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SURGIMENTO DO DIREITO ELEITORAL

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Surgimento Direito Eleitoral surge como um ramo jurídico responsável por regular as relações do voto e do poder por ele exercido. Melhor dizendo, o voto é a forma com que se exterioriza o poder que pertence ao povo e, por isso, é de fundamental relevância que seja regido por determinadas normas.
 Deveras, as civilizações sempre buscaram modos de escolher os seus representantes, até porque quase impossível que alguma decisão seja tomada por unanimidade, ainda mais quando se tem grupos com necessidades específicas e particulares, que muitas das vezes são maiores do que os recursos financeiros de um Estado, sendo que para Ramayana (2010, p. 03):
Há de considerar-se, ainda, que, em qualquer grupo ou coletividade, as decisões que implicam a manifestação dos interesses primordiais não conseguem ser ratificadas e aprovadas por todos os integrantes da sociedade, ou seja, mesmo que, nas sociedades mais primitivas, essa prática fosse possível, as sociedades organizadas sempre se valeram de adotaram sistema para a escolha de seus dirigentes e representantes.
 A primeira ideia de eleição surge na Grécia, onde eram realizadas votações para a escolha dos magistrados e membros de conselho. Como nos ensina Ramayana (2010, p. 3) a votação perfazia-se publicamente quando o povo levantava as mãos em assembleia pública. Lembra-nos o autor que, quando estava em pauta questões de grande relevância, os votos eram registrados em pedaços de pedra chamados de ostrakon, enquanto Roma utilizava pedaços de madeira, embora em nenhum dos lugares o sufrágio fosse universal.
 Em determinados lugares do mundo as eleições só foram realizadas posteriormente, como forma de atribuir legitimidade ao governante ditatorial. Por certo, essas regiões possuem peculiaridades próprias, como nos ensina o mesmo autor:
Outra observação importante é a de que alguns regimes mantiveram-se primeiro pela força, com a realização posterior de eleições apenas para dar legitima de aparente. Isso é visível em algumas ditaduras modernas, com a adoção de partidos únicos, aniquilamento de candidaturas oposicionistas e forte domínio da propaganda política partidária e eleitoral, com a utilização da máquina administrativa e manipulação da opinião pública, dando margem às fraudes e à corrupção eleitoral.
 Deste modo, como forma de melhor compreender o instituto do voto e suas vicissitudes surge o direito eleitoral, conjunto de normas voltadas para estudar o sufrágio e seus desdobramentos. Assim, Ramayana (2010, p. 5) esclarece as origens do voto:
Dessa forma, é possível identificar certas fases das origens genéricas do voto: primeiro, na escolha de chefes militares, quando surgiam os guerreiros; em um segundo momento, os guerreiros transformam-se em governantes, inclusive em períodos de paz; em uma terceira fase se fez necessário organizar as formas do sistema de escolha dos representantes.
 Nesta senda, a democracia em seu conceito clássico remete ao poder atribuído ao povo, que nada mais é do que a soberania popular. A democracia pode ser dividida em democracia direta, quando o próprio povo a exerce sem intermediários e a indireta, que é definida por Ramayana (2010, p. 32) como:
Na democracia indireta, faz-se presente o princípio da delegabilidade da soberania popular em sua máxima expressão, pois os eleitores escolherão os candidatos previamente selecionados pelos partidos políticos para exercerem, por delegação, o integral cumprimento das promessas feitas.
 Lembre-se, também, que existe a democracia semidireta, a qual não passa de uma junção das democracias direta e semidireta, que ao fim resulta em uma melhor e mais efetiva participação popular. Aliás, este é o caso do Brasil, onde a Constituição prevê além das votações para eleição dos representantes, outros instrumentos de atuação direta.
 Logo, o voto é o exercício do poder pelo povo, que pode atuar nos rumos do Estado diretamente, ou por meio de representantes eleitos, ou até mesmo pelas duas formas. Este é o conceito que torna mais próximo a atuação do direito eleitoral como garantidor do Estado Democrático de Direito do direito eleitoral
1.2. Breve histórico do Direito Eleitoral no Brasil
É importante identificar em cada fase da história do Brasil, o tratamento dado pela Constituição e pelas leis infraconstitucionais aos direitos políticos e eleitorais, para então compreendermos o direito atual.
Período Colonial
No período do descobrimento, não havia eleições, mas foram instituídos cargos políticos como governadoria e ouvidoria gerais, ocupados por nomeação do Rei de Portugal. A história registra eleições para as Câmaras Municipais, mas a capacidade eleitoral ativa era restrita aos “homens bons”, de acordo com as Ordenações Afonsinas e Filipinas.
As primeiras normas eleitorais brasileiras foram estabelecidas no período colonial pelas chamadas Ordenações do Reinoem 1603.
Período Imperial
Com a proclamação da independência em 1822, dá-se início ao Período Imperial da história brasileira, marcada pela primeira Constituição brasileira, outorgada por D. Pedro I, inspirada no constitucionalismo inglês.
O modelo de cidadania adotado pela Carta estabelecia algumas regras para as eleições - artigos 6º ao 8º e 40, 90 a 97. Dispunham, basicamente, acerca das eleições para os cargos políticos, estabelecendo o voto indireto. O sufrágio era restrito e o voto censitário, uma vez que dependia de certas condições econômicas. Para candidatar-se, naquela época, era necessário ter renda anual superior a oitocentos mil réis!
A Lei 3029, de 09 de janeiro de 1881 - “Lei Saraiva”, foi um marco importante, pois estabeleceu o exercício de voto ao analfabeto pela primeira vez na história do Brasil. Infelizmente, este direito não foi reconhecido pela constituiçãorepublicana, sendo incorporado ao ordenamento na vigência da Emenda 69 à Constituição de 1967.
Velha República
A constituição republicana de 1891 estabeleceu o sufrágio direto e a garantia da vitória eleitoral por maioria absoluta de votos obtidos aos cargos de Presidente e Vice-Presidente da República. Também foram estabelecidas as primeiras regras de inelegibilidade.
Período Pós Revolução de 1930
Após Revolução de 1930, inaugura-se uma nova fase no Direito Eleitoral brasileiro. O primeiro Código Eleitoral foi instituído por meio do Decreto 21.076/32, que estabeleceu eleições diretas e o voto feminino. Getúlio Vargas foi eleito presidente do Brasil na vigência destas normas.
A Constituição de 1934 criou a Justiça Eleitoral e instituiu novas regras de inelegibilidade, alistamento eleitoral e processo eleitoral. Foi uma constituiçãomarcada pelo reconhecimento dos direitos sociais, o que conferiu grande importância às agremiações partidárias.
Era Vargas
Na outorgada Constituição de 1937 – Constituição do Estado Novo, dentre outras previsões de caráter político-eleitoral, destacou-se a extinção da Justiça Eleitoral e o estabelecimento de novas regras sobre direitos políticos incluindo mudanças sobre candidatura e inelegibilidades. Foi um período ditatorial, no qual era vedado ao Poder Judiciário conhecer das questões políticas.
Posteriormente, com a busca por uma abertura político-democrática no Brasil na Constituição de 1946 foi atribuída à União a competência para legislar sobre Direito Eleitoral, além da criação de várias novas regras constitucionais de caráter eleitoral. O sufrágio voltou a ser direto e foi restabelecida e estruturada a Justiça Eleitoral.
O regime militar de 1964
As Constituições de 1967 e 1969 não previram grandes inovações em matéria eleitoral, salvo no que se refere aos partidos políticos, já que a preocupação maior era manter as agremiações partidárias como pessoas jurídicas de direito público, de modo que o Estado tivesse total controle sobre elas. O regime militar extinguiu o pluripartidarismo, que só foi restabelecido no governo do Presidente João Figueiredo. Haviam apenas dois partidos políticos nesta época: ARENA e MDB.
O retorno do pluripartidarismo
no final da década de 70 abriu caminho para o movimento das Diretas Já, facilitando a criação da Assembléia Nacional Constituinte, que promulgou a Constituição de 1988, conhecida como Constituição cidadã.
A Nova República
A Constituição atual instituiu o regime democrático, o sufrágio universal e o voto direto, o pluripartidarismo como princípios fundamentais, conferindo status de cláusula pétrea. As normas de caráter político-eleitoral encontram-se no Título II (Dos Direitos e Garantias Fundamentais), especificamente nos artigos 14 ao 17, no inciso I do art. 22, que trata da competência legislativa sobre o tema. Os artigos 92 e 118 ao 121 tratam da organização e do funcionamento da Justiça Eleitoral; e ainda, há certos preceitos transitórios previstos no ADCT (arts. 2º, 4º e 5º), dentre outras previsões.

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