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Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 80 AULA 05: Interpretação de texto SUMÁRIO PÁGINA 1. Apresentação 1 2. Um texto 2 3. Tipos de texto 3 4. Ideia central 5 5. Síntese 14 6. Análise 18 7. Reescrever 20 8. Noções de Redação Oficial 29 8. Questões Comentadas 43 8. Lista das questões apresentadas 60 9. Gabarito 80 Olá, meus caros amigos, hoje temos uma aula conclusiva, fundamental, a interpretação de textos é o fim último de toda a capacidade de linguagem. Digo isso porque não existe enunciado fora do texto, meus amigos, e não há texto sem contexto, como vimos na aula passada. E, nas provas de concurso, já há muito tempo as bancas reconheceram isso, formulando cada vez mais questões relacionadas à interpretação de textos. Bem, apresento a vocês o programa de nossa aula de hoje. Aula 05 – Interpretação de texto. Tipos e gêneros textuais, adequação de linguagem. Coerência e progressão semântica do texto; inferências válidas, pressupostos e subentendidos na leitura do texto. Sentido global do texto; síntese do texto. Noções de redação oficial. Questões resolvidas e comentadas sobre os pontos da aula. Uma verdade evidente é que, para interpretar um texto, o primeiro passo fundamental é ler o texto. Convido então vocês à leitura de um texto. É um texto curto, espero que gostem. Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 80 Água de Cuíca Nei Lopes1 Nelsinho Leiser é um tremendo cuiqueiro. E no ano passado recebeu um convite pra ir à Alemanha com a bateria de sua escola. — Alemanha... gringo... legal! Vou descolar uns dólar nessa viagem! Pensou longe o Nelsinho. E aí embarcou pra terra de Schumacher levando umas quinze cuícas sobressalentes: — É estepe... mandou na alfândega, na maior cara de pau. O federal achou engraçado e refrescou. Em Frankfurt, depois de muito chope preto com lingüiça branca, Nelsinho botou pra quebrar: solou o hino do Flamengo, deu gargalhada, tocou o Brasileirinho, tudo isso numa das cuícas que levou pra vender Os gringos ficaram malucos e acharam que era mole. Aí Nelsinho vendeu uma, duas, três... as quinze. A preço de salsicha: 2 marcos cada uma. Só que os quinze gringos esfregavam, esfregavam e não saía nada. Então, começaram a se encrespar, achando que tinham sido vítimas de um logro. Foi aí que o Nelsinho Leiser deu o golpe de misericórdia: — Calma, calma! – É que tem que molhar o pano. — Com água comum? — pergunta um dos gringos, através de um intérprete brasileiro. — Não, não! Tem que ser água de cuíca. É um preparo especial que faz elas até falar. Eu tenho aqui... Vendeu 15 vidrinhos no ato. A 500 marcos cada um. http://www.releituras.com/neilopes_cuica.asp Acredito que todos vocês já tenham ouvido o som de uma cuíca, conhecem o instrumento. Não sei quantos de vocês já tentaram tocar uma cuíca; o som é produzido esfregando-se, com um pano molhado, uma haste que fica presa ao couro do instrumento. É difícil, acreditem (eu já tentei). 1 Grande pesquisador da cultura afro-brasileira e do samba em especial. Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 80 Bem, essa é uma informação de contexto muito importante, sem a qual não conseguiremos compreender o texto em sua totalidade, não conseguiremos chegar ao cálculo de sua coerência: é difícil tocar cuíca, e o esperto personagem oferece aos alemães incautos o que parece ser a solução mágica, uma água que de especial não tem nada. Então, a compreensão de um texto depende não apenas da construção do texto, conforme vimos na aula passada, respeitando a coesão de forma a garantir a coerência; é preciso também que o receptor, o leitor compreenda o contexto, certos dados subjacentes que são necessários. Num texto curto como esse, o autor não julgou necessário explicitar a informação acima, a chave para a compreensão do texto. E é assim mesmo. Com explicação, ficava pesado, sem graça o texto leve, bem humorado. Nem tudo, no texto (em qualquer texto), é enunciado. Veremos isso com mais atenção adiante. Peço a atenção de vocês agora para um detalhe da construção do texto. Não apenas o personagem toma liberdades com a língua, como ―Vou descolar uns dólar‖, como mesmo o narrador acaba por relaxar no uso da língua, a exemplo de ―mandou na alfândega, na maior cara de pau. O federal achou engraçado e refrescou.‖ Bem, meus caros, o contexto da história justifica tais usos informais, a coerência do texto é mais importante do que a estrita observância da norma culta, que, neste caso, não caberia; uma história assim, de malandragem, de um certo ambiente do samba, não ficaria bem com o colarinho engomado e as abotoaduras da norma culta. O uso da linguagem, portanto, está associado ao contexto, e, como vimos na aula passada, à coerência. Nos textos que estudaremos nesta aula, predomina o emprego da norma culta, em virtude do programa do edital. É a norma predominante nas provas, mas o importante é perceber que o registro de linguagem deve se adequar ao texto. A história de Nei Lopes é uma narrativa, bem simples, com um personagem apenas, e uma trama bem resumida – em resumo, um acontecimento. A narrativa, como todos sabemos, é um tipo de texto. Tipos de texto Outro tipo de texto é a descrição, que busca retratar um objeto, uma paisagem, uma pessoa, de forma estática ou dinâmica, pela enumeração de suas características. Vejamos um exemplo, nesta passagem de José de Alencar: Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 80 Quando o sol descambava sobre a crista dos montes, e a rola desatava do fundo da mata os primeiros arrulhos, eles descobriram no vale a grande taba; e mais longe, pendurada no rochedo, à sombra dos altos juazeiros, a cabana do Pajé. O ancião fumava à porta, sentado na esteira de carnaúba, meditando os sagrados ritos de Tupã. O tênue sopro da brisa carmeava, como frocos de algodão, os compridos e raros cabelos brancos. De imóvel que estava, sumia a vida nos olhos cavos e nas rugas profundas. ALENCAR, José de. Iracema. 24. ed. São Paulo: Ática, 1991. (Bom Livro). Texto proveniente de: A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro <http://www.bibvirt.futuro.usp.br> Vemos aí um texto predominantemente descritivo, que se demora em traçar a paisagem, tenta dar caráter as coisas, à natureza, às pessoas que apresente. O gênero de texto que mais nos interessa é o dissertativo, a que pertence aquele texto que pretende discutir uma questão, apresentar um problema, expor uma discussão. É o tipo de texto predominante nas provas de concurso. Vejamos um exemplo: Degradação do Judiciário Dalmo de Abreu Dallari Nenhum Estado moderno pode ser considerado democrático e civilizado se não tiver um Poder Judiciário independente e imparcial, que tome por parâmetro máximo a Constituição e que tenha condições efetivas para impedir arbitrariedades e corrupção, assegurando, desse modo, os direitos consagrados nos dispositivos constitucionais. Sem o respeitoaos direitos e aos órgãos e instituições encarregados de protegê- los, o que resta é a lei do mais forte, do mais atrevido, do mais astucioso, do mais oportunista, do mais demagogo, do mais distanciado da ética. Essas considerações, que apenas reproduzem e sintetizam o que tem sido afirmado e reafirmado por todos os teóricos do Estado democrático de Direito, são necessárias e oportunas em face da notícia de que o presidente da República, com afoiteza e imprudência muito estranhas, encaminhou ao Senado uma indicação para membro do Supremo Tribunal Federal, que pode ser considerada verdadeira declaração de guerra do Poder Executivo federal ao Poder Judiciário, ao Ministério Público, à Ordem dos Advogados do Brasil e a toda a comunidade jurídica (...). leia o texto integral em http://filosomidia.blogspot.com.br/2012/06/dalmo-dallari-sobre-gilmar-mendes-eu.html Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 80 Neste tipo de texto, o autor pretende defender um ponto de vista acerca de uma questão, discutir um problema, refutar ou defender ideias, por meio de um processo de argumentação. Como é o tipo de texto predominante nos concursos, será o que mais estudaremos. Uma característica importante deste tipo de texto é que pretende ter objetividade em relação aos assuntos que aborda, a seus temas; assim, a linguagem empregada tende a ser mais objetiva, restringindo-se o emprego de termos expressivos, subjetivos; no limite, o texto dissertativo almeja a impessoalidade, um sintoma disso é que ―escamoteia‖ a primeira pessoa do discurso, o enunciador usa com frequência a terceira pessoa. O uso da linguagem também tende a ser restrito à norma culta, em um registro mais formal. É o caso, sem dúvida, do nosso texto de exemplo; não o reproduzimos inteiro, apenas uma parte, recomendo que leiam depois na íntegra, no endereço apontado logo abaixo do texto. Por ora, vamos examinar mais de perto nosso exemplo. HIERARQUIA DE IDEIAS – Notem, no primeiro parágrafo, que temos um longo período composto. Qual a ideia central? É muito importante identificá-la. Quero que você tente por si. Tudo bem? Chegou lá? Sim, meus caros, a ideia central do primeiro parágrafo está enunciada logo no início: Nenhum Estado moderno pode ser considerado democrático e civilizado se não tiver um Poder Judiciário independente e imparcial, uma afirmativa forte, generalizante. Vejam que a ideia central é a essência, o sumo; não que o resto seja dispensável, de jeito nenhum; mas notem que o trecho depois do primeiro que de certa forma retoma a ideia central e a explicita melhor, delimitando-a. Mas a ideia central mesmo já está enunciada. Identificar a ideia central é algo quase que intuitivo, algo que se mostra como essencial logo que lemos o texto. No entanto, pode haver dúvidas. Tentando isolar a ideia central – A ideia central de um texto, de um trecho de texto, é o que sobra quando retiramos tudo o que é acessório; bem, e como identificamos o que é acessório? Simples, é o que retiramos sem descaracterizar completamente o texto, visto como unidade. Vamos começar com um enunciado simples. Por exemplo: Nosso amigo comum, Paulo, mora no fim da rua em uma casa amarela. Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 80 O enunciado é tão simples que ficamos em dúvida sobre o que é possível tirar, sem descaracterizar o texto. Mas temos ―cortar‖: temos de ser impiedosos se quisermos deixar apenas o essencial. Então, façamos duas perguntas: o sujeito é Paulo. Para identificar este Paulo, temos o seu nome próprio, e um adjunto que o identifica, ―nosso amigo comum‖. Sem qualquer um dos dois elementos, o destinatário corre sério risco de não entender, ou 1 -que se trata de Paulo, aquele amigo comum que tem com o emissor, e não outro Paulo qualquer, ou 2 – que se trata de um determinado amigo comum – Paulo – e não qualquer outro amigo que porventura tenham em comum. Ora, com isso vemos que as duas informações são relevantes, são essenciais para a compreensão do enunciado. Vejamos agora o predicado: mora no fim da rua em uma casa amarela. O verbo é central na frase, evidentemente não pode ser retirado, sob pena de descaracterizar todo o predicado. E quanto ao resto do predicado? Bem, poderemos considerar uma das duas expressões – no fim da rua e em uma casa amarela – acessória. Mas isso vai depender do contexto. Por exemplo, se antecede ao enunciado o seguinte diálogo: - Acho a cor amarela horrível. Detesto o amarelo. - É mesmo? Diz o interlocutor, e atalha: - Nosso amigo comum, Paulo, mora no fim da rua em uma casa amarela. Neste caso, casa amarela torna-se mais central por ganhar apoio do contexto. A progressão de ideias apoia-se na característica ―amarela‖ da casa de Paulo, mas não na sua localização ―no fim da rua‖. Notem que a coerência do texto, no contexto, não seria afetada, se trocássemos ―no fim da rua‖ por ―lá em Piracicaba‖, mas sofreria grave abalo se em vez de ―amarela‖ escrevêssemos ―vermelha‖. Percebem? Vejamos agora um enunciado um pouco mais longo (adaptado de O Estado de São Paulo): Mais um dos seis alunos expulsos da Universidade de São Paulo (USP) no ano passado conseguiu reverter a situação na Justiça. A 6ª Vara de Fazenda Pública concedeu um mandado de segurança anulando o ato administrativo da reitoria que eliminava o estudante Yves de Carvalho Souzedo, de 29 anos, da USP. Esse já é o segundo caso de decisão judicial favorável aos alunos. Em março, Marcus Padraic Dunne também obteve na Justiça liminar para a readmissão. Faço agora duas perguntas: primeiro, qual seria a ideia central, utilizando-se apenas das construções do texto, das orações, expressões do texto, sem mudar nada? Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 80 Meus amigos, inevitavelmente a ideia central, utilizando apenas as construções do texto, será aquela que exprime a ideia mais geral, sendo que o que exprime as ideias particulares daquela derivadas serão acessórias. Assim, o primeiro período, Mais um dos seis alunos expulsos da Universidade de São Paulo (USP) no ano passado conseguiu reverter a situação na Justiça será central no texto de exemplo. Podemos dizer que, quando houver ideias gerais e ideias particulares em um mesmo parágrafo, em continuidade, as ideias gerais tenderão a ser centrais. A segunda pergunta que farei é: qual a ideia central, se pudéssemos escrevê-la, com base no texto, mas sem ter de reproduzir o texto como está? Proporia como tentativa o seguinte: dois dos seis alunos expulsos da Universidade de São Paulo no ano passado conseguiram reverter a medida na justiça. Notem como todas as outras informações constantes do texto remetem de alguma forma a alguma parte do enunciado acima. Todo texto tem de ter uma dose de redundância, a ideia exposta é retomada, acrescentando-se alguma coisa, com ênfase a algum aspecto; é um mecanismo importante para a inteligibilidade. Ao mesmo tempo, é importante em provas saber localizar a ideia central. Bem, agora voltemos ao nosso exemplo anterior, ao texto de Dalmo Dallari. Havíamos localizado a ideia central no primeiro parágrafo; é muito importante, é a ideia central de todo o trecho reproduzido.O 2º parágrafo tem também uma ideia central, vamos isolá-la inicialmente em: Sem o respeito aos direitos e aos órgãos e instituições encarregados de protegê- los, o que resta é a lei do mais forte. O que vem depois é reiterativo, são frases com a mesma função sintática de do mais forte, e, por repetição, são substitutas dela, acrescentando nuances de sentido – não são, notem bem, expressões sinônimas rigorosamente falando. Agora vejam o complemento composto: ―Respeito aos direitos e aos órgãos e instituições encarregados de protegê-los‖. Entre direitos e órgãos e instituições..., creio ser legítimo afirmar que a noção essencial aqui é direitos, sendo todo o resto acessório. Para isolar mais sinteticamente ainda a ideia central, vamos formulá-la assim: Sem o respeito aos direitos, o que resta é a lei do mais forte. Agora, e vejam como opera a coesão textual, manifestando a coerência do texto, o que me dizem da relação entre o 1º e o 2º parágrafo? O segundo não seria de certa forma reiterativo em relação ao primeiro? Não Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 80 reafirma o que ficou dito no parágrafo anterior? Sim; no entanto, o emissor não está se repetindo, o conteúdo é diferente, o enunciado mantém uma relação com o primeiro, não o repete literalmente, como vocês perceberam. Então, o 2º parágrafo retoma a ideia central do texto até aqui; o 3º parágrafo introduz uma ideia nova, relacionada a tudo o que foi dito –e este é um importante fator de coesão. A ideia nova é um fato - o presidente da República encaminhou ao Senado uma indicação para membro do Supremo Tribunal Federal, caracterizado: com afoiteza e imprudência muito estranhas; que pode ser considerada verdadeira declaração de guerra do Poder Executivo federal ao Poder Judiciário, ao Ministério Público, à Ordem dos Advogados do Brasil e a toda a comunidade jurídica. Vamos resumir ao essencial essa ideia nova do 3° parágrafo? Façam isso. Será que vocês chegaram a algo similar a ―o presidente da República encaminhou ao Senado uma indicação para membro do Supremo Tribunal Federal ofensiva a toda a comunidade jurídica‖? Se sim, ótimo. Vocês evidentemente já perceberam que o 3º parágrafo anuncia um fato concreto que o autor pretende examinar à luz da afirmativa abstrata, de valor genérico, do 1º parágrafo. Este percurso, e as relações estabelecidas, constituem a progressão de ideias no texto. A progressão é um dado fundamental da coerência do texto. As ideias relacionam-se entre si, com um sentido. Veremos muitas questões relacionadas com isso. A primeira delas trata mais da sequência do texto, que não deixa de ser a manifestação mais imediata da progressão. Vejam como caiu em provas: Exercícios ESAF/Susep/2010 1 - Assinale a opção que constitui continuação coesa, coerente e gramaticalmente correta para o trecho a seguir. No Brasil, tudo indica que o endividamento pessoal vai crescer nos próximos anos: uma ligeira melhora de rendimentos se traduz, em nosso país, por um aumento desproporcional do endividamento, em razão do uso disseminado dos cartões de crédito que o sistema financeiro incentiva. Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 80 (O Estado de S. Paulo, Editorial, 18/02/2010, com adaptações) a) Por isso conseguimos até agora escapar de um surto de desemprego de grande proporção, o que permite que o consumo continue crescendo. b) Sendo assim, esse exemplo dos Estados Unidos mostra que, num período de crise, com crescimento do desemprego, têm registrado forte queda do consumo e aumento da inadimplência. c) Mas isso se traduz por uma ampliação involuntária da poupança com a forte redução do uso dos cartões de crédito. d) Além desse fator, a expansão dos financiamentos imobiliários nas instituições financeiras essencialmente públicas também contribui para o aumento do endividamento de longo prazo. e) Isso é consequência de uma campanha em favor de uma poupança maior, que certamente tem por efeito uma redução dos custos e um crescimento dos investimentos. __________ Comentários Uma questão em que temos de indicar a sequência do texto, entre as alternativas; devemos julgar a coerência do texto resultante. Precisamos indicar o trecho que seja continuação coerente do parágrafo proposto pelo examinador. Em primeiro lugar, para resolver a questão, devemos identificar qual o ponto central do texto do enunciado. Chegamos a conclusão que o ponto central está na expressão o endividamento pessoal vai crescer nos próximos anos, cujo núcleo é endividamento. Se conseguirmos enxergar que esse é o núcleo do texto proposto pelo enunciado, o resto fica fácil. Vejam que, depois dos dois pontos, todo o enunciado se dedica a explicar a parte antecedente. Identificada a noção central do texto, vamos às alternativas: a primeira traz o indicativo – por isso – referindo-se a um aumento desproporcional do endividamento, ou a uso disseminado dos cartões de crédito que o sistema financeiro incentiva; referências incompatíveis com a significação do período ―por isso conseguimos até agora escapar de um surto de desemprego de grande proporção, o que permite que o consumo continue crescendo‖. Pode-se até relacionar a expansão do crédito com o crescimento do consumo, mas não a evitar o desemprego, a não ser como conseqüência do crescimento. Aqui, a relação causal está invertida. Temos um problema de coerência externa, em que o texto contradiz o conhecimento do mundo real. Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 80 A seguir, temos a alternativa iniciada por Sendo assim, esse exemplo dos Estados Unidos; ora, a contextualização é inexata, pois texto de base inicia-se com No Brasil (...). Em c, temos contradição flagrante entre forte redução do uso dos cartões de crédito e uso disseminado dos cartões de crédito, no original. A alternativa d apresenta uma continuação coerente para o texto de base, a toda vista, pois acrescenta outra idéia relacionada a aumento do endividamento, corretamente introduzida por Além desse fator... também, elementos coesivos apropriados para a relação aditiva. Para afastar qualquer dúvida, vamos ler a última alternativa: notem que há contradição entre campanha em favor de uma poupança maior e endividamento maior, mais um problema de coerência externa, pois são poupança e endividamento são conceitos excludentes. Gabarito: D 2. ESAF/CVM/2010 Assinale a opção que preenche de forma coesa, coerente e gramaticalmente correta o trecho a seguir. Até agora os jornalistas e os jornais se apoiavam na ideia de que eles sabiam o que era bom para os leitores. ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ Não é uma mudança simples, pois afeta um conjunto de valores e rotinas associadas à atividade informativa. (http://www.observatoriodaimprensa.com.br/, acesso em 1/11/2010) a) As novas ideias invertem totalmente essa concepção e também o processo de circulação de informações, pois é o público que dirá o que deseja que seja investigado e noticiado pelos meios de comunicação. b) Assim, os blogueiros independentes estão começando a criar suaspróprias redes de informantes surgidas a partir de comentários postados por leitores, afirma Alfred Hermida, professor da Columbia, especializado em mídias sociais. c) E muitos profissionais do jornalismo poderiam acabar exercendo funções muito próximas às de um ―curador de notícias‖, ou seja, selecionar e aglutinar informações, como fazem os curadores de museus ou exposições, responsáveis pela escolha das obras que serão expostas. Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 80 d) Embora alguns críticos afirmam que esse novo jornalismo adotava uma prática parecida à dos assistentes sociais ou psicólogos sociais. Até pode ser, mas a ironia embutida nesta comparação apenas comprova o quanto o jornalismo está distante de sua função social depois de ter se transformado numa atividade quase industrial. e) Se isto for verdade, se o jornalista passar a atuar como gestor de comunidades sociais, como coordenador de redes sociais de comunicação pela Internet, ao invés de atuar em redações tradicionais, estará corrigindo uma velha distorção em vez de criar algo revolucionário. __________ Comentários Uma questão que envolve a coesão e a coerência textuais; temos de examinar os mecanismos de coesão no enunciado de cada alternativa. Além disso, é preciso considerar o sentido geral do texto, a partir dos dois fragmentos. Temos que a situação descrita inicialmente sofreu uma mudança recente, são índices disso o advérbio, e o tempo verbal em Até agora os jornalistas e os jornais se apoiavam (...); além disso, temos a referência ao texto anterior, à lacuna a ser preenchida, em Não é uma mudança simples. Ou seja, nosso texto descreverá ou aludirá a uma mudança. E é uma mudança no tempo presente (pois afeta); vejam a importância das formas verbais na determinação do contexto, um dado de coerência fundamental. Examinemos as alternativas começando pela última: começa por se isto for verdade...; será que refere-se ao primeiro fragmento, ao enunciado ―os jornalistas e os jornais se apoiavam na ideia de que eles sabiam o que era bom para os leitores‖? É cabível; no entanto, vemos logo a seguir que o pronome isto é retomado por ―o jornalista passar a atuar como gestor de comunidades sociais‖; ora, nada disso é mencionado no primeiro fragmento, a coerência ficaria prejudicada se esta fosse a continuação. Descartamos a d ao perceber a referência a esse novo jornalismo, em que o pronome deve referir-se a termo ou expressão anterior; nada no fragmento inicial pode ser alvo da referência no pronome. Quanto a c, vemos que a conjunção aditiva não expressa bem a relação com o trecho anterior, ainda mais se considerarmos o verbo no futuro do pretérito, a expressar fato hipotético, não fato dado ou verificável. Ora, sabemos já que mudança houve, não que pode haver ou haveria. Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 80 Em b, podemos ser enganados pelo fato de o fragmento indicar uma realidade que surge (estão começando a criar...), eventualmente pode ser a mudança de que fala o texto. No entanto, teríamos um problema de coesão, pois o período é introduzido pela conjunção conclusiva assim, o que cria uma relação indevida com o primeiro trecho; talvez fosse de esperar uma conjunção adversativa, ou mesmo alternativa, com a idéia de oposição. A primeira alternativa, enfim, atende todos os requisitos, pois trata de uma ação presente (invertem), e descreve a mudança que o final do texto nos faz esperar; vejam que em as novas idéias invertem totalmente essa concepção (...) temos a referência ao trecho anterior, e a ela associada a idéia de mudança. É a alternativa correta. Gabarito:A 3 - Assinale a opção que preenche de forma coesa, coerente e gramaticalmente correta o trecho a seguir. A ideia de liberalismo sugere uma sociedade estruturada sobre a base do livre-mercado. Na visão dos liberais, o livre-mercado seria o espaço em que o confronto de interesses privados produziria, por meio dos próprios mecanismos econômicos de oferta, procura e preços, uma tendência à harmonia social. _________________________________________ _________________________________________ _________________________________________ Ou seja, a ideia de liberalismo sugere ausência do Estado na economia. No entanto, a rigor, mesmo o liberalismo clássico do século XIX sempre escondeu que o papel decisivo do Estado era agir em função e a favor dos endinheirados: os capitalistas da Inglaterra – berço do liberalismo – jamais deixaram de utilizar a força direta do Estado, por exemplo, para colonizar a Índia. (Grupo de São Paulo, disponível em http://www.correiocidadania.com.br/ content/view/5158/9/, acesso em 28/10/2010) a) Em primeiro lugar, se é certo que as mercadorias e os capitais – o dinheiro – passaram a circular quase livremente pelo espaço mundial, o mesmo não se pode dizer dos trabalhadores –das pessoas. Ao contrário, as pressões contra imigrantes nos países centrais nunca deixaram de existir, desde a I Guerra, e são cada vez maiores. Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 80 b) Sob esse prisma, o mercado – e não mais a força direta do Estado – passaria a ser o fundamento da coesão e da harmonia social. Ao Estado caberia simplesmente garantir o funcionamento do mercado. c) Quanto ao liberalismo no capitalismo contemporâneo, é verdade que a crise da social-democracia, ou do ―keynesianismo‖, na década de 1970, levou à desconstrução de um conjunto de mecanismos que, desde a II Guerra, garantiram uma presença forte do Estado na economia. d) De outro lado, mesmo antes da ―Era Bush‖, as intervenções militares do Estado foram um suporte fundamental para os lucros dos grandes capitalistas. Quando, por exemplo, o exército estadunidense avança sobre o Oriente Médio por conta dos lucros do petróleo. e) E, além disso, grandes especuladores ganham muito dinheiro nas bolsas fazendo negócio com ações de empresas do complexo industrial- militar, as fabricantes de aviões, tanques e bombas –, isso não deixa de ser uma profunda conexão entre o Estado e a economia. __________ Comentários Questão nos moldes da anterior. Aqui temos de trabalhar mais com o sentido geral de cada fragmento proposto. Temos de achar a alternativa que mantém a continuidade do texto, preenchendo a lacuna. A chave aqui será a frase Ou seja, a ideia de liberalismo sugere ausência do Estado na economia, que retoma o trecho anterior, a lacuna que tentamos preencher. Ora, qual trecho poderia com propriedade ser retomado pela frase destacada? Sem dúvida o da alternativa b, confiram. Em caso de dúvida, analisemos as demais alternativas; a primeira, se mantém certa continuidade em relação ao primeiro trecho, não se relaciona com o treco final. A frase destacada acima não pode se referir a esta alternativa, haveria um problema de coerência. A única dúvida plausível pode ser em relação à alternativa c; no entanto, nesta o tópico discutido passa a ser ―o liberalismo no capitalismo contemporâneo‖, o que não se mantém no trecho final, que trata do liberalismo simplesmente, assim como o trecho inicial. Então há um problema na progressão de idéias, que afeta a coerência do texto. Gabarito:BVejam então, meus caros, como a coerência se constrói a partir da relação estabelecida entre as ideias do texto. Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 80 Ideia Central e Síntese Bem, acredito que vocês tenham percebido a importância da síntese das ideias apresentadas por um texto. É uma competência fundamental em toda prova de interpretação de texto. Por isso, vamos fazer alguns exercícios dedicados a isso. Veja esse texto, editorial de O Estado de S. Paulo, de 29/08/2012: O governo terá de cuidar de uma grave deformação da economia brasileira - a atrofia da indústria -, se quiser conduzir o País a uma nova fase de crescimento prolongado e seguro. Sinais dessa atrofia são visíveis nos empréstimos do BNDES, com participação decrescente da indústria de transformação nos últimos cinco anos. É muito cedo para o Brasil se tornar uma economia de serviços, ou, em termos mais precisos, movida principalmente pela produção de serviços e de bens não materiais. Nos países mais avançados, a mudança na composição das atividades decorreu da expansão e da modernização dos serviços (incluídos os financeiros), do intenso desenvolvimento da produção científica e tecnológica e da conveniência de transferir boa parte da fabricação de mercadorias para outros países. Redução de custos foi um dos principais objetivos dessa transferência, realizada como parte de uma ampla redivisão internacional do trabalho. O cenário brasileiro é muito diferente, tanto pelas possibilidades da atividade industrial como pelas condições do setor de serviços. Bem, proponho agora que achemos a ideia central do texto. Qual é? Como podemos formulá-la de forma sintética? O essencial neste texto não é o que o governo deve fazer, o que o BNDES está fazendo, o que ocorre nos países mais avançados. Todas essas ideias são relevantes, mas estão em torno de outra ideia, essa sim central: a de que a o setor industrial brasileiro está diminuindo, está atrofiando. A ideia que não podemos retirar do texto, sem que ele desmonte, a ideia em torno da qual as outras giram, esta é a ideia central. Muito bem, esta é um parte do exercício de síntese. A outra é reescrever o texto em apenas um período composto, que não fique muito extenso ou obscuro. Proponho o seguinte: A atrofia da indústria é um problema grave da economia brasileira, como revelam os números dos empréstimos do BNDES, e preocupa, pois o Brasil ainda não deveria se tornar uma Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 80 economia de serviços, como os países mais desenvolvidos; o governo tem de cuidar disso. Ainda poderia ser mais sintético, retirando tudo o que não é essencial, como as expressões comparativas: A atrofia da indústria é um problema grave da economia brasileira, e preocupa, pois o Brasil ainda não deveria se tornar uma economia de serviços; o governo tem de cuidar disso. Acho que a extensão está boa agora. Bem, o exercício de reescrever é importante, mostra a nossa capacidade de leitura, e de síntese, que será avaliada na prova. Sugiro agora que você faça o mesmo, isto é, primeiro encontre a ideia central do texto, e depois redija-o novamente em apenas um período composto, a partir dos seguintes textos: I – O processo de industrialização do Brasil teve algumas fases: na primeira metade do século passado, país forte era país que tivesse uma indústria forte, principalmente baseada no binômio do carvão e do aço. Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França e Itália estavam no bloco das nações fortes - tinham carvão, tinham aço e tinham uma indústria forte, de navios, de trens, de máquinas para fazer máquinas. O Brasil não tinha nada, ou quase nada disso. Era a razão do nosso atraso. "O Brasil é um país essencialmente agrícola", diziam muitos, inclusive um presidente da República, de maneira resignada e conformista. "O quê? Uma indústria siderúrgica nos trópicos? Só pode ser brincadeira", ironizou um magnata inglês quando ouviu falar de uma pretensão brasileira por volta da 1.ª Guerra Mundial. Claro que ele não sabia, mas já tinha existido uma, muito tempo antes, no Brasil colônia, a Real Fábrica de Ferro de Sorocaba, em São Paulo, ainda hoje monumento histórico na cidade. Não era bem uma usina siderúrgica, mas dava para fabricar enxadas, machados e arados. (adaptado de editorial d´ O Estado de São Paulo, de 27/08/2012) II - O carro elétrico não é a solução para o cenário de transportes no Brasil, definiu o secretário de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia (MME), Marco Antônio Martins Almeida, em evento realizado na capital fluminense. Debatendo soluções para o abastecimento de combustíveis em seminário do governo estadual dedicado ao etanol, Almeida definiu o carro elétrico como uma boa alternativa para a diminuição da poluição nas grandes cidades, mas uma solução incompleta. “A energia a ser suprida [para ser armazenada nos carros elétricos] exigiria uma fonte adicional, que tem de ser fóssil”, explicou o gestor, que defende o investimento em melhoria na eficiência dos motores dos carros flex. Ele também destacou a importância do veículo híbrido flex. “O nível de consumo é a metade de um veículo normal. Se eu conseguir expandir a frota de veículos híbridos eficientes, a demanda diminui”, disse. Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 80 O secretário apontou ainda que os níveis atuais de consumo de combustíveis, em especial da gasolina, e a demanda crescente têm alarmado o governo, que procura alternativas para o médio e longo prazo, evitando gastos excessivos com importação de combustíveis. Segundo o Sindicato Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, o aumento do consumo de gasolina, somente nos últimos três anos, foi de mais de 50% em relação ao volume consumido em 2008. Jornal do Brasil, 27/08/2012 Um grande número de questões de interpretação de texto trata da ideia central de algum texto dado. 4 – ESAF/CVM/2010 Assinale a opção em que o trecho do texto apresenta a sua ideia principal. 1 5 10 15 O potencial das energias propriamente ―limpas‖ e renováveis é enorme, comparativamente ao que já existe: ventos, marés, correntes marítimas e fluviais, energia solar. Elas deverão constituir um nó importante na matriz energética mundial. Entretanto, admite-se que ainda assim continuarão sendo apenas complementares e não suficientes para substituir o petróleo. Um dos problemas dessas energias limpas é que o seu potencial não é regularmente distribuído no mundo entre as nações consumidoras. O Saara, Mogavi e o Nordeste brasileiro são exemplos de ricos potenciais de energia solar, mas em que isso beneficia os grandes consumidores do norte da Europa? O Nordeste brasileiro, assim como a região de Bengala e outras regiões tropicais, tem enorme potencial eólico. Mas não são só eles: a Dinamarca produz 75% da energia que consome pelos ventos. Poucos países podem rivalizar com Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br17 de 80 20 o Brasil quanto à energia hidrelétrica. Nenhuma dessas fontes energéticas limpas e renováveis poderá, por si, constituir-se no sucessor do petróleo em nível mundial. (Pergentino Mendes de Almeida disponível em http://www.correiocidadania. com.br/content/view/4881/9/, acesso em 29/10/2010) a) ―Um dos problemas dessas energias limpas é que o seu potencial não é regularmente distribuído no mundo entre as nações consumidoras.‖(ℓ.9 a 11) b) ―O Nordeste brasileiro, assim como a região de Bengala e outras regiões tropicais, tem enorme potencial eólico. Mas não são só eles: a Dinamarca produz 75% da energia que consome pelos ventos.‖(ℓ.15 a 19) c) ―O Saara, Mogavi e o Nordeste brasileiro são exemplos de ricos potenciais de energia solar, mas em que isso beneficia os grandes consumidores do norte da Europa?‖(ℓ.11 a 15) d) ―O potencial das energias propriamente ―limpas‖ e renováveis é enorme, comparativamente ao que já existe: ventos, marés, correntes marítimas e fluviais, energia solar.‖(ℓ.1 a 4) e) ―Nenhuma dessas fontes energéticas limpas e renováveis poderá, por si, constituir-se no sucessor do petróleo em nível mundial.‖(ℓ.20 a 23) __________ Comentários Temos aqui uma questão de interpretação de texto. A hierarquização das informações lidas é indispensável para a compreensão de qualquer texto. Entre as alternativas oferecidas, qual representa a idéia principal do texto, qual pode resumi-lo? São as de significado mais geral; idealmente, a conjunção das alternativas d e e resumiria bem o texto; infelizmente, essa opção não está disponível. Notem que a alternativa e retoma, em dessas fontes energéticas, a referência às formas de energia discutidas no texto, o que a torna mais completa que a alternativa d; esta, apesar de tratar mais completamente das formas de geração de energia discutidas, não abarca nem faz referência à restrição posta pelo texto à estas formas de energia: ― (as energias limpas) continuarão sendo apenas complementares e não Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 80 suficientes para substituir o petróleo (...)‖. Assim, a última alternativa tem mais elementos, entre as elencadas, para apresentar a idéia principal do texto. É o caso da escolha da alternativa ―mais correta‖ ou ―menos errada‖; considero que o tópico frasal ideal do texto, que representa sua idéia central, seria na verdade ―o potencial das energias propriamente “limpas” e renováveis é enorme (...),ainda assim continuarão sendo apenas complementares e não suficientes para substituir o petróleo‖. As demais alternativas trazem idéias acessórias, não centrais, mas auxiliares no texto; em a, temos um argumento contrário à generalidade do uso das energias limpas, ou seja, serve de apoio à idéia central de que estas energias são ―apenas complementares‖; a b trata de questões relativas apenas à energia eólica, particularidades; c faz o mesmo em relação à energia solar. Então o dilema estaria mesmo entre d e e, resolvido da forma que indicamos acima. Gabarito: E Análise de Texto Vamos ler um texto atentando para certas características importantes da sua construção, como o uso dos instrumentos coesivos, a reiteração e a retomada de ideias anteriormente enunciadas, a remissão ao contexto, enfim, várias questões que vimos tratando nesta e em outras aulas. Os comentários estão na margem direita. Deste mesmo recanto modesto de página 10 de O Cruzeiro já tive ocasião de referir-me à chamada "história em quadrinhos" como forma moderna de literatura ou de arte: uma literatura ou arte cujo mal - o de conteúdo ou substância - não deve ser confundido levianamente com a forma. O autor contextualiza o seu texto: já havia falado do assunto antes; e anuncia o tema, antecipando uma opinião sobre ele. A forma tanto pode se prestar a fins educativos como deseducativos. Correspondendo a um gosto moderno de síntese, tanto da parte do público infantil como do adulto, deve ser aproveitada pelos educadores e moralistas e não apenas abandonada aos exploradores da vulgaridade ou da sensação. Veja como o autor retoma o último período anterior, iniciando o parágrafo falando da forma, retomando a distinção entre o mal das HQ e sua forma, no 1°§. Em vez de assim procederem, que fazem alguns educadores e moralistas? Investem contra a história em quadrinhos como os caturras de outrora investiram contra os primeiros jornais, os primeiros cinemas, os primeiros rádios. Até que ficou evidente que jornal, cinema, rádio, tanto se podiam prestar a fins educativos como deseducativos. Que os próprios padres ou Nova retomada, reforçando os elos coesivos, com assim procederem retomando a frase abondonada aos exploradores (...), no final do § anterior. Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 80 sacerdotes podiam utilizar-se do jornal, do cinema, do rádio para a propaganda da fé e da moral cristã. Que jornal ou imprensa não queria necessariamente dizer perigo para a ordem estabelecida ou a ortodoxia dominante, mas, ao contrário, podia ser posta a seu serviço. Que cinema não queria necessariamente dizer moça quase nua fazendo pecar os adolescentes, homem beijando escandalosamente mulher, ladrão arrombando cofre, mas, ao contrário, podia ser posto ao serviço da ciência, da história clássica e da própria religião. Que o rádio não queria necessariamente dizer maior divulgação de samba, com excessos lúbricos, de anedota picante, de canção obscena, mas também de música clássica e da própria música de igreja. Notem duas particularidades de construção: a reiteração da enumeração jornal, cinema, rádio, juntos ou alternadamente. E a sucessão de subordinadas, iniciadas por que, todas ligadas à oração Até que ficou evidente que. A coesão chega ao nível sintático aqui. A história em quadrinhos está na mesma situação. Também ela pode tornar-se instrumento de divulgação de vidas de heróis, de santos, de sábios, de façanhas de vaqueiros do Nordeste e de gaúchos do Rio Grande do Sul; e não apenas de aventuras de gângsters e de cow-boys. Os exemplos anteriores, reiterados, são recuperados pela expressão mesma situação. Também ela pode tornar-se, para os brasileiros, força de conservação de tradições nacionais, em vez de superação dessas tradições por mitos de povos imperiais sem que, entretanto, o justo zelo nacionalista degenere em "nossismo" intolerante. "Nossismo" doentio que não admita história com Papai Noel, mas só com Vovô Índio; nem biografia que exalte Marconi, mas só que glorifique Santos Dumont; nem canto onde apareça lobo ou olmo, mas só onde brilhe a ramagem do cajueiro ou arreganhe a dentuça a suçuarana Note o pronome ela, no início, retomando e reiterando a referência história em quadrinhos, no parágrafo anterior. Note as duas oposições de ideias operadas pelo autor, com em vez de – sem que, entretanto. A expressão “nossismo” intolerante é explicada pelos períodos coordenados subsequentes. Compreende-se a campanha de nacionalização da história em quadrinhos iniciada vigorosamente pelo jornalista Homero Homem. Mas seria uma lástima que a mística de nacionalização nos levasse àqueles exageros. E nos fechasse, nas nossas revistas e jornais,às histórias em quadrinhos que não falassem em índio, cajueiro, vaqueiro do Nordeste, suçuarana, pitanga, Caxias, Santos Dumont. Referência ao contexto da época do texto, em que havia campanha “nacionalista” contra as HQs. Veja a enumeração final: qual a noção comum aos termos enumerados? O nacionalismo, o nossismo mencionado no § anterior – reiteração. Atualmente, o extremo que domina nas histórias em quadrinhos publicadas em nossos jornais é o de quase exclusiva estrangeirice de motivos, símbolos e Outra referência ao contexto da época. O seu repúdio ao tal nossismo justifica o Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 80 personagens. Devemos reagir contra essa exclusividade lamentável. Mas não ao ponto de nos fecharmos dentro de motivos, símbolos e personagens exclusivamente brasileiros. Apenas escolhendo para publicação, histórias, tanto brasileiras como estrangeiras, mais capazes de deleitar o público, sem corromper-lhe o gosto. Pois não nos esqueçamos de que vivemos num mundo que é, cada dia mais, um mundo só, dentro do qual o Brasil deve ser o Brasil sem deixar de ser fraternalmente humano e cordialmente americano. posicionamento que anuncia no último parágrafo. Desta forma, percebe-se a progressão das ideias. O que foi dito em cada parágrafo tinha um objetivo, era um passo do caminho para a conclusão final. Fonte: FREYRE, Gilberto. Histórias em quadrinhos, nacionalismo e internacionalismo. O Cruzeiro. Rio de Janeiro, 09 jun. 1951. Bem, meus caros, trata-se de um texto de um grande prosador da nossa língua, o ilustre sociólogo Gilberto Freyre. Neste texto, vimos em ação vários mecanismos que estudamos. Quero chamar a atenção de vocês para a progressão das ideias do autor no texto. Os elos coesivos são usados de forma que as ideias são retomadas, e a cada passo retrabalhadas, de forma que o percurso do pensamento até a conclusão proposta pelo autor parece natural, necessário: esse é o efeito de um texto bem construído. Reescrever É comum a banca pedir para que seja avaliada pelo candidato a reescrita de um texto ou trecho de texto. Está em jogo nesse tipo de questão a nossa capacidade de abstrair o sentido do texto e reconhece-lo no trecho reescrito. Por exemplo, dado o texto: ―Autoproclamado popstar da música clássica, André Rieu é o protagonista de um dos maiores fenômenos da indústria fonográfica da atualidade. Para isso, ele aposta numa fórmula que vem aprimorando desde o início da década de 1990‖2, o examinador propõe algumas hipóteses de reescrita, como por exemplo: - Popstar da música clássica segundo ele mesmo, um dos maiores fenômenos da indústria fonográfica é protagonizado por André Rieu. Para isso, vem aprimorando desde o início da década de 1990 uma fórmula de aposta. Como julgar a reescrita? Reproduz o original sem alterar o sentido? Há erros? Temos de avaliar se o sentido do original se manteve, e acompanhar quais foram as alternações feitas, e qual seu efeito. Vejam, temos a substituição de autoproclamado por segundo ele mesmo, expressões que 2 Trecho de artigo publicado na revista Concerto em julho de 2012. Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 80 a toda vista são sinônimas, ou de sentido muito próximo. Em seguida, temos que ―André Rieu‖ passa de sujeito ativo para agente da passiva, em um dos maiores fenômenos da indústria fonográfica é protagonizado por André Rieu, com a passagem para a voz passiva, mantendo, no entanto, o sentido do original. No último período, veremos que ―Para isso, ele aposta numa fórmula que vem aprimorando desde o início da década de 1990” não é equivalente a ―vem aprimorando desde o início da década de 1990 uma fórmula de aposta”, em que há a inversão entre aposta numa fórmula e fórmula de aposta, em que a palavra ―aposta‖ deixou de ser verbo e passou a ser nome. O significado é evidentemente diferente, então houve mudança de sentido, temos de recusar a reescrita proposta. Certo? O que é preciso é comparar o enunciado de base com a reescrita proposta. E um olho atento aos detalhes, geralmente o examinador irá mudar uma estrutura acessória. Vejam agora outra proposta de reescrita do trecho de exemplo: André Rieu - autoproclamado popstar da música clássica – é o protagonista de um dos maiores fenômenos da indústria fonográfica da atualidade. Para isso, vem apostando numa fórmula que aprimora desde o início da década de 1990. Bem, meus caros, no primeiro período temos apenas uma mudança de ordem, com o deslocamento do sujeito (André Rieu) para a posição inicial. No segundo período, o que muda? Temos a mudança importante das formas verbais – aposta por vem apostando, e, inversamente, vem aprimorando por aprimora. Quanto à forma, houve mudança, mas quanto ao sentido, meus caros, vamos lembrar do aspecto verbal, que já estudamos em aula anterior: o presente do indicativo, no caso, é empregado com valor durativo, exatamente como a locução com verbo auxiliar no presente mais verbo no gerúndio, como vem aprimorando, vem apostando. Ou seja, meus caros, as locuções são intercambiáveis; são equivalentes. O sentido do texto ficou mantido com as alterações. Com isso, vimos que certas alterações, como a mera inversão ou mudança de ordem, não alteram o sentido da frase. Por outro lado, alterações de menor monta, em palavras instrumentais, como preposições e conjunções, podem provocar grandes mudanças no sentido do texto. Existem, é claro, conjunções e locuções conjuntivas equivalentes, como mas, no entanto, entretanto etc. Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 80 Quanto aos verbos, as noções de tempo, correlação e aspecto, que estudamos, são centrais para perceber se a alteração proposta de fato leva a uma mudança de sentido. Vejamos como costuma cair em provas. Exercícios 5. ESAF-SUSEP-2010 5 Nos países em geral, economistas, políticos e o noticiário gostam é de índices sobre macroeconomia, números abstratos que indicam a situação geral da economia, mas não revelam o que se passa em seu interior. A internet, por exemplo, apareceu em grande escala em 1992, e o mundo se deu conta da revolução que ela fizera nos negócios, na cultura e na vida das pessoas 10 anos depois. (Antônio Machado, Mundo invisível. Correio Braziliense, 14 de fevereiro de2010, com adaptações) No texto acima, provoca-se erro gramatical ou incoerência na argumentação do texto ao a) inserir os antes de ―economistas‖(ℓ.1) e de ―políticos‖(ℓ.1). b) retirar ―é‖(ℓ.2). c) retirar o pronome ―o‖, do termo ―o que‖(ℓ.4). d) substituir ―fizera‖(ℓ.7) por havia feito. e) inserir apenas depois de ―pessoas‖(ℓ.8). __________ Comentários: Uma questão em que são sugeridas formas de reescritura do texto, e precisamos encontrar aquela que provoca erro gramatical ou incoerência. A introdução do artigo definido antes de ―economistas‖ e ―políticos‖ não leva a erro. O ―é‖, em economistas, políticos e o noticiário gostam é de índices sobre... é meramente enfático, e pode ser retirado sem prejuízo.Por outro lado, suprimir o pronome o em mas não revelam o que se passa em seu interior causa um problema, pois o pronome é a referência para a oração seguinte (o/aquilo/a coisa que se passa em seu interior), e sua exclusão torna o texto incoerente. Pelo visto, essa é nossa alternativa. Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 80 A locução ―havia feito‖ é a forma analítica do mais que perfeito ―fizera‖, são intercambiáveis; inserir mais um advérbio, apenas, em ―revolução que ela fizera nos negócios, na cultura e na vida das pessoas apenas 10 anos depois‖ tem o efeito de intensificar a idéia de que certas realidades não são percebidas facilmente pelos observadores. Gabarito:C 6. ESAF – SUSEP- 2010 Assinale a opção que ao substituir a oração sublinhada, no texto abaixo, provoca erro gramatical e/ou incoerência textual. Sem vitória ou derrota, na comparação entre o pré e o pós-crise, a turbulência financeira que abalou o mundo trouxe perdas ao Brasil, mas no decorrer de 2009 os prejuízos foram recuperados e, se o país não cresceu, conseguiu ao menos fazer com que importantes indicadores econômicos e sociais empatassem com os que eram registrados em 2008 – ano do pico de desenvolvimento brasileiro. (Correio Braziliense, 11 de fevereiro, 2010, com adaptações) a) caso o país não cresceu b) apesar de o país não crescer c) mesmo o país não crescendo d) embora o país não crescesse e) ainda que o país não tenha crescido __________ Comentários A questão envolve a semântica e a sintaxe; a conjunção concessiva caso é usada na expressão de fatos hipotéticos, e portanto exige o uso do modo subjuntivo; o correto então seria – caso o país não tenha crescido. Evidente que a construção não figura entre as alternativas. A dissonância entre a conjunção empregada e o modo subjuntivo da forma verbal fere a coerência textual. Todas as demais formas são admissíveis. Gabarito:A 7. FMP – TJ/AC – 2010 (adaptada) Leia o trecho: O Diogo Mainardi é um assunto de polícia. Entende de Getúlio Vargas, decodificação do DNA, Brecht, clonagem da Dolly. Se você procurar no dicionário a palavra petulância, vai encontrar a foto dele. A alternativa que apresenta uma reescritura clara e correta e mantém o sentido do período acima é: Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 80 (A) O Diogo Mainardi é um assunto de polícia: entende de Getúlio Vargas, decodificação do DNA, Brecht, clonagem da Dolly. E, se você procurar no dicionário a palavra petulância, vai encontrar a foto dele. (B) O Diogo Mainardi: é um assunto de polícia, entende de Getúlio Vargas, decodificação do DNA, Brecht, clonagem da Dolly. Mas, se você procurar no dicionário, a palavra petulância,vai encontrar a sua foto. (C) Um assunto da polícia é o Diogo Mainardi, porque entende de Getúlio Vargas, decodificação do DNA, Brecht, clonagem da Dolly. Se você procurar no dicionário a palavra petulância vai encontrar a foto dele. (D) O Diogo Mainardi, é um assunto de polícia, porque entende de Getúlio Vargas, decodificação do DNA, Brecht, clonagem da Dolly. Se você procurasse no dicionário a palavra petulância, vai encontrar a foto dele. (E) O Diogo Mainardi é um assunto de polícia. Entende de Getúlio Vargas à decodificação do DNA, Brecht, clonagem da Dolly. Conquanto você procurar no dicionário a palavra petulância,vai encontrar a foto dele. _____________ Comentário: Diante de uma questão como essa temos de ler todas as alternativas, descartando as incorretas. Em uma primeira leitura, notamos que, na alternativa b, a adversativa mas introduzida altera o sentido do texto, pois não há oposição entre as idéias ―ele é sinônimo de petulância‖ e ―fala sobre os assuntos mais disparatados‖, pelo contrário. Além disso, observa-se que há uma possível ambigüidade, que prejudica a clareza do texto, no emprego do pronome ―sua‖ em se você procurar no dicionário, a palavra petulância, vai encontrar a sua foto. Há ambigüidade entre 2ª e 3ª pessoa na forma ―sua‖ (sua-tua e sua-dele), ou seja, o pronome pode ser referir a ―você‖, 2ª pessoa, ou a ―Diogo Mainardi‖, referido antes. A alternativa seguinte traz uma alteração de sentido, pois a expressão ―assunto de polícia‖, ―caso de polícia‖ tem um sentido específico, e as expressões idiomáticas são formas fixas. Com a alteração para ―assunto da polícia‖, o sentido é outro, perde a conotação típica da expressão idiomática, temos de ler em sentido literal, apenas denotativo. Evidentemente ninguém há de chamar a polícia porque o sujeito se arvora a falar sobre tudo na TV, no jornal etc. Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 80 Além disso, temos no segundo período a omissão da vírgula da oração adverbial. Na alternativa d, outro erro salta aos olhos: temos uma correlação verbal problemática no último período, com a alteração da forma ―procurar‖ para ―procurasse‖. Nesse caso, para manter a correção do período, seria necessário alterar a locução ―vai encontrar‖, utilizando as formas ―encontraria‖, ou ―iria encontrar‖, para a correlação correta das formas verbais. Uma boa maneira de tornar óbvia a relação entre os verbos é aproximá- los Se você procurasse no dicionário a palavra petulância, vai encontrar a foto dele Se você procurasse, vai encontrar --- Se você procurasse, encontraria encontraria encontrava (coloquial) Desse modo, fica evidente que a continuidade da ação expressa na correlação verbal é prejudicada com as formas propostas na alternativa. Além disso, há um erro de pontuação, porque sujeito e verbo estão separados por vírgula em O Diogo Mainardi, é um assunto de polícia. A última alternativa traz um erro evidente no uso da conjunção ―conquanto‖, que introduz uma ressalva, equivalente a ―apesar de‖, é uma adversativa. Resta-nos portanto a primeira alternativa, que reescreve o período sem prejuízo do sentido, com clareza e correção. Gabarito: A A Importância da Literalidade Meus caros amigos, para resolver questões de interpretação do texto, o guia mais precioso com que contamos é justamente... o texto! A esmagadora maioria das questões de interpretação prende-se ao sentido literal, ao sentido imediatamente apreensível a partir de uma leitura. Importante ter em mente antes de tudo que o examinador não deseja saber a opinião do candidato a respeito do assunto tratado no texto; o que ele deseja saber é se o candidato entendeu de fato o que o texto diz. Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 80 E o que o texto diz? É um desafio realmente a compreensão de um texto, dado que sabemos que a polissemia é uma característica das palavras, conforme estudamos em aula anterior. Imaginem vocês então um texto, que envolve uma série de palavras, cada uma delas potencialmente polissêmica, quantas interpretações não poderá ter, não é? Calma, meus caros; atenhamo-nos ao sentido primário, próprio das palavras; lembrem-se do que eu disse, nas provas predominam os textos de cunho dissertativo, de linguagem objetiva. Darei um exemplo extremo, para quefique bem clara a questão para vocês. Veja o texto: A Lua é um corpo celeste habitado por um povo semelhante aos humanos, que moram não na superfície, mas no interior do satélite. Certo, está dito. Você acredita nisso? Você acha verossímil? Eu, francamente, não. Embora, é claro, nunca tenha ido à lua. Agora, se este texto aparece em uma prova, seguido da pergunta – de acordo com o texto, a lua é habitada? Sua resposta será: sim! Isso porque você se ateve à literalidade do texto, àquilo que o texto disse. De fato, lemos no texto ―A Lua é um corpo celeste habitado (...)‖. É prova suficiente de que a pergunta deve ser respondida com afirmativa. Questões de interpretação não procuram saber nossa opinião, mas o que o texto diz! Inferências Válidas, Pressupostos, Subentendidos Certo, o terreno da literalidade é seguro, mas por vezes o texto nos desafia com a necessidade de inferir informações que nem sempre estão presentes literalmente. O que podemos inferir, ou seja, concluir a partir do texto, sem possibilidade de discussão, será uma inferência válida. Estão relacionadas aos pressupostos do texto, noção que se relaciona ao contexto que o emissor não achou que devesse especificar. Vejamos um exemplo bem simples: se digo José almoçou mais cedo ontem, posso inferir, sem discussão, que José costuma almoçar mais tarde, geralmente, do que ontem. É um pressuposto do enunciado. E é, por isso mesmo, uma inferência válida. Não está dito no texto que José Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 80 costuma almoçar mais tarde do que ontem. Mas nesse caso podemos dispensar a literalidade, a inferência válida é aquela autorizada pelo texto. O pressuposto geralmente tem relação com o contexto da enunciação, com as circunstâncias e os dados tidos como aceitos pelos receptores do texto. Por exemplo, veja o trecho abaixo, retirado de notícia de O Estado de São Paulo: Nem bem havia acabado o jogo contra a Suécia, em que sua equipe venceu por 3 a 0, e Mano Menezes já estava pensando no próximo compromisso, contra a África do Sul, no dia 7 de setembro. Uma inferência válida a partir desse trecho é que trata da seleção brasileira de futebol, pois este é um pressuposto, um dado que o emissor considerou que o receptor saberia. Meus caros, sem os pressupostos, a comunicação verbal seria praticamente impossível, pois várias informações contextuais teriam de ser reiteradas continuamente. Agora, é preciso atentar para o limite dos pressupostos, pois se não corremos o risco de fazer inferências inválidas, além dos limites do que está pressuposto. Por exemplo, com base no fragmente acima, não podemos inferir se a seleção brasileira é um time bom, médio ou ruim; isso porque o texto não autoriza a inferência. Mesmo que alguém considere que vencer por três a zero seja suficiente para classificar o time como um bom time, ou um mau time, isso será irremediavelmente uma opinião própria, e não uma inferência a partir do texto. Então, as inferências válidas tem de estar apoiadas na literalidade do texto. SUBENTENDIDOS – Os subentendidos são gerados pelo emprego intencional do emissor de palavras ou expressões, ou textos, com a finalidade de dizer algo, com um significado, e deixar um sentido oculto sob o manto do sentido literal das palavras, de forma a que possa ser percebido. Então é preciso que haja a intenção do emissor, de dizer algo sem dizê-lo literalmente. E a interpretação do subentendido depende exclusivamente do destinatário. Daí a complexidade do problema. O subentendido sempre alude ao contexto. E realiza aquela possibilidade da polissemia a que aludimos: as palavras adquirem, ao mesmo tempo, dois sentidos. Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 80 Um exemplo clássico de subentendido está nos versos da canção Cálice, de Chico Buarque e Gilberto Gil – veja em http://www.chicobuarque.com.br/construcao/mestre.asp?pg=calice_73.ht m -, que começa por se apoiar na homofonia, que estudamos, entre as formas do substantivo cálice e do verbo cale-se, para fazer referência ao contexto social e político de sua época, em que o Estado usava de violência para combater a oposição e exercia a censura do pensamento, aludindo, em primeiro plano, à Paixão de Cristo. Evidente que a duplicidade de sentido foi intencional, e foi compreendida pelos destinatários, tendo a canção alcançado um grande sucesso. A ironia pode ser feita através do subentendido, pois a literalidade muitas vezes tem significação oposta do que se pretende dizer. Por exemplo: -- Ah, chegou cedo, hein, meu caro? Diz o chefe, olhando para o relógio com impaciência: evidente que se subentende que o sujeito chegou tarde, e não cedo. Os subentendidos, para resumir, fazem referência ao contexto, são produzidos intencionalmente, e dependem do destinatário perceber a intenção e ―desvendar‖ o significado encoberto: é um fenômeno bastante complexo na comunicação verbal. Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 80 Redigir um documento requer cuidado e atenção, principalmente quando se trata de redação de atos administrativos e de comunicação do poder público. As características necessárias do documento oficial são Concisão Clareza Objetividade e impessoalidade Respeito à norma culta Respeito a certas formalidades A simplicidade na redação oficial é condição essencial. Opõe-se ao rebuscamento, ao preciosismo exacerbado que, mesmo na redação de atos processuais, é um recurso anacrônico. Além disso, o documento oficial deve obedecer aos princípios administrativos. Princípios administrativos e redação oficial Os atos administrativos expressos em documentos devem, necessariamente, respeitar os princípios administrativos pelos quais se pauta o serviço público. O princípio da legalidade, segundo o qual a administração pública só pode fazer o que é permitido por lei, é obedecido com a fundamentação legal, referência textual importante. A isenção de interferência da individualidade, da subjetividade e da passionalidade de quemelabora o ato é exigida pelo princípio da impessoalidade. O princípio da publicidade discorre sobre a ampla divulgação dos atos praticados pela administração pública, daí a obrigatoriedade de publicação da maioria dos atos no órgão oficial. Embora não sejam princípios administrativos, e sim diretrizes que orientam a redação oficial, a formalidade e a uniformidade também devem ser cumpridas. A formalidade deve ser seguida no uso das formas de tratamento adequadas a cada autoridade. A uniformidade deve ser cumprida com o uso sistemático e padronizado dos elementos constitutivos dos atos administrativos (cabeçalhos, vocativos, fechos, identificação de signatário e outros). E, por fim, uma redação oficial eficiente deve propiciar a qualquer pessoa entendimento sobre o enunciador, o enunciatário e o motivo da Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 30 de 80 comunicação. Com isso, será atingida a eficiência, princípio constitucionaladministrativo inserido pela Emenda Constitucional 19, de 04/06/1998. Entre todos esses princípios, o da impessoalidade necessita ser mais aprofundado. Impessoalidade Os textos oficiais devem isentar-se de impressões pessoais de quem os elabora e de marcas de individualidade de quem os recebe. Desse modo, a redação oficial deve ser caracterizada pela impessoalidade, tanto do enunciador como do enunciatário. E, também, deve ser dirigida aos cidadãos em geral, sem explicitação de identidade, ou a outro órgão público. Quando as mensagens oficiais forem encaminhadas especificamente a alguém, o direcionamento deve ser feito ao enunciatário na condição de ocupante do cargo. Ou seja, não se trata de uma mensagem pessoal, mas de uma comunicação oficial. A impessoalidade também deve constar da mensagem. Todo ato administrativo deve ter como principal finalidade o interesse público. Assim, os assuntos abordados pelas comunicações oficiais devem ser restritos a questões referentes ao interesse público, não devendo apresentar tom pessoal ou particular e nem tratar de interesse próprio ou de terceiros. Seguem algumas informações que ajudam a garantir a impessoalidade nos textos oficiais. - Imparcialidade: evite manifestações de impressão pessoal. Exemplo: Na minha opinião,... (inadequado) Deve ser considerado... (adequado) Agrada-me essa ideia... (inadequado) Esse posicionamento é favorável... (adequado) Impessoalidade verbal: utilize conjugação impessoal sempre que possível, conjugando o verbo na terceira pessoa ou utilizando verbos na forma passiva. Exemplo: Eu sei que o prazo é de uma semana. (inadequado) É sabido que o prazo é de uma semana. (adequado) Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 31 de 80 Redigiram o ofício... (inadequado) O ofício foi redigido... (adequado) Clareza É a qualidade do que é inteligível e não gera dúvidas e incertezas quanto à ideia que se deseja exprimir. Essa característica é de fundamental importância na elaboração dos atos administrativos, que não podem deixar margem a diferentes interpretações. Quanto mais clara a mensagem, menor a possibilidade de entendimentos equivocados. A clareza é atingida quando se atenta para algumas questões importantes:. - Precisão semântica: evite a ambiguidade. O duplo sentido de palavras ou expressões é um dos principais empecilhos à clareza. Exemplo: Fulano, o procurador pediu que deixasse o relatório em sua mesa. (inadequado) Fulano, o procurador pediu que deixasse o relatório na mesa dele. (adequado) - Frases curtas: evite frases demasiadamente compridas. A informação principal do texto pode tornar-se confusa em períodos muito longos. - Vocabulário usual: evite o uso de jargões técnicos ou palavras rebuscadas. É também importante certificar-se do significado correto das palavras utilizadas. Concisão Meus caros, se podemos dizer algo com menos palavras, é certo que há palavras sobrando em nosso texto. O esforço para atingir a concisão envolve eliminar o que é redundante e desnecessário, sem excluir elementos importantes à completa compreensão da mensagem a ser transmitida. Seguem algumas sugestões essenciais à concisão. - Locução enxuta: evite a construção verbo + artigo + substantivo, substituindo-a por verbo no infinitivo. Exemplo: Fazer uma organização... (inadequado) Organizar... (adequado) Acusamos o recebimento da documentação... (inadequado) Recebemos a documentação... (adequado) Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 32 de 80 - Excesso de palavras: evite o uso exagerado de adjetivos, preposições e outras palavras que não acrescentam significado ao texto. Exemplo: Vamos proceder sem demora ao envio da documentação solicitada. (inadequado) Enviaremos rapidamente a documentação solicitada. (adequado) ... documentos que nos vemos obrigados a devolver-lhes, porque observamos que se encontram sem a devida assinatura. (inadequado) ... documentos que lhes devolvemos por falta de assinatura. (adequado) Meus caros, os pronomes chamados ―de tratamento‖, que tivemos a oportunidade de estudar em nossa aula que tratou das classes de palavras (Aula 01), são um sinal na língua da posição social atribuída pelo falante aos interlocutores. E, na estrutura do Estado, a hierarquia e portanto a posição relativa de cada um é determinada, bem marcada, legalmente formalizada inclusive. Então, nada mais natural que haja uma preocupação, nos documentos oficiais, com o emprego correto dos pronomes de tratamento. Assim, é importante que as autoridades sejam tratadas pelo pronome adequado; reproduzo abaixo síntese interessante, de acordo com o Manual de Redação da Presidência da República, uma fonte relevante quanto à redação oficial. Os documentos oficiais têm, sem dúvida, um registro formal. Os seguintes pronomes de tratamento aplicam-se aos ocupantes dos cargos e funções a seguir: Vossa Excelência, em geral para os titulares de poder, e especificamente para as seguintes autoridades: a) do Poder Executivo; Presidente da República; Vice-Presidente da República; Ministros de Estado; Governadores e Vice-Governadores de Estado e do Distrito Federal; 3 Conforme o Manual de Redação da Presidência da República. Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 33 de 80 Oficiais-Generais das Forças Armadas; Embaixadores; Secretários-Executivos de Ministérios e demais ocupantes de cargos de natureza especial; Secretários de Estado dos Governos Estaduais; Prefeitos Municipais. b) do Poder Legislativo: Deputados Federais e Senadores; Ministros do Tribunal de Contas da União; Deputados Estaduais e Distritais; Conselheiros dos Tribunais de Contas Estaduais; Presidentes das Câmaras Legislativas Municipais. c) do Poder Judiciário: Ministros dos Tribunais Superiores; Membros de Tribunais; Juízes; Auditores da Justiça Militar. O vocativo a ser empregado em comunicações dirigidas aos Chefes de Poder é Excelentíssimo Senhor, seguido do cargo respectivo: Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional, Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal. As demais autoridades serão tratadas com o vocativo Senhor, seguido do cargo respectivo: Senhor Senador, Senhor Juiz, Senhor Ministro, Senhor Governador, Endereçamento – O endereçamento das comunicações dirigidas às autoridades tratadas por Vossa Excelência terá a seguinte forma: Português p/ ANA Teoria e exercícios comentados Prof Marcos Van Acker – Aula 05 Prof. Marcos Van Acker www.estrategiaconcursos.com.br 34 de 80 A Sua Excelência o Senhor Fulano de Tal Ministro de Estado da Justiça 70064-900 – Brasília. DF A Sua Excelência o Senhor Senador Fulano de Tal Senado Federal 70165-900 – Brasília. DF A Sua Excelência o Senhor Fulano de Tal Juiz de Direito da 10a Vara Cível Rua ABC, no 123 01010-000 – São Paulo. SP Em comunicações oficiais, está abolido o uso do tratamento digníssimoErro! Indicador não definido.
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