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~ 11..;0XEROX VALOR •••~ .( PASTA _,_'3- _ PROFO. MATÉRIA cJ):t O'27J~ ORIGINAL. ,159 CONSTITUCIONALISMO E DEMOCRACIA - SOBERANIA E PODER CONSTITUINTE I Vera K"ram de Chueiri e Miguel G. Godo)' CONSTlTIJTlON4L1SM ~ND PEMOCfU1CI' - SOVéRé/GNTYAND CONsnWfNT "alYf'" RESUMO CONCILIAR JEIoiOCRACII\ E CONSTtWf:IONAUSMO t UMA TARES::I\ TÃO t:Ut.PLEXA CUANTO PR:JBLEMÁncA. EIS o PARADOXO: A DEMOCRACIA SfCNllCA O "'OVO J~CIUINl)O AS flIJI:SIOl;;S f-'OUIt::AMI:.NIl;; "ELEVANTES JI\ SUA COMUNIDADE, INClJStVE 05 CONTEÚDOSDA Cf)~SJITlJlç.An; • O ClJNSTiTlJCIONAIISM[l SIClN1FICA, PO~ S,JA Vr7. UMIlES Â SOBERANIA PorULA,R, A CONSTITUIÇÃO SE AUTOIMPOe (:0"'0 MANIFESTAÇÃO DA SOBERII.,IA POPULAR ;: 00 PODER r.lJ"SIIIU1Nll:., VINr.lILANllfl A~lJOS. ASSIM, A CIll\JUGACAO I:Nml: r:O"STlTUCIONALISMO E O!MOCRACI ••.•REMETE /I. ounl\. aUE eçA NA !lU" nA~r, 0111\1 ~r IA, r"mn snnrRANIA r J'on.rl l:ONSTtTII" .F. O ARTIr.n I"RF-P.H)F F)(P ORAR FSSAS DIIAS ItFIAçn~c.,. A DA ,o:.oAnUtNlh r.Ot-l ri pnOFR r':m',J,"'TlTltl,TF F h no 1:IIl\SIlIUr:tUNAI1SMlJ COM A IIH-lOr.14Ar:IA, Mll.".11MNllO A" I~N"I)f-" l'lllf- 1 HF "'Ao r:nNSTlTlrTlV,.,S. SOllRFTlHJO rwv, AFIRMAR lIMA COM: -f'(:ÃO nr nrMfJf:UAC:IA nn IrlntATlVA orFrNnlOA fJOU CA,UI rJS SANIIAr.O NINO I- IlnHl-lllfl GAIlf':AIIf-11 A. PALAVRAS-CHAVE CONSTITUCIONALISMO: DEMOCRACIA: SOBERAI\IA £ "lOOER CONSTlTIJINTF. A8STRACT ro CONCILlME DEMOCR/lCY ANO CDNSnrUTlONALlSM IS /, COMPlEX ANo PROBLéMAnc TASK, TNERé /5 THE P,IR/lOOJt. DEMOCRACY MEANS THE PEDPLf:: D£CID'NG RELEVANf POLITICAt, IS5UES DF TNEIR COMMUNITY INCLUO/NO no/E CONTENTS DF THE'R CONSnrUTlDN, I~ONsnTUrIDNAl.IS.Y. ON ITS SIDE. MEANS TO llMIr POPULAR SOV;:REIGN,r, CONsnrunON IMPOSES ITSE:LF AS THf IAANIFfsrATlON DF POPULAR SOVERE/GN ry ANO CONS nTUEN T POWEIi' L!NI'ING BOTH, rHUS, THE CONJUGt.TlON DF CONsr/TunON/l1.l5M /l1\'{J OEMOCRACY LEt.OS TO ANOTHiR WHICI/ 1$ IN Ir$, OR/(JIN. I,C., SOVEREIGNrr ANO CONSTlrLJENr POWER, 7"HIS /lRr/[.'lE /lIM$ AT DISCU5SING THESE TWO REEUI110NS. 1.[,. CONSTlrUfNr POWER ANO SOViREEIGNTr ANO CONsrll'JTlOI~AlIS'" ANO OEEMOCRACY S,,",OWING THE'R CONsrlTUflNG TENSION$ IN ORDER ro AFFIRM NlNo'~ ANO GARGAr.élLA '5 CONCEPrION DF DELIBERMIVE DEMOCRACY. KEYWOROS CONsnrUflONAlI5M; OEMOCRACY; SOVEREIONT\' ."'NO CONSTlTUENT POWER, INTRODUÇÃO Frank Milcheman (1999), em lUTIdebate com Jürgen Habermas ocorrido na Cardozo Law School, em 1999, a propósito do seu recém lançado livro à época, Brcnnan and democrocy, inicia dizendo que: [... ) o paradoxo da democracia constitucional aSSlUTIevárias formas. A democracia aparece como auto-governo do povo - as pessoas de um REVISTA DIREITO GV, ~ÀO 1.1H I 1'.1!i?-17/; I i•.••N-.J\JN 7 pro 160, CONSTITUCIONALISMO E DEMOCRACIA - SOBERANIA E PODER CONSTITUINTE 7 r 1~I!I'JOfiJ[1rJffJDIREITOGV 11 amm •• n aIlã1J1(t; VERA KARAM DE CHUEIRI E MIGUEL G. GODOY. 161 país decidindo por si mesmas os cOllleudos decisivos e fundamentais das normas que organizam I'. regulam a sua comunidade política. O constitucionalismo aparece como" contenção da tomada de decisão popular através de uma norma fundamental, a constituição - law of 1awmaking, projetada para controlar ate onde as normóls podem ser feitas, por quem e atraves de quais procedimentos. É parte essencial da noção de constitucionalismo que a norma fmHlamental deva ser intocável pela politica majoritária (que ela deve limitar). (I" 01) Pois bem, conforme o próprio Michclman afirma depois, em seu paper Excerpst from Brennl1n and democracy (e esll~ será o leitmotiv deste artigo), conciliar democracia e constitucionalismo e uma tarefa tão cOll1plexa quanto prohll,mática. Se a democra- cia signifiea o povo decidindo as C\"estões politicamente relevantes da sua comunidade, isso inclui os contcudos dóIconstituição de um país, isto é, as normas que organizam "s instituições do govc',.no e estabelecem limites aos respectivos podens governamentais. Entret"nto, Sl~o constitucionalismo significa limites à sobe.- rania popular, então algtms conteúdos .1" Constituição - Law oJ lawmakJna - devem permanc.cer fora do alcance da decisão móljoritária ou das ddilterações democráticas. Eis o paradoxo que marca a democracia constitucional e que pretendemos enfrentar na Parte 2 destll artigo, a partir das considerações que fazem Carlos Santiago Nino e Roberto Gargarella, especialmente dos diálogos travados I'.ntre ambos na Faculdade de Direito da Universidade d~ Buenos Aires, e entre cada um deles e algtms consti- lucion,,1istas norte-americanos na Faculdade de Direito da Universidade de Yale (Nino) e na Faculdade de Direito da Universidade de Chicago (Gargarella), em torno d" ide!a de (ou na defesa da) democracia deliberativa. Precede a discussão sobre o paradoxo entre democr"ci" e constitucionalismo lima outra, sobre soherania e poder constituinte. Isso, pois partimos, neste artigo, da premissa moderna de que a soberania e popular, e, assim, cahe ao povo a tarefa de se autolegislar, fundando a ordem normativa que lhe regeriÍ, qual seja, a Constituição. Vale dizer, o povo não somente se autoimpoe certas normas, mas exige que elas sejam respeitadas (GARGARELLA, 19%, p. 127-132); daí a necessidade de se pre- servar a Constituição, estabelecida como normativa ordenadora da sociedade (GARGARELLA, 1996, p. 127-128), na medida em que é a primeira ordem que se autoimpõe como manifestação da soberómia popular e do poder constituinte, assim vincuhmdo ambos. Nesse sentido, sustentamos que a conjugação entre constitucio- nalismo e democracia remete a outra, que está na sua base, qual seja, entre soberania e poder constituinte, a qual discutiremos na Parte I do artigo. Por fi!J;l,a partir da conjugação entr, ..soberania e poder constituinte, bem como entre democracia e constitucionalismo, ~uas possibilidades e dificuldades, chegare- mos à concepção de democracia deliberat.iva defendida por Nino e Gargarella, o que, R;: ..•.•ISTA nlRElTO GV. s10 PAUl [) "1111 p, \!i9.11G I ,lAN.,llJN '010 se, por um lado, esgota as pretensões deste artigo, por outro, abre um novo espaço para reOexão e diseussão, o que certamente excede o nosso propósito nesta escrita. I PODER CONSTITUINTE E SOBERANIA 11 vitalidade do Estado depende da permanente possibilidade do conflito, necessitan- do de um soberano o qual, em face das incertezas políticas, incorpore a autoridade 'lUe é superior àquela do próprio direito (CHUEIR1, 2005, 1'.130). Dal a importân- da de se revisitar esse momento de instituição da ordem, isto e, do poder constituinte e, assim, de Se reler Jean Bodin, jurista francês do século XVI que teo- rizou sobre a soberania. Bodin, em seu livro De la RtipublJque, identifica a soberania como o poder absoluto e perpetuo de uma Republica (apud CHUEIRI, 2005, p. 130- 131). Essas duas características, absoluta e perpetua, foram pensadas como condições fixas para o exercido do poder. Ele é perpétuo na medida em que o ver- daddro soberano permanece sempre capturado por seu poder; uma autoridade perpetua, por conseguinte, deve ser entendida como sendo aquela que dura a vida de quem a exerce. É absoluto na medida da sua incondicionalidade; se o poder é condi- cionado não é propriamente soberano e absoluto. Bodin identiJlca o poder soberano a partir do seu lugar, o qual é ocupado pela figura do rei. Entretanto, mesmo Bodin é cuidadoso ao definir a soberania abstrata e impessoalmente. Nesse sentido, seria possível abstrair a Jlgura do soberano tanto da imagem do governo como da imagem do parlamento ou do povo. Não por acaso, a democracia refere-se a um tipo de poder absoluto e perpétuo e, também não por acaso, o Estado de Direito foi compelido a neutralizar o poder soberano como uma tentativa de exorcizar seu pecado original (CHUEIRI, 2005, p. 133-134). Conforme Jacques Derrida (1990), o pensamento moderno tardio sobre o poder soberano - do final do seculo XIX ateo seculo XX - reagiu às definições abstratas e às análises formais da soberania. A fundação da maior parte dos Estados se deu como consequência de uma situação que podemos chamar, genericamente, de revolucioná. ria. Revolucionária no sentido de que uma nova ordem jurídica foi instaurada, e isso em um c~ntexto terrível e de violência e não sem grande sofrimento, Como diz Derrida (1990, p. 991), as revoluções são elas mesmas ininterpreciveis e indecifrá. veis na sua própria violênci.a. Exemplos claros desses momentos revolucionários transgressores, violentos e instituidores de uma nova ordem podem ser a Independência dos Estados Unidos, em 1776, a Revolução Francesa, em 1789, e t.unbém a Revolução Russa, em 1917, ainda que esta não tenha sido liberal. Para a ciência do direito, o poder constituinte e tradicionalmente a fonte da qual a nova ordem constitucional brota. É o poder de fazer a nova Constituição, da qual os poderes constituídos adquirem a sua estrutura. Desta perspectiva, o poder cons- tituinte instala uma ordem jurídico-constitucional totalmente nova. REVISTA DIREtTO GV, SÃO PAULO "11)1 ••. l!i9-17t. I .!AN.JjJN '010 '162. CONSTITUCIONALISMO E OEMOCRACIA - SOBERANIA E PODER CONSTITUINTE IIll:!lI'!7IJ!!lIMJDIREITOGV 11 VERA KARAM DE CHUEfRf E MIGUEL G. GODDY, 163 lf Foi no calor e no entusiasmo da Revolução Francesa que illll abade francês de Chartres, chamado Joseph Sieyés, desenvolveu aTeoria do Poder Constituinte, tendo em mente que toda Constituição pressupõe um poder soberano e constituinte, ao qual todos os demais poderes do Estado estão sujeitos. Esse poder soberano não est.\ vinculado a nada senão a si prbprio. Sieyés escreveu as vésperas dóiRevolução o livro .A constituinte burguesa - que é o Terceiro Estado?, com claras inspirólções nóls obras dI: Locke e Rousseau. É nesta sua obra que Sieyés concebe a existência de um poder imanente a nação, superior aos poderes constituídos e impossível de ser modificado por eles, qual seja', o poder constituinte. Para Sieyés (1997, p. 117-119), óI Constituição pressupõe, antes de tudo, um poder constituinte, representante dói soberania popular. Ou seja, os poderes resultantes da Constituição estão e são sub- missos a um poder constituinte anterior, a vontade soberana popular, e, portanto, tal poder não estaria viÍlculado a nada mais a não ser a sua prbpria vontade (SIEYÉS, 1997, p. 117). No entanto, é importante destacar que a ideia de soberania, para Sieyés, fundava-se na soberania nacional, e não na soberania popular, pois para ele a idéia de povo estaria subsumida na ideia de nação. Isto porque, para o abade francê~, o conceito de nação estava ligado a imagem do Terceiro Estado, e este se sobrepunha ao Clero e a Nobreza (SIEYÉS, 1997, 1'.118). ' Contemporanearnente, o poder constituinte é rediscutido pelo filbsofo político Antonio Negri (2002, p. 07-24), que o concebe de maneira bastante radical. Para ele, o poder constituinte não se manifesta apenas como fonte onipotente e expansi. va que produz normas constitucionais de todo o ordenamento juridico (NEGRI, 2002, p. 08-09). O filósofo também o considera sujeito desta produção, desta ativi- dade igualmente onipotente e expansiva (NEGRI, 2002, p. 07-08). Negri mostra como a tarefa de ordenar o poder constituinte enquanto sujeito da política e para a política democrática 'é complexa. Para ele, falar de poder constituinte é falar de democracia. "E qualificar constitucional e juridicamente o poder constituinte não será simplesmente produzir ~ormas constitucionais e estruturar poderes comtHui- dos, mas, sobretudoi ordenar o poder constituinte enquanto sujeito, a regular a política democrática" (NEGRI, 2002, p. 08). Negri cita Burdeau (BURDEAU, 1983, p. 171) para mostrar como o poder cons. tituinte apresenta, dó ponto de v;sta jurídico, uma dificuldade exc(:pcional, dada a sua natureza hlbrida.'A potência do poder constituinte é avessa a uma integração total em um sistema hierarquizado de normas e competências, permanecendo sem. pre estranho ao direito (BURDEAU, 1983, p. 171). É um poder que filllda o direito, mas se opõe a sua fu:hdação. Essa dificuldade se acentua ainda mais pelo fato d" a democracia ser rebelde a constitucionalização (NEGRI, 2002, p.07-24/207.20H). Vale dizer, a demOl.Tacia é a teoria do governo absoluto, ao passo que o consti~ucio- nalismo é a teoria do governo limitado, da democracia limitada. O poder constitUinte, sob a btica juridica, é a fonte de produção das normas comtitucionais. R:VI5TA OIREHO GV. SÃO PAULO 111111 I'. 159.17& I.JAN-~lJN ;>1110 3 Paradoxalmente, é um poder onipotente, 'lue surge do nada e organiza todo o direi. to. No entanto, deve ser temporalmente limitado, encerrado em uma factualidade (NEGRI, 2002, p. 07-09). . Ao compreendermos o lugar da sober.ulÍa como um lugar de indistinção entre o dentro e o fora, como uma zona de inerróldicável tensão, então é possivel pensá.lól em termos do poder constituinte sem qUOllquersacrifício mútuo (CHUEIRI, 2005, p. 138). A partir disso, vale ressaltar o qu,: asseverou Sieyés (1997, p. 117-1 19) ~o dizer que a Constitui\:ão pressupõe um poder constituinte em primeiro lugar, Isto e, óIconstituição pressupõe a si própria como poder constituinte, e aqui está o parado. xo da soberania. ConformeNeg~!, o poder constituinte não emana de poder constit~ído algum; não é uma instituição do poder constituído. É, antes, um ato de escolha, a determI- nação radical que descortina um horizonte, ou, ainda, trata-se do radical dispositivo de algo que ainda não existe e cujas condições de existência pressupõem que o ato criador não perca suas caracteristicas na criação (CHUEIRI, 2005, p. 136). Na gram£tica da ciência jurídica, o poder constituinte significa onipotência, oni. presença e nenhuma limitação. Entretanto, esses significados são sacrificados pela pragmática, pelo uso dessa gramática, que, ao contrário, exerce uma espécie de domesticação do poder constituinte. Dessa forma, a Constituição, criada pelo poder constituinte e para a democracia, mostra-se como obstáculo do próprio poder cons. tituinte e da própria democracia (da soberómia popular) (NEGRI, 2002, p. 07.08), Em outras palavras, o direito toma o poder constituinte como algo absoluto, ~nipo- tente, ilimitado e depois o limita, nl:gando suas caracteristlcas atraves do estabelecimento dos poderes constituídos (NEGRI, 2002, p. 07-24). É preciso recuperar esta ideia e esta práxis de <lue o povo, soberano',ao se auto. legislar, cria e funda a Constituição, atrav<:. de toda radicalidade que esta em tal ato constituinte, impolldll a si mesmo as regras c os limites que regularão os seus pode. res constituídos. I Façamos uma brevissima remlssao II filosofia primeira, ao livro Theta da Metciflsica, de Aritbteles (1984, p. 181), no qual o autor se refere ao ser não como uma entidade fixa, mas como um vir-a.sel', um ser em transformação ou em movi. mento. A fonte desta tr.msformação é dY"llmis, a (lual não se conflU1de com aquilo que muda, a entidade fixa. Nesse sentido da Jynami., aristotélica, o poder constituin. te pode ser pensado não como completamente em.mcipado da ~oberania, mas corno uma potencialidade constituinte. Na mesma medida em que potencialidade não (pre)domina (sobre) a atualidade ou, ao contrário, nesta se dissolve, pois anlbas são modos do ser primeiro, o poder constituillte não (pre)domina sobre a sober;mia ou esta se dissolve naquele. A soberania retém óIsua potencialidade ou seu poder cons- tituinte, porem na forma de uma suspellsão. "Por isso é tão difícil pensar 'uma constituição da potencialidade' inteiramellte livre do princípio da soberania como RE\'IS1A DIREITO GV, 'iÀQ PAULO hI1t I •... l!i9.17l. IJAtl.l1JN 7010 164, CONSTITUCIONALISMO E DEMOCRACIA - SOBERANIA E PODER CONSTITUINTE IXlrnwlllllll!>l:tJOIREITOGV 11 VERA KARAM DE CHUEIRI E MIGUEL G. GODOY I 165 tffil poder consLituinte que tenha definitivamentequebrado com o bando que o liga ao poder constituído" (AGAMBEN, 2007, p. 54-). Voltamos, então, ao problema inicial, isto é, a dificil e paradoxal relação entre constitucionalismo e democracia, (re)tornada agora como a relação entre o poder constituido e o poder constituinte. Difert'.ntemente de Negri, "nt"ndemos ser poss{- vel conceber que o constitucionalismo, em vez de frear o poder constituinte, exibe-o e o reafirma quando garante e protege os compromissos hist6ricos e sociais conquis- t.ados ao 100)godo tempo. Isso acontece 'Iuando. por exemplo, o constitucionalismo institui não s6 a proteção, mas mecanismos de salvaguarda das minorias. Também acontece quando se respeitam e se protegem os reclamos feitos sob a forma de pro- t.estos dos grupos sociais mais necessitados. Se, por um lado. para Negri (2002). o constit.ucionalismo sempre se refere ao passado, por outro, ele acontece no presen- te, não como mera repetição do passado, mas como condição para o exerclcio dos direitos, ist.o é, como condição para a ariío polltica. e, assim. o constitucionalismo abn penpectivas para o futuro. Ou seja, pode/deve também o constitucionalismo olhar para o present.e e ter vistas ao futuro. E isso ocorre justamente nesses momen- t.os de concretização dos compromissos hist.óricos assumidm constitucionalmente, 'luando, por exemplo, garante-se que o sil(~ncio irrompido pelos protestos das mino- rias vilipendiadas não será suprimido, mas ouvido. Em lIm trahalho da década de 1980, o professor francês CblUde Lefort (1981) se rei'eriu à democracia como um processo constante de reinvenção de direitos. Nesse sentido, contra todas as formas de totalitarismo, ele defende lima revolução demo- cratica, cuja principal caracteristica é o cnnflito, o qual não deve, de forma alguma, ser erradicado da sociedade. Lefort (198 I, p. 118) mostra como a revolução demo- crática operada nas sociedades contemporâneas apartou o poder do Estado, até então ligado ao corpo do rei. Diante disso, o poder aparece como um lugar vazio: aqueles que o exercem fazem-no de maneira temporária e nele a unidade não podé apagar a divisão social. É também preciso pensar o sentido dos conflitos, que supõem, ao mesmo tempo, o fato do poder e a busca de um.• consideração das diferenças no direito (LEFORT, 1981, p. 62). Esses conflitos constituem cada vez mais as especifi- cidades das sociedades democráticas mod".rnas. Dessa forma, a democracia inaugura a experiência de uma sociedade inapreensivel, indomesticavel, na qual o povo é dito soberano, mas também não cessa de questionar sua identidade, e esta permanecerá lat.ente (LEFOKI~ 1981, 1'.118). As reivindicações feitas em forma de protesto pelas parcelas marginalizadas da sociedade (aquelas que padecem de igualdade e liberdade) não somente evidenciam os conflitos (pollticos, sociais, econômicos, culturais etc.), mas demandam a todo t.empo e de todas as formas uma sociedade mais justa, igualitária. Elas reafIrmam a potência do poder constituinte na concreção dos direitos fundamentais e, com isso, renovam o constitucionalismo. Por isso, Lefort (1981) afirma que é preciso "explorar R::VISTA DtREITO ov, SÃO PAULO I>l1l1 ",159.114 I.JAN-JlJN 7010 .. os recursos de liherdade e de criatividade nos quais se abebera uma experiência que acolhe os efeitos da divisão; resistir à tentação de trocar o presente pelo futuro; fazer o esforço ao contrário para ler no presente as linhas da sorte indicadas com a defesa dos direitos adquiridos e a reivindicação dos direitos novos, aprendendo a distingui- los tio que é apenas satisfação de interesse" (I" 69). A tensão entre poder constituinte e poder constituído tem de ser entendida, neste contexto tenso, como um sinal vigoroso no sentido de uma esfera pública radicalmen- te democrática (CHUEIRI, 2005, p. 14-5). Se é o poder constituinte um impulso, ele limda a Constituição, mas nela permanece em tensão com os poderes constituídos. Esses poderes - chamemos de constitucionalismo - defenderão e resguardarão a pr6- pria constituição, não porque formalmente ela se impõe como norma fundamental (Kelsen) ou como decisão política fundamental (Schmitt), mas porque. conforme Nino (2003. p. 166-187), se a democracia possuiu um valor epistêmico, isso requer a consi- deração de interesses expressados em tempos e espaços pr6ximos para preservar a eonvenção ,:onstitucional.2 Talvez nos 'seja dado aqui a pensar (com Nino) que, ao se preservar a convenção constitucional, mantém-se o impulso constituinte. Ao valor epistêmico da democracia agrega-se algo que escapa à tradição kantiana presente nas mnsiderações de Nino, pois está além dos procedimentos para se chegar aos melhores princlpios morais. ,(ue são a pr6pria potência ou o impulso constituinte que, de uma forma não naturali7.ada, mas hist6rica, está presente onde quer que o povo se manifes- te e onde quer que haja constituição por força do poder (COllstituinte) popular. Nesta dynamis entre poder constituinte e poder constituido, democracia e consti- tucionalismo, é que se pode entender que uma constituição - falemos da nossa, a hrasileira de 1988.- não pode ser simplesmente datada no dia de sua promulgação, assinl como o pode.r constituinte não pode ser datado no momento da formação da Assembleia Constitllinte, em 1987. Poder constituinte e Constituição devem ser pen- sados como um prncesso, como acontecimentos, isto é, lutas e reivindicações, nas quais "vontade de poder" e "vontade de Constituição", corno diria Hesse (1991, p. 19-20),3 não s6 temionam o arco, mas impulsionam a flecha no sentido da constitui- ção. Por isso, é' indesejável datar o poder constituinte que deu origem à atual Constituição da República no Brasil em 10 de fevereiro de 1987; ta,mpouco é desejá- vel encerrá-lo no dia da promulgação da Constituição. em 5 de outubro de 1988. O poder constituinte como potência constituinte se manifestou muito antes de 10 de fevereiro de 1987 e ainda está presente na pr6pria Constituição. Vale dizer: no exem- plo recente da hist6ria constitucional brasileira, o poder constituinte (como potência) remonta aos movimentos ou as ações empreendidos pela sociedade civil brasileira e iniciados em 1985 e reaparece, como força, toda vez que se pretende atingir a cons- tituição com golpes como a convocação de uma nova assembleia nacional constituinte ou com mutações constitucionais provocadas por quem não tem competência consti- tucional para t~to, como, por exemplo, o poder executivo.4 REVISTA DIREito ov, SÀQ PAULO 61111 lO, 1~9.17t. I I.hN'.JlJN 7010 166. CONSTITUCIONALISMO E DEMOCRACIA - SOBERANIA E PODER CONSTITUINTE 1RIl\!70~0!JIIJ DIREITOGV 11 VERA KARAM DE CHUEIRI E MIGUEL G. GDDOY I 167 Nesse sentido, soberania e poder constituinte, e poder constituinte e poder constituído, estabelecem uma dinâmica a qual possibilita a instauração e a manuten- ção de uma const!tuição. Vista de outra perspectiva, essa dinâmica ou esse movimento refere-~e à capacidade do povo de se autolegislar e fundar a ordem nor- mativa que lhe regerá. Ao se impor uma ordem normativa e, com isso,' constituir-se como comunidade política, o povo exige, ao mesmo tempo, que tal ordem seja res- peitada. Para tanto, limites são, paradoxalmente, estabelecidos à soberania popular. Daí a segunda parté deste artigo, a qual diz respeito a esta paradoxal relação entre constitucionalismo e democracia. 2 CONSTITUCIONALISMO E DEMOCRACIA ° constitucionalismo se origina nos Estados Unidos, com a ideia do Rule cf Law, que implica na preservação de determinadas regras jurídicas fundamentais, limitadoras do poder estatal (NiNO, 2003, p. 16-17). Daí, o constitucionalismo adquire uma posição mais robusta', em que o governo, além de se encontrar limitado, assim está a partir de normas jurídico-constitucionais, requerendo em geral um texto escrito, ainda que tal requisito não seja absolutamente necessário. A Constituição expressa não apenas um ser, mas tambémum dever-ser e, para isso, é protegida por proces- sos complexos de modificação (NINO, 2003, p. 16-17). E, por ser a constituição norma, seus princípios devem ser aplicados de maneira a comprometer todas as demais espécies normativas, especialmente através da interpreta\:ão que fazem os 6rgãos públicos legais e o pr6prio povo. Entretanto, nada disso seria sullciente sem a contrapartida democratica, pois a democracia também exerce o papel imprescindí- vel de não acomodar o constitucionalismo em Suas conquistas. Ao contr;lI"io, ela o tenciona a todo tempo, provocando-o e renovando-o através da aplicação e reaplica- ção da Constituição, sua interpretação e reinterpretação, seja pdo povo ou pdo Poder Judiciário. Assim, o poder constituinte, ao instaurar a constituição, estabdece a forma jur!- dica do político, a qual será defendida e garantida pela rigidez do constitucionalislllo. Em outras palavras, estabelece a tensão entre o jurídico e o politieo, entre constitu- cionalismo e democracia. Na perspectiva de Negri (2002), ;\ Constituição se apresenta como f6rmula transcendente, pois se remete sempre ao processo político (poder constituinte) que a instituiu. Ela se apresenta como imanente, pois Sl~reafirma a cada aplicação de suas normas. E, como forma e f6rmula do político; nega e limita o poder expansivo, absoluto, que a construiu. Negri (2002, p. 24.26) questiona se, em vez de tentar superar esta crise subjacente da constituição, justamente por conta dessas características que a fundam, não seria melhor aceita-Ia e então compreender melhor a noção de ausência de pressupostos regulat6rios e plenitude de potência. O que nos interessa sublinhar é a oposição que Negri aponta entre a democracia como R:VI!,.'A OIHEIIO OV. sAO P~l)lO ,1,1111 I', 159-IH 1.IAN.JIJN 'filO rJ ] J forma política do poder constituinte e o constitucionalismo enquanto aquilo que o limita e, ao fazê-lo, nega a própria democracia. Entretanto, tal oposição não pode nos desiludir ou acanhar diante da articulação, ainda que precária, entre constitucionalis- mo e dlmocracia. Ao contrário, partimos do pressuposto (e sobre isto é que vimos insistindo) de que a tensão entre ambos é altamente produtiva (NETO, 2007). A constituição como expressão das conquistas hist6ricas e, em especial, como gi¥'antidora de direitos e liberdades do sujeito foi construída ao longo do século XIX, pelos regimes liberais nos Estados Unidos e na Europa p6s.revolucionária. \ Da mesma forma, a Constituição se opôs aos poderes ilimitados de quem quer que fosse (monarca ou povo), estabelecendo os parâmetros e as extensões da atuação do poder.° que se percebe com essa discussão clássica é que um dos desafios mais evidentes da teoria constituci,)nal é compatibilizar uma Constituição relativamente estável, que assegure a proteção das liberdades e também limite o poder, com a intuição a favor de um autogoverno (GARGARELLA, 1996, p. 128). Gilberto Bercov:ci ~2004) mostra que, assim, a Constituição imporia limites aos poderes do soberano, agora reduzido à categoria de 6rgão do Estado e regido pela lei. Tamhém imporia limites ao poder soberano do povo, na medida em que o Estado Constitucional é um Estado de poderes limitados. Diante disso, ainda que as consti. tuições modernas e contemporâneas fossem (sejam) liberais, elas podem, ou não, ser democr;\ticas, pois nio basta elas atuarem simplesmente como limitadoras do poder (BERCOVICI, 2004). Elas também devem honrar outros compromissos: as conquis- tas histl,ricas logradas, como o sufrágio universal, a vedação da tortura, o pluralismo polítko e a liberdade de expressão, a função social da propriedade, a garantia do devido processo legal, entre outras, sob pena de SI" reverem as trágicas experiências totalil.u-ias do século XX. Daí a importância de a constituição ser sobremaneira democratica e guardar em si a ideia de potência, a carga revolucionária que leva em seu bojo e da qual fala Negri (2002, p. 07-09/4261. Porém, diferentemente do que aponta o autor italiano, pode-se conceber que é a partir da aplicação da pr6pria Constituição, a partir da concretização dos direitos nela previstos, que se pode atl1alizar e revigorar Sua potência, sua carga revolucioná. ria, no Estado Constitucional Democratico. /\ potência revolucionária da Constituição aparece Cjuando da é aplicada, quando ela é o substrato fundamental de decisões que garantem direitos e seu exercício, inclusive o direito de dizer qu~ uma norma constitucional é inconstitucional e, por isso mesmo, desobedecê-Ia. li. 7 E atra- vés da concreção da pr6pria Constituição que a potência, a carga revolucionária da Constituição.é exibida e revigorada. Di,Ulle deste dilema, da insanavel e produtiva tensão entre democracia e const;- Illcionalismo, uma alternativa a ser explorada é a de percorrer um caminho comum oisduas noções, de tal forma a ressaltar as peculiaridades e qualidades do constitucio- nalismo e da democracia, isto é, o fato de que um l, constitutivo do outro, sem que REVISTA DIREITO GV. SÃO PAULO 6111 t ",1!i9-171\ I,lAN-,HJN ~nln , 168, CONSTITUCIONALISMO E DEMOCRACIA - SOBERANIA E PODER CONSTITUINTE O3OJI:!7O~DIREITOGV 11 VERA KARAM DE CHUEIRI E MIGUEL G. GDDDY, 169 isso signifique necessariamente o fim da tensão ou um eerto apaziguamento ingênuo entre ambos. Esse caminho eomwn pode ser encontrado no principio da igualdade (GARGARELA, 2004, p. 77). A partir das ideias de constitucionalismo e democracia, a igualdade ólssume iIIl~onante papel, ao determinar que todas as pessoas têm a mesma dignidade moral c saO IguaIs em suas capacidades mais elementares. Da mesma forma, todo indivIduo lem igual direito de intervir na resolução dos assuntos que afetam a sua comunida. de, vale dizer, todos merecem participar do processo decisório em pé de igualdade (GARGARELLA, 2004, p. 77). Se desta forma se presta o compromisso com a dcmocracia, por outro lado se presta tambem compromisso com o constitucionalis- mo, na medida em que se preservam certos direitos fundamentais os quais permitem a c••da um lcvar sua vida conforme seus ideais e, ainda, preservando uma estrutura de decisão democrátic ••em que a opinião de cada um vale o mesmo que a do outro. Assim, a igualdade resulta no fundamento ultimo da democracia e do constituciona- lismo (DWORKIN, 2002, p. 305-369). No entanto, há que se ressaltar que a igualdade, em especial a igualdade material (substancial), somente se concretiza quando liberdades moralmente importantes, como, por exemplo, a liberdade de expressão, de religião, de convicção, de orienta- ção sexual, entre outras, forem constitucionalmente garantidas, protegidas e efetivadas (DWORKIN, 2000a, p. 121-123). Essas liberdades s~o fundamentais para decidirem em favor da igualdade, enquanto outras liberdades, como, por exemplo, a liberdade econômica, são importantes na medida de sua limitação pelo poder publi- co (CHUEIRI; FACHIN, 2006 p. 329-330). A noção de igualdade aqui tomada e a defendida por Ronald Dworkin (2000b, p. 124), a qual se configura em não somente assinalar um valor idêntico a cada um, mas LlIubém em igual consideração e r<'speito. . Nesse sentido, incorpora-se também a ideia de que, para tratar todos como iguais, é necessário fazê-lo nas medidas de suas igualdades e, da mesma forma, nas medidas de suas desigualdades. Ou seja, eOl1loexpõe John Rawls (1971), implica assegurar que a vida de cada individuo depende das escolhas que ele fizer, e não das circunstâncias em que ele nasceu. Este ideal concebido por Rawls, em que se assegura a iguald ••de e a vida de cada um segundo suas escnlhas, sem duvida se mostra como um ideal regu- lador e que, destaque-se, está sujeilo a violações por ações ou omissões do Estado e LlInbém dos particulares (GARGARELLA, 2004, p. 79). Assim, o ideal de escolha e decisão de cada um sobre sua vida deve ser observado de maneira crítica, em espedal quando se trata do sistema democr.\ticoe constitucional de países periféricos e lati. 1I0-americanos como o Brasil. Isso porque tal ideal "de escolha e decisão leva em conta as conjecturas culturais, sociais e l~conômicas do sujeito, bem como deve(ria) impli- car um processo mínimo de formação, informação e reflexão criticas sobre sua própria condição. Ademais, esta cOllcepção individualista, na esteira dq que se propõe R:V1STA DIREITO OV. ~À(J PAlJLO 111111 ~. 159-114 I JAN.,lL N ;'01n e, compartilhando da noção de igualdade proposta por Roberto Gargarella (2004, p. 79), também engloba a possibilidade de tomar decisões coletivas orientadas a reme- diar situações de coletividades evidentemente prejudicadas. É a partir, sobretudo, da igualdade acima discutida (e/ com liberdade) e da exis- tência e fruição de instrumentos que facilitam e permitem atuações e decisões coletiva~ que se pode pensar em um processo transformador da realidade. Dessa forma, concebe-se a democracia como um processo orientado à transformação. Processo este que, conforme propõe Carlos Santiago Nino (1989), opõe-se à cons- trução social alicerçada no status quo e foge da posição individual e egoísta, para atuar em favo.r de uma posição coletiva, fundada exclusivamente em um processo de cons- trução e reflexão coletivas. Aqui reside a importância da deliberação coletiva enquanto elemento essencial para a tomada de decisões de índole coletivas, já que se parte do pressuposto de igualdade e de que teidos merecem igual respeito e consideração. Se o alcance dos direitos em um determinado momento passa a ser restringido, muitos problemas sociais deixam de ser resolvidos pelo direito, mas poderiam/podem/devem ser resolvidos pelo processo democratico à medida que o povo - os que são afetados por essa restrição - toma parte no processo político, no debate, no processo de decisão. Daí a defesa intransigente de Nino por uma democracia deliberativa que inclua os cidadãos no. processo de tomada de decisões. Vale dizer, a democracia deliberativa rearticula soberania e poder constituinte, constitucionalismo e democracia e acentua o carater produtivo das tensões experimentadas pelos cidadãos, na medida da inexo- rável, porém paradoxal relação que estabelecem entre ~i. CONSIDERAÇÕES FINAIS: DEMOCRACIA DELIBERATIVA A democracia deliberativa pode conciliar, sem ignorar a tensão existente, o Estado de Direito e a soberania popular, em que e ele (Estado de Direito) condição de pos- sihilidade da democracia (SOUZA NETO, 2006, p. 57). Nino (2003, p. 154) parte de uma concepção dialógica de democracia, na qual política e moral não se separam, mas dete.rminam o valor da própria democracia. Assim, Nino foge de um modelo de explicação simplista e enfrenta a tensão entre constitucionalismo e democracia. Nino (2003), a partir das considerações de Rawls e Habermas (em especial as feitas ll:IS obras Uma Teoria da Jurtiça, de Rawls, e Ética do discurso, de Hahermas),R mas diferentemente deles, entende que o conhecimento da verdade moral se dá a partir de um procedimento que privilegia a discussão e a decisão intersubjetiva. O illterc~JTIbi<i de ideias e a necessidade de justificar determinada posição aos outros debatedores/partiCipantes incrementam o conhecimento que o indivíduo possui, detecta defeitos no raciocínio e protege a sua imparcialidade. No entanto, esta prá- tica não exclui a possibilidade da reflexão individual de tambem produzir soluções REVISTA DIREITO IW, SÃO PAULO 1.1111 I', l!i9.171o I JAN.,JlJN '010 170 I CONSTITUCIONALISMO E OEMOCRACIA - SOBERANIA E POOER CONSTITUINTE mIF'JIJ,1l0bffiDIREITOGV 11 VERA I<ARAM DE CHUEIRI E MIGUEL G GODOY I 171 corretas, ainda que este método seja o menos confiavel, dada a dificuldade de ma.""1U- tenção da imparcialidade em tal plano (NINO, 2003, p. 1(,2). Dessa forma, Nino apresenta uma tese que não nega nenhuma das proposições de Rawls e Habermas, quais sejam: a de que a verdade moral se constitui pela satis- fação de pressupostos formais inerentes ao raciocínio pratico de qualqueI: indivíduo, particularmente aquele segundo o qual um principio moral é valido se aceitável para todos os qu~' se encontrem sob condições ideais de imparcialidade, racionalidade e conhecimento dos fatos relevantes (Rawls). Ou seja, conforme Rawls, a pratica social não é relevante para as regras que definem a validade dos princlpios morais (NINO, 2003, p. 162). Ja para Habermas, a verdade moral se constitui ?elo consen- so que resulta da pratica da discussão moral, desde que esta observe o requisito da imparcialidade. Assim, Nino (2003) se vale de ambas as teses para ressaltar oS aspec- tos positivo~ de cada uma; entretanto, para além delas, o autor propõl' o que denomina "construtivismo epistemológico" (1" 166). Nesse sentido, Nino fundamenta o valor epistemológico da democracia na busca da verdade moral através de praticas discursivas coletivas ef ou individuais e põe em evidência a imparcialidade como requisito essencial para a busca dessa verdade. Defender a deliberação como a melhor forma de tomar decisões imparciais não .ig- nifica a ilusão em busca do consenso. Ao contrário, a deliberação é muitas vezes o momento de revelação de um estado de conflito, e não o caminho para um acordo consensual (GARGARELLA, 1996, p. 40). Por isso, Carlos Nino (2003, p. 2(2) não pretende alcançar o consenso como resultado mais adequado ou a solução mais jmta, nem mesmo quando estiverem presentes as condições ideais para o debate., A democracia deliberativa deve ser encarada como o caminho mais confiável para transformar os interesses das pessoas, as suas preferências, e' chegar ao resultado mais correto (NINO, 2003, p. 202). Nesse sentido, a democracia delibe:ativa possui três elementos essenciais: (i) a inclusão de todos os possíveis afetados no processo de deliberação e decisão; (ii) a deliberação como forma de expressão dos argumentos que servirão de fundamento para a decisão e como meio de correção desses argu- mentos; e (iii) a igualdade, já que em situações de desigualdade a deliberação coletiva perde seu valor (GARGARELLA, 2008, p. 167). Se, de um lado, ~ proposta de Nino e Gargarella busca fugir das decisões utilita- ristas e parciais, ao expô-Ias a sabatina argumentativa, de oulro, não consegue escapar ao fato de que em determinados momentos nem mesmo o procedimento legítimo pode impedir tais decisões. Por isso, Nino se preocupa tanto com a defesa das minorias e com a busca e proteção de determinados valores morais, transforma- dos em norma e impassíveis de questionamento. É justamente nesse ponto que Nino acentua a tensão entre constitucionalismo e democracia. A democracia deve ser adotada como procedimento e experimentação numa ação comunicativa e argumcntativa, a fun de que sejam tomadas as decisões I'!::VI5IA otl'l(110 GV, SÃO PA'Jl o "lIll I', I~t'",~1.IAN',JlJN ;010 mora1Jnl,nte mais corretas. No entanto, essas decisües não podem usurpar determi- nados direitos, conquistas, garantias etc. estabel"cidos pela Constituição, O que diferencia Nino dos demais teóricos é que ele não pretende uma teoria que ignore ou supere essa tensão. Ao contrario, é a partir dela que se deve teorizar e com ela se deve conviver. É justamente na constatação de Nino (2003) de que muitas vezes setores da sociedade são impedidos de serem ouvidos que o compromisso com o constituciona- lismo e a democracia precisa ser levado aS ultinlas consequências. A democracia enquanto conquista e processo de tomada de decis,ies insere o sujeito/povo nas dis- cussões e deliberações, ao passo que ó constitul'ionalismo regula este processo, estabelecendo limites, padrões e até mesmo determinações, como a representação" No entanto, muitas vezes o constitucionalismo (ao estabelecer a representação, por exemplo) representa um freio a democracia. Outr.,s vezes, o próprio procedimeJ~to democratico deixa de incluir parcelas sociais que d"veriam tomar parte na d,st.'Ussao,Nesta tensa conjugação, situações como as de manifestação publica e de protesto podl,m resgatar não somente o direito que posstwm esses sujeitos marginalizados, mas também o próprio fundamento democrático que os permite e os legitima a serem ouvidos e tomarem parte no processo de discussão e decisão, reavivando, ólsshn, o poder constituinte latente da Constituição. As sociedades plurais requerem mais do que uma simples representação ou delibe- ração. É preciso uma ampla representação e uma ampla deliberação e isso só é óllcançó,dopor meio da inclusão institucional daqueles que estão a margem do proces- so deliherativo (GARGARELLA, 1998, p. 274). É na escuta desses reclamos e protestos que o constitucionalismo e a democracia podem e devem exercer o papel de inclusão e promover a igualdade de condições, para que esses sujeitos marginalizados se insiJ'anl no processo democrático e também tenham seus direitos concretizados. É possível concluir, portanto, que a democracia só se realiza se determinadas con,li\'ões jurídicas 'estiverem presentes. E essas condições são justamente os princí- pios e as regras estabelecidos pela constituição. Ao mesmo tempo, a constituição so adquire um sentido perene se l,stá situada em um ambiente radicalmente democrá- \.ico. Nesse sentido, a tensa e produtiva rela~,ão entre constitucionalismo e demol'racia, fundada na relação entre poder constiluinte e wterania, pode ser mais hem cnmpreendida a partir da proposta de democracIa delJ1:ieratlva defendIda por Carlos S. Nino e Roberto Gargarella, pois, longe d" ignorar a tensão imanente a essa rela~'ão, pode e deve, ao contr:lrio, potencializá-Ia em fólVorda concretização de direitos e da ampliação do rol democrático. I un•• AP •• vA •• ID1/D6I2D1D) , RECEBIDO E/oI '4/05/2010 REVISTA DIREITO OV, SÃO PAULO MIl I 10',159.111, I " •.•••N •. JlJN ?nlO r .. 172 I CONSTITUCIONALISMO E DEMOCRACIA - SOBERANIA E PODER CONSTITUINTE ~1~OIREITOGV 11 VERA KARAM DE CHUEIRI E MIGUEL G. GODOr I 173 NOTAS I Uma parte du renexõell Upollt;u nellle trabalho roi apresentada por MJguel G. Gorloy na I Jornaf'a ,Ie Júvenell Invesrig,,,durl:tl. na l:awlllal1e ,ie Oirrito ria Ulllv,~rshlafte de Bucnoll Airell (UBA), em outubro rle 2009. 2 Conforme Nino (2003, p,16tl-IH7). 11 valor lia democracia clltá em rua natureu epilltêmlcl, poi. é o I'roccdi~cnto ma(ll cunfiávd para lU' t:hcgar ao runhecinu:nro dos princlpios moralll, Por eMe motivo, essa vida uio é lima vls:lo pcrrel'Cionl8ta, na mediria em que Pl'l~1I1'IUP()f~uma diferenciação entre balizas morais, lImltamlo-Ae o valor I'pilltr:micu da democracia àquelas que são de Ultlme1',"-intersubjetlV1.. j Segurulu K, Hellse (1991): -A Constituição transforma-lIc em força ativa se easlll tareras rorem erctiumcnte ,cali7.adu, se cxilltir a disposição ,lc nrientar I l,rúpria conduta aegunflo il ordem nela elltabeleclrla, ae, a rtellllCllo de IUllos os quelltionamentoll c rClIervall pruvenlf'lltcll ,to. jU{7.01lde con\'('nl~lIcia, se puder irlcntiOcar a vonlldr. de I'(mCrcti7.ar csu unlcm. Concluindo, pode-sr .•firmar que a Constltulçl0 converter-se-! em força ativa se n7.1'rern-se pres~nte~ lia consciência geral - parllcularmeltll'. na consciência dos prlnlip.all responsáveis pela ordem constiluclonal ", nao su a vontade rle pone=r (Willl' '.ur Machl), mas também a vontade de Constituição (WlIl~ zur VerfAllsun~). Essa vunt;vlc fie Cnnlltituíção orlglna-lle lle tr~s vt'rlrllte~ diversas. Baseia-se na cumpreenllão da neccssidarle e ,lo ",1'lr de lima onlem normativa inqucbrant~vel. que prolrl. o Estaflo contra o arbltrlo drarnedldo e disforme. Reside, 19ualml~nte, 11" cumprecndo ele quc un ordem constltu(.l" i: maill 110 que uma ordem legitimada pelos fatos (e que, flIlr Isso, lIeCe,$liita rle clitar .em cunlltante procl:IIl10 fie le~llllnação). Assenta-lIe tamhém nA consciência de que, ao contrÍTitJ.ifl que I'C da com uma lei tio pensamento, ellu ordcm 'I,\n logra ser enca'l. !Icm o rOIIl'Ur$O ria vontade humana". (p. 19, .2(1), •• Apena, como excmplos rlr muuçãu l'onlltitucional Inconlltitudun.1 levarta a cabo pelo Poder cJCl:utlvo pudemos citar: a (I) lnohservincla I'ur partc 111'Estados e Municípios tiilJl rr.gras conlltltlJcJonais 'que elrtabelrrrm o l,agamentn de precatórios, sobretunu u dever Ih. Inclusão em lIeus orçamenlus da verba necc.sária para ° rc'pcl1:lvo pagamento. conforme determina o art,lgo 1On, ~ 1°, da Constituição: (11) " c1rApropriação fIe terras sem o pal:J.mento "rUivo fIa lndenlu.ção, conforme ,h~termlna li artigo 5°, XXIV, (ta COllltitulção; (UI) o remanelamento de Vl'rbas IIrçamcnt~rl8JIllCm autorlução legislaltva, em .Ii"uota. ao disposto no artlgll S", VI, da Constituição. 5 É importante salientar que tia metadl' llH lIéculo XIX em diante, I If)b~ranll. ao menos rormalmcntc, é l,clUlada I'umo c"crcÍf.'io tio porlu pelo povo l' para o (JlIYo. Assim, o Conlltltuclon.IiSll\o funciona como limitad.or destr (leuler 'luC outrora (séculos XVI c XVIII) sr f:entrali1'.lu nas mãOlI (lo rcL 6 Sobre a pos.dhlllcladc + d('c1arar a 111I'unstituclonalldadc de nurmu constirucionais, ver: BACHOI, Otto, NOlmlJs con"WucJonalJ JhCOnsWueJonah,' (Coimbrlil: Almedlna, 1994), 7 Subre I pOll«ibilirlade tie rlC=llo1tedlênclaI1vtl em (ace de nurmu InCfmlltltudonalll, ver: ARENDT, Hannlh, TI,'mpot l"cs~nul (Barcelona: Gcrli8l, 2U06)i BELTRAN, M. C'i CA~IEW, G. L.i AL1.10NE, O. (orgl,). DtttchOl humahOl, ,,,IIIII&n )' rulsunclil (Córdoba: Facultad de Derecho y Ciendas Sodalell de la Unlvetlldad Nacional de Córrloba, 2II06)i BUZANEll.O, Jose CarlQll, Dlle/lo Jr. usWlncJa ettnstltucfonl1/, 2, ert. (P.:o fie Janeiro: Lumen Jurill, 2006); OWORKIN, ltonald. L''ffJnJo os tllrmos tJ ,erfo, Trai!. JefTenoll 1.JJlz Camargo, 2. ed. (510 l'lulo: Martin. Fontel, 2007, p. J IS-+2)i CARGAREu.A, Roberto. 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Ilmt-IHlI;ONSllIllr:IClNAI; IJOS PllorlllA/"'AS JE OR/lOUACAo E rCs.OJMOUl\çAo DA FIICIA.OAOE DE DIREITO DII UNIV[kSIUADC FCOCRo\l 00 :PAfM",A IUFP'R1 COOROrNADORA r.O NI:CI ro "CONSTlTlJCIOI'-A' 15MO r O-"1OCRAC,A: HU':SOHÁ I;. UUtlMAIlCA CONSIII U:;lutJ.Al CUN 11:~I'OHÁNl:)'S" MiaueI G. GoJoy ME5HlANOO EM ommc no ESTAm: PELA Ut\JVEflSIOAfE FEOE~L 00 PAR'"' IUFf'RI P~50lJlSIlOOP~ "101S/51" 1" CAPrS M:t.40nD c reSQUISAOOR 00 NÚCL:O "CON5TITlJr:IONAI15\o10 r nr-.10CnACII\: -11o~on. r U:>GMÁIICA CONS111UCIOl\AL Cl:NILMI':JIIÂNv,s" Il!VIS1A ['IFleltO OV, ';ÀO PA.lLD 611111', lf9-174 I.JMI.,llJN;)IO 00000001 00000002 00000003 00000004 00000005 00000006 00000007 00000008 00000009
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