira vertente deu origem ao quese denomina vertedouro de soleira estendida que, por causa do formato, também se conhece como vertedouro ‘labirinto’. O objetivo deste tipo de soleira é aumentar a extensão da crista de forma a reduzir ou limitar a variação de nível d´água nos reservatórios quando da passagem das cheias. Também são empregados quando se pretende aumentar a capacidade de descarga de uma soleira existente (cuja extensão B já está limitada) conforme ilustra a Figura 41. Figura 40: Soleira tipo labirinto da Barragem UTE (apud (Kohn, 2006) Figura 41: Vertedouro auxiliar da barragem Hyrum (Houston, 1983 apud (Oliveira, 2004) A soleira típica consiste na reprodução de ciclos de extensão de crista L = 4ª + 2b, conforme indica a figura a seguir. Segundo Hay & Taylor (1970) (Oliveira, 2004), a capacidade de descarga pode ser computada a partir do comprimento linear e da equação básica da descarga livre sobre soleiras ( Eq. 6). O coeficiente de descarga pode ser obtido dos estudos e de observações mais recentes, como mostra a Figura 44 e também a Figura 45. Figura 42: geometria típica do vertedouro labirinto (Roselli, 2012) Figura 43: Detalhes da soleira típica (Falvey, apud (Roselli, 2012) Eq. 6 PHD2416 Notas de Aula 10/15 Estruturas de Descarga Figura 44: Coeficiente de descarga para soleiras tipo labirinto (Darvas, 1970 apud (Kohn, 2006) O estudo mais recente, apresentado por Tullis et all (apud (Kohn, 2006) utiliza a Eq. 7 Eq. 7 Figura 45: Coeficientes de descarga para a soleira labirinto Tullis at all, apud (Kohn, 2006) O vertedor tipo labirinto é vantajoso para obras hidráulicas em áreas urbanas (bacias para contenção de enchentes (piscinões), atualizações do sistema de extravasão de lagos e represas), quase sempre limitadas pela falta de espaço e disponibilidade de níveis d’água mais altos e principalmente para os pequenos aproveitamentos hidrelétricos, nos quais a elevação do nível d´água aumenta os problemas gerados pela inundação de áreas produtivas ou ambientalmente sensíveis. Descarregadores em Poço O uso dos descarregadores em poço é muito interessante em vales estreitos ou quando a estrutura de descarga é independente da barragem, como no caso das barragens de terra ou enrocamento. Em geral, a estrutura de captação localiza-se em um ponto adequado e descarrega para jusante através de um túnel, que pode ter sido originado da escavação para o desvio durante a construção ou anda para passagem de tubulações. Figura 46: Descarregador em poço com emboque normal e tipo ‘tulipa’ (MARQUES, 2013) Figura 47: Descarregador em poço com emboque tipo tulipa (Fais, 2007) Figura 54: Tulipa na Barragem do Rio Atibainha (fonte: SABESP) Estes vertedouros são também conhecidos com o nome de ‘tulipa’, pelo formato da boca de tomada, que segue o desenho da face inferior do jato do jato em queda livre, ajustando-se ao poço de descarga. Figura 48: Extravasor com emboque tipo tulipa na barragem do Chasqueiro (RS) J Rodolfo S Martins Estruturas de Descarga 11/15 Figura 49: Extravasor tipo tulipa com tiunel de descargam compartilhado durante o desvio - Barragem do Biritiba (SP) Figura 50: Arranjo típico de uma barragem com extravasor em poço tipo tulipa Figura 51: Vertedouro em poço com parede vertical Figura 52: Geometria do vertedouro tipo ‘tulipa’ (Raimundo, 2007) Esta estrutura é apropriada para descarga de vazões não muito elevadas (as experiências vão até 1.000 m3/s) e em função da altura (até 100m) exigem boas condições de fundação. Pelo formato esbelto, esta solução não é indicada em regiões com sismos e também em locais onde existe presença de material flutuante carreado pelas cheias, como tronco de arvores. Recomenda-se ainda aproveitar a estrutura de desvio como galeria de descarga definitiva como forma de reduzir os custos globais. O funcionamento hidráulico do sistema é complexo por admitir diversas formas de controle, como ilustra a Figura 53, que resultam em uma curva de capacidade de descarga composta, como indicado na Figura 54. Figura 53: Situações típicas de controle do vertedouro em poço(USBR, 1987) PHD2416 Notas de Aula 12/15 Estruturas de Descarga Figura 54: Curva de descarga típica do descarregador em poço (USBR apud (Roselli, 2012) Na figura acima, a descarga pode se dar sob o controle da crista (tipo soleira livre) e na medida em que o escoamento aumenta, passar para o poço (tipo orifício horizontal), até que ocorra o preenchimento total do túnel, situação esta em que o conjunto opera como uma tubulação forçada. Desta forma, recomenda-se que a capacidade de descarga do poço e do túnel seja sempre superior à da crista, de forma à não interferir no controle do escoamento. Também é recomendada a adoção de sistemas de aeração de forma a garantir que o escoamento no túnel seja livre Figura 55: Aeração para garantir escoamento livre no túnel (Fais, 2007) Descarga pode ser estimada a partir da Eq. 8, na qual C é o coeficiente de descarga conforme indica Figura 56. Eq. 8 5,1)2( dHRCQ π= Figura 56: Coeficiente de descarga C para o poço com emboque tipo tulipa (USBR, 1987) O diâmetro do poço pode ser estimado pela expressão da Eq. 9, na qual Q e H são, respectivamente a vazão e a carga na seção inicial do poço. Eq. 9 4 1 2 1 408.0 H QD = Descarregadores de fundo Os descarregadores de fundo são estruturas que funcionam sob pressão, segundo o mesmo princípio dos orifícios. Sua utilização depende da geometria e forma do aproveitamento e muitas vezes podem combinar as descargas de serviço para abastecimento irrigação e perenização dos rios com a descarga de cheias. Exemplos de grandes aproveitamentos com descarregadores de fundo são as barragens do Sobradinho (PE), Jupiá (SP) e Edgard de Souza. Os descarregadores podem ser incorporados à barragem ou ter suas vazões conduzidas através de galerias. Nestes casos, o comportamento das mesmas é semelhante ao dos bueiros, apresentando diversos controles do escoamento. A principal atenção a ser dada aos descarregadores de fundo diz respeito à formação de vórtices com entrada de ar e arraste de material flutuante para o interior da galeria de jusante. Figura 57: Descarga de fundo seguida de galeria (USBR, 1987) J Rodolfo S Martins Estruturas de Descarga 13/15 Figura 58: Descarregador de fundo incorporado à barragem (Bacaltchuk Sobrinho, ??) Figura 59: Descarregador de fundo em galeria sob a barragem (USBR, 1987) Figura 60: Descarga de fundo seguida de galeria associada com um vertedouro tipo poço vertical (Tabacundo) Figura 61: Comportamento do escoamento segundo a descarga na galeria(Raimundo, 2007) Figura 62: Descarregador de fundo da barragem Edgard de Souza (SP) e arraste de material flutuante. Figura 63: visualização em modelo reduzido da formação de vótices no descarregador de fundo da barragem Edgard de Souza (1983, CTH-USP) PHD2416 Notas de Aula 14/15 Estruturas de Descarga A perda de carga nas entradas tipicamente utilizadas em descargas de fundo podem ser estimadas a partir de (USACE, 1987) padrões estudados em modelo hidráulico. Eq. 10 Na Eq. 10 Ke é o coeficiente de perda localizada, que pode ser estimado pela tabela a seguir. Figura 64: Coeficientes de Perda localizada em entradas padronizadas (USACE, 1987) J Rodolfo S Martins Estruturas de Descarga 15/15 REFERÊNCIAS ANA, 2015, Guia para a Elaboração de Projetos de Barragens: Manual do Empreendedor, v. 5: Brasília, DF, Agência Nacional e Águas, 194 p. Bacaltchuk Sobrinho, J., ??, SOLUÇÕES DEARRANJOS VISANDO A ECONOMIA E A REDUÇÃO DE PRAZOS NO PROJETO E CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS DE CONCRETO COMPACTADO COM ROLO. DAEE, 2005, Guia Prático para Projetos de Pequenas Obras Hidráulicas: São Paulo, Secretaria de Estado de Energia Recursos Hídricos e Saneamento, Departamento De água e Energia Elétrica do Estado de São Paulo. de Arauz, I. J., 2005, Vertedor de superfície e escoamento sob comportas, Universidade de São Paulo, São Paulo. ELETROBRÁS, 1995, Diretrizes para Elaboração de Projeto Básico de Usinas Hidrelétricas, Centrais Elétricas Brasileiras SA, p. 1352. ELETROBRÁS, 2000, Diretrizes para projetos de pequenas centrais hidrelétricas, in C. E. B. 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