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morte e vida das grandes cidades

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No livro “A Imagem da Cidade o autor Kevin Lynch discorre sobre a percepção de cada indivíduo da cidade e de como essa imagem se estrutura. Segundo Lynch, essa percepção é parcial e fragmentada, ou seja, envolve outras referências. A imagem sempre é composta pelo conjunto de elementos e não por um elemento isolado. Isso significa que um elemento implantado em um determinado espaço da gleba urbana, quando implantado em outro espaço, vai provocar a estruturação de uma imagem distinta da anterior. Dentre os elementos, citados pelo autor, que permitem a estruturação da imagem citadina esta a memória e os significados pertencentes ao sujeito em questão, que atribuem à percepção d a imagem um caráter não universal e que não pode ser analisado de maneira generalizada. Contudo, os outros 5 elementos permanecem válidos e aplicáveis à todas as leituras. 
Como obra arquitetônica a cidade é uma construção em grande escala no esp aço, só percebida no decorrer dos longos períodos de tempo sendo seu design uma arte temporal. Nada é vivenciado em si mesmo, mas sempre em relação ao s seus arredores, às sequências de elementos, à lembrança de experiências passadas. Cada cidadão tem vastas associações com alguma parte de sua cidade e o cidadão faz parte desse cenário. A cidade não é apenas um objeto percebido, ela pode ser estável por algum tempo mas está sempre se modificando nos detalhes. 
A legibilidade é apontada por Lynch como elemento crucial na estrutura citadina, caracterizada pela clareza da paisagem da cidade. Ainda que a esta não seja , o único atributo importante da bela cidade, é algo que têm grande importância quando analisamos os ambientes urbanos pela sua dimensão, tempo e complexidade. Para essa compreensão de ve-se levar em conta a cidade não como objeto concreto, mas como objeto d a percepção dos indivíduos que lá habitam, ou seja, a imagem da cidade contida no imaginário de cada habitante. No processo de orientação, o elo estratégico é a imagem ambiental, o quadro mental generalizado do mundo físico exterior de que cada indivíduo é portador. A necessidade de reconhecer e padronizar nosso ambiente são tão cruciais e tem raízes profundas arraigadas ao passado, que essa imagem é de enorme importância prática e emocional para o indivíduo. Uma imagem clara nos permite uma locomoção ma is rápida e fácil, além de que um ambiente ordenado pode servir como um sistema de referências. O desenvolvimento do indivíduo necessita d a imagem clara do seu meio para ser constituir. Uma boa imagem ambiental oferece ao observador o sentimento de segurança emocional, estabelecendo assim, entre ele e o espaço à sua volta uma relação harmoniosa. Um ambiente legível também reforça a profundidade e a intensidade potenciais da experiência humana. Para ter valor em termos de orientação no espaço ocupado pelas pessoas, uma imagem precisa te r várias qualidades. Deve ser suficiente, verdadeira em sentido pragmático, permitindo que o indivíduo atue dentro do seu ambiente na medida de suas necessidades. 
A cidade é, em si, símbolo de uma sociedade complexa. As imagens ambientais são resultado de uma experiência sensorial e racional entre o observador e seu ambiente. Cada observador cria e idealiza sua imagem individual, mas é comum existir certo consenso entre membros d e um mesmo grupo. Essas imagens de grupos é que interessam aos planejadores urbanos, os quais são responsáveis pela organização d e um espaço que venha a ser usado por um contingente populacional. 
O objeto deve ter algum significado para o observador, seja ele prático ou emocional. Através de experiências sensoriais (visão, audição, relações sinestésicas e outra s) o indivíduo é capaz de definir a identidade e singularidade do espaço urbano. Além de identidade, o sistema de organização deve conter estrutura, a qual determina que um objeto contido no espaço da cidade deve estabelecer algum tipo de relação de padronização ou propositadamente o antônimo disso, 
com seu entorno. A capacidade que um objeto no espaço urbano tem d e evocar uma imagem forte no indivíduo observador é chamada de Imageabilidade. 
“O conceito de imageabilidade não tem, necessariamente, conotações com algo de
fixo,limitado, preciso, unificado, ou ordenado regularmente, embora possa, por vezes, ter essas qualidades.
 Também não significa visível, óbvio, evidente ou claro. O meio ambiente é fortemente complexo se o tentarmos estruturar n o seu todo, enquanto a imagem evidente depressa cansa e apenas pode apontar para poucas características do mundo vivo.” 
- LYNCH, Kevin. “A imagem da Cidade”. 
O conceito de imaginabilidade, portanto, está ligado ao conceito de legibilidade, uma vez que imagens “fortes” aumentam a probabilidade de construir uma visão clara e estruturada da cidade. 
Uma cidade que proporciona ao indivíduo uma experiência altamente imaginável poderia ser descrita pelo autor como uma cidade bem formada, distinta, e memorável. 
Cada indivíduo produz uma imagem única que possui conteúdo nunca ou raramente divulgado, mas ainda assim, se aproxima da imagem pública que, em ambientes diferentes, é mais ou menos impositiva, e determinante. O conteúdo das cidades estudadas no capitulo anterior pelo autor pode ser classificado em cinco tipos de elementos: vias, limites, bairros, cruzamentos e pontos marcantes e podem ser definidos da seguinte maneira: 
Vias – são canais de circulação ao longo dos quais o observador se locomove de modo habitual, ocasional ou potencial. Podem ser ruas, alarme das linhas de trânsito, canais, ferrovias. Para muitas pessoas, são estes elementos predominantes em sua imagem. As características especiais de cada 
rua são importantes para a identificação de cada via. As fachas dos edifícios nelas contidas, a textura do pavimento, a quantidade de vegetação, a proximidade à um rio ou riacho, são traços especiais que podem servir com o fatores de identificação nessas vias. A Avenida Commonwealth, situada em Boston, é citada por Lynch como um exemplo de via que é identificada pela tipologia das fachadas dos edifícios que lá se encontram, reforçando a imagem da mesma de modo significativo. 
Limites - são elementos lineares não usados ou entendidos como vias pelos habitantes. São fronteiras que dividem a cidade ou determinado espaço urbano em duas ou mais partes, quebras de continuidade entre cotas de nível o u padrões. São exemplos praias, margens de rios, lagos, ferrovias, construções, muros e paredes. São barreiras que podem manter uma região isolada das outras. São interessantes os limites aéreos, pouco notados pelos indivíduos de uma cidade, mas que também são limites divisores físicos ou visuais do ambiente. Exemplo destes é o caso da linha férrea que passa por cima da Rua Washington, em New York. Segundo o autor, quando tais limites se cruzam ou rodopiam por cima de nós, pode gerar grande confusão. 
Bairros – são regiões médias ou grandes de um espaço urbano, considerados como tendo extensão bidimensional. São reconhecíveis por possuírem características comuns que os tornam identificáveis 
à medida que o indivíduo adentra -os. Podem ser identificados tanto com referência ao seu lado interior como exterior, sendo importantes na estruturação das cidades na visão dos cidadãos. Os bairros podem ter fronteiras definidas e precisas e outras ligeiras e incertas. Essas diferenças no caráter da s fronteiras provocam confusão e incertezas na formação da imagem d e delimitação construída por cada indivíduo, como é o caso da cidade de Boston, que após entrevistar os habitantes da cidade foi possível concluir que alguns limites de bairros não estão fortemente definidos. 
Cruzamentos – são pontos, lugares estratégicos de uma cidade através dos quais o observador pode entrar, são focos intensivos para os quais ou a partir d os quais se locomove. Podem ser basicamente junções, locais de interrupção do transporte, um cruzamento ou u ma convergência de vias, mo mentos de passagem d e uma estrutura a ou tra. Alguns desses cruzamentos são o foco e a síntesede um bairro, sobre o qual sua influência se irradia e do qual são u m símbolo. A Praça de São Marcos, em Veneza, altamente diferenciada, situa-se em contraste nítido com o caráter geral da cidade e ainda assim se mantém firmemente ligada à estrutura significante da cidade, o Grande Canal. Este cruzamento é tão particular que até pessoas que não foram à Veneza são capazes de identificar a praça através de fotografias. 
Elementos Marcantes – são outro tipo de referência, mas, nesse caso considerados exteriores ao observador. Em geral, caracterizados por um objeto físico definido de maneira muito simples: edifício, sina l, loja ou montanha. Seu uso implica a escolha de um elemento a partir d e um conjunto de possibilidades. Alguns pontos marcantes são implantados para serem vistos de muitos ângulos e distâncias distintos, ou para comporem uma imagem estando acima de elementos menores ou usados como referências radiais. A Catedral de Florença é um exemplo de elemento marcante que é visível d e longe e de perto, em qualquer hora do dia e for temente ligada à identidade da cidade, tanto pela localização, quanto pelo símbolo arquitetônico.

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