Buscar

AULA 01 OBRIGAÇÕES

Prévia do material em texto

AULA 01
Conceito de obrigações – Conceito de Direito das Obrigações - Diferenças entre responsabilidade, obrigação e sujeição - Direitos Reais e Direitos Obrigacionais
Figuras Híbridas: obrigações propter rem; ônus reais; obrigações com eficácia real.
Fontes das obrigações: fonte mediata e fonte imediata.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA
Direito Romano 	Direito Canônico Código Civil Francês Revolução Industrial	 Dirigismo Contratual
325 ac
 Constitucionalização
Hipossuficiência 
Paritários
consensualismomo
Conceitos de obrigação (ob+ligatio)
 A palavra obrigação pode assumir vários significados, dependendo do contexto a que estiver se referindo. Dessa forma, em sentido amplo, obrigação é um dever, que pode estar ligada a uma acepção moral ou jurídica uma vez que exprime qualquer espécie de vínculo. Do ponto de vista moral, as pessoas têm obrigações diversas, fruto da cultura, dos costumes e da própria convivência social. Assim, são exemplos de obrigações morais, a obrigação de ir à missa, comparecer a eventos familiares, contribuir com campanhas sociais, pagar dízimo em Igreja, dentre outras. 
 Quando a obrigação está dentro da órbita jurídica, há um dever jurídico, que se relaciona à observância de uma lei específica, ou um contrato firmado entre as partes. Assim, exemplos de obrigações jurídicas seriam: a obrigação de pagar um tributo, de comparecer a uma audiência, de cumprir um contrato de prestação de serviços, dentre muitas outras. 
Importante apontar que não há uma definição no Código Civil. Ensina Clovis Beviláqua (1977) que obrigação é relação transitória do Direito que nos constrange a dar, fazer ou não fazer alguma coisa, em regra economicamente apreciável, em proveito de alguém que, por ato nosso ou de alguém conosco juridicamente relacionado, ou em virtude de lei, adquirir o direito de exigir de nós uma ação ou omissão?
Washington de Barros Monteiro (2008) critica a ausência da responsabilidade e define obrigação como relação jurídica de caráter transitório, estabelecida entre o devedor e o credor e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento através de seu patrimônio. 
Silvio Venosa (2003) afirma que obrigação é a relação jurídica transitória, de cunho pecuniário, unindo duas (ou mais) pessoas, devendo uma (o devedor) realizar uma prestação à outra. 
2)Obrigação e responsabilidade:
A obrigação  se refere a um dever de realizar uma prestação (schuld/débito), sendo, portanto, dever originário. A responsabilidade (haftung) é a consequência jurídica patrimonial do credor ao descumprimento de uma obrigação (decorrente da lei ou da vontade das partes), portanto, trata-se de um dever secundário (derivado). A doutrina aponta que pode haver obrigação sem responsabilidade como no caso das obrigações naturais, bem como, pode haver responsabilidade sem obrigação, como no caso do fiador. 
3)   Obrigação e estado de sujeição:
 Antunes Varela explica que na obrigação ter-se-á, ao lado do dever jurídico de prestar, um direito à prestação. No estado de sujeição haverá tão somente uma subordinação inelutável a uma modificação na esfera jurídica de alguém, por ato de outrem. Assim, no estado de sujeição uma pessoa não terá nenhum dever de conduta, devendo sujeitar-se, mesmo contra sua vontade, a que sua esfera jurídica seja constituída, modificada ou extinta pela simples vontade de outrem, ou melhor, do titular do direito potestativo, eventualmente coadjuvado pela autoridade pública.
Ex: É o caso, por exemplo, do direito assegurado ao empregador de despedir um empregado; cabe a ele apenas aceitar esta condição; como também num caso de divórcio, uma das partes aceitando ou não, o divórcio terá desfecho positivo.
4)    Obrigação e ônus jurídico. 
 Ensina Inácio de Carvalho Neto (2009, p. 26) que dever jurídico é a necessidade que corre a todo indivíduo de observar as ordens ou comandos do ordenamento jurídico, sob pena de incorrer numa sanção, como o dever universal de não perturbar o exercício do direito do proprietário. A sujeição, a necessidade de suportar as consequências jurídicas do exercício regular de um direito potestativo, tal como é o caso do empregado ao ser dispensado pelo empregador. São potestativos, dentre outros, o direito de resgate do foreiro, o do condômino de pedir a divisão da coisa comum e o do locador de despejar o locatário, o ônus jurídico, a necessidade de agir de certo modo para tutela de interesse próprio. Trata-se, pois, de noções que não se confundem com a de obrigação, embora se costume falar em obrigação negativa e universal (dever jurídico) de todo indivíduo abster-se de atos turbativos da propriedade alheia, de sujeitar-se (sujeição), sem poder impedir as consequências do exercício de um direito alheio, e de registrar a escritura para adquirir a propriedade (ônus jurídico). 
Por exemplo, horas extras: ônus do empregado; se comprova que a empresa tem mais de 10 empregados, ônus do empregador; se este traz os cartões ponto, ônus reverte ao empregado; se este traz testemunhas que comprovam o horário fora do cartão, ônus reverte ao empregador, inversão do ônus da prova no direito do consumidor.
Feitas as distinções, é possível afirmar que o Direito das Obrigações[1] consiste num complexo de normas que regem relações jurídicas de ordem patrimonial que tem por objetivo prestações de um sujeito em proveito de outro (Clóvis Beviláqua). 
Ensina Carlos Roberto Gonçalves (2009) que o Direito das Obrigações consiste num complexo de normas que regem relações jurídicas de ordem pessoal e patrimonial, que têm por objeto prestações de um sujeito em proveito de outro. 
Então, pode-se destacar como características deste ramo do Direito Civil: prevalência da autonomia privada; prevalência do favor debitoris; imutabilidade no tempo e no espaço (evolução lenta); prestabilidade à unificação do Direito Privado. O Direito das Obrigações, sem dúvida, possui cunho pecuniário[2]; sem este aspecto econômico, pode ser obrigação jurídica, mas não se insere no mundo do Direito das Obrigações, como o caso da obrigação de servir às forças armadas e obrigações do proprietário de cumprir certos regulamentos administrativos sentido lato. Por tudo isso, é possível afirmar que o Direito das Obrigações exerce grande influência na vida econômica uma vez que se estende a todas as atividades de natureza patrimonial.
FIGURAS HÍBRIDAS
Direitos Reais e Direitos Obrigacionais não se confundem.
Ensina Inácio de Carvalho Neto (2009, p. 22) que no Direito das Obrigações, as relações são pessoais (não ligadas especificamente a uma coisa determinada), e se dão entre duas ou mais pessoas determinadas. 
Já no Direito das coisas, a relação ocorre entre o titular do direito real e todas as demais pessoas que devem respeitar o direito daquele titular, aquilo que se chama de relação jurídica absoluta, expressão que por vezes sofre crítica da doutrina. Ademais, os direitos reais são perpétuos, ao passo que os direitos obrigacionais são transitórios, tendendo sempre à extinção. Com efeito, é característica marcante dos direitos pessoais a sua duração efêmera. Seja pelo cumprimento, que é o meio normal de extinção das obrigações, seja por meios indiretos, como a novação, a compensação, a remissão, a confusão, etc., seja até mesmo por outros meios como a prescrição ou a renúncia, fato é que, mais cedo, ou mais tarde, a obrigação irá se extinguir.
Os direitos reais são poderes jurídicos, direitos e imediatos, do titular sobre a coisa e, por isso, tem como elementos essenciais: sujeito ativo, coisa e relação de poder. 
Os direitos obrigacionais são vínculos jurídicos pelos quais o credor pode exigir do devedor uma determinada prestação, então, possui como elementos essenciais: sujeito ativo; sujeito passivo; prestação. 						
		 CREDOR		prestação	 DEVEDOR				
	
			NATUREZA PATRIMONIAL / CUNHO PECUNIÁRIO 
DIFERENÇAS – DIREITO REAL X DIREITO OBRIGACIONAL
Odireito real quanto ao objeto incide sobre uma coisa; quanto ao sujeito passivo é indeterminado; quanto à duração é perpétuo; quanto à formação é numerus clausus; quanto ao exercício incide diretamente sobre uma coisa, sem necessidade da existência de um sujeito passivo; quanto à ação pode ser exercida em face de qualquer um que detenha indevidamente a coisa.
O direito obrigacional quanto ao objeto exige o cumprimento de uma obrigação; quanto ao sujeito passivo é determinado ou determinável; quanto à duração é transitório; quanto à formação é numerus apertus; quanto ao exercício exige um sujeito passivo; quanto à ação só pode ser exercida em face de quem figura na relação jurídica como sujeito passivo.
Essas diferenças são importantes porque há figuras que não conseguem ser inseridas em uma ou em outra categoria, constituindo uma categoria intermediária entre o direito real e o pessoal. São figuras híbridas ou ambíguas, constituindo, na aparência, um misto de obrigação e de direito real. DIFERENÇAS		DIREITO OBRIGACIONAL 		DIREITO REAL
OBJETO			CUMPRIMENTO OBRIGAÇÃO	INSIDE SOBRE A COISA
SUJEITO			DETERMINADO/DETERMINAVEL	INDETERMINADO
DURAÇÃO		TRANSITÓRIA			PERPÉTUA 
FORMAÇÃO		NUMERUS APERTUS		NUMERUS CLAUSUS
			ROLL EXEMPLIFICATIVO		ROLL TAXATIVO
EXERCICIO 		EXIGE SUGEITO PASSIVO		NÃO EXIGE SUGEITO PASSIVO
QUANTO à AÇÃO		QUEM FIGURA NA RELAÇÃO	QUALQUER UM QUE DETENHA 				COMO SUJEITO PASSIVO		A COISA INDEVIDAMENTE
Obrigações propter rem (ob rem, ambulatórias, in rem scriptae)
As obrigações in rem, ob, ou propter rem, para Arnold Wald derivam da vinculação de alguém a certos bens, sobre os quais incidem deveres decorrentes da necessidade de manter-se a coisa. Assim, considera que as obrigações reais, ou propter rem, passam a pesar sobre quem se torne titular da coisa. Logo, sabendo-se quem é o titular, sabe-se quem é o devedor. Portanto, são obrigações que se constitui entre duas determinadas pessoas, mas em função de uma coisa. Então, o devedor está ligado ao vínculo não em razão da sua vontade, mas em decorrência de sua particular situação em relação a uma coisa.
Essas obrigações só existem em razão da situação jurídica do obrigado, de titular do domínio ou de detentor de determinada coisa. Caracterizam-se pela origem e transmissibilidade automática. Consideradas em sua origem, verifica-se que provêm da existência de um direito real, impondo-se a seu titular. Se o direito de que se origina é transmitido, a obrigação segue, seja qual for o título translativo. A transmissão ocorre automaticamente, isto é, sem ser necessária a intenção específica do transmitente. se a seu titular. Se o direito de que se origina é transmitido, a obrigação segue, seja qual for o título translativo. A transmissão ocorre automaticamente, isto é, sem ser necessária a intenção específica do transmitente. 
São obrigações propter rem: a do condomínio de contribuir para a conservação da coisa comum (CC, art. 624); a do proprietário de um imóvel no pagamento do IPTU; a maioria dos direitos de vizinhança. 
Assim, é oportuno fixar as características dessas figuras: 1º) vinculação a um direito real (surgem ex vi legis); 2º) possibilidade de exoneração do devedor pelo abandono do direito real, renunciando o direito sobre a coisa; 3º) transmissibilidade por meio de negócios jurídicos, caso em que a obrigação recairá sobre o adquirente; 4º.) submetem-se às ações de natureza pessoal. 
É de bom alvitre ressaltar a natureza jurídica dessas obrigações, pois se encontram na zona fronteiriça entre os direitos reais e os pessoais. Não são elas nem uma obligatio, nem um jus in re, constituindo figuras mistas, no dizer de Maria Helena Diniz (2008, p. 10-18). Entretanto, há aqueles que atribuem maior importância ao aspecto real da relação. Como também, aqueles, que apontando uma prestação num facere, não se enquadra à natureza do direito real. 
Orlando Gomes afirma que, apesar de ser predominante no Direito positivo brasileiro a tese da realidade das obrigações propter rem, é irrecusável que constituem vínculo jurídico pelo qual uma pessoa, embora substituível, fica adstrita a satisfazer uma prestação no interesse de outra. Assim, verifica-se que qualificados de acordo com a teoria da realidade, seriam tutelados por meio de ações reais. No entanto, a tendência é para admitir que o credor tem ação pessoal contra o devedor, assim se procede, por exemplo, na cobrança de IPTU. 
	 7)	Ônus Reais
São obrigações que limitam a fruição e a disposição da propriedade, mas que não se confundem com os direitos reais de garantia. Os ônus reais representam direitos sobre coisa alheia e se impõem erga omnes gerando créditos pessoais em favor do titular. São, portanto, gravames que incidem sobre determinados bens como, por exemplo, a constituição de renda (art. 804, CC), enfiteuse, servidão, usufruto...
Art. 804. O contrato pode ser também a título oneroso, entregando-se bens móveis ou imóveis à pessoa que se obriga a satisfazer as prestações a favor do credor ou de terceiros.
Enfiteuse o foreiro ou enfiteuta tem sobre a coisa alheia o direito de posse, uso, gozo e inclusive poderá alienar ou transmitir por herança, contudo com a eterna obrigação de pagar a pensão ao senhorio direto.
Diferenciam-se das obrigações propter rem porque nestas o devedor responde apenas pelo débito atual (responde pela prestação constituída durante sua relação com a coisa), tendo por conteúdo uma prestação negativa; já nos ônus reais o devedor pode ser responsabilizado pessoalmente e seu conteúdo é uma prestação positiva. Enquanto naquelas as ações são de natureza pessoal; nestes as ações são de natureza real.
Obrigações com eficácia real
A obrigação tem eficácia real quando se transmite e é oponível a terceiro que adquira direito sobre determinado bem, como é o caso da locação que é oponível ao adquirente da coisa locada. São obrigações pessoais, transmissíveis e que podem se opostas contra terceiros, alcançando, assim, a dimensão de direito real. art. 8º da Lei 8.245/91, in verbis : 
Art. 8º. Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel. 
FONTE DAS OBRIGAÇÕES
Diz-se fonte de obrigação o fato jurídico (fonte genérica) de onde nasce o vínculo obrigacional. Trata-se da realidade? sub specie iuris? que dá vida à relação creditória: o contrato, o negócio unilateral, o fato ilícito, etc. Investiga-se, portanto, a origem de uma relação obrigacional.
 A fonte tem uma importância especial na vida da obrigação, por virtude da atipicidade da relação creditória. Chama-se fonte de uma obrigação o fato jurídico de que emerge essa obrigação, ao fato jurídico constitutivo da obrigação. 
 A sistematização das fontes das obrigações foi feita, ao longo dos séculos, de maneiras diversas. A primeira classificação de cunho mais científico foi firmada nas Institutas de Justiano: a) Contratos; b) Quase-contratos; c) Delitos; d) Quase-delitos. Posteriormente, Pothier acrescentou a lei e a equidade, classificação que inspirou o legislador do Código Napoleônico e foi mantida no vigente Código Civil Francês.
Atualmente, no sistema brasileiro, ainda prevalecem controvérsias quanto à sistematização das fontes, sendo variados os critérios adotados. Sugere-se que o professor apresente brevemente algumas destas classificações, mas construa a sua própria em conjunto com os alunos.
O Código Civil Brasileiro reconhece expressamente três fontes de obrigações: o contrato, o ato ilícito e as declarações unilaterais de vontade. 
Segundo Silvio Rodrigues, a fonte imediata é sempre a lei, sendo as demais fontes consideradas mediatas: 
a)  obrigações por fonte imediata da vontade humana: contratos e manifestações unilaterais de vontade (exemplo os títulos ao portador); 
b)  obrigações que tem por fonte oato ilícito: constituem-se por meio de uma ação ou omissão, dolosa ou culposa do agente, causando dano à vítima. Estas obrigações emanam diretamente de um comportamento humano contrário a um dever legal ou social; 
c)   obrigações que tem por fonte direta e imediata a lei: neste rol encontram-se os deveres de estado (prestação alimentícia, guarda de filhos menores, etc.), bem como pelas condutas que a imputação pode ocorrer por responsabilidade objetiva, quer do particular ou da Administração Pública por risco administrativo, perante danos causados aos administrados (art. 37, §6o. da CF/88). 
Mesmo assim, o elenco de fontes parece não bastar para designar a sua amplitude. Desta forma as obrigações podem surgir, por fonte imediata, independente da vontade das partes, pela ocorrência de fato ilícito, ou por decorrência direta da lei. Pode decorrer da atividade judicial, como no caso das decisões judiciais constitutivas de direitos, nas quais a relação jurídica só gerará obrigações quando determinada por meio da jurisdição.
DIFERENÇAS ENTRE ÕNUS REAIS E OBRIGAÇÕES PROPTER REM:
        
	
Ônus reais
	
Obrigações propter rem
	
A responsabilidade pelo ônus real é limitada ao bem onerado.
	
Na obrigação propter rem responde o devedor com todos os seus bens, ilimitadamente, pois é este que se encontra vinculado.
	
O ônus real desaparecem, perecendo o objeto.
	
Os efeitos da obrigação propter rem podem permanecer, mesmo havendo perecimento da coisa.
	
Os ônus reais implicam sempre uma prestação positiva.
	
As obrigações propter rem podem surgir com uma prestação negativa.
	
Nos ônus reais, a ação cabível é de natureza real (in rem scriptae).
	
Nas obrigações propter rem, é de índole pessoal.

Continue navegando