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Resumo: Princípios de Economia Política, de Carl Menger
Cap. 08 A Doutrina Sobre o Dinheiro
A natureza e a origem do dinheiro
Nos primórdios do comércio dos povos antigos, um indivíduo podia trocar bens dos quais dispunha em excesso por outros bens que desejasse para suprir suas necessidades, com outros indivíduos que possuíssem e estivessem dispostos a trocar esses bens por aqueles que o primeiro indivíduo oferecia. Mas para que haja essa troca, além do interesse mutuo, é necessário que os indivíduos se encontrem. Dessa forma o número de trocas que efetivamente se realizavam era bastante reduzido.
A partir dessa dificuldade de encontro entre os indivíduos foi que estes passaram a trocar seus bens, não por aqueles bens que eles procuravam de imediato, mas por bens que seriam mais facilmente aceitos por qualquer indivíduo em um mercado, com por exemplo cabeças de gado. Esses bens com alta capacidade de aceitação passaram a circular intermediando as trocas fazendo papel de dinheiro.
A troca de mercadorias de menor vendabilidade por mercadorias de maior vendabilidade responde ao interesse de cada pessoa individualmente, mas a conclusão efetiva dessas operações de troca pressupõe o conhecimento desse interesse por parte dos que se dispõem a trocar seus bens por um bem que, para eles, é inútil para uso pessoal, mas que possui vendabilidade maior. 
No início poucos indivíduos tomaram consciência da vantagem da troca por bens de maior vendabilidade, mesmo que para si sejam inúteis. O fato é que essa vantagem independe do conhecimento geral de uma mercadoria funcionando como dinheiro, já que essas trocas levariam a um estágio mais próximo de seu objetivo final.
Levando em conta que os indivíduos de maior visão e maior habilidade comercial tinham o costume de trocar seus bens por mercadorias mais vendáveis, obtendo vantagens econômicas disso, todos os indivíduos passaram a aceitar essas mercadorias em troca de seus próprios bens. 
Esse processo mostra que o dinheiro não surge como uma invenção do Estado, baseada em leis. A adoção de mercadorias como dinheiro é um processe natural a partir das condições econômicas existentes. 
O dinheiro peculiar a cada povo e a cada época
O dinheiro não é uma invenção dos povos resultante de atos legislativos. Com o aumento da atividade econômica os indivíduos passaram a ter consciência de que a troca de mercadorias menos vendáveis por outras mercadorias de maior vendabilidade representa um progresso para o desenvolvimento econômico. Isso porque o dinheiro é um produto natural da economia, em todos os lugares e em todas as épocas, para diferentes situações econômicas diversos bens desempenharam o papel de dinheiro.
Nos períodos mais remotos da evolução econômica, para a maioria dos povos do mundo antigo, o gado foi a mercadoria de maior vendabilidade. Isso se dá por um conjunto de características, como por exemplo o gado é capaz de se autotransportar, tornando o gasto com transporte quase insignificante e a despesa com manutenção é quase nula, bastando um lugar com pastagem abundante. Esses fatores faziam com que o gado fosse o dinheiro natural dos povos antigos.
Os gregos, povo cultural e historicamente em um estágio de evolução bem definido, mostraram que nem mesmo nos tempos de Homero era utilizado o dinheiro em moeda. Os rebanhos é que constituíam as riquezas das pessoas, onde os pagamentos e até as multas eram feitos em cabeças de gado.
Entre os povos germânicos, os utensílios de prata e de argila eram objetos de igual valia, e ter muito gado significava riqueza. Nesse período o comércio de trocas ainda prevalecia, sendo até armas e cavalos utilizados como dinheiro. 
Com o progresso da civilização e da cultura, os centros urbanos começaram a se formar e o dinheiro-gado começou a perder espaço para metais de uso comum como mercadoria de maior vendabilidade. Isso acontecia porque era inviável fazer a manutenção do gado na cidade. 
Efetivamente, com a passagem do estado nômade e de agricultura primitiva para um estágio agrícola mais avançado, o dinheiro-gado é abandonado e dá lugar a metais de uso corrente de fácil extração e maleabilidade como o cobre, a prata, o ouro e até mesmo o ferro.
No caso do México com o povo Asteca, quando os espanhóis chegaram à América, a civilização já se encontrava em um estágio de desenvolvimento em que existiam grandes comércios em diversas cidades, onde a simples permuta de bens já havia sido ultrapassada, semelhante ao processo europeu, e utilizavam certas mercadorias com dinheiro.
Assim, o dinheiro, diversificado de acordo com o tempo e localização, se apresenta não como uma convenção ou ato legislativo, mas como produto natural da situação econômica de diferentes povos em diferentes localidades.
O dinheiro como "parâmetro dos preços" e como forma mais econômica dos estoques destinados à permuta
Com o desenvolvimento crescente do comércio e o funcionamento do dinheiro, podem vir a surgir situações onde se pode permutar entre si qualquer tipo de mercadoria, então pode-se supor que, em determinado período e tempo, exista uma correlação entre toda mercadoria existente na economia, assim quaisquer mercadorias podem ser vendidas umas pelas outras.
	
	Preço efetivo (por quintal)
	Preço médio (por quintal)
	açúcar
	24-26 táleres
	25 táleres
	algodão
	29-31 táleres
	30 táleres
	farinha
	5,5-6,5 táleres
	6 táleres
 De acordo com a tabela e supondo que o preço médio é aquele cujo o produto pode ser tanto vendido quanto comprado, vemos que é possível relacionar qualquer bem um com o outro. Por exemplo, 4 quintais de açúcar representam o "equivalente" de 3 1/3 quintais de algodão, e estes últimos representam o "equivalente" de 16 2/3 quintais de farinha de trigo e de 100 táleres, e vice-versa. Então o valor equivalente de uma mercadoria seria o mesmo que seu "valor de troca". Daí tem-se a tese:
"Em um país no qual existe um comércio intenso", escreve Turgot, "cada tipo de bem terá uma preço corrente correlacionado com o preço de qualquer outro tipo de bem, de sorte que determinada quantidade de um tipo se nos apresentará como equivalente de determinada quantidade de qualquer outro tipo de bem. Então, para expressar o valor da troca de um bem específico, basta evidentemente mencionar a quantidade de outra mercadoria conhecida que represente o equivalente do referido bem. Daí se conclui que todas as espécies de bens capazes de constituir objetos de comércio se medem umas pelas outras - se assim podemos dizer - e cada uma delas pode servir de parâmetro para as demais. "
 Assim chega-se à conclusão que que o dinheiro é o mais adequado "parâmetro de valor de troca". O problema é que o valor do próprio dinheiro é variável, então sendo um parâmetro seguro para determinar o valor de troca de bens para cada momento determinado, mas não em momentos diferentes.
Mas a teoria do valor de troca é questionada por haver inconsistências no que se refere ao preço das mercadorias. Por exemplo, em um mercado onde se vende um produto por determinado preço é possível encontrar o mesmo produto com preços mais altos ou mais baixos. Ou ainda a diferença de preços em que os compradores desejam comprar e os vendedores desejam vender, além de uma possível diferença entre oferta e demanda. Nesse caso, qual seria o "valor de troca" dessa determinada mercadoria? Portanto é impossível sustentar que exista uma medida de equivalência entre as mercadorias.
Portanto, nas condições de um comércio desenvolvido. o dinheiro é, ao mesmo tempo, a única mercadoria com base na qual se pode fazer, sem rodeios, a avaliação de todas as demais mercadorias. Onde desaparece o comércio de trocas (no sentido mais restrito do termo), e basicamente só o dinheiro passa a ser utilizado na compra e venda de mercadorias.
Logo, a mercadoria transformada em dinheiro é, ao mesmo tempo, aquela que melhor se presta para a avaliação dos objetivos práticos das pessoas economicamente ativas e. ao mesmo tempo, para a comercialização dos estoques de mercadorias
destinadas à permuta. Porém, é igualmente certo que ao dinheiro como tal não se pode atribuir a função de "parâmetro de valor" e de "conservador de valores", pois essas características são de natureza acidental, não estando contidas intrinsecamente no próprio conceito de dinheiro. 
A moeda
A partir de sua origem, é claro o processo natural em que os metais nobres se tornaram o dinheiro em uma economia. Mas a utilização desses metais acarretou alguns inconvenientes que precisam ser corrigidos. Os principais inconvenientes são a dificuldade em se constatar a autenticidade dos metais e seu grau de pureza, além de ter que torná-lo mais conveniente para uso nas transações correntes. 
A resolução desses problemas requer um certo custo econômico. A verificação da autenticidade e a divisão dos metais em peças individuais necessita mão de obra especializada e tempo. 
Trecho que Bastian escreveu sobre a Birmânia, onde a moeda cunhada ainda não era utilizada:
"Quando se vai ao mercado, na Birmânia", relata Bastian, "deve-se ir munido de um pedaço de prata, um martelo, um cinzel, uma balança e os respectivos pesos. Quanto custam as panelas para cozinhar? - Mostre-me o seu dinheiro, responde o comerciante. E após inspecionar o dinheiro, o comerciante determina o preço, a este ou àquele peso. Pede-se, então, ao comerciante. uma bigorninha e destaca-se da peça de prata pedaço por pedaço até encontrar o peso exigido. Pesa-se a quantidade escolhida na balança que se trouxe consigo (pois já não se pode confiar nas balanças dos comerciantes) e, conforme o caso, volta-se à operação, aumentando ou diminuindo o peso, até chegar ao peso que se deseja. Evidentemente, perde-se muito com os fragmentos que se desprendem, sendo sempre preferível não comprar exatamente a quantidade desejada, mas o equivalente daquela peça de prata que se destacou. Nas compras maiores, que só se fazem com as qualidades de prata mais finas, o processo é ainda mais complicado, pois antes é preciso chamar um Assayer para determinar com precisão o grau de pureza da prata, em troca de pagamento pelo serviço prestado. " 
Aparentemente todos os povos tiveram que enfrentar essas dificuldades antes da utilização dos metais cunhados. A primeira dificuldade a ser levada em conta foi a eliminação da verificação do grau de pureza do metal. Isso era feito com um carimbo impresso na barra de metal por uma autoridade oficial, mas ainda continuava o problema do peso do metal.
Aparentemente mais tarde surge a ideia de separar os metais em partes iguais que correspondessem a pesos que estivessem identificados de forma confiável em relação ao peso e a pureza. A melhor forma de fazer isso era naturalmente dividir o metal nobre em peças pequenas, de acordo com as necessidades do comércio, identificando o metal de tal maneira que fosse impossível fraudar (sem que a fraude pudesse ser notada de imediato) qualquer quantidade considerável das peças metálicas identificadas em seu peso e grau de pureza. 
Portanto, o melhor provedor da garantia dessa pureza e peso das moedas é o Estado, pois, é uma autoridade reconhecida por todos e que tem o poder de coibir e punir crimes relacionados a esse respeito.

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