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Caderno de Penal 3 Noturno 2016.2

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Esse caderno foi elaborado a partir de ano-
tações, transcrições e resumos realizados 
pelos alunos do 4° período do Noturno, no 
semestre de 2016.2, sobre as aulas de Penal 
3 ministradas pelo Prof. Cézar Augusto. 
Sumário 
CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DAS INFRAÇÕES PENAIS ....................................... 6 
1 – Crimes e contravenções penais .................................................................................... 6 
2 – Crimes comissivos, crimes omissos (próprios e impróprios) e crimes de 
conduta mista ............................................................................................................................ 6 
3 – Crime consumado e crime tentado ............................................................................... 7 
4 – Crimes dolosos e crimes culposos .............................................................................. 8 
5 – Crime material, crime formal e crime de mera conduta .......................................... 8 
6 – Crime comum, crime próprio e crime de mão própria ............................................. 9 
7 – Crimes hediondos ............................................................................................................. 9 
8 – Crimes qualificados pelo resultado (crimes preterdolosos ou 
preterintencionais) ................................................................................................................. 10 
9 – Crimes de dano e crimes de perigo (abstrato e concreto) ................................... 11 
10 – Crimes qualificados e crimes privilegiados ........................................................... 12 
11 – Crime de bagatela ......................................................................................................... 12 
12 – Infrações penais de menor potencial ofensivo ..................................................... 12 
13 – Crimes monossubjetivos e crimes plurissubjetivos ........................................... 12 
14 – Crimes unissubsistentes (ou monossubsistentes) e crimes 
plurissubsistentes ................................................................................................................. 13 
15 – Crimes conexos ............................................................................................................. 14 
16 – Crimes subsidiários ...................................................................................................... 15 
17 – Crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado ................................................ 15 
18 – Crimes de trânsito ......................................................................................................... 16 
ESTUDO DOS CRIMES EM ESPÉCIE ................................................................................ 16 
Introdução ................................................................................................................................ 16 
Homicídio (CP, art. 121) ........................................................................................................ 17 
Homicídio simples e privilegiado ................................................................................... 19 
Homicídio qualificado ....................................................................................................... 20 
Feminicídio ........................................................................................................................... 24 
Outras formas de homicídio qualificado ...................................................................... 25 
Homicídio culposo ............................................................................................................. 26 
Perdão judicial do homicídio .......................................................................................... 29 
Homicídio praticado por milícia privada ...................................................................... 29 
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (CP, art. 122) ....................................... 30 
Infanticídio (CP, art. 123) ...................................................................................................... 34 
Aborto (CP, arts. 124 a 128) ................................................................................................. 36 
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento (CP, art. 124) ..... 36 
Aborto provocado por terceiro (CP, art. 125) ............................................................. 37 
Aborto qualificado ............................................................................................................. 37 
Excludente de ilicitude do aborto .................................................................................. 38 
Lesão corporal (CP, art. 129) ............................................................................................... 39 
Lesão corporal grave ........................................................................................................ 39 
Lesão corporal gravíssima .............................................................................................. 41 
Lesão corporal seguida de morte .................................................................................. 42 
Demais parágrafos sobre lesão corporal .................................................................... 44 
Da periclitação da vida e da saúde (CP, arts. 130 a 136) ............................................. 46 
Perigo de contágio venéreo (CP, art. 130) e de contágio de moléstia grave (CP, 
art. 131) ................................................................................................................................. 47 
Perigo para a vida ou saúde de outrem (CP, art. 132) .............................................. 49 
Abandono de incapaz (CP, art. 133) .............................................................................. 51 
Exposição ou abandono de recém-nascido (CP, art. 134) ...................................... 52 
Omissão de socorro (CP, art. 135) ................................................................................. 53 
Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial (CP, art. 135-
A) ............................................................................................................................................ 55 
Maus-tratos (CP, art. 136) ................................................................................................. 55 
Rixa (CP, art. 137) ................................................................................................................... 56 
Crimes contra a honra (CP, arts. 138 a 145) .................................................................... 57 
Calúnia (CP, art. 138) ......................................................................................................... 57 
Difamação (CP, art. 139) ................................................................................................... 59 
Injúria (CP, art. 140) ........................................................................................................... 60 
Disposições comuns dos crimes contra a honra ...................................................... 61 
Constrangimento ilegal (CP, art. 146) ............................................................................... 63 
Ameaça (CP, art. 147) ............................................................................................................ 64 
Sequestro e cárcere privado (CP, art. 148) ...................................................................... 65 
Redução a condição análoga à de escravo (CP, art. 149) ........................................... 66 
Violação de domicílio (CP, art. 150) ..................................................................................67 
Crimes contra a inviolabilidade da correspondência e dos crimes contra a 
inviolabilidade dos segredos (CP, arts. 151 a 154) ....................................................... 70 
Furto (CP, art. 155) ................................................................................................................. 70 
Princípio da insignificância no crime de furto ........................................................... 71 
Outras considerações sobre o crime de furto ............................................................ 72 
Teorias sobre a consumação do furto .......................................................................... 73 
Absolvição do crime de furto .......................................................................................... 75 
Majorantes e furto qualificado ........................................................................................ 75 
Roubo (CP, art. 157) ............................................................................................................... 78 
Latrocínio ............................................................................................................................. 80 
Extorsão (CP, art. 158) .......................................................................................................... 81 
APÊNDICE – CONFLITO APARENTE DE NORMAS ....................................................... 81 
QUESTÕES DE PROVAS ANTERIORES ........................................................................... 83 
 
 
 
DIREITO PENAL III 
Prof° Cézar Augusto 
 
CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DAS INFRAÇÕES PENAIS 
Classificar doutrinariamente um tipo penal significa o mesmo que apontar sua natureza 
jurídica. Uma vez detectada a natureza jurídica de uma infração penal, o trabalho do intérprete 
fica extremamente facilitado no sentido de conhecer os vários aspectos que lhe são relevantes, 
como o seu momento de consumação, se é possível a tentativa etc. 
 
1 – Crimes e contravenções penais 
O art. 1° da Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto-Lei n° 3.914, de 9 de dezem-
bro de 1941), diz o seguinte: 
Art. 1°. Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de 
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; con-
travenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de 
multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. 
Como se percebe pela leitura do mencionado artigo, a Lei de Introdução ao Código Pe-
nal não definiu o conceito de crime ou mesmo de contravenção penal, trazendo, unicamente, 
um critério de distinção entre ambos, que é o tipo de pena aplicada. 
Portanto, é por meio da pena cominada em abstrato ao tipo penal incriminador que 
chegamos à conclusão se estamos diante de um crime ou de uma contravenção penal. 
 
2 – Crimes comissivos, crimes omissos (próprios e impróprios) e crimes de conduta 
mista 
O crime comissivo é um comportamento positivo que, se realizado, importará, em te-
se, na configuração do tipo penal. Assim, por exemplo, no art. 121 do Código Penal, que diz 
matar alguém, o tipo penal prevê um comportamento positivo, comissivo, isto é, o ato de matar. 
Por outro lado, pode o tipo penal conter determinações de condutas que, se não reali-
zadas, caracterizarão uma infração penal. As normas que contêm imposições de comporta-
mentos são chamadas mandamentais, características dos crimes omissivos próprios. Veja-
se o exemplo do art. 269, que prevê o delito de omissão de notificação de doença, assim redi-
gido: Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsó-
ria. 
Temos, nesse ponto, de levar a efeito a distinção entre os crimes omissivos próprios e 
os crimes omissivos impróprios. 
Os crimes omissivos próprios consistem em comportamentos que, se forem deixa-
dos de lado, importarão na responsabilidade penal daquele que estava obrigado a fazer algu-
ma coisa (exemplo: art. 135, CP). 
Por outro lado, temos os crimes omissivos impróprios, também chamados de comis-
sivos por omissão ou omissivos qualificados, em que o agente garantidor responde pela sua 
inação, como se tivesse feito alguma coisa, nos termos do § 2° do art. 13 do Código Penal. 
Podemos falar, ainda, em crimes de conduta mista, na hipótese em que o agente, inici-
almente, pratica uma conduta comissiva e, posteriormente, uma conduta omissiva, a exemplo 
do que ocorre com o crime de apropriação de coisa achada, tipificado no art. 169, parágrafo 
único, II, do Código Penal. Nessa infração penal, o agente acha coisa alheia perdida e dela se 
apropria (comportamento comissivo), total ou parcialmente, deixando de restituí-la (comporta-
mento omissivo) ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, 
dentro do prazo de 15 (quinze) dias. 
 
3 – Crime consumado e crime tentado 
O art. 14 do Código Penal, por intermédio de seus incisos, traduz os conceitos dos cri-
mes consumado e tentado dizendo: 
Art. 14. Diz-se o crime: 
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; 
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à 
vontade do agente. 
Merece ser destacado o fato de que a lei penal exige, para fins de consumação do deli-
to, a presença de todos os elementos de sua definição legal, não se contentando, para efeito 
de reconhecimento da consumação, com a presença tão somente de alguns. 
O crime tentado está previsto no inciso II do mencionado art. 14. Para tanto, ou seja, 
para que se reconheça a tentativa, nas hipóteses em que o tipo penal permitir, haverá necessi-
dade de se apontar o momento em que foi iniciada a execução, pois a lei penal não pode punir, 
em virtude da adoção do princípio da lesividade, os atos preparatórios e a mera cogitação. 
Com relação às contravenções penais, há regra expressa nesse sentido, não permitin-
do o reconhecimento da tentativa, conforme assevera o art. 4° da Lei das Contravenções Pe-
nais, verbis: Não é punível a tentativa de contravenção. 
 
4 – Crimes dolosos e crimes culposos 
Os incisos I e II do art. 18 do Código Penal traduzem os conceitos de crime doloso e 
crime culposo dizendo: 
Art. 18 . Diz-se o crime: 
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; 
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou 
imperícia. 
A regra constante do parágrafo único do art. 18 do Código Penal é a seguinte: 
Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato 
previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. 
Tal regra, portanto, nos leva a concluir que todo o crime é doloso; somente haverá in-
fração penal de natureza culposa quando houver uma ressalva expressa na lei. 
Por essa razão, aquele que, se por exemplo, em virtude de uma conduta distraída, im-
prudente, vier a quebrar um vaso extremamente precioso em um museu não poderá ser res-
ponsabilizado pelo crime de dano (art. 163, CP), pois esse crime não admite natureza culposa. 
Pode, entretanto, responder na esfera cível pelos prejuízos causados. 
 
5 – Crime material, crime formal e crime de mera conduta 
Crime material é aquele cuja consumação depende da produção naturalística de de-
terminado resultado, previsto expressamente pelo tipo penal, a exemplo do que ocorre com os 
arts. 121 e 163 do Código Penal. 
Por outro lado, há infrações penais que preveem um resultado naturalístico, mas não 
exigem sua ocorrência para efeitos de reconhecimento da consumação. São os chamados 
crimes formais, também conhecidos doutrinariamente como delitos de resultado cortado ou 
crimes de consumaçãoantecipada. Nessas infrações penais, o legislador antecipa a puni-
ção, não exigindo a produção do resultado, como por exemplo, o art. 159 do CP, que prevê o 
crime de extorsão mediante sequestro, punível mesmo que os criminosos não tenham obtido o 
resultado pretendido, que seria o valor do resgate. 
O crime de mera conduta (ou de simples atividade) não prevê qualquer produção 
naturalística de resultado no tipo penal. Narra, tão somente, o comportamento que se quer 
proibir ou impor, a exemplo do que ocorre com a violação de domicílio (art. 150, CP). 
 
6 – Crime comum, crime próprio e crime de mão própria 
Crime comum é aquele que pode ser praticado por qualquer pessoa, não exigindo o 
tipo penal nenhuma qualidade especial para que se possa apontar o sujeito ativo. 
A qualidade de comum também poderá ser considerada levando-se em consideração o 
sujeito passivo. Isso quer dizer que pode ocorrer, em algumas situações, que o crime, por 
exemplo, seja comum com relação ao sujeito ativo e não o seja com relação ao sujeito passivo, 
cuja qualidade especial é exigida pelo tipo. 
Crime próprio, a seu turno, é aquele cujo tipo penal exige uma qualidade ou condição 
especial dos sujeitos ativos ou passivos. Veja-se, por exemplo, o que ocorre com o delito de 
infanticídio, previsto no art. 123 do Código Penal. A lei penal indica o sujeito ativo, ou seja, a 
mãe, que atua influenciada pelo estado puerperal, bem como o sujeito passivo, vale dizer, seu 
próprio filho. 
Um crime pode ser comum em relação ao sujeito ativo, mas próprio em relação ao 
passivo. Por exemplo, como regra geral, o delito de lesões corporais amolda-se ao conceito de 
crime comum, tanto no que diz respeito ao sujeito ativo quanto ao sujeito passivo. Qualquer 
pessoa pode praticar o delito tipificado no art. 129, caput, do Código Penal, bem como qualquer 
pessoa pode figurar como seu sujeito passivo. 
Entretanto, a exemplo do que ocorre com o previsto no inciso V do § 2º do art. 129 do 
Código Penal, somente a gestante pode figurar como sujeito passivo da lesão corporal qualifi-
cada pelo resultado aborto. Assim, nesse caso, o delito pode ser considerado um crime comum 
quanto ao sujeito ativo, e próprio no que diz respeito ao sujeito passivo. 
Crimes de mão própria são infrações penais consideradas personalíssimas, as quais 
somente determinada pessoa, e mais ninguém, pode praticá-las. Como regra, nos crimes de 
mão própria não se permite o raciocínio da autoria mediata (que ocorre quando o autor domina 
a vontade alheia e, desse modo, se serve de outra pessoa que, sem dolo ou culpa, atua como 
instrumento. Exemplo: médico quer matar inimigo que está hospitalizado e se serve da enfer-
meira para ministrar injeção letal no paciente). Entretanto, esse raciocínio é permitido nos cri-
mes próprios. 
 
7 – Crimes hediondos 
Não há um critério jurídico-doutrinário para fins de conceituação do que venha a ser 
"crime hediondo", sendo tal critério puramente legal. Isso significa que a lei será encarregada 
de apontar as infrações penais que entende que devam gozar dessa qualidade de hediondas. 
Assim, nos termos do art. 1° da Lei n° 8.072/90, são considerados hediondos os se-
guintes crimes, consumados ou tentados: 
I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, 
ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2°, I, II, III, IV e V); 
II - latrocínio (art. 157, § 3°, in fine); 
III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2°); 
IV - extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput e § § 1°, 2° e 
3°); 
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1° e 2°); 
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e § § 1°, 2°, 3° e 4°); 
VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1°); 
VII-A - (vetado); 
VlI-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins te-
rapêuticos ou medicinais (art. 273, caput, e § 1°, § 1°A, § 1°B, com a redação dada pela Lei n° 
9.677, de 2/7/1998). 
VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança 
ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1° e 2°). 
Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto nos 
arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 12 de outubro de 1956, tentado ou consumado. 
Merece ser registrado o fato de que, após a edição da Lei n° 11.464, de 28 de março 
de 2007, que modificou a Lei n° 8.072/90, será possível a progressão de regime nos crimes 
hediondos (e afins), após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for pri-
mário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente. 
 
8 – Crimes qualificados pelo resultado (crimes preterdolosos ou preterintencionais) 
O art. 19 do Código Penal regula a matéria no que diz respeito aos crimes qualificados 
pelo resultado: 
Art. 19 . Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o 
houver causado ao menos culposamente. 
Atualmente, ocorre o crime qualificado pelo resultado quando o agente atua com do-
lo na conduta e dolo quanto ao resultado qualificador (dolo + dolo), ou dolo na conduta e culpa 
no que diz respeito ao resultado qualificador (dolo + culpa). Dessas duas espécies, aqueles em 
que temos “dolo + culpa” são chamados de crimes preterdolosos. 
Como exemplo do primeiro caso (dolo + dolo), temos a lesão corporal qualificada pela 
perda ou inutilização de membro, sentido ou função. Nesse caso, o agente dirige sua conduta 
a, conscientemente, fazer com que a vítima sofra esse tipo de lesão gravíssima. 
Como exemplo de crime preterdoloso (dolo + culpa), poderíamos mencionar a lesão 
corporal qualificada pelo resultado aborto, quando o agente não quis o aborto diretamente nem 
assumiu o risco de produzi-lo. Caso tenha pretendido esse fim, responderá pelo crime de abor-
to, e não pelo de lesão corporal gravíssima. 
É preciso também que o agente conheça a gravidez para que lhe seja imputada a lesão 
corporal qualificada pelo resultado aborto, pois, caso contrário, responderá apenas pela lesão 
que intencionava cometer, excluindo-se o resultado qualificador. Se não fosse assim, o agente 
seria responsabilizado objetivamente pelo resultado. 
 
9 – Crimes de dano e crimes de perigo (abstrato e concreto) 
Crimes de dano são aqueles que, para a sua consumação, deve haver a efetiva lesão 
ao bem juridicamente protegido pelo tipo. A conduta do agente, portanto, é dirigida finalistica-
mente a produzir o resultado, acarretando dano ou lesão para o bem protegido pelo tipo penal, 
a exemplo do que ocorre com os crimes de homicídio e lesão corporal. 
Crimes de perigo são aqueles em que o comportamento do agente não está dirigido 
finalisticamente a produzir dano ou lesão ao bem juridicamente protegido pelo tipo, causando-
lhe, contudo, uma situação de perigo. Dessa forma, os crimes de perigo são, em geral, de natu-
reza subsidiária, sendo absorvidos pelos crimes de dano quando estes vierem a acontecer. 
Os crimes de perigo subdividem-se em: crimes de perigo abstrato e crimes de peri-
go concreto. Diz-se abstrato o perigo quando o tipo penal incriminador entende como suficien-
te, para fins de caracterização do perigo, a prática do comportamento - comissivo ou omissivo - 
por ele previsto. Assim, os crimes de perigo abstrato são reconhecidos como de perigo presu-
mido. 
A doutrina aponta como exemplo dessa infração penal o crime de omissão de socorro, 
previsto pelo art. 135 do Código Penal. Para a doutrina majoritária, o simples fato de deixar de 
prestar assistência, quando possível fazê-lo, sem risco pessoal, nas situações por ele elenca-
das, já se configuraria no delito de omissão de socorro. Atualmente, os crimes de perigoabs-
trato têm sido combatidos pela doutrina, uma vez que não se verifica, no caso concreto, a po-
tencialidade de dano existente no comportamento do agente, o que seria ofensivo ao princípio 
da lesividade. 
Já os chamados crimes de perigo concreto são aqueles cuja situação de perigo supos-
tamente criada pela conduta do agente precisa ser demonstrada no caso concreto. Como 
exemplo, podemos destacar o crime de perigo para a vida ou saúde de outrem, previsto pelo 
art. 132 do Código Penal. 
 
10 – Crimes qualificados e crimes privilegiados 
Crimes qualificados e crimes privilegiados são modalidades de infrações penais exis-
tentes nos chamados tipos penais derivados. Os tipos penais derivados são espécies de 
infrações penais que estão ligadas, umbilicalmente, ao caput do artigo, ou seja, à sua modali-
dade fundamental, por intermédio de seus parágrafos. 
Considera-se qualificado o crime quando, geralmente, as penas mínima e máxima 
cominadas no parágrafo são superiores àquelas previstas no caput do artigo. 
Por outro lado, considera-se como privilegiado o delito quando as penas previstas no 
parágrafo são inferiores àquelas cominadas no caput do artigo. 
 
11 – Crime de bagatela 
A expressão crime de bagatela é característica da hipótese na qual se afirma a ne-
cessidade de aplicação do princípio da insignificância. São fatos que não se amoldam ao con-
ceito de tipicidade material, necessário à configuração da tipicidade penal. 
 
12 – Infrações penais de menor potencial ofensivo 
Hoje, a infração penal de menor potencial ofensivo é reconhecida como aquela cuja 
pena máxima cominada não seja superior a 2 (dois) anos, nos termos do art. 61 da Lei n° 
9.099/95, que diz: 
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos 
desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 
2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. 
 
13 – Crimes monossubjetivos e crimes plurissubjetivos 
Denominam-se monossubjetivos, unissubjetivos ou de concurso eventual os cri-
mes cuja conduta núcleo pode ser praticada por uma única pessoa, a exemplo do que ocorre 
como homicídio, furto, lesão corporal, etc. 
Plurissubjetivos, ao contrário, são aqueles nos quais o tipo penal exige a presença de 
duas ou mais pessoas, sem as quais o crime não se configura, como é o caso da associação 
criminosa, da rixa etc. São também reconhecidos como crimes de concurso necessário. 
Nos crimes plurissubjetivos, podemos ainda levar a efeito a seguinte distinção: 
a) crimes bilaterais ou de encontro; 
b) crimes coletivos ou de convergência. 
Crimes bilaterais ou de encontro são aqueles em que as condutas praticadas pelos 
agentes tendem a se encontrar, como ocorre com o crime de bigamia, previsto no art. 235, § 
1°, do Código Penal. 
Crimes de convergência são aqueles "em que o tipo penal exige que várias pessoas 
concorram uniformemente para a consecução do mesmo objetivo". 
Essa convergência pode ocorrer: 
a) quando as condutas são contrapostas, isto é, quando os agentes atuam uns contra 
os outros, como ocorre com o delito de rixa, previsto no art. 137 do Código Penal; 
b) ou quando as condutas são paralelas, vale dizer, quando os esforços de todos os 
agentes são concentrados no sucesso de uma infração penal comum, a exemplo do crime de 
associação criminosa, tipificado no art. 288 do Código Penal, nos termos da redação que lhe foi 
conferida pela Lei n° 12.850, de 2 de agosto de 2013. 
Pode ocorrer, ainda, a hipótese na qual um crime, originariamente monossubjetivo, ve-
nha a se tornar coletivo, como acontece nos casos em que ocorre o concurso de pessoas no 
crime de furto, previsto pelo inciso IV do § 4° do art. 155 do Código Penal. 
 
14 – Crimes unissubsistentes (ou monossubsistentes) e crimes plurissubsistentes 
A diferença entre os crimes unissubsistentes e os considerados plurissubsistentes resi-
de na possibilidade ou não de ser fracionado o iter criminis. 
Assim, crimes unissubsistentes são aqueles nos quais ocorre uma concentração de 
atos, não sendo possível o raciocínio em termos do fracionamento do iter criminis, a exemplo 
do que ocorre com a injúria ou mesmo a ameaça verbal. 
Nesses casos, ou o agente profere as palavras injuriosas ou ameaçadoras e os crimes 
respectivos se consumam, ou não as profere, considerando-se o seu pensamento um indife-
rente penal. 
Ao contrário, nos chamados crimes plurissubsistentes existe possibilidade real de se 
percorrer, "passo a passo", o caminho do crime. O agente cogita, prepara-se e executa a infra-
ção penal em momentos distintos e visualizáveis, tal como ocorre com os chamados crimes 
materiais, como é o caso do furto, das lesões corporais, etc. 
A importância da distinção reside no fato de que, como regra, os crimes unissubsisten-
tes não admitem a tentativa, ao passo que nos crimes plurissubsistentes ela é perfeitamente 
admissível. 
 
15 – Crimes conexos 
Crimes conexos seriam aqueles que, de alguma forma, pudessem ser entendidos como 
interligados, unidos. 
O Código de Processo Penal determina a competência pela conexão em seu art. 76: 
Art. 76. A competência será determinada pela conexão: 
I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, 
por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o 
lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras; 
II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as ou-
tras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas; 
III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementa-
res influir na prova de outra infração. 
Em virtude da redação dos mencionados incisos, podemos apontar três diferentes es-
pécies de conexão: 
a) conexão intersubjetiva (por simultaneidade, concursal ou por reciprocidade), prevista 
no inciso I do art. 76 do Código de Processo Penal; 
b) conexão objetiva ou lógica, prevista no inciso II do art. 76 do Código de Processo 
Penal; 
c) conexão instrumental ou probatória, elencada no inciso III do art. 76 do Código de 
Processo Penal. 
 
16 – Crimes subsidiários 
Crimes subsidiários são aqueles cuja aplicação depende de ser afastada a infração pe-
nal principal. A subsidiariedade pode ser expressa ou tácita. 
Diz-se expressa a subsidiariedade quando a própria lei faz sua ressalva, deixando 
transparecer seu caráter subsidiário. Assim, nos termos do preceito secundário do art. 132 do 
Código Penal, somente se aplica a pena prevista para o delito de perigo para a vida ou a saúde 
de outrem se o fato não constituir crime mais grave. 
Fala-se em subsidiariedade tácita ou implícita quando o artigo, embora não se refe-
rindo expressamente ao seu caráter subsidiário, somente tem aplicação nas hipóteses de não 
ocorrência de um delito mais grave, que, neste caso, afasta a aplicação da norma subsidiária. 
Como exemplo, podemos citar o art. 311 do Código de Trânsito brasileiro, que proíbe a 
conduta de trafegar em velocidade incompatível com a segurança nas proximidades de esco-
las, entre outros locais, gerando perigo de dano. Se o agente imprimir velocidade excessiva em 
seu veículo, próximo a um desses lugares, e atropelar alguém, causando-lhe a morte, não será 
responsabilizado pelo citado art. 311 (detenção de 6 meses a 1 ano ou multa), mas, sim, pelo 
art. 302 do mesmo Código (detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se 
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor), que prevê o delito de homi-
cídio culposo na direção de veículo automotor. O crime de dano afastará, portanto, o crime de 
perigo. 
 
17– Crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado 
Nos crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado, mesmo que o agente pratique 
várias condutas previstas no tipo, deverá ser responsabilizado por somente uma infração pe-
nal. 
Veja-se, por exemplo, o art. 122 do Código Penal. Aquele que induz ou instiga alguém 
a suicidar-se ou presta-lhe auxílio para que o faça, mesmo que, hipoteticamente, tenha conse-
guido levar a efeito os três comportamentos previstos pelo tipo penal, somente responderá por 
um único delito. Se o agente, por exemplo, além de adquirir, tiver em depósito a droga para fins 
de tráfico ilícito, somente será responsabilizado por um único crime. 
A doutrina, entretanto, ainda leva a efeito uma diferença entre os crimes de ação múlti-
pla ou de conteúdo variado, dividindo os tipos penais que os preveem em: tipo misto alterna-
tivo e tipo misto cumulativo. 
No tipo misto alternativo, as condutas previstas são fungíveis, de forma que tanto faz 
o cometimento de uma ou de outra, uma vez que afetam o mesmo bem jurídico. Haverá um 
único delito, inclusive se o agente realiza mais de uma conduta. Exemplos: os tipos dos arts. 
122, CP ('induzir', 'instigar' ou 'auxiliar'), e 150, CP ('entrar' ou 'permanecer'). 
No tipo misto cumulativo, as condutas não são fungíveis porque atingem bens jurídi-
cos distintos em suas titularidades. Poderiam estar descritas em tipos diversos, compondo 
cada qual um delito, mas, por critério legislativo, são reunidas em um único tipo, pelo que 
haverá tantos crimes quantas forem as condutas realizadas. 
Exemplos: art. 242, CP ('ocultar [...] suprimindo ou alterando') e art. 243 CP ('deixar [...] 
ocultando-lhe [...] ou atribuindo-lhe'). 
 
18 – Crimes de trânsito 
São todos aqueles praticados na direção de veículo automotor, em que terão incidência 
os tipos penais previstos no Código de Trânsito Brasileiro (Lei n° 9.503/97), a exemplo do que 
ocorre com os arts. 302 e 303 do aludido diploma legal, que preveem, respectivamente, o ho-
micídio culposo e a lesão corporal culposa, praticados na direção de veículo automotor. 
Caso o veículo automotor, por exemplo, seja utilizado como instrumento para a prática 
de crime de homicídio doloso ou mesmo de uma lesão corporal também dolosa, não estaremos 
diante de um verdadeiro crime de trânsito, mas, sim, de infrações penais tipificadas no Código 
Penal. 
 
ESTUDO DOS CRIMES EM ESPÉCIE 
Introdução 
Nos períodos anteriores aprendemos, respectivamente, a Teoria do Crime e a Teoria 
da Pena. Agora iniciaremos o estudo dos crimes em espécie, os quais podem ser vistos do 
artigo 121 ao artigo 212 do CP; tal que o faremos tendo em mente os conceitos aprendidos até 
então. 
Uma observação faz-se mister: o Direito Penal deve ser estudado de maneira sistemá-
tica (uma vez que o Código Penal é sistematizado). Assim, e em outras palavras, quando da 
leitura do dito Código, devemos ter em conta todo o sistema jurídico e não apenas o sistema 
penal. 
Quando do estudo dos crimes em espécie, é necessário que saibamos o caminho do 
próprio crime (iter criminis), ou seja, o modo como o dito cujo foi desenvolvido. A notificação de 
um crime configura nada mais do que uma narrativa de fatos; os quais devem ser sempre ana-
lisados... 
Nesse sentido, em: “X acertou Y na nuca, tal que Y morreu”, a narrativa do fato não é 
suficiente para que possamos identificar o crime ocorrido; afinal, teria X, na hipótese em co-
mento, praticado o crime de homicídio ou fora este um caso de lesão corporal com resultado 
morte? 
Outro elemento importante e que precisaremos ter em mente para identificar determi-
nado crime é o bem jurídico protegido/tutelado por tal (em outras palavras, deveremos sempre 
nos perguntar: o que o legislador quis proteger quando da elaboração de tal dispositivo?). As-
sim, estudaremos, por exemplo, no decorrer deste semestre, o feminicídio, tal que este é um 
crime contra o bem jurídico da vida (homicídio) e que guarda, ainda, relação com o gênero da 
vítima. 
Dessa forma, se se diz que W (do gênero feminino) foi morta por Z, a simples narrativa 
dos fatos não é o suficiente para que possamos saber se este é um caso de feminicídio ou de 
homicídio... Deveremos, para tal, indagar-nos: W foi morta por ser mulher? 
Ainda no que tange aos crimes em espécie, temos que o crime com a maior pena co-
minada no Código Penal é o latrocínio ou roubo seguido de morte; neste, a morte da vítima é 
fruto da mera finalidade de se subtrair a coisa que se encontra em sua posse, por isso, tal cri-
me faz parte da categoria dos crimes contra o patrimônio. 
Saber qual é o bem jurídico protegido pela tipificação penal importa, também, para que 
se possa determinar a quem compete julgar o crime em estudo. Por exemplo, o já citado crime 
de latrocínio não pode ser julgado pelo tribunal de júri, uma vez que a este só compete julgar 
os crimes contra a vida. Assim, e por ser tido, conforme dito anteriormente, como um crime 
patrimonial, o latrocínio deverá ser julgado por um juiz. 
Toda a discussão acerca do bem jurídico tutelado por determinado dispositivo (até aqui 
exposta) é importante na medida em que a Parte Especial do Código Penal divide os crimes 
em espécie de acordo com o bem jurídico que estes visam a proteger. 
 
Homicídio (CP, art. 121) 
Sendo a vida o bem jurídico mais caro [usado aqui no sentido de “querido”] ao ordena-
mento jurídico, o legislador opta por inaugurar a Parte Especial do CP com o Capítulo dos cri-
mes contra a vida, de forma que o primeiro artigo deste, o 121, traz à pauta o crime de homicí-
dio. 
Uma pequena observação acerca do artigo 121: segundo este, o homicídio simples 
consiste em “Matar alguém”, logo este é um crime que só pode ser cometido contra uma pes-
soa... 
Todo crime se presume doloso, a menos que a letra da lei diga o contrário. Assim, [e 
sendo o crime doloso] há que se falar em omissão e comissão, bem como em comissão por 
omissão (também chamado de omissão imprópria); tal que este se dá quando determinada 
pessoa, enquanto na condição de agente garantidor de outra, comete um crime contra a se-
gunda, ao se omitir... Nesses casos, urge lembrar que o agente garantidor não necessariamen-
te responde por dolo (o CP, conforme visto em Penal I, não exige que X coloque em risco a sua 
vida na tentativa de salvar Y). 
Uma última tecnicidade que deve ser enfrentada, diz respeito à diferenciação - neces-
sária para o Direito Penal, no que tange à tipificação de um crime cometido contra a vida - en-
tre a vida intra-uterina e a extra-uterina. 
A vida extra-uterina se inicia, sabidamente, quando da dilatação do colo do útero. No 
parto cesáreo, por outro lado, a vida extra-uterina se inicia a partir do momento em que o médi-
co começa a fazer a incisão das camadas abdominais da mulher. 
Já a vida intra-uterina, do ponto de vista doutrinário, tem início com a fecundação do 
óvulo (no útero) – e não apenas com a união espermatozoide-óvulo. 
Tal “classificação” da vida far-se-á necessária para diferenciar os seguintes crimes: 
aborto (cometido contra o feto cuja vida é intra-uterina), infanticídio e homicídio (cometidos, 
ambos, contra o infante cuja vida é extra-uterina). 
Na esfera do Direito Civil, diz-se que o indivíduo passa a ter personalidade civil (ou se-
ja, passa a ter a capacidade de adquirir direitos e obrigações) quando do seu nascimento com 
vida (nesse ponto, a doutrina chega até a falar que o indivíduo nasce para o mundo do Direito 
Civil quando respira)... Na esfera do Direito Penal, por outro lado, o que importa é saber a partir 
de qual momento o indivíduo terá o seu direito à vida tutelado... A resposta a tal indagação é 
(embora não unânime): a partir do reconhecimentoda sua vida intra-uterina. 
Por fim, é importante que saibamos, quando do estudo dos crimes em espécie, o mo-
mento em que se dá a consumação do crime... Nesse sentido: quando o crime de homicídio se 
consuma? A resposta é simples e quase que intuitiva; com a morte da vítima o crime de homi-
cídio se consuma! Assim, não importa o meio como a dita morte foi alcançada... Não importa se 
X matou Y de forma instantânea (com um tiro na cabeça) ou se o fez de forma mais demorada 
(deferindo contra este um golpe de artes marciais, tal qual um mata-leão – de forma que este 
impede a passagem de oxigênio para o cérebro da vitima, causando a sua morte encefálica*), 
em ambos os casos somente haverá homicídio quando diante do resultado morte. 
*OBS: a Lei de Transplante de Órgãos (Lei 9434/97) fala sobre a doação de órgãos em 
hipóteses de morte encefálica. 
 
Homicídio simples e privilegiado 
A modalidade simples do homicídio é aquela que pode ser observada quando da leitura 
do caput do já citado artigo, assim, é simplesmente “Matar alguém”. Diz-se que o homicídio 
simples é o tipo principal, enquanto suas demais modalidades são tidas como derivadas... 
O §1º do artigo em comento consagra o chamado homicídio privilegiado. Cuida-se de 
hipótese de causa de diminuição da pena (3ª fase da aplicação da pena) segundo a qual “Se o 
agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domí-
nio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a 
pena de um sexto a um terço”. 
Cabem algumas observações acerca do trecho acima transcrito... Primeiramente, te-
mos que o “pode” por ele utilizado não configura, em verdade, uma faculdade por parte do juiz, 
ou seja, não fica ele autorizado a aplicar ou não a minorante no caso concreto; quando diante 
de uma das hipóteses trazidas pela letra da lei deve ele diminuir a pena do réu de um sexto a 
um terço. 
Ademais, em se tratando do “relevante valor (...) moral” suscitado pelo dispositivo, a 
doutrina toca no ponto da eutanásia; haja vista que tal crime (no Brasil, pelo menos, a eutaná-
sia configura um tipo derivado de homicídio) é cometido, muitas vezes, com uma ideia de no-
breza/benevolência para com aquele que sofre... 
OBS: Além da eutanásia (adoção de certas medidas visando deliberadamente abreviar 
a vida daquele que sofre – exemplo: injetar ar nas veias de outrem) temos o suicídio assistido 
(consiste no fornecimento da substância ou mecanismo legal àquele que sofre para que este a 
ou o administre em si mesmo – exemplo: fornecer uma seringa para que o outro possa injetar 
ar nas próprias veias), a ortotanásia (também chamada de eutanásia passiva; consiste na sus-
pensão de tratamentos que prolongam a vida de outrem sem, entretanto, curar nem melhorar a 
sua enfermidade) e a distanásia (o oposto da eutanásia; guarda relação com a ideia de manter 
a vida a qualquer custo – exemplo: por meio de aparelhos). Todas estas promovem um fenô-
meno novo: relativizam o conceito de vida ao atrelá-lo à felicidade (não basta, em outras pala-
vras, que se viva, deve-se viver bem/ viver feliz). 
Dando prosseguimento ao estudo do §1º do artigo 121 temos que este fala em “injusta 
provocação da vítima” de forma que esta não há que se confundir com a “injusta agressão”... 
Enquanto a injusta agressão enseja o direito ao emprego da legítima defesa (regulado pelo 
artigo 25 do CP – configura uma excludente de ilicitude), a injusta provocação, se resulta na 
morte da vítima, apenas irá configurar hipótese de homicídio privilegiado (homicídio com causa 
de diminuição). 
Ademais, o parágrafo em comento utiliza-se da expressão “sob domínio de violenta 
emoção” pois que a dita emoção deve ter caráter transitório... Se, ao contrário, esta for uma 
constante na vida do sujeito que cometeu o crime, pode configurar uma doença mental, a qual, 
conforme visto no semestre passado (Penal II), torna o dito cujo inimputável. 
Essa mesma expressão traz à tona outra problemática que teremos de enfrentar, qual 
seja: a diferença entre a atenuante expressa no artigo 65, III, c do CP e a minorante em estudo 
(artigo 121, §1º)... O artigo 65 lê: “São circunstâncias que sempre atenuam a pena: III - ter o 
agente: c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de 
autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da víti-
ma”. A primeira diferença entre ambos já foi apontada: enquanto o artigo 65 faz referência à 
segunda fase da aplicação da pena, o parágrafo primeiro do 121 relaciona-se com a sua tercei-
ra fase. 
A segunda, e última, diferença a ser apontada decorre da escrita de ambos... Influência 
afasta-se de domínio na medida em que aquela é um minus em relação à esta. 
Por fim (quanto ao estudo do homicídio privilegiado), a redação do §1º do 121 torna 
claro: o homicídio há de ser cometido logo após a injusta provocação da vítima... Pergunta-se, 
então, qual seria o limite dessa posterioridade; em outras palavras, a resposta à provocação da 
vítima deve ser imediata? Pois bem, para a jurisprudência o “logo após” é extensível e pode, 
inclusive, configurar o tempo necessário para que o sujeito X, depois de provocado pelo sujeito 
Y, vá até a sua própria casa, pegue a sua arma, retorne ao encontro de Y e o mate. 
OBS: Não precisa ser, conforme o exposto, imediatamente depois, mas o lapso tempo-
ral deve ser pequeno! O sujeito X não pode, por exemplo, morar a 5 horas do local em que 
discute com, e – depois – mata Y. 
 
Homicídio qualificado 
Passando, finalmente, à leitura do §2º do mesmo artigo temos as sete formas de homi-
cídio qualificado... Fazem-se necessárias, nesse ponto, duas observações: 1) Os incisos do §2º 
configuram circunstâncias e não elementares do crime de homicídio* e 2) o homicídio qualifica-
do (bem como o homicídio simples desde que praticado em atividade típica de grupo de exter-
mínio) é crime hediondo! (Vide artigo 1º, I da Lei 8072/90). 
*O artigo 30, CP lê: “Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter 
pessoal, salvo quando elementares do crime”... Em uma breve explanação, temos que: se uma 
circunstância é retirada, o crime é mantido; entretanto, se uma elementar é retirada, o crime é 
suspenso. 
Quanto à questão “elementar x circunstância”, cabe um exemplo ilustrativo: no caso do 
crime de estupro, o dissenso – por parte da vítima – é uma elementar e isso porque, se a víti-
ma consentir com o ato sexual praticado, não há estupro! 
Passando, propriamente, ao estudo das qualificadoras do §2º do artigo 121, lê o seu 
primeiro inciso: “mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe”. Nes-
se sentido, o dito “motivo torpe”, o qual trata de tornar o crime de homicídio simples em qualifi-
cado (aumentando-lhe, por conseguinte, a pena base), é tido como aquele que fere o senso 
comum; não devendo ser confundido com o motivo fútil de que trata o inciso II do mesmo arti-
go! 
O motivo torpe, em outras palavras, guarda íntima relação com crimes abje-
tos/repugnantes e a própria letra da lei traz exemplos de o que seria considerado um motivo 
torpe: a paga ou recompensa. Ou seja, quando X mata seus pais para que possa ficar com a 
herança, este comete homicídio qualificado por motivo torpe análogo à paga ou recompensa*. 
Duas observações fazem-se necessárias, tal que a primeira delas diz respeito a neces-
sidade de o motivo torpe diverso (trazido pelo artigo) ser análogo à paga ou à recompensa; já a 
segunda, faz menção ao caráter da paga ou recompensa ofertada àquele que pratica o crime... 
Da necessidade de o motivo torpe ser análogo à paga ou a recompensa: 
Embora o artigo cale neste ponto, a obrigatoriedadedesta analogia faz-se necessária 
sob pena de se ferir o princípio da reserva legal (o qual rege o Direito Penal). Afinal, se qual-
quer outro motivo torpe puder ser trazido por parte do juiz, este passa a legislar... 
Da necessidade de o caráter da paga ou recompensa ser material (ou não): 
Em suma, majoritariamente, entende-se que a paga ou recompensa que qualifica o 
crime de homicídio simples tem que ter valor econômico; minoritariamente, entretanto, acredita-
se que esta ou aquela podem ter valor diverso (seja ele sexual, envolvendo uma futura oportu-
nidade de trabalho, dentre outros)... À tal ideia a doutrina majoritária responde: esta interpreta-
ção funciona de maneira in malam partem (a analogia in malam partem, vedada no Direito Pe-
nal é aquela onde adota-se lei prejudicial ao réu, reguladora de caso semelhante). 
Outra discussão faz-se presente na doutrina: o artigo 121, §2º, I, faz menção a quem 
comete o crime propriamente... Assim, para uma corrente minoritária, com vistas à lei seca, o 
mandante não cometeria crime (por força do artigo 30, CP e tendo em vista que esta não é 
uma elementar do crime, mas sim uma circunstância). A corrente majoritária fundamenta o seu 
argumento, por outro lado, no artigo 29, CP, segundo o qual: “Quem, de qualquer modo, con-
corre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade”. 
Ainda no que tange ao 121, §2º, I, temos uma última problemática a ser enfrentada: 
segundo doutrina majoritária não se pode tentar beneficiar da forma como foi redigido o dito 
artigo com vistas a promover uma denúncia com imputação alternativa... Ou seja, não cabe 
que em uma petição inicial acuse-se X de ter cometido homicídio qualificado “mediante paga 
ou recompensa ou outro motivo torpe” – embora esta seja, como já visto, a letra da lei. Essa 
impossibilidade (e, por conseguinte, a obrigatoriedade de se descrever o outro motivo torpe 
que se pretende imputar a X) se dá por 2 motivos: 1) deve ser dada ao réu a possibilidade de 
se defender do que está sendo acusado e, nesse sentido, não há como se defender de motivo 
torpe não especificado e 2) pelo princípio da correlação, a sentença deverá apresentar íntima 
relação com a denúncia, e como poderia o juiz condenar X, por exemplo, por “outro motivo 
torpe”? 
Também é qualificado o homicídio, segundo o inciso II do § em comento, se cometido 
“por motivo fútil”, tal que entende-se por motivo fútil aquele que é insignificante ou desproporci-
onal... Assim, se João mata Maria, sua esposa, porque ela queimou o arroz, este comete homi-
cídio qualificado segundo conduta descrita no artigo 121, §2º, II do CP. 
Nesse ponto, o juiz deve atentar para o bis in idem quando da aplicação da pena do 
marido e isso porque existe agravante genérica, disposta no artigo 61, segundo a qual: “São 
circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: II - 
ter o agente cometido o crime: a) por motivo fútil ou torpe”. 
OBS: A agravante acima transcrita aplica-se, conforme visto no semestre passado, a 
todos os crimes de que trata o Código Penal... Ademais, no caso em comento, deverá o juiz 
utilizar-se da qualificadora disposta no artigo 121 por 2 motivos: 1) esta é mais específica para 
o crime que estuda e 2) esta tratará de aumentar a pena-base do homicídio cometido. 
Partindo-se, enfim, para a leitura do inciso III, temos que é qualificado o homicídio se 
cometido “com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou 
cruel, ou de que possa resultar perigo comum”; de forma que entende-se por “meio insidioso” 
aquele que surpreende a vítima. 
Quanto à tortura, citada no inciso em estudo, um problema faz-se presente... A Lei 
9455/97 (vulgo lei da tortura) em seu artigo 1º, §3º, lê: “Constitui crime de tortura: I - constran-
ger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou 
mental: a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira 
pessoa; b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; c) em razão de discrimina-
ção racial ou religiosa; II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com empre-
go de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar 
castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. Pena - reclusão, de dois a oito anos. §3º Se 
resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez 
anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos”. 
Sublinhe-se: o artigo transcrito logo acima e o homicídio qualificado segundo o inciso III 
tratam de crimes diferentes, no que tange à tortura (ponto comum entre ambos os artigos)! Se 
da tortura resulta morte* (Lei 9455), a pena é de 8 a 16 anos; já se a morte se dá com o em-
prego de tortura (artigo 121, §2º, III), a pena vai de 12 a 30 anos. 
*Na hipótese de da tortura resultar morte, tem-se um exemplo de crime preterdoloso; 
uma vez que se pode observar dolo na tortura (objetivo inicial) e culpa na morte (resultado fi-
nal). 
Seguindo com o estudo do artigo 121, §2º, III, temos – conforme já visto – que o em-
prego de meio insidioso ou cruel qualifica o homicídio; tal que a insídia pressupõe a surpresa* e 
a crueldade está intrinsecamente ligada ao sofrimento (ambos por parte da vítima). 
*O legislador resolveu por bem punir de forma mais severa situações nas quais um su-
jeito X toma certas medidas com vistas a facilitar o cometimento ou a ocultar o crime; é o caso 
da insídia que, em última análise, tratará de impossibilitar a defesa da vítima (exemplo de meio 
insidioso seria o homicídio com o emprego de veneno). 
Segundo o inciso em estudo, é qualificado o homicídio se cometido “com emprego de 
veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resul-
tar perigo comum”. Falta-nos, portanto, estudar o último meio qualificador, qual seja: aquele 
que possa resultar em perigo comum, em outras palavras, o que pode atingir um número inde-
terminado de pessoas. 
O Título VIII (dos crimes contra a incolumidade pública) do CP, em seu Capítulo I traz, 
como o próprio nome diz, os crimes de perigo comum; os quais são inaugurados com o artigo 
250 (que trata do incêndio criminoso)... Assim, temos que se Tício mata Mévio trancando-o em 
uma sala e ateando fogo a todo o local, responderá ele pela prática de homicídio qualificado. 
OBS: A doutrina e a jurisprudência têm admitido que, nas hipóteses que resultam em 
perigo comum, o condenado responde por concurso formal; de forma que no caso acima expli-
citado (homicídio provocado por incêndio), Tício responderia, cumulativamente, por homicídio 
qualificado (artigo 121, III, CP) e também pelo incêndio que provocara (artigo 250, CP). 
O inciso IV do artigo 121 assegura qualificadora segundo a qual: o homicídio é qualifi-
cado se cometido por meio de traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro re-
curso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido. 
Nesse sentido, cabe explicitar: a emboscada ocorre quando um indivíduo X (agente do 
crime) se esconde em determinado local enquanto aguarda a passagem de Y (vítima do crime) 
para, então, matá-lo. Já a dissimulação consiste no uso de um disfarce por parte de X – em 
suas atitudes – com a intenção de criar um ambiente favorável ao cometimento do crime. Seria, 
por exemplo, se este se aproximasse de uma jovem e demonstrasse certo afeto, para conven-
cê-la a ir a um parque, onde pretende assassiná-la. 
O fato de o crime de homicídio ser cometido por diversos agentes ou de os mesmos 
estarem armados, embora torne praticamente impossível a defesa do ofendido, não fará com 
que o inciso IV se apliquee, assim sendo, não qualificará o crime... 
O inciso V do artigo 121 faz referência aos fins do crime, de modo que o homicídio qua-
lificar-se-á se cometido ”para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem 
de outro crime”... Refere-se, portanto, às hipóteses em que há conexão entre crimes. 
A doutrina afirma que quando um crime for cometido para assegurar a execução de ou-
tro há uma conexão teleológica entre ambos (os dois ou mais crimes buscam e devem buscar 
atingir um mesmo fim/um determinado fim. Nas demais hipóteses trazidas pelo inciso em co-
mento (quais sejam: para assegurar ocultação, vantagem ou impunidade), tem-se uma cone-
xão consequencial entre os crimes praticados (haja vista que um ocorre como consequência de 
outro). 
 
Feminicídio 
O inciso VI do artigo 121 traz à baila o feminicídio; tal que este configura a penúltima 
qualificadora do crime de homicídio... Explicita-se: o feminicídio é o homicídio cometido contra 
a mulher por razões da condição de sexo* feminino. 
*OBS: Ao tratar de sexo, o legislador tinha critérios biológicos em mente... Nesse senti-
do, a jurisprudência ainda não se posicionou quanto ao reconhecimento de feminicídio nos 
crimes contra a vida de transexuais... 
O §2º-A deste artigo lê: “Considera-se que há razões de condição de sexo feminino 
quando o crime envolve: I - violência doméstica e familiar; II - menosprezo ou discriminação à 
condição de mulher”... 
Cabe, por fim, e quanto ao feminicídio, que transcrevamos aqui o §7º do artigo 121, 
CP, segundo o qual: “A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 até a metade se o crime for 
praticado: I - durante a gestação ou nos 3 meses posteriores ao parto; II - contra pessoa menor 
de 14 anos, maior de 60 anos ou com deficiência; III - na presença de descendente ou de as-
cendente da vítima”. 
Surge então uma problemática... Com vistas ao inciso I acima transcrito, pergunta-se: 
pelo que responderá Tício se matar Mévia sabendo que a mesma estava grávida? Deve ele 
responder pela prática do crime de feminicídio (homicídio qualificado) majorado (inciso I), cu-
mulativamente com o crime de aborto (em caso de morte do feto)? 
O professor afirma que isso deve ser visto de acordo com a jurisprudência... Mas opina: 
aplicar a pena da forma acima descrita incorreria em bis in idem. Assim, deve Tício responder 
pelo concurso formal dos crimes de feminicídio e aborto (sem a majorante). 
 
Outras formas de homicídio qualificado 
Dando prosseguimento ao estudo do crime de homicídio temos que o inciso VII do §2º 
torna qualificado o homicídio cometido “contra autoridade ou agente descrito nos artigos 142 e 
144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Seguran-
ça Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companhei-
ro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição”. 
Ao elaborar este dispositivo, o legislador tinha em mente o perigo que os agentes da 
força pública acabam, inevitavelmente, por trazer às suas vidas e às daqueles que convivem 
com eles... 
Quanto ao trecho grifado, pergunta-se: basta que o cônjuge, companheiro ou parente 
consanguíneo até terceiro grau de agente descrito no inciso em estudo morra para que aque-
le/aquela que o/a matou responda por homicídio qualificado? Esta é uma problemática recente 
e sobre a qual a jurisprudência ainda terá de se posicionar... Para o professor, entretanto, a 
questão é clara: o assassino apenas responderá por homicídio qualificado se o dito crime se 
der em função do parentesco com o agente da força pública (em outras palavras, o artigo pres-
supõe o conhecimento de tal condição)... 
Finalmente, cabe que nos perguntemos: pode haver homicídio qualificado privilegiado? 
Estranhamente, a resposta é sim! Nos termos do §1º: Se o agente comete o crime impelido por 
motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em se-
guida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço... As-
sim, se (e somente se) a qualificadora do homicídio tiver caráter objetivo* (por exemplo: se 
Tício mata Mévio com emprego de fogo logo após injusta provocação por parte deste), há que 
se falar em homicídio qualificado privilegiado... 
*OBS: O caráter objetivo é imprescindível, pois que o §1º não irá se aplicar, por exem-
plo, se Tício matar Mévio nos termos do artigo 121, §2º, II (por motivo fútil)... Afinal, motivo de 
relevante valor social ou moral e motivo fútil não se podem relacionar (ambos têm caráter sub-
jetivo). 
Com vistas à Lei 8072/90 (Lei dos Crimes Hediondos), surge uma nova problemática a 
ser enfrentada: uma vez que o homicídio qualificado é, conforme já se sabe, tido como hedion-
do, como fica o homicídio qualificado privilegiado? Pois bem, tem-se entendido que este não é 
hediondo... O motivo de tal é simples: não cabe ler o Código Penal e suas leis especiais de 
forma extensiva (sob pena de ferir o princípio da legalidade); assim, se a lei fala que o “homicí-
dio qualificado” é hediondo, tudo que vai além do termo “homicídio qualificado” não o será. 
Algumas outras questões devem ser enfrentadas em se tratando do crime de homicí-
dio... Primeiramente, lê a súmula 605 do STF: “Não se admite continuidade delitiva nos crimes 
contra a vida” (datada de 1984). Entretanto, esta já não se aplica, uma vez que o habeas cor-
pus 77.786/RJ inseriu, em 2001, o §único do artigo 71, segundo o qual: “Nos crimes dolosos, 
contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, 
considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, 
bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, 
ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e 
do art. 75 deste Código”. Tal que o homicídio – obviamente – se enquadra no trecho sublinha-
do... 
A segunda e última questão importante a ser vista é a seguinte: como fica, com vistas 
ao crime do 121, a transmissão dolosa da AIDS? Se o sujeito X, portador do vírus, o transmite 
dolosamente para o indivíduo Y, deve ele responder por tentativa de homicídio? Bom, tal tema 
ainda não está pacificado e acerca dele, cabe breve explanação: o STF, no Habeas Corpus 
98.712, julgado em 05/10/2010, repudiou a categorização da conduta de transmissão de HIV 
como crime doloso contra a vida (posição esta que era até então a preferida pela jurisprudên-
cia). Contudo, após afastar o tipo penal de homicídio e, consequentemente, a competência do 
Tribunal do Júri para o processamento da causa, os Ministros travaram interessante debate a 
respeito de qual seria o delito cometido pelo agente no quadro em tela... De um lado, o relator 
Min. Marco Aurélio entendia que a tipificação correta seria a do art. 131 do Código Penal (crime 
de perigo de contágio de moléstia grave), já o Min. Ayres Britto proferiu voto sugerindo a tipifi-
cação da conduta como crime de lesão corporal de natureza gravíssima, com fulcro no art. 129, 
§ 2º, II, do Código Penal (lesão corporal que resulta em enfermidade incurável). 
Após os debates, e sem haver uma conciliação a respeito, a turma do STF preferiu, en-
fim, optar pela remessa dos autos ao Juízo comum para novo julgamento. 
Em 17/05/2012, o STJ enfrentou caso semelhante, no julgamento do HC 160.982/DF, 
com acórdão de lavra da Ministra Laurita Vaz. Neste caso, diferentemente do que ocorreu no 
STF, o Tribunal foi firme ao proferir o acórdão enquadrando a conduta como crime de lesão 
corporal de natureza gravíssima, tomando como fundamento para a decisão os mesmos argu-
mentos utilizados pelo Min. Ayres Brittoe pelo Min. Ricardo Lewandowski no processo acima 
referido. 
O fato incontroverso é que há diversas tipificações possíveis – pelo menos em uma 
primeira observação – e cujas ponderações devem ser bem esmiuçadas a fim de se desvendar 
qual é a verdadeira conduta praticada e o tipo correspondente... 
 
Homicídio culposo 
Iniciaremos, agora, o estudo da “última parte” do artigo 121: o homicídio culposo. Tal 
que, segundo o artigo 18 do CP “Diz-se o crime: II - culposo, quando o agente deu causa ao 
resultado por imprudência, negligência ou imperícia”. 
De forma que a imprudência é o não observar de um cuidado, por meio de um “fazer”, 
ou seja, é uma inobservância que gera uma ação tida como imprudente (é ultrapassar o sinal 
de trânsito ou trafegar acima da velocidade máxima permitida); a negligência, por outro lado, 
configura um não fazer (é um policial que, ao chegar em casa, deixa de guardar a sua arma em 
um local seguro, deixando-a sobre a cama; de forma que esta fica como sendo de fácil acesso 
aos seus filhos) e, por fim, a imperícia é tida como a falta de técnica (e, aí, pensar-se-á nos 
motoristas profissionais, nos médicos, enfermeiros, dentre outros...). 
O professor propõe, então, que nos indaguemos... Se o legislador diz, no parágrafo 
único do artigo 18, que “(..) ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão 
quando o pratica dolosamente”, ou seja, se opta ele pela teoria finalista, como explicar o homi-
cídio culposo? Se se deve punir X pelo resultado para o qual dirigiu finalisticamente a sua con-
duta e X mata Y sem a intenção de fazê-lo, por que deve ele responder por homicídio culposo? 
Parece, nesse sentido, que a primeira parte do parágrafo em comento não é muito esclarece-
dora; qual seja: “Salvo os casos expressos em lei (...)”... 
Superada essa indagação, ou melhor, em face à impossibilidade de se superar essa 
indagação, cabe dar prosseguimento ao estudo do homicídio culposo, tal que ao se falar em 
homicídio culposo, pensa-se logo em acidentes de trânsito. Pois bem, no que tange ao trânsito 
temos uma legislação específica: o CTB (Código de Trânsito Brasileiro)! Assim, deve-se tomar 
cuidado! O artigo 302 do CTB lê: “Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: 
Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou 
a habilitação para dirigir veículo automotor.”. E vai além: “§1º No homicídio culposo cometido 
na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de 1/3 à metade, se o agente: I - não 
possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; II - praticá-lo em faixa de pedestres 
ou na calçada; III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à 
vítima do acidente; IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo 
de transporte de passageiros. §2º Se o agente conduz veículo automotor com capacidade psi-
comotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que de-
termine dependência ou participa, em via, de corrida, disputa ou competição automobilística ou 
ainda de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autori-
zada pela autoridade competente: Penas - reclusão, de 2 a 4 anos, e suspensão ou proibição 
de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.”. Ou seja, o homicídio 
culposo ao volante tem tratamento específico do CTB (e, assim, pelo critério da especificidade, 
se X mata Y ao volante sem ter a intenção de fazê-lo, responderá ele pelo artigo 302 (e não 
pelo 121, §3º, como se haveria de pensar)... 
Partindo-se para o estudo do §4º do 121, temos que “No homicídio culposo, a pena é 
aumentada de 1/3, se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão*, arte ou 
ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as con-
seqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. (...)”. 
*Nesse sentido, cabe sublinhar: não se há que confundir a imperícia e a inobservância 
de regra técnica... O sujeito imperito observa o protocolo, mas não é perito o suficiente para 
segui-lo; já o segundo sujeito não observa o protocolo e, por conseguinte, a chance de que 
algo dê errado com este é muito maior. Assim sendo, homicídio culposo (por imperícia) aumen-
tado em 1/3 por inobservância de regra técnica não incorre em bis in idem! 
Outra observação se faz necessária com vistas ao quarto parágrafo do artigo que tem 
sido tópico das ultimas aulas, qual seja: as majorantes previstas em tal não são estanques (em 
outras palavras, a conjunção “ou” tem valor de alternância no contexto em que está inserida... 
Assim: se X fere Y sem ter a intenção de fazê-lo, ajuda-o, mas depois se evade do local, sua 
pena há de ser aumentada! 
Sobre a tal ajuda que deve ser prestada, preleciona o artigo 304 do CTB: “Deixar o 
condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não po-
dendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública: 
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de cri-
me mais grave. Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, 
ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instan-
tânea ou com ferimentos leves”. 
Tece-se, com vistas ao trecho acima transcrito, quatro comentários: 1) o artigo em co-
mento expressamente trabalha com a ideia de justa causa; 2) o que era tido, conforme visto, 
como majorante no CP, passa a ser tido como tipo apartado no Código de Trânsito; 3) o pará-
grafo único inaugura uma ideia um tanto absurda, afinal, como se poderia socorrer uma vítima 
morta instantaneamente? (No CP, por outro lado, diante da morte da vítima, não será a pena 
do seu agressor aumentada em face a sua não prestação de socorro)... Por fim, 4) se um ter-
ceiro resolver prestar socorro à vítima, o agressor tem que, “cair no tapa” com aquele para que 
sua pena não seja aumentada (explicita-se aqui, outro absurdo trazido pelo mesmo parágra-
fo)... 
OBS: o professor, nesse ponto, tratou de ler, brevemente o texto do artigo 291 do CTB, 
qual seja: “Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste Código, 
aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítu-
lo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que 
couber”; e isso com o fim de sublinhar o trecho destacado. 
Pois bem, lê o §4º, in fine: “(...) Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 
se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 ou maior de 60 anos”. O legislador parece 
ter querido aproveitar o título atribuído a tal parágrafo (“Aumento de pena”), entretanto foi infeliz 
em sua escolha, pois que do ponto de vista estrutural/da organização do CP o trecho acima 
transcrito deveria configurar parágrafo apartado e vir logo após o crime de homicídio doloso... A 
opção de o inserir no parágrafo seguinte ao homicídio culposo passa uma ideia de desleixo... 
OBS: quando diante do §4º, in fine, deve-se tomar cuidado com o bis in idem! Haja vis-
ta que há agravante genérica (artigo 61, II, h) segundo a qual agravar-se-á a pena caso o 
agente cometa o crime “contra criança, maior de 60 anos, enfermo ou mulher grávida”... 
 
Perdão judicial do homicídio 
§5º: Trata, este, do perdão judicial em se tratando do crime de homicídio; em seus ter-
mos: “Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conse-
qüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se 
torne desnecessária”. Quanto ao perdão judicialpreleciona o artigo 120 é a súmula 18 do STJ, 
respectivamente: “A sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos 
de reincidência” e “A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da pu-
nibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório”. Apalavra sublinhada (sentença) é 
importante neste contexto, pois dela infere-se o que se segue: o perdão será concedido ao fim 
do processo. 
OBS: alguns questionam se, no caso em comento, não faltaria justa causa quando da 
propositura da ação, tal que este é um dos princípios do processo penal... 
 
Homicídio praticado por milícia privada 
Seguindo à leitura do §6º, temos que “A pena é aumentada de 1/3 até a metade se o 
crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou 
por grupo de extermínio”. Utilizar-nos-emos dos artigos 288, CP (“Associação Criminosa: Asso-
ciarem-se 3 ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes”); 288-A, CP (“Constitui-
ção de milícia privada: Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramili-
tar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes 
previstos neste Código”) e 1º, §1º, da lei 12.850 (“Considera-se organização criminosa a asso-
ciação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de 
tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de 
qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superi-
ores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional”) para definir “milícia privada”... 
Mas cabe que façamos uma ressalva: para que a pena seja majorada, não basta que 
uma milícia privada cometa o crime de homicídio... Deve ela fazê-lo a prefeito de prestação de 
serviço de segurança! 
Outro cuidado faz-se necessário: não se há que confundir o grupo de extermínio com o 
crime de genocídio (de que trata a Lei 2889/56). Enquanto no genocídio, o propósito é extermi-
nar uma raça, etnia, religião, etc; na causa de aumento que aqui se estuda, o objetivo é menos 
grave (apenas comparativamente!): o grupo de extermínio almeja matar pessoas... Um grupo 
delas... Seguem dois exemplos de temas de que poderia tratar um grupo fictício de extermínio: 
morte aos mendigos e morte aos bandidos. 
OBS: sem dúvidas pôde-se imputar a um sujeito X, de maneira concomitante, a causa 
de aumento do §6º e uma qualificadora do §2º, afinal, o homicídio cometido pelo grupo de ex-
termínio pode ter motivo torpe/abjeto... 
 
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (CP, art. 122) 
Tendo, pois, finalizado o estudo do artigo 121, prosseguiremos, no decorrer desta e 
das próximas aulas, com o estudo dos “crimes contra a vida” (elencados no Título I, Capítulo I, 
do CP). Cabe explicitar: todos os crimes de tal natureza são de competência do tribunal do júri. 
Lê o artigo 122: “Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que 
o faça: Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a 
três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave”. 
Passa-se aos comentários... Primeiramente, temos que a leitura do artigo é clara: ao 
contrário do que se via na antiguidade (onde aquele que tentasse se suicidar e não obtivesse 
sucesso em sua empreitada era castigado, justamente, com a pena de morte), hoje não se há 
que falar em punir o suicida! O artigo trata, por outro lado, daquele que induz, instiga ou auxilia 
o suicídio de outrem... 
Em segundo lugar, tem-se que impedir que outra pessoa se suicide não configura cri-
me! Assim, se Tício sabe – por um motivo qualquer – que Mévio planeja se jogar da UERJ no 
dia 30/09/2016 e, antecipando-se ao amigo, trata de trancá-lo em casa, furtivamente, na noite 
do dia 29/09/2016: não responderá ele, ao contrário do que se poderia pensar, por constrangi-
mento ilegal (crime que será estudado em momento posterior)... 
Nesse sentido, tem-se que Tício comete fato típico e ilícito, todavia o parágrafo 3º, em 
comento, traz, em si, uma excludente de ilicitude e, por conseguinte, afasta a figura do crime 
(fato típico, ilícito e culpável...). Cabe, pois, que se faça uma analogia: se Caio tenta matar Mé-
vio e este, na tentativa de se defender, causa grave lesão àquele, não há dúvidas! Mévio co-
mete fato típico! Porém, entretanto, todavia, fá-lo sob a égide da legítima defesa (tal que esta 
configura, também, excludente de ilicitude e, consequentemente, trata de afastar o crime). 
OBS: Assim, o Sr. Incrível, ao salvar o Sr. Olivério Tosco, não poderia ser processado 
– ao menos não no Brasil! 
Voltando-se ao caput do artigo 122 temos que este configura um crime de ação múlti-
pla ou um tipo penal misto, pois que traz em um único tipo não uma, mas três condutas: induzir 
(fazer nascer a ideia/plantar a sementinha), instigar (fazer crescer a ideia já presente) e auxiliar 
(fornecer os meios)... 
O tipo penal misto pode ser alternativo ou cumulativo; de forma que, se num crime de 
tipo penal misto alternativo composto por 2 condutas (A e B), Tício pratica apenas A, comete 
um crime; se pratica apenas B, comete um crime; se pratica A e B, comete – também – apenas 
um crime... Já em face de um tipo penal misto cumulativo composto por 2 condutas (A e B), se 
Caio comete pratica apenas A, comete um crime; se pratica apenas B, comete um crime; toda-
via, se pratica A e B, comete dois crimes... Quanto ao artigo 122, e depois de vencidas as dife-
renças entre ambos os tipos penais, sublinhe-se: cuida-se de um tipo penal misto alternativo! 
Voltando-se à leitura e estudo do artigo 122, temos que o crime por este descrito é co-
mum (atinge a todos); simples (atinge apenas um bem penal) e pode ser comissivo ou de 
omissão imprópria... 
Explique-se: o crime comissivo é aquele praticado por meio de uma ação, já o crime de 
omissão imprópria é aquele que conta com a figura de um agente garantidor* (exemplo deste, 
no que toca ao artigo 122, é a mãe que vê o filho querer se matar e não faz nada com o intuito 
de o impedir). 
*OBS: Sao agentes garantidores aqueles descritos no artigo 13, §2º... 
Por fim, tem-se que o induzimento, a instigação ou o auxílio descritos no 122 têm que 
se dirigir a pessoa certa e determinada! Sublinhe-se: um grupo pode configurar “pessoa certa e 
determinada”... 
O sujeito ativo de tal pode ser qualquer pessoa, ao passo que o sujeito passivo deste 
tem que ter alguma capacidade, não podendo - neste sentido - ser "qualquer um", como se viu 
na análise anterior. O porquê dessa prerrogativa é facilmente assimilado: caso o suicida não 
seja sujeito de direito capaz (seja pela sua idade ou por causas mentais diversas), aquele que 
o induz, instiga ou auxilia comete conduta tipificada pelo artigo 121 (qual seja: homicídio)! 
Partindo-se, pois, para a classificação doutrinária do 122, temos que este configura 
crime 1) de dano, 2) material, 3) monossubjetivo; 4) plurissubsistente e 5) doloso. 
Explica-se: o crime de dano é aquele que não se consuma apenas com o perigo, é ne-
cessário que ocorra uma efetiva destruição a um bem jurídico penalmente protegido. 
Já o crime material é aquele em cujo tipo penal vê-se descrito tanto a conduta quanto o 
resultado esperado (no caso do 122, "induzir, instigar e auxiliar" e "o suicídio de outrem"). Este 
opõe-se aos crimes formais (nos quais pode sobrevir o resultado, mas só a conduta é exigível; 
a maioria dos crimes classificados como formais traz em sua redação expressões tais quais: 
“com o intuito de” ou “para fins de”, como é o caso da extorsão, por exemplo... Em outras pala-
vras: nos crimes formais, para que a conduta

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