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18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 1/9 PRIVACIDADE, MERCADO E INFORMAÇÃO PRIVACIDADE, MERCADO E INFORMAÇÃO Revista de Direito do Consumidor | vol. 31 | p. 13 | Jul / 1999 Doutrinas Essenciais de Responsabilidade Civil | vol. 8 | p. 25 | Out / 2011DTR\1999\635 Ronaldo Porto Macedo Júnior Área do Direito: Consumidor Sumário: - 1.Privacidade e liberdade - 2.Privacidade, mercado e informação: alguns exemplos - 3.O direito social: normalidade e privacidade - 4.Conclusão Abstract: A maneira como a nova imprensa brasileira vem transformando temas da vida privada em mercadoria de consumo, o debate sobre o sigilo bancário como garantia constitucional à privacidade e a comercialização de informações sobre consumidores obtidas a partir de dados cadastrais têm trazido à tona uma nova forma de articulação dos temas da privacidade, da informação e do mercado. O presente texto procura mostrar como o conceito operativo mais freqüentemente utilizado pela dogmática jurídica no tratamento do direito à privacidade e intimidade reporta-se à idéia de liberdade negativa. Ocorre, contudo, que tal conceito, forjado por uma influente linhagem do pensamento liberal, não apresenta critérios claros e medidas consistentes sobre os limites da liberdade de cada um e, conseqüentemente, sobre os limites mínimos da privacidade que deve ser garantida a cada indivíduo. O conceito de liberdade positiva, i.e., liberdade enquanto autonomia, serve de elemento para a fixação de uma nova medida do direito à privacidade, sem, contudo, resolver o problema, na medida em que, no limite, a liberdade positiva significa a liberdade para obedecer. O artigo conclui pela necessidade da utilização de critérios pragmáticos (e não ideais e principiológicos) de mensuração da privacidade, a partir do conceito de normalidade. A privacidade normal seria aquela definida não por critérios transcendentes ou ideais, mas sim a partir das regras de julgamento social acerca do que é o limite provisório, adequado e reflexionante da medida do público e do privado. É a partir destas regras que se poderá estabelecer um sistema de regulação da informação no mercado e seus efeitos tendo-se em vista o direito à privacidade. 1. Privacidade e liberdade Apesar de ser possível traçar uma origem remota do conceito de direito à privacidade e à intimidade, a sua conceptualização atual surge somente no final do século XVIII, com o desenvolvimento do moderno conceito de liberdade, claramente percebido por Benjamin Constant em seu clássico texto A liberdade dos modernos. 1 O moderno conceito de direito à intimidade e à vida privada se apresenta como um direito à liberdade. Liberdade é aqui basicamente entendida em seu sentido de não impedimento, isto é, enquanto direito a fazer o que se bem entende, de estar só, de não ser incomodado, de se tomar decisões na esfera privada sem interferência estatal. Isto inclui a liberdade sexual, a liberdade de agir livremente no interior de seu domicílio, a liberdade de não revelar suas condutas íntimas e a liberdade de identidade. É dentro de um marco ideológico liberal, no qual o Estado passa a ser visto como um "inimigo", que se forja o moderno conceito de privacidade. Antes de avaliar a sua validade atual, caberia analisar algumas das características desta formulação no horizonte ideológico liberal clássico (Locke, Mill, Constant etc.). Os pensadores liberais clássicos acima referidos e os novos liberais clássicos, especialmente Friedman e Hayek, procuram estabelecer uma relação direta entre liberdade de mercado e privacidade. O acesso a informações no mercado constitui tema consensual entre os liberais como sendo um elemento fundamental para o bom funcionamento do livre mercado. A teoria econômica neoclássica tem enfatizado a importância da existência de um alto grau de informação entre os agentes econômicos, de modo a viabilizar o funcionamento ótimo no mercado. 2O aumento de informações sobre produtos, fornecedores e consumidores serviria, assim, para a melhoria do funcionamento do mercado ou, ao menos, para a redução dos custos de transação envolvidos nas operações de mercado. 3 18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 2/9 Segundo o paradigma econômico neoclássico, quanto maior o número de informações que um consumidor puder obter para orientar suas decisões, maior será seu grau de liberdade para realizar suas escolhas racionais. Para exemplificar tal idéia, poderíamos pensar na maior liberdade que imagina ter hoje o consumidor brasileiro por poder comprar carnes, bifes de chorizo argentinos ou sirloins americanos em seus supermercados em razão da diminuição das barreiras alfandegárias para a entrada de tais produtos no Brasil. O consumidor brasileiro de carnes teria adquirido maior liberdade para consumir, informar-se e comparar preços e produtos. Ele agora não está submetido às restrições de um mercado fechado que o impedia de saborear a boa carne estrangeira. Caberia, contudo, perguntar: até que ponto o mero aumento de informação serve atualmente de elemento para a efetiva ampliação do poder decisório do consumidor, ou ainda, para aumento de sua consciência no momento em que atua no mercado? Estudos sobre o conceito de racionalidade limitada ( bounded rationality) e sobrecarga de informação (overloaded information), têm evidenciado que a equação: maior informação = maior capacidade de decisão consciente (e, portanto, livre) freqüentemente não corresponde à realidade. 4 Sabemos também que a globalização econômica tem acentuado um processo iniciado já no final dos anos 60 de formação de economias duais, marcadas por mercados de consumo e produção segmentados. 5Ademais, o impacto das informações sobre os consumidores mais sofisticados e de maior escolaridade é bastante diferente daquele provocado sobre consumidores de baixa renda, baixo nível de escolaridade, alocados nos setores da retaguarda produtiva e economia informal. Neste caso, o aumento de informação pouco ou nada contribuiu para a formação de uma decisão de consumo mais livre e consciente. Entretanto, o assim chamado direito à privacidade não se confunde com a garantia de divulgação de toda a informação disponível no mercado. Em outras palavras, nem toda a informação disponível no mercado favorece ou estimula a defesa da privacidade enquanto um direito autônomo. Quando e como o aumento de informação afetaria a privacidade enquanto direito à liberdade? Evidentemente, nestes casos estamos nos referindo a um sentido bastante preciso de liberdade. Trata-se do conceito de liberdade negativa, i.e., a liberdade no sentido de não estar impedido de vender, comprar ou transacionar. Conforme aponta Milton Friedman: 6"The basic requisite is the maintenance of law and order to prevent physical coercion of one individual by another and to enforce contracts voluntarily entered to, thus giving substance to 'private' (...) So long as effective freedom of exchange is maintained, the central feature of the market organization of economic activity is that it prevents one person from interfering with another in respect of most of his activities. The consumer is protected from coercion by the seller because of the presence of other sellers with whom he can deal. The seller is protected from coercion by the consumer because of other consumers to whom he can sell". Para um liberal como Friedman, a liberdade deve ser entendida como não impedimento, não intromissão, a salvaguarda do espaço não regulado pelo Estado. Conforme aponta Isaiah Berlin: "Ser livre neste sentido (liberdade negativa) significa não sofrer interferências dos outros. Quanto mais ampla a área de não-interferência, mais ampla minha liberdade. Isso é que os filósofos políticos clássicos da Inglaterra queriam dizer quando usavam esta palavra. Não se colocavam de acordo quanto à extensão que poderia ou deveria ter esta determinada área. Supunham que, nas condições então predominantes, não poderia ser ilimitada, porque, se assim fosse, acarretaria uma situação em que todos os homens podiam ilimitadamente interferir na atuação de todos os outros; e este tipo de liberdade "natural" levaria ao caos social. (...) Em conseqüência, aqueles pensadores presumem que a área de livre ação dos homens deve ser limitada pela lei. Mas também presumem, sobretudo os partidários do livre arbítrio, como Locke e Mill na Inglaterra, e Constant e Tocqueville na França, que deveria haver um certa área mínima de liberdade pessoal que não deve ser absolutamente violada, pois, se seus limites forem invadidos, o indivíduo passará a dispor de uma área demasiado estreita mesmo para aquele desenvolvimento mínimo de suas faculdades naturais. (...) Segue-se daí a necessidade de traçar-se uma fronteira entre a área da vida privada e a da autoridade pública, onde deve ser traçada esta fronteira é questão de discutir ou mesmo regatear. (...) A liberdade do tubarão é a morte para as sardinhas - a liberdade de alguns precisa depender da limitação de outros". 7 Para tal pensamento, é admissível sacrificar parte da liberdade em troca de outros valores, como, por exemplo, a justiça ou a igualdade. Assim, para evitar a desigualdade, posso sacrificar a liberdade ou parte dela. Não obstante, um sacrifício da liberdade, ainda que seja feito livremente, por justa razão, não representa nenhum acréscimo à minha liberdade individual, por maior que seja a necessidade moral que o provocou ou a compensação que dele derivou. 8Não obstante, é perfeitamente admissível que se afirme, como o faz Mill, que para que todos tenham um mínimo de 18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 3/9 liberdade, é necessário que todos sofram restrições, até por meio da força. O desafio liberal clássico constitui-se, pois, em determinar qual é o mínimo essencial de liberdade pessoal necessário para que não degrademos ou neguemos nossa própria natureza. Mas o que constitui esta essência? Quais são os seus padrões mínimos? Para Mill, "a única liberdade que merece tal nome é a de perseguir nosso próprio bem a nosso próprio modo". Trata-se, pois, da liberdade de, i.e., a liberdade de fazer algo. Este conceito, contudo, é por demais vago e incapaz de oferecer uma medida sobre quando e como deveremos sacrificar nossa liberdade (negativa) em favor de outros interesses e valores. Já foi muitas vezes salientado que a concepção negativa de liberdade não guarda nenhuma ligação direta e necessária com o conceito moderno de democracia. 9É bem possível pensar na existência de um "déspota liberal", na medida em que este resguarde o mínimo essencial de liberdade individual. A questão sobre os limites da interferência a que estou submetido é distinta daquela acerca de saber quem me governa. A questão agora é: quem me governa? O conceito de liberdade positiva nasce desta segunda questão, relativa ao desejo de o homem ser o seu próprio senhor e fazer com que sua vida e decisões dependam de si mesmo e não de forças externas. A liberdade no sentido positivo significa autonomia, autodomínio. (Como dirá Kant: "liberdade é obediência, mas obediência a uma lei que prescrevemos a nós mesmos)". A questão crucial que surge com o conceito de liberdade positiva reside na possibilidade de se admitir que a decisão do Estado, tomada com base na Razão, pode estar em contradição com o desejo e a liberdade (negativa) do indivíduo. Neste caso, se poderá afirmar que estes indivíduos, vítimas da "falsa consciência", estarão sendo incapazes de reconhecer o que é melhor para si mesmos e discernir o que realmente necessitam. Não se poderá afirmar, contudo, que não estejam sendo livres, ainda que sua percepção seja de dura e severa restrição de liberdade (negativa). 10 É por tal motivo que se afirma que a concepção positiva de liberdade tem permitido a apresentação do tema da liberdade através da idéia de um homem dividido em duas personalidades. De um lado, há o controlador transcendente e dominante e, de outro, o feixe de desejos e paixões a ser disciplinado e dominado. Este é o paradoxo da liberdade. O tema da liberdade positiva apresentado pelos pensadores racionalistas ainda guarda uma outra dimensão bastante importante. Para racionalistas como Kant e Hegel, o único método para se atingir a liberdade é o uso da razão crítica e a compreensão do que é necessário e do que é apenas contingente. O conhecimento liberta. Ele nos liberta não por oferecer-nos possibilidades mais amplas entre as quais podemos fazer nossas escolhas, mas por preservar-nos da frustração de tentar o impossível. 11A liberdade torna-se, assim, a consciência da necessidade, conforme dirá Hegel. A liberdade, neste sentido de autogoverno racional, constitui-se no método por excelência para o governo dos indivíduos. Se o Estado dever ser racional, não poderei negar que o que é certo para mim deverá também ser o correto para os outros. Os homens racionais, por respeitarem os princípios da razão de cada homem, não deverão sentir o desejo de dominar aos outros. "A liberdade é agora o autodomínio, a eliminação dos desejos irracionais. Liberdade não é liberdade para fazer o que é irracional, obtuso ou errado. Forçar os eus empíricos a se adaptarem ao padrão certo não é tirania e, sim, liberação". 12Num limite ideal, a liberdade coincide com a lei, e a autonomia coincide com a autoridade. 13 Num certo sentido, protestar contra as normas que regulam a censura significa dizer que entendemos intoleráveis as restrições à liberdade, porque estas são necessidades fundamentais dos homens numa sociedade boa, sadia ou normal. Toda sociedade admite a existência de outros valores além da liberdade, que com ela devem se harmonizar ou balancear, como a igualdade, a justiça, a felicidade, a segurança, a ordem pública etc. Admitir que a liberdade é um valor a prevalecer sobre os demais, significa dizer que necessitamos encontrar uma medida empírica ou apriorística para a sua defesa. O monismo e a fé racionalista na existência de um princípio ou de uma única medida como critério único sempre constituíram um elemento comum ao racionalismo moderno. Para um liberal como Isaiah Berlin, o pluralismo, enquanto admissão da existência de valores metafisicamente incomensuráveis, passa a ser um horizonte mais humano, uma vez que reconhece que as metas humanas são muitas e em perpétua rivalidade entre si. "Pressupor que todos os valores podem ser avaliados segundo uma escala, para que seja apenas caso de inspeção determinar qual é o mais alto, parece-me falsificar nosso conhecimento de que os homens são agentes livres para representarem a decisão moral de uma operação que uma régua poderia, em princípio, realizar". 14 2. Privacidade, mercado e informação: alguns exemplos 18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 4/9 É curioso que seja o conceito negativo de liberdade aquele que vemos empregado pela doutrina e jurisprudência dominantes no Brasil e, na maioria dos países ocidentais, quando tratamos de temas como o conflito entre liberdade de imprensa e privacidade, liberdade de mercado e intimidade ou privacidade. Nos contextos de tais discussões jurídicas, a liberdade de imprensa é defendida como um valor que deve ser garantido a priori, independentemente das conseqüências e efeitos, a partir da suposição de que a sua supressão sempre implicará num alto grau de prejuízos e desvantagens para aqueles que estiverem submetidos a um regime de falta de liberdade de imprensa. 15Neste sentido, a "boa razão" recomenda a defesa intransigente da liberdade de imprensa e a sua crítica não constitui senão um capítulo da má consciência ou "falsa liberdade". Nesta perspectiva, os assim chamados direitos de privacidade, garantidos por legislações constitucionais 16e infraconstitucionais vêm sendo invocados para a tutela destes interesses de privacidade. A privacidade e a intimidade aparecem, ora como conceitos do direito natural moderno (que podem ser referidos histórica e filosoficamente aos conceitos liberais de direito à propriedade e à liberdade), 17ora como conceitos que ganham autonomia dentro da moderna teoria dos direitos de personalidade, especialmente a partir do trabalho pioneiro de Warren e Brandeis e a moderna teoria dos Direitos Humanos. 18 Da mesma forma, os conceitos de liberdade de mercado aparecem, dentro da tradição liberal, intrinsecamente ligados à doutrina dos direitos naturais de liberdade e propriedade. Como então traçar os limites de cada um dentro de uma perspectiva liberal? Quais são os limites para o mesmo direito da liberdade enquanto privacidade numa sociedade que garante a liberdade de mercado? Como saber se a liberdade do tubarão (mercado) não vai até a morte da sardinha (privacidade), e vice-versa? Esta questão nos traz o já mencionado tema do paradoxo da liberdade. Este tema está na raiz da compatibilização dos princípios da liberdade de mercado, do controle da informação e da proteção da privacidade. Paulatinamente vem se desenvolvendo uma nova abordagem jurídica ainda útil para a compreensão destes direitos. É sobre este segundo aspecto que gostaria de fazer meus comentários, tomando alguns exemplos para esta reflexão. Em recente artigo sobre o tema, Tércio Sampaio Ferraz Jr. relata uma nova situação vivida pelo jornalismo no Brasil. Comentando palestra do jornalista brasileiro José Nêumane, Tércio informa que entre julho e agosto de 1994, o jornal Folha de S. Paulo (de maior tiragem no Brasil) praticamente dobrou a sua tiragem, passando de 650 mil para 1 milhão e 100 mil exemplares, enquanto seu concorrente O Estado de S. Paulo, no mesmo período, passou de 450 para 510 mil. A Folha teve um aumento de 90%, enquanto o Estado chegou a 13%. A razão para tal fato em grande medida está relacionada à estratégia de marketing adotada pela Folha com a publicação semanal do Atlas Geográfico do New York Times. O que estaria por detrás desta estratégia seria um fenômeno mais profundo, evidenciador de que a própria informação vem se transformando numa mercadoria simbolicamente de mesma natureza que o "brinde" que acompanhava o jornal. Conforme lembra Tércio Ferraz, no novo estilo de fast journalism, tão bem representado pela Folha de S. Paulo, "se misturam produtos de marketing, serviços para o leitor e notícias, de preferência as revelações escabrosas, escândalos e denúncias, capazes de satisfazer a enorme curiosidade do público da sociedade de consumo". Ao mesmo tempo em que o jornal faz a denúncia (ainda que muitas vezes sem o devido apoio nos fatos apurados para fazê-lo), no dia seguinte publica o desmentido (produzindo assim nova manchete), vendendo uma imagem de independência e imparcialidade. O advento desta "nova" imprensa demanda um novo tratamento jurídico do tema da liberdade de imprensa. A publicação sistemática de informações sobre a privacidade de personalidades públicas (basta pensar nos inúmeros flagrantes e fofocas envolvendo a princesa Diana), com a exclusiva finalidade de obter lucro com manchetes sensacionalistas, não mais poderia ser tratada dentro do tradicional conflito constitucional entre liberdade de imprensa e direito à privacidade, conceitos metafisicamente incomensuráveis, mas sim no âmbito do direito comercial. Assim, para Nêumane, a utilização não autorizada de imagem deveria importar no direito da suposta vítima de participar dos lucros ou receber indenização pelos prejuízos dela decorrentes. 19 Um segundo exemplo retrata a questão da utilização da informação na sociedade de consumo. Recentemente começou-se a discutir sobre a eventual abusividade existente na comercialização de bancos de dados formados a partir de fichas cadastrais de consumidores, exigidos na celebração de contratos diversos (bancos, seguradoras, administradoras de cartões de crédito etc.), especialmente na forma de venda de mailing list selecionados de acordo com os interesses comerciais de outras empresas interessadas. A venda de informações pessoais contidas num cadastro fornecido a uma empresa para outra empresa configuraria uma violação do direito à privacidade e demandaria uma reparação com base nos princípios de privacidade (liberdade 18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 5/9 negativa) constitucionalmente assegurados, ou antes reclamaria uma participação e controle do consumidor (direto ou indireto) na utilização de seus dados com finalidades não autorizadas? Um terceiro exemplo também mereceria reflexão. Trata-se do direito ao sigilo bancário, assunto que freqüentemente tem despertado grande atenção dos estudiosos do tema da privacidade. Freqüentemente se quer eleger, ao menos no Brasil, o tema do sigilo dos rendimentos ao status de direito humano fundamental, garantido pelas cláusulas pétreas da Constituição Federal (LGL\1988\3). Caberia indagar, no entanto, por que motivo este direito deve prevalecer sobre o interesse da sociedade em evitar evasão de recursos ou fraudes fiscais. Argumentos de ordem econômica certamente podem ser invocados em favor do respeito da privacidade e do segredo como elementos de estímulo ao bom funcionamento do mercado. Seria equivocado, contudo, imaginar que a garantia de um tal direito repousa exclusivamente sobre um princípio geral de direito fundado na liberdade. A privacidade (enquanto liberdade negativa) envolve a idéia de que qualquer um é livre para comportar-se como bem quiser. De mesma forma, qualquer um tem liberdade de informação na medida em que pode comportar-se como melhor lhe pareça, sem que ninguém nada tenha a ver com isso. No entanto, tal dimensão de liberdade ou privacidade enquanto conceito negativo, i.e., liberdade de não ser vítima de interferência do Estado, não oferece nenhuma medida ou padrão positivo que nos permita saber até onde podemos agir. Até onde o tubarão poderá comer as sardinhas? Neste sentido, a liberdade é um conceito vazio. A partir de tal dilema, a dogmática jurídica tem procurado estabelecer parâmetros a partir da consideração da finalidade do direito. Ser livre para quê? Ter liberdade de informação para quê? Ter liberdade de imprensa para quê? Ter liberdade de sigilo bancário para quê? Ter liberdade para não informar dados pessoais relevantes para quê, ou, contrariamente, ser obrigado a fornecer dados pessoais em tese considerados "privados" para quê? O problema que surge aqui é o risco de novamente estabelecermos um novo conflito entre medidas incomensuráveis. Afinal, qual é a finalidade que deve prevalecer? A finalidade da privacidade individual entendida como segredo pessoal, ou a finalidade do interesse social? Mas haveria interesse social na garantia da privacidade pessoal, como, por exemplo, o sigilo de dados quanto a rendimentos? 20As dificuldades para o estabelecimento de uma medida jurídica operacional clara é patente nos recentes caminhos tomados pela jurisprudência brasileira, americana e européia sobre o assunto. 21 Outra possível alternativa para o equacionamento deste problema seria admitir que o cerceamento da liberdade deve ser visto não apenas tendo em vista a finalidade, mas em razão do efeito que poderá gerar na conduta dos indivíduos. Em outras palavras, a discussão acerca dos limites da intervenção deve superar o plano meramente principiológico 22e buscar o seu critério nos efeitos empíricos e sociológicos da intervenção estatal. Para encontrar um elemento prático, empírico, uma medida sociológica da intervenção estatal, somos obrigados a procurá-los a partir não apenas de princípios gerais, mas da própria lógica de funcionamento do mercado e da mídia. Esta é a solução alvitrada por José Nêumane, referida por Tércio Sampaio Ferraz Jr. Ao invés de procurarmos elementos para o tratamento da liberdade pessoal ou privacidade em termos de princípios éticos, devemos procurar parâmetros numa ética de resultados que encontre nas medidas do próprio mercado (por exemplo o lucro que uma empresa teve a partir do uso da imagem de alguém) elementos mais seguros e eficazes de proteção jurídica. Para tanto, precisamos reconhecer que a nova imprensa não se comporta segundo os mesmos padrões da imprensa tradicional e que a informação na era do fast journalism também assume novos contornos. Também no exemplo do sigilo de dados e informação sobre rendimentos e lucros, talvez devêssemos procurar na mesma ética de resultados os parâmetros para o exercício do direito à privacidade. Afinal, esta é a lógica geral do Direito Social moderno, no interior do qual a relação entre privacidade e mercado deve ser entendida. No Direito Social, a privacidade passa a ser vista como um direito à cidadania (e não mais do indivíduo), i.e., ao autogoverno, o que inclui o direito a delimitar de forma cambiante (normal) o que constitui a própria privacidade. Afinal, o próprio direito à cidadania no âmbito do direito social vem a se constituir no direito a definir o que são os direitos da cidadania (o direito a ter direitos). 3. O direito social: normalidade e privacidade O direito social é basicamente um direito fundado num processo dinâmico de equilibração ( balancing) de interesses através de uma medida de normalidade cambiante. A noção de equilíbrio implica na idéia de escala e contrapeso. O equilíbrio é mantido porque um ponto equilibra o outro. A operação é, todavia, problemática, porque, ao contrário do mercado - onde existe a medida do 18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 6/9 preço -, difícil é a quantificação do valor, da liberdade e da justiça. Há conflitos que importam em valores metafisicamente incomensuráveis, como, por exemplo, os conflitos entre o direito de moradia e o direito ambiental ou os conflitos entre o direito à privacidade e liberdade de mercado e as exigências de eficiência do mercado capitalista. O juízo em termos de equilíbrio pressupõe um princípio de equivalência, a possibilidade de determinar o valor relativo de cada valor, enfim de uma medida geral. A idéia de equilíbrio pressupõe um modo de avaliação coletivo. Neste sentido, implica numa socialização do julgamento, a qual se faz a partir de uma sociologização do julgamento. 23 A sociologia torna-se o ramo do conhecimento que permite a determinação de uma medida e de um equivalente social para a mensuração dos valores e interesses e resolver os conflitos deles decorrentes. O Direito Social tem como fundamento a sociologia e não uma filosofia que busque critérios universais e transcendentais de medida. Evidentemente aí reside o caráter polêmico e explícita e intrinsecamente político do Direito Social. É evidente que a normalidade sempre parecerá puro arbítrio aos olhos de liberais radicais como Hayek, Friedman, e talvez mesmo o moderado I. Berlin, que prefere apelar para um princípio de pluralismo e tolerância. Afinal, quais são os limites da normalidade? Dada a própria natureza reflexionante da norma não pode haver uma resposta teórica geral para esta pergunta. É possível, contudo, mensurar a objetividade da normalidade com auxílio de métodos quantitativos (por exemplo de custo e benefício), estatísticos e encontrar os princípios de justiça e equilíbrio pragmáticos presentes nos diversos ramos do direito. Por fim, cabe salientar que no seio do Welfare State, que busca conciliar uma lógica econômica de mercado com princípios redistributivos de equilíbrio e solidariedade, há espaços para a coexistência de regras de julgamento de matriz liberal e de matriz social. Assim, no âmbito das regulamentações das relações de mercado, o princípio da liberdade de comércio e mercado permanece em vigor, malgrado esteja agora subordinado e mitigado pelos princípios do Direito Social. Discutir apenas no plano dos princípios significa continuar a contestar o argumento liberal, ainda cheio de vigor no clima político atual, em seu campo de batalha epistemológico. É apenas opor princípios individualistas a princípios solidaristas ou comunitários. É insistir algo ingenuamente no lema "mais ética no direito", acreditando que o juiz "Hércules" saberá encontrar o "bom direito". 24Uma análise institucional, ao contrário, deve preocupar-se com a articulação macro de valores e princípios com a esfera micro dos problemas concretos e das formas como estes princípios se constituem e articulam seus efeitos. Conforme aponta Ewald, a matriz do Direito Social não é a filosofia do direito enquanto estudo de doutrinas e princípios, mas sim a sociologia, "na medida em que esta se constituiu historicamente como crítica da filosofia e suas abstrações metafísicas, em benefício de uma apreensão dos sujeitos e grupos sociais que as tomavam em sua realidade concreta". 25 Diferentemente do que ocorre com a idéia de mercado e com o conceito liberal de liberdade negativa, a proteção do consumidor e da privacidade (vista como um direito à cidadania) reporta- se a uma concepção positiva de liberdade, a saber, a liberdade enquanto autonomia, e apóia-se na idéia de que o indivíduo não pode ser utilizado como um fim social. Dentro da perspectiva do direito do consumidor e da privacidade, esta concepção da liberdade enquanto autonomia representa a demanda por igual representação do consumidor em relação a outros grupos no processo de decisão sobre o grau de informação e de risco que deve ser tolerado na sociedade. 26Nesta mesma direção, comentando a relação entre direito à privacidade, liberdade de informação aponta Frosini: "En el marco de la civilización tecnológica, el 'derecho a la privacidad' se presenta como una nueva forma de libertad personal, que ya no es más la libertad negativa de rehusar o prohibir la utilización des informaciones sobre la própria persona, pero se convirtio en la libertad positiva de ejercer um derecho a control sobre los datos concernientes a la própria persona, que hayan ya salido de un archivo electrônico público o privado. Esta es la libertad informatica: o sea el derecho de controlar (conocer, corregir, quitar o agregar) los datos personales inscritos en las tarjetas de um programa electrônico". 27 Na medida em que o direito contemporâneo vai assumindo um caráter auto-reflexivo e procedimental, o processo de negociação e balanceamento de tais critérios e limites torna-se também político, de vez que a justiça acaba por ser tornar um compromisso sempre instável e sujeito a revisão de interesses organizados. 28 Para Stewart e Sunstein, "o conceito de valores comunitários na proteção do consumidor refere- se basicamente a valores como honestidade, boa-fé ( fair dealing), socialização dos prejuízos, os quais não são redutíveis ao interesse egoísta do indivíduo, a sua eficiência econômica ou a proteção de direitos individuais". 29 18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 7/9 O debate sobre regulações de consumo e privacidade não pode se resumir, portanto, a uma mera relação de custo e benefício, mas reporta-se também, conforme sintetizam Sunstein e Stewart, "a um processo contínuo de decisão sobre qual tipo e sociedade a nossa deve ser - como a aversão ao risco, quão solícitos aos vulneráveis e quão desejosos de alocar recursos através do mercado e dos controles públicos". 30 4. Conclusão Como vimos, o direito à privacidade nasce historicamente associado a uma concepção negativa de liberdade. Esta, quando confrontada com a liberdade de mercado enquanto outro princípio constitucional descreve uma situação de conflitos valorativos incomensuráveis de um ponto de vista liberal. O conceito de liberdade positiva não permite resolver tal conflito, na medida em que a autonomia não oferece uma medida jurídica para o balanceamento de conflitos entre os dois princípios. O que vemos, porém, é a necessidade de reportar-mo-nos a uma lógica de balanceamento de conflitos de caráter pragmático e reflexionante. Assim, por vezes a solução de conflito entre interesses se dará através da socialização dos lucros derivados do uso de informações da vida privada (uso de cadastro de bancos), outras vezes passará pelo controle direto através de agências reguladoras estatais ou não-estatais. A medida deste equilíbrio, é certo, deverá levar em conta as mudanças do mercado (especialmente os mercados de informações), não se fixando em premissas ou princípios a priori ou transcendentalmente definíveis. (1) A liberdade dos modernos. Revista Filosofia Política. Porto Alegre: L & PM - Unicamp/UFRGS, 1985. (2) POSNER, Richard. The economics of justice. Cambridge, Massachusets: Harvard University, 1994. (3) WILLIAMSON, Oliver. Transaction cost economics and organization theory. Neil J. Smelser e Richard Swedberg (editors). The handbook of economic sociology. Princeton, New York: Russell Sage Foundation, Princeton University, 1994. (4) Diversos estudos demonstram a desvantagem do consumidor pobre em relação ao consumidor mais rico quanto à possibilidade de obtenção de melhores produtos e serviços. Dentre as razões usualmente elencadas estão: 1) o fato de que a população de baixa renda geralmente não pode comprar em grande quantidade porquanto não dispõe de grande soma de dinheiro, facilidades para estocagem e transporte. A compra em menores quantidades geralmente representa acréscimo substancial no custo de produtos; 2) a população de baixa renda geralmente não dispõe de carro e não pode se locomover aos locais de consumo mais baratos nem transportar os bens de lugares mais distantes; 3) o pobre geralmente é remunerado semanalmente e tende a fazer seu orçamento doméstico dentro de limitados períodos de tempo, o que impede o tipo de economia alcançada através do investimento de mais longo prazo; 4) os pobres geralmente não têm consciência das oportunidades para assegurar o valor dos bens e serviços que adquirem. Tal fator é geralmente devido ao baixo grau de educação e oportunidades educacionais a que estiveram expostos. Em outras palavras, os custos da transação costumam ser mais elevados para a população econômica e socialmente desavantajada. Sobre o assunto o estudo pioneiro ainda é o de David Caplovitz, The poor pay more: consumers practices of low income families, New York: Free Press, 1963. Um estudo mais recente que chega a conclusões parecidas é o de Kenneth Macneil, John R. Nevin, David M. Trubek e Richard E. Miller, Market Discrimination Against the Poor and The Impact of Consumer Disclosure Laws: The Used Cars Industry, 13, Law And Society Review, Spring 1979; As we forgive our debtors. Bankruptcy and Consumer Credit in America, Teresa A. Sullivan, Elizabeth Waren, Jay Lawrence Westbrook, Oxford University, 1989. Sobre o assunto ver também de Thomas Wilhelmsson, Information duties as means of protecting insurance consumers, Ajuris, RS, 1988 (anais do 1.º Congresso Inter-Americano de Direito do Consumidor). (5) Cf. Michael J. Piore e Charles Sabel. The second industrial divide. Possibilities for prosperity, NY: Basic Books, 1984. (6) FRIEDMAN, Milton. Capitalism and freedom. Chicago: University of Chicago, 1962. Apud RAMSEY, Iain. Consumer protection text and materials. London: Weidenfeld and Nicolson, 1989, p. 26. (7) Dois conceitos de liberdade. Quatro Ensaios sobre a Liberdade. Brasília: UnB, 1981, p. 137. 18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 8/9 (8) Dois conceitos de liberdade, op. cit., p. 138. (9) Cf. Norberto Bobbio. Liberalismo e democracia. Brasiliense. 4. ed., 1993, e Gérard Lebrun. O que é poder? Brasiliense. 3. ed., 1981, especialmente p. 74 et seq. (10) Na feliz síntese de I. Berlin: "Um coisa é dizer que posso ser coagido em meu próprio benefício e que sou cego demais para percebê-lo: isso poderá, naquele momento, ser bom para mim; na realidade, poderá ampliar o escopo de minha liberdade. Outra coisa é dizer que, se é para o meu bem, então não estou sendo coagido, pois eu o desejei, esteja ou não consciente disso, e que sou livre (ou "verdadeiramente" livre), mesmo quando meu pobre corpo e minha ingenuamente o recusem com firmeza e lutem contra aqueles que, por mais beneficamente que seja, procuram impô-lo, com o maior desespero". Dois conceitos de liberdade, op. cit., p. 144. (11) Dois conceitos de liberdade, op. cit., p. 151. (12) Dois conceitos de liberdade, op. cit., p.154. (13) Conforme aponta Berlin: "Apenas a verdade liberta, e o único modo pelo qual posso aprender a verdade é fazendo, às cegas e hoje, o que você, que sabe, me ordena fazer ou me coage a fazer, na certeza de que somente assim passarei a ter visão tão clara quanto a sua e serei tão livre quanto você". A verdade é que já nos afastamos de nossos fundamentos liberais. Esse argumento, empregado por Fichte em sua última fase e, depois dele, por outros defensores da autoridade, desde professores da era vitoriana e administradores coloniais até o mais recente ditador nacionalista ou comunista, é precisamente aquilo contra o que protesta a moralidade estóica ou kantiana em nome da razão do indivíduo livre que segue sua própria luz interior. Dessa forma, o argumento racionalista, com seu pressuposto de uma única solução verdadeira, tem levado (por níveis que, senão válidos do ponto de vista da lógica, são inteligíveis do ponto de vista da história e da psicologia) de uma doutrina ética de responsabilidade individual e da autoperfeição individual para um estado autoritário obediente às diretrizes de uma elite de guardiães platônicos. Dois conceitos de liberdade, op. cit., p. 156. (14) Dois conceitos de liberdade, op. cit., p. 169. (15) Cf., José Adércio Leite Sampaio. Direito à intimidade e à vida privada. Uma visão jurídica da sexualidade, da família, da comunicação e informação pessoais, da vida e da morte, Belo Horizonte: Del Rey, 1998. (16) Por exemplo Constituição Federal (LGL\1988\3) do Brasil, art. 5.º, X, que trata do direito à intimidade e à vida privada. (17) Cf. Direito à intimidade e à vida privada, op. cit., p. 81 e 95. (18) Bastaria lembrar, por exemplo, que o art. 12 da Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 10.12.1948 assim dispõe: "Art. 12. 1. Ninguém será objeto de ingerências arbitrárias em sua vida privada, sua família, seu domicílio, ou sua correspondência, nem de ataques a sua honra ou a sua reputação. 2. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerências ou ataques". (19) Tércio Sampaio Ferraz Jr. Liberdade de informação e privacidade ou o paradoxo da liberdade, 1997, mimeo. (20) Há vários argumentos de natureza econômica no sentido das vantagens de se manter um sistema de mercado que garanta o segredo. Cf. Posner, The economics of justice, op. cit. (21) Cf. Direito à intimidade e à vida privada, op. cit., sobre CEE. (22) Ronald Dworkin. Taking rights seriously. Cambridge: Harvard University, 1977. (23) Conforme afirma Ewald: "The judgement of balance, in the social law sense, is a normative judgement. Judging in terms of balance means judging the value of an action or a practice in its relationship to social normality, in terms of the customs and habits which at a certain moment are those of a given group. In therefore means judging relatively: the same act may at one lace be punished, at another not. What furnishes the principle of the sanction is not the intrinsic quality of the act, but its relationship to others: it is the abnormal, the abuse, the excess - what goes 18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 9/9 beyond a certain limit, a certain threshold, which in themselves are not natural but social, and therefore variable with time and place. Not that the abnormal is amoral or wrong. Quite the contrary; it may be useful and necessary, like industrial development with its accompanying nuisances. But it introduces a social imbalance which it seems just to compensate for, in terms of a certain idea of equality in the collective distribution of burdens". François Ewald, A concept of social law. Dilemmas of law in the welfare state, Berlin: European University Institute, 1985, p. 68. Ver também: François Ewald. Foucault. A norma e o direito. Lisboa: Vega, 1993 e, François Ewald, L'état providence, Paris: Grasset, 1986. (24) Sobre a imagem do "juiz Hércules" e do direito correto, ver de Ronald Dworkin, Taking rights seriousluy, op. cit., capítulo III. (25) F. Ewald, L'état providence, cit., p. 451. (26) Vide Donald Dewees, Frank Mathewson & Michael Trebilcok, Policy alternatives in quality regulation, The regulation of quality: products, services, workplaces and the environment, Donald Dewees (org.), Toronto: Butterworths, 1983, p. 20. (27) Frosini, Bancos de datos y tutela de la persona, p. 24. Apud José Adércio Leite Sampaio, Direito à intimidade e à vida privada. Uma visão jurídica da sexualidade, da família, da comunicação e informação pessoais, da vida e da morte, Belo Horizonte: Del Rey, 1998, p. 495. (28) Vide de Gunther Teubner, Autopoiesis in law and society. Law and SocietyReview, n.18, 1984, (ed.), Autopoietic law: a new approach to law and society, cit. (29) R. B. Sunstein e C. R. Stewart, Public programs and private rights, 95, Harvard Law Review, 1982, 1193, p. 1238. (30) R. B. Sunstein e C. R. Stewart, Public programs and private rights, 95, Harvard Law Review, 1981. Página 1 18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 1/8 O DIREITO DIFUSO À INFORMAÇÃO VERDADEIRA E A SUA PROTEÇÃO POR MEIO DAS AÇÕES COLETIVAS - A função social da informação O DIREITO DIFUSO À INFORMAÇÃO VERDADEIRA E A SUA PROTEÇÃO POR MEIO DAS AÇÕES COLETIVAS - A FUNÇÃO SOCIAL DA INFORMAÇÃO Revista de Direito Privado | vol. 10 | p. 154 | Abr / 2002 Doutrinas Essenciais de Responsabilidade Civil | vol. 8 | p. 41 | Out / 2011DTR\2002\688 Luiz Manoel Gomes Júnior Área do Direito: Consumidor Sumário: 1.Introdução - 2.O direito à informação - 3.Os direitos difusos - 4.A tutela coletiva e sua relevância - 5.Existe um direito difuso à informação verdadeira? - 6.Conclusões - Bibliografia 1. Introdução A influência e a importância da imprensa, atualmente, são fatos incontestáveis. Com a velocidade com que as informações trafegam, mas do que nunca se pode falar em um "quarto poder da República". A imprensa elege candidatos, isso ao potencializar suas virtudes, por sinal às vezes inexistentes, bem como impede, em alguns casos, a livre escolha pelo eleitor. São afirmativas que podem dar margem a alguma polêmica, mas é inegável a ocorrência de tais fatos. Contudo, como não há poder/faculdade que possa ser ilimitadamente exercido, o que nos propomos a responder, com este trabalho, é a seguinte indagação: existe um direito difuso que proteja a coletividade contra informações inverídicas? Positiva a resposta, pode o mesmo ser tutelado (protegido) mediante ações coletivas? Em outras palavras, a imprensa deve obedecer a um princípio que a obrigue a publicar apenas o que for verdadeiro e, caso desatendido esse postulado, pode ser responsabilizada do ponto de vista coletivo? Para esse trabalho é irrelevante a utilização das demandas individuais, sempre cabíveis nas hipóteses de ofensas à moral ou mesmo prejuízos materiais. Vamos além, pois analisaremos a viabilidade de que danos causados a uma coletividade por notícias inverídicas possam, ou não, receber tratamento coletivo. 2. O direito à informação Um direito atualmente muito valorizado é o relacionado à informação. Conforme apontado por Nelson Nery Junior, 1ao analisar a questão sob a ótica do direito do consumidor, "(...). Encontram- se, assim, preconizados na Constituição Federal (LGL\1988\3), os direitos metaindividuais, assegurando o bem da vida, compatível com as necessidades de uma época em que tudo e por tudo se faz urgente a preservação do meio ambiente, da qualidade de vida sadia, da saúde, do trabalho, da educação, da informação, das condições gerais do meio a que se submete o ser humano, sua incolumidade física e psíquica, enfim, da vida em suas relações num sentido amplo". Prossegue afirmando que: "Os princípios constitucionais reiterados pelo Código de Defesa do Consumidor refletem sua proteção constitucional, consagrados como direito e garantias fundamentais e inseridos entre os direitos sociais. Queremos dizer que a Constituição Federal de 1988 não somente atribuiu ao Estado a defesa do consumidor, mas alocou o dispositivo entre as garantias e direitos fundamentais, individuais e coletivos, em seu art. 5.º, XXXII, da CF/1988 (LGL\1988\3). (...) Neste momento, podemos visualizar e comparar a projeção entre os preceitos constitucionais e a Lei 8.078/90, criada para a defesa do consumidor, como previu o art. 5.º, XXXII, da CF/1988 (LGL\1988\3), com ênfase ao princípio da informação, do qual se extrai o dever de informação do fornecedor e o direito básico à informação adequada do consumidor, dos arts. 4.º, IV, 6.º, III, do CDC (LGL\1990\40)" - destaques nossos. Defende referido doutrinador, com indiscutível razão, a existência de um princípio derivado do de bem informar o consumidor, ou seja, o princípio da transparência e veracidade. Esse último traria consigo a necessidade de existir, nos contratos, escritos ou não, uma relação de equilíbrio entre os contratantes, com a informação correta sobre o produto e/ou serviço. Trata-se de um dever 18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 2/8 de lealdade entre as partes, mesmo na fase denominada pré-contratual, ou seja, corolário do princípio de bem informar. Acrescenta 2que: "Do dever de prestar informações não estaria eximido o fornecedor sob qualquer argumento e em qualquer tempo, tendo-se o direito inequívoco de exigir sempre as informações sobre o produto ou serviço adquirido, sob pena de estar sendo flagrantemente violado o princípio da transparência, o que provoca, inclusive, a falta de lealdade na relação contratual, mesmo ao pré-contrato, e, ainda, pela falta de informação clara e correta, que não pode ser dispensada em qualquer relação de consumo" - destaques nossos. Podemos, seguindo tal trilha, afirmar que os órgãos de imprensa são fornecedores, nos termos do art. 3.º do CDC (LGL\1990\40), 3com a conduta regulada por esse Diploma Legal. De outro lado, incidindo o Código do Consumidor, qualquer exegese deve sempre privilegiar o destinatário dos serviços prestados, de modo a proteger os direitos disciplinados pelo legislador. A advertência de Norberto Bobbio 4nunca foi tão atual. O que é relevante em nossos dias não é mais fundamentar um determinado direito, mas sim protegê-lo. A questão deixou de ser filosófica, tendo natureza jurídica e, na verdade, com amplo conteúdo político. "(...). Não se trata de saber quais e quantos são esses direitos, qual é a sua natureza e seu fundamento, se são direitos naturais ou históricos, absolutos ou relativos, mas sim qual é o modo mais seguro para garanti-los, para impedir que, apesar das solenes declarações, eles sejam continuamente violados" - destaques nossos. O direito à informação, no caso, é uma espécie de direito coletivo que merece a mais ampla proteção, incluindo-se no conceito de "serviço", mesmo em seu aspecto amplo. Não é atual a preocupação em se apontar a relevância dos denominados direitos coletivos. Conforme anotado por Paulo Bonavides, 5foi Karal Vasak, em aula inaugural dos cursos do Instituto Internacional dos Direitos do Homem, em Estrasburgo, na França, que bem delimitou o desenvolvimento das diversas categorias de "direitos". Em um primeiro momento, tivemos os direitos de primeira geração, ou seja, aqueles que de modo pioneiro constaram das Constituições dos diversos países. Podem ser incluídos os direitos civis e os políticos, ambos pertencentes à primeira fase do constitucionalismo. 6 Procurou-se assegurar um direito de defesa do indivíduo contra o Estado, 7como pode ser verificado nos institutos jurídicos do habeas corpus e do mandado de segurança. Os de segunda geração resultam do impacto causado pela Revolução Industrial e o nascimento da "classe operária", não havendo em favor dessa a real utilização dos direitos até então garantidos. Sem um salário digno, o acesso à saúde, à educação, tudo o mais parecia ilusório. As doutrinas socialistas nasceram com a finalidade de atenderem tais anseios, inclusive com o apoio da Igreja Católica - Papa Leão XIII. As Constituições da França (1793 e 1848), além da brasileira de 1824 e a alemã de 1849, já previam os direitos de segunda geração que objetivavam igualdade de oportunidades, valorizando a dignidade da pessoa humana, com garantia de alimentação, saúde e amparo aos idosos. Tais direitos dirigiam-se "(...) à proteção, não do homem isoladamente, mas das coletividades, de grupos, sendo direitos de titularidade difusa ou coletiva. Tem-se aqui o direito à paz, à autodeterminação dos povos, ao desenvolvimento, à qualidade do meio ambiente, à conservação do patrimônio histórico e cultural". 8 Já os direitos de terceira geração originaram da noção de um mundo globalizado, dividido em nações ricas e pobres, desenvolvidas e subdesenvolvidas. Há uma valorização de um lema difundido pela Revolução Francesa: a fraternidade. Incluem-se nos direitos de terceira geração o direito ao desenvolvimento, ao meio-ambiente, 9à paz, à propriedade em relação aos bens comuns da humanidade e à comunicação. Segundo a doutrina, 10"(...) fala-se em direitos de terceira geração, assim eqüidistantes dos direitos individuais como dos valores corporativos, já agora tomando o homem em dupla projeção: de um lado, na sua integração física com o planeta (meio ambiente no senso naturalístico), e, de outro lado, na sua interação com os semelhantes, podendo falar-se de direitos de fraternidade ou de comunhão universal. Neste último plano, pontificam os chamados interesses metaindividuais, notadamente os de maior amplitude social, ditos difusos, já normatizados dentre nós (art. 129, III, da CF/1988 (LGL\1988\3); Lei 8.078/90, art. 81, I) (...)". Paulo Bonavides 11chega a mencionar direitos de quarta geração, que incluiriam o direito à 18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 3/8 democracia, à informação e ao pluralismo. Segundo esse, seria a "globalização dos direitos fundamentais". Considerando que determinados danos (ambientais, por exemplo, ou a venda de produtos tóxicos), produzem efeitos além das fronteiras previamente delimitadas, há a necessidade de serem tais debelados e eficazmente combatidos. Estamos, assim, em uma "era de direitos", e a atuação do exegeta, ao analisar este tema, deve partir de tal perspectiva. Hoje, não interessa, apenas, a defesa intransigente do lucro ou da livre iniciativa, ambos valorizados, mas exige-se, ainda, que haja o atendimento de sua função social indispensável em qualquer tipo de atividade, individual ou coletiva. 3. Os direitos difusos O conceito de que seriam os direitos difusos está bem delimitado na legislação, com a adesão da doutrina, não ocasionando qualquer tipo de dificuldade. Na lição da doutrina: 12"(...). a) Interesses difusos (art. 81, par. ún., I, do CDC (LGL\1990\40)): "São os interesses transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas, ligadas por circunstâncias de fato. É aquilo que transcende a um indivíduo, podendo ser exercitado em conjunto em razão de elementos comuns (circunstâncias de fato). As pessoas, aqui, são indeterminadas. (...)". Seriam aqueles direitos que pertencem a uma quantidade de pessoas indeterminadas, que não podem ser precisamente delimitados, sendo exemplo clássico o direito ao meio-ambiente equilibrado, mas que possuem uma relação com o fato que o origina (relação base). Já nos direitos coletivos há também uma relação fática base, mas os seus titulares podem ser identificados. Vincenzo Vigoriti, 13por sua vez, assinala a distinção básica entre direito coletivo e direito difuso, verbis: "La differenza essenziale e fondamentale fra gli interessi colletivi e quelli diffusi sta proprio qui. Entrambe le formule si referiscono ad una pluralità di situazioni di vantagio di carattere individuale, ma nel primo caso esiste un'organizzazione, espressione della strutura tendezialmente unitare del colletivo, che assicura unicità di trattazione degli interessi correlati ed uniformità di affeti dell'accertamento giurisdizionale; nel secondo caso gli interessi vengono ancora atonisticamente considerati e mancano quindi gli strumenti per una valutazione unitaria. Questo mi pare il senso ultimo del ricorso alla figura dell'ente esponenziale da parte de Giannini, questa la ragione principale della necessità del mecanismi di coordinamento fra gli interessi". Já os interesses individuais homogêneos (art. 81, par. ún., III, do CDC (LGL\1990\40)) são apenas acidentalmente coletivos, pois poderiam receber tutela individual de forma eficaz, mas por questão de economia processual e, ainda, para evitar a contradição entre julgados, admite-se a tutela mediante ações coletivas. Nestes, inclusive, podem-se admitir resultados diversos, valorizando aspectos individuais de cada consumidor. 14Exige-se, apenas, que as questões comuns tenham prevalência em relação às individuais. 4. A tutela coletiva e sua relevância Importante acrescentar que o legislador ordenou um sistema próprio para a tutela dos interesses oriundos dos conflitos de massa da sociedade, a chamada tutela jurisdicional diferenciada, no dizer de processualistas italianos. Com efeito, cuida-se de reflexo dos conflitos sociais que se instauraram no último século. Cada vez mais, preza-se a tutela de direitos como saúde, educação, cultura, segurança, meio ambiente sadio, direitos esses de natureza fluida, atribuindo-se sua titularidade a todo e qualquer cidadão. 15 Não se afasta, é claro, o caráter individual destes direitos, mas desloca-se o enfoque das relações intersubjetivas para as relações inerentes às sociedades de massa, e portanto, aos direitos que transcendem a esfera do indivíduo. 16 Em tal contexto é que se insere o sistema processual do novo século, com o tema emblemático da coletivização dos direitos. Visando a dar efetividade a esse processo coletivo surgem inúmeros institutos jurídicos. No mesmo passo, cuida-se do resgate daqueles oriundos do direito processual civil ortodoxo, mais adequados à proteção dos interesses metaindividuais. É o que se depreende, de lege lata, do disposto no art. 18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 4/8 83, caput, do CDC (LGL\1990\40): "para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este Código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela" - grifos nossos. 17 Como apontado pelo Min. Humberto Gomes de Barros: 18"As ações coletivas foram concebidas em homenagem ao princípio da economia processual. A substituição do velho individualismo que domina o direito processual é um imperativo do mundo moderno. Por meio dela, com apenas uma decisão, o Poder Judiciário resolve controvérsia que demandaria uma infinidade de sentenças individuais. Isso faz o Judiciário mais ágil. De outro lado, a substituição do indivíduo pela coletividade torna possível o acesso dos marginais econômicos à função jurisdicional. Em a permitindo, o Poder Judiciário aproxima-se da democracia". Tem-se, assim, a adoção de um sistema que privilegia o tratamento coletivo dos problemas enfrentados por número considerável de pessoas, permitindo o acesso à tutela jurisdicional de indivíduos que estavam ou estão à margem do sistema, tutelando direitos relevantes ou até mesmo aqueles que, individualmente, são mínimos (delitos de bagatela), mas com alto valor se coletivamente considerados. 19 5. Existe um direito difuso à informação verdadeira? Poder-se-ia afirmar que haveria uma colisão de direitos na hipótese retratada, ou seja, o direito de informar por parte dos órgãos de imprensa e a obrigatoriedade de somente divulgar informações verdadeiras? Com a devida venia, a resposta é negativa, pois não estamos nem mesmo diante de uma colisão de direitos fundamentais, ou seja, a proteção de dois valores - direito ao sossego/intimidade e a uma correta informação frente à liberdade de imprensa, por exemplo -, 20mas apenas questionando um ato abusivo e seus reflexos. Atualmente, conforme já adiantado, pode-se falar em um direito de quarta geração, que é o correlacionado com o de informar apenas o que seja verdadeiro, acompanhando a posição da doutrina. 21Não basta simplesmente divulgar, mas devem-se noticiar apenas fatos verdadeiros, atendendo, dessa forma, a função social da atividade informativa. Trata-se de uma preocupação existente, inclusive, em diversos países europeus. Como ponderado por A. Marinho e Pinto, 22analisando a questão no âmbito do Ordenamento Jurídico português: "O primeiro de todos os limites à liberdade de informação é a verdade. Um tal limite estrutura-se no seguinte princípio: nem tudo o que é verdade pode ser divulgado, mas tudo o que se divulgar deve ser verdadeiro" - destaques nossos. Não se pode ignorar, ainda segundo o doutrinador retrocitado, que a liberdade de expressão possui um conteúdo muito mais amplo que o da liberdade de informação em seu aspecto próprio, isso por dispensar, aquela (liberdade de expressão), o limite interno da verdade exigido pelo direito de informar. Atuando no exercício da liberdade de informação, o profissional, sem dúvida, está vinculado ao respeito pela verdade. Tal atuação abrange os fatos que, por óbvio, não têm de ser absolutamente incontroversos. Indispensável, contudo, é que a conduta de quem exerce o direito de informar seja diligente na averiguação dos fatos que envolvam a informação. Exige-se que a informação seja verdadeira. Isso, no entanto, não priva o seu autor da proteção contra informações equivocadas ou mesmo errôneas, mas apenas deixa evidenciado o dever de diligência e cuidado na averiguação dos fatos e, sobretudo, na elaboração do texto informativo. Torna-se exigível que o que foi transmitido haja sido previamente confrontado com dados objetivos, ou seja, que tenham sido realizadas todas as diligências necessárias ao estabelecimento daqueles fatos tidos como verdadeiros. Também, há de ser ressaltado que o Ordenamento Jurídico autoriza a punição não só em decorrência de condutas dolosas, mas, de igual forma, daquelas consideradas negligentes, ou seja, informações baseadas apenas em rumores ou boatos. Em outras palavras: com culpa (negligência, imprudência ou imperícia). Além disso: "Existe, pois, um dever de avaliar a verossimilhança ou inverossimilhança da informação, dever esse que é próprio e específico de quem concretamente exerce o direito de informar. É, portanto, ao informador (seja profissional ou não) que incumbe o específico dever de não ultrapassar certos limites, a fim de evitar a propagação de factos que (mesmo procedendo de fontes consideradas bem informadas ou idôneas) resultem lesivas para os direitos pessoais de terceiros". 23 18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 5/8 Em outras palavras, atuando com negligência ao divulgar fato não verdadeiro, evidente o dever de indenizar, lembrando que o abuso jamais pode ser tolerado. E não é difícil apontar exemplos de notícias que causem danos coletivos: informação inverídica que cause a diminuição do valor de ações de uma empresa; que provoquem pânico aos consumidores que tiverem utilizado determinado produto; que causem prejuízos ao erário por tumultos provocados ou incentivados, dentre outros. Assim, se a informação não for verdadeira e não houver justificativa plausível a tornar ponderável a falha do órgão de imprensa, responde esse pelos prejuízos causados, 24 inclusive morais, sujeitando-se ao procedimento previsto no art. 95, do CDC (LGL\1990\40) e seguintes - Liquidação de sentença - individual ou coletivamente. 25 E nem se alegue que tal exegese, ao permitir o questionamento do ato de divulgar informações inverídicas, atua contra a livre iniciativa ou a liberdade de expressão, pois, na advertência do STJ: 26"A aversão a estes novos instrumentos processuais, que surgiram exatamente para atender a novas expectativas e necessidades sociais, mantém-nos sempre presos ao modelo clássico da ação individual, como se só houvesse o interesse individual. Lembro, a propósito, as palavras do eminente Prof. José Carlos Barbosa Moreira, no encerramento de sua aula inaugural na Universidade do Rio de Janeiro: A filosofia do egoísmo, que impregnou a atmosfera cultural dos últimos tempos, não concebe que alguém se possa deixar mover por outra força que o interesse pessoal. Nem faltou quem ousasse enxergar aí a regra de ouro: a melhor maneira de colaborar na promoção do bem comum consistiria, para cada indivíduo, em cuidar exclusivamente de seus próprios interesses. O compreensível entusiasmo com que se acolheu há dois séculos e se cultua até hoje, em determinados círculos, essa lição de Adam Smith explica o malogro da sociedade moderna em preservar de modo satisfatório bens e valores que, por não pertencerem individualmente a quem quer que seja, nem sempre se vêem bem representados e ponderados ao longo do processo decisório político-administrativo, em geral mais sensível à influência de outros fatores. ( A tutela dos interesses difusos, p. 105) (...)". 6. Conclusões - Bibliografia Considerando o que argumentado, podemos concluir que: a) é indiscutível o papel das ações coletivas como instrumento para a defesa dos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos, permitindo o acesso à tutela jurisdicional a um grupo considerável de pessoas que, em situações normais, ficaria sem qualquer proteção; b) que a imprensa, hoje, tem que exercer sua atividade com o objetivo de cumprir seu papel social, ou seja, a função social da informação; c) responde o órgão de imprensa no caso de divulgação de notícia que não seja verdadeira; d) existe um direito difuso que protege os consumidores contra notícias inverídicas - direito difuso à informação verdadeira - que causem prejuízos de ordem moral ou material, admitindo a sua proteção por meio das ações coletivas. Bibliografia ANDRADE, José Carlos Vieira de. Os direitos fundamentais na Constituição portuguesa de 1976. Coimbra: Almedina, 2001. 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Rio de Janeiro: Forense, 1996. 18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 6/8 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. "A concomitância de ações coletivas, entre si, e em face das ações individuais". RT, n. 782, São Paulo: RT. MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações coletivas no direito comparado e nacional. São Paulo: RT, 2002. NERY JUNIOR, Nelson. "Alimentos transgênicos e o dever de informar o consumidor". In: TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo (Org.). Estudos em homenagem ao Min. Adhemar Ferreira Maciel. São Paulo: Saraiva, 2001. ------ et alii. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária. ______; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil (LGL\1973\5) comentado. São Paulo: RT, 1999. PINTO, A. Marinho e. "Uma questão de honra ou o outro lado dos direitos de expressão e de informação". Sub Judice - Justiça e Sociedade, vol. 15/16, Coimbra, 2000. 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(1) "Alimentos transgênicos e o dever de informar o consumidor". Estudos em homenagem ao Min. Adhemar Ferreira Maciel. Sálvio de Figueiredo Teixeira (Org.). São Paulo: Saraiva, 2001. p. 21 et seq. No mesmo sentido Alcides Tomasetti Jr., "O objetivo de transparência e o regime jurídico dos deveres e riscos de informação nas declarações negociais para consumo", Revista do Direito do Consumidor, vol. 4, São Paulo: RT, 1992. (2) Idem, Ibidem. (3) Os órgãos de imprensa são fornecedores de notícias, de informações, posto que o consumidor ao adquirir um periódico ou mesmo assistir a um documentário ou telejornal, consome a notícia, a informação veiculada. (4) A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992. p. 25. (5) Direito constitucional. São Paulo: Malheiros, 1998. (6) José Hermílio Ribeiro Serpa. A política, o Estado, a Constituição e os direitos fundamentais. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2002. p. 168. (7) Ingo Sarlet. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1998. (8) Paulo Gustavo Gonet Branco, apud José Hermílio Ribeiro Serpa. A política, o Estado, a Constituição e os direitos fundamentais. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2002. p. 165. (9) V.g., Fernando Paulo da Silva Suordem, O princípio da separação dos Poderes e os novos movimentos sociais, Coimbra: Almedina, 1995, p. 199-200. (10) Rodolfo de Camargo Mancuso. "A concomitância de ações coletivas, entre si, e em face das 18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 7/8 ações individuais". RT 782/26-27, São Paulo: RT. (11) Idem, ibidem. (12) Carlos Alberto Bittar. "Interesses difusos". RT 782/743, São Paulo: RT. (13) Interessi collettivi e processo. Milão: Giuffrè, 1979. p. 43. (14) Aluisio Gonçalves de Castro Mendes. Ações coletivas no direito comparado e nacional. São Paulo: RT, 2002. p. 220-221. (15) Como ponderado por Nelson Nery Junior ( Código brasileiro de Defesa do Consumidor. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária. p. 433): "(...) as regras tradicionais do direito privado, fundadas na dogmática liberal do século XIX, não mais atendem às necessidades das relações jurídicas de hoje (...). O excesso de liberalismo, manifestado pela preeminência do dogma da vontade sobre tudo, cede à exigências da ordem pública, econômica e social, que deve prevalecer sobre o individualismo, funcionando como fatores limitadores da autonomia privada individual, no interesse geral da sociedade". Segundo autorizado entendimento doutrinário: "(...) eram poucos os segmentos sociais que tinham importância para quem fazia ciência e para quem contava a história. Com isso queremos dizer que, por exemplo, quando se estuda a história dos povos da Antigüidade, de Roma, por exemplo, ignora-se que Roma era uma pequena ilha de civilização num mar infinito de ignorância, miséria e doenças (um vilarejo pestilento e malcheiroso de esgoto a céu aberto). Mesmo em Roma, embora não se tenha uma idéia estatisticamente precisa, cabe perguntar quantos seriam aqueles efetivamente beneficiados pelo notável nível de desenvolvimento a que chegou o direito romano. "Hoje, na era da civilização das massas, as coisas não se passam mais assim. Existe uma tendência bastante marcada a que todos os bens da sociedade, todos os frutos da civilização, sejam acessíveis a todas as camadas sociais. Camadas sociais antes marginalizadas hoje têm efetivo acesso aos centros de decisões (conforme comentamos nos itens 1 e 1.1). Existem, é claro, infelizmente, milhares de pessoas que não têm este acesso: mas este fenômeno é percebido, sentido e se fazem reivindicações, o que, em épocas passadas, seria inconcebível" (Teresa Arruda Alvim Wambier. Controle das decisões judiciais por meio de recursos de estrito direito e de ação rescisória - Recurso especial, recurso extraordinário e ação rescisória: O que é uma decisão contrária à lei? São Paulo: RT, 2001. p. 357-358). (16) Patrícia Mara dos Santos Saad Netto. Liquidação de sentença nas ações coletivas. Trabalho inédito apresentado na Disciplina Direito Processual Civil I, Profa. Thereza Alvim, Mestrado da PUC- SP, 2001, p. 43. (17) Na verdade, em pertinente advertência: "(...) não se pode olvidar da significativa contribuição do Código do Consumidor, no tocante ao alargamento da legitimação para a defesa de direitos individuais homogêneos, para o aprimoramento do processo civil como ciência, sobretudo neste final de século, a perder o seu perfil predominantemente liberal-individualista e voltar-se prioritariamente para o social e o coletivo (...)" (STJ, EDiv em REsp 141.491/SC, rel. Min. Waldemar Zveiter, j. 17.11.1999, RSTJ 135/30). (18) STJ, MS 5.187/DF, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 24.09.1997. (19) Ajuizamos, recentemente (dez./2001), várias ações coletivas visando obrigar a concessionária dos serviços fixos de telefonia do Estado de São Paulo (Telesp) a detalhar nas faturas dos consumidores a relação das ligações locais, tal como nas ligações interurbanas e a cobrar, pois, ainda que eventuais diferenças em desfavor dos consumidores pudesse ser desprezível economicamente do ponto de vista individual, com certeza teria valor considerável se comparada com toda a gama de ligações realizadas no Estado. De qualquer modo, o consumidor tem o direito de ser bem informado. Ainda não há nenhuma sentença, mas em todas as ações houve a antecipação da tutela, com questionamento em sede de agravo de instrumento. (20) José Carlos Vieira de Andrade. Os direitos fundamentais na Constituição portuguesa de 1976. Coimbra: Almedina, 2001, p. 311. (21) Paulo Bonavides. Direito constitucional. São Paulo: Malheiros, 1998. (22) "Uma questão de honra ou o outro lado dos direitos de expressão e de informação". Sub Judice - Justiça e Sociedade, vol. 15/16, p. 75 et seq, Coimbra, 2000. (23) A. Marinho e Pinto. Op. cit. 18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 8/8 (24) "(...). A doutrina e os tribunais germânicos têm abordado ultimamente a determinação do conteúdo da notícia comunicada/transmitida: exige-se o dever de veracidade da difusão, o qual é concretizado mais no cumprimento de um dever de comprovação do que no caráter verdadeiro ou falso da notícia. A jurisprudência constitucional alemã inclui também, como condicionante da apreciação da preponderância da liberdade de imprensa, o critério da finalidade perseguida pelo sujeito. Para apreciar o interesse público com o qual deve revestir-se a notícia, requerem os tribunais da Alemanha que a atividade seja dirigida a incidir na formação da opinião pública e não sobre interesses de tipo privado. (...). As linhas gerais que guiam esse juízo ponderativo como forma de resolver os conflitos entre as liberdades em foco e os direitos à honra, à vida privada, à intimidade e à imagem das pessoas, encontram suas primeiras repercussões no seio da doutrina e jurisprudência brasileiras. Nunes Júnior alinha-se particularmente com o entendimento espanhol, e tribunais já agasalham esse entendimento, de forma evidente as seguintes regras: 1) o direito à informação é mais forte que o direito à honra. 2) Para que o exercício da liberdade de informação, em detrimento da honra alheia, manifeste-se legitimamente, é necessário (...) que a informação seja verdadeira (...)" (Tadeu Antonio Dix Silva. Liberdade de expressão e direito penal no Estado democrático de direito. São Paulo: IBCCrim, 2000. p. 280-282). (25) Segundo Alcides de Mendonça Lima ( Comentários ao Código de Processo Civil (LGL\1973\5). Rio de Janeiro: Forense, 1991. vol. VI, p. 508-509): "(...). A liquidação, portanto, é formalidade indispensável para tornar a sentença exeqüível, de modo que o credor fique habilitado a formular sua pretensão executiva ao Estado e, conseqüentemente, o devedor fique em situação de poder suportar as medidas coativas correspondentes. Sem isso, nem o credor tem meios de saber o que deve exigir e, correlatamente, nem o devedor saber o que tem de cumprir. O fato de ser o direito assegurado, mas não determinado, incontinenti, na sentença, não podia prejudicar o credor. Isso importaria, em última análise, em deixar sem vida um direito legítimo e, como tal, reconhecido na sentença. Daí a necessidade da liquidação como meio legal de tornar exeqüível a sentença, e efetivo o direito por ela reconhecido", na lição de Fraga (...). (26) STJ, EDiv em REsp 141.491/SC, rel. Min. Waldemar Zveiter, j. 17.11.1999, RSTJ 135/32-33. Página 1 18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 1/4 DERECHO E INFORMACIÓN DERECHO E INFORMACIÓN Revista de Direito Privado | vol. 14 | p. 55 | Abr / 2003 Doutrinas Essenciais de Responsabilidade Civil | vol. 8 | p. 55 | Out / 2011DTR\2003\804 Carlos A. Ghersi Área do Direito: Consumidor Sumário: 1.Introducción - 2.La función ideológica de la información - 3.El sujeto de derecho y la información 1. Introducción La sociedad de consumo se nos ofrece en si misma como un "bien" de disfrute abundante y de infinitas posibilidades. La información aparece cumpliendo una función de trascendencia, así en la toma de decisiones (aspecto psicológico); en la conveniencia o utilidad de los precios y o sus financiamientos (aspectos económicos); la cobertura o satisfacción de una necesidad (aspecto antropológico); la defensa o tutela del consumidor (aspecto jurídico) etc., sin embargo no podemos afirmar o fundamentar con firmeza y convicción que socialmente esto sea satisfactorio. Muchas veces nos deslumbramos por una herramienta, que como la información 1evidencia democratización en el uso y consumo de bienes y servicios, pero no podemos negar lo que Marcuse denominó "el mentís de los hechos" y en este sentido es que hoy queremos dirigir nuestra humilde contribución abocándonos a dos cuestiones: la superestructura de la información y el sujeto de derecho como su construcción útil. 2. La función ideológica de la información Un consumidor informado sin duda marca un hito importante en la historia de los derechos del consumidor, pero no lo convierte solo por ello en soberano, solo le permite evitar un mal superior: el consumismo indiscriminado. La hiperinformación y/o la tecnoinformación que las empresas intentan colocar en el mercado como un "producto" mas, crean, un efecto demostración, de allí que es necesario advertir sobre éste problema, pues se trata solo de un nuevo ardid para que se aprecie el nivel en que aquellas sitúan al consumidor y no por el consumidor mismo. La abundancia de información facilita (como la publicidad) la persuasión y manipulación del consumidor, apareciendo así un nuevo fenómeno: la superestructura de la información, por la cual las empresas y los grupos económicos controlan la economía, el mercado y la sociedad de consumo, bloqueando la reacción del consumidor como persona concreta en la satisfacción de sus necesidades. 2 La información se presenta como un nuevo valor cultural del consumismo social, y la apariencia indica que el consumidor tiene un comportamiento racional, sin embargo, se persiste en la manipulación 3ahora con una organización distinta: la superestructura de la información. El consumidor informado aparece así como un hombre integrado, piensa en apariencia, sin embargo la organización de la información enmascara el pensar por él y el consumidor deja de ser independiente y mantiene su carácter de manipulado. 4 Es por ello que queremos advertir que la legitimación de la información no debe significar un enamoramiento para fundar la soberanía del consumidor, por el contrario, este último siempre será un factor de la renta del capital. Es cierto que la información evita la alienación del consumidor, pero hay una correlación inversa entre el grado de información como fenómeno superficial y la justificación del nivel de decisión, es decir, "mas", no es "mejor". Entiéndasenos bien no estamos negando la necesidad e importancia de la información, es mas, la distinguimos como la herramienta para evitar el mal individual y social del consumismo y eficiente para construir una sociedad de consumo sustentable. 18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 2/4 Pero lo grave es que la organizada y agobiante información con que las empresas intentan cumplir con la norma o premisa de informar, no es la respuesta adecuada en un mundo de infinitas relaciones globalizadas. Es necesario crear la conciencia de clase en los consumidores como categoría de incluidos, donde mas allá de la información y su utilidad, prime el consumo para la calidad de vida. En síntesis, la información es un derecho del consumidor para enfrentar al mercado y las empresas, pero no debemos caer en una generalización abstracta e impropia constituyéndola en un valor solitario y reivindicativo de los incluidos sociales. 5 La superestructura de información montada por las empresas y los grupos económicos en esta posmodernidad, como fenómeno propio, es una cualidad para mejorar la categoría de consumidores, pero también es una estrategia del capital para consolidar su dominio y en esto último es que hay que estar atentos. 3. El sujeto de derecho y la información La otra hipótesis que queremos abordar es la consideración de las personas como sujetos de derecho, que se presumen culturizados y cognocentes de las leyes, donde la información entonces es una mera abstracción, sumamente peligrosa, pues no se le permite alegar la ignorancia de la ley o la información o retractarse en sus propias declaraciones, pues es un sujeto bien informado. La idea del sujeto de derecho, es derivada del sistema, es decir el sujeto queda contenido en el sistema y pertenece a su orden simbólico fuera del cual no existe. 6 De esta forma se fragmenta al ser: en su rol de sujeto de derecho (como consumidor) y el
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