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1 Faculdade Nacional de Direito – FND – UFRJ Trabalho de Civil III - Contratos – Profª Daniela Barcelos Deborah Mothe – DRE: 115199255 Turma B – 2017.1 – 4º periodo. 2 SUMÁRIO 1. Introdução..........................................................................................3 2. Fato jurídico.......................................................................................3 3. Decisões.............................................................................................4 4. Função Social do Contrato...............................................................6 5. Consequência Jurídica......................................................................8 6. Bibliografia.........................................................................................9 7. Anexo................................................................................................10 3 INTRODUÇÃO Processo No: 0284951-47.2014.8.19.0001 Assunto: Bancários / Contratos de Consumo / DIREITO DO CONSUMIDOR Capitalização / Anatocismo / Juros de Mora - Legais / Contratuais / Inadimplemento / Obrigações / DIREITO CIVIL AUTOR PEDRO NICOLAU GOMES ADVOGADO RJ169514 - IGOR LEAO DE SOUZA LIMA ADVOGADO RJ168804 - ANDRÉ CORRÊA CARVALHO PINELLI RÉU HSBC BANK BRASIL S A BANCO MULTIPLO ADVOGADO RJ147449 - FABIO ROBERTO LOTTI FATO JURÍDICO QUE DEU ORIGEM AO CASO O autor (PEDRO NICOLAU GOMES) propôs revisão das cláusulas de seu contrato com a ré (HSBC BANK BRASIL S/A). Segundo o mesmo, firmou com a referida empresa um contrato de financiamento de veículo e, depois de efetuar o pagamento de algumas parcelas, verificou que no crédito concedido pela HSBC incidiram juros remuneratórios abusivos. Requereu, portanto, a anulação de tais cláusulas contratuais e que a HSBC pagasse em dobro os valores por ele pagos indevidamente. No mais, o autor pediu gratuidade de justiça. 4 Já a HSBC, ré no referido processo, alegou que o contratante, sr. Pedro, já sabia do conteúdo das cláusulas, que foram expostas no momento da contratação do serviço, logo, não haveria conduta abusiva, uma vez que o sr. Pedro já sabia o que estava pagando. A ré pediu para que o pedido fosse negado e que para o autor, sr. Pedro, pagasse as custas do processo e os custos com advogados. Não foi possível resolver de forma amigável, pois o autor, Sr. Pedro, não compareceu na audiência conciliadora. DECISÕES Primeira instância – Cartório da 25ª Vara Cível – Juíza Simone Gastesi Chevrand - declínio de competência em favor do d. Juízo Cível do Foro Regional de Campo Grande, para onde deverão ser encaminhados os autos do processo, já que a parte autora é domiciliada no Foro Regional de Campo Grande e, de acordo com a Súmula 363, STF, “A pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada no domicilio da agência ou estabelecimento em que se praticou o ato”. Logo, não existem motivos para que para que o feito tramite no Foro Central da Comarca da Capital. Primeira instância – Cartório da 4ª Vara Cível – Juíza Erica Batista de Castro: O autor não conseguiu provar que os valores cobrados estavam em desacordo o ordenamento jurídico vigente, de acordo com o exposto no art. 373, inciso I, NCPC1. Portanto, já que o fato não foi comprovado, não haveria motivos para revisão do contrato, mesmo que de apenas algumas cláusulas deste. Já que não há provas suficientes, eis o que a jurisprudência do Tribunal se firma no sentido delineado no acórdão proferido na Apelação nº 000059882.2002.8.19.0032, da lavra do Desembargador Guaraci de Campos, assim ementado: “JUROS BANCÁRIOS. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 40, DE 29.5.2003, REVOGANDO O PARÁGRAFO 3º DO ART. 192 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PREVALÊNCIA DOS JUROS CONTRATADOS POR INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, COMO TAL EXCLUÍDA DA INCIDÊNCIA 1 Art. 373. O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; 5 DO DECRETO 22.626/33 (SÚMULA 596STF.). VEDAÇÃO À PRÁTICA DE ANATOCISMO DESDE QUE HAJA COMPROVAÇÃO POR PERÍCIA CONTÁBIL. AUSÊNCIA DE REQUISIÇÃO. PRESUNÇÃO QUE NÃO SE ADMITE. SENTENÇA CORRETA. APELO DESPROVIDO”. No mesmo sentido está o acórdão proferido na Apelação nº 01356264.2002.8.19.0208, relator Desembargador Antonio Iloizio B. Bastos: “Ação monitória. Empréstimo bancário. Embargos monitórios. Reconhecimento de parte da dívida e alegação de juros abusivos. Ausência de produção de prova pericial para comprovação da prática de anatocismo. A existência do direito de crédito fora provada pelo banco autor, não tendo a ré embargante promovido a perícia contábil necessária à demonstração da alegada cobrança de juros capitalizados, ônus que ao mesmo cabia, por se tratar de fato extintivo do direito do autor, na forma do art. 333, II, do Código De Processo Civil. Sequer apontou a embargante quais valores que entendia por indevidos. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO”. Logo, o juiz determinou que a cobrança feita pela ré é correta e os pedidos do autor são improcedentes, devendo este pagar as custas e honorários advocatícios, conforme requerido pelo réu, no percentual de 10% sobre o valor da causa, devidamente corrigido; no entanto, a execução fica suspensa, pois o autor é beneficiário de gratuidade de justiça. No mais, certificou-se o trânsito em julgado, regularizada as custas e solicitado o arquivamento do processo. Segunda instância – 25ª Câmara Cível – Des. Sergio Seabra Varella: O desembargador ressalta a influência do verbete nº 297 do STJ, que trata da incidência do Código de Defesa do Consumidor (CDC) às instituições financeiras 2. 2 “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras.” 6 Além disso, fala sobre o fato de nas relações de consumo, o princípio do pacta sunt servanda ser relativizado pelo princípio da função social do contrato, de acordo com o art. 6, inc. V, do CDC3. Citou ainda o Enunciado 330 da Súmula do TJRJ4, que diz que a parte autora deve comprovar minimamente os fatos, o que não ocorreu neste caso. Sendo assim, manteve a decisão da primeira instância, negando-se provimento ao recurso e condenando o apelante (Pedro) a pagar os honorários de sucumbência recursal, ressalvando a gratuidade de justiça. FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO Função social do contrato é a relação dos contratantes com a sociedade, pois produz efeitos perante terceiros. A principal consequência jurídica da função social dos contratos é a ineficácia de relações que acaba por ofender interesses sociais, a dignidade da pessoa5. Segundo Caio Mário6, a função social do contrato serve precipuamente para limitar a autonomia da vontade quanto tal autonomia esteja em confronto com o interesse social e este deva prevalecer, ainda que essa limitação possa atingir a própria liberdade de não contratar, como ocorre nas hipóteses de contrato obrigatório. Tal princípio desafia a concepção clássica de que os contratantes tudo podem fazer, porque estão no exercício da autonomia da vontade. Essa constatação tem como consequência, por exemplo, possibilitar que terceiros, que não são propriamente partes do contrato, possam nele influir, em razão de serem direta ou indiretamente por ele atingidos. 3 Art. 6º São direitos básicos do consumidor: V - a modificaçãodas cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; 4 Nº. 330 Os princípios facilitadores da defesa do consumidor em juízo, notadamente o da inversão do ônus da prova, não exoneram o autor do ônus de fazer, a seu encargo, prova mínima do fato constitutivo do alegado direito. 5 http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI16458,61044- Funcao+Social+do+contrato+no+Codigo+Civil+2002 6 Instituições, cit., v. III, p. 13-14. 7 De acordo com Judith Martins Costa7, a função social do contrato atuaria como uma condicionante ao princípio da liberdade contratual. Gonçalves afirma que o atendimento à função social pode ser entendido sob dois aspectos: um, individual, relativo aos contratantes, que se valem do contrato para satisfazer seus próprios interesses e pelo público, que é o interesse da coletividade sobre o contrato. Então, o contrato deve representar uma fonte de equilíbrio social. Sob a visão de Nelson Nery Junior, os juízes poderão adaptar o significado de função social, fazendo uso de valores jurídicos, sociais, econômicos e morais, observando o caso concreto e suas particularidades. Importante lembrar os artigos que regem a função social do contrato, são eles os artigos 187, 421 e 422 do Código Civil (CC/2002)8. Além destes, os dispositivos que fundamentam a função social do contrato na Constituição Federal são: a. Art. 1º, III – A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui- se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; b. Art. 1º, IV – A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui- 7 O direito privado como um “sistema em construção” – as cláusulas gerais no Projeto de Código Civil Brasileiro, RT, 753/40-41, jul. 1998. 8 Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. 8 se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: não intervenção; c. Art. 3º, I – Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: construir uma sociedade livre, justa e solidária; d. Art. 170 – A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios. CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS ATRIBUÍDAS AO LEGISLADOR De acordo com a decisão da primeira e segunda instância, ambos os juízes entenderam que não houve desrespeito ao princípio da função social do contrato, não havendo ofensa aos interesses sociais ou à dignidade da pessoa, já que o autor não conseguiu provar que foi, de fato, lesado no contrato. Houve apreciação do contrato e se existiam cláusulas contratuais que estabelecessem prestações desproporcionais ou a superveniência de fatos que as tornassem excessivamente onerosas. Poder-se-ia falar em um contratante leigo que não tivesse noção de taxas e juros, mas houve apreciação de tal contrato pelo judiciário, que não encontrou nenhuma desconformidade além das acusações, não embasadas o suficiente, do autor. Pela leitura das decisões e do acórdão em anexo, percebe-se que o judiciário se atentou às leis e à preceitos e princípios do nosso ordenamento, não havendo motivos para descordarmos de tal decisão. 9 Bibliografia: 1. Gonçalves, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro vol. 3. Contratos e Atos Unilaterais; 2. Site Migalhas; 3. Vários autores. Fundamentos e Princípios dos Contratos Empresariais. Contratos Empresariais. Série GV Law. 10 ANEXO 11 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos da apelação cível nº 0284951- 47.2014.8.19.0001, em que figura como apelante PEDRO NICOLAU GOMES e como apelado BANCO HSBC LEASING. A C O R D A M os Desembargadores que compõem a Vigésima Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, por unanimidade, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO, nos termos do voto do Relator. Trata-se de ação declaratória na qual o autor alega ter pactuado contrato de financiamento com a parte ré, sustentando ser nula a cláusula contratual que prevê a cumulação de comissão de permanência com demais encargos moratórios, requerendo, portanto, a sua anulação e a repetição de todos os valores indevidamente pagos, de forma simples, acrescidos de juros de mora, a contar da citação, e correção monetária a partir de cada pagamento indevido. O pedido autoral foi julgado improcedente na sentença, de indexador 165, nos seguintes termos: (...) Pelo exposto, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos formulados na petição inicial, condenando o Autor ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, no percentual de 10% sobre o valor da causa, devidamente corrigido, cuja execução, contudo, fica suspensa, por ser ela beneficiária da gratuidade de Justiça. Certificado o trânsito em julgado, regularizadas as custas, arquivem-se com baixa. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. (...). Inconformada, a parte autora interpôs apelação (00178), alegando que suas afirmações estão devidamente comprovadas no contrato bancário acostado aos autos, sendo ilegal a cumulação da comissão de permanência com outros encargos, requerendo a reforma da sentença, a fim de que seja julgado procedente o pedido inicial e declarada nula a cláusula contratual que prevê a cumulação de comissão de permanência com multa moratória. A apelada apresentou contrarrazões, no indexador 191, em prestígio da sentença recorrida. 12 É O RELATÓRIO. Inicialmente, pontue-se que a presente apelação foi interposta com fundamento no Código de Processo Civil de 2015, contra sentença publicada sob a sua égide. Nesse contexto e considerando que o julgamento do recurso ocorre após a entrada em vigor do Código de Processo Civil de 2015, deve ser ressaltada a disposição do art.14 do referido diploma legal, in verbis: Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada. Ressalte-se que a questão sobre a incidência do Código de Defesa do Consumidor ao presente caso se encontra superada pela edição do enunciado 297 da súmula do STJ, segundo a qual “o Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”. A matéria controvertida objeto do presente recurso, devolvida ao Tribunal para conhecimento, consiste em verificar a existência de eventual abuso na cobrança praticada pela instituição financeira apelante, notadamente quanto à cumulação da comissão de permanência com outros encargos contratuais. Da análise dos autos, verifica-se que as partes celebraram um contrato de financiamento de veículo, na modalidade de arrendamento mercantil, cujo contrato - pouco legível - está colacionado no indexador 19. Prosseguindo,com relação à pretensão de revisão contratual, ressalte- se que esta é amplamente amparada na legislação em vigor, notadamente pela Constituição Federal que assegura em seu bojo a intervenção do Poder Judiciário para apreciar lesão ou ameaça a direito da parte (art.5º, XXXV, da CF). Ademais, tratando-se de relação de consumo, o rigor do princípio do pacta sunt servanda é relativizado pelo princípio da função social do contrato. 13 Nesse contexto, válido transcrever o art.6º, V, do Código de Defesa do Consumidor, in verbis: Art. 6º São direitos básicos do consumidor: (...) V - A modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; (...). Dito isto, passa-se à análise da validade da cobrança da comissão de permanência, conforme requerido na inicial. Consoante a inteligência dos verbetes nº 30 e 472 da súmula do STJ, é vedada a cumulação da comissão de permanência com juros moratórios, multa moratória ou correção monetária. Vejamos o que dizem os citados enunciados, in verbis: Verbete nº. 30 da súmula do STJ: A comissão de permanência e a correção monetária são inacumuláveis. Verbete nº. 472 da súmula do STJ: A cobrança de comissão de permanência - cujo valor não pode ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e moratórios previstos no contrato - exclui a exigibilidade dos juros remuneratórios, moratórios e da multa contratual. Entretanto, não há nos autos qualquer comprovação de que a parte ré tenha realizado cobrança indevida ao autor, decorrente da cumulação de comissão de permanência com outros encargos. Destaque-se que o contrato colacionado aos autos pelo autor, no indexador 19, contém partes ilegíveis e páginas que estão cortadas, de forma que não se pode ler a integralidade do que está na margem esquerda do documento, a exemplo do que se vê às fls. 19/22, do indexador 19. Também não há nos autos todos os comprovantes de pagamentos ou, ainda, uma planilha que indique o valor pago, reputado como indevido, 14 havendo apenas a afirmação genérica da cobrança de comissão de permanência cumulada com outros encargos. Logo, verifica-se que a parte autora não traz aos autos qualquer planilha com cálculos ou outra prova que milite em favor das suas alegações no que tange à pratica de cobranças abusivas pela parte ré. Destaque-se, ainda, que o autor não requereu a prova pericial contábil, como ressaltado pelo magistrado de primeiro grau (indexador 161). Desse modo, correta a sentença recorrida, que assim dispôs: Determinada a instrução probatória, o Autor afirmou não ter mais provas a produzir, desistindo da produção de prova pericial contábil, a fim de que suas alegações fossem devidamente comprovadas. Em consequência, não logrou o Autor comprovar o fato constitutivo do seu direito, ou seja, que efetivamente os valores cobrados pelo Réu estavam em desacordo com a legislação vigente, nos exatos termos do que determina o artigo 373, inciso I do NCPC. Portanto, se não comprovou a cobrança dos valores de forma equivocada pelo Réu, não há que se falar em revisão do contrato, e nem mesmo de algumas cláusulas contratuais. Grifou-se. Note-se que, embora a responsabilidade do banco apelado seja objetiva, na forma do artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor, cabe à parte autora, ora apelante, comprovar minimamente a ocorrência dos fatos alegados. Nesse sentido, é o entendimento consolidado através do enunciado 330 da Súmula do TJRJ, que assim dispõe: Os princípios facilitadores da defesa do consumidor em juízo, notadamente o da inversão do ônus da prova, não exoneram o autor do ônus de fazer, a seu encargo, prova mínima do fato constitutivo do alegado direito. Assim, o consumidor não está isento da obrigação de comprovar os fatos constitutivos de seu direito. 15 Logo, não restou comprovada a falha na prestação de serviço do banco réu, alegada na petição inicial, impondo-se a manutenção da improcedência dos pedidos. Neste sentido: 0022198-51.2013.8.19.0008 – APELAÇÃO Des(a). ISABELA PESSANHA CHAGAS - Julgamento: 05/04/2017 - VIGÉSIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL CONSUMIDOR Apelação Cível. Ação de Revisão de Contrato c/c Repetição de Indébito com pedido de tutela antecipada. 1. Trata-se de ação na qual alega a autora que em outubro de 2010 adquiriu uma moto, com financiamento através de contrato de mutuo firmado com o réu, em sistema de alienação fiduciária. Afirma que foi enganada uma vez que o contrato possuiu cláusulas abusivas eis que o valor global do saldo devedor difere da realidade apesentada no momento da contratação. Pleiteia a revisão das cláusulas impugnadas com o retorno do equilibro da relação contratual. 2. O Magistrado a quo, em sentença, julgou improcedente a demanda, com resolução do mérito, condenando o autor no pagamento das despesas processuais e honorários advocatícios. 3. Inconformado apela o autor pleiteando a reforma da sentença eis que não considerou os fatos narrados na inicial. Pleiteia a revisão das cláusulas contratuais abusivas e a condenação em ressarcimento dos danos morais suportados. 4. Incialmente, analisando atentamente dos pedidos apostos na inicial e o contrato entabulado entre as partes, verifico que não restou comprovada a cobrança de comissão de permanência, tarifa de emissão de boleto bancário, tarifa de abertura de crédito e taxa de liquidação antecipada, razão pela qual, em relação a estes pleitos não há o que se considerar eis que a parte autora não comprovou minimamente o direito pleiteado, na forma do artigo 373, I do CPC. 5. Destarte, que consta do inicial pedido genérico de revisão de cláusulas abusivas que não são passíveis de análise por este Colegiado, visto que o artigo 322 e 324 do CPC dispõem que o pedido de ser certo e determinado. 6. No entanto, merece registro os seguintes fundamentos que autorizam a manutenção do julgado vergastado; 7. O entendimento do STJ 16 valida esta possibilidade da prática de cobrança de juros nos contratos celebrados após 31/03/2000. Súmula nº 539 do STJ: "É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual em contratos celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de 31/3/2000 (MP n. 1.963-17/2000, reeditada como MP n. 2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada.” Súmula nº 541 do STJ: "A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada. " 8. Inicialmente, cumpre esclarecer que a Tarifa de Cadastro não se confunde com a TAC - Tarifa de Abertura de Crédito, tal como se depreende da narrativa do autora/apelante; 9. Com a decisão, tomada sob o rito dos recursos repetitivos, a 2ª Seção do Superior Tribunal de Justiça autorizou Bancos e Instituições Financeiras, a cobrar dos clientes, taxas pela inscrição em serviços de financiamento. 10. No tocante à cobrança do IOF, deve se considerar que constitui imposto, fixado por lei, sendo devida a cobrança em operações financeiras. 11. É necessário ressaltar que no momento da contratação do empréstimo pessoal o autor anuiu com todas as condições incluindo taxas de juros, mensal e anual. Sendo assim, considerando que a autora pactuou com o apelado contrato de mútuo, cuja forma e juros eram previamente conhecidos, não há como declarar a ilegalidade da cobrança de juros capitalizados, validamente contratados; 12. Sendo assim, é forço concluir que não restando configurada a falha na prestação do serviço,inexiste danos extrapatrimoniais e materiais a serem indenizados; 13. De uma análise do feito verifiquei que o recurso de apelação em análise insurge-se à sentença publicada em audiência em 15/03/2016, antes da vigência do CPC de 2015. Sendo assim, deve ser aplicado o Enunciado Administrativo nº 7 do STJ, concluindo-se pela inaplicabilidade do art. 85 § 11º do CPC na demanda em análise. 14. Recurso de apelação conhecido e desprovido Íntegra do Acordão - Data de Julgamento: 05/04/2017 (*) DOS HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA RECURSAL 17 Por fim, considerando que o recurso foi interposto contra sentença proferida após o dia 18 de março de 2016, passa-se à análise dos honorários recursais, previstos no art. 85, §11, do CPC/2015, segundo o qual: Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. §11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado em grau recursal, observando, conforme o caso, o disposto nos §§ 2o a 6o, sendo vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos ao advogado do vencedor, ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos §§ 2o e 3o para a fase de conhecimento. Conforme se observa da dicção do dispositivo legal acima transcrito, o Tribunal deverá majorar os honorários fixados na sentença pelo Juízo a quo, com o propósito de remunerar o advogado do apelado pelo seu trabalho suplementar na segunda instância. Ressalte-se, ainda, que os honorários de sucumbência recursal devem ser somados aos fixados em primeiro grau, devendo ser observado o percentual mínimo de 10% (dez por cento) e máximo de 20% (vinte por cento), previstos no § 2º do artigo 85 do CPC/2015, conforme entendimento firmado no Enunciado 241 do FPPC (Fórum Permanente de Processualistas Civis), que ora se transcreve: 241. (art.85, caput e § 11). Os honorários de sucumbência recursal serão somados aos honorários pela sucumbência em primeiro grau, observados os limites legais. Dessa forma, considerando que no presente caso concreto o autor, ora apelante, restou vencido na sentença e na apelação em análise, impõe-se a sua condenação em arcar com os honorários de sucumbência recursal, no patamar de 5% (cinco por cento) sobre o valor da causa, quantia esta que, somada aos honorários fixados em primeira instância, perfazem o valor total de 15% (quinze por cento) sobre o valor da causa, ressalvada a gratuidade de justiça deferida ao autor. 18 Por tais razões e fundamentos, NEGA-SE PROVIMENTO AO RECURSO, mantendo-se a sentença em seus exatos termos. Tendo em vista que o presente recurso foi interposto contra sentença publicada sob a égide do CPC/2015, condena-se a apelante a arcar com o pagamento dos honorários de sucumbência recursal, no patamar de 5% (cinco por cento) sobre o valor da causa, quantia esta que, somada aos honorários fixados em primeira instância, perfazem o valor total de 15% (quinze por cento) sobre o valor da causa, ressalvada a gratuidade de justiça deferida. Rio de Janeiro, na data da assinatura digital. Desembargador Sérgio Seabra Varella Relator
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