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A nova face do mundo

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FACULDADE DE DIREITO DA FUNDAÇÃO ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO
CREDENCIADA PELA PORTARIA MEC N.º 3.640, DE 17/10/2005 – DUO DE 20/10/2005
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
AUTORIIZADDO PELA PORTARIA MECN.º846, DE 4 DE ABRIL DE 2006 – DUO DE 05/04/2006
A nova face do mundo
O mundo, hoje caracterizado pela globalização, arrasta todos os Estados na sua dinâmica. Os atores principais da globalização são os Estados que a comandam e os que a ela são conduzidos inexoravelmente.
De todo modo, neste contexto globalizado, há um poder dominante, como nunca houve outro no mundo: os Estados Unidos exercem uma supremacia esmagadora em cinco pontos tradicionais do poder - político, econômico, militar, tecnológico e cultural. 
Este país não exerce sozinho o seu incontrastável poder. Há outros poderes que a ele se associam ou a ele se contrapõem. Em escala planetária, os atores são: 1) associações de Estados - Alena (Estados Unidos, Canadá e México), União Européia, Mercosul, Asean, etc.; 2) As empresas globais ou multinacionais e os grandes grupos multinacionais da mídia e das finanças; 3) As organizações não-governamentais (ONGs) de porte mundial (Green Peace, Amnesty International, Attac, Human Rights Watch, World Wilde Life, etc.). 
Estes três novos atores atuam no âmbito internacional, onde a ONU perde terreno, como marco regulatório das relações internacionais, em favor da organização mundial do comércio OMC.
O voto democrático tem muito pouca influência sobre a atuação destes três fatores. Há, sem que se perceba claramente, nesta nova mutação do mundo, um esvaziamento do sentido da democracia.
Outro organismo internacional, este de crédito, o Fundo Monetário Internacional, exerce função coercitiva sobre a economia dos Estados, visto que sem o seu aval não há possibilidade de concessão de crédito junto aos bancos internacionais. E as próprias concessões de crédito do FMI impõem programas de ajustes econômico-financeiros aos Estados como condição de tais operações.
As conseqüências de tais empréstimos têm sido devastadoras, como sucedeu com a Argentina em 2001. Era este país considerado o exemplo do modelo a ser seguido pelos demais tomadores de empréstimos. 
Neste contexto, verifica-se a crise do Estado-Nação e da política, na era da globalização, segunda revolução capitalista possibilitada por uma mutação geopolítica do mundo em que se destacam a queda do muro de Berlim, em 1989 e o fim da União Soviética em 1991. Além disto sobrevieram mutações tecnológicas extraordinariamente eficazes e rápidas como a revolução cibernética, possibilitadora de tomada de decisões pelas empresas multinacionais, em tempo real em qualquer lugar do mundo. 
No plano econômico domina um triunvirato - Estados Unidos (posição superdominante), Alemanha e Japão. 
Neste novo contexto há um caos generalizado que não cessa de aumentar: desde 1989 houve mais de 60 conflitos armados, com centenas de milhares de mortos e mais de 17 milhões de refugiados. Um número cada vez maior de pessoas, especialmente os mais jovens procuram fugir do caos e da violência, buscando emigrar a qualquer custo para as regiões consideradas desenvolvidas e pacificadas. 
Enquanto a maioria dos habitantes da terra vive um verdadeiro inferno, em meio a promessas de redenção nunca minimamente cumpridas, multiplicam-se as fusões e concentrações de firmas gigantes, cujo peso é, às vezes, maior do que o dos Estados. Estas empresas gigantes, de que são exemplos a General Motors (cuja receita é superior ao PIB da Dinamarca) e a Exxon Mobil (cuja receita é superior ao PIB da Áustria) controlam 70% do comércio mundial.
"Seus dirigentes, assim como grupos financeiros e publicitários, detêm a realidade do poder e, através de seus poderosos lobbies, exercem pesada influência sobre as decisões políticas dos governos" estatais, confiscando, "para seu proveito, a democracia". 
Mais necessários do que nunca, os contra poderes tradicionais (partidos, sindicatos, imprensa livre) mostram-se pouco operantes. 
Dado característico da globalização é o big-bang das bolsas de valores e a "desregulamentação", estimulados nos anos 1980 por Margaret Tatcher e Ronald Reagan. As novas tecnologias favorecem a expansão da esfera financeira, cujas atividades são planetárias, permanentes, imediatas e imateriais.
Deste movimento globalizado nenhum país escapa. 
A globalização é uma realidade que se impõe, em muitos casos de modo pungente, erodindo o Estado-Nação e a noção de soberania estatal. Sendo esta realidade incontestável, o que é relevante é saber-se se ela tem que ser necessariamente como é, invasiva das culturas, homegeneizadora incontornável do mundo, desumanizadora das relações de trabalho, consagradora da insegurança, indiferente à qualquer critério razoável de justiça distributiva, geradora do desemprego em massa, do subemprego, da precariedade e da exclusão. Havia, em 2002, "18 milhões de desempregados na União Européia, 1 bilhão de desempregados e subempregados no mundo. Havia e há super exploração dos homens, das mulheres e - algo mais escandaloso - das crianças".[1: RAMONET, Ignacio. Guerras do século XXI. Novos temores e novas ameaças. Petrópolis: Vozes, 2003. p. 10. Título original: Guerres du XXe. siècle. ]
"A globalização é também a pilhagem planetária. Os grandes grupos devastam o ambiente com meios desmesurados; aproveitam-se das riquezas da natureza que são o bem comum da humanidade e o fazem sem escrúpulos e sem freio. Isso também é acompanhada de uma criminalidade financeira ligada aos grandes negócios e aos grandes bancos que reciclam somas de l trilhão de euros por ano, isto é mais do que o Produto Nacional Bruto (PNB) de um terço da humanidade".[2: Ibid., p. 10.]
Perigos novos aparecem: hiperterrorismo, fanatismos religiosos ou étnicos, proliferação nuclear, crime organizado, redes mafiosas, especulação financeira, falências de empresas gigantes (Enron), grande corrupção, poluições de forte intensidade, efeito estufa, desertificação, etc.[3: Ibid., p.11.]
Deste movimento histórico nenhum país escapa, observando-se nele a tirania dos meios de comunicação, notadamente da televisão mundial, que repete incessantemente o seu credo, em que sobressai a louvação do mercado e o abandono de setores importantes dos Estados nacionais, mediante as privatizações (freqüentemente a preço vil)... Nessa nova era da alienação, tempo da Internet, da World Culture, da 'cultura global' e da comunicação planetária, as tecnologias da informação representam mais do que nunca um papel ideológico central para amordaçar o pensamento".[4: Ibid., p. 12.]
"O mercado tende a gerir e regulamentar todas as atividades humanas" absorvendo, inclusive, certos campos que até há pouco ficavam fora do seu alcance: cultura, esporte, religião.
Ocorre que, apesar da propaganda, o mercado, dividindo a sociedade em dois grupos - os solvíveis e os insolvíveis -, não favorece a coesão social, visto que os insolvíveis "estão, por assim dizer, fora do jogo".[5: Ibid., passim.]
Os cidadãos do mundo, em sua maioria apáticos, através de grupos organizados desejando um outro mundo (apesar de a grande imprensa declará-lo impossível), manifestam-se contra a globalização tal como se apresenta. Foi o que se viu em 1999, por ocasião da cúpula da OMC, em Seattle e depois em Praga, Davos, Nice, Quebec e Gênova. Proclamam estes grupos de cidadãos que o objetivo desta globalização neoliberal é a destruição do coletivo, a apropriação, pelo mercado e pelo setor privado das esferas pública e social. 
Denunciam que em um país tão rico como os Estados Unidos "há 32 milhões de pessoas cuja esperança de vida é inferior a 60 anos, 40 milhões sem assistência médica, 45 milhões vivendo abaixo do limiar de pobreza e 52 milhões de analfabetos". [6: Ibid., p. 13.]
Quem domina o mundo hoje
No plano econômico, dominam Estados Unidos, Alemanha e Japão, ocupando o primeiro destes países uma posição superdominante. 
Embora haja hoje cerca de 200 Estados, no plano geopolítico, o mundocontinua a ser dominado por um pequeno grupo de Estados, o qual já o dirigia no fim do século XIX: Reino Unido, França, Alemanha, Japão, Estados Unidos, Rússia. Dentre os estados nascidos do desmantelamento dos grandes impérios coloniais - britânico, francês, espanhol, neerlandês, português, belga, apenas três - Coréia do Sul, Singapura e Formosa atingiram o status do que se convenciona chamar país desenvolvido. 
A nova riqueza, hoje, não é mais só constituída pelas matérias primas mas sim pela "matéria cinzenta" - saber, pesquisa, capacidade de inovar. 
Na globalização financeira, hoje prevalente, microestados, sem grande população e sem nenhuma matéria prima possuem rendas per capita das mais elevadas do mundo. É o caso dos paraísos fiscais - Liechtenstein, Ilhas Caimã - e também dos microestados de Singapura e Mônaco. 
Dominam hoje as democracias modernas a comunicação e o mercado. Os grandes meios de comunicação são os grandes aliados da globalização neoliberal, defendendo seus pressupostos e sua ação quotidianamente. Domina o mercado ilimitado, cujos tentáculos abrangem quase todos os setores da vida humana. A comunicação, por outra parte caracteriza-se pela superabundância, causando uma nova forma de alienação. O excesso da comunicação encarcera o pensamento, ao invés de esclarecê-lo.[7: RAMONET, op. cit., passim.]
O neoliberalismo que estava freado pela existência da União Soviética, desaparecida em 1991, viu-se liberado de seu adversário, tratando de estender-se à Terra inteira. A "esse empreendimento de conquista se chama globalização. Resulta da interdependência cada vez mais estreita das economias de todos os países, ligada à liberdade absoluta de circulação dos capitais, à supressão das barreiras aduaneiras e das regulamentações e à intensificação do comércio e da livre-troca, estimulado pelo Banco Mundial, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), pela Organização de Cooperação e de Desenvolvimentos Econômicos (OCDE) e pela OMC (Organização Mundial do Comércio). Estabeleceu-se uma desconexão entre a economia financeira e a economia real". De todo o dinheiro circulante, em escala mundial, "apenas 1% é destinado à criação de riquezas novas o resto é de natureza especulativa". 
No contexto da globalização neoliberal reinante há "uma redução significativa do papel dos atores públicos a começar pelos parlamentos". Há uma explosão das desigualdades, tendo como conseqüência a explosão das violências sociais, da delinqüência e da insegurança." A tudo se soma a devastação ecológica, configurando uma crise do sistema-terra sem precedentes na história humana, de tal sorte que a continuidade da espécie humana acha-se seriamente ameaçada.[8: Ibid., p. 21-22.]
 
Editado por FERREIRA, MARCOS VINICIUS VIEIRA, aluno FMP-insc.2014/1
	
	
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