Buscar

Contrato de Fianca 6 Termo 2016


Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

DA FIANÇA
1. Conceito
O Código Civil de 2002 disciplina a fiança em três seções: a) a primeira concernente às disposições gerais (arts. 818 a 826); b) a segunda, relativa aos efeitos da fiança (arts. 827 a 836); c) a terceira, atinente à extinção da fiança (arts. 837 a 839).
Entre os diversos meios destinados a garantir um estado de fato a que corresponda um direito se enfileiram as cauções. Elas visam fundamentalmente suprir a insuficiência patrimonial do devedor. E dentre as cauções ou meios assecuratórios que nossa legislação fornece à garantia e à proteção dos direitos, algumas se efetivam mediante a separação de um determinado bem, móvel ou imóvel, do patrimônio do devedor, que fica afetado à solução de uma obrigação como garantia real, como sucede no penhor, na hipoteca e na anticrese, por exemplo. A caução real caracteriza-se efetivamente pela vinculação de um determinado bem ao cumprimento da obrigação.
Outras garantias se realizam, por outro lado, mediante compromisso assumido por terceiro, estranho à relação obrigacional, de pagar a dívida do devedor, se este não o fizer. Surge, então, neste caso, a garantia pessoal ou fidejussória, representada pela fiança.
Dispõe o art. 818 do Código Civil que, “pelo contrato de fiança, uma pessoa garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não a cumpra”. A fiança é, portanto, o contrato pelo qual uma pessoa se obriga a pagar ao credor o que a este deve um terceiro. Alguém estranho à relação obrigacional originária, denominado fiador, obriga-se perante o credor, garantindo com o seu patrimônio a satisfação do crédito deste, caso não o solva o devedor.
O aval também constitui garantia pessoal, mas não se confunde com a fiança. Esta é uma garantia fidejussória ampla, que acede a qualquer espécie de obrigação, seja convencional, legal ou judicial. O aval, no entanto, é instituto do direito cambiário, restrito aos débitos submetidos aos princípios deste. Trata-se de declaração unilateral e não de contrato. Nos seus efeitos também se observa a diferença: o aval gera “responsabilidade sempre solidária, ao contrário da fiança, que pode sê-lo, ou não”.
O Código Civil prevê ainda outras formas de garantia que têm afinidade com a fiança, mas que com ela não se confundem, como a comissão del credere (CC, art. 698), pela qual o comissário garante, solidariamente, a pontualidade e a solvabilidade daqueles com quem trata, e a assunção de dívida, pela qual o assuntor assume a dívida de outrem, com modificação subjetiva na relação jurídica. Trata-se de institutos que se regem por regras e princípios próprios, embora tenham muitos pontos de contato com a fiança. A mencionada comissão del credere não constitui aval ou fiança, mas garantia solidária decorrente de acordo de vontade, autorizada por lei. E a assunção de dívida é modo de transmissão de obrigações (CC, art. 299).
2. Natureza jurídica da fiança
Trata-se de modalidade contratual de natureza acessória, porque só existe como garantia da obrigação de outrem, sendo muito frequente no mundo dos negócios, particularmente como adjeto à locação e a contratos bancários, juntamente com o aval.
Diz-se que a fiança tem caráter acessório e subsidiário porque depende da existência do contrato principal e tem sua execução subordinada ao não cumprimento deste, pelo devedor. Nula a obrigação principal, a fiança desaparece, “exceto se a nulidade resultar apenas de incapacidade pessoal do devedor” (CC, art. 824). A exceção não abrange, contudo, “o caso de mútuo feito a menor” (parágrafo único).
O aludido art. 824 do Código Civil de 2002 contém uma impropriedade técnica, por admitir, ainda que como exceção, a possibilidade de uma obrigação nula ser afiançada se a nulidade resultar apenas de incapacidade pessoal do devedor. Se a obrigação principal for nula, não haverá obrigação a garantir. Manteve-se a redação do art. 1.488 do diploma de 1916, que mereceu de Clóvis Beviláqua a seguinte explicação: “São suscetíveis de fiança as obrigações anuláveis por incapacidade relativa pessoal do devedor. A razão, que se costuma dar para justificar esse preceito, é que há, neste caso, uma obrigação natural, portanto, não falta, inteiramente, uma base à fiança. O fiador garante o credor contra os riscos decorrentes da incapacidade do devedor”.
Mais adiante, enfatiza o citado mestre: “Abstraindo da obrigação natural, haverá, em todo caso, um dever de pagar, porque a obrigação anulável subsiste enquanto não se anula. E o fiador, assegurando o cumprimento dessa obrigação, torna-se devedor direto e único, se o obrigado se escusa, sob o fundamento de sua incapacidade”.
Por ter caráter acessório, a fiança pode ser de “valor inferior ao da obrigação principal e contraída em condições menos onerosas”, não podendo, entretanto, ser de valor superior ou mais onerosa do que esta (in duriorem causam), uma vez que o acessório não pode exceder o principal. Se tal acontecer, não se anula toda a fiança, mas somente o excesso, reduzindo-a ao montante da obrigação afiançada (CC, art. 823). É possível também dar fiança condicional ou a termo a uma obrigação pura e simples.
A fiança é contrato unilateral, porque gera responsabilidades, depois de ultimado, unicamente para o fiador. Parte da doutrina, inclusive Clóvis, citado por Eduardo Espínola, o considera, porém, contrato bilateral imperfeito, porque, se o fiador vier a pagar o valor da fiança, fica sub-rogado nos direitos do credor primitivo, tendo ação contra o devedor para ser reembolsado daquilo que por causa dele despendeu. Todavia, como rebate o último, “esse direito do fiador não resulta de alguma obrigação do credor e sim do dispositivo da lei”. E ainda, como reforça Orlando Gomes, “essa opinião assenta no falso pressuposto de que o contrato se realiza entre o fiador e o devedor. Insustentável, demais disso, porque, cumprida a obrigação do fiador, se extingue o contrato de fiança”.
A efetivação da fiança depende de forma escrita ad solemnitatem, imposta pela lei (CC, art. 819), por instrumento público ou particular, no próprio corpo do contrato principal ou em separado. Basta que seja dada “por escrito”, não se exigindo determinada forma especial para a sua comprovação. É, destarte, contrato formal, pois fiança jamais se presume. Uma pessoa pode, por algum motivo, honrar o compromisso do devedor e por ele pagar. Mas essa deliberação espontânea nunca presumirá a fiança, se a declaração de vontade não revestir forma escrita, ainda que o instrumento seja particular. Pode constar de simples carta ou outro documento, em que se mencionarão a modalidade e a extensão, sem exigência de termos sacramentais. Já se decidiu, no entanto, que não pode ser admitida como fiança declaração constante de documento que não apresente os requisitos peculiares ao seu teor jurídico.
A gratuidade é uma das características da fiança, porque o fiador, em regra, auxilia o afiançado de favor, nada recebendo em troca. Mas pode a avença assumir caráter oneroso, quando o afiançado remunera o fiador pela fiança prestada, como acontece comumente no caso das fianças bancárias e mercantis e até mesmo entre particulares, como se verifica nos anúncios publicados em jornais.
Sendo contrato benéfico, a fiança “não admite interpretação extensiva” (CC, arts. 114 e 819, segunda parte). Não se pode, assim, por analogia ampliar as obrigações do fiador, quer no tocante à sua extensão, quer no concernente à sua duração.
Não deve compreender senão o que for expressamente declarado como seu objeto. Proclama, nessa linha, a Súmula 214 do Superior Tribunal de Justiça: “O fiador não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu”.
É princípio assente em todos os códigos que a fiança não pode ir além dos limites estabelecidos no contrato. Todavia, quando seja determinado o objeto da fiança, sem a declaração de que ela se limita à dívida principal, entende-se que ela compreende os seus acessórios, incluindo as despesas judiciais. Preceitua, com efeito, o art. 822 do Código Civil que,
“não sendo limitada, a fiança compreenderá todos os acessórios da dívida principal, inclusive as despesas judiciais, desde a citação do fiador”. Desse modo, se a fiança é prestada sem que constem do instrumento as restrições, ter-se-á como dada em caráter universal, tornando o fiador corresponsável por todo e qualquer prejuízo causado pelo afiançado.
A fiança é, por fim, contrato personalíssimo ou intuitu personae, porque celebrado em função da confiança que o fiador merece.
3. Espécies de fiança
A fiança pode ser convencional, legal e judicial. A primeira resulta de acordo de vontades, que deve necessariamente ser escrito. A segunda é imposta pela lei (CC, arts. 1.400, 1.745, parágrafo único etc.). E a terceira, determinada pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes.
Como exemplos de fiança legal podem ser mencionados ainda, dentre outros, os arts. 260, II, 495 e 1.305, parágrafo único, todos do Código Civil; e o art. 121 do Código de Águas.
4. Requisitos subjetivos e objetivos
Quanto aos requisitos subjetivos, a capacidade para ser fiador é a genérica: podem ser fiadoras todas as pessoas que tenham a livre disposição de seus bens. Ficam afastados, portanto, os incapazes em geral. Concedida por mandato, requer poderes especiais; e, se o outorgante for analfabeto ou cego, a procuração deve ser dada por instrumento público. O pródigo não pode prestar fiança porque o ato coloca em risco o seu patrimônio e está inibido de, sem curador, praticar atos que não sejam de mera administração (CC, art. 1.782).
Um cônjuge não pode, sem o consentimento do outro, exceto no regime da separação absoluta, prestar fiança (CC, art. 1.647, III). A falta da aludida autorização torna o ato anulável (art. 1.649), estando legitimado a postular a anulação, “até dois anos depois de terminada a sociedade conjugal”, somente o cônjuge que não deu a outorga, ou seus herdeiros, se já falecido, podendo, ainda, ser confirmado por ele, desde que “por instrumento público, ou particular, autenticado” (arts. 172, 1.649, parágrafo único, e 1.650). O Código Civil de 2002 declara expressamente a anulabilidade do ato, afastando a tese da nulidade e pondo fim a antiga polêmica sobre a questão.
Preleciona Sílvio Venosa que o consentimento “não se confunde com fiança conjunta. O cônjuge pode autorizar a fiança. Preenche-se desse modo a exigência legal, mas não há fiança de ambos: um cônjuge afiança e o outro simplesmente autoriza, não se convertendo em fiador. Os cônjuges podem, por outro lado, afiançar conjuntamente. Assim fazendo, ambos colocam-se como fiadores. Quando apenas um dos cônjuges é fiador, unicamente seus bens dentro do regime respectivo podem ser constrangidos”.
Tem o Superior Tribunal de Justiça, com efeito, proclamado que, “sendo a fiança contrato que não admite interpretação extensiva, por ter caráter benéfico, e constando no contrato de locação o marido como fiador, a que a mulher apenas concedeu anuência para atender a exigência legal, não há cogitar de solidariedade de que trata o art. 829 do Código Civil”.
Proclama a Súmula 332 do Superior Tribunal de Justiça: “A anulação de fiança prestada sem outorga uxória (sem autorização de um dos cônjuges) implica a ineficácia total da garantia”. No mútuo feito a menor, a fiança dada a este é inválida, e não é lícito ao credor recobrar o empréstimo do fiador (CC, art. 588).
Pode haver, ainda, restrições de ordem convencional que acarretam a falta de legitimação, como as estabelecidas em contrato social, proibindo expressamente a firma de dar fiança, ou aos seus gerentes e administradores de assumirem esta responsabilidade em negócios estranhos aos interesses sociais.
Diz o art. 820 do Código Civil que “pode-se estipular a fiança, ainda que sem consentimento do devedor ou contra a sua vontade”. Em geral é o devedor que apresenta ao credor pessoa que se dispõe a obrigar-se como fiador, garantindo a dívida. Todavia, como se trata de um contrato entre fiador e credor, entre os quais se forma a relação jurídico-fidejussória, e tem sempre por finalidade beneficiar o devedor, nada impede que o contrato se forme, sem que este tenha conhecimento.
Muitas vezes incumbe ao devedor, por determinação legal, por ordem judicial ou ainda em cumprimento de contrato, apresentar fiador que lhe garanta as obrigações. A lei, nesses casos, busca garantir o credor, permitindo-lhe recusar o indicado “se não for pessoa idônea, domiciliada no município onde tenha de prestar fiança, e não possua bens suficientes para cumprir a obrigação” (CC, art. 825).
Em princípio, compete ao credor decidir sobre a idoneidade do fiador apresentado. Esta deve existir não só sob o aspecto financeiro, mas também sob o moral, apurada pela honorabilidade do fiador e seu conceito no meio em que vive. Evidentemente, o falido, o insolvente e o incapaz não servem como fiadores. Não pode o credor, todavia, recusar abusivamente qualquer pessoa indicada pelo devedor. Se o fizer, cabe ao juiz reconhecer a impertinência dessa postura e ordenar a aceitação do fiador, a despeito da recusa do credor.
Ainda com o objetivo de proteger o credor, confere-lhe a lei o direito de exigir do devedor a substituição do fiador, quando este, depois de celebrado o contrato, “se tornar insolvente ou incapaz” (CC, art. 826). Todavia, não poderá fazer tal exigência se a fiança foi estipulada sem o consentimento do devedor ou contra a sua vontade. Em resumo, antes do contrato pode o credor recusar o fiador indicado, devendo o devedor provar a idoneidade do garante, se pretender que o juiz ordene sua aceitação. Após a celebração do contrato pode o credor exigir a substituição do fiador, desde que prove ter este se tornado incapaz ou insolvente.
Admite-se a existência de fiador do fiador, que, no direito português, denomina-se abonador. Nessa hipótese, o abonador assume as obrigações do fiador, aplicando-se-lhe todas as prescrições legais relativas à fiança. Trata-se de uma subfiança, em que o abonador garante a solvência do fiador. Não se confunde com a co-fiança, quando vários fiadores garantem a mesma dívida.
No tocante aos requisitos objetivos, a fiança pode ser dada a toda espécie de obrigação. Tendo natureza acessória, sua eficácia depende da validade da obrigação principal. Assim, “se esta for nula, nula será a fiança; se for inexigível, como a dívida de jogo, incobrável será do fiador; se anulável não pode ser eficazmente afiançada, salvo se a anulabilidade provier de incapacidade pessoal do devedor, e ainda assim se o caso não for de contrato de mútuo feito a menor (CC, art. 824), presumindo-se neste caso que foi dada com o objetivo específico de resguardar o credor do risco de não vir a receber do incapaz”.
Embora, em regra, a fiança seja concedida a obrigações atuais, as “dívidas futuras” podem ser objeto de fiança; “mas o fiador, neste caso, não será demandado senão depois que se fizer certa e líquida a obrigação do principal devedor” (CC, art. 821), porque o acessório segue o destino do principal. Tem a jurisprudência reconhecido efetivamente, que o princípio da acessoriedade é que impõe a eficácia da fiança quando somente resultar assente e afirmada a obrigação que determinou a garantia, ou seja, somente quando se tornar exigível a obrigação afiançada.
A garantia, não tendo sido limitada até certo valor ou até certa data, por exemplo, estende-se, como já foi dito, a todos os acessórios da dívida principal, inclusive às despesas judiciais, desde a citação do fiador (CC, art. 822). Mas, para que o fiador responda pelos aluguéis e pelas custas e despesas processuais, deve ser citado, juntamente com o devedor. Se o credor não promover a sua citação, só poderá depois cobrar dele os aluguéis atrasados, bem como a multa, mas não as despesas judiciais da primeira ação.
5. Efeitos da fiança
O fiador, ao conceder a fiança, assume a obrigação de pagar a dívida do devedor, se este não o fizer no tempo e na forma devidos. Tal obrigação transmite-se aos seus herdeiros. Como estes, entretanto, “não são obrigados a afiançar
dívidas alheias, se assim não quiserem, a responsabilidade que a lei lhes impõe se limita ao tempo decorrido até a morte do fiador. E não pode ultrapassar as forças da herança”, segundo dispõe o art. 836 do Código Civil.
O fiador garante, pois, com o seu próprio patrimônio geral, o adimplemento do afiançado. A garantia é pessoal ou fidejussória, defluindo os efeitos principais e imediatos do vínculo contratual no plano das relações entre fiador e credor, e, mediatamente, no das relações entre fiador e devedor.
5.1. Benefício de ordem
Destaca-se, nas relações entre o credor e o fiador, o benefício de ordem ou de excussão. Pode o fiador, quando demandado, indicar bens do devedor, livres e desembaraçados, e somente até a fase da contestação, que sejam suficientes para saldar o débito, a fim de evitar a excussão de seus próprios bens (CC, art. 827), visto que a sua obrigação é acessória e subsidiária. Tal benefício consiste, portanto, no direito de exigir “que sejam primeiro executados os bens do devedor”.
Tal benefício não pode ser invocado, contudo: a) se o fiador “o renunciou expressamente”; b) “se se obrigou como principal pagador ou devedor solidário”; c) “se o devedor for insolvente, ou falido” (CC, art. 828).
O benefício de ordem consiste, pois, na prerrogativa, conferida ao fiador, de exigir que os bens do devedor principal sejam excutidos antes dos seus. Tal benefício, conforme a lição de Silvio Rodrigues, “se funda na idéia de que a obrigação do fiador é subsidiária, pois que não passa de uma garantia da dívida principal. Assim, cumpre ao devedor pagar a dívida e só quando, mediante a execução de seus bens, verificar-se a insuficiência de seu patrimônio para resgatá-la, é que o fiador será chamado a fazê-lo”.
Na prática são raros os casos em que o devedor pode invocar tal benefício, tendo em vista que se difundiu a praxe de o credor exigir que o fiador se obrigue como principal pagador, vindo mesmo expressa nos contratos de locação, por exemplo, cláusula desse teor. Obrigando-se como principal pagador, o fiador torna-se solidário do devedor principal e o credor pode exigir dele, desde logo, o pagamento da dívida. Se, porventura, inexistir tal cláusula, o fiador terá direito ao benefício de ordem se: a) “nomear bens do devedor, sitos no mesmo município, livres e desembaraçados, quantos bastem para solver o débito”; b) invocá-lo “até a contestação da lide”, se demandado em ação de cobrança da dívida principal, ou no prazo da nomeação de bens à penhora, se cobrado em execução, como o prevê expressamente o art. 595 do Código de Processo Civil. Quer o legislador evitar que o credor fique sujeito aos caprichos do fiador, que poderia, maliciosamente, invocar o benefício quando a causa estivesse em fase final.
Segundo o Enunciado 364, aprovado na IV Jornada de Direito Civil promovida pelo Conselho da Justiça Federal, “no contrato de fiança é nula a cláusula de renúncia antecipada ao benefício de ordem quando inserida em contrato de adesão”.
5.2. Solidariedade dos cofiadores
Dispõe o fiador, ainda, do benefício de divisão, nestes termos: “A fiança conjuntamente prestada a um só débito por mais de uma pessoa importa o compromisso de solidariedade entre elas, se declaradamente não se reservarem o benefício de divisão” (CC, art. 829). Aduz o parágrafo único: “Estipulado este benefício, cada fiador responde unicamente pela parte que, em proporção, lhe couber no pagamento”.
Presume-se, pois, que os cofiadores são solidários, admitindo-se, porém, que se ilida a presunção pela estipulação contrária. Neste caso, cada um responderá pro rata. Se não houver especificação da parte da dívida que cada qual garante, pode o credor, em caso de inadimplência do devedor principal, exigir de um, de alguns, ou de todos os fiadores o total da dívida (CC, art. 275).
Se a mesma dívida é garantida por várias fianças, outorgada cada uma destas em ato separado, o credor pode acionar o fiador que escolher pela totalidade da dívida. Se as fianças foram prestadas conjuntamente, num só instrumento, declara a lei que serão também solidariamente responsáveis os fiadores, se, de modo expresso, não se reservaram estes o benefício da divisão.
O aludido benefício afasta a solidariedade, tornando divisível a obrigação. Já se decidiu que a fiança prestada por marido e mulher, se inexiste a reserva do benefício de divisão, cai na regra da solidariedade estipulada para o caso de fiança prestada conjuntamente. Assim, a morte de um fiador não limita a garantia até a data do seu falecimento, já que não se aplica ao garante solidário a norma que limita a responsabilidade dos herdeiros ao tempo decorrido até a morte do fiador, salvo se a mulher apenas concedeu anuência.
Assim como o fiador único pode limitar a garantia a uma parte da dívida somente (CC, art. 823), admite-se, também, sendo vários os garantes, que cada qual especifique, no contrato, a parte da dívida que toma sob sua responsabilidade, e, neste caso, “não será por mais obrigado” (CC, art. 830).
Efeito importante da fiança é a sub-rogação legal do garante. O fiador que pagar integralmente a dívida “fica sub-rogado de pleno direito nos direitos do credor”, com todos os direitos, ações, privilégios e garantias de que este desfrutava (CC, arts. 346, III, e 349). Mas “só poderá demandar a cada um dos outros fiadores pela respectiva quota” (art. 831, segunda parte). A parte “do insolvente distribuir-se-á pelos outros” (art. 831, parágrafo único), uma vez que, na relação entre os cofiadores entre si, como devedores solidários, a obrigação é divisível pro parte (CC, art. 283).
Nas relações entre fiador e afiançado, observa-se que pode o primeiro, sub-rogando-se nos direitos do credor, exigir do último o que pagou, acrescido dos “juros do desembolso pela taxa estipulada na obrigação principal” ou, à sua falta, pela taxa legal, além das “perdas e danos” que pagar e “pelos que sofrer em razão da fiança” (arts. 832 e 833). Mas, para ter direito à sub-rogação, deverá pagar integralmente a dívida, pois que, sendo garante do afiançado, não pode concorrer com o credor, não totalmente satisfeito, na excussão dos bens do devedor.
Se o credor, depois de iniciar a execução contra o devedor, mostrar-se desidioso, não dando ao feito o regular andamento, poderá fazê-lo o fiador, que tem interesse em liberar-se da responsabilidade (CC, art. 834). O fiador tem o direito de ver definida a sua situação e de não permanecer indefinidamente sujeito às consequências da obrigação assumida. Por essa razão, permite a lei que promova o andamento da execução iniciada pelo credor contra o devedor, se ficar injustificadamente paralisada.
Quando nem a obrigação nem a fiança têm prazo certo, pode o fiador “exonerar-se” quando “lhe convier”, “ficando obrigado por todos os efeitos da fiança, durante sessenta dias após a notificação do credor” (CC, art. 835). O dispositivo traz significativas inovações, permitindo inicialmente a exoneração do fiador por meio de simples notificação ao credor, quando a jurisprudência exigia anteriormente a propositura de ação declaratória. E, em segundo lugar, estabelecendo o prazo de sessenta dias após a notificação para que o fiador continue respondendo por todas as obrigações assumidas pelo devedor.
Observe-se que a fiança por prazo determinado extingue-se com o advento do termo, e que a prestada por prazo indeterminado, mas garantindo negócio com prazo determinado, cessa com a extinção do negócio subjacente, tendo em vista que o acessório segue o principal. Todavia, se a fiança não for prestada por prazo certo, garantindo negócio também indeterminado, a todo tempo é lícito ao fiador exigir a sua exoneração com base no aludido art. 835 do Código Civil de 2002.
Dispõe o art. 39 da Lei n. 8.245/91, com a redação dada pela Lei n. 12.112, de 9-12-2009, que, “salvo disposição contratual em contrário, qualquer das garantias da locação se estende até a efetiva devolução do imóvel, ainda que prorrogada a locação por prazo indeterminado, por força desta Lei”. Por outro lado,
a Lei n. 12.112/2009 introduziu, no art. 40 da mencionada Lei do Inquilinato, o inciso X, assegurando ao fiador, depois de prorrogada a locação por prazo indeterminado, o direito de notificar ao locador sua intenção de desonerar-se da obrigação, ficando, neste caso, obrigado ainda por cento e vinte dias após a notificação. O inciso II do referido art. 40 também sofreu alteração para permitir que o proprietário do imóvel exija novo fiador, caso o anterior ingresse no regime de recuperação judicial. Pretende-se, com isso, aumentar as garantias do locador e exonerar da obrigação a empresa fiadora que esteja passando por crise econômico-financeira.
Não é nula a cláusula de renúncia do direito de exoneração da fiança oferecida por tempo indeterminado. Considera-se, entretanto, renúncia o fato de o fiador ter-se obrigado até a efetiva entrega das chaves.
6. Extinção da fiança
A morte do fiador extingue a fiança, mas a obrigação, ou seja, dívidas vencidas, passa aos seus herdeiros, limitada, porém às forças da herança e aos débitos existentes até o momento do falecimento. A do afiançado, contudo, não a extingue; os herdeiros respectivos são meros continuadores do de cujus.
O art. 836 do Código Civil estatui, com efeito, que “a obrigação do fiador passa aos herdeiros; mas a responsabilidade da fiança se limita ao tempo decorrido até a morte do fiador, e não pode ultrapassar as forças da herança”. Quaisquer responsabilidades que surjam após o falecimento do fiador, ainda que cobertas pela garantia fidejussória, não podem atingir os sucessores: “por exemplo, os herdeiros do fiador por alugueres respondem, intra vires hereditatis, pelos que se vencerem até a data da abertura da sucessão, mas não são obrigados pelos subsequentes”.
A fiança extingue-se por causas terminativas próprias às obrigações em geral. Por ser contrato acessório, extingue-se em sobrevindo qualquer causa de extinção do débito principal por ela assegurado, salvo a hipótese do art. 824 do Código Civil. Independentemente de seu caráter acessório, a fiança pode extinguir-se pelas mesmas causas gerais de extinção da obrigação, como, por exemplo, a confusão, ao se reunirem na mesma pessoa as qualidades de devedor e de fiador, a compensação, e, em geral, todas aquelas circunstâncias que conferem ao fiador o direito de opor uma exceção pessoal.
Além das causas que extinguem os contratos em geral, a fiança extingue-se também por atos praticados pelo credor, especificados no art. 838 do Código Civil: a) concessão de moratória (dilação do prazo contratual) ao devedor, sem consentimento do fiador, ainda que solidário38; b) frustração da sub-rogação legal do fiador nos direitos e preferências (por abrir mão de hipoteca, que também garantia a dívida, p. ex.); c) aceitação, em pagamento da dívida, de dação em pagamento feita pelo devedor, ainda que depois venha a perder o objeto por evicção, pois neste caso ocorre pagamento indireto, que extingue a própria obrigação principal. A obrigação acessória não se revigora, neste caso, com a eventual evicção da coisa dada em pagamento.
A enumeração legal é taxativa. Assim, a fiança não desaparece com a falência ou a redução do aluguel ou partilha do prédio locado, por exemplo.
A concessão de moratória ao devedor pelo credor, prorrogando-lhe o prazo além do vencimento da obrigação, constitui causa de extinção da fiança porque tal favor poderá piorar a situação econômica do devedor, diminuindo-lhe o patrimônio, em prejuízo do fiador, que poderá não encontrar bens suficientes para suportar o eventual exercício do direito regressivo. Todavia, simples tolerância ou inércia do credor no receber o débito vencido não configura moratória, mas sim a expressa outorga de novo prazo por este. O fiador pode opor ao credor “as exceções que lhe são pessoais” (as dos arts. 204, § 3º, 366, 371 e 376, p. ex.), bem como as que caibam ao devedor principal (como prescrição e nulidade da obrigação, p. ex.), “se não provierem simplesmente da incapacidade pessoal, salvo o caso do mútuo feito a pessoa menor” (CC, art. 837).
Ficará exonerado o fiador se nomeou bens à penhora valendo-se do “benefício da excussão”, ainda que mais tarde, havendo demora na execução por negligência do credor, o devedor venha a “cair em insolvência” (CC, art. 839). Basta provar que, ao tempo da penhora, os bens nomeados eram “suficientes para a solução da dívida afiançada”.
Por fato do fiador pode também extinguir-se a fiança. Concedida esta sem limitação de tempo, o fiador tem o direito de exonerar-se quando lhe convier. O Código Civil de 1916 liberava o fiador somente a partir da sentença, se o credor não anuísse em desonerá-lo (art. 1.500). O Código Civil de 2002, todavia, no art. 835, deu melhor solução à hipótese, liberando o fiador após o decurso do prazo de sessenta dias da notificação efetivada ao credor, sem a necessidade do ajuizamento da ação de exoneração.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando