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TRABALHO DE CONTRATOS

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Faculdade Nacional de Direito – FND – UFRJ 
Trabalho de Civil III - Contratos – Profª Daniela Barcelos 
Deborah Mothe – DRE: 115199255 
Turma B – 2017.1 – 4º periodo. 
 
2 
 
SUMÁRIO 
1. Introdução..........................................................................................3 
2. Fato jurídico.......................................................................................3 
3. Decisões.............................................................................................4 
4. Função Social do Contrato...............................................................6 
5. Consequência Jurídica......................................................................8 
6. Bibliografia.........................................................................................9 
7. Anexo................................................................................................10 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
Processo No: 0284951-47.2014.8.19.0001 
Assunto: Bancários / Contratos de Consumo / DIREITO DO 
CONSUMIDOR 
Capitalização / Anatocismo / Juros de Mora - Legais / Contratuais / 
Inadimplemento / Obrigações / DIREITO CIVIL 
AUTOR PEDRO NICOLAU GOMES 
ADVOGADO RJ169514 - IGOR LEAO DE SOUZA LIMA 
ADVOGADO RJ168804 - ANDRÉ CORRÊA CARVALHO PINELLI 
RÉU HSBC BANK BRASIL S A BANCO MULTIPLO 
ADVOGADO RJ147449 - FABIO ROBERTO LOTTI 
 
 
 
FATO JURÍDICO QUE DEU ORIGEM AO CASO 
O autor (PEDRO NICOLAU GOMES) propôs revisão das cláusulas de 
seu contrato com a ré (HSBC BANK BRASIL S/A). Segundo o mesmo, firmou 
com a referida empresa um contrato de financiamento de veículo e, depois de 
efetuar o pagamento de algumas parcelas, verificou que no crédito concedido 
pela HSBC incidiram juros remuneratórios abusivos. Requereu, portanto, a 
anulação de tais cláusulas contratuais e que a HSBC pagasse em dobro os 
valores por ele pagos indevidamente. No mais, o autor pediu gratuidade de 
justiça. 
4 
 
Já a HSBC, ré no referido processo, alegou que o contratante, sr. Pedro, 
já sabia do conteúdo das cláusulas, que foram expostas no momento da 
contratação do serviço, logo, não haveria conduta abusiva, uma vez que o sr. 
Pedro já sabia o que estava pagando. A ré pediu para que o pedido fosse 
negado e que para o autor, sr. Pedro, pagasse as custas do processo e os 
custos com advogados. 
Não foi possível resolver de forma amigável, pois o autor, Sr. Pedro, não 
compareceu na audiência conciliadora. 
 
DECISÕES 
Primeira instância – Cartório da 25ª Vara Cível – Juíza Simone 
Gastesi Chevrand - declínio de competência em favor do d. Juízo Cível do 
Foro Regional de Campo Grande, para onde deverão ser encaminhados os 
autos do processo, já que a parte autora é domiciliada no Foro Regional de 
Campo Grande e, de acordo com a Súmula 363, STF, “A pessoa jurídica de 
direito privado pode ser demandada no domicilio da agência ou 
estabelecimento em que se praticou o ato”. Logo, não existem motivos para 
que para que o feito tramite no Foro Central da Comarca da Capital. 
Primeira instância – Cartório da 4ª Vara Cível – Juíza Erica Batista 
de Castro: O autor não conseguiu provar que os valores cobrados estavam em 
desacordo o ordenamento jurídico vigente, de acordo com o exposto no art. 
373, inciso I, NCPC1. Portanto, já que o fato não foi comprovado, não haveria 
motivos para revisão do contrato, mesmo que de apenas algumas cláusulas 
deste. Já que não há provas suficientes, eis o que a jurisprudência do Tribunal 
se firma no sentido delineado no acórdão proferido na Apelação nº 
000059882.2002.8.19.0032, da lavra do Desembargador Guaraci de Campos, 
assim ementado: “JUROS BANCÁRIOS. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 40, 
DE 29.5.2003, REVOGANDO O PARÁGRAFO 3º DO ART. 192 DA 
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PREVALÊNCIA DOS JUROS CONTRATADOS 
POR INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, COMO TAL EXCLUÍDA DA INCIDÊNCIA 
 
1 Art. 373. O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; 
5 
 
DO DECRETO 22.626/33 (SÚMULA 596STF.). VEDAÇÃO À PRÁTICA DE 
ANATOCISMO DESDE QUE HAJA COMPROVAÇÃO POR PERÍCIA 
CONTÁBIL. AUSÊNCIA DE REQUISIÇÃO. PRESUNÇÃO QUE NÃO SE 
ADMITE. SENTENÇA CORRETA. APELO DESPROVIDO”. 
No mesmo sentido está o acórdão proferido na Apelação nº 
01356264.2002.8.19.0208, relator Desembargador Antonio Iloizio B. Bastos: 
“Ação monitória. Empréstimo bancário. Embargos monitórios. Reconhecimento 
de parte da dívida e alegação de juros abusivos. Ausência de produção de 
prova pericial para comprovação da prática de anatocismo. A existência do 
direito de crédito fora provada pelo banco autor, não tendo a ré embargante 
promovido a perícia contábil necessária à demonstração da alegada cobrança 
de juros capitalizados, ônus que ao mesmo cabia, por se tratar de fato extintivo 
do direito do autor, na forma do art. 333, II, do Código De Processo Civil. 
Sequer apontou a embargante quais valores que entendia por indevidos. 
RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO”. 
Logo, o juiz determinou que a cobrança feita pela ré é correta e os 
pedidos do autor são improcedentes, devendo este pagar as custas e 
honorários advocatícios, conforme requerido pelo réu, no percentual de 10% 
sobre o valor da causa, devidamente corrigido; no entanto, a execução fica 
suspensa, pois o autor é beneficiário de gratuidade de justiça. 
No mais, certificou-se o trânsito em julgado, regularizada as custas e 
solicitado o arquivamento do processo. 
Segunda instância – 25ª Câmara Cível – Des. Sergio Seabra Varella: 
O desembargador ressalta a influência do verbete nº 297 do STJ, que trata da 
incidência do Código de Defesa do Consumidor (CDC) às instituições 
financeiras 2. 
 
2 “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras.” 
6 
 
Além disso, fala sobre o fato de nas relações de consumo, o princípio do 
pacta sunt servanda ser relativizado pelo princípio da função social do contrato, 
de acordo com o art. 6, inc. V, do CDC3. 
Citou ainda o Enunciado 330 da Súmula do TJRJ4, que diz que a parte 
autora deve comprovar minimamente os fatos, o que não ocorreu neste caso. 
Sendo assim, manteve a decisão da primeira instância, negando-se 
provimento ao recurso e condenando o apelante (Pedro) a pagar os honorários 
de sucumbência recursal, ressalvando a gratuidade de justiça. 
 
FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO 
Função social do contrato é a relação dos contratantes com a sociedade, 
pois produz efeitos perante terceiros. A principal consequência jurídica da 
função social dos contratos é a ineficácia de relações que acaba por ofender 
interesses sociais, a dignidade da pessoa5. 
Segundo Caio Mário6, a função social do contrato serve precipuamente 
para limitar a autonomia da vontade quanto tal autonomia esteja em confronto 
com o interesse social e este deva prevalecer, ainda que essa limitação possa 
atingir a própria liberdade de não contratar, como ocorre nas hipóteses de 
contrato obrigatório. Tal princípio desafia a concepção clássica de que os 
contratantes tudo podem fazer, porque estão no exercício da autonomia da 
vontade. Essa constatação tem como consequência, por exemplo, possibilitar 
que terceiros, que não são propriamente partes do contrato, possam nele 
influir, em razão de serem direta ou indiretamente por ele atingidos. 
 
3 Art. 6º São direitos básicos do consumidor: V - a modificaçãodas cláusulas contratuais que 
estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes 
que as tornem excessivamente onerosas; 
4 Nº. 330 Os princípios facilitadores da defesa do consumidor em juízo, notadamente o da inversão do 
ônus da prova, não exoneram o autor do ônus de fazer, a seu encargo, prova mínima do fato 
constitutivo do alegado direito. 
5 http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI16458,61044-
Funcao+Social+do+contrato+no+Codigo+Civil+2002 
6 Instituições, cit., v. III, p. 13-14. 
7 
 
De acordo com Judith Martins Costa7, a função social do contrato atuaria 
como uma condicionante ao princípio da liberdade contratual. 
Gonçalves afirma que o atendimento à função social pode ser entendido 
sob dois aspectos: um, individual, relativo aos contratantes, que se valem do 
contrato para satisfazer seus próprios interesses e pelo público, que é o 
interesse da coletividade sobre o contrato. Então, o contrato deve representar 
uma fonte de equilíbrio social. 
Sob a visão de Nelson Nery Junior, os juízes poderão adaptar o 
significado de função social, fazendo uso de valores jurídicos, sociais, 
econômicos e morais, observando o caso concreto e suas particularidades. 
Importante lembrar os artigos que regem a função social do contrato, 
são eles os artigos 187, 421 e 422 do Código Civil (CC/2002)8. 
Além destes, os dispositivos que fundamentam a função social do 
contrato na Constituição Federal são: 
a. Art. 1º, III – A República Federativa do Brasil, formada pela união 
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades 
sociais e regionais; 
b. Art. 1º, IV – A República Federativa do Brasil, formada pela união 
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
 
7 O direito privado como um “sistema em construção” – as cláusulas gerais no Projeto de Código Civil 
Brasileiro, RT, 753/40-41, jul. 1998. 
8 Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos 
bons costumes. 
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social 
do contrato. 
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, 
como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. 
 
8 
 
se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: não 
intervenção; 
c. Art. 3º, I – Constituem objetivos fundamentais da República 
Federativa do Brasil: construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
d. Art. 170 – A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho 
humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência 
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os 
seguintes princípios. 
 
CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS ATRIBUÍDAS AO LEGISLADOR 
De acordo com a decisão da primeira e segunda instância, ambos os 
juízes entenderam que não houve desrespeito ao princípio da função social do 
contrato, não havendo ofensa aos interesses sociais ou à dignidade da pessoa, 
já que o autor não conseguiu provar que foi, de fato, lesado no contrato. 
Houve apreciação do contrato e se existiam cláusulas contratuais que 
estabelecessem prestações desproporcionais ou a superveniência de fatos que 
as tornassem excessivamente onerosas. 
Poder-se-ia falar em um contratante leigo que não tivesse noção de 
taxas e juros, mas houve apreciação de tal contrato pelo judiciário, que não 
encontrou nenhuma desconformidade além das acusações, não embasadas o 
suficiente, do autor. 
Pela leitura das decisões e do acórdão em anexo, percebe-se que o 
judiciário se atentou às leis e à preceitos e princípios do nosso ordenamento, 
não havendo motivos para descordarmos de tal decisão. 
 
 
 
 
9 
 
Bibliografia: 
1. Gonçalves, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro vol. 3. Contratos e Atos 
Unilaterais; 
2. Site Migalhas; 
3. Vários autores. Fundamentos e Princípios dos Contratos Empresariais. Contratos 
Empresariais. Série GV Law. 
 
 
 
 
10 
 
 
 
ANEXO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
ACÓRDÃO 
 Vistos, relatados e discutidos estes autos da apelação cível nº 0284951-
47.2014.8.19.0001, em que figura como apelante PEDRO NICOLAU GOMES e 
como apelado BANCO HSBC LEASING. 
A C O R D A M os Desembargadores que compõem a Vigésima Quinta 
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, por unanimidade, em 
NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO, nos termos do voto do Relator. 
Trata-se de ação declaratória na qual o autor alega ter pactuado contrato 
de financiamento com a parte ré, sustentando ser nula a cláusula contratual 
que prevê a cumulação de comissão de permanência com demais encargos 
moratórios, requerendo, portanto, a sua anulação e a repetição de todos os 
valores indevidamente pagos, de forma simples, acrescidos de juros de mora, a 
contar da citação, e correção monetária a partir de cada pagamento indevido. 
 O pedido autoral foi julgado improcedente na sentença, de indexador 
165, nos seguintes termos: 
(...) Pelo exposto, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos formulados na 
petição inicial, condenando o Autor ao pagamento das custas processuais e 
honorários advocatícios, no percentual de 10% sobre o valor da causa, 
devidamente corrigido, cuja execução, contudo, fica suspensa, por ser ela 
beneficiária da gratuidade de Justiça. Certificado o trânsito em julgado, 
regularizadas as custas, arquivem-se com baixa. Publique-se. Registre-se. 
Intimem-se. (...). 
Inconformada, a parte autora interpôs apelação (00178), alegando que 
suas afirmações estão devidamente comprovadas no contrato bancário 
acostado aos autos, sendo ilegal a cumulação da comissão de permanência 
com outros encargos, requerendo a reforma da sentença, a fim de que seja 
julgado procedente o pedido inicial e declarada nula a cláusula contratual que 
prevê a cumulação de comissão de permanência com multa moratória. 
A apelada apresentou contrarrazões, no indexador 191, em prestígio da 
sentença recorrida. 
12 
 
 É O RELATÓRIO. 
Inicialmente, pontue-se que a presente apelação foi interposta com 
fundamento no Código de Processo Civil de 2015, contra sentença publicada 
sob a sua égide. Nesse contexto e considerando que o julgamento do recurso 
ocorre após a entrada em vigor do Código de Processo Civil de 2015, deve ser 
ressaltada a disposição do art.14 do referido diploma legal, in verbis: 
Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável 
imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais 
praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma 
revogada. 
 Ressalte-se que a questão sobre a incidência do Código de Defesa do 
Consumidor ao presente caso se encontra superada pela edição do enunciado 
297 da súmula do STJ, segundo a qual “o Código de Defesa do Consumidor é 
aplicável às instituições financeiras”. 
 A matéria controvertida objeto do presente recurso, devolvida ao 
Tribunal para conhecimento, consiste em verificar a existência de eventual 
abuso na cobrança praticada pela instituição financeira apelante, notadamente 
quanto à cumulação da comissão de permanência com outros encargos 
contratuais. 
 Da análise dos autos, verifica-se que as partes celebraram um contrato 
de financiamento de veículo, na modalidade de arrendamento mercantil, cujo 
contrato - pouco legível - está colacionado no indexador 19. 
Prosseguindo,com relação à pretensão de revisão contratual, ressalte-
se que esta é amplamente amparada na legislação em vigor, notadamente pela 
Constituição Federal que assegura em seu bojo a intervenção do Poder 
Judiciário para apreciar lesão ou ameaça a direito da parte (art.5º, XXXV, da 
CF). 
Ademais, tratando-se de relação de consumo, o rigor do princípio do 
pacta sunt servanda é relativizado pelo princípio da função social do contrato. 
13 
 
Nesse contexto, válido transcrever o art.6º, V, do Código de Defesa do 
Consumidor, in verbis: 
Art. 6º São direitos básicos do consumidor: 
(...) 
V - A modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações 
desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as 
tornem excessivamente onerosas; (...). 
Dito isto, passa-se à análise da validade da cobrança da comissão de 
permanência, conforme requerido na inicial. 
Consoante a inteligência dos verbetes nº 30 e 472 da súmula do STJ, é 
vedada a cumulação da comissão de permanência com juros moratórios, multa 
moratória ou correção monetária. 
Vejamos o que dizem os citados enunciados, in verbis: 
Verbete nº. 30 da súmula do STJ: A comissão de permanência e a 
correção monetária são inacumuláveis. 
Verbete nº. 472 da súmula do STJ: A cobrança de comissão de 
permanência - cujo valor não pode ultrapassar a soma dos encargos 
remuneratórios e moratórios previstos no contrato - exclui a exigibilidade dos 
juros remuneratórios, moratórios e da multa contratual. 
Entretanto, não há nos autos qualquer comprovação de que a parte ré 
tenha realizado cobrança indevida ao autor, decorrente da cumulação de 
comissão de permanência com outros encargos. 
Destaque-se que o contrato colacionado aos autos pelo autor, no 
indexador 19, contém partes ilegíveis e páginas que estão cortadas, de forma 
que não se pode ler a integralidade do que está na margem esquerda do 
documento, a exemplo do que se vê às fls. 19/22, do indexador 19. 
Também não há nos autos todos os comprovantes de pagamentos ou, 
ainda, uma planilha que indique o valor pago, reputado como indevido, 
14 
 
havendo apenas a afirmação genérica da cobrança de comissão de 
permanência cumulada com outros encargos. 
Logo, verifica-se que a parte autora não traz aos autos qualquer planilha 
com cálculos ou outra prova que milite em favor das suas alegações no que 
tange à pratica de cobranças abusivas pela parte ré. 
Destaque-se, ainda, que o autor não requereu a prova pericial contábil, 
como ressaltado pelo magistrado de primeiro grau (indexador 161). 
Desse modo, correta a sentença recorrida, que assim dispôs: 
Determinada a instrução probatória, o Autor afirmou não ter mais 
provas a produzir, desistindo da produção de prova pericial contábil, a 
fim de que suas alegações fossem devidamente comprovadas. Em 
consequência, não logrou o Autor comprovar o fato constitutivo do seu 
direito, ou seja, que efetivamente os valores cobrados pelo Réu estavam 
em desacordo com a legislação vigente, nos exatos termos do que 
determina o artigo 373, inciso I do NCPC. Portanto, se não comprovou a 
cobrança dos valores de forma equivocada pelo Réu, não há que se falar em 
revisão do contrato, e nem mesmo de algumas cláusulas contratuais. Grifou-se. 
Note-se que, embora a responsabilidade do banco apelado seja objetiva, 
na forma do artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor, cabe à parte 
autora, ora apelante, comprovar minimamente a ocorrência dos fatos alegados. 
Nesse sentido, é o entendimento consolidado através do enunciado 330 
da Súmula do TJRJ, que assim dispõe: 
 Os princípios facilitadores da defesa do consumidor em juízo, 
notadamente o da inversão do ônus da prova, não exoneram o autor do ônus 
de fazer, a seu encargo, prova mínima do fato constitutivo do alegado direito. 
Assim, o consumidor não está isento da obrigação de comprovar os 
fatos constitutivos de seu direito. 
15 
 
Logo, não restou comprovada a falha na prestação de serviço do banco 
réu, alegada na petição inicial, impondo-se a manutenção da improcedência 
dos pedidos. 
Neste sentido: 
0022198-51.2013.8.19.0008 – APELAÇÃO 
 Des(a). ISABELA PESSANHA CHAGAS - Julgamento: 05/04/2017 - 
VIGÉSIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL CONSUMIDOR 
Apelação Cível. Ação de Revisão de Contrato c/c Repetição de Indébito 
com pedido de tutela antecipada. 1. Trata-se de ação na qual alega a autora 
que em outubro de 2010 adquiriu uma moto, com financiamento através 
de contrato de mutuo firmado com o réu, em sistema de alienação 
fiduciária. Afirma que foi enganada uma vez que o contrato possuiu 
cláusulas abusivas eis que o valor global do saldo devedor difere da 
realidade apesentada no momento da contratação. Pleiteia a revisão das 
cláusulas impugnadas com o retorno do equilibro da relação contratual. 
2. O Magistrado a quo, em sentença, julgou improcedente a demanda, com 
resolução do mérito, condenando o autor no pagamento das despesas 
processuais e honorários advocatícios. 3. Inconformado apela o autor 
pleiteando a reforma da sentença eis que não considerou os fatos narrados na 
inicial. Pleiteia a revisão das cláusulas contratuais abusivas e a condenação 
em ressarcimento dos danos morais suportados. 4. Incialmente, analisando 
atentamente dos pedidos apostos na inicial e o contrato entabulado entre 
as partes, verifico que não restou comprovada a cobrança de comissão 
de permanência, tarifa de emissão de boleto bancário, tarifa de abertura 
de crédito e taxa de liquidação antecipada, razão pela qual, em relação a 
estes pleitos não há o que se considerar eis que a parte autora não 
comprovou minimamente o direito pleiteado, na forma do artigo 373, I do 
CPC. 5. Destarte, que consta do inicial pedido genérico de revisão de 
cláusulas abusivas que não são passíveis de análise por este Colegiado, 
visto que o artigo 322 e 324 do CPC dispõem que o pedido de ser certo e 
determinado. 6. No entanto, merece registro os seguintes fundamentos que 
autorizam a manutenção do julgado vergastado; 7. O entendimento do STJ 
16 
 
valida esta possibilidade da prática de cobrança de juros nos contratos 
celebrados após 31/03/2000. Súmula nº 539 do STJ: "É permitida a 
capitalização de juros com periodicidade inferior à anual em contratos 
celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir 
de 31/3/2000 (MP n. 1.963-17/2000, reeditada como MP n. 2.170-36/2001), 
desde que expressamente pactuada.” Súmula nº 541 do STJ: "A previsão no 
contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é 
suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada. " 8. 
Inicialmente, cumpre esclarecer que a Tarifa de Cadastro não se confunde com 
a TAC - Tarifa de Abertura de Crédito, tal como se depreende da narrativa do 
autora/apelante; 9. Com a decisão, tomada sob o rito dos recursos repetitivos, 
a 2ª Seção do Superior Tribunal de Justiça autorizou Bancos e Instituições 
Financeiras, a cobrar dos clientes, taxas pela inscrição em serviços de 
financiamento. 10. No tocante à cobrança do IOF, deve se considerar que 
constitui imposto, fixado por lei, sendo devida a cobrança em operações 
financeiras. 11. É necessário ressaltar que no momento da contratação do 
empréstimo pessoal o autor anuiu com todas as condições incluindo taxas de 
juros, mensal e anual. Sendo assim, considerando que a autora pactuou com o 
apelado contrato de mútuo, cuja forma e juros eram previamente conhecidos, 
não há como declarar a ilegalidade da cobrança de juros capitalizados, 
validamente contratados; 12. Sendo assim, é forço concluir que não 
restando configurada a falha na prestação do serviço,inexiste danos 
extrapatrimoniais e materiais a serem indenizados; 13. De uma análise do 
feito verifiquei que o recurso de apelação em análise insurge-se à sentença 
publicada em audiência em 15/03/2016, antes da vigência do CPC de 2015. 
Sendo assim, deve ser aplicado o Enunciado Administrativo nº 7 do STJ, 
concluindo-se pela inaplicabilidade do art. 85 § 11º do CPC na demanda em 
análise. 14. Recurso de apelação conhecido e desprovido 
 Íntegra do Acordão - Data de Julgamento: 05/04/2017 (*) 
DOS HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA RECURSAL 
17 
 
Por fim, considerando que o recurso foi interposto contra sentença 
proferida após o dia 18 de março de 2016, passa-se à análise dos honorários 
recursais, previstos no art. 85, §11, do CPC/2015, segundo o qual: 
Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao 
advogado do vencedor. 
 §11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados 
anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado em grau 
recursal, observando, conforme o caso, o disposto nos §§ 2o a 6o, sendo 
vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos ao 
advogado do vencedor, ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos §§ 
2o e 3o para a fase de conhecimento. 
Conforme se observa da dicção do dispositivo legal acima transcrito, o 
Tribunal deverá majorar os honorários fixados na sentença pelo Juízo a quo, 
com o propósito de remunerar o advogado do apelado pelo seu trabalho 
suplementar na segunda instância. 
Ressalte-se, ainda, que os honorários de sucumbência recursal devem 
ser somados aos fixados em primeiro grau, devendo ser observado o 
percentual mínimo de 10% (dez por cento) e máximo de 20% (vinte por cento), 
previstos no § 2º do artigo 85 do CPC/2015, conforme entendimento firmado no 
Enunciado 241 do FPPC (Fórum Permanente de Processualistas Civis), que 
ora se transcreve: 
241. (art.85, caput e § 11). Os honorários de sucumbência recursal 
serão somados aos honorários pela sucumbência em primeiro grau, 
observados os limites legais. 
Dessa forma, considerando que no presente caso concreto o autor, ora 
apelante, restou vencido na sentença e na apelação em análise, impõe-se a 
sua condenação em arcar com os honorários de sucumbência recursal, no 
patamar de 5% (cinco por cento) sobre o valor da causa, quantia esta que, 
somada aos honorários fixados em primeira instância, perfazem o valor total de 
15% (quinze por cento) sobre o valor da causa, ressalvada a gratuidade de 
justiça deferida ao autor. 
18 
 
Por tais razões e fundamentos, NEGA-SE PROVIMENTO AO 
RECURSO, mantendo-se a sentença em seus exatos termos. Tendo em vista 
que o presente recurso foi interposto contra sentença publicada sob a égide do 
CPC/2015, condena-se a apelante a arcar com o pagamento dos honorários de 
sucumbência recursal, no patamar de 5% (cinco por cento) sobre o valor da 
causa, quantia esta que, somada aos honorários fixados em primeira instância, 
perfazem o valor total de 15% (quinze por cento) sobre o valor da causa, 
ressalvada a gratuidade de justiça deferida. 
Rio de Janeiro, na data da assinatura digital. 
 
Desembargador Sérgio Seabra Varella 
Relator

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