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Palestra proferida pelo Dr. Sebastião Baptista Affonso, por ocasião do “Curso de Aperfeiçoamento dos Assistentes Jurídicos”, realizado no Centro de Estudos Victor Nunes Leal da Advocacia-Geral da União. PRINCÍPIOS REGEDORES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A Constituição, de 5-10-1988, ao dispor sobre a ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, no contexto da Organização do Estado, inovadoramente, explicitou a sua necessária subordinação aos denominados princípios fundamentais da legalidade, impessoalidade, moral idade e publicidade, mais adiante acrescido o da eficiência, pela Emenda Constitucional nº 19, de 4-6-1998, sendo certo que este último e mais o da eficácia, como ainda os da legitimidade e economicidade, já estavam previstos, respectivamente, nos artigos 74, item II, e 70 da mesma Carta Magna, que dispõem sobre os aspectos do exercício das funções dos controles interno e externo. Como é sabido, os institutos próprios do Direito Administrativo, assim como os seus princípios informativos e as suas teorias, de um modo geral, ao longo dos tempos, estavam sendo objeto apenas de desenvolvimento doutrinário e construções pretorianas, sem haver sobre isso um tratamento mais específico e aprofundado, em termos de direito positivo. O próprio conceito de Administração Pública e sua abrangência, bem como sua repartição em Direta e Indireta, só passou a ter um tratamento legal mais explicitado, com o advento da chamada reforma administrativa, implantada a partir do Decreto- Lei nº 200, de 25-2-1967, que ainda mesmo assim limitou-a, equivocadamente, ao âmbito restrito do Poder Executivo Federal. De igual modo a necessidade de observância dos princípios da legalidade e moralidade administrativa, por parte da Administração Pública, passou a ter suporte legal e instrumento jurídico próprio de controle judicial, com o surgimento da Lei nº 4.717 , de 29-6-1965, que praticamente criou a intitulada Ação Popular. Desde os primórdios da existência do Tribunal de Contas da União, criado no início da República, as normas constitucionais e legais relativas à competência desse órgão já lhe conferiam poder de controle da legalidade de atos e contratos administrativos. O Mandado de Segurança, também, surgiu da necessidade de haver um remédio judicante de controle da legalidade dos atos, de quaisquer autoridades administrativas, que acarretassem violação de direito individual líquido e certo. Um dos mais notáveis administrativistas, o Professor RUY CIRNE LIMA, na sua preciosa obra PRINCÍPIOS DE DIREITO ADMINISTRATIVO (4ª Edição de 1964 da Livraria Sulina Editora ), ressalta como princípio fundamental, que faz do Direito Administrativo ser um ramo especial e uma disciplina autônoma, o da utilidade pública, a qual constitui a finalidade própria da Administração Pública, cuja preterição no ato administrativo acarreta sua nulidade, conforme veio depois a assim ser preceituado no artigo 2°, letra “c”, na citada Lei da Ação Popular. 2 Alguns autores famosos dão ênfase, ainda, aos princípios da auto- tutela, da hierarquia (do qual decorrem as relações de coordenação e subordinação entre servidores, com oportunidade ao exercício de Poder Disciplinar) e ao da especialidade, pelo qual os órgãos públicos e as entidades da Administração Pública só podem exercer poderes funcionais e atividades, para alcançar os seus fins determinados e limitados no seu ato de criação (cfr Lições de DA do Prof. Sérgio de Andréa Ferreira, Editora Rio de 1972, págs. 38 e 44). O professor HELY LOPES MEIRELLES, de saudosa memória, considerou como princípios básicos da Administração os da legalidade, moralidade, impessoalidade e publicidade, dos quais tratou com destaque na sua monumental obra DIREITO ADMINISTRATIVO BRASILEIRO. Já o eminente Professor JOSÉ AFONSO DA SILVA, considerou como relevantes princípios constitucionais da Administração Pública os da legalidade, finalidade, impessoalidade, moralidade, probidade, publicidade, licitação, prescrição de ilícitos e responsabilidade civil (cfr .Curso de Direito Constitucional Positivo, 8ª Edição da Malheiros Editores de 1992, págs. 569/576). O Professor JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO, também, destaca como princípios fundamentais expressos os da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, considerando princípios “reconhecidos” os da supremacia do interesse público, auto-tutela, indisponibilidade, continuidade e razoabilidade (Ver Manual de DIREITO ADMINISTRATIVO, 4ª Edição de 1999 da Lumen Juris, pág. 12 a 20). Outros administrativistas ilustres e não menos famosos, como é o caso do Professor DIÓGENES GASPARINI, ampliam o rol dos princípios, além desses já referidos da auto-tutela, legalidade, moralidade e publicidade, indicam mais os da continuidade, finalidade, igualdade, impessoalidade, indisponibilidade, licitação e supremacia do interesse público (cfr. DA, 4ª Edição Saraiva de 1995, págs. 617, 10 a 14 e 286), como também do Professor DIOGO DE FIGUEIREDO, que além de todos esses acrescenta os da descentralização, discricionariedade, executoriedade, modicidade, motivação, oficialidade, presunção de veracidade e legalidade, razoabilidade, realidade, recorribilidade, disciplina, aperfeiçoamento, contraditório, devido processo legal, dentre vários outros (cfr. Curso de DA, 9ª Ed. Forense de 1990, págs. 70/85, 107, 173/77,368/69 etc). De igual modo, o Professor NAGIB SLAIBI -, - FILHO, em suas ANOTAÇÕES À CONSTITUIÇÃO DE 1988, comenta vários destes e outros princípios extraídos do texto constitucional (2ª Edição Forense de 1989). Agora bem mais recente, editou- se a Lei nº 9.784, de 28-1-1999, que veio regular o processo administrativo, no âmbito da Administração Pública Federal, impondo- lhe a observância dos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança judicial e eficiência, mas deixou de incluir nesse rolos da impessoalidade, publicidade, eficácia, legitimidade e economicidade exigidos nos artigos 37,70 e 74/II da Constituição. 3 A Constituição e toda legislação pertinente preceituam a necessidade da observância dos princípios que mencionam, por parte da Administração Pública, mas não definem, propriamente, em que eles consistem, tarefa essa delegada à doutrina e à jurisprudência, daí buscar-se fazer uma síntese condensada do que dizem os doutos, em especial aqueles aqui antes mencionados, como segue: 1) Legalidade - consiste em que qualquer ato da Administração esteja de conformidade com as regras editadas pelo Estado, como condição essencial de sua validade, não podendo nenhuma autoridade tomar decisão alguma contrariando norma vigente do ordenamento juríco (a observância desse princípio fundamental é constatada com a correta indicação em cada ato da sua devida fundamentação legal, já que a Administração Pública só pode atuar nos limites do que a lei lhe autorize ou permita fazer ). 2) Impessoalidade - é a atuação da autoridade administrativa sem objetivar fins pessoais, devendo a Administração buscar sempre os melhores resultados, de interesse coletivo, consubstanciado na finalidade de interesse público, que também é um dos elementos essenciais de validade dos atos administrativos ( esse princípio, de certa forma, se confunde com o da isonomia no trato dos administrados pelo administrador). 3) Moralidade - é a necessidade de que a gestão da coisa pública seja feita de forma a atender aos padrões de conduta normalmente aceitos pela sociedade, em determinado momento, como relevantes para a própria existência social, condizentes com as regras morais de boa administração (esse princípio decorre de um conjunto de normas éticas e regras de conduta, devendo o Administrador agir com honestidade e pugnar pelo que for melhor e mais útil ao interesse público, o qual com a moralidade integram, de certa forma, o conceito amplo de legalidade, porque estão implícitos no modo corretode cumprir a lei) . 4) Publicidade - é a satisfação da necessidade de transparência na atuação dos agentes do Poder Público, como condição de legalidade dos seus atos, para propiciar o chamado “controle popular”, vinculado ao direito de informação a todos assegurado, ressalvados os ato cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado (os atos do domínio público devem ser publicados no órgão oficial, também, para ensejar os recursos cabíveis, ainda que em resumo, do que decorrem efeitos jurídicos, como a presunção de conhecimento público e o decurso dos prazos de recurso, decadência, prescrição etc ). 5) Eficiência - é mais propriamente a maneira correta e produtiva do agente da Administração agir, na gestão da coisa pública, com vistas à boa qualidade dos serviços prestados. 6) Eficácia - é não só a capacidade, que deve ter o ato administrativo de estar apto, para produzir todos os seus devidos efeitos jurídicos, como a de dar bons resultados práticos. 4 7) Legitimidade - é algo mais que a simples legalidade, porque representa a conformidade do ato da autoridade administrativa com a teoria do poder ou a própria ordem democrática, no atendimento do interesse público, em conjugação com a finalidade, a discricionariedade e a razoabilidade. 8) Economicidade - é a parcimônia ou modicidade no gastos públicos, evitando-se desperdícios e procurando-se obter bons resultados na atuação da Administração com o menor custo possível, sendo o procedimento licitatório um dos seus instrumentos básicos. 9) Finalidade - é a obrigatória orientação da atividade administrativa para o atendimento do interesse público especificamente expresso ou implícito na lei, cuja omissão no ato administrativo causa sua nulidade. 10) Motivação - é a enunciação expressa, explícita ou implícita dos pressupostos fáticos e jurídicos de cada ato administrativos, que constitui elemento essencial de sua validade, razão pela qual a preterição causa nulidade. 11) Razoabilidade - é um desdobramento da lógica racional aplicável ao direito, conduzindo valorações subjetivas, para uma tomada de decisão, em especial no campo da discricionariedade, conducente à escolha do que for mais eficiente, conveniente, oportuno ou apto a atender o interesse público. 12) Proporcionalidade – é a dosagem razoável, na aplicação de quaisquer sanções administrativas, em especial no exercício dos poderes disciplinar e de polícia, vedada a medida superior ao estritamente necessário (esse princípio é recomendado no art. 71, item VIII da Constituição, que autoriza o TCU a aplicar sanções, inclusive “multa proporcional ao dano causado ao erário”). 13) Ampla defesa - é a garantia assegurada aos litigantes e acusados em geral, com os meios e recursos a ela inerentes, como parte de observância do devido processo legal (essa garantia está assegurada no art. 5/LV da Constituição). 14 ) Contraditório - é a garantia assegurada aos litigantes e acusados em geral, com os meios e recursos a ela inerentes, como parte de observância do devido processo legal (essa garantia está assegurada no art. 5/LV da Constituição). 15) Segurança jurídica - é, também, uma garantia inerente à observância do devido processo legal, pela qual as relações jurídico- administrativas não só devem propiciar os recursos cabíveis e possíveis, como ainda devem ser protegidas por preclusão, decadência , prescrição, coisa 5 julgada, direito adquirido, bem como o respeito ao ato jurídico perfeito e acabado (essa garantia decorre do art. 5/XXXVI da constituição). Além desses princípios, poder-se-ia acrescentar o da especialidade, a qual consiste na limitação imposta aos órgãos públicos e às entidades da Administração indireta, de só atuarem nos limites e com a finalidade a que se destinarem, conforme previsto na sua lei de criação ou de regência (esse princípio decorreria do previsto nos artigos 5/LXIX e 37/XIX, que dispõem sobre o Mandado de Segurança, para proteger abuso de poder, e a definição legal das áreas de atuação das entidades da Administração Pública). Na verdade, os termos de eficácia e eficiência, assim como os de proporcionalidade, ampla defesa, contraditório e segurança jurídica, como princípios regedores da Administração Pública, ainda carecem de conceituação doutrinária mais consolidada. Vê-se, todavia, na recente Lei nº 9.784/99, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, a trilha da observância do devido processo legal, bem como dos princípios cuja obediência ela impõe à Administração Pública (cfr .art. 2° e seu parágrafo único ). Por se tratar de um diploma legal, que versa sobre DIREITO PROCESSUAL ADMINISTRATIVO, ideal seria se pudesse ser de âmbito nacional e não só federal. Isto, o que em síntese comporta aqui ponderar. 6 RESENHA BIOGRÁFICA SEBASTIÃO BAPTISTA AFFONSO é carioca, tendo iniciado os seus estudos no Rio de Janeiro, onde concluiu o curso secundário de Técnico em Contabilidade na SUESC. Removido para Brasília, em janeiro de 1961, como funcionário do TCU, aqui ficou desde então domiciliado, tornando-se bacharel em Ciências Jurídicas pela UNB, na sua primeira turma de Direito. No TCU, após exercer cargos e funções relevantes (inclusive os de Secretário das Sessões e Inspetor-Geral de Controle Externo), chegou a ser Procurador por concurso público, tendo aí se aposentado, quando exercia a chefia desse órgão especial do Ministério Público junto ao TCU, como Procurador-Geral. Entrementes, logrou aprovação no concurso público para Procurador da Fazenda Nacional, mas nomeado não tomou posse. Ao longo dos últimos trinta anos, vem exercendo a advocacia e o magistério, tendo sido Professor de Direito Administrativo em vários cursos de treinamento, de especialização, de graduação e de pós-graduação em diversos estabelecimentos de ensino, inclusive na AEUDF (onde foi Chefe do Departamento de Direito), no CEUB, na UPIS e na Escola Superior do MPDFT, como também integrou várias Bancas Examinadoras de concursos públicos para Auditor do TCDF, Advogado da Advocacia-Geral da União, Procurador do Ministério Público do Trabalho, Promotor do MPDFT, Procurador da Fazenda Nacional (PGFN), Analista de Controle Externo do TCU e outros. Foi, ainda, Assessor Jurídico da FHE/POUPEX, do TOURING, da ANFIP e membro da antiga Advocacia Consultiva da União, como Adjunto do Consultor-Geral e Secretário-Geral da CGR/PR, chegando a ser Consultor-Geral da República, em 1989. É membro efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros e do Instituto dos Advogados do DF, no qual exerceu a titularidade de 1° Secretário, bem como do Instituto Íbero Americano de Direito Público (Capítulo Brasileiro). Entre 1987 e 1990, presidiu a CODICI (Ouvidoria Geral da República). Atualmente, ocupa o cargo comissionado de Consultor Jurídico da Presidência do TCDF, desde dezembro de 1992. Tem trabalhos jurídicos publicados em várias revistas técnicas do gênero, como na Revista Forense, Revista de Informação Legislativa, Revista do TCDF, Revista do TCE/PI e Revista do TCU, na qual atuou como membro do seu Conselho Editor, do volume 2 de 1970 ao de n° 21, de junho/80, bem como no Suplemento/CB “Direito e Justiça”. Em 1991, publicou seu opúsculo TEMAS CONSTITUCIONAIS, editado pela ANFIP, com vários Estudos Jurídicos. Foi agraciado com condecorações da Ordem do Rio Branco (Comendador), Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho (Comendador), Ordem do Mérito das Forças Armadas (Comendador), Ordem do Mérito de Brasília (Comendador), Ordem do Mérito Judiciário do Distrito Federal e Territórios (Comendador), Ordem do Mérito Judiciário Militar (Distinção), Ordem do Mérito Militar (Oficial), Medalha do Pacificador, Medalha do Mérito Alvorada de Brasília/DF, Medalha RUY BARBOSA de HONRA AO MÉRITO do TCU e Título de CIDADÃO HONORÁRIO DE BRASÍLIA conferido pela CLDF. Brasília, abril de 2001.
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