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Patologia Resumo Robbins 16 Cabeça e pescoço

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Cabeça e pescoço
Resumo – Patologia dos sistemas de órgãos
Robbins
	 As doenças de cabeça e pescoço abrangem de um resfriado comum a neoplasmas incomuns do nariz. Aquelas selecionadas para discussão são designadas, algumas vezes de modo arbitrário, em um dos seguintes locais anatômicos: (1) cavidade oral; (2) vias aéreas superiores, incluindo nariz, faringe, laringe e seios nasais; (3) ouvidos; (4) pescoço; e (5) glândulas salivares.
 Cavidade oral 
 
 Lesões inflamatórias/reativas
	 Várias lesões de tecidos moles da cavidade oral, que se apresentam como massas tumorais, são realmente de caráter reativo e representam inflamações induzidas por irritação ou mecanismos desconhecidos. Todas as lesões suspeitas, entretanto, devem ser examinadas pela biópsia. Os nódulos reativos da cavidade oral são bastante comuns e pertencem a um grupo diferente. As lesões fibrosas proliferativas mais comuns da cavidade oral são o fibroma (61%), fibroma ossificante periférico (12%), granuloma piogênico (12%) e granuloma periférico de células gigantes (5%). As ulcerações inflamatórias/reativas mais comuns da cavidade oral são as úlceras traumáticas e aftosas.
 Infecções
	 A mucosa oral é altamente resistente a sua flora natural, tendo muitas defesas, incluindo a supressão competitiva de patógenos potenciais por organismos de baixa virulência, a elaboração de imunoglobulina secretiva A e outras imunoglobulinas por coleções da submucosa de linfócitos e células plasmáticas, os efeitos anti-bacterianos da saliva e os efeitos da diluição e da irrigação de alimentos e bebidas. Apesar de tudo, qualquer diminuição dessas defesas, por exemplo, como imuno-deficiência ou rompimento do equilíbrio microbiológico pela terapia anti-bacteriana estabelece o estágio á infecção oral. 
 Manifestações orais da doença sistêmica
	 Os médicos especializados em cavidade oral enfatizam que a boca é uma parte do corpo e não meramente uma entrada aos alimentos. Não é de se surpreender, então, que muitas doenças sistêmicas estejam associadas a lesões orais. Realmente, não é incomum as lesões orais serem o primeiro sinal de alguma condição sistêmica de base. 
 Tumores e lesões pré-cancerígenas
	 Um número de neoplasmas epiteliais e de tecidos moles pode surgir na cavidade oral. Muitos desses tumores (e.g., papilomas, hemangiomas, linfomas) também ocorrem em qualquer lugar no corpo. Essa discussão considerará somente o carcinoma de células escamosas e suas lesões pré-cancerígenas associadas.
 Cistos e tumores odontogênicos
	 Ao contrário do restante do esqueleto, os cistos revestidos por epitélio são bastante comuns nas mandíbulas. A maioria decisiva desses cistos é derivada de epitélio odontogênico remanescente presentes nas mandíbulas. Em geral, esses cistos são sub-classificado tanto como inflamatórios ou como de desenvolvimento. Somente as mais comuns dessas lesões são discutidas a seguir.
 	O cisto dentígero é definido como um cisto que se origina em torno da coroa de um dente que não sofreu erupção e pensou-se que fosse resultado de uma separação do folículo dentário. Á radiografia, eles são lesões uni-loculares e estão mais associados, com frequência, aos dentes terceiro molar. Do ponto de vista histológico, eles são delineados por uma camada delgada de epitélio escamoso estratificado. Na maioria das vezes, há um infiltrado celular inflamatório crônico muito denso no estroma do tecido conjuntivo. A completa remoção da lesão é o agente curativo. Isso é importante, visto que a excisão incompleta pode resultar em recorrência, ou, muito raramente, transformação neoplásica num ameloblastoma ou um carcinoma de células escamosas.
 	O ceratocisto odontogênico é uma entidade importante para diferenciar de outros cistos odontogênicos devido ao seu potencial de ser agressivo. Os ceratocistos odontogênicos podem ocorrer em qualquer idade, porém são diagnosticados com mais frequência em pacientes entre as idades de 10 e 40 anos. Eles ocorrem mais comumente em homens na mandíbula posterior. Á radiografia, os ceratocistos odontogênicos apresentam-se como radioluscências uni-loculares ou multi-loculares bem definidas. Histologicamente, o revestimento do cisto em uma camada delgado de epitélio escamoso estratificado para-queratinizado ou orto-queratinizado com uma camada celular basal proeminente e uma aparência corrugada da superfície epitelial. O tratamento requer remoção completa e agressiva da lesão, pois os índices de recorrência das lesões removidas inadequadamente podem alcançar 60%. Os ceratocistos odontogênicos múltiplos podem ocorrer; esses pacientes devem ser avaliados quanto á síndrome do carcinoma de células basais nevoide (síndrome de Gorlin), que, como podemos ver, está relacionada com as mutações no gene supressor do tumor PTCH.
 	O cisto periapical (também denominada granuloma periapical), ao contrário das duas lesões descritas até aqui, é de origem inflamatória. Estas lesões extremamente comuns são encontradas no ápice dos dentes. Elas desenvolvem-se como resultado de uma pulpite de longa duração, que pode ser causada por lesões cariadas avançadas ou por trauma ao dente em questão. O processo inflamatório pode resultar em necrose do tecido da polpa, que pode atravessar o comprimento da raiz e sair no ápice do dente no osso alveolar circunjacente dando origem a um abscesso periapical. Com o passar do tempo, como qualquer processo inflamatório crônico, uma lesão com tecido de granulação (com ou sem revestimento epitelial) pode desenvolver-se. Apesar do termo granuloma não ser a terminologia mais apropriada (pois a lesão não mostra a inflamação granulomatosa verdadeira), a terminologia antiga, como um mau hábito, é difícil de ser descartada. As lesões inflamatórias periapicais persistem como resultado da presença continuada de bactérias ou outros agentes ofensivos na área. O tratamento bem-sucedido necessita, portanto, da remoção completa do material ofensivo e restauração apropriada do dente ou extração.
 	Os tumores odontogênicos são um grupo complexo de lesões com histologia e comportamento clínico diversos. Alguns são neoplasmas verdadeiros (ambos benignos e malignos), enquanto outros mais provavelmente são hamartomas. Os tumores odontogênicos são derivados do epitélio odontogênico, ecto-mesênquima, ou ambos. Os dois tumores mais comuns e clinicamente significativos são:
 
Ameloblastoma, que surge do epitélio odontogênico e não mostra nenhuma diferenciação ecto-mesenquimal. Em geral é cístico, de crescimento lento e localmente invasivo, mas tem um curso benigno na maioria dos casos.
Odontoma, o tipo mais comum de tumor odontogênico, surge do epitélio, porém mostra deposições extensivas de esmalte e dentina. Os odontomas são, provavelmente, hamartomas e não neoplasmas verdadeiros e são curados pela excisão local.
Vias aéreas superiores 
	 O termo vias aéreas superiores é usado aqui para incluir o nariz, a faringe, a laringe e suas partes relacionadas. As disfunções dessas estruturas estão entre as aflições mais comuns dos humanos, mas felizmente a grande maioria representa mais perturbações que ameaças.
 Nariz
	 As doenças inflamatórias, na maioria das vezes, na forma de um resfriado comum, como todos conhecem, são as disfunções mais comuns do nariz e dos seios aéreos acessórios. A maioria destas condições inflamatórias é de origem viral, porém elas são complicadas, com frequência, por infecções bacterianas sobrepostas, tendo consideravelmente maior significado. Muito menos comuns são as poucas doenças inflamatórias nasais destrutivas e tumores primários na cavidade nasal ou nos seios paranasais.
 
 Nasofaringe
	 Ainda que a mucosa nasofaríngea, relacionada com as estruturas linfoides, e glândulas possam estar envolvidas numa grande variedade de infecções específicas (e.g., difteria, mono-nucleose infecciosa), bem como por neoplasmas, as únicas disfunções aqui mencionadas são inflamações inespecíficas;os tumores serão discutidos separadamente.
 Tumores de nariz, seios da face e nasofaringe
	 Os tumores nesses locais não são frequentes, porém incluem toda uma categoria de neoplasmas mesenquimais e epiteliais. Uma breve menção é feita de algum tipo distinto.
	 Angiofibroma nasofaríngeo. Esse é um tumor altamente vascular que ocorre quase que exclusivamente nos adolescentes masculinos. Apesar de sua natureza benigna, ele pode causar sérios problemas clínicos devido a sua tendência de sangramento profuso durante a cirurgia.
 	Papiloma sino-nasais. Esses são neoplasmas benignos que surgem da mucosa sino-nasal e são compostos de epitélio escamoso ou colunar. Embora sua etiologia ainda não seja provada, os HPV de tipos 6 e 11 foram identificados nas lesões. Esses ocorrem de três formas: septais (mais comuns), invertidos (biologicamente mais importantes) e cilíndricos. Dado seu comportamento biológico unicamente agressivo, somente o papiloma invertido é discutido aqui. Os papilomas invertidos são benignos, porém são neoplasmas localmente agressivos que ocorrem no nariz e nos seios paranasais. Como o próprio nome indica, a proliferação papilomatosa do epitélio escamoso, em vez de produzir um crescimento exofítico (como os papilomas septais e cilíndricos), estende-se para dentro da mucosa, isto é, invertido. Se não for adequadamente extirpado, tem um alto índice de recorrência, com uma complicação potencialmente séria de invasão da órbita ou abóbada craniana; raramente, o carcinoma franco também pode desenvolver-se.
 	Plasmacitomas isolados. Estes plasmacitomas extra-medulares surgem nas estruturas linfoides adjacentes ao nariz e aos seios. Os tumores podem projetar-se dentro dessas cavidades como crescimentos polipoides, variando de 1cm a vários centímetros de diâmetro, coberto, em geral, por uma mucosa sobrejacente intacta. A histologia é aquela de um tumor de plasmócitos maligno. Estas lesões raramente evoluem para um mieloma múltiplo.
 	Neuroblastomas olfatórios (estesio-neuroblastomas). Esses são incomuns, tumores altamente malignos compostos de células arredondadas pequenas que se assemelham aos neuroblastos que se proliferam em ninhos lobulares cercados por tecido conjuntivo vascularizado. Eles surgem, com mais frequência, na parte superior e lateral do nariz de células neuro-endócrinas dispersas na mucosa olfatória. O diagnóstico diferencial desses neoplasmas incluem todos os outros tumores de células pequenas, como linfoma, sarcoma de Ewing e rabdomiossarcoma embrionário. As células são de origem neuro-endócrina e, assim, exibem grânulos secretivos ligados á membrana na microscopia eletrônica e coram-se imuno-histoquimicamente á enolase específica do neurônio, proteína S-100 e cromogranina. Embora elas sejam classificadas dessa forma, como tumores neuro-ectodérmicos primitivos, muitos não compartilham a 11;22 translocações ou produtos genéticos da fusão típicos do sarcoma ósseo de Ewing e outros tumores neuro-ectodérmicos primitivos. Alguns desses tumores também revelam a trissomia do 8. Os neuroblastomas olfatórios tendem a enviar metástase extensamente. As combinações de cirurgia, radiação e quimioterapia produzem um índice de sobrevida de cinco anos de 50% a 70%.
 	Carcinomas nasofaríngeos. Esse tumor é caracterizado por uma distribuição geográfica distintiva, uma relação anatômica íntima com tecido linfoide, e uma associação com a infecção pelo vírus Epstein-Barr. Ele adota um dos três padrões: (1) carcinoma de células escamosas queratinizadas; (2) carcinomas de células escamosas não-queratinizadas; e (3) carcinomas indiferenciados que têm um infiltrado linfocítico abundante não-neoplásico. Este último padrão tem sido denominado, frequentemente e erroneamente, linfo-epitelioma.
 	
 	Três grupos de influência afetam, aparentemente, as origens desses neoplasmas: (1) hereditariedade, (2) idade, e (3) infecção com o vírus EB. Os carcinomas nasofaríngeos são particularmente comuns em algumas regiões da África, onde são os cânceres mais comuns na infância. Ao contrário, na China meridional, eles são muito comuns em adultos, mas raramente ocorrem em crianças. Nos Estados Unidos, eles são raros em adultos e crianças. O ambiente deve desempenhar algum papel nessa distribuição, pois a migração de um local de alta incidência para um local de baixa incidência é acompanhada por um declínio progressivo na incidência sobre as gerações. O genoma do vírus do vírus EB foi identificado nas células epiteliais tumorais (não os linfócitos) da maioria dos carcinomas nasofaríngeos de células escamosas não-queratinizadas e indiferenciadas.
 	Os carcinomas nasofaríngeos tendem a crescer silenciosamente até que eles tornem-se inoperáveis e tenham se propagado aos linfonodos cervicais ou locais distantes. A radioterapia é a modalidade-padrão de tratamento, resultando em muitos estudos um índice de sobrevida de três anos de aproximadamente 50% a 70%. O carcinoma indiferenciado é mais radio-sensível, e o queratinizado, o menos rádio-sensível.
 Laringe
	 As disfunções mais comuns que afetam a laringe são as inflamações. Os tumores são incomuns, mas são condescendentes á ressecção, ainda que, com frequência ao preço da perda da voz natural. 
Ouvidos 
	 Ainda que as disfunções do ouvido raramente diminuam o período de vida, muitas debilitam sua qualidade. As disfunções auriculares mais comuns, em ordem decrescente de frequência, são (1) otites aguda e crônica (envolvendo, com mais frequência, o ouvido médio e mastoide), algumas vezes, levando ao colesteatoma; (2) otosclerose sintomática; (3) pólipos auriculares; (4) labirintite; (5) carcinomas, na maioria das vezes no ouvido externo; e (6) paragangliomas, encontrados principalmente no ouvido médio. Somente são descritas aquelas condições que têm aspectos morfológicos distintos (exceto a labirintite). Os paragangliomas serão discutidos mais adiante.
 Lesões inflamatórias 
	 As inflamações do ouvido – otite média, aguda ou crônica – ocorrem principalmente em lactentes e crianças. Elas produzem, geralmente, um exsudato seroso (quando de origem viral), porém muitos se tornam supurativos com infecção bacteriana sobreposta. Os transgressores mais comuns são o Streptococcus pneumoniae, o H. influenzae não-tipável e a Moraxella catarrhalis. 
 	Os episódios repetidos de otite média aguda com falha de resolução levam á doença crônica. Os agentes causais da doença crônica são, em geral, a Pseudomonas aeruginosa, o Staphylococcys aureus, ou um fungo; algumas vezes, uma flora mista é a causa. A infecção crônica tem o potencial de perfurar o tímpano, invadindo os ossículos ou o labirinto, espalhando-se nos espaços mastoides e, até mesmo, penetrando na abóbada craniana para produzir uma cerebrite ou abscesso temporal. A otite média no indivíduo diabético, quando causada por Pseudomonas aeuruginosa, é especialmente agressiva e propaga-se amplamente (otite média necrosante destrutiva).
 	Os colesteatomas, associados a otite média crônica, não são neoplasmas, e nem sempre contêm colesterol. Preferencialmente, eles são lesões císticas de 1 a 4cm de diâmetro, revestidos por epitélio escamoso queratinizado ou epitélio metaplásico secretor de muco e preenchido com detritos amorfo (derivados amplamente de epitélio descamado). Algumas vezes, eles contêm espículas de colesterol. Os eventos precisos envolvidos em seu desenvolvimento não são claros, porém é proposto que a inflamação crônica e a perfuração do tímpano com crescimento interno do epitélio escamoso ou metaplasia do revestimento epitelial secretório do ouvido médio são responsáveis pela formação de um ninho de células escamosas que se tornam císticas. Uma reação inflamatória crônica cerca o cisto queratinizado. Algumas vezes, o cisto rompe-se, intensificando não somente a reação inflamatória, mas também induzindo á formação de células gigantes que confinam parcialmente as escamas necróticas e outros detritos particulados. Estas lesões, pelo aumento progressivo,podem deteriorar-se dentro dos ossículos, do labirinto, do osso adjacente, ou do tecido mole circunjacente e, algumas vezes, produzem massas visíveis no pescoço.
 Otosclerose 
	 Como o nome indica, a otosclerose refere-se á deposição óssea anormal no ouvido médio aproximadamente a borda da janela oval em que se ajusta a base do estribo. Ambos os ouvidos são geralmente afetados. Primeiramente, há anquilose fibrosa da base, seguida a tempo pelo super-crescimento ósseo fixando-a na janela oval. O grau de imobilização determina a gravidade da perda auditiva. Essa condição começa, em geral, nas décadas iniciais da vida; os graus mínimos desse transtorno são extremamente comuns nos Estados Unidos em adultos jovens e de meia-idade, porém, felizmente, a otosclerose sintomática grave é relativamente incomum. Na maioria dos exemplos ela é familiar, seguindo uma transmissão autossômica dominante com penetração variável. A base para o super-crescimento óssea é completamente obscura, porém ele parece representar a separação da re-absorção óssea e da formação do osso. Assim, começa com a re-absorção óssea, seguida por fibrose e vascularização do osso temporal na vizinhança imediata da janela oval, substituída a tempo por novo osso denso fixado á base do estribo. Na maioria dos exemplos, o processo é lentamente progressivo com o passar das décadas, levando ás vezes á perda auditiva marcada.
 Tumores
	 A grande variedade de tumores epiteliais e mesenquimais que surgem no ouvido – externo, médio e interno – são raros, exceto os carcinomas de células escamosas e células basais da aurícula (ouvido externo). Esses carcinomas tendem a ocorrer em homens idosos e pensou-se estarem associados á radiação actínica. Ao contrário, aqueles dentro do canal tendem a ser carcinomas de células escamosas, que ocorrem em mulheres de meia-idade e idosas e não estão associados á exposição ao sol. Sempre que elas surgem, eles parecem-se morfologicamente com seus equivalente em outros locais cutâneos, começando como pápulas que se estendem e, eventualmente, deterioram-se e invadem de modo local. Nem as lesões celulares basais nem as escamosas da aurícula estendem-se localmente além do local da invasão, porém os carcinomas de células escamosas que surgem no canal externo podem invadir a cavidade craniana ou enviar metástases aos linfonodos regionais e, realmente, serem responsáveis por uma mortalidade de cinco anos de aproximadamente 50%.
Pescoço
	 A maioria das condições que envolvem o pescoço é descrita em outras seções (e.g., carcinomas cutâneos de células escamosas e células basais, melanomas, linfomas), ou elas são somente um componente de uma disfunção sistêmica (e.g., exantemas generalizados, a linfadenopatia da mono-nucleose infecciosa ou tonsilite). O que permanece em consideração aqui são poucas lesões incomuns, restritas ao pescoço.
 Cisto branquial (cisto linfo-epitelial) 
	 Esses cistos benignos aparecem, em geral, na face ântero-lateral do pescoço, surgem de remanescentes dos arcos branquiais ou, como muitos acreditam, das inclusões das glândulas salivares evolutivas dentro dos linfonodos cervicais. Qualquer que seja sua origem, eles são cistos circunscritos de 2 a 5cm de diâmetro, com paredes fibrosas respeitadas, em geral, por epitélio escamoso estratificado ou epitélio colunar pseudo-estratificado subjacente por um infiltrado linfocítico intenso ou, com mais frequência, por tecido linfoide bem desenvolvido com folículos reativos. O conteúdo cístico pode ser um líquido claro, aquoso a mucinoso ou pode conter detritos celulares granulares descamados. Os cistos aumentam pouco a pouco, são raramente local de transformação maligna, e em geral são prontamente extirpados. As lesões similares aparecem, algumas vezes, na glândula parótida ou na cavidade oral abaixo da língua.
 Cisto do trato tireo-glossal 
	 Embriologicamente, a origem da tireoide começa na região do forâmen cego na base da língua.; enquanto a glândula desenvolve-se, ela desce ao seu local definitivo na parte anterior do pescoço. Os remanescentes desse trato evolutivo podem persistir, produzindo cistos, de 1 a 4cm de diâmetro, que podem ser revestidos por epitélio escamoso estratificado, quando o cisto está próximo da base da língua, ou por epitélio colunar pseudo-estratificado nos locais inferiores. Obviamente, os padrões transicionais são também encontrados. A parede de tecido conjuntivo do cisto pode fixar agregados linfoides ou remanescentes de tecido tireóideo reconhecível. O tratamento é a extirpação, porém, se incompleta, pode ser esperada a recorrência persistente. A transformação maligna dentro do epitélio de revestimento foi reportada, porém é rara.
 Paraganglioma 
 Os paragânglios são agrupamentos de células neuro-endócrinas dispersas por todo o corpo, alguns conectados com o sistema nervoso simpático e outros com o sistema nervoso parassimpático. A maior coleção dessas células é encontrada na medula adrenal, onde elas dão origem ao feocromocitoma. Os tumores que surgem nos paragânglios extra-adrenais não são considerados paragangliomas. Os paragangliomas desenvolvem-se em dois locais comuns:
Paragânglios para-vertebrais (e.g., órgão de Zuckerkandl e, raramente, bexiga). Tais tumores têm conexões simpáticas e são cromafim positivo; aproximadamente metade elabora catecolaminas, como fazem os feocromocitomas.
Paragânglios relacionados com os grandes vasos da cabeça e do pescoço, a cadeia supostamente denominada aórtico-pulmonar, incluindo os corpos carotídeos, corpos aórticos, gânglios júgulo-timpânicos, gânglio nodoso do nervo vago e agrupamentos localizados em torno da cavidade oral, nariz, nasofaringe, laringe e órbita. Esses são inervados pelo sistema nervoso parassimpático e seus tumores são denominados paragangliomas não-cromafins. Raramente esses tumores liberam catecolaminas, mas devido ás células neuro-endócrinas que constituem essas lesões perceberem as tendões de oxigênio e dióxido de carbono dentro dos vasos adjacentes, os tumores também são, algumas vezes, denominados quimiodectomas.
	 Os tumores de corpos carotídeos (e paragangliomas em geral) são raros. Eles surgem, em geral, na sexta década de vida. Eles ocorrem, comumente, de forma única e esporádica, mas podem ser familiares, com transmissão autossômica dominante na síndrome neoplásica endócrina múltipla tipo 2; nesse caso, eles são com frequência múltiplos e, algumas vezes, simétricos bi-lateralmente. Os tumores do corpo carotídeo recorrem, em muitos casos, após ressecção incompleta, e, apesar de sua aparência benigna, muitos enviam metástase a sítios locais e distantes. No final das contas, aproximadamente 50% provam ser fatais, devido em grande parte ao crescimento infiltrativo. Infelizmente, é quase impossível julgar, de maneira histológica, o curso clínico do tumor de corpo carotídeo – as mitoses, pleomorfismo e até mesmo invasão vascular não são confiáveis. 
Glândulas salivares
 
 
	 Existem três glândulas salivares importantes – parótida, sub-mandibular e sub-lingual -, bem como inumeráveis glândulas salivares menores, distribuídas por toda a mucosa da cavidade oral. Todas essas glândulas estão sujeitas á inflamação ou ao desenvolvimento de neoplasmas.
 Xerostomia
	 A xerostomia refere-se á boca seca; é um aspecto principal do distúrbio auto-imune, a síndrome de Sjögren, em que é geralmente acompanhada por olhos secos. A falta de secreções salivares também pode ser uma complicação da terapia por radiação. A cavidade oral pode revelar, meramente, mucosa seca ou atrofia das papilas da língua, com fissuras e ulcerações, ou, na síndrome de Sjögren, aumento inflamatório concomitante das glândulas salivares.
 
 Inflamação (sialadenite)
	 A sialadenite pode ser de origem traumática, viral, bacteriana ou auto-imune. As mucoceles são os tipos mais comuns de lesões inflamatórias da glândula salivar. A forma mais comum de sialadenite viral é a caxumba, na qualgeralmente são afetadas as principais glândulas salivares, em particular as parótidas (parotidite epidêmica). Outras glândulas (e.g., pâncreas e testículos) também podem estar envolvidas. A doença auto-imune sustenta as alterações salivares inflamatórias da síndrome de Sjögren. Nessa condição, o envolvimento disseminado das glândulas salivares e as glândulas secretoras de muco da mucosa nasal induzem á xerostomia. O envolvimento associado das glândulas lacrimais produz a secura dos olhos – ceratoconjuntivite seca.
 	Mucocele. Essa é a lesão mais comum das glândulas salivares e resulta do bloqueio ou da ruptura do ducto glandular salivar, com escoamento da saliva para dentro do estroma do tecido conjuntivo circunjacente. As mucoceles são encontradas mais frequentemente no lábio inferior e são o resultado de trauma. Como tal, eles são vistos tipicamente em crianças maiores e jovens adultos, bem como na população geriátrica (como resultado de quedas). Clinicamente, eles apresentam-se como tumefações flutuantes do lábio inferior e têm uma tonalidade translúcida azulada. Os pacientes podem reportar um histórico de tamanho flutuante da lesão, particularmente em associação ás refeições. Histologicamente, as mucoceles mostram um espaço na forma de cisto que é revestido por tecido de granulação inflamatório ou por tecido conjuntivo fibroso. Os espaços císticos são preenchidos com mucina, bem como por células inflamatórias, particularmente os macrófagos. É necessária a excisão completa do cisto com o lóbulo glandular salivar menor de origem. A excisão incompleta pode resultar em recorrência.
 	A rânula é histologicamente idêntica á mucocele. Todavia, esse termo é reservado ás mucoceles que surgem quando o ducto da glândula sub-lingual tiver sido danificado. Uma rânula pode tornar-se extremamente grande e desenvolver uma “rânula profunda” quando ela disseca seu caminho através do estroma de tecido conjuntivo conectando os dois ventres do músculo milo-hioideo.
 	Sialolitíase e sialadenite inespecífica. A sialadenite bacteriana inespecífica, envolvendo mais frequentemente as principais glândulas salivares, em particular secundárias á obstrução comuns são o Staphylococcus aureus e o Streptococcus viridans. A formação de cálculo está relacionada, algumas vezes, com a obstrução dos orifícios das glândulas salivares por detritos alimentares impactados ou por edema sobre o orifício após alguma lesão. Frequentemente, os cálculos são de origem obscura. A desidratação com função secretora diminuída também pode predispor á invasão bacteriana secundária, como ocorre algumas vezes em pacientes que recebem fenotiazinas de longa duração que suprimem a secreção salivar. Talvez a desidratação com secreção diminuída explique o desenvolvimento de parotidite supurativa bacteriana em pacientes idosos com histórico recente de grandes cirurgias torácicas ou abdominais. 
 	Qualquer que seja a origem, o processo obstrutivo e a invasão bacteriana levam á inflamação inespecífica das glândulas afetadas que podem ser amplamente intersticiais ou, quando induzida por estafilococos ou outros piógenos, pode estar associado com necrose supurativa visível e formação de abscesso. O envolvimento uni-lateral de uma única glândula é regra. O envolvimento inflamatório causa aumento doloroso e, algumas vezes, uma descarga purulenta ductal. 
 Neoplasmas	 
 
	 Apesar de sua morfologia normal relativamente indistinguível, as glândulas salivares dão origem a nada menos que 30 tumores malignos e benignos histologicamente distintos. 
 	 Um pequeno número de neoplasmas representa mais de 90% dos tumores de glândulas salivares, e assim nossa consideração está restrita a eles. No geral, esses neoplasmas são relativamente incomuns e representam menos de 2% dos tumores humanos. Aproximadamente 65% a 80% surgem na parótida, 10% na glândula sub-mandibular e o restante nas glândulas salivares menores, incluindo as glândulas sub-linguais. 15 a 30% dos tumores nas glândulas parótidas são malignos, ao contrário de aproximadamente 40% nas glândulas sub-mandibulares, 50% nas glândulas salivares menores e 70% a 90% dos tumores sub-linguais. A probabilidade, então, de um tumor da glândula salivar ser maligno é mais ou menos inversamente proporcional ao tamanho da glândula. 
 	Esses tumores ocorrem, em geral, em adultos com leve predominância feminina, porém aproximadamente 5% ocorrem em crianças menores que 16 anos de idade. Por motivos desconhecidos, os tumores de Warthin ocorrem com muito mais frequência em homens que em mulheres. Os tumores benignos costumam aparecer com predominância na quinta ou sexta década de vida. Os tumores malignos tendem, na média, a reaparecer, de alguma forma, posteriormente. Qualquer que seja o padrão histológico, os neoplasmas nas glândulas parótidas produzem tumefação distintiva na frente e abaixo do ouvido. Em geral, quando eles são primeiramente diagnosticados, ambas as lesões, malignas e benignas, variam de 4 a 6 cm de diâmetro e são móveis á palpação, exceto nos casos de tumores malignos negligenciados. Ainda que os tumores benignos sejam conhecidos por estarem presentes, em geral, por muitos meses a vários anos antes de chamar a atenção clínica, os cânceres (tumores malignos) parecem exigir mais atenção, devido, provavelmente, ao seu crescimento mais rápido. Todavia, no final das contas, não existem critérios confiáveis para diferenciá-los, no terreno clínico, sendo portanto necessária a avaliação morfológica.

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