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DIREITO DISCIPLINAR MILITAR Copia

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AT 1
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S
U
M
Á
R
IO
3 UNIDADE 1 – Introdução
5 UNIDADE 2 – O Direito Disciplinar Militar
5 2.1 Natureza
6 2.2 Disciplina e hierarquia
17 UNIDADE 3 – Os Regulamentos Disciplinares e a CRFB/88
17 3.1 Princípio da recepção das leis
18 3.2 Princípio da hierarquia das leis
18 3.3 Princípio da reserva legal
18 3.4 A ação declaratória de inconstitucionalidade contra o Regulamento Disciplinar do Exército
23 UNIDADE 4 – Obrigações e Deveres Militares
23 4.1 Valor e ética militar
24 4.2 Deveres militares
27 UNIDADE 5 – Direitos e Prerrogativas dos Militares
27 5.1 Direitos dos militares
33 5.2 Prerrogativas dos militares
35 UNIDADE 6 – Violação dos Valores, dos Deveres e da Disciplina
38 UNIDADE 7 – Limites do Ato Disciplinar Militar
40 7.1 O mérito do ato disciplinar
42 UNIDADE 8 – Controle Jurisdicional do Ato Disciplinar Militar
47 REFERÊNCIAS
49 ANEXOS
2 33
UNIDADE 1 – Introdução
“A hierarquia e a disciplina constituem, 
por assim dizer, a própria essência das 
forças armadas. Se quisermos, portanto, 
preservar a integridade delas devemos 
começar pela tarefa de levantar um sóli-
do obstáculo às pretensões do Judiciário, 
se é que existem, de tentar traduzir em 
conceitos jurídicos experiências vitais da 
caserna. Princípios como os da isonomia e 
da inafastabilidade do Judiciário têm pouco 
peso quando se trata de aferir situações 
específicas à luz dos valores constitucio-
nais da hierarquia e da disciplina. O quartel 
é tão refratário àqueles princípios, como 
deve ser uma família coesa que se jacta de 
ter à sua frente um chefe com suficiente e 
acatada autoridade.
E seria tão desastroso para a missão 
institucional das forças armadas que as 
ordens de um oficial pudessem ser contra-
ditadas nos tribunais comuns, como para a 
coesão da família, se a legitimidade do pá-
trio poder dependesse, para ser exercido, 
do plebiscito da prole.
Da mesma forma que a vocação religio-
sa implica o sacrifício pessoal e do amor 
próprio – e poucos são os que a têm por 
temperamento – a militar requer a obedi-
ência incontestada e a subordinação con-
fiante às determinações superiores, sem o 
que vã será a hierarquia, e inócuo o espírito 
castrense. Se um indivíduo não está voca-
cionado à carreira das armas, com o despo-
jamento que ela exige, que procure seus 
objetivos no amplo domínio da vida civil, na 
qual a liberdade e a livre-iniciativa consti-
tuem virtudes. Erra rotundamente quem 
pretende afirmar valores individuais onde, 
por necessidade indeclinável, só os cole-
tivos têm a primazia. Comete erro maior, 
porém, quem, colimando a defesa dos pri-
meiros, busca a cumplicidade do Judiciário 
para, deliberadamente ou não, socavar os 
segundos, ainda que aos nossos olhos pro-
fanos, lídimo possa parecer tal expediente 
e constitucional a pretensão através dele 
deduzida”1 . 
Com essas palavras de MÁRIO PIMENTEL 
ALBUQUERQUE (2001), iniciamos os estu-
dos sobre o direito disciplinar militar, que 
alguns autores preferem denominar de Di-
reito Administrativo Disciplinar Militar.
Em 1981, JOSÉ ARMANDO DA COSTA de-
finiu “Direito Disciplinar como o conjunto de 
princípios e normas que objetivam, através 
de vários institutos próprios, condicionar e 
manter a normalidade do Serviço Público”.
O mesmo autor, ao revisar e atualizar 
sua obra em 2004, manteve a mesma defi-
nição, mas expôs que as particulares intrín-
secas que imprimem fisionomia própria ao 
Direito Disciplinar, o fazem, pouco a pouco, 
se desvincular do seu ramo-mãe, lembran-
do que esse direito relaciona-se com vários 
outros ramos do Direito, recebendo deles 
princípios e normas orientadores e de com-
plementação, porém, as suas relações são 
bem mais estreitas com o Direito Adminis-
trativo e com o Direito Penal.
Pois bem, neste momento veremos a 
natureza do Direito Disciplinar Militar, a 
disciplina e hierarquia; os regulamentos 
1 Mário Pimentel Albuquerque, Procurador da República, em pa-
recer constante do HC 2.217/RJ - TRF/2a Região - ReI. Des. Federal 
Sérgio Correa Feltrin - j. em 25.04.2001.
4 54
disciplinares e a CRFB/1988; as obrigações 
e deveres militares; os direitos e prerroga-
tivas; a violação dos valores, dos deveres 
e da disciplina; os limites do ato disciplinar 
militar; e por fim, o controle jurisdicional do 
ato disciplinar militar.
Desejamos boa leitura e bons estudos, 
mas antes algumas observações se fazem 
necessárias:
1) Ao final do módulo, encontram-se 
muitas referências utilizadas efetivamen-
te e outras somente consultadas, princi-
palmente artigos retirados da World Wide 
Web (www), conhecida popularmente 
como Internet, que devido ao acesso facili-
tado na atualidade e até mesmo democrá-
tico, ajudam sobremaneira para enriqueci-
mentos, para sanar questionamentos que 
por ventura surjam ao longo da leitura e, 
mais, para manterem-se atualizados.
2) Deixamos bem claro que esta compo-
sição não se trata de um artigo original2 , 
pelo contrário, é uma compilação do pensa-
mento de vários estudiosos que têm muito 
a contribuir para a ampliação dos nossos 
conhecimentos. Também reforçamos que 
existem autores considerados clássicos 
que não podem ser deixados de lado, ape-
sar de parecer (pela data da publicação) 
que seus escritos estão ultrapassados, 
afinal de contas, uma obra clássica é aque-
la capaz de comunicar-se com o presente, 
mesmo que seu passado datável esteja se-
parado pela cronologia que lhe é exterior 
por milênios de distância.
3) Por uma questão ética, a empresa/
instituto não defende posições ideológico-
-partidária, priorizando o estímulo ao co-
2 Trabalho inédito de opinião ou pesquisa que nunca foi publicado 
em revista, anais de congresso ou similares.
nhecimento e ao pensamento crítico.
4) Sabemos que a escrita acadêmica 
tem como premissa ser científica, ou seja, 
baseada em normas e padrões da acade-
mia, portanto, pedimos licença para fugir 
um pouco às regras com o objetivo de nos 
aproximarmos de vocês e para que os te-
mas abordados cheguem de maneira clara 
e objetiva, mas não menos científicos.
Por fim:
5) Deixaremos em nota de rodapé, sem-
pre que necessário, o link para consulta de 
documentos e legislação pertinente ao as-
sunto, visto que esta última está em cons-
tante atualização. Caso esteja com mate-
rial digital, basta dar um Ctrl + clique que 
chegará ao documento original e ali encon-
trará possíveis leis complementares e/ou 
outras informações atualizadas. Caso es-
teja com material impresso e tendo acesso 
à Internet, basta digitar o link e chegará ao 
mesmo local.
4 55
Também denominado direito adminis-
trativo disciplinar militar, entende-se por 
tal ramo especial as seguintes caracterís-
ticas:
 um conjunto de regras que estudam 
os princípios, os atos de transgressão, os 
procedimentos e as sanções inerentes à 
disciplina e à coesão das Forças Militariza-
das;
 contempla o estudo pormenorizado 
da transgressão disciplinar, sua natureza 
jurídica, seus reflexos e os mecanismos 
indispensáveis à sua aplicabilidade;
 tem como aplicação judicial: a) a re-
forma constitucional e a ampliação da 
competência da justiça militar estadual 
com a abrangência das punições discipli-
nares; b) a necessidade de garantia da si-
metria constitucional em relação à Justiça 
Militar da União.
A reforma constitucional que engen-
drou a produção de mais uma emenda, a 
de nº 45/2004, acarretou uma parcial re-
forma no Judiciário pátrio, deixando ques-
tões ainda pendentes para novos deba-
tes congressuais, sendo que, dentre as 
mudanças operadas, temos a ampliação 
da competência da Justiça Militar Estadu-
al, cujo alcance se estendeu para o julga-
mento das denominadas punições disci-
plinares (DUARTE, 2008).
A referida alteração constitucional 
atende ao anseio dos que sempre defen-deram a necessidade de se concentrar as 
decisões afetas à criminalidade e à disci-
plina militares no órgão jurisdicional espe-
cialmente estatuído na Constituição para 
tal mister, com a garantia da celeridade e 
da uniformidade jurisprudencial.
Em razão disso, não se pode concordar 
que, no plano estadual, seja ampliada a ju-
risdição castrense, sem que idêntica mu-
dança aconteça no contexto da jurisdição 
federal militar, até porque os motivos que 
ensejaram a alteração de competência 
daquela Justiça Estadual são os mesmos 
que justificam tal alteração no âmbito da 
Justiça Militar da União.
Assim, qualquer proceder diverso con-
traria, frontalmente, o primado da sime-
tria constitucional, em claro prejuízo para 
as instituições que sedimentam o Estado 
Democrático de Direito (DUARTE, 2008).
2.1 Natureza
Embora o Direito Militar se estabele-
ça com autonomia, convém lembrarmos 
que seu estudo não acontece de forma 
isolada, mas em conjunto com toda uma 
legislação material que se refere à organi-
zação e funcionamento das Forças Arma-
das. Aqui podemos citar o Direito Adminis-
trativo Militar; Direito Penal Militar, Direito 
Processual Penal Militar, Direito Previden-
ciário Militar, bem como o Direito Discipli-
nar Militar, foco desse momento do curso.
Com diz ANTÔNIO PEREIRA DUARTE 
(2008), o direito militar, portanto, é bas-
tante abrangente em suas ramificações, 
exigindo um esforço hermenêutico muito 
sério para aclarar alguns de seus institu-
tos basilares, assinalando-se a produção 
de efeitos jurídicos de grave repercussão.
 Insere-se ainda dentro deste direito mi-
UNIDADE 2 – O Direito Disciplinar Militar
6 7
litar, a seguinte legislação extrapenal: Lei 
do Serviço Militar e seu Regulamento; os 
Regulamentos Disciplinares da Marinha, 
do Exército e da Aeronáutica; as Leis de 
Promoções de Oficiais e Praças; a Lei que 
dispõe sobre as normas gerais para a or-
ganização, o preparo e o emprego das For-
ças Armadas, as Leis e Decretos que dis-
põem sobre o Conselho de Justificação e 
de Disciplina, e seus correspondentes em 
relação às Forças Auxiliares, os Decretos 
e Portarias regulamentares, etc. Ou seja, 
sem entender a estrutura e a organização 
das Forças Armadas, das Polícias Militares 
e dos Corpos de Bombeiros Militares, seu 
modus vivendi próprio, os usos e costu-
mes militares e os valores que lhes são ca-
ros, difícil é a compreensão do que seja o 
direito disciplinar militar o qual, em última 
análise é a manifestação do Estado na de-
limitação de conduta dos integrantes das 
instituições militares, visando uma me-
lhor prestação de serviço na consecução 
das missões constitucionalmente fixadas 
para as Forças Armadas e Forças Auxilia-
res (ASSIS, 2014).
Feitas essas considerações, podemos 
afirmar a existência de três (03) ramos do 
Direito, os quais estão, em ordem decres-
cente, contidos uns nos outros, a saber:
a) um DIREITO MILITAR, composto por 
toda a legislação material que se refere à 
organização e ao funcionamento das For-
ças Armadas e das Forças Auxiliares, seja 
de natureza administrativa, civil ou penal 
militar;
b) um DIREITO ADMINISTRATIVO MILI-
TAR, que pode ser definido como o con-
junto harmônico de princípios jurídicos 
próprios e peculiares que regem as ins-
tituições militares, seus integrantes e as 
atividades públicas tendentes a realizar 
concreta, direta e imediatamente os fins 
desejados pelo Estado e fixados na Cons-
tituição Federal – a defesa da Pátria e a 
preservação da ordem pública 3; e,
c) um DIREITO DISCIPLINAR MILITAR, 
que é aquele que se ocupa com as rela-
ções decorrentes do sistema jurídico mi-
litar vigente no Brasil, o qual pressupõe 
uma indissociável relação entre o poder 
de mando dos Comandantes, Chefes e Di-
retores militares (conferido por lei e deli-
mitado por esta) e o dever de obediência 
de todos os que lhes são subordinados, 
relação essa tutelada pelos regulamentos 
disciplinares quando prevê as infrações 
disciplinares e suas respectivas punições, 
e controlada pelo Poder Judiciário quando 
julga as ações judiciais propostas contra 
atos disciplinares militares.
Distinguindo o direito penal do direito 
disciplinar, afirmam EUGENIO RAÚL ZA-
FFARONI e RICARDO JUAN CAVALLERO 
(1980) que o direito penal protege bens 
jurídicos, enquanto que o disciplinar visa, 
tão somente, a infração de um dever es-
pecial com relação a um determinado ser-
viço
2.2 Disciplina e hierarquia
Disciplina e hierarquia são institutos 
constitucionalizados em favor das Forças 
Armadas e Forças Auxiliares (art. 424 e 1425 
3- Seguindo a linha conceitual de Direito Administrativo pro-
posta por Hely Lopes Meirelles.
4- Redação dada pelas Emendas Constitucionais nº 18, de 1998 
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/
Emc/emc18.htm#art2), nº 20, de 1998 (https://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc20.htm#art1) 
e nº 41, de 2003 (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/consti-
tuicao/Emendas/Emc/emc41.htm#art1). 
5- Redação dada pelas Emendas Constitucionais nº 18, de 1998 
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/
Emc/emc18.htm#art2) e nº 77, de 2014 (https://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc77.htm).
6 7
da CRFB/88).
A disciplina militar consiste na rigorosa 
observância e acatamento integral das 
leis, regulamentos, normas e disposições 
que regem a vida castrense. Materializa-
-se por meio do perfeito cumprimento do 
dever por parte de todos e de cada um dos 
membros das Forças Armadas (ABREU, 
2015).
A disciplina e o respeito à hierarquia de-
vem ser mantidos em todas as circunstân-
cias da vida entre os militares da ativa, da 
reserva remunerada e reformados, ainda 
que no âmbito civil, sob pena de prática 
ato contrário ao dever militar (Art. 31, IV, 
da Lei nº 6.880/80).
Lei nº 6.880/80 - Art. 14. A hierarquia 
e a disciplina são a base institucional das 
Forças Armadas. A autoridade e a respon-
sabilidade crescem com o grau hierárqui-
co.
§ 1º. A hierarquia militar é a ordenação 
da autoridade, em níveis diferentes, den-
tro da estrutura das Forças Armadas. A 
ordenação se faz por postos (art. 16, § 1º, 
Lei nº 6.880/80) ou graduações (art. 16, 
§ 3º, da Lei nº 6.880/80); dentro de um 
mesmo posto ou graduação se faz pela 
Antiguidade no posto ou na graduação. O 
respeito à hierarquia é consubstanciado 
no espírito de acatamento à sequência de 
autoridade. 
§ 2º - Disciplina é a rigorosa observância 
e o acatamento integral das leis, regula-
mentos, normas e disposições que funda-
mentam o organismo militar e coordenam 
seu funcionamento regular e harmônico, 
traduzindo-se pelo perfeito cumprimento 
do dever por parte de todos e de cada um 
dos componentes desse organismo. 
§ 3º - A disciplina e o respeito à hierar-
quia devem ser mantidos em todas as cir-
cunstâncias da vida entre militares da ati-
va, da reserva remunerada e reformados.
Para WILSON ODIRLEY VALLA (2003), 
a organização militar é baseada em prin-
cípios simples, claros e que existem há 
muito tempo, a exemplos da disciplina e 
da hierarquia. Como se tratam dos valo-
res centrais das instituições militares, é 
necessário conhecer alguns atributos que 
revestem a relação do profissional com 
estes dois ditames basilares da investi-
dura militar, manifestados pelo dever de 
obediência e subordinação, cujas parti-
cularidades não encontram similitudes na 
vida civil.
Para o autor, a obediência hierárquica 
militar, no âmbito do Direito Penal e no 
Direito Administrativo deve ser diversa-
mente considerada, visto que a natureza 
da função militar requer que o superior 
conte com poderes e faculdade que com-
preende, ao mesmo tempo, o direito de 
ordenar e a faculdade de punir os atos 
que julgue contrários à disciplina (VALLA, 
2003,p. 117).
Tomando por referência o § 1º do art. 14 
da Lei nº 6.880/80, JOSÉ LUIZ DIAS CAM-
POS JUNIOR (2001, p. 132) ressalta que 
a obediência hierárquica é, no consenso 
geral, o princípio maior da vida orgânica e 
funcional das forças armadas. O ataque a 
esse princípio leva à dissolução da ordem 
e do serviço militar.
Da essência mesma da hierarquia, des-
prende-se que a localização que cada um 
dos integrantes tem na escala hierárquica 
importa em um diferente nível de exigên-
cias e atribuições. Na medida em que se 
8 9
sobe na mesma, se acrescentam ambas, 
pois a maior capacidade de comando cor-
responde a uma maior responsabilidade 
(CAMPOS JUNIOR, 2001, p. 133).
WILSON ODIRLEY VALLA (2003), lem-
bra que CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE 
MELLO, citado no trabalho do Cel. PMSP 
CARLOS ALBERTO DE CAMARGO, ao defi-
nir hierarquia, põe em evidência o princí-
pio da autoridade, dizendo: hierarquia se 
define como o vínculo de autoridade que 
une escalonadamente em graus suces-
sivos, órgãos e agentes numa relação de 
subordinação, ou seja, de superior a infe-
rior, de hierarca a subalterno.
Por isso, em razão do direito de poder 
mandar, o superior tem, em matéria de 
serviço, completa disponibilidade sobre 
os atos praticados pelo subordinado que, 
além da faculdade de aplicar a punição, 
tem autoridade de fiscalização, de revi-
são, de dirimir controvérsias de compe-
tência e avocação. Obviamente, essa dis-
ponibilidade sobre os atos do subordinado 
é exercida dentro dos limites da legalida-
de, da moralidade e da eficiência (VALLA, 
2003, p. 118).
Enfim, entende-se por hierarquia a su-
perposição de vários graus em uma orga-
nização autorizada de agentes, de sorte 
que agentes inferiores não cumprem suas 
funções sob a obrigação direta e única de 
observar a lei, mas pela obrigação de obe-
decer ao chefe que se interpõe entre eles 
e a lei (FAGUNDES, s.d. apud ASSIS, 2014).
Um bom exemplo se dá com as polícias 
militares e que tem pertinência em rela-
ção às Forças Armadas: se o policial mili-
tar prende alguém, lavra uma notificação 
por infração de trânsito ou executa outro 
ato de polícia ostensiva qualquer, ele está 
cumprindo a lei. Mas se sai à rua com sua 
tropa para congelar uma área ou ocupar 
uma determinada instalação, ou ainda, 
executar uma ação letal contra um margi-
nal que está de posse de refém, ele está 
cumprindo ordens, as quais não lhe com-
pete analisar se estão ou não conforme a 
lei (VALLA, 2003).
A segunda viga mestra das Instituições 
Armadas é a disciplina.
LORENZO COTINO HUESO (2002 apud 
ASSIS, 2014) considera a disciplina mi-
litar um elemento essencial das Forças 
Armadas. Para ele, a ordem e a disciplina 
são próprias de qualquer sociedade, com 
o que se pode concluir que o princípio da 
autoridade não seja exclusivo da organi-
zação militar, ocorrendo tanto em outros 
órgãos públicos como privados.
Tanto as relações administrativas ci-
vis como as trabalhistas ou educativas 
se configuram com base no princípio da 
autoridade, ainda que todos estes âmbi-
tos estejam longe da organização militar, 
onde o princípio da eficácia e com ele o da 
hierarquia e disciplina adquirem uma sig-
nificação de todo particular. Não seria em 
vão, portanto, concluir que a organização 
burocrática militar é a técnica de domina-
ção mais perfeita (HUESO, 2002, p. 531 
apud ASSIS, 2014).
A quase totalidade dos regulamentos 
disciplinares brasileiros prevê, como sen-
do uma das manifestações da disciplina, a 
obediência pronta às ordens dos superio-
res hierárquicos (art. 8º, § 1º, inciso II, Re-
gulamento Disciplinar do Exército6 ).
6- Decreto nº 4.346, de 26 de agosto de 2002 (http://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4346.htm).
8 9
É conditio sine qua non para a existên-
cia das instituições militares a circuns-
tância elementar do militar dever consi-
deração, respeito e acatamento aos seus 
superiores hierárquicos (art. 3º, Regula-
mento Disciplinar da Aeronáutica7 ).
Salvo engano, o único Estado brasileiro 
que revogou como manifestação da dis-
ciplina a obediência pronta às ordens dos 
superiores hierárquicos – e de consequ-
ência o dever de consideração, respeito e 
acatamento aos superiores hierárquicos, 
foi Minas Gerais, com a edição de seu Có-
digo de Ética e Disciplina (ver Lei Estadual 
14.310/02), que não a previu em seu art. 
6º.
No extinto Regulamento Disciplinar, o 
dever de obediência era tratado no Ca-
pítulo II (Princípios Gerais da Hierarquia 
e Disciplina, art. 5º, § 2º, I e II). No Código 
de Ética o dever de obediência foi omitido, 
descaracterizando a essência da nature-
za militar da Polícia Militar e do Corpo de 
Bombeiro Militar do Estado de Minas Ge-
rais (ASSIS, 2014).
Para o Código de Ética, a disciplina se 
manifesta pela: “observância às prescri-
ções regulamentares”; e pela “pronta obe-
diência às ordens legais”. 
Para LAURENTINO DE ANDRADE FILO-
CRE (2004, p. 245), é nítida, no novo diplo-
ma legal, a reversão do princípio funda-
mental à disciplina – a “obediência devida” 
– ao condicionar o cumprimento da ordem 
à sua legalidade. Subtrai, assim, um ele-
mento básico existente nos ordenamen-
tos disciplinares dos mais diversos países: 
a presunção de legitimidade da ordem do 
superior hierárquico. A ordem poderá, as-
sim, ser sempre questionada quanto à sua 
legalidade.
No entendimento de JORGE CÉSAR DE 
ASSIS (2014), não é difícil de visualizar a 
insegurança jurídica passível de se ins-
taurar em um sistema, dito militar, em 
que, cada um de seus integrantes, de per 
si, possa arvorar-se em órgão de contro-
le prévio da legalidade da ordem dada 
pelo seu superior, principalmente quando 
se sabe que o controle da legalidade das 
ordens hierárquicas é sempre posterior, 
quando a obediência é alegada como cau-
sa de exclusão da culpabilidade.
Se a obediência pronta às ordens dos 
superiores hierárquicos é uma das mani-
festações elementares da disciplina – daí 
decorre o dever de obediência comum às 
instituições militares, a falta de sua previ-
são nas leis e regulamentos militares (por 
omissão ou má-fé) torna a corporação 
capenga em um de seus sustentáculos e 
aí, conquanto a justificativa inicial apre-
sentada fosse à valorização profissional 
dos militares do Estado, resguardando 
os princípios basilares da hierarquia e da 
disciplina, a constatação final é de referi-
dos princípios basilares e constitucionais 
restaram sensivelmente enfraquecidos, 
podendo mesmo se falar em inconstitu-
cionalidade por omissão, autorizando a 
competente ação no Supremo Tribunal 
Federal, nos termos do art. 103, § 2º 8 , da 
Carta Magna.
Pois bem, sendo a hierarquia militar, or-
denação vertical e horizontal da autorida-
de dentro da estrutura das Forças Arma-
7- Decreto nº 4.346, de 26 de agosto de 2002 (http://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4346.htm).
8- Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004 (https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/
emc45.htm#art2).
10 11
das, vejamos seus detalhes.
2.2.1 Ordenação vertical 
da autoridade por postos e 
graduações
Decorre do escalonamento vertical 
da autoridade, em níveis diferentes, por 
meio dos postos e graduações que com-
põem a escala hierárquica das Forças Ar-
madas (em anexo). Exemplificando: um 
capitão possui grau hierárquico superior 
ao do primeiro-tenente, do segundo-te-
nente, do aspirante a oficial, do suboficial, 
do primeiro-sargento. Em contrapartida, 
possui grau hierárquico inferior ao do ma-
jor, do capitão de corveta, do tenente-co-
ronel, do coronel.
2.2.2 Ordenação horizon-
tal da autoridade
A precedência hierárquica entre os mi-
litares da ativa que se encontram num 
mesmo posto ou graduação se dá pelo 
tempo de permanência nele, ou seja, pela 
antiguidade no posto ouna graduação, 
salvo nos casos de precedência funcio-
nal estabelecida em leis (art. 17, da Lei nº 
6.880/80).
Deste modo, o capitão “A”, promovido 
em dezembro de 2014, terá precedência 
hierárquica sobre o capitão “B”, promovi-
do em abril de 2015, em razão da antigui-
dade, isto é, do tempo de permanência no 
posto. Em havendo empate no tempo de 
permanência, a precedência hierárquica 
dar-se-á da seguinte forma (art. 17, § 2º 
da Lei nº 6.880/80):
a) entre militares do mesmo corpo, 
quadro, arma ou serviço, pela posição nas 
respectivas escalas numéricas ou regis-
tros existentes em cada Força;
b) nos demais casos, pela antiguidade 
no posto ou graduação anterior. Persis-
tindo o empate, recorrer-se-á, sucessiva-
mente, aos graus hierárquicos anteriores 
e, por fim, à data de praça. Se ainda assim 
persistir o empate, a data de nascimento 
será o último critério de desempate. O mi-
litar de mais idade terá prevalência hierár-
quica.
A precedência hierárquica entre o mi-
litar ativo e inativo será aferida em razão 
do posto ou da graduação de que sejam 
titulares. Desta forma, um major que se 
encontra na reserva, ou seja, na inativida-
de, tem precedência hierárquica sobre um 
capitão da ativa.
De outro lado, dentro de um mesmo 
posto ou graduação, o militar da ativa 
terá prevalência hierárquica sobre o ina-
tivo, independentemente da antiguidade. 
Exemplificando: um suboficial “A” na ativa, 
promovido a esta graduação em dezem-
bro de 2016, terá precedência hierárquica 
sobre um suboficial “B” da reserva, ainda 
que este tenha sido promovido à gradua-
ção suboficial em dezembro de 2014.
Quanto à ordenação da autoridade en-
tre militar da ativa e da reserva, remu-
nerada ou não, convocado para o serviço 
ativo, dar-se-á em função do posto ou da 
graduação de que sejam titulares. Um pri-
meiro-tenente da reserva, remunerada 
ou não, convocado para o serviço ativo 
terá precedência hierárquica sobre um 
segundo-tenente da ativa.
Por outro lado, em havendo igualdade 
de posto ou de graduação, a precedência 
10 11
hierárquica será aferida pela antiguidade 
no posto ou na graduação.
A precedência hierárquica entre praças 
especiais e as demais praças será aferida 
da seguinte forma:
a) os guardas-marinha e os aspirantes 
a oficial são hierarquicamente superiores 
às demais praças;
b) os aspirantes, cadetes e alunos da 
Escola de Oficiais Especialistas da Aero-
náutica são hierarquicamente superiores 
aos suboficiais e aos subtenentes;
c) os alunos de Escola Preparatória de 
Cadetes e do Colégio Naval têm prece-
dência sobre os terceiros-sargentos, aos 
quais são equiparados;
d) os alunos dos órgãos de formação de 
oficiais da reserva, quando fardados, têm 
precedência sobre os cabos, aos quais são 
equiparados;
e) os cabos têm precedência sobre os 
alunos das escolas ou dos centros de for-
mação de sargentos, que a eles são equi-
parados, respeitada, no caso de militares, 
a antiguidade relativa.
A precedência entre militares e civis, 
em missões diplomáticas ou em comis-
são no País ou no estrangeiro, bem como 
nas solenidades oficiais, é regulamen-
tada em legislação especial (ver Decreto 
70.274/72).
2.2.3 Círculos hierárquicos 
nas Forças Armadas
Os militares são agrupados em dois 
grandes círculos hierárquicos, a saber: o 
dos oficiais e o das praças. Colima-se, com 
isso, o desenvolvimento do espírito de ca-
maradagem, de um ambiente de estima e 
confiança, sem prejuízo do respeito mú-
tuo e da hierarquia militar (ABREU, 2015).
O círculo dos oficiais é dividido em:
a) círculo dos oficiais-generais;
b) círculo de oficiais superiores;
c) círculo de oficiais subalternos.
O círculo das praças é composto 
pelos:
a) círculo de suboficiais, subtenentes e 
sargentos;
b) círculo de cabos e soldados. Os inte-
grantes de cada um dos círculos hierár-
quicos estão listados em anexo ao final da 
apostila.
2.2.4 Posto e Patente
Posto é o grau hierárquico do oficial, 
conferido por ato do Presidente da Repú-
blica e confirmado em Carta Patente (ver 
art. 42, § 1º9 , da CRFB/88). O posto é in-
separável da patente (CAVALCANTI, 1949 
apud ABREU, 2015).
Patente é o título de investidura no 
oficialato. São elementos obrigatórios 
da Carta Patente: a) o Brasão das Armas 
da República; b) a denominação do res-
pectivo Comando – Comando da Marinha, 
Comando do Exército, Comando da Aero-
náutica; c) o título do documento – Carta 
Patente de Oficial, Carta Patente de Ofi-
cial Superior ou Carta Patente de Oficial-
-General; d) os dados do oficial – posto, 
nome, corpo, arma, quadro ou serviço; e) o 
ato que motivou a sua lavratura; f) a iden-
tificação do Diário Oficial da União que 
publicou o ato; g) o decreto ou portaria 
9- Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998 
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/
Emc/emc20.htm#art1).
12 13
que regulamentou a expedição da Carta 
Patente; h) data da lavratura, anos decor-
ridos de proclamação da Independência 
e da República; i) nome e assinatura de 
quem a confere e de quem a lavra; j) o re-
gistro do arquivo.
Foi a Constituição Federal de 1934 (art. 
165, § 3º) que, pela primeira vez, vedou, 
expressamente, a concessão honorífica 
de postos militares a civis, ressalvando, 
apenas, aqueles que já tinham sido con-
feridos por atos anteriores a sua promul-
gação. A fim de enfatizar a vedação acima, 
dispôs, explicitamente, no art. Citado, que 
os postos eram privativos dos militares, 
ou seja, dos oficiais das Forças Armadas. 
As demais constituições mantiveram a 
mesma restrição, perpetuando a vedação 
constitucional à concessão de postos mili-
tares a civis.
2.2.5 Titularidade de pos-
tos e patentes militares
A Carta Magna de 1988, mantendo a 
tradição, preconiza, expressamente, que 
as patentes e os postos militares são pri-
vativos dos oficiais da ativa, da reserva e 
reformados, que só os perderão se forem 
declarados indignos ou incompatíveis com 
o oficialato, por decisão de tribunal mili-
tar, em tempo de paz, ou tribunal especial, 
em tempo de guerra. Portanto, nem a re-
forma, nem a transferência para reserva, 
remunerada ou não, acarretam a perda de 
posto e de patente.
Em outras palavras, uma vez conferida 
patente e posto ao militar das Forças Ar-
madas, a titularidade dos mesmos se tor-
na vitalícia, razão pela qual será mantida 
independentemente da condição jurídica 
em que o oficial se encontre (ativa, reser-
va, remunerada ou não, ou reformados). Só 
com a dupla perda prevista no art. 142, § 3°, 
VI10 , da CRFB/88, é que o oficial será priva-
do de sua patente e posto.
As Constituições brasileiras adotaram o 
princípio constitucional da garantia da pa-
tente (PONTES DE MIRANDA, 1967 apud 
ABREU, 2015), ao condicionarem sua perda 
à decisão de tribunal militar, nas hipóteses 
nelas descritas taxativamente.
A “perpetuidade das patentes e postos 
militares” aparece, pela primeira vez, no 
projeto de constituição do Império do Bra-
sil de 1823, art. 247, como se vê nos Anais 
da Assembleia Constitucional, vol. V, p. 23, 
citados por João Barbalho, em seus Comen-
tários, p. 341, dispositivo que foi acolhido 
na Constituição Imperial de 25 de março de 
1824, art. 149 (CRETELLA JUNIOR, 1998).
Pode-se afirmar que, desde então, o 
legislador constitucional vem conferindo 
vitaliciedade às patentes e aos postos mi-
litares, pois toda vez que a Constituição da 
República prevê que a perda do cargo pú-
blico depende de decisão judicial, estamos 
diante de hipótese de vitaliciedade.
A Constituição de 1891 foi a primeira a 
garantir, expressamente, as patentes em 
sua plenitude. Todavia, não fazia menção 
aos oficiais da reserva e reformados, o que 
suscitava dúvidas quanto à sua extensão 
a estes oficiais. A fim de dirimi-las, a Carta 
Políticade 1934 passou a fazer expressa 
alusão aos oficiais da ativa, da reserva e re-
formados, tendo sido seguida pelas demais 
(ABREU, 2015).
10- Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998 (https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/
emc18.htm#art4).
12 13
A Magna Carta de 1946 alterou a reda-
ção utilizada pelas Constituições de 1934 
e 1937, passando a dispor que as patentes, 
com as vantagens, regalias e prerrogativas 
a elas inerentes, eram garantidas, em toda 
a plenitude, aos oficiais da ativa, da reserva 
e reformados. A Carta Magna de 1967, nes-
te ponto, pouco diferiu da anterior. A pala-
vra regalias foi excluída do texto e o termo 
deveres nele foi incluído. A atual Constitui-
ção apenas substituiu a palavra vantagens 
por direitos.
Observa-se, portanto, que, desde a Carta 
de 1934, as Constituições têm assegurado 
aos oficiais, independentemente da con-
dição jurídica em que se encontram (ativa, 
reserva ou reformado), a patente militar 
em sua plenitude, ou seja, em sua inteireza, 
de forma plena, i.e., com todos os direitos, 
prerrogativas e deveres a elas inerentes. 
Destarte, subtraí-las, ainda que parcial-
mente, implica desfalcar a patente, torná-la 
não plena, enfim, violar a garantia constitu-
cional expressamente prevista no art. 142, 
§ 3º (ABREU, 2015).
Não é por outro motivo que MANOEL 
GONÇALVES FERREIRA FILHO (1999, p. 80) 
assim leciona: “assegurando as patentes 
a Constituição garante também as vanta-
gens e prerrogativas que delas decorrem. 
Cria, portanto, uma situação jurídica defi-
nitivamente constituída em favor do titular 
da patente, em relação a suas prerrogativas 
e vantagens. Assim, em face do texto cons-
titucional, o oficial, seja da ativa, da reserva 
ou reformado, não pode ter as prerrogativas 
e vantagens decorrentes de sua patente di-
minuídas qualquer que seja o fundamento.
Oportuno se torna dizer que a Lei Ápice, 
ao garantir a patente em sua plenitude, as-
segurou aos oficiais da ativa o direito à efe-
tividade da patente, protegendo-os contra 
atos que, a margem da lei, imponham-lhes, 
abusiva e arbitrariamente, a inativação pre-
matura e forçada, seja pela reforma, seja 
pela transferência para a reserva, remune-
rada ou não. Por isso, a perda compulsória 
da efetividade da patente somente ocorre-
rá nos casos descritos na própria Constitui-
ção (arts. 14, § 8°, I e II, 142, § 3°, II11 , III10 e 
VI12 ) ou em lei que, nos termos do art. 142, § 
3°, X11, da CRFB/88, disponha sobre outras 
condições de transferência do militar para 
a inatividade, como nos casos de transfe-
rência para a reserva remunerada ex officio 
(art. 9813), inclusão em quota compulsória 
(art. 99 a 103), reforma (art. 104 a 114), to-
dos previstos na Lei nº 6.880/80.
2.2.6 Perda do posto e da 
patente
O oficial só perderá o posto e a patente 
se for julgado indigno do oficialato ou com 
ele incompatível, por decisão de tribunal 
militar de caráter permanente, em tempo 
de paz, ou de tribunal especial, em tempo 
de guerra (ver art. 125, § 4º14 e art. 142, 
§ 3º, VI15 , da CRFB/88). Ao assim dispor, 
a Constituição estabeleceu, taxativamen-
11- Redação dada pela Emenda Constitucional nº 77, de 2014 
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/
Emc/emc77.htm).
12- Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998 (https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/
emc18.htm#art4).
13- Alterado pelas Leis nº 7.503, de 1986 (http://www.planal-
to.gov.br/ccivil_03/leis/L7503.htm#art1), Lei nº 7.666, de 1988 
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7666.htm#art1), 
Lei nº 7.659, de 1988 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
L7659.htm#art1), Lei nº 9.297, de 1996 (http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/L9297.htm#art1) e Lei nº 10.416, de 2002 
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10416.htm).
14- Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004 
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/
Emc/emc45.htm#art1).
15- Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998 (https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/
emc18.htm#art4).
14 15
te, a indignidade e a incompatibilidade 
com o oficialato como causas únicas de 
perda de posto e de patente militar, sen-
do defeso ao legislador infraconstitucio-
nal ampliá-las.
A indignidade ocorre quando graves ra-
zões de ordem moral tornam o indivíduo 
um desadaptado ao alto padrão ético das 
corporações militares.
A incompatibilidade assenta em razões 
ligadas à natureza da função militar. Não 
implica para o atingido em considerá-lo 
moralmente incapaz para o exercício da 
profissão, e sim um desajustado às suas 
exigências e aos seus deveres. Aqui en-
trarão, talvez, razões ligadas a convic-
ções políticas (não propriamente estas) 
que, por meio de sucessivas constatações 
de insubmissão ou de transgressão aos 
deveres funcionais, façam concluir pela 
inadaptação do oficial ao espírito mili-
tar de disciplina (FAGUNDES, 1947 apud 
ABREU, 2015).
Dispõe o art. 142, § 3°, VII14, da 
CRFB/88 que o oficial condenado na jus-
tiça comum ou militar à pena privativa de 
liberdade superior a dois anos, por sen-
tença transitada em julgado, será subme-
tido ao julgamento previsto no art. 142, § 
3º, VI. Neste caso, compete ao Ministério 
Público Militar promover a declaração de 
indignidade ou de incompatibilidade para 
o oficialato, mediante representação en-
caminhada ao Superior Tribunal Militar, ór-
gão competente para processar e julgá-la. 
Se o oficial for julgado indigno ou incom-
patível com o oficialato pelo STM, perderá 
seu posto e sua patente (ver art.120, Lei 
nº 6.880/80; art. 116, II da Lei Comple-
mentar 75/93; art. 112 do Regimento In-
terno/STM).
Como se pode notar, o art. 142, § 3º, VII, 
da CRFB/88 não veicula uma nova causa 
de perda de posto e de patente, mas, tão 
somente, hipótese em que o oficial, ne-
cessariamente, fica sujeito à eventual de-
claração de indignidade ou incompatibili-
dade com o oficialato pelo tribunal militar.
O art. 142, § 3º, VI e VII, da CRFB/88, ao 
se referir ao gênero oficial, abarcou, in-
distintamente, os da ativa, da reserva, re-
munerada ou não, e os reformados. E não 
poderia ser diferente, pois todos, inde-
pendentemente da condição jurídica em 
que se encontram, são titulares de postos 
e de patentes. Por isso, o oficial, mesmo 
na inatividade, remunerada ou não, deve-
rá abster-se de praticar atos que o torne 
indigno ou incompatível com o oficialato, 
sob pena de perda do posto e da patente.
Contudo, há de se registrar as se-
guintes peculiaridades:
a) os oficiais da ativa, da reserva remu-
nerada e reformados estão sujeitos à du-
pla perda, na forma prevista no art. 142, 
§ 3º, VI, da CRFB/88, quando julgados 
culpados pelo Conselho de Justificação ou 
em decorrência de representação de in-
dignidade ou de incompatibilidade para o 
oficialato elaborada pelo MPM, no caso de 
condenação na justiça comum ou militar 
a pena privativa de liberdade superior a 
dois anos (art. 16, da Lei nº 8.457/92 e art. 
16, I, da Lei nº 5.836/72);
b) os oficiais da reserva não remune-
rada, por força do art. 1º, parágrafo único, 
da Lei nº 5.836/72, não são submetidos a 
Conselho de Justificação. Todavia, sujei-
tam-se à perda de posto e da patente, na 
forma preconizada no art. 142, § 3°, VI, da 
CRFB/88, em virtude de representação de 
14 15
indignidade ou de incompatibilidade para 
o oficialato, elaborada pelo MPM, no caso 
de condenação na justiça comum ou mili-
tar à pena privativa de liberdade superior 
a dois anos, fundamentada no art. 142, § 
3°, VII, que, ao fazer alusão ao gênero ofi-
cial, englobou, necessariamente, suas es-
pécies, quais sejam, o oficial da ativa, da 
reserva, remunerada ou não, e reforma-
dos. Não fosse assim, um oficial dareser-
va não remunerada, exempli gratia, con-
denado na justiça comum por homicídio 
doloso, estupro ou atentado violento ao 
pudor – condutas que, manifestamente, 
retratam sua indignidade com o oficialato 
– à pena privativa de liberdade superior a 
dois anos, por sentença transitada em jul-
gado, não perderia seu posto e patente.
Por conseguinte, em caso de convoca-
ção ou mobilização geral, este oficial, em 
tese, após o cumprimento da pena, pode-
ria ser incorporado às fileiras da Força a 
que estiver vinculado, no posto e paten-
te que possuía na ativa, não obstante sua 
manifesta indignidade para o oficialato. 
Por isso, entendemos que, nas hipóteses 
descritas no art. 142, § 3°, VII, da CRFB/88, 
o oficial da reserva não remunerada está 
sujeito à dupla perda (ABREU, 2015).
Uma vez declarado indigno do oficiala-
to ou com ele incompatível, o oficial das 
Forças Armadas poderá sofrer consequ-
ências jurídicas:
a) perderá o posto e a patente, inde-
pendentemente da condição jurídica em 
que se encontre;
b) se estiver na ativa, será demitido ex 
officio sem direito a qualquer remunera-
ção ou indenização;
c) se estiver na reserva remunerada ou 
reformado, perderá o direito à percepção 
de proventos na inatividade na data em 
que for privado do posto e da patente (art. 
13, II, Medida Provisória nº 2.215-10/01);
d) receberá a certidão de isenção do 
serviço militar;
e) não será incluído na reserva das For-
ças Armadas, se estiver na ativa, ou será 
dela excluído, acaso se encontre na reser-
va.
Os beneficiários do oficial da ativa, da 
reserva remunerada ou reformado decla-
rado indigno ou incompatível com o oficia-
lato, terão direito à percepção de pensão 
militar para a qual o ex-oficial tenha con-
tribuído, como se ele houvesse falecido 
(ver art. 7º, do DL 510/38 c/c art. 5º do 
Dec. 49.096/60).
2.2.7 Graduação
Graduação é o grau hierárquico das pra-
ças, ou seja, dos não oficiais. É conferido, 
na forma da lei, pela autoridade militar 
competente. As graduações, adotadas 
pela Marinha, Exército e Aeronáutica es-
tão em anexo.
O acesso às graduações iniciais da car-
reira é feito mediante nomeação e, às 
subsequentes, pela promoção.
À praça das Forças Armadas não foi 
assegurada vitaliciedade da graduação, 
ante ao silêncio eloquente do art. 142, § 
3°, VI, da CRFB/88. Logo, a perda não está 
condicionada à decisão proferida por tri-
bunal militar (ABREU, 2015).
Nos termos do art. 127 da Lei nº 
6.880/80, a perda da graduação decorre 
da exclusão a bem da disciplina, aplicada 
ex officio à praça com estabilidade asse-
16 1716
gurada, nos casos descritos no art. 125 da 
mesma lei, ou do licenciamento ex officio a 
bem da disciplina imposto à praça sem es-
tabilidade assegurada. Perderá, também, 
a graduação a praça condenada na Justiça 
Militar à pena privativa de liberdade, por 
tempo superior a dois anos, já que, nesses 
casos, a ela será aplicada a pena acessória 
de exclusão das Forças Armadas (art. 98, 
IV e art. 102 do CPM).
Como consequências jurídicas, a praça 
ao perder a graduação: a) não será inclu-
ída na reserva das Forças Armadas; b) re-
ceberá certificado de isenção do serviço 
militar; c) não terá direito a qualquer re-
muneração ou indenização.
O militar inativo, ao fazer uso do posto 
ou da graduação, deve indicar a abrevia-
tura respectiva da situação jurídica em 
que se encontra, ou seja, reserva ou re-
formado.
16 1717
UNIDADE 3 – Os Regulamentos Disciplina-
res e a CRFB/88
Com o advento da Constituição Federal 
de 1988, o ordenamento jurídico passou a 
pautar-se por seus dispositivos legais. Em 
seu artigo 14216 , a Carta Política dispõe 
que:
As Forças Armadas, constituídas 
pela Marinha, pelo Exército e pela 
Aeronáutica, são instituições nacio-
nais permanentes e regulares, orga-
nizadas com base na hierarquia e na 
disciplina, sob a autoridade suprema 
do Presidente da república, e desti-
nam-se à defesa da Pátria, à garan-
tia dos poderes constitucionais e, 
por iniciativa de qualquer destes, da 
lei e da ordem.
Assim, como visto exaustivamente, os 
sustentáculos das Forças Armadas são a 
hierarquia e a disciplina, as quais vêm de-
finidas no Estatuto dos Militares, e possi-
bilitam que as Instituições Militares cum-
pram sua destinação constitucional. 
Para possibilitar a manutenção da hie-
rarquia e da disciplina, faz-se necessário 
a regulamentação das chamadas trans-
gressões disciplinares para que a Admi-
nistração possa apurar a falta cometida 
e aplicar a sanção disciplinar cabível ao 
infrator, o que se dá através dos Regula-
mentos Disciplinares da Marinha, do Exér-
cito e da Aeronáutica.
Já o art. 5º, inciso LXI, da CRFB/88, de-
termina que: 
ninguém será preso senão em fla-
grante delito ou por ordem escrita e 
fundamentada de autoridade judici-
ária competente, salvo nos casos de 
transgressão militar ou crime pro-
priamente militar, definidos em lei.
Trata-se de preservação do princípio 
garantidor da liberdade de ir e vir, vez que 
a aplicação de sanções disciplinares por 
transgressão disciplinar pode implicar 
em prisão ou detenção do infrator, o que, 
segundo a nova ordem constitucional, 
somente pode ocorrer com base em Re-
gulamento editado através de lei subme-
tida ao processo legislativo (GONÇALVES, 
2009).
Desse modo, os Regulamentos Discipli-
nares das Forças Armadas regulamentam 
as transgressões disciplinares e delimi-
tam as sanções e o modo de aplicação das 
mesmas. 
O Regulamento Disciplinar da Marinha 
foi editado pelo Decreto nº 88.545, de 26 
de junho de 1983, com alterações intro-
duzidas através do Decreto nº 1.011, de 
22 de dezembro de 1993. No Exército o 
atual Regulamento Disciplinar foi baixado 
pelo Decreto nº 4.346, de 26 de agosto de 
2002, que revogou o Decreto nº 90.608, 
de 08 de dezembro de 1984. Já o Regula-
mento Disciplinar da Aeronáutica foi insti-
tuído através do Decreto nº 76.322, de 22 
de setembro de 1975.
3.1 Princípio da recepção 
das leis
Em relação às normas infraconstitucio-
16- Redação dada pelas Emendas Constitucionais nº 18, de 
1998 (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
Emendas/Emc/emc18.htm#art2) e nº 77, de 2014 (https://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc77.
htm). 
18 19
nais editadas antes da nova Constituição, 
desde que não contrariem a nova ordem 
serão recepcionadas, inclusive com o sta-
tus ditado pela Norma Maior, sendo exigi-
do, então, que sua alteração ou revogação 
se dê através de Lei de mesma hierarquia. 
No caso dos Regulamentos Discipli-
nares das Forças Armadas, instituídos 
através de Decretos editados pelo Poder 
Executivo, por força da nova Constitui-
ção, foram recepcionados com status de 
Lei Ordinária, somente podendo ser alte-
rados ou revogados através de outra Lei 
oriunda do Poder Legislativo.
No caso do Regulamento Disciplinar da 
Aeronáutica, cujo Decreto instituidor é 
datado de 22 de setembro de 1975, não há 
qualquer dúvida acerca de sua constitu-
cionalidade, uma vez que foi recepciona-
do pela Constituição Federal de 1988 com 
o status de Lei Ordinária, coadunando-se 
com a nova ordem jurídica (GONÇALVES, 
2009).
Já os Regulamentos Disciplinares da 
Marinha e do Exército, os quais haviam 
sido recepcionados pela atual Constitui-
ção, padecem de certeza quanto a sua 
constitucionalidade, pois, o da Marinha 
foi alterado e o do Exército foi revogado, 
após sua recepção no novo ordenamento 
jurídico, ambos através de Decreto do Po-
der Executivo, embora detivessem o sta-
tus de Lei.
3.2 Princípio da hierarquia 
das leis
O sistema normativo de um Estado 
compõe-se de um conjunto de normas en-
cadeadas entre si, onde umas encontram 
seu fundamento e sua validade em outras 
de escalão superior. Uma norma de esca-
lão inferior somentepoderá ser conside-
rada válida se não conflitar com a norma 
de escalão superior que determina sua 
criação. Podemos afirmar, então, que as 
normas jurídicas encontram-se hierarqui-
zadas dentro do sistema normativo (GON-
ÇALVES, 2009).
O direito, através das normas postas, 
regula o comportamento humano e, em 
um momento anterior, fixa quais as nor-
mas que podem pautar esse comporta-
mento, não podendo produzir efeitos no 
mundo jurídico as normas inválidas, que 
não se adequam ao ordenamento como 
um todo.
3.3 Princípio da reserva le-
gal
Segundo JOSÉ AFONSO DA SILVA 
(2005), é absoluta a reserva constitucio-
nal de lei quando a disciplina da matéria é 
reservada pela Constituição à lei, com ex-
clusão, portanto, de qualquer outra fonte 
infralegal, o que ocorre quando ela em-
prega fórmulas como: a lei regulará, a lei 
disporá, a lei complementar organizará, a 
lei criará, a lei definirá, etc.
Ao tratar da regulamentação das Or-
ganizações Militares, seus Regulamentos 
versam sobre a caracterização das trans-
gressões disciplinares e sobre a amplitu-
de e aplicação das sanções disciplinares 
cabíveis, o que, segundo o disposto no ar-
tigo 5º, inciso LXI, da CRFB/88, deve dar-
-se através de lei.
3.4 Refletindo sobre a ação 
declaratória de inconsti-
tucionalidade contra o Re-
18 19
gulamento Disciplinar do 
Exército ao final de 2004
O ajuizamento de ação declaratória de in-
constitucionalidade contra o Regulamento 
Disciplinar do Exército ao final de 2004, pro-
posta pelo Procurador-Geral da República, e 
o não conhecimento da mesma por parte do 
Supremo Tribunal Federal, sugerem a ne-
cessidade de uma reflexão mais aguçada 
sobre o tema, principalmente em decorrên-
cia de uma série de decisões em sentidos 
opostos que ocorrem na Justiça Federal.
Este é o propósito de JORGE CÉSAR DE 
ASSIS (2014), com o qual compactuamos: 
refletir e incentivar os estudiosos a debate-
rem a questão.
Primeiramente, diga-se em relação aos 
regulamentos disciplinares, que eles têm, 
de forma indireta, uma previsão constitu-
cional, calcada no art. 5°, inc. LXI, que as-
segura que “ninguém será preso, senão em 
flagrante delito ou por ordem escrita e fun-
damentada de autoridade judiciária compe-
tente, salvo nos casos de transgressão mili-
tar ou crime propriamente militar, definidos 
em lei”.
Ao referir-se à transgressão militar, o 
dispositivo constitucional está admitindo a 
existência de um Regulamento Disciplinar, 
já que são exatamente os regulamentos 
que contêm o rol das transgressões discipli-
nares militares.
De acordo com ANTÔNIO PEREIRA DUAR-
TE (1995, p. 51), os regulamentos disciplina-
res ordenam e classificam as transgressões 
ou contravenções disciplinares, dispondo 
sobre as penas disciplinares e os recursos 
cabíveis contra as punições impostas. Cada 
Força singular tem seu respectivo regula-
mento, no qual se delineiam as diferentes 
sanções disciplinares e modos de aplicação.
O Estatuto dos Militares, no entanto, im-
põe como limite às sanções disciplinares de 
impedimento, detenção ou prisão, o prazo 
máximo de 30 dias.
Na Marinha, o atual Regulamento Disci-
plinar foi baixado pelo Decreto 88.545, de 
26.06.1983, com as alterações introduzidas 
pelo Dec.1.011, de 22.12.93.
O Exército regula as contravenções ou 
transgressões disciplinares praticadas pe-
los seus componentes através do Decreto 
4.346, de 26.08.2002 - que revogou o De-
creto 90.608, de 08.12.1984, sendo esta 
revogação o pomo de adão no tocante à 
questionada inconstitucionalidade do atual 
RDE.
Na Aeronáutica, o Regulamento Discipli-
nar foi instituído pelo Decreto 76.322, de 
22.09.1975.
Para que se possa entender o questio-
namento da constitucionalidade dos regu-
lamentos disciplinares, interessante des-
tacar que os regulamentos disciplinares 
da Marinha, o anterior do Exército e o da 
Aeronáutica foram editados sob a égide da 
Constituição Federal de 1969, e o novel re-
gulamento da Força Terrestre, veio à lume 
sob a égide da Carta Política de 1988.
Para CLÁUDIO FONTELES (2004), então 
Procurador-Geral da República:
o simples exame do arcabouço nor-
mativo que regula a matéria em apreço 
é suficiente para demonstrar a incons-
titucionalidade do Decreto 4.346/02. 
Com efeito, se a Constituição de 1988 
determinou que os crimes e transgres-
sões militares fossem definidas por lei, 
20 21
não é possível a definição de tipos pe-
nais via decreto presidencial. Assim, o 
ato normativo impugnado violou o art. 
5º; inc. LXI, da Carta Magna.
A ofensa constitucional torna-se 
ainda mais clara a partir do exame do 
princípio da recepção de normas pela 
Constituição. Segundo esse princípio, 
toda a ordem normativa proveniente 
de regimes constitucionais anteriores 
é recebida pela Carta Magna em vi-
gor, desde que com ela materialmente 
compatível. Considera-se, nesse caso, 
que a norma recepcionada passou a 
revestir-se da forma prevista pelo tex-
to constitucional para a matéria.
O elemento fundamental para a 
recepção da norma, nesse passo, é a 
sua compatibilidade material. O clás-
sico exemplo de recepção normativa 
pela Constituição de 1988 é o Código 
Tributário Nacional, aprovado como lei 
ordinária (Lei nº 5.172/66), mas rece-
bido com o status de lei complementar 
(art. 146 da Constituição c.c. 34, § 5º 
da ADCT).
Simulação similar ocorreu com o 
Decreto nº 90.608/84.
Ao estabelecer o Regulamento Dis-
ciplinar do Exército, essa norma não 
colidiu materialmente com a nova or-
dem constitucional. Houve, pois, sua 
recepção pela Constituição de 1988, 
com força de lei, nos termos do art. 5º, 
inc. LXI da Constituição, que fixou a 
reserva legal para dispor sobre trans-
gressões disciplinares e respectivas 
penas.
Assim, o Regulamento Disciplinar 
do Exército, muito embora aprovado 
por decreto presidencial, ganhou, com 
a Carta Magna vigente, o status de lei 
ordinária. Esse paradoxo entre a for-
ça material (lei) e a forma infralegal 
(decreto) suscita a grande dificuldade: 
qual o procedimento adequado para 
se alterar essa norma no novo regime 
constitucional?
A doutrina é pacífica em admitir 
que o procedimento a ser seguido é o 
estabelecido pela Constituição vigen-
te. Assim, se uma norma é recebida 
como lei pela nova ordem constitucio-
nal, deve prevalecer o procedimento 
por esta estabelecido para a alteração 
legal, independentemente da forma 
com que originariamente entrou em 
vigor. Em outros termos: se é recep-
cionada como lei ordinária, somente 
poderá ser alterada contra lei de igual 
hierarquia.
Com essas considerações, consta-
ta-se que o Regulamento disciplinar 
do Exército, estabelecido pelo Decreto 
nº 90.608/84 e recepcionado como lei 
ordinária pela Constituição de 1988, 
somente poderia ter sido alterado por 
outra lei de igual hierarquia. O Decreto 
nº 4.346/02, porém, revogou aquele 
ato normativo (art. 74), violando a re-
serva da lei estabelecida no art. 5º LXI, 
da Constituição Federal 17.
O Supremo Tribunal Federal, entre-
tanto, não conheceu da Ação Direta de 
lnconstitucionalidade proposta contra 
o RDE, sendo que dentre os dez Minis-
tros presentes, sete decidiram não julgar 
o mérito da ação porque a petição inicial 
17- Inicial da ação Direta de Inconstitucionalidade – ADIn 3.340 
– Rel. Min. Marco Aurélio, protocolado no STF em 08.11.2004, 
atendendo solicitação do Procurador da República no estado 
do Rio de Janeiro Fábio Elizeu Gaspar.
20 21
não detalhou quais os dispositivos do de-
creto seriam inconstitucionais.
No dia do julgamento (03.11.2005), o 
Advogado-Geral da União, Ministro Álva-
ro Augusto Ribeiro Costa, fez a defesa do 
decreto na tribuna do STF. Segundo ele, o 
decreto regulamentou o Estatuto dos Mi-
litares e não definiu crimes militares como 
contestou a PGR. Na ação, a Procuradoria--Geral da República argumentou que a de-
finição de crimes só pode ocorrer por meio 
de uma lei.
O decreto, segundo o Ministro Álvaro 
Costa, não ofende o princípio da legalida-
de porque não trata de crimes militares e 
sim de transgressões militares. As trans-
gressões, segundo ele, são ilícitos de na-
tureza administrativa, não se tratando de 
crimes propriamente militares, como en-
tendeu a PGR na ADI. Segundo o Ministro 
da tribuna,
Transgressões militares são ilíci-
tos de natureza puramente adminis-
trativa, tendo por escopo a defesa 
dos princípios sobre os quais se ba-
seia a organização das Forças Arma-
das: a hierarquia e a disciplina (AS-
SESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL 
DA AGU, 2005).
Partindo das ilações de Cláudio Fonte-
les ao ajuizar a ADI em relação ao novel 
Regulamento Disciplinar do Exército, JOR-
GE CÉSAR DE ASSIS (2014) conclui que em 
face do instituto de recepção das normas 
pelo ordenamento constitucional vigen-
te, que os regulamentos da Marinha, da 
Aeronáutica, e de qualquer Polícia Militar 
ou Corpo de Bombeiros Militar editados 
por decreto, anteriormente à Constitui-
ção de 1988, teriam sido por ela recepcio-
nados, estando vigentes com status de lei 
ordinária.
Em nível doutrinário (a discussão ain-
da é escassa), via de regra, prega-se a 
inconstitucionalidade dos regulamentos 
disciplinares que não estejam fixados por 
lei.
Todavia, antes mesmo da edição do 
Decreto nº 4.346/02, PAULO TADEU RO-
DRIGUES ROSA (2003) já questionava a 
recepção dos regulamentos disciplinares 
pelo texto constitucional atual, indagan-
do ainda se ditos regulamentos se encon-
travam em consonância com o disposto 
nos preceitos que tratam dos direitos e 
garantias do cidadão.
O autor se referia, especificamente ao 
Regulamento Disciplinar da Polícia Militar 
de Goiás, Decreto Estadual nº 4.717/96, às 
alterações sofridas no Regulamento Dis-
ciplinar da Polícia Militar de Minas Gerais, 
Decreto nº 88.545/83, feitas pelo Decre-
to 1.011, de 22.12.1993, lembrando que, 
se os regulamentos existentes à época 
da CRFB/88, foram recepcionados com 
status de lei ordinária, não poderiam ser 
revogados e nem alterados por decreto, 
sendo portanto, inconstitucional a medi-
da adotada.
Tal posição é secundada por ELIEZER 
PEREIRA MARTINS (1996), para quem a 
questão que se traz aqui à colação é da 
maior importância, dado que na atualida-
de todas as transgressões militares estão 
definidas em decretos e não em lei, o que 
para o autor e, no seu entender, a melhor 
doutrina importa na inconstitucionalida-
de de todas as prisões por transgressões 
disciplinares.
A bem da verdade e, curiosamente, 
22 2322
Eliezer Pereira Martins (1996) se insurgiu 
apenas e tão somente contra as prisões 
disciplinares decorrentes de regulamen-
tos editados por decreto, já que admitiu a 
possibilidade, embora não recomendada 
segundo ele, de que os regulamentos dis-
ciplinares sejam baixados por decretos, 
desde que não definam condutas enseja-
doras de prisão por transgressão discipli-
nar.
Para JORGE CÉSAR DE ASSIS (2014), é 
uma posição curiosa. Se aceita a tese de 
que, ao excepcionar a prisão por trans-
gressão disciplinar militar da necessidade 
da ordem escrita e fundamentada da au-
toridade judiciária competente, o cons-
tituinte originário fixou a reserva legal 
para todas as punições disciplinares, seria 
inaceitável, em princípio, um regulamento 
disciplinar que contivesse transgressões 
puníveis por penas outras que não a pri-
são, esse sim, passível de ser editado por 
decreto.
Ficam então levantadas questões para 
que reflitam e poderem sobre a constitu-
cionalidade ou não do Regulamento Dis-
ciplinar do Exército, ou de qualquer outra 
Força Armada ou Auxiliar.
Há que se aceitar a premissa de que a 
Carta Magna não possui dispositivos an-
tagônicos entre si; qualquer contradição 
aparente implica o esforço necessário 
para a conciliação das normas estabeleci-
das em dispositivos constitucionais diver-
sos a serem considerados.
Desta forma, o princípio insculpido no 
art. 5°, LXI da CRFB/88, segundo o qual 
é excepcionada a necessidade de ordem 
judicial fundamentada à prisão nos ca-
sos de transgressão disciplinar e crimes 
propriamente militares, definidos em lei 
deve, em relação à transgressão discipli-
nar, ser analisado de forma restritiva, já 
que outros princípios constitucionais in-
cidem sobre a questão, como o da estru-
turação das Forças Armadas com base na 
disciplina e hierarquia, e o da submissão 
das Forças Armadas ao comando supremo 
do Presidente da República, além da com-
petência deste, em editar decretos para a 
fiel execução das leis (ASSIS, 2014).
22 2323
UNIDADE 4 – Obrigações e Deveres 
Militares
Buscando respaldo no art. 31 do Esta-
tuto dos Militares (Lei nº 6.880/80), AN-
TÔNIO PEREIRA DUARTE (1995) nos lem-
bra que a função militar gera a criação de 
um vínculo estreito com a Pátria e o senti-
mento de sua preservação e defesa.
É dentro desse contexto que se origi-
nam os vários deveres militares, entre os 
quais o da dedicação e fidelidade à Pátria, 
o culto aos símbolos nacionais, a probi-
dade e a lealdade em todas as ocasiões e 
circunstâncias, a disciplina e o respeito à 
hierarquia, o cumprimento das obrigações 
e ordens e a obrigação de tratar o subordi-
nado com dignidade e urbanidade.
Segundo o Capítulo V da portaria 156, 
de 23 de abril de 2002, que aprova o Vade-
-Mecum de Cerimonial Militar do Exército – 
Valores, Deveres e Ética Militares (VM 10) 
aos membros das Forças Armadas, ainda 
que fora do serviço, são impostos deve-
res e obrigações cuja violação constitui 
crime militar, contravenção ou transgres-
são disciplinar, e, ainda, fator impeditivo à 
concessão de condecorações.
Vamos, então, iniciar nossos estudos 
acerca das obrigações militares, que são 
compostas pelo valor militar e ética mili-
tar.
4.1 Valor e ética militar
O valor militar é externado, essencial-
mente, por meio de manifestações de:
a) patriotismo, traduzido pela vonta-
de inabalável de cumprir o dever militar e 
pelo solene juramento de fidelidade à Pá-
tria até com o sacrifício da própria vida;
b) civismo e culto das tradições histó-
ricas;
c) fé na missão elevada das Forças Ar-
madas;
d) espírito de corpo (que reflete o nível 
de coesão e de camaradagem existente 
entre os integrantes das Forças Arma-
das), orgulho pela organização na qual o 
militar serve;
e) amor à profissão das armas e entu-
siasmo com que é exercida;
f) constante aprimoramento técnico-
-profissional.
A ética militar consiste no sentimento 
do dever, no pundonor militar 18 , no deco-
ro da classe. A ética militar impõe a cada 
um dos membros das Forças Armadas, 
mesmo na inatividade, conduta moral e 
profissional irrepreensíveis, como, tam-
bém, a estrita observância dos seguintes 
preceitos:
a) amar a verdade e a responsabilidade 
como fundamento de dignidade pessoal;
b) exercer, com autoridade, eficiência e 
probidade, as funções que lhe couberem 
em decorrência do cargo;
c) respeitar a dignidade da pessoa hu-
mana;
d) cumprir e fazer cumprir as leis, os re-
gulamentos, as instruções e ordens das 
autoridades competentes;
e) ser justo e imparcial no julgamento 
dos atos e na apreciação do mérito dos 
subordinados;
18- Impõe ao militar o dever e a obrigação de ser um profis-
sional exemplar e correto em suas atitudes, estando ou não no 
exercício de funções militares.
24 25
f) zelar pelo seu preparo próprio, moral, 
intelectual e físico, como, também, pelo 
dos subordinados;
g) empregar todas as energias em be-
nefício do serviço;
h) praticar a camaradagem e desenvol-
ver, permanentemente, o espírito de coo-
peração;
i) ser discreto em suas atitudes, manei-
ras e na linguagem escrita e falada;
j) abster-se de tratar,fora do âmbito 
apropriado, de matéria sigilosa de qual-
quer natureza;
l) acatar as autoridades civis;
m) cumprir seus deveres de cidadão;
n) proceder de maneira ilibada na vida 
pública e na particular;
o) observar as normas da boa educa-
ção;
p) garantir assistência moral e material 
ao seu lar e conduzir-se como chefe de fa-
mília modelar;
q) conduzir-se, mesmo fora do serviço 
ou quando já na inatividade, de modo que 
não sejam prejudicados os princípios da 
disciplina, do respeito e do decoro militar;
r) abster-se de fazer uso do posto ou da 
graduação para obter facilidades pessoais 
de qualquer natureza ou para encaminhar 
negócios particulares ou de terceiros;
s) abster-se, na inatividade, do uso das 
designações hierárquicas:
1) em atividades político-partidárias; 
2) em atividades comerciais; 3) em ativi-
dades industriais; 4) para discutir ou pro-
vocar discussões pela imprensa a respeito 
de assuntos políticos ou militares, excetu-
ando-se os de natureza exclusivamente 
técnica, se devidamente autorizado; 5) no 
exercício de cargo ou função de natureza 
civil, ainda que na Administração Pública;
t) zelar pelo bom nome das Forças Ar-
madas e de cada um de seus integrantes, 
obedecendo e fazendo obedecer aos pre-
ceitos da ética militar.
Vedou-se, ainda, ao militar da ativa, em 
nome da ética miliciana, comerciar ou to-
mar parte na administração ou gerência 
de sociedade ou dela ser sócio ou parti-
cipar, exceto como acionista ou quotista, 
em sociedade anônima ou por quotas de 
responsabilidade limitada (art. 29, da lei 
nº 6.880/80). O oficial da ativa que des-
cumprir a proibição em tela cometerá, em 
tese, crime militar tipificado no art. 204 
do Código Penal Militar (CPM). Trata-se de 
crime próprio, uma vez que só pode ser 
cometidos por oficiais da ativa.
Por outro lado, se a praça não observar 
a proibição em voga, não cometerá o ilíci-
to penal acima tipificado. Todavia, poderá 
ser responsabilizada na esfera disciplinar.
4.2 Deveres militares
Em função do liame que vincula os mili-
cianos à Pátria e ao serviço militar, os ofi-
ciais e praças das Forças Armadas estão 
sujeitos a uma série de deveres típicos da 
carreira militar, que compreendem, es-
sencialmente:
a) a dedicação e fidelidade à Pátria, 
cuja honra, integridade e instituições de-
vem ser defendidas mesmo com o sacrifí-
cio da própria vida;
b) o culto aos Símbolos Nacionais (Ban-
deira Nacional, Hino Nacional, Armas Na-
cionais e Selo Nacional) por meio das hon-
ras, continências e dos sinais de respeito a 
eles prestados, nos termos preconizados 
no Regulamento de Continências, Honras, 
24 25
Sinais de Respeito e Cerimonial Militar das 
Forças Armadas;
c) a probidade e a lealdade em todas as 
circunstâncias;
d) a disciplina e o respeito à hierarquia 
militar;
e) a obrigação de tratar o subordinado 
dignamente, com urbanidade, serenida-
de, bondade, justiça, educação, imparcia-
lidade, sem, no entanto, comprometer a 
disciplina e a hierarquia;
f) o rigoroso cumprimento das obriga-
ções e das ordens emanadas, que devem 
ser cumpridas, prontamente, pelo subor-
dinado.
Embora pareça redundante, é preciso 
lembrar sempre que a estrutura organi-
zacional das Forças Armadas, nos termos 
fixados pela Constituição, impõe a seus 
membros uma rígida sujeição hierárqui-
co-disciplinar. Consequentemente, os 
militares têm o dever – não se admitindo 
qualquer tipo de mitigação – de cumprir, 
rigorosamente, as ordens legais emana-
das por seus superiores. Nestes casos, a 
obediência deve ser incondicional, pois, 
como afirma Paulo Sarasete (1967 apud 
ABREU, 2015), fazendo menção a João 
Barbalho, um exército que não obedece 
e que discute, acrescenta, em vez de ser 
uma garantia da honra e segurança na-
cionais, constitui-se em perigo público. A 
crítica das ordens superiores e as delibe-
rações tomadas coletivamente pela força 
pública influem, de modo prejudicialíssi-
mo, na disciplina e tornam o Exército in-
compatível com a liberdade civil da nação.
É, portanto, defeso ao subordinado 
deixar de cumprir ordens legais, por con-
siderá-las incorretas, injustas ou desacer-
tadas, sob pena de se instaurar, no âmbito 
das Forças Armadas, um estado latente 
de subversão, de desordem, de desobe-
diência, prejudicialíssimo à hierarquia e 
à disciplina, bases institucionais da Mari-
nha, do Exército e da Aeronáutica.
Ocorre que, por vezes, são emanadas 
ordens manifestamente ilegais, isto é, 
contrárias aos preceitos regulamentares 
e legais. Estariam os militares em função 
da sujeição hierárquico-disciplinar, com-
pelidos a cumpri-las?
Os regulamentos militares sinalizam 
positivamente. De acordo com o art. 7°, 
§ 3°, do Decreto 90.608/84 19 , quando a 
ordem contrariar preceito regulamentar, 
o executante poderá solicitar sua confir-
mação por escrito, cumprindo a autorida-
de que a emitiu atender à solicitação. Em 
sentido semelhante, é a previsão contida 
no art. 2° do Decreto 76.322/75. Reza, 
ainda, o Regulamento de Administração 
da Aeronáutica – RADA 20 , que todo res-
ponsável pelo cumprimento de ordens 
que, a seu ver, impliquem prejuízo à União 
ou que contrariem dispositivos legais de-
verá ponderar a respeito com a autoridade 
que as determinou, ressaltando as conse-
quências da sua execução. Se, apesar da 
ponderação, a autoridade persistir na or-
dem, o subordinado a cumprirá, mediante 
determinação por escrito e, a seguir, par-
ticipará, também por escrito, que a ordem 
foi executada. Tomadas estas medidas, o 
subordinado ficaria isento de responsabi-
lidades advindas da execução da ordem.
Na mesma linha, dispõe o art. 120, pa-
rágrafo único, do Regulamento de Admi-
19- Revogado pelo Decreto nº 4.346, de 26 de agosto de 2002 
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4346.
htm#art74). 
20- Decreto nº 90.687, de 11 de dezembro de 1984 (http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989/D90687.htm). 
26 2726
nistração do Exército (RAE) - (R-3) (ver 
art. 120 do Dec. 98.820/90).
JORGE LUIZ NOGUEIRA DE ABREU (2015) 
entende, no entanto, que estas normas 
são inconciliáveis com o Estado Democrá-
tico de Direito, com o princípio da legalida-
de (art. 37 21 da CRFB/88) e com a própria 
missão constitucionalmente atribuída às 
Forças Armadas, qual seja, a garantia da 
lei e da ordem. Enfim, são incompatíveis 
com a atual ordem constitucional.
Segundo entendimento do mesmo au-
tor, o dever de obediência imposto cons-
titucionalmente aos militares não tem o 
condão de impeli-los à prática de atos ma-
nifestamente ilegais, pois ninguém pos-
sui o dever de cometer ilegalidades. No 
entanto, há de se enfatizar que a recusa 
de obediência deve se restringir, apenas, 
aos casos em que a ordem seja manifes-
tamente ilegal ou criminosa, isto é, que a 
ilegalidade e ilicitude sejam patentes, fla-
grantes, claras, notórias.
Isto ocorre, por exemplo, quando o ofi-
cial de dia ordena aos integrantes da equi-
pe de serviço a prática de atos que acarre-
tem intenso sofrimento físico e mental a 
pessoa civil apreendida no interior de uma 
organização militar, a fim de coibir novas 
invasões. Aqui, a ilegalidade e ilicitude da 
ordem são manifestas, pois impõem aos 
subordinados a prática de atos de tortu-
ra física e mental. Neste caso, a recusa 
de obediência não poderá acarretar ao 
insubmisso responsabilização na esfera 
penal, administrativa ou disciplinar.
De outro lado, se a ordem não for mani-
festamente ilegal ou criminosa, o subor-
dinado tem o dever de cumpri-la rigoro-
samente, não só em função da hierarquia 
e da disciplina, mas, também, do princípio 
da presunção relativa de legitimidade dos 
atos administrativos. Aqui, a obediência 
deve ser absoluta. Se assim não o fizer, 
será responsabilizado, na esfera penal 
militar, pela práticade crime de recusa de 
obediência (art. 163 do CPM), ou na disci-
plinar, observado o disposto no art. 42, § 
2°, da Lei nº 6.880/80.
21- Alterado pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998 (ht-
tps://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/
Emc/emc19.htm#art3). 
26 2727
UNIDADE 5 – Direitos e Prerrogativas dos 
Militares
Os direitos dos integrantes das Forças 
Armadas estão previstos no art. 5022 do 
Estatuto dos Militares (Lei nº 6.880/80).
Para ANTÔNIO PEREIRA DUARTE 
(1995), o art. 50 e respectivos incisos e 
alíneas do Estatuto dos Militares faz enu-
meração dispositiva de inúmeros direitos 
assegurados aos servidores militares fe-
derais, mas não se trata de enumeração 
fechada, numerus clausus, porque outros 
direitos previstos em leis esparsas são ga-
rantidos aos militares.
O mesmo autor afirma que, conquanto, 
a CRFB/88 trace alguns delineamentos 
em relação aos servidores públicos mili-
tares (arts. 42 e 142) é no Estatuto dos 
Militares que os direitos e prerrogativas 
de tal categoria de servidores da Pátria se 
fazem precisos e sistematizados.
5.1 Direitos dos militares
Vale expressar na íntegra todos os di-
reitos dos militares preconizados pelo art. 
50 da lei nº 6.880/80:
I - a garantia da patente em toda a sua 
plenitude, com as vantagens, prerrogati-
vas e deveres a ela inerentes, quando ofi-
cial, nos termos da Constituição; 
II - o provento calculado com base no 
soldo integral do posto ou graduação que 
possuía quando da transferência para a 
inatividade remunerada, se contar com 
mais de trinta anos de serviço; (Redação 
dada pela Medida Provisória nº 2.215-10, 
de 31.8.2001).
III - o provento calculado com base no 
soldo integral do posto ou graduação 
quando, não contando trinta anos de ser-
viço, for transferido para a reserva remu-
nerada, ex officio, por ter atingido a ida-
de-limite de permanência em atividade no 
posto ou na graduação, ou ter sido abran-
gido pela quota compulsória; e (Redação 
dada pela Medida Provisória nº 2.215-10, 
de 31.8.2001).
IV - nas condições ou nas limitações 
impostas na legislação e regulamentação 
específicas: 
a) a estabilidade, quando praça com 10 
(dez) ou mais anos de tempo de efetivo 
serviço; 
b) o uso das designações hierárquicas; 
c) a ocupação de cargo correspondente 
ao posto ou à graduação; 
d) a percepção de remuneração; 
e) a assistência médico-hospitalar para 
si e seus dependentes, assim entendida 
como o conjunto de atividades relaciona-
das com a prevenção, conservação ou re-
cuperação da saúde, abrangendo serviços 
profissionais médicos, farmacêuticos e 
odontológicos, bem como o fornecimen-
to, a aplicação de meios e os cuidados e 
demais atos médicos e paramédicos ne-
cessários; 
f) o funeral para si e seus dependentes, 
constituindo-se no conjunto de medidas 
tomadas pelo Estado, quando solicitado, 
desde o óbito até o sepultamento condig-
no; 22- Com alterações dadas pela Medida Provisória nº 2.215-10, 
de 2001 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/MPV/2215-10.ht-
m#art41).
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g) a alimentação, assim entendida 
como as refeições fornecidas aos milita-
res em atividade; 
h) o fardamento, constituindo-se no 
conjunto de uniformes, roupa branca e 
roupa de cama, fornecido ao militar na 
ativa de graduação inferior a terceiro-sar-
gento e, em casos especiais, a outros mi-
litares; 
i) a moradia para o militar em atividade, 
compreendendo: 
1 - alojamento em organização militar, 
quando aquartelado ou embarcado; e, 
2 - habitação para si e seus dependen-
tes; em imóvel sob a responsabilidade da 
União, de acordo com a disponibilidade 
existente. 
j) (Revogada pela Medida Provisória nº 
2.215-10, de 31.8.2001)
l) a constituição de pensão militar; 
m) a promoção;
n) a transferência a pedido para a re-
serva remunerada;
o) as férias, os afastamentos temporá-
rios do serviço e as licenças;
p) a demissão e o licenciamento volun-
tários;
q) o porte de arma quando oficial em 
serviço ativo ou em inatividade, salvo 
caso de inatividade por alienação mental 
ou condenação por crimes contra a segu-
rança do Estado ou por atividades que de-
saconselhem aquele porte; 
r) o porte de arma, pelas praças, com as 
restrições impostas pela respectiva Força 
Armada; e,
s) outros direitos previstos em leis es-
pecíficas. 
§ 1° - (Revogado pela Medida Provisória 
nº 2.215-10, de 31.8.2001)
§ 2° São considerados dependentes do 
militar: 
I - a esposa; 
II - o filho menor de 21 (vinte e um) anos 
ou inválido ou interdito; 
III - a filha solteira, desde que não rece-
ba remuneração;
IV - o filho estudante, menor de 24 (vin-
te e quatro) anos, desde que não receba 
remuneração;
V - a mãe viúva, desde que não receba 
remuneração;
VI - o enteado, o filho adotivo e o tute-
lado, nas mesmas condições dos itens II, III 
e IV;
VII - a viúva do militar, enquanto per-
manecer neste estado, e os demais de-
pendentes mencionados nos itens II, III, IV, 
V e VI deste parágrafo, desde que vivam 
sob a responsabilidade da viúva;
VIII - a ex-esposa com direito à pensão 
alimentícia estabelecida por sentença 
transitada em julgado, enquanto não con-
trair novo matrimônio.
§ 3º São, ainda, considerados depen-
dentes do militar, desde que vivam sob 
sua dependência econômica, sob o mes-
mo teto, e quando expressamente decla-
rados na organização militar competente: 
a) a filha, a enteada e a tutelada, nas 
condições de viúvas, separadas judicial-
mente ou divorciadas, desde que não re-
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cebam remuneração; 
b) a mãe solteira, a madrasta viúva, a 
sogra viúva ou solteira, bem como sepa-
radas judicialmente ou divorciadas, desde 
que, em qualquer dessas situações, não 
recebam remuneração;
c) os avós e os pais, quando inválidos ou 
interditos, e respectivos cônjuges, estes 
desde que não recebam remuneração;
d) o pai maior de 60 (sessenta) anos e 
seu respectivo cônjuge, desde que ambos 
não recebam remuneração;
e) o irmão, o cunhado e o sobrinho, 
quando menores ou inválidos ou interdi-
tos, sem outro arrimo;
f) a irmã, a cunhada e a sobrinha, sol-
teiras, viúvas, separadas judicialmente ou 
divorciadas, desde que não recebam re-
muneração;
g) o neto, órfão, menor inválido ou in-
terdito;
h) a pessoa que viva, no mínimo há 5 
(cinco) anos, sob a sua exclusiva depen-
dência econômica, comprovada mediante 
justificação judicial;
i) a companheira, desde que viva em 
sua companhia há mais de 5 (cinco) anos, 
comprovada por justificação judicial; e 
j) o menor que esteja sob sua guarda, 
sustento e responsabilidade, mediante 
autorização judicial.
§ 4º Para efeito do disposto nos §§ 2º 
e 3º deste artigo, não serão considerados 
como remuneração os rendimentos não-
-provenientes de trabalho assalariado, 
ainda que recebidos dos cofres públicos, 
ou a remuneração que, mesmo resultan-
te de relação de trabalho, não enseje ao 
dependente do militar qualquer direito à 
assistência previdenciária oficial. 
Compete, privativamente, ao Presiden-
te da República, a iniciativa de lei que fixe 
a remuneração dos militares das Forças 
Armadas, nos termos do art. 61, § 1º, II, 
f, da CRFB/88, com redação dada pela EC 
18/1998.
O direito do militar da ativa à re-
muneração tem início na data:
a) do ato da promoção, da apresenta-
ção atendendo convocação ou designa-
ção para o serviço ativo, para o oficial;
b) do ato da designação ou declaração, 
da apresentação atendendo convocação 
para o serviço ativo, para o guarda-mari-
nha ou o aspirante a oficial;
c) do ato da nomeação ou promoção a 
oficial, para suboficial ou subtenente;
d) do ato da promoção, classificação ou 
engajamento, para as demais praças;
e) da incorporação às Forças Armadas, 
para convocados e voluntários;
f) da apresentação à organização

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