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AT 1 2 32 S U M Á R IO 3 UNIDADE 1 – Introdução 5 UNIDADE 2 – O Direito Disciplinar Militar 5 2.1 Natureza 6 2.2 Disciplina e hierarquia 17 UNIDADE 3 – Os Regulamentos Disciplinares e a CRFB/88 17 3.1 Princípio da recepção das leis 18 3.2 Princípio da hierarquia das leis 18 3.3 Princípio da reserva legal 18 3.4 A ação declaratória de inconstitucionalidade contra o Regulamento Disciplinar do Exército 23 UNIDADE 4 – Obrigações e Deveres Militares 23 4.1 Valor e ética militar 24 4.2 Deveres militares 27 UNIDADE 5 – Direitos e Prerrogativas dos Militares 27 5.1 Direitos dos militares 33 5.2 Prerrogativas dos militares 35 UNIDADE 6 – Violação dos Valores, dos Deveres e da Disciplina 38 UNIDADE 7 – Limites do Ato Disciplinar Militar 40 7.1 O mérito do ato disciplinar 42 UNIDADE 8 – Controle Jurisdicional do Ato Disciplinar Militar 47 REFERÊNCIAS 49 ANEXOS 2 33 UNIDADE 1 – Introdução “A hierarquia e a disciplina constituem, por assim dizer, a própria essência das forças armadas. Se quisermos, portanto, preservar a integridade delas devemos começar pela tarefa de levantar um sóli- do obstáculo às pretensões do Judiciário, se é que existem, de tentar traduzir em conceitos jurídicos experiências vitais da caserna. Princípios como os da isonomia e da inafastabilidade do Judiciário têm pouco peso quando se trata de aferir situações específicas à luz dos valores constitucio- nais da hierarquia e da disciplina. O quartel é tão refratário àqueles princípios, como deve ser uma família coesa que se jacta de ter à sua frente um chefe com suficiente e acatada autoridade. E seria tão desastroso para a missão institucional das forças armadas que as ordens de um oficial pudessem ser contra- ditadas nos tribunais comuns, como para a coesão da família, se a legitimidade do pá- trio poder dependesse, para ser exercido, do plebiscito da prole. Da mesma forma que a vocação religio- sa implica o sacrifício pessoal e do amor próprio – e poucos são os que a têm por temperamento – a militar requer a obedi- ência incontestada e a subordinação con- fiante às determinações superiores, sem o que vã será a hierarquia, e inócuo o espírito castrense. Se um indivíduo não está voca- cionado à carreira das armas, com o despo- jamento que ela exige, que procure seus objetivos no amplo domínio da vida civil, na qual a liberdade e a livre-iniciativa consti- tuem virtudes. Erra rotundamente quem pretende afirmar valores individuais onde, por necessidade indeclinável, só os cole- tivos têm a primazia. Comete erro maior, porém, quem, colimando a defesa dos pri- meiros, busca a cumplicidade do Judiciário para, deliberadamente ou não, socavar os segundos, ainda que aos nossos olhos pro- fanos, lídimo possa parecer tal expediente e constitucional a pretensão através dele deduzida”1 . Com essas palavras de MÁRIO PIMENTEL ALBUQUERQUE (2001), iniciamos os estu- dos sobre o direito disciplinar militar, que alguns autores preferem denominar de Di- reito Administrativo Disciplinar Militar. Em 1981, JOSÉ ARMANDO DA COSTA de- finiu “Direito Disciplinar como o conjunto de princípios e normas que objetivam, através de vários institutos próprios, condicionar e manter a normalidade do Serviço Público”. O mesmo autor, ao revisar e atualizar sua obra em 2004, manteve a mesma defi- nição, mas expôs que as particulares intrín- secas que imprimem fisionomia própria ao Direito Disciplinar, o fazem, pouco a pouco, se desvincular do seu ramo-mãe, lembran- do que esse direito relaciona-se com vários outros ramos do Direito, recebendo deles princípios e normas orientadores e de com- plementação, porém, as suas relações são bem mais estreitas com o Direito Adminis- trativo e com o Direito Penal. Pois bem, neste momento veremos a natureza do Direito Disciplinar Militar, a disciplina e hierarquia; os regulamentos 1 Mário Pimentel Albuquerque, Procurador da República, em pa- recer constante do HC 2.217/RJ - TRF/2a Região - ReI. Des. Federal Sérgio Correa Feltrin - j. em 25.04.2001. 4 54 disciplinares e a CRFB/1988; as obrigações e deveres militares; os direitos e prerroga- tivas; a violação dos valores, dos deveres e da disciplina; os limites do ato disciplinar militar; e por fim, o controle jurisdicional do ato disciplinar militar. Desejamos boa leitura e bons estudos, mas antes algumas observações se fazem necessárias: 1) Ao final do módulo, encontram-se muitas referências utilizadas efetivamen- te e outras somente consultadas, princi- palmente artigos retirados da World Wide Web (www), conhecida popularmente como Internet, que devido ao acesso facili- tado na atualidade e até mesmo democrá- tico, ajudam sobremaneira para enriqueci- mentos, para sanar questionamentos que por ventura surjam ao longo da leitura e, mais, para manterem-se atualizados. 2) Deixamos bem claro que esta compo- sição não se trata de um artigo original2 , pelo contrário, é uma compilação do pensa- mento de vários estudiosos que têm muito a contribuir para a ampliação dos nossos conhecimentos. Também reforçamos que existem autores considerados clássicos que não podem ser deixados de lado, ape- sar de parecer (pela data da publicação) que seus escritos estão ultrapassados, afinal de contas, uma obra clássica é aque- la capaz de comunicar-se com o presente, mesmo que seu passado datável esteja se- parado pela cronologia que lhe é exterior por milênios de distância. 3) Por uma questão ética, a empresa/ instituto não defende posições ideológico- -partidária, priorizando o estímulo ao co- 2 Trabalho inédito de opinião ou pesquisa que nunca foi publicado em revista, anais de congresso ou similares. nhecimento e ao pensamento crítico. 4) Sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa ser científica, ou seja, baseada em normas e padrões da acade- mia, portanto, pedimos licença para fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para que os te- mas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Por fim: 5) Deixaremos em nota de rodapé, sem- pre que necessário, o link para consulta de documentos e legislação pertinente ao as- sunto, visto que esta última está em cons- tante atualização. Caso esteja com mate- rial digital, basta dar um Ctrl + clique que chegará ao documento original e ali encon- trará possíveis leis complementares e/ou outras informações atualizadas. Caso es- teja com material impresso e tendo acesso à Internet, basta digitar o link e chegará ao mesmo local. 4 55 Também denominado direito adminis- trativo disciplinar militar, entende-se por tal ramo especial as seguintes caracterís- ticas: um conjunto de regras que estudam os princípios, os atos de transgressão, os procedimentos e as sanções inerentes à disciplina e à coesão das Forças Militariza- das; contempla o estudo pormenorizado da transgressão disciplinar, sua natureza jurídica, seus reflexos e os mecanismos indispensáveis à sua aplicabilidade; tem como aplicação judicial: a) a re- forma constitucional e a ampliação da competência da justiça militar estadual com a abrangência das punições discipli- nares; b) a necessidade de garantia da si- metria constitucional em relação à Justiça Militar da União. A reforma constitucional que engen- drou a produção de mais uma emenda, a de nº 45/2004, acarretou uma parcial re- forma no Judiciário pátrio, deixando ques- tões ainda pendentes para novos deba- tes congressuais, sendo que, dentre as mudanças operadas, temos a ampliação da competência da Justiça Militar Estadu- al, cujo alcance se estendeu para o julga- mento das denominadas punições disci- plinares (DUARTE, 2008). A referida alteração constitucional atende ao anseio dos que sempre defen-deram a necessidade de se concentrar as decisões afetas à criminalidade e à disci- plina militares no órgão jurisdicional espe- cialmente estatuído na Constituição para tal mister, com a garantia da celeridade e da uniformidade jurisprudencial. Em razão disso, não se pode concordar que, no plano estadual, seja ampliada a ju- risdição castrense, sem que idêntica mu- dança aconteça no contexto da jurisdição federal militar, até porque os motivos que ensejaram a alteração de competência daquela Justiça Estadual são os mesmos que justificam tal alteração no âmbito da Justiça Militar da União. Assim, qualquer proceder diverso con- traria, frontalmente, o primado da sime- tria constitucional, em claro prejuízo para as instituições que sedimentam o Estado Democrático de Direito (DUARTE, 2008). 2.1 Natureza Embora o Direito Militar se estabele- ça com autonomia, convém lembrarmos que seu estudo não acontece de forma isolada, mas em conjunto com toda uma legislação material que se refere à organi- zação e funcionamento das Forças Arma- das. Aqui podemos citar o Direito Adminis- trativo Militar; Direito Penal Militar, Direito Processual Penal Militar, Direito Previden- ciário Militar, bem como o Direito Discipli- nar Militar, foco desse momento do curso. Com diz ANTÔNIO PEREIRA DUARTE (2008), o direito militar, portanto, é bas- tante abrangente em suas ramificações, exigindo um esforço hermenêutico muito sério para aclarar alguns de seus institu- tos basilares, assinalando-se a produção de efeitos jurídicos de grave repercussão. Insere-se ainda dentro deste direito mi- UNIDADE 2 – O Direito Disciplinar Militar 6 7 litar, a seguinte legislação extrapenal: Lei do Serviço Militar e seu Regulamento; os Regulamentos Disciplinares da Marinha, do Exército e da Aeronáutica; as Leis de Promoções de Oficiais e Praças; a Lei que dispõe sobre as normas gerais para a or- ganização, o preparo e o emprego das For- ças Armadas, as Leis e Decretos que dis- põem sobre o Conselho de Justificação e de Disciplina, e seus correspondentes em relação às Forças Auxiliares, os Decretos e Portarias regulamentares, etc. Ou seja, sem entender a estrutura e a organização das Forças Armadas, das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares, seu modus vivendi próprio, os usos e costu- mes militares e os valores que lhes são ca- ros, difícil é a compreensão do que seja o direito disciplinar militar o qual, em última análise é a manifestação do Estado na de- limitação de conduta dos integrantes das instituições militares, visando uma me- lhor prestação de serviço na consecução das missões constitucionalmente fixadas para as Forças Armadas e Forças Auxilia- res (ASSIS, 2014). Feitas essas considerações, podemos afirmar a existência de três (03) ramos do Direito, os quais estão, em ordem decres- cente, contidos uns nos outros, a saber: a) um DIREITO MILITAR, composto por toda a legislação material que se refere à organização e ao funcionamento das For- ças Armadas e das Forças Auxiliares, seja de natureza administrativa, civil ou penal militar; b) um DIREITO ADMINISTRATIVO MILI- TAR, que pode ser definido como o con- junto harmônico de princípios jurídicos próprios e peculiares que regem as ins- tituições militares, seus integrantes e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e imediatamente os fins desejados pelo Estado e fixados na Cons- tituição Federal – a defesa da Pátria e a preservação da ordem pública 3; e, c) um DIREITO DISCIPLINAR MILITAR, que é aquele que se ocupa com as rela- ções decorrentes do sistema jurídico mi- litar vigente no Brasil, o qual pressupõe uma indissociável relação entre o poder de mando dos Comandantes, Chefes e Di- retores militares (conferido por lei e deli- mitado por esta) e o dever de obediência de todos os que lhes são subordinados, relação essa tutelada pelos regulamentos disciplinares quando prevê as infrações disciplinares e suas respectivas punições, e controlada pelo Poder Judiciário quando julga as ações judiciais propostas contra atos disciplinares militares. Distinguindo o direito penal do direito disciplinar, afirmam EUGENIO RAÚL ZA- FFARONI e RICARDO JUAN CAVALLERO (1980) que o direito penal protege bens jurídicos, enquanto que o disciplinar visa, tão somente, a infração de um dever es- pecial com relação a um determinado ser- viço 2.2 Disciplina e hierarquia Disciplina e hierarquia são institutos constitucionalizados em favor das Forças Armadas e Forças Auxiliares (art. 424 e 1425 3- Seguindo a linha conceitual de Direito Administrativo pro- posta por Hely Lopes Meirelles. 4- Redação dada pelas Emendas Constitucionais nº 18, de 1998 (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/ Emc/emc18.htm#art2), nº 20, de 1998 (https://www.planalto. gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc20.htm#art1) e nº 41, de 2003 (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/consti- tuicao/Emendas/Emc/emc41.htm#art1). 5- Redação dada pelas Emendas Constitucionais nº 18, de 1998 (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/ Emc/emc18.htm#art2) e nº 77, de 2014 (https://www.planalto. gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc77.htm). 6 7 da CRFB/88). A disciplina militar consiste na rigorosa observância e acatamento integral das leis, regulamentos, normas e disposições que regem a vida castrense. Materializa- -se por meio do perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos membros das Forças Armadas (ABREU, 2015). A disciplina e o respeito à hierarquia de- vem ser mantidos em todas as circunstân- cias da vida entre os militares da ativa, da reserva remunerada e reformados, ainda que no âmbito civil, sob pena de prática ato contrário ao dever militar (Art. 31, IV, da Lei nº 6.880/80). Lei nº 6.880/80 - Art. 14. A hierarquia e a disciplina são a base institucional das Forças Armadas. A autoridade e a respon- sabilidade crescem com o grau hierárqui- co. § 1º. A hierarquia militar é a ordenação da autoridade, em níveis diferentes, den- tro da estrutura das Forças Armadas. A ordenação se faz por postos (art. 16, § 1º, Lei nº 6.880/80) ou graduações (art. 16, § 3º, da Lei nº 6.880/80); dentro de um mesmo posto ou graduação se faz pela Antiguidade no posto ou na graduação. O respeito à hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamento à sequência de autoridade. § 2º - Disciplina é a rigorosa observância e o acatamento integral das leis, regula- mentos, normas e disposições que funda- mentam o organismo militar e coordenam seu funcionamento regular e harmônico, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos componentes desse organismo. § 3º - A disciplina e o respeito à hierar- quia devem ser mantidos em todas as cir- cunstâncias da vida entre militares da ati- va, da reserva remunerada e reformados. Para WILSON ODIRLEY VALLA (2003), a organização militar é baseada em prin- cípios simples, claros e que existem há muito tempo, a exemplos da disciplina e da hierarquia. Como se tratam dos valo- res centrais das instituições militares, é necessário conhecer alguns atributos que revestem a relação do profissional com estes dois ditames basilares da investi- dura militar, manifestados pelo dever de obediência e subordinação, cujas parti- cularidades não encontram similitudes na vida civil. Para o autor, a obediência hierárquica militar, no âmbito do Direito Penal e no Direito Administrativo deve ser diversa- mente considerada, visto que a natureza da função militar requer que o superior conte com poderes e faculdade que com- preende, ao mesmo tempo, o direito de ordenar e a faculdade de punir os atos que julgue contrários à disciplina (VALLA, 2003,p. 117). Tomando por referência o § 1º do art. 14 da Lei nº 6.880/80, JOSÉ LUIZ DIAS CAM- POS JUNIOR (2001, p. 132) ressalta que a obediência hierárquica é, no consenso geral, o princípio maior da vida orgânica e funcional das forças armadas. O ataque a esse princípio leva à dissolução da ordem e do serviço militar. Da essência mesma da hierarquia, des- prende-se que a localização que cada um dos integrantes tem na escala hierárquica importa em um diferente nível de exigên- cias e atribuições. Na medida em que se 8 9 sobe na mesma, se acrescentam ambas, pois a maior capacidade de comando cor- responde a uma maior responsabilidade (CAMPOS JUNIOR, 2001, p. 133). WILSON ODIRLEY VALLA (2003), lem- bra que CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, citado no trabalho do Cel. PMSP CARLOS ALBERTO DE CAMARGO, ao defi- nir hierarquia, põe em evidência o princí- pio da autoridade, dizendo: hierarquia se define como o vínculo de autoridade que une escalonadamente em graus suces- sivos, órgãos e agentes numa relação de subordinação, ou seja, de superior a infe- rior, de hierarca a subalterno. Por isso, em razão do direito de poder mandar, o superior tem, em matéria de serviço, completa disponibilidade sobre os atos praticados pelo subordinado que, além da faculdade de aplicar a punição, tem autoridade de fiscalização, de revi- são, de dirimir controvérsias de compe- tência e avocação. Obviamente, essa dis- ponibilidade sobre os atos do subordinado é exercida dentro dos limites da legalida- de, da moralidade e da eficiência (VALLA, 2003, p. 118). Enfim, entende-se por hierarquia a su- perposição de vários graus em uma orga- nização autorizada de agentes, de sorte que agentes inferiores não cumprem suas funções sob a obrigação direta e única de observar a lei, mas pela obrigação de obe- decer ao chefe que se interpõe entre eles e a lei (FAGUNDES, s.d. apud ASSIS, 2014). Um bom exemplo se dá com as polícias militares e que tem pertinência em rela- ção às Forças Armadas: se o policial mili- tar prende alguém, lavra uma notificação por infração de trânsito ou executa outro ato de polícia ostensiva qualquer, ele está cumprindo a lei. Mas se sai à rua com sua tropa para congelar uma área ou ocupar uma determinada instalação, ou ainda, executar uma ação letal contra um margi- nal que está de posse de refém, ele está cumprindo ordens, as quais não lhe com- pete analisar se estão ou não conforme a lei (VALLA, 2003). A segunda viga mestra das Instituições Armadas é a disciplina. LORENZO COTINO HUESO (2002 apud ASSIS, 2014) considera a disciplina mi- litar um elemento essencial das Forças Armadas. Para ele, a ordem e a disciplina são próprias de qualquer sociedade, com o que se pode concluir que o princípio da autoridade não seja exclusivo da organi- zação militar, ocorrendo tanto em outros órgãos públicos como privados. Tanto as relações administrativas ci- vis como as trabalhistas ou educativas se configuram com base no princípio da autoridade, ainda que todos estes âmbi- tos estejam longe da organização militar, onde o princípio da eficácia e com ele o da hierarquia e disciplina adquirem uma sig- nificação de todo particular. Não seria em vão, portanto, concluir que a organização burocrática militar é a técnica de domina- ção mais perfeita (HUESO, 2002, p. 531 apud ASSIS, 2014). A quase totalidade dos regulamentos disciplinares brasileiros prevê, como sen- do uma das manifestações da disciplina, a obediência pronta às ordens dos superio- res hierárquicos (art. 8º, § 1º, inciso II, Re- gulamento Disciplinar do Exército6 ). 6- Decreto nº 4.346, de 26 de agosto de 2002 (http://www.pla- nalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4346.htm). 8 9 É conditio sine qua non para a existên- cia das instituições militares a circuns- tância elementar do militar dever consi- deração, respeito e acatamento aos seus superiores hierárquicos (art. 3º, Regula- mento Disciplinar da Aeronáutica7 ). Salvo engano, o único Estado brasileiro que revogou como manifestação da dis- ciplina a obediência pronta às ordens dos superiores hierárquicos – e de consequ- ência o dever de consideração, respeito e acatamento aos superiores hierárquicos, foi Minas Gerais, com a edição de seu Có- digo de Ética e Disciplina (ver Lei Estadual 14.310/02), que não a previu em seu art. 6º. No extinto Regulamento Disciplinar, o dever de obediência era tratado no Ca- pítulo II (Princípios Gerais da Hierarquia e Disciplina, art. 5º, § 2º, I e II). No Código de Ética o dever de obediência foi omitido, descaracterizando a essência da nature- za militar da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiro Militar do Estado de Minas Ge- rais (ASSIS, 2014). Para o Código de Ética, a disciplina se manifesta pela: “observância às prescri- ções regulamentares”; e pela “pronta obe- diência às ordens legais”. Para LAURENTINO DE ANDRADE FILO- CRE (2004, p. 245), é nítida, no novo diplo- ma legal, a reversão do princípio funda- mental à disciplina – a “obediência devida” – ao condicionar o cumprimento da ordem à sua legalidade. Subtrai, assim, um ele- mento básico existente nos ordenamen- tos disciplinares dos mais diversos países: a presunção de legitimidade da ordem do superior hierárquico. A ordem poderá, as- sim, ser sempre questionada quanto à sua legalidade. No entendimento de JORGE CÉSAR DE ASSIS (2014), não é difícil de visualizar a insegurança jurídica passível de se ins- taurar em um sistema, dito militar, em que, cada um de seus integrantes, de per si, possa arvorar-se em órgão de contro- le prévio da legalidade da ordem dada pelo seu superior, principalmente quando se sabe que o controle da legalidade das ordens hierárquicas é sempre posterior, quando a obediência é alegada como cau- sa de exclusão da culpabilidade. Se a obediência pronta às ordens dos superiores hierárquicos é uma das mani- festações elementares da disciplina – daí decorre o dever de obediência comum às instituições militares, a falta de sua previ- são nas leis e regulamentos militares (por omissão ou má-fé) torna a corporação capenga em um de seus sustentáculos e aí, conquanto a justificativa inicial apre- sentada fosse à valorização profissional dos militares do Estado, resguardando os princípios basilares da hierarquia e da disciplina, a constatação final é de referi- dos princípios basilares e constitucionais restaram sensivelmente enfraquecidos, podendo mesmo se falar em inconstitu- cionalidade por omissão, autorizando a competente ação no Supremo Tribunal Federal, nos termos do art. 103, § 2º 8 , da Carta Magna. Pois bem, sendo a hierarquia militar, or- denação vertical e horizontal da autorida- de dentro da estrutura das Forças Arma- 7- Decreto nº 4.346, de 26 de agosto de 2002 (http://www.pla- nalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4346.htm). 8- Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004 (https:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/ emc45.htm#art2). 10 11 das, vejamos seus detalhes. 2.2.1 Ordenação vertical da autoridade por postos e graduações Decorre do escalonamento vertical da autoridade, em níveis diferentes, por meio dos postos e graduações que com- põem a escala hierárquica das Forças Ar- madas (em anexo). Exemplificando: um capitão possui grau hierárquico superior ao do primeiro-tenente, do segundo-te- nente, do aspirante a oficial, do suboficial, do primeiro-sargento. Em contrapartida, possui grau hierárquico inferior ao do ma- jor, do capitão de corveta, do tenente-co- ronel, do coronel. 2.2.2 Ordenação horizon- tal da autoridade A precedência hierárquica entre os mi- litares da ativa que se encontram num mesmo posto ou graduação se dá pelo tempo de permanência nele, ou seja, pela antiguidade no posto ouna graduação, salvo nos casos de precedência funcio- nal estabelecida em leis (art. 17, da Lei nº 6.880/80). Deste modo, o capitão “A”, promovido em dezembro de 2014, terá precedência hierárquica sobre o capitão “B”, promovi- do em abril de 2015, em razão da antigui- dade, isto é, do tempo de permanência no posto. Em havendo empate no tempo de permanência, a precedência hierárquica dar-se-á da seguinte forma (art. 17, § 2º da Lei nº 6.880/80): a) entre militares do mesmo corpo, quadro, arma ou serviço, pela posição nas respectivas escalas numéricas ou regis- tros existentes em cada Força; b) nos demais casos, pela antiguidade no posto ou graduação anterior. Persis- tindo o empate, recorrer-se-á, sucessiva- mente, aos graus hierárquicos anteriores e, por fim, à data de praça. Se ainda assim persistir o empate, a data de nascimento será o último critério de desempate. O mi- litar de mais idade terá prevalência hierár- quica. A precedência hierárquica entre o mi- litar ativo e inativo será aferida em razão do posto ou da graduação de que sejam titulares. Desta forma, um major que se encontra na reserva, ou seja, na inativida- de, tem precedência hierárquica sobre um capitão da ativa. De outro lado, dentro de um mesmo posto ou graduação, o militar da ativa terá prevalência hierárquica sobre o ina- tivo, independentemente da antiguidade. Exemplificando: um suboficial “A” na ativa, promovido a esta graduação em dezem- bro de 2016, terá precedência hierárquica sobre um suboficial “B” da reserva, ainda que este tenha sido promovido à gradua- ção suboficial em dezembro de 2014. Quanto à ordenação da autoridade en- tre militar da ativa e da reserva, remu- nerada ou não, convocado para o serviço ativo, dar-se-á em função do posto ou da graduação de que sejam titulares. Um pri- meiro-tenente da reserva, remunerada ou não, convocado para o serviço ativo terá precedência hierárquica sobre um segundo-tenente da ativa. Por outro lado, em havendo igualdade de posto ou de graduação, a precedência 10 11 hierárquica será aferida pela antiguidade no posto ou na graduação. A precedência hierárquica entre praças especiais e as demais praças será aferida da seguinte forma: a) os guardas-marinha e os aspirantes a oficial são hierarquicamente superiores às demais praças; b) os aspirantes, cadetes e alunos da Escola de Oficiais Especialistas da Aero- náutica são hierarquicamente superiores aos suboficiais e aos subtenentes; c) os alunos de Escola Preparatória de Cadetes e do Colégio Naval têm prece- dência sobre os terceiros-sargentos, aos quais são equiparados; d) os alunos dos órgãos de formação de oficiais da reserva, quando fardados, têm precedência sobre os cabos, aos quais são equiparados; e) os cabos têm precedência sobre os alunos das escolas ou dos centros de for- mação de sargentos, que a eles são equi- parados, respeitada, no caso de militares, a antiguidade relativa. A precedência entre militares e civis, em missões diplomáticas ou em comis- são no País ou no estrangeiro, bem como nas solenidades oficiais, é regulamen- tada em legislação especial (ver Decreto 70.274/72). 2.2.3 Círculos hierárquicos nas Forças Armadas Os militares são agrupados em dois grandes círculos hierárquicos, a saber: o dos oficiais e o das praças. Colima-se, com isso, o desenvolvimento do espírito de ca- maradagem, de um ambiente de estima e confiança, sem prejuízo do respeito mú- tuo e da hierarquia militar (ABREU, 2015). O círculo dos oficiais é dividido em: a) círculo dos oficiais-generais; b) círculo de oficiais superiores; c) círculo de oficiais subalternos. O círculo das praças é composto pelos: a) círculo de suboficiais, subtenentes e sargentos; b) círculo de cabos e soldados. Os inte- grantes de cada um dos círculos hierár- quicos estão listados em anexo ao final da apostila. 2.2.4 Posto e Patente Posto é o grau hierárquico do oficial, conferido por ato do Presidente da Repú- blica e confirmado em Carta Patente (ver art. 42, § 1º9 , da CRFB/88). O posto é in- separável da patente (CAVALCANTI, 1949 apud ABREU, 2015). Patente é o título de investidura no oficialato. São elementos obrigatórios da Carta Patente: a) o Brasão das Armas da República; b) a denominação do res- pectivo Comando – Comando da Marinha, Comando do Exército, Comando da Aero- náutica; c) o título do documento – Carta Patente de Oficial, Carta Patente de Ofi- cial Superior ou Carta Patente de Oficial- -General; d) os dados do oficial – posto, nome, corpo, arma, quadro ou serviço; e) o ato que motivou a sua lavratura; f) a iden- tificação do Diário Oficial da União que publicou o ato; g) o decreto ou portaria 9- Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998 (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/ Emc/emc20.htm#art1). 12 13 que regulamentou a expedição da Carta Patente; h) data da lavratura, anos decor- ridos de proclamação da Independência e da República; i) nome e assinatura de quem a confere e de quem a lavra; j) o re- gistro do arquivo. Foi a Constituição Federal de 1934 (art. 165, § 3º) que, pela primeira vez, vedou, expressamente, a concessão honorífica de postos militares a civis, ressalvando, apenas, aqueles que já tinham sido con- feridos por atos anteriores a sua promul- gação. A fim de enfatizar a vedação acima, dispôs, explicitamente, no art. Citado, que os postos eram privativos dos militares, ou seja, dos oficiais das Forças Armadas. As demais constituições mantiveram a mesma restrição, perpetuando a vedação constitucional à concessão de postos mili- tares a civis. 2.2.5 Titularidade de pos- tos e patentes militares A Carta Magna de 1988, mantendo a tradição, preconiza, expressamente, que as patentes e os postos militares são pri- vativos dos oficiais da ativa, da reserva e reformados, que só os perderão se forem declarados indignos ou incompatíveis com o oficialato, por decisão de tribunal mili- tar, em tempo de paz, ou tribunal especial, em tempo de guerra. Portanto, nem a re- forma, nem a transferência para reserva, remunerada ou não, acarretam a perda de posto e de patente. Em outras palavras, uma vez conferida patente e posto ao militar das Forças Ar- madas, a titularidade dos mesmos se tor- na vitalícia, razão pela qual será mantida independentemente da condição jurídica em que o oficial se encontre (ativa, reser- va, remunerada ou não, ou reformados). Só com a dupla perda prevista no art. 142, § 3°, VI10 , da CRFB/88, é que o oficial será priva- do de sua patente e posto. As Constituições brasileiras adotaram o princípio constitucional da garantia da pa- tente (PONTES DE MIRANDA, 1967 apud ABREU, 2015), ao condicionarem sua perda à decisão de tribunal militar, nas hipóteses nelas descritas taxativamente. A “perpetuidade das patentes e postos militares” aparece, pela primeira vez, no projeto de constituição do Império do Bra- sil de 1823, art. 247, como se vê nos Anais da Assembleia Constitucional, vol. V, p. 23, citados por João Barbalho, em seus Comen- tários, p. 341, dispositivo que foi acolhido na Constituição Imperial de 25 de março de 1824, art. 149 (CRETELLA JUNIOR, 1998). Pode-se afirmar que, desde então, o legislador constitucional vem conferindo vitaliciedade às patentes e aos postos mi- litares, pois toda vez que a Constituição da República prevê que a perda do cargo pú- blico depende de decisão judicial, estamos diante de hipótese de vitaliciedade. A Constituição de 1891 foi a primeira a garantir, expressamente, as patentes em sua plenitude. Todavia, não fazia menção aos oficiais da reserva e reformados, o que suscitava dúvidas quanto à sua extensão a estes oficiais. A fim de dirimi-las, a Carta Políticade 1934 passou a fazer expressa alusão aos oficiais da ativa, da reserva e re- formados, tendo sido seguida pelas demais (ABREU, 2015). 10- Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998 (https:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/ emc18.htm#art4). 12 13 A Magna Carta de 1946 alterou a reda- ção utilizada pelas Constituições de 1934 e 1937, passando a dispor que as patentes, com as vantagens, regalias e prerrogativas a elas inerentes, eram garantidas, em toda a plenitude, aos oficiais da ativa, da reserva e reformados. A Carta Magna de 1967, nes- te ponto, pouco diferiu da anterior. A pala- vra regalias foi excluída do texto e o termo deveres nele foi incluído. A atual Constitui- ção apenas substituiu a palavra vantagens por direitos. Observa-se, portanto, que, desde a Carta de 1934, as Constituições têm assegurado aos oficiais, independentemente da con- dição jurídica em que se encontram (ativa, reserva ou reformado), a patente militar em sua plenitude, ou seja, em sua inteireza, de forma plena, i.e., com todos os direitos, prerrogativas e deveres a elas inerentes. Destarte, subtraí-las, ainda que parcial- mente, implica desfalcar a patente, torná-la não plena, enfim, violar a garantia constitu- cional expressamente prevista no art. 142, § 3º (ABREU, 2015). Não é por outro motivo que MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO (1999, p. 80) assim leciona: “assegurando as patentes a Constituição garante também as vanta- gens e prerrogativas que delas decorrem. Cria, portanto, uma situação jurídica defi- nitivamente constituída em favor do titular da patente, em relação a suas prerrogativas e vantagens. Assim, em face do texto cons- titucional, o oficial, seja da ativa, da reserva ou reformado, não pode ter as prerrogativas e vantagens decorrentes de sua patente di- minuídas qualquer que seja o fundamento. Oportuno se torna dizer que a Lei Ápice, ao garantir a patente em sua plenitude, as- segurou aos oficiais da ativa o direito à efe- tividade da patente, protegendo-os contra atos que, a margem da lei, imponham-lhes, abusiva e arbitrariamente, a inativação pre- matura e forçada, seja pela reforma, seja pela transferência para a reserva, remune- rada ou não. Por isso, a perda compulsória da efetividade da patente somente ocorre- rá nos casos descritos na própria Constitui- ção (arts. 14, § 8°, I e II, 142, § 3°, II11 , III10 e VI12 ) ou em lei que, nos termos do art. 142, § 3°, X11, da CRFB/88, disponha sobre outras condições de transferência do militar para a inatividade, como nos casos de transfe- rência para a reserva remunerada ex officio (art. 9813), inclusão em quota compulsória (art. 99 a 103), reforma (art. 104 a 114), to- dos previstos na Lei nº 6.880/80. 2.2.6 Perda do posto e da patente O oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão de tribunal militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra (ver art. 125, § 4º14 e art. 142, § 3º, VI15 , da CRFB/88). Ao assim dispor, a Constituição estabeleceu, taxativamen- 11- Redação dada pela Emenda Constitucional nº 77, de 2014 (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/ Emc/emc77.htm). 12- Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998 (https:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/ emc18.htm#art4). 13- Alterado pelas Leis nº 7.503, de 1986 (http://www.planal- to.gov.br/ccivil_03/leis/L7503.htm#art1), Lei nº 7.666, de 1988 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7666.htm#art1), Lei nº 7.659, de 1988 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ L7659.htm#art1), Lei nº 9.297, de 1996 (http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/L9297.htm#art1) e Lei nº 10.416, de 2002 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10416.htm). 14- Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004 (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/ Emc/emc45.htm#art1). 15- Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998 (https:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/ emc18.htm#art4). 14 15 te, a indignidade e a incompatibilidade com o oficialato como causas únicas de perda de posto e de patente militar, sen- do defeso ao legislador infraconstitucio- nal ampliá-las. A indignidade ocorre quando graves ra- zões de ordem moral tornam o indivíduo um desadaptado ao alto padrão ético das corporações militares. A incompatibilidade assenta em razões ligadas à natureza da função militar. Não implica para o atingido em considerá-lo moralmente incapaz para o exercício da profissão, e sim um desajustado às suas exigências e aos seus deveres. Aqui en- trarão, talvez, razões ligadas a convic- ções políticas (não propriamente estas) que, por meio de sucessivas constatações de insubmissão ou de transgressão aos deveres funcionais, façam concluir pela inadaptação do oficial ao espírito mili- tar de disciplina (FAGUNDES, 1947 apud ABREU, 2015). Dispõe o art. 142, § 3°, VII14, da CRFB/88 que o oficial condenado na jus- tiça comum ou militar à pena privativa de liberdade superior a dois anos, por sen- tença transitada em julgado, será subme- tido ao julgamento previsto no art. 142, § 3º, VI. Neste caso, compete ao Ministério Público Militar promover a declaração de indignidade ou de incompatibilidade para o oficialato, mediante representação en- caminhada ao Superior Tribunal Militar, ór- gão competente para processar e julgá-la. Se o oficial for julgado indigno ou incom- patível com o oficialato pelo STM, perderá seu posto e sua patente (ver art.120, Lei nº 6.880/80; art. 116, II da Lei Comple- mentar 75/93; art. 112 do Regimento In- terno/STM). Como se pode notar, o art. 142, § 3º, VII, da CRFB/88 não veicula uma nova causa de perda de posto e de patente, mas, tão somente, hipótese em que o oficial, ne- cessariamente, fica sujeito à eventual de- claração de indignidade ou incompatibili- dade com o oficialato pelo tribunal militar. O art. 142, § 3º, VI e VII, da CRFB/88, ao se referir ao gênero oficial, abarcou, in- distintamente, os da ativa, da reserva, re- munerada ou não, e os reformados. E não poderia ser diferente, pois todos, inde- pendentemente da condição jurídica em que se encontram, são titulares de postos e de patentes. Por isso, o oficial, mesmo na inatividade, remunerada ou não, deve- rá abster-se de praticar atos que o torne indigno ou incompatível com o oficialato, sob pena de perda do posto e da patente. Contudo, há de se registrar as se- guintes peculiaridades: a) os oficiais da ativa, da reserva remu- nerada e reformados estão sujeitos à du- pla perda, na forma prevista no art. 142, § 3º, VI, da CRFB/88, quando julgados culpados pelo Conselho de Justificação ou em decorrência de representação de in- dignidade ou de incompatibilidade para o oficialato elaborada pelo MPM, no caso de condenação na justiça comum ou militar a pena privativa de liberdade superior a dois anos (art. 16, da Lei nº 8.457/92 e art. 16, I, da Lei nº 5.836/72); b) os oficiais da reserva não remune- rada, por força do art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 5.836/72, não são submetidos a Conselho de Justificação. Todavia, sujei- tam-se à perda de posto e da patente, na forma preconizada no art. 142, § 3°, VI, da CRFB/88, em virtude de representação de 14 15 indignidade ou de incompatibilidade para o oficialato, elaborada pelo MPM, no caso de condenação na justiça comum ou mili- tar à pena privativa de liberdade superior a dois anos, fundamentada no art. 142, § 3°, VII, que, ao fazer alusão ao gênero ofi- cial, englobou, necessariamente, suas es- pécies, quais sejam, o oficial da ativa, da reserva, remunerada ou não, e reforma- dos. Não fosse assim, um oficial dareser- va não remunerada, exempli gratia, con- denado na justiça comum por homicídio doloso, estupro ou atentado violento ao pudor – condutas que, manifestamente, retratam sua indignidade com o oficialato – à pena privativa de liberdade superior a dois anos, por sentença transitada em jul- gado, não perderia seu posto e patente. Por conseguinte, em caso de convoca- ção ou mobilização geral, este oficial, em tese, após o cumprimento da pena, pode- ria ser incorporado às fileiras da Força a que estiver vinculado, no posto e paten- te que possuía na ativa, não obstante sua manifesta indignidade para o oficialato. Por isso, entendemos que, nas hipóteses descritas no art. 142, § 3°, VII, da CRFB/88, o oficial da reserva não remunerada está sujeito à dupla perda (ABREU, 2015). Uma vez declarado indigno do oficiala- to ou com ele incompatível, o oficial das Forças Armadas poderá sofrer consequ- ências jurídicas: a) perderá o posto e a patente, inde- pendentemente da condição jurídica em que se encontre; b) se estiver na ativa, será demitido ex officio sem direito a qualquer remunera- ção ou indenização; c) se estiver na reserva remunerada ou reformado, perderá o direito à percepção de proventos na inatividade na data em que for privado do posto e da patente (art. 13, II, Medida Provisória nº 2.215-10/01); d) receberá a certidão de isenção do serviço militar; e) não será incluído na reserva das For- ças Armadas, se estiver na ativa, ou será dela excluído, acaso se encontre na reser- va. Os beneficiários do oficial da ativa, da reserva remunerada ou reformado decla- rado indigno ou incompatível com o oficia- lato, terão direito à percepção de pensão militar para a qual o ex-oficial tenha con- tribuído, como se ele houvesse falecido (ver art. 7º, do DL 510/38 c/c art. 5º do Dec. 49.096/60). 2.2.7 Graduação Graduação é o grau hierárquico das pra- ças, ou seja, dos não oficiais. É conferido, na forma da lei, pela autoridade militar competente. As graduações, adotadas pela Marinha, Exército e Aeronáutica es- tão em anexo. O acesso às graduações iniciais da car- reira é feito mediante nomeação e, às subsequentes, pela promoção. À praça das Forças Armadas não foi assegurada vitaliciedade da graduação, ante ao silêncio eloquente do art. 142, § 3°, VI, da CRFB/88. Logo, a perda não está condicionada à decisão proferida por tri- bunal militar (ABREU, 2015). Nos termos do art. 127 da Lei nº 6.880/80, a perda da graduação decorre da exclusão a bem da disciplina, aplicada ex officio à praça com estabilidade asse- 16 1716 gurada, nos casos descritos no art. 125 da mesma lei, ou do licenciamento ex officio a bem da disciplina imposto à praça sem es- tabilidade assegurada. Perderá, também, a graduação a praça condenada na Justiça Militar à pena privativa de liberdade, por tempo superior a dois anos, já que, nesses casos, a ela será aplicada a pena acessória de exclusão das Forças Armadas (art. 98, IV e art. 102 do CPM). Como consequências jurídicas, a praça ao perder a graduação: a) não será inclu- ída na reserva das Forças Armadas; b) re- ceberá certificado de isenção do serviço militar; c) não terá direito a qualquer re- muneração ou indenização. O militar inativo, ao fazer uso do posto ou da graduação, deve indicar a abrevia- tura respectiva da situação jurídica em que se encontra, ou seja, reserva ou re- formado. 16 1717 UNIDADE 3 – Os Regulamentos Disciplina- res e a CRFB/88 Com o advento da Constituição Federal de 1988, o ordenamento jurídico passou a pautar-se por seus dispositivos legais. Em seu artigo 14216 , a Carta Política dispõe que: As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacio- nais permanentes e regulares, orga- nizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da república, e desti- nam-se à defesa da Pátria, à garan- tia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. Assim, como visto exaustivamente, os sustentáculos das Forças Armadas são a hierarquia e a disciplina, as quais vêm de- finidas no Estatuto dos Militares, e possi- bilitam que as Instituições Militares cum- pram sua destinação constitucional. Para possibilitar a manutenção da hie- rarquia e da disciplina, faz-se necessário a regulamentação das chamadas trans- gressões disciplinares para que a Admi- nistração possa apurar a falta cometida e aplicar a sanção disciplinar cabível ao infrator, o que se dá através dos Regula- mentos Disciplinares da Marinha, do Exér- cito e da Aeronáutica. Já o art. 5º, inciso LXI, da CRFB/88, de- termina que: ninguém será preso senão em fla- grante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judici- ária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime pro- priamente militar, definidos em lei. Trata-se de preservação do princípio garantidor da liberdade de ir e vir, vez que a aplicação de sanções disciplinares por transgressão disciplinar pode implicar em prisão ou detenção do infrator, o que, segundo a nova ordem constitucional, somente pode ocorrer com base em Re- gulamento editado através de lei subme- tida ao processo legislativo (GONÇALVES, 2009). Desse modo, os Regulamentos Discipli- nares das Forças Armadas regulamentam as transgressões disciplinares e delimi- tam as sanções e o modo de aplicação das mesmas. O Regulamento Disciplinar da Marinha foi editado pelo Decreto nº 88.545, de 26 de junho de 1983, com alterações intro- duzidas através do Decreto nº 1.011, de 22 de dezembro de 1993. No Exército o atual Regulamento Disciplinar foi baixado pelo Decreto nº 4.346, de 26 de agosto de 2002, que revogou o Decreto nº 90.608, de 08 de dezembro de 1984. Já o Regula- mento Disciplinar da Aeronáutica foi insti- tuído através do Decreto nº 76.322, de 22 de setembro de 1975. 3.1 Princípio da recepção das leis Em relação às normas infraconstitucio- 16- Redação dada pelas Emendas Constitucionais nº 18, de 1998 (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ Emendas/Emc/emc18.htm#art2) e nº 77, de 2014 (https://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc77. htm). 18 19 nais editadas antes da nova Constituição, desde que não contrariem a nova ordem serão recepcionadas, inclusive com o sta- tus ditado pela Norma Maior, sendo exigi- do, então, que sua alteração ou revogação se dê através de Lei de mesma hierarquia. No caso dos Regulamentos Discipli- nares das Forças Armadas, instituídos através de Decretos editados pelo Poder Executivo, por força da nova Constitui- ção, foram recepcionados com status de Lei Ordinária, somente podendo ser alte- rados ou revogados através de outra Lei oriunda do Poder Legislativo. No caso do Regulamento Disciplinar da Aeronáutica, cujo Decreto instituidor é datado de 22 de setembro de 1975, não há qualquer dúvida acerca de sua constitu- cionalidade, uma vez que foi recepciona- do pela Constituição Federal de 1988 com o status de Lei Ordinária, coadunando-se com a nova ordem jurídica (GONÇALVES, 2009). Já os Regulamentos Disciplinares da Marinha e do Exército, os quais haviam sido recepcionados pela atual Constitui- ção, padecem de certeza quanto a sua constitucionalidade, pois, o da Marinha foi alterado e o do Exército foi revogado, após sua recepção no novo ordenamento jurídico, ambos através de Decreto do Po- der Executivo, embora detivessem o sta- tus de Lei. 3.2 Princípio da hierarquia das leis O sistema normativo de um Estado compõe-se de um conjunto de normas en- cadeadas entre si, onde umas encontram seu fundamento e sua validade em outras de escalão superior. Uma norma de esca- lão inferior somentepoderá ser conside- rada válida se não conflitar com a norma de escalão superior que determina sua criação. Podemos afirmar, então, que as normas jurídicas encontram-se hierarqui- zadas dentro do sistema normativo (GON- ÇALVES, 2009). O direito, através das normas postas, regula o comportamento humano e, em um momento anterior, fixa quais as nor- mas que podem pautar esse comporta- mento, não podendo produzir efeitos no mundo jurídico as normas inválidas, que não se adequam ao ordenamento como um todo. 3.3 Princípio da reserva le- gal Segundo JOSÉ AFONSO DA SILVA (2005), é absoluta a reserva constitucio- nal de lei quando a disciplina da matéria é reservada pela Constituição à lei, com ex- clusão, portanto, de qualquer outra fonte infralegal, o que ocorre quando ela em- prega fórmulas como: a lei regulará, a lei disporá, a lei complementar organizará, a lei criará, a lei definirá, etc. Ao tratar da regulamentação das Or- ganizações Militares, seus Regulamentos versam sobre a caracterização das trans- gressões disciplinares e sobre a amplitu- de e aplicação das sanções disciplinares cabíveis, o que, segundo o disposto no ar- tigo 5º, inciso LXI, da CRFB/88, deve dar- -se através de lei. 3.4 Refletindo sobre a ação declaratória de inconsti- tucionalidade contra o Re- 18 19 gulamento Disciplinar do Exército ao final de 2004 O ajuizamento de ação declaratória de in- constitucionalidade contra o Regulamento Disciplinar do Exército ao final de 2004, pro- posta pelo Procurador-Geral da República, e o não conhecimento da mesma por parte do Supremo Tribunal Federal, sugerem a ne- cessidade de uma reflexão mais aguçada sobre o tema, principalmente em decorrên- cia de uma série de decisões em sentidos opostos que ocorrem na Justiça Federal. Este é o propósito de JORGE CÉSAR DE ASSIS (2014), com o qual compactuamos: refletir e incentivar os estudiosos a debate- rem a questão. Primeiramente, diga-se em relação aos regulamentos disciplinares, que eles têm, de forma indireta, uma previsão constitu- cional, calcada no art. 5°, inc. LXI, que as- segura que “ninguém será preso, senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fun- damentada de autoridade judiciária compe- tente, salvo nos casos de transgressão mili- tar ou crime propriamente militar, definidos em lei”. Ao referir-se à transgressão militar, o dispositivo constitucional está admitindo a existência de um Regulamento Disciplinar, já que são exatamente os regulamentos que contêm o rol das transgressões discipli- nares militares. De acordo com ANTÔNIO PEREIRA DUAR- TE (1995, p. 51), os regulamentos disciplina- res ordenam e classificam as transgressões ou contravenções disciplinares, dispondo sobre as penas disciplinares e os recursos cabíveis contra as punições impostas. Cada Força singular tem seu respectivo regula- mento, no qual se delineiam as diferentes sanções disciplinares e modos de aplicação. O Estatuto dos Militares, no entanto, im- põe como limite às sanções disciplinares de impedimento, detenção ou prisão, o prazo máximo de 30 dias. Na Marinha, o atual Regulamento Disci- plinar foi baixado pelo Decreto 88.545, de 26.06.1983, com as alterações introduzidas pelo Dec.1.011, de 22.12.93. O Exército regula as contravenções ou transgressões disciplinares praticadas pe- los seus componentes através do Decreto 4.346, de 26.08.2002 - que revogou o De- creto 90.608, de 08.12.1984, sendo esta revogação o pomo de adão no tocante à questionada inconstitucionalidade do atual RDE. Na Aeronáutica, o Regulamento Discipli- nar foi instituído pelo Decreto 76.322, de 22.09.1975. Para que se possa entender o questio- namento da constitucionalidade dos regu- lamentos disciplinares, interessante des- tacar que os regulamentos disciplinares da Marinha, o anterior do Exército e o da Aeronáutica foram editados sob a égide da Constituição Federal de 1969, e o novel re- gulamento da Força Terrestre, veio à lume sob a égide da Carta Política de 1988. Para CLÁUDIO FONTELES (2004), então Procurador-Geral da República: o simples exame do arcabouço nor- mativo que regula a matéria em apreço é suficiente para demonstrar a incons- titucionalidade do Decreto 4.346/02. Com efeito, se a Constituição de 1988 determinou que os crimes e transgres- sões militares fossem definidas por lei, 20 21 não é possível a definição de tipos pe- nais via decreto presidencial. Assim, o ato normativo impugnado violou o art. 5º; inc. LXI, da Carta Magna. A ofensa constitucional torna-se ainda mais clara a partir do exame do princípio da recepção de normas pela Constituição. Segundo esse princípio, toda a ordem normativa proveniente de regimes constitucionais anteriores é recebida pela Carta Magna em vi- gor, desde que com ela materialmente compatível. Considera-se, nesse caso, que a norma recepcionada passou a revestir-se da forma prevista pelo tex- to constitucional para a matéria. O elemento fundamental para a recepção da norma, nesse passo, é a sua compatibilidade material. O clás- sico exemplo de recepção normativa pela Constituição de 1988 é o Código Tributário Nacional, aprovado como lei ordinária (Lei nº 5.172/66), mas rece- bido com o status de lei complementar (art. 146 da Constituição c.c. 34, § 5º da ADCT). Simulação similar ocorreu com o Decreto nº 90.608/84. Ao estabelecer o Regulamento Dis- ciplinar do Exército, essa norma não colidiu materialmente com a nova or- dem constitucional. Houve, pois, sua recepção pela Constituição de 1988, com força de lei, nos termos do art. 5º, inc. LXI da Constituição, que fixou a reserva legal para dispor sobre trans- gressões disciplinares e respectivas penas. Assim, o Regulamento Disciplinar do Exército, muito embora aprovado por decreto presidencial, ganhou, com a Carta Magna vigente, o status de lei ordinária. Esse paradoxo entre a for- ça material (lei) e a forma infralegal (decreto) suscita a grande dificuldade: qual o procedimento adequado para se alterar essa norma no novo regime constitucional? A doutrina é pacífica em admitir que o procedimento a ser seguido é o estabelecido pela Constituição vigen- te. Assim, se uma norma é recebida como lei pela nova ordem constitucio- nal, deve prevalecer o procedimento por esta estabelecido para a alteração legal, independentemente da forma com que originariamente entrou em vigor. Em outros termos: se é recep- cionada como lei ordinária, somente poderá ser alterada contra lei de igual hierarquia. Com essas considerações, consta- ta-se que o Regulamento disciplinar do Exército, estabelecido pelo Decreto nº 90.608/84 e recepcionado como lei ordinária pela Constituição de 1988, somente poderia ter sido alterado por outra lei de igual hierarquia. O Decreto nº 4.346/02, porém, revogou aquele ato normativo (art. 74), violando a re- serva da lei estabelecida no art. 5º LXI, da Constituição Federal 17. O Supremo Tribunal Federal, entre- tanto, não conheceu da Ação Direta de lnconstitucionalidade proposta contra o RDE, sendo que dentre os dez Minis- tros presentes, sete decidiram não julgar o mérito da ação porque a petição inicial 17- Inicial da ação Direta de Inconstitucionalidade – ADIn 3.340 – Rel. Min. Marco Aurélio, protocolado no STF em 08.11.2004, atendendo solicitação do Procurador da República no estado do Rio de Janeiro Fábio Elizeu Gaspar. 20 21 não detalhou quais os dispositivos do de- creto seriam inconstitucionais. No dia do julgamento (03.11.2005), o Advogado-Geral da União, Ministro Álva- ro Augusto Ribeiro Costa, fez a defesa do decreto na tribuna do STF. Segundo ele, o decreto regulamentou o Estatuto dos Mi- litares e não definiu crimes militares como contestou a PGR. Na ação, a Procuradoria--Geral da República argumentou que a de- finição de crimes só pode ocorrer por meio de uma lei. O decreto, segundo o Ministro Álvaro Costa, não ofende o princípio da legalida- de porque não trata de crimes militares e sim de transgressões militares. As trans- gressões, segundo ele, são ilícitos de na- tureza administrativa, não se tratando de crimes propriamente militares, como en- tendeu a PGR na ADI. Segundo o Ministro da tribuna, Transgressões militares são ilíci- tos de natureza puramente adminis- trativa, tendo por escopo a defesa dos princípios sobre os quais se ba- seia a organização das Forças Arma- das: a hierarquia e a disciplina (AS- SESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA AGU, 2005). Partindo das ilações de Cláudio Fonte- les ao ajuizar a ADI em relação ao novel Regulamento Disciplinar do Exército, JOR- GE CÉSAR DE ASSIS (2014) conclui que em face do instituto de recepção das normas pelo ordenamento constitucional vigen- te, que os regulamentos da Marinha, da Aeronáutica, e de qualquer Polícia Militar ou Corpo de Bombeiros Militar editados por decreto, anteriormente à Constitui- ção de 1988, teriam sido por ela recepcio- nados, estando vigentes com status de lei ordinária. Em nível doutrinário (a discussão ain- da é escassa), via de regra, prega-se a inconstitucionalidade dos regulamentos disciplinares que não estejam fixados por lei. Todavia, antes mesmo da edição do Decreto nº 4.346/02, PAULO TADEU RO- DRIGUES ROSA (2003) já questionava a recepção dos regulamentos disciplinares pelo texto constitucional atual, indagan- do ainda se ditos regulamentos se encon- travam em consonância com o disposto nos preceitos que tratam dos direitos e garantias do cidadão. O autor se referia, especificamente ao Regulamento Disciplinar da Polícia Militar de Goiás, Decreto Estadual nº 4.717/96, às alterações sofridas no Regulamento Dis- ciplinar da Polícia Militar de Minas Gerais, Decreto nº 88.545/83, feitas pelo Decre- to 1.011, de 22.12.1993, lembrando que, se os regulamentos existentes à época da CRFB/88, foram recepcionados com status de lei ordinária, não poderiam ser revogados e nem alterados por decreto, sendo portanto, inconstitucional a medi- da adotada. Tal posição é secundada por ELIEZER PEREIRA MARTINS (1996), para quem a questão que se traz aqui à colação é da maior importância, dado que na atualida- de todas as transgressões militares estão definidas em decretos e não em lei, o que para o autor e, no seu entender, a melhor doutrina importa na inconstitucionalida- de de todas as prisões por transgressões disciplinares. A bem da verdade e, curiosamente, 22 2322 Eliezer Pereira Martins (1996) se insurgiu apenas e tão somente contra as prisões disciplinares decorrentes de regulamen- tos editados por decreto, já que admitiu a possibilidade, embora não recomendada segundo ele, de que os regulamentos dis- ciplinares sejam baixados por decretos, desde que não definam condutas enseja- doras de prisão por transgressão discipli- nar. Para JORGE CÉSAR DE ASSIS (2014), é uma posição curiosa. Se aceita a tese de que, ao excepcionar a prisão por trans- gressão disciplinar militar da necessidade da ordem escrita e fundamentada da au- toridade judiciária competente, o cons- tituinte originário fixou a reserva legal para todas as punições disciplinares, seria inaceitável, em princípio, um regulamento disciplinar que contivesse transgressões puníveis por penas outras que não a pri- são, esse sim, passível de ser editado por decreto. Ficam então levantadas questões para que reflitam e poderem sobre a constitu- cionalidade ou não do Regulamento Dis- ciplinar do Exército, ou de qualquer outra Força Armada ou Auxiliar. Há que se aceitar a premissa de que a Carta Magna não possui dispositivos an- tagônicos entre si; qualquer contradição aparente implica o esforço necessário para a conciliação das normas estabeleci- das em dispositivos constitucionais diver- sos a serem considerados. Desta forma, o princípio insculpido no art. 5°, LXI da CRFB/88, segundo o qual é excepcionada a necessidade de ordem judicial fundamentada à prisão nos ca- sos de transgressão disciplinar e crimes propriamente militares, definidos em lei deve, em relação à transgressão discipli- nar, ser analisado de forma restritiva, já que outros princípios constitucionais in- cidem sobre a questão, como o da estru- turação das Forças Armadas com base na disciplina e hierarquia, e o da submissão das Forças Armadas ao comando supremo do Presidente da República, além da com- petência deste, em editar decretos para a fiel execução das leis (ASSIS, 2014). 22 2323 UNIDADE 4 – Obrigações e Deveres Militares Buscando respaldo no art. 31 do Esta- tuto dos Militares (Lei nº 6.880/80), AN- TÔNIO PEREIRA DUARTE (1995) nos lem- bra que a função militar gera a criação de um vínculo estreito com a Pátria e o senti- mento de sua preservação e defesa. É dentro desse contexto que se origi- nam os vários deveres militares, entre os quais o da dedicação e fidelidade à Pátria, o culto aos símbolos nacionais, a probi- dade e a lealdade em todas as ocasiões e circunstâncias, a disciplina e o respeito à hierarquia, o cumprimento das obrigações e ordens e a obrigação de tratar o subordi- nado com dignidade e urbanidade. Segundo o Capítulo V da portaria 156, de 23 de abril de 2002, que aprova o Vade- -Mecum de Cerimonial Militar do Exército – Valores, Deveres e Ética Militares (VM 10) aos membros das Forças Armadas, ainda que fora do serviço, são impostos deve- res e obrigações cuja violação constitui crime militar, contravenção ou transgres- são disciplinar, e, ainda, fator impeditivo à concessão de condecorações. Vamos, então, iniciar nossos estudos acerca das obrigações militares, que são compostas pelo valor militar e ética mili- tar. 4.1 Valor e ética militar O valor militar é externado, essencial- mente, por meio de manifestações de: a) patriotismo, traduzido pela vonta- de inabalável de cumprir o dever militar e pelo solene juramento de fidelidade à Pá- tria até com o sacrifício da própria vida; b) civismo e culto das tradições histó- ricas; c) fé na missão elevada das Forças Ar- madas; d) espírito de corpo (que reflete o nível de coesão e de camaradagem existente entre os integrantes das Forças Arma- das), orgulho pela organização na qual o militar serve; e) amor à profissão das armas e entu- siasmo com que é exercida; f) constante aprimoramento técnico- -profissional. A ética militar consiste no sentimento do dever, no pundonor militar 18 , no deco- ro da classe. A ética militar impõe a cada um dos membros das Forças Armadas, mesmo na inatividade, conduta moral e profissional irrepreensíveis, como, tam- bém, a estrita observância dos seguintes preceitos: a) amar a verdade e a responsabilidade como fundamento de dignidade pessoal; b) exercer, com autoridade, eficiência e probidade, as funções que lhe couberem em decorrência do cargo; c) respeitar a dignidade da pessoa hu- mana; d) cumprir e fazer cumprir as leis, os re- gulamentos, as instruções e ordens das autoridades competentes; e) ser justo e imparcial no julgamento dos atos e na apreciação do mérito dos subordinados; 18- Impõe ao militar o dever e a obrigação de ser um profis- sional exemplar e correto em suas atitudes, estando ou não no exercício de funções militares. 24 25 f) zelar pelo seu preparo próprio, moral, intelectual e físico, como, também, pelo dos subordinados; g) empregar todas as energias em be- nefício do serviço; h) praticar a camaradagem e desenvol- ver, permanentemente, o espírito de coo- peração; i) ser discreto em suas atitudes, manei- ras e na linguagem escrita e falada; j) abster-se de tratar,fora do âmbito apropriado, de matéria sigilosa de qual- quer natureza; l) acatar as autoridades civis; m) cumprir seus deveres de cidadão; n) proceder de maneira ilibada na vida pública e na particular; o) observar as normas da boa educa- ção; p) garantir assistência moral e material ao seu lar e conduzir-se como chefe de fa- mília modelar; q) conduzir-se, mesmo fora do serviço ou quando já na inatividade, de modo que não sejam prejudicados os princípios da disciplina, do respeito e do decoro militar; r) abster-se de fazer uso do posto ou da graduação para obter facilidades pessoais de qualquer natureza ou para encaminhar negócios particulares ou de terceiros; s) abster-se, na inatividade, do uso das designações hierárquicas: 1) em atividades político-partidárias; 2) em atividades comerciais; 3) em ativi- dades industriais; 4) para discutir ou pro- vocar discussões pela imprensa a respeito de assuntos políticos ou militares, excetu- ando-se os de natureza exclusivamente técnica, se devidamente autorizado; 5) no exercício de cargo ou função de natureza civil, ainda que na Administração Pública; t) zelar pelo bom nome das Forças Ar- madas e de cada um de seus integrantes, obedecendo e fazendo obedecer aos pre- ceitos da ética militar. Vedou-se, ainda, ao militar da ativa, em nome da ética miliciana, comerciar ou to- mar parte na administração ou gerência de sociedade ou dela ser sócio ou parti- cipar, exceto como acionista ou quotista, em sociedade anônima ou por quotas de responsabilidade limitada (art. 29, da lei nº 6.880/80). O oficial da ativa que des- cumprir a proibição em tela cometerá, em tese, crime militar tipificado no art. 204 do Código Penal Militar (CPM). Trata-se de crime próprio, uma vez que só pode ser cometidos por oficiais da ativa. Por outro lado, se a praça não observar a proibição em voga, não cometerá o ilíci- to penal acima tipificado. Todavia, poderá ser responsabilizada na esfera disciplinar. 4.2 Deveres militares Em função do liame que vincula os mili- cianos à Pátria e ao serviço militar, os ofi- ciais e praças das Forças Armadas estão sujeitos a uma série de deveres típicos da carreira militar, que compreendem, es- sencialmente: a) a dedicação e fidelidade à Pátria, cuja honra, integridade e instituições de- vem ser defendidas mesmo com o sacrifí- cio da própria vida; b) o culto aos Símbolos Nacionais (Ban- deira Nacional, Hino Nacional, Armas Na- cionais e Selo Nacional) por meio das hon- ras, continências e dos sinais de respeito a eles prestados, nos termos preconizados no Regulamento de Continências, Honras, 24 25 Sinais de Respeito e Cerimonial Militar das Forças Armadas; c) a probidade e a lealdade em todas as circunstâncias; d) a disciplina e o respeito à hierarquia militar; e) a obrigação de tratar o subordinado dignamente, com urbanidade, serenida- de, bondade, justiça, educação, imparcia- lidade, sem, no entanto, comprometer a disciplina e a hierarquia; f) o rigoroso cumprimento das obriga- ções e das ordens emanadas, que devem ser cumpridas, prontamente, pelo subor- dinado. Embora pareça redundante, é preciso lembrar sempre que a estrutura organi- zacional das Forças Armadas, nos termos fixados pela Constituição, impõe a seus membros uma rígida sujeição hierárqui- co-disciplinar. Consequentemente, os militares têm o dever – não se admitindo qualquer tipo de mitigação – de cumprir, rigorosamente, as ordens legais emana- das por seus superiores. Nestes casos, a obediência deve ser incondicional, pois, como afirma Paulo Sarasete (1967 apud ABREU, 2015), fazendo menção a João Barbalho, um exército que não obedece e que discute, acrescenta, em vez de ser uma garantia da honra e segurança na- cionais, constitui-se em perigo público. A crítica das ordens superiores e as delibe- rações tomadas coletivamente pela força pública influem, de modo prejudicialíssi- mo, na disciplina e tornam o Exército in- compatível com a liberdade civil da nação. É, portanto, defeso ao subordinado deixar de cumprir ordens legais, por con- siderá-las incorretas, injustas ou desacer- tadas, sob pena de se instaurar, no âmbito das Forças Armadas, um estado latente de subversão, de desordem, de desobe- diência, prejudicialíssimo à hierarquia e à disciplina, bases institucionais da Mari- nha, do Exército e da Aeronáutica. Ocorre que, por vezes, são emanadas ordens manifestamente ilegais, isto é, contrárias aos preceitos regulamentares e legais. Estariam os militares em função da sujeição hierárquico-disciplinar, com- pelidos a cumpri-las? Os regulamentos militares sinalizam positivamente. De acordo com o art. 7°, § 3°, do Decreto 90.608/84 19 , quando a ordem contrariar preceito regulamentar, o executante poderá solicitar sua confir- mação por escrito, cumprindo a autorida- de que a emitiu atender à solicitação. Em sentido semelhante, é a previsão contida no art. 2° do Decreto 76.322/75. Reza, ainda, o Regulamento de Administração da Aeronáutica – RADA 20 , que todo res- ponsável pelo cumprimento de ordens que, a seu ver, impliquem prejuízo à União ou que contrariem dispositivos legais de- verá ponderar a respeito com a autoridade que as determinou, ressaltando as conse- quências da sua execução. Se, apesar da ponderação, a autoridade persistir na or- dem, o subordinado a cumprirá, mediante determinação por escrito e, a seguir, par- ticipará, também por escrito, que a ordem foi executada. Tomadas estas medidas, o subordinado ficaria isento de responsabi- lidades advindas da execução da ordem. Na mesma linha, dispõe o art. 120, pa- rágrafo único, do Regulamento de Admi- 19- Revogado pelo Decreto nº 4.346, de 26 de agosto de 2002 (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4346. htm#art74). 20- Decreto nº 90.687, de 11 de dezembro de 1984 (http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989/D90687.htm). 26 2726 nistração do Exército (RAE) - (R-3) (ver art. 120 do Dec. 98.820/90). JORGE LUIZ NOGUEIRA DE ABREU (2015) entende, no entanto, que estas normas são inconciliáveis com o Estado Democrá- tico de Direito, com o princípio da legalida- de (art. 37 21 da CRFB/88) e com a própria missão constitucionalmente atribuída às Forças Armadas, qual seja, a garantia da lei e da ordem. Enfim, são incompatíveis com a atual ordem constitucional. Segundo entendimento do mesmo au- tor, o dever de obediência imposto cons- titucionalmente aos militares não tem o condão de impeli-los à prática de atos ma- nifestamente ilegais, pois ninguém pos- sui o dever de cometer ilegalidades. No entanto, há de se enfatizar que a recusa de obediência deve se restringir, apenas, aos casos em que a ordem seja manifes- tamente ilegal ou criminosa, isto é, que a ilegalidade e ilicitude sejam patentes, fla- grantes, claras, notórias. Isto ocorre, por exemplo, quando o ofi- cial de dia ordena aos integrantes da equi- pe de serviço a prática de atos que acarre- tem intenso sofrimento físico e mental a pessoa civil apreendida no interior de uma organização militar, a fim de coibir novas invasões. Aqui, a ilegalidade e ilicitude da ordem são manifestas, pois impõem aos subordinados a prática de atos de tortu- ra física e mental. Neste caso, a recusa de obediência não poderá acarretar ao insubmisso responsabilização na esfera penal, administrativa ou disciplinar. De outro lado, se a ordem não for mani- festamente ilegal ou criminosa, o subor- dinado tem o dever de cumpri-la rigoro- samente, não só em função da hierarquia e da disciplina, mas, também, do princípio da presunção relativa de legitimidade dos atos administrativos. Aqui, a obediência deve ser absoluta. Se assim não o fizer, será responsabilizado, na esfera penal militar, pela práticade crime de recusa de obediência (art. 163 do CPM), ou na disci- plinar, observado o disposto no art. 42, § 2°, da Lei nº 6.880/80. 21- Alterado pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998 (ht- tps://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/ Emc/emc19.htm#art3). 26 2727 UNIDADE 5 – Direitos e Prerrogativas dos Militares Os direitos dos integrantes das Forças Armadas estão previstos no art. 5022 do Estatuto dos Militares (Lei nº 6.880/80). Para ANTÔNIO PEREIRA DUARTE (1995), o art. 50 e respectivos incisos e alíneas do Estatuto dos Militares faz enu- meração dispositiva de inúmeros direitos assegurados aos servidores militares fe- derais, mas não se trata de enumeração fechada, numerus clausus, porque outros direitos previstos em leis esparsas são ga- rantidos aos militares. O mesmo autor afirma que, conquanto, a CRFB/88 trace alguns delineamentos em relação aos servidores públicos mili- tares (arts. 42 e 142) é no Estatuto dos Militares que os direitos e prerrogativas de tal categoria de servidores da Pátria se fazem precisos e sistematizados. 5.1 Direitos dos militares Vale expressar na íntegra todos os di- reitos dos militares preconizados pelo art. 50 da lei nº 6.880/80: I - a garantia da patente em toda a sua plenitude, com as vantagens, prerrogati- vas e deveres a ela inerentes, quando ofi- cial, nos termos da Constituição; II - o provento calculado com base no soldo integral do posto ou graduação que possuía quando da transferência para a inatividade remunerada, se contar com mais de trinta anos de serviço; (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001). III - o provento calculado com base no soldo integral do posto ou graduação quando, não contando trinta anos de ser- viço, for transferido para a reserva remu- nerada, ex officio, por ter atingido a ida- de-limite de permanência em atividade no posto ou na graduação, ou ter sido abran- gido pela quota compulsória; e (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001). IV - nas condições ou nas limitações impostas na legislação e regulamentação específicas: a) a estabilidade, quando praça com 10 (dez) ou mais anos de tempo de efetivo serviço; b) o uso das designações hierárquicas; c) a ocupação de cargo correspondente ao posto ou à graduação; d) a percepção de remuneração; e) a assistência médico-hospitalar para si e seus dependentes, assim entendida como o conjunto de atividades relaciona- das com a prevenção, conservação ou re- cuperação da saúde, abrangendo serviços profissionais médicos, farmacêuticos e odontológicos, bem como o fornecimen- to, a aplicação de meios e os cuidados e demais atos médicos e paramédicos ne- cessários; f) o funeral para si e seus dependentes, constituindo-se no conjunto de medidas tomadas pelo Estado, quando solicitado, desde o óbito até o sepultamento condig- no; 22- Com alterações dadas pela Medida Provisória nº 2.215-10, de 2001 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/MPV/2215-10.ht- m#art41). 28 29 g) a alimentação, assim entendida como as refeições fornecidas aos milita- res em atividade; h) o fardamento, constituindo-se no conjunto de uniformes, roupa branca e roupa de cama, fornecido ao militar na ativa de graduação inferior a terceiro-sar- gento e, em casos especiais, a outros mi- litares; i) a moradia para o militar em atividade, compreendendo: 1 - alojamento em organização militar, quando aquartelado ou embarcado; e, 2 - habitação para si e seus dependen- tes; em imóvel sob a responsabilidade da União, de acordo com a disponibilidade existente. j) (Revogada pela Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001) l) a constituição de pensão militar; m) a promoção; n) a transferência a pedido para a re- serva remunerada; o) as férias, os afastamentos temporá- rios do serviço e as licenças; p) a demissão e o licenciamento volun- tários; q) o porte de arma quando oficial em serviço ativo ou em inatividade, salvo caso de inatividade por alienação mental ou condenação por crimes contra a segu- rança do Estado ou por atividades que de- saconselhem aquele porte; r) o porte de arma, pelas praças, com as restrições impostas pela respectiva Força Armada; e, s) outros direitos previstos em leis es- pecíficas. § 1° - (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001) § 2° São considerados dependentes do militar: I - a esposa; II - o filho menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou interdito; III - a filha solteira, desde que não rece- ba remuneração; IV - o filho estudante, menor de 24 (vin- te e quatro) anos, desde que não receba remuneração; V - a mãe viúva, desde que não receba remuneração; VI - o enteado, o filho adotivo e o tute- lado, nas mesmas condições dos itens II, III e IV; VII - a viúva do militar, enquanto per- manecer neste estado, e os demais de- pendentes mencionados nos itens II, III, IV, V e VI deste parágrafo, desde que vivam sob a responsabilidade da viúva; VIII - a ex-esposa com direito à pensão alimentícia estabelecida por sentença transitada em julgado, enquanto não con- trair novo matrimônio. § 3º São, ainda, considerados depen- dentes do militar, desde que vivam sob sua dependência econômica, sob o mes- mo teto, e quando expressamente decla- rados na organização militar competente: a) a filha, a enteada e a tutelada, nas condições de viúvas, separadas judicial- mente ou divorciadas, desde que não re- 28 29 cebam remuneração; b) a mãe solteira, a madrasta viúva, a sogra viúva ou solteira, bem como sepa- radas judicialmente ou divorciadas, desde que, em qualquer dessas situações, não recebam remuneração; c) os avós e os pais, quando inválidos ou interditos, e respectivos cônjuges, estes desde que não recebam remuneração; d) o pai maior de 60 (sessenta) anos e seu respectivo cônjuge, desde que ambos não recebam remuneração; e) o irmão, o cunhado e o sobrinho, quando menores ou inválidos ou interdi- tos, sem outro arrimo; f) a irmã, a cunhada e a sobrinha, sol- teiras, viúvas, separadas judicialmente ou divorciadas, desde que não recebam re- muneração; g) o neto, órfão, menor inválido ou in- terdito; h) a pessoa que viva, no mínimo há 5 (cinco) anos, sob a sua exclusiva depen- dência econômica, comprovada mediante justificação judicial; i) a companheira, desde que viva em sua companhia há mais de 5 (cinco) anos, comprovada por justificação judicial; e j) o menor que esteja sob sua guarda, sustento e responsabilidade, mediante autorização judicial. § 4º Para efeito do disposto nos §§ 2º e 3º deste artigo, não serão considerados como remuneração os rendimentos não- -provenientes de trabalho assalariado, ainda que recebidos dos cofres públicos, ou a remuneração que, mesmo resultan- te de relação de trabalho, não enseje ao dependente do militar qualquer direito à assistência previdenciária oficial. Compete, privativamente, ao Presiden- te da República, a iniciativa de lei que fixe a remuneração dos militares das Forças Armadas, nos termos do art. 61, § 1º, II, f, da CRFB/88, com redação dada pela EC 18/1998. O direito do militar da ativa à re- muneração tem início na data: a) do ato da promoção, da apresenta- ção atendendo convocação ou designa- ção para o serviço ativo, para o oficial; b) do ato da designação ou declaração, da apresentação atendendo convocação para o serviço ativo, para o guarda-mari- nha ou o aspirante a oficial; c) do ato da nomeação ou promoção a oficial, para suboficial ou subtenente; d) do ato da promoção, classificação ou engajamento, para as demais praças; e) da incorporação às Forças Armadas, para convocados e voluntários; f) da apresentação à organização
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